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Feminização da pobreza no Rio de Janeiro, Brasil (1992-1999)

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Feminização da pobreza no Rio de Janeiro, Brasil (1992-1999)

*

Maria Salet Ferreira Novellino

IBGE/ENCE

Palavras-chave: feminização da pobreza, mulheres chefes de família.

1.Introdução

O conceito ‘feminização da pobreza’ representa a idéia de que as mulheres estão ficando mais pobres do que os homens. De acordo com o Human Development

Report 1995: “A pobreza tem o rosto de uma mulher- de 1.3 bilhões de pessoas na

pobreza, 70% são mulheres”. A pauperização das mulheres tem sido relacionada a um aumento na proporção de famílias chefiadas por mulheres. Como conseqüência, os estudos sobre feminização da pobreza têm se voltado, principalmente, para analisar as famílias chefiadas por mulheres.

Embora os domicílios chefiados por mulher ainda representem uma proporção menor do que os outros tipos de domicílio como um todo, há evidências de que eles vêm aumentando, nos últimos 20 anos, em quase todas as partes do mundo. (Cagatay,1998:3) Tal fato vem sendo observado também no Brasil por vários estudiosos, entre eles, Berquó (2002). Segundo ela: “De 13.0% em 1970, 15.6% em 1980, e 20.5% em 1991, [as chefias femininas] passaram a representar 26.0% em 1999, ou seja, nos últimos trinta anos praticamente dobrou a intensidade desse fenômeno.”

Nesta perspectiva, o propósito desta pesquisa é verificar a extensão e a evolução da feminização da pobreza no estado do Rio de Janeiro na última década do século XX tendo como objeto as famílias chefiadas por mulheres. Mais especificamente, o conjunto de famílias chefiadas por mulheres, com filhos, compreendidas no quintil inferior de rendimento, que correspondia a 1,64 salários mínimos em 1992 e 1,19 salários mínimos em 1999. Esse conjunto de famílias está sendo categorizado em dois grupos: (a) com cônjuge e (b) sem cônjuge. Elas serão

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analisadas através de dados sobre características de seus chefes, cônjuges (quando houver), filhos1 e de seus domicílios.

Por se tratar de um estudo de gênero, serão analisados dados tanto sobre mulheres como sobre homens em situação semelhante, de maneira que as informações sobre ambos os gêneros possam ser comparadas. Foram utilizados os dados da Pesquisa

Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) de 1992 e 1999.

2.As pesquisas sobre feminização da pobreza

Estudar a feminização da pobreza objetificada nas famílias chefiadas por mulher leva a analisar tanto as características dos indivíduos que compõem a família como as características dos domicílios aonde a família se abriga. Há, entretanto, uma tendência das pesquisas sobre o tema a voltarem-se mais para as características dos indivíduos do que para as dos domicílios. Alguns trabalhos centram-se no gasto, no rendimento e na escolaridade das chefes de família, outros agregam a esses, dados sobre os filhos, com o intuito de medir os efeitos da pobreza sobre esses últimos. Portanto, as pesquisas sobre a feminização da pobreza podem ser agrupadas em duas categorias: (a) mulheres chefes de família e seus filhos e (b) mulheres chefes de família: gasto, rendimento e escolaridade.

2.1.Mulheres chefes de família e seus filhos

As pesquisas nessa linha pretendem medir a pobreza das famílias através da condição de saúde e da escolaridade dos filhos e da participação destes no mercado de trabalho.

Handa (1994), utilizando dados da Jamaican Survey of Living Conditions 1989, identifica o principal provedor econômico dos domicílios, classifica-os pelo gênero do provedor para depois verificar se há uma diferença significativa na situação das crianças entre os domicílios chefiados por homem e os chefiados por mulher. No que diz respeito aos filhos, ele considera a participação na escola e no mercado de trabalho para aqueles com idades entre 14 e 17 anos e a incidência de diarréia entre os filhos abaixo dos cinco

