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Elementos relevantes da distribuição espacial da população no Rio de Janeiro: a localização residencial realmente importa?

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ELEMENTOS RELEVANTES DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POPULAÇÃO NO RIO DE JANEIRO: a localização residencial realmente importa?

RESUMO

Estudar a localização residencial da população é relevante, pois consideramos que as áreas de residência representam um fator essencial no que tange a condições materiais, sociais e econômicas de sua população. Neste trabalho a localização residencial é um fator significativo da qualidade de vida da população e por isso, desenvolver uma reflexão sobre os elementos constituintes da interação entre população e espaço intraurbano é importante no intuito de entender a forma pela qual podemos considerar que a espacialidade influencia questões sociodemográficas. Este estudo é fruto da construção da tese de doutorado em desenvolvimento sobre o município do Rio de Janeiro. Apresentaremos aqui, de forma sintética, as reflexões sobre as motivações para a pesquisa da localização residencial da população. Isto porque ao considerarmos as precárias condições de moradia, acesso reduzido a serviços públicos e desigualdades em termos de renda, entre outros elementos, percebemos que a localização residencial pode estar associada a uma espécie de “acúmulo de carências”. Este estudo foi elaborado com os dados do Censo Demográfico 2010 segundo áreas de Ponderação para o município do Rio de Janeiro e sua metodologia contou com técnicas de SIG e de modelagem de variação discreta para análise espacial da Renda Domiciliar per capita, assim como a aplicação dos índices de Moran Global e Local.

Palavras Chave:

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ELEMENTOS RELEVANTES DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POPULAÇÃO NO RIO DE JANEIRO: a localização residencial realmente importa?1.

Vivian Alves da Costa Rangel Gomes (NEPO/UNICAMP)2.

INTRODUÇÃO

A maioria das grandes cidades capitalistas na América Latina apresentou um processo de urbanização que resultou num complexo território afetado pelo crescimento econômico com distribuição desigual de riquezas e de recursos, o que gerou um processo de ocupação reticente conduzindo a população mais pobre para áreas menos valorizadas (VASCONCELOS; CORREA; PINTAUDI; 2016).

Num espaço tipicamente fragmentado composto por áreas de diferentes formas, conteúdos e tamanhos, os problemas reportados com frequência se relacionam a fatores econômicos e sociais como a concentração de riqueza, desemprego, violência, entre outros. Esses elementos ganham importância para as Ciências Sociais por influenciarem a tendência da ocupação espacial (CUNHA; JIMENEZ; 2002).

Caracterizar a distribuição espacial da população é relevante do ponto de vista de sua consequência, pois consideramos que as áreas de residência representam um fator essencial no que tange a condições materiais, sociais e econômicas de sua população.

Neste trabalho a localização residencial é um fator significativo da qualidade de vida da população e por isso, desenvolver uma reflexão sobre os elementos constituintes da interação entre população e espaço intraurbano é importante no intuito de entender a forma pela qual podemos considerar que a espacialidade influencia questões sociodemográficas.

O espaço é reconhecido como um produto da sociedade e, por isso, é condição de existência cuja produção reflete importantes processos de diferenciação

1 Trabalho apresentado no XXI Encontro Nacional de Estudos Populacionais – ABEP - realizado em Poços de Caldas/Minas Gerais – Brasil - de 22 a 28 de Setembro de 2018.

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e, em sua dimensão, interfere na condição da vida da população residente por meio de “padrões de contiguidade, vizinhança e distancia” (TORRES; MARQUES; BICHIR; 2002). Nessa perspectiva, compreendemos que a organização espacial é relevante e desde a década de 1980 os estudos urbanos no Brasil já indicavam que as cidades brasileiras refletiam em seus espaços as desigualdades sociais