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anos de idade. Sua hipótese é a de que a situação das crianças seria melhor em domicílios sustentados economicamente pelas mulheres. Discutindo a validade de se tratar os domicílios chefiados por mulheres como um grupo homogêneo visto que uma parte representativa de sua amostra indicava a presença masculina no domicílio, ele separou esses domicílios para testar se a presença masculina influenciava na alocação de recursos dentro do domicílio. Segundo ele, há evidências de que uma menor parte do salário do homem vai para os outros membros da família, enquanto que a renda da mulher tende a ser renda familiar. Ele classificou os domicílios em quintis, tomando como base seus gastos. No quintil inferior, a maior parte dos domicílios são chefiados por homens (64,4%); os chefiados por mulheres correspondem a 35,6%. Essa proporção se mantém quase a mesma nos outros quintis. Em acordo com sua hipótese inicial, nos domicílios chefiados por mulher, os recursos são alocados de modo a favorecer os filhos. Os domicílios com chefe e cônjuge apresentam uma maior taxa de participação dos filhos adolescentes na escola e menor participação dos mesmos no mercado de trabalho. Também nesses domicílios as crianças têm uma melhor condição de saúde. Os domicílios chefiados por mulher com cônjuge são os melhores para as crianças. O pior resultado fica para os domicílios chefiados por homem sem cônjuge.

Barros, Fox e Mendonça (1994), utilizando dados da PNAD 1984 para as Regiões Metropolitanas de Recife, São Paulo e Porto Alegre, voltam-se para investigar “em que extensão e porque os DCM [domicílios chefiados por mulher] têm uma maior propensão a serem mais pobres do que os outros tipos de domicílios e se as conseqüências da pobreza sobre as crianças são particularmente mais severas para aquelas vivendo em DCM”. Eles utilizam duas categorias de domicílios chefiados por mulher: os com crianças e os sem crianças, e investigam em que medida a pobreza relativa desses domicílios é conseqüência (a) de uma menor capacidade de ganho; (b) da utilização menos intensiva dessa capacidade e (c) de uma elevada razão de dependência entre os domicílios chefiados por mulheres. Para eles, a preocupação com o crescimento proporcional desses domicílios é também motivada pelas suas conseqüências sobre o bem-estar das crianças. Foram investigados dois tipos de resultado para as crianças: freqüência à escola e participação no mercado de trabalho. As mulheres foram caracterizadas por idade, nível de escolaridade, participação no mercado de trabalho e

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superior à de todos os chefes. Elas são menos educadas, participam menos do mercado de trabalho e têm níveis de renda mais baixos. Os domicílios chefiados por mulher com crianças são mais pobres do que os outros domicílios. No que diz respeito aos filhos, os de domicílios chefiados por mulher têm uma maior probabilidade de estarem fora da escola e de participarem precocemente do mercado de trabalho.

2.2.Mulheres chefes de família: rendimento e escolaridade

As pesquisas nessa linha centram-se nas mulheres, levantando seus rendimentos e/ou escolaridade, podendo ainda articular-se a certos dados demográficos.

Galeazzi (2001) utilizando dados das Pesquisa de Emprego e Desemprego da

Região Metropolitana de Porto Alegre 1993/2000, procura estabelecer a conformação

das famílias chefiadas por mulher. Como resultado, essas famílias são classificadas como: (i)mulheres chefes sem dependentes, (ii)mulheres chefes com filhos, (iii)mulheres cônjuges sem filhos, (iv)mulheres cônjuges com filhos, (v)sem mulheres cônjuges ou chefes. Ela, então, analisa a renda familiar média das famílias segundo os tipos de família; verifica a distribuição dos ocupados do sexo feminino por posição na ocupação e a taxa de desemprego das mulheres e tempo médio de procura por trabalho para as chefes e as não-chefes. No período pesquisado, o número de famílias chefiadas por mulher cresceu, indo de 21,5% em 1993 para 26,3% em 2000. O tipo de família que mais cresceu foi aquela com filhos. A renda das famílias chefiadas por mulher representa 60% da renda das chefiadas por homem.

Berquó (2002) utilizando dados do Censo Demográfico 1971, 1980, 1991 e

PNAD 1998 toma como objeto as mulheres chefes de famílias monoparentais, isto é, a

mãe e seus filhos com ou sem parente e agregados morando num mesmo domicílio, das quais levantou as seguintes características sociodemográficas: idade, escolaridade, rendimento, cor, estado conjugal. A pesquisadora completa o seu trabalho com a apresentação de algumas características sociodemográficas dos homens chefes de famílias monoparentais, apresentando, ao final, uma comparação dos rendimentos das chefias masculinas e femininas. Ela escolheu as mulheres chefes de família sem cônjuge pelo fato de representarem quase dois terços do total de famílias de chefia feminina no Brasil. Essas mulheres são mais pobres que as outras, a maior parte delas pertence à

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raça negra e possuem uma baixa escolaridade. No entanto, esse número vem caindo e vem aumentando a proporção de mulheres chefes de família com primeiro e segundo graus e curso superior.

3.Feminização da pobreza no Rio de Janeiro

A feminização da pobreza é vista como um fenômeno mundial e também nacional, que se configura nas famílias chefiadas por mulher sem cônjuge. Com esta pesquisa, procuro verificar se tal fenômeno acontece também no estado do Rio de Janeiro, e em que proporções. Para isso, tomei como ponto de partida pressupostos e resultados de outras pesquisas, sumarizadas acima. Mas além de dados sobre as chefes de família e seus filhos levantei também outros sobre os domicílios onde as famílias se abrigam. Acredito que a articulação entre as famílias e algumas condições físicas e materiais de seus domicílios pode levar a uma melhor visão da qualidade de vida dessas famílias.

Foi estabelecido como objeto de pesquisa as famílias chefiadas por mulher com filhos e sem cônjuge com as rendas médias familiares mais baixas do estado do Rio de Janeiro, as quais estão contidas no quintil inferior de rendimento segundo as Pesquisa

Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) de 1992 e 1999 para o estado do Rio de

Janeiro.

O rendimento médio familiar do quintil mais pobre do estado era de 1,64 salários mínimos em 1992, caindo para 1,19 salários mínimos em 1999. Foram consideradas unicamente as famílias com filhos porque a situação desses últimos é um dos elementos para entender a extensão da pobreza dessas famílias: se os seus filhos estão matriculados em escolas ou se têm que participar precocemente do mercado de trabalho. A qualidade de vida dessas famílias foi examinada através dos recursos e dos bens dos domicílios onde moram.

As famílias foram categorizadas em ‘mulheres chefes de família com cônjuge’ e ‘mulheres chefes de família sem cônjuge’, ‘homens chefes de família com cônjuge’ e ‘homens chefes de família sem cônjuge’ pois como se trata de um estudo de gênero, foram analisados dados tanto sobre as mulheres como sobre os homens em situação

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semelhante, de maneira que as informações sobre ambos os gêneros pudessem ser comparadas.

A PNAD foi escolhida como instrumento pelo fato dela conter dados sobre as famílias e seus domicílios e por estar disponível para análise nos anos que representam o início e o final da última década do século XX. Foram selecionadas as PNADs realizadas no primeiro e no último ano da década de 90. Como não foi realizada a

PNAD de 1991, pois foi o ano de realização do Censo Demográfico2, a primeira PNAD da década foi a de 1992. A última PNAD realizada na década foi a de 2000, mas como os seus dados ainda não estavam disponibilizados à época da pesquisa, utilizamos a de 1999.

São centrais a esta pesquisa os seguintes conceitos: chefe de família, domicílios chefiados por mulheres e família.

O sentido original de chefe de família nos levantamentos de dados era o da pessoa de referência usada para identificar os relacionamentos familiares dentro do domicílio. Na maior parte das culturas, os respondentes e os percebidos como chefes de domicílio eram geralmente homens. Mais tarde, passou-se a identificar as características dos domicílios com as do seu chefe. Como conseqüência, as características das mulheres ficavam invisíveis e ignoradas. Em termos econômicos, presumia-se que a renda do chefe do domicílio fosse representativa da renda do domicílio como um todo. Presumia-se também que todos os membros de um domicílio partilhavam um padrão de vida comum.

Os primeiros domicílios chefiados por mulher foram reconhecidos enquanto tal a partir do levantamento de domicílios chefiados por mulher sem companheiro. O interesse por esse domicílios cresceu junto com a verificação de que eles estavam entre os mais pobres e a de que seu número estava aumentando. No entanto, a definição de ‘chefe de domicílio’ se complica porque tal posição pode ser atribuída ao provedor econômico do domicílio, àquele ou àquela que toma as decisões ou pode ser uma posição estabelecida a partir de estruturas familiares de poder ou de autoridade. Nesse contexto, as mulheres raramente são classificadas como chefes de domicílio mesmo sendo sua principal provedora econômica, quando há um homem como morador do

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mesmo domicílio, seja ele cônjuge, pai ou filho mais velho. Portanto, é importante que tenhamos em mente que a definição de chefe de família é problemática, podendo levar a resultados que, de fato, não venham a retratar a realidade.

De acordo com a UN (1984), pode-se encontrar três tipos de domicílios chefiados por mulher: (a) domicílios compostos por somente uma pessoa; (b) domicílios onde há mulheres e crianças mas não homens adultos; (c) domicílios onde há homens adultos presentes mas onde devido à invalidez, desemprego, alcoolismo ou outros fatores, uma mulher é a principal provedora econômica.

Para Berquó (2002:246) “uma chefia feminina tem vários significados: uma mulher solteira, separada ou viúva, com filhos, tendo ou não parentes e/ou agregados em casa; mulher solteira, separada ou viúva, sem filhos morando em casa, ou porque não os teve, ou porque, adultos, já saíram de casa ou já faleceram, tendo ou não parentes e/ou agregados vivendo no domicílio; mulher solteira, separada ou viúva, morando sozinha, ou mulher casada chefiando a família mesmo tendo um marido ou companheiro em casa.”

Bruschini (1989:13) define família como “um conjunto de pessoas ligadas por laços de sangue, parentesco ou dependência, que estabelecem entre si relações de solidariedade e tensão, conflito e afeto. Não se trata de um grupo ‘harmonioso e sereno’ voltado para a satisfação de necessidades econômicas, mas sim de uma unidade composta de indivíduos de sexos, idades e posições diversificadas, que vivenciam um constante jogo de poder que se cristaliza na distribuição de direitos e deveres.”

Com este entendimento de família, Bruschini pretende ampliar a compreensão nuclear de família, formada pelos pais e seus filhos, que habitam em um mesmo domicílio. No entanto, nas pesquisas domiciliares –instrumento deste estudo, como ela mesma diz (1989:9), “o conceito definidor de família é a convivência sob o mesmo teto, que implica compartilhar despesas com o consumo de alimentos e bens duráveis”. Embora limitadores de uma análise familiar que procure agregar dados culturais, os dados estatísticos levantados pela PNAD permitem, acredita-se, uma figuração da família brasileira bastante próxima da realidade, salvaguardando algumas questões de ordem cultural que influenciam na coleta de dados sócio-econômicos, tal como a já

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citada tendência de se colocar como pessoa de referência o homem mesmo quando o principal provedor econômico da família é a mulher.

Como está-se tomando como base a PNAD, serão apresentadas as definições dos conceitos de interesse direto desta pesquisa, tal como estabelecidas no referido instrumento.

Cônjuge- pessoa que vive conjugalmente com a pessoa de referência da família, existindo ou não o vínculo matrimonial.

Domicílio- local de moradia, estruturalmente separado e independente, constituído por um ou mais cômodos.

Família- conjunto de pessoas ligadas por laços de parentesco, dependência doméstica ou normas de convivência, que residissem na mesma unidade domiciliar e, também, a pessoa que morasse só em uma unidade domiciliar.

Filho- pessoa que é filho, enteado, filho adotivo ou de criação da pessoa de referência da família ou do seu cônjuge.

Pessoa de referência- pessoa responsável pela família ou que assim fosse considerada pelos demais membros da família.

Com base nas definições da PNAD e dos especialistas foram estabelecidas para esta pesquisa, as seguintes definições:

Chefe de família- pessoa que foi declarada como de referência da família. Família- das famílias, estão sendo consideradas as pessoas de referência, seus cônjuges (quando houver) e filhos residentes no domicílio. Não estamos incluindo aqueles que não tem relação de parentesco com a pessoa de referência nem os que se encontram na condição de ‘outro parente’. Isto porque estamos trabalhando com a concepção de família nuclear (casal com filhos) e a sua variação: pai ou mãe com filhos.

Para os demais conceitos -filho, domicílio e cônjuge, ficam valendo as definições da PNAD.

O número da amostra da PNAD 1992 para o Rio de Janeiro foi de 25.933 e da

PNAD 1999 foi de 26.961 domicílios. Desses números, foram retirados 3.199 para 1992

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Nas PNADs, os indivíduos dos domicílios pesquisados são alocados nos domicílios e nas famílias, que é um subgrupo do anterior. Pressupondo a possibilidade da presença de mais de uma família por domicílio, visto estar-se lidando com o quintil inferior de rendimento, foi calculado o número de famílias por domicílio. Em seguida, foi calculada a renda média familiar por domicílio, que é igual ao total da renda domiciliar dividido pelo número de famílias. Assim foi estipulado o quintil inferior da renda média familiar por domicílio.

4.Resultados Obtidos

As famílias foram categorizadas como: (i)mulheres chefes de família com cônjuge; (ii)mulheres chefes de família sem cônjuge; (iii)homens chefes de família com cônjuge e (iv)homens chefes de família sem cônjuge. A maior parte das famílias estudadas nesta pesquisa enquadra-se ou no segundo ou no terceiro caso. Por isso, as comparações de gênero que virão a seguir, dar-se-ão, principalmente, entre mulheres chefes de família sem cônjuge e homens chefes de família com cônjuge. Este último representando o tradicional modelo de família nuclear e a primeira, um novo tipo de família que está dividindo espaço com o padrão tradicional de formação familiar.

Gráfico 13

P ro p o rç ã o d e m u lh e re s e h o m e n s c h e fe s d e fa m íli a (q u i n til in fe ri o r d e re n d im e n to ) c o m filh o s re sid e n te s

n o d o m ic íli o - R i o d e J a n e iro - 1 9 9 2 e 1 9 9 9 0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 mu lh e r c o m c ô n ju g e mu lh e r s e m c ô n ju g e h o me m c o m c ô n ju g e h o me m s e m c ô n ju g e 1 9 9 2 1 9 9 9

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De 1992 para 1999, aumentou o número de mulheres chefes de família e diminuiu o número de homens chefes de família, com filhos residentes no domicílio, pertencentes ao quintil inferior de rendimento no estado do Rio de Janeiro em torno de 6%. Com base nesse resultado, pode-se dizer que, acompanhando as tendências mundial e nacional, também no estado do Rio de Janeiro está aumentando o número de famílias chefiadas por mulheres sem cônjuge. O que significa que a família nuclear, composta por pai, mãe e filhos, está deixando de ser o padrão. Pois este tipo de família, que antes (1992), representava mais da metade do número das famílias do quintil inferior do estado do Rio de Janeiro, passou, em 1999, a ser quase tão representada quanto a família chefiada por mulher sem cônjuge –53,63% para a família nuclear e 41,66% para esta última. O número de famílias de chefia feminina com cônjuge é quase insignificante do começo ao final da década. Deve-se, entretanto, levar em conta (como já foi dito na Seção 3.3.1. deste trabalho), que raramente as mulheres são consideradas chefes de família quando têm cônjuge, mesmo que sejam suas principais provedoras econômicas. O número de famílias chefiadas por homem sem cônjuge é baixo e essa proporção é assim mantida por toda a década –abaixo de 4%.

Gráfico 2

Idades das (dos) chefes de família (quintil inferior de rendim ento) com filhos residentes no domicílio - Rio de Janeiro - 1992 e 1999

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 1992 idade 0-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60 e + 1999 idade 0-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60 e +

mulher com cônjuge mulher sem cônjuge homem com cônjuge homem sem cônjuge

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A família nuclear (chefia masculina com cônjuge), está mais representada na faixa etária de 30 a 39 anos tanto em 1992 quanto em 1999. Em 1992, o maior número de famílias chefiadas por mulher sem cônjuge concentrava-se também na faixa etária de 30 a 39 anos. Mas em 1999 este tipo de família se encontra distribuída, com percentagens semelhantes, por todas as faixas etárias, à exceção da mais nova, que inclui mulheres até 19 anos. Pode-se concluir que a chefia de uma família sem cônjuge, passa a ser fato para aproximadamente 19% das mulheres com filhos residentes no domicílio de praticamente todas as faixas etárias do quintil inferior de rendimento.

Gráfico 3

Raças dos (das) chefes de família (quintil inferior de rendimento) com filhos residentes no domicílio - Rio de Janeiro - 1992 e 1999

0 10 20 30 40 50 60 70 80

1992 raça branca negra 1999 raça branca negra

mulher com cônjuge mulher sem cônjuge homem com cônjuge homem sem cônjuge

Os homens chefes das famílias nucleares se dividem quase que igualmente entre brancos e negros. No começo da década, havia uma diferença de 1,87% em favor dos negros. No final da década, porém, cresce a chefia masculina branca pertencente ao pior quintil de rendimento, que passa a ser maior que a negra em 1,3%. As mulheres chefes de família sem cônjuge eram majoritariamente negras no começo da década – havia 12,42% a mais de negras. Ao final da década, essa diferença cai para a metade (6,65%).

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Gráfico 4

Chefes de fam ília (quintil inferior de rendim ento), com filhos residentes no dom icílio, trabalhando na sem ana de referência -

Rio de Janeiro - 1992 e 1999 15,78 45,18 77,18 52,7 48,55 44,44 72,97 59,22 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

mulher com cônjuge mulher sem cônjuge homem com cônjuge homem sem cônjuge

1992 1999

De 1992 para 1999, o número de mulheres chefes de família sem cônjuge que estavam trabalhando nas semanas de referência das PNADs caiu 0,74%: de 45,18% para 44,44%. Já o número de homens chefes de família com cônjuge caiu 4,21%: de 77,18% para 72,97%. No começo da década, o número de homens trabalhando era 32% superior ao de mulheres; ao final da década, este número era 28,53% superior.

Gráfico 5

Esco la rid a d e d a s (d o s) ch e fe s d e fa m ília (q u in til in fe rio r d e re n d im e n to ), co m filh o s re sid e n te s n o d o m icílio - R io

d e Ja n e iro - 1992 e 1999 0 5 1 0 1 5 2 0 2 5 3 0 3 5 4 0 4 5 5 0 mulher c om c ônjuge mulher s em c ônjuge homem c om c ônjuge homem s em c ônjuge

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A proporção de mulheres chefes sem cônjuge do quintil inferior de rendimento sem instrução caiu 6,05% e a de homens chefes com cônjuge do mesmo quintil, 3,99%. A proporção dessas mulheres com 1 a 3 anos de escolaridade caiu 6,05% e a desses homens 3,67%. A dessas mulheres com 8 a 10 anos de escolaridade aumentou 5,16% e a desses homens caiu 2,06%. A proporção dessas mulheres com 11 a 14 anos de escolaridade aumentou 3,79% e a desses homens 7,92%. A dessas mulheres com 15 anos ou mais de estudo aumentou 1,16% e a desses homens também aumentou em 5,56%.

A proporção de mulheres e homens sem instrução e com 1 a 3 anos de escolaridade caiu do começo para o final da década passada. A proporção de mulheres com 4 a 7 anos de estudo aumentou, enquanto a de homens caiu. A proporção de mulheres e homens com 11 a 14 e 15 anos ou mais de escolaridade aumentou, principalmente entre os homens.

Gráfico 6

Número médio de filhos residentes nos domicílios dos (das) chefes de família (quintil inferior de rendimento) - Rio Janeiro - 1992 e 1999

2,42 1,67 2,1 1,52 2,02 1,58 1,96 1,31 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

mulher com cônjuge mulher sem cônjuge homem com cônjuge homem sem cônjuge

1992 1999

O número médio de filhos residentes nos domicílios das famílias de chefia masculina com cônjuge do quintil inferior de rendimento caiu de 2,10 para 1,96. Nas famílias chefiadas por mulher sem cônjuge, a média se manteve em aproximadamente 1,5 filhos residentes no domicílio.

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Gráfico 7

Filhos das (dos) chefes de família (quintil inferior de rendimento) frequentando escola - Rio de Janeiro - 1992 e 1999

70,67 56,19 80,77 48,17 61,15 53,96 58,96 45,59 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

mulher com cônjuge mulher sem cônjuge homem com cônjuge homem sem cônjuge

1992 1999

O número de filhos freqüentando a escola caiu para todos os tipos de família, sendo que de forma bastante acentuada para os filhos das famílias chefiadas por homem sem cônjuge (21,81%). A proporção de filhos residentes nos domicílios dos chefes das famílias do quintil inferior de rendimento do Rio de Janeiro fora da escola no final da década de 90, chega quase à metade de todo o seu contingente.

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Gráfico 8

Filhos dos (das) chefes de fam ília trabalhando na sem ana de referência - Rio de Janeiro - 1992 e 1999 0 5 10 15 20 25 30

menos de 10 mais de 10 idade menos de 10 mais de 10

mulher com cônjuge mulher sem cônjuge homem com cônjuge homem sem cônjuge

Em 1999, pouco mais da metade dos filhos das famílias mais pobres do estado do Rio de Janeiro estavam estudando. Mas, diferentemente do que se poderia esperar, eles não estavam inseridos no mercado de trabalho. Esta situação chama a atenção pois menos da quarta parte dos filhos que partilhavam os mesmos domicílios dos chefes, fossem eles adolescentes ou adultos estavam trabalhando tanto no início quanto no final da década.

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Gráfico 9

Chefes de família (quintil inferior de rendimento) proprietários de seus imóveis - Rio de Janeiro - 1992 e 1999

57,14 66,01 61,42 77,78 90 77,94 72,94 81,63 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

mulher com cônjuge mulher sem cônjuge homem com cônjuge homem sem cônjuge

1992 1999

Em 1992, 66,01% dos domicílios chefiados por mulher sem cônjuge e 61,42% dos chefiados por homem com cônjuge eram próprios. Tal proporção aumentou aproximadamente 10% ao final da década de 90.

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Gráfico 10

Domicílios dos chefes de família (quintil inferior de rendimento) com água canalizada - Rio de Janeiro - 1992 e 1999

71,43 80,07 77,72 55,56 90 90,49 89,87 93,88 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

mulher com cônjuge mulher sem cônjuge homem com cônjuge homem sem cônjuge

1992 1999

Gráfico 11

Domicílios dos chefes de família (quintil inferior de rendimento) por origem da água canalizada - Rio de Janeiro - 1992 e 1999

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 1992 Proveniência da água rede geral

poço ou nascente outra proveniência

1999

Proveniência da água

rede geral

poço ou nascente outra proveniência

mulher com cônjuge mulher sem cônjuge homem com cônjuge homem sem cônjuge

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Em 1992, 80,07% das famílias chefiadas por mulher sem cônjuge e 77,72% das famílias chefiadas por homem sem cônjuge tinham água encanada em seus domicílios. Essa proporção aumenta em 1999 para 90,49% e 89,97% respectivamente. Isto significa que ainda no final da última década do século XX aproximadamente 10% das famílias do quintil inferior de rendimento não tinham água canalizada em suas casas.

Desses domicílios com água canalizada, 88,91% dos chefiados por mulher sem cônjuge e 79,4% dos chefiados por homem com cônjuge eram ligados a uma rede geral de distribuição; 10,69% dos primeiros e 20,13% dos segundos recebiam água vinda de poço ou nascente.

Gráfico 12

Domicílios dos chefes de família (quintil inferior de rendimento) com iluminação elétrica - Rio de Janeiro - 1992 e 1999

100 97,39 94,94 96,3 100 98,48 98,7 100 92 93 94 95 96 97 98 99 100

mulher com cônjuge mulher sem cônjuge homem com cônjuge homem sem cônjuge

1992 1999

Quase a totalidade das famílias do estado do Rio de Janeiro, pertencentes ao quintil inferior de rendimento tem energia elétrica em seus domicílios.

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Gráfico 13

Domicílios dos chefes de família (quintil inferior de rendimento) com fogão, geladeira, rádio e TV - Rio de Janeiro - 1992 e 1999

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

fogão geladeira rádio televisão fogão geladeira rádio televisão

mulher com cônjuge mulher sem cônjuge homem com cônjuge homem sem cônjuge

Quase a totalidade das famílias tinha fogão em seus domicílios, tanto no começo quanto no final da década de 90. Em 1992, a geladeira ainda era um artigo vedado a aproximadamente 30% das famílias mais pobres do estado do Rio de Janeiro. Nos domicílios de chefia feminina sem cônjuge, somente 69,61% deles tinham geladeira e nos de homem com cônjuge, 74,54% a tinham. Em 1999, em quase todas as casas havia geladeira: em 90,74% das de chefia masculina e em 90,50% das de chefia feminina.

A proporção de domicílios com rádio era bastante alta tanto em 1992 quanto em 1999. Nos domicílios onde a chefia é masculina, essa proporção é um pouco maior: cerca de 2%.

A proporção de domicílios com televisão estava em torno de 30% em 1992 e mais que dobrou em 1999. No começo da década, a proporção de casas com TV era a mesma para as de chefia masculina e feminina. Mas em 1999 havia uma diferença de 2% a mais para as de chefia feminina.

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5.Comentários finais

Esta análise centrou-se nos dois tipos de família com maiores representações na amostra selecionada para esta pesquisa: o de chefia masculina com cônjuge e o de chefia feminina sem cônjuge.

Os resultados alcançados mostram algumas particularidades desses dois tipos de família no estado do Rio de Janeiro. Os chefes das 20% famílias mais pobres do estado não são majoritariamente negros: praticamente metade de seu contingente é de raça branca. O nível de desemprego é alto, sendo a situação muito pior para as mulheres, pois mais da metade das chefes estavam sem trabalho. Tanto os homens como as mulheres têm um nível baixo de escolaridade: primeiro grau completo ou incompleto. Para os seus filhos não parece se oferecer uma perspectiva melhor pois só um pouco mais da metade deles está freqüentando escola regularmente. E no entanto, apenas cerca de 20% dos filhos estavam trabalhando.

A qualidade de vida das famílias mais pobres parece ser igualmente desfavorável, independente do gênero do chefe da família. Mas há algumas diferenças que, embora pequenas, devem ser mencionadas: o número de famílias chefiadas por mulher está aumentando e já representa quase a mesma proporção das famílias chefiadas por homem. A proporção de mulheres desempregadas é muito maior. O número de anos de escolaridade das mulheres vem aumentando mas o dos homens ainda é maior nos níveis mais altos de escolaridade. O número médio de filhos residentes no domicílio nas famílias com chefia masculina é maior. A proporção de filhos na escola era bem maior nas famílias de chefia masculina em 1992 e passa a ter uma distribuição quase igual em 1999, resultado de uma ligeira queda na freqüência à escola dos filhos das famílias de chefia feminina e de uma grande queda nas famílias de chefia masculina. No começo da década, havia uma maior proporção de filhos das famílias de chefia feminina trabalhando. Tal proporção se inverteu ao final da década. Há mais mulheres chefes proprietárias de seus domicílios do que homens.

O acesso aos serviços de água e de iluminação é maior nos domicílios de chefia feminina. Um maior número de domicílios chefiados por homem tem fogão, geladeira e rádio. Os domicílios de chefia feminina superam um pouco (2%) os de chefia masculina no número de televisores.

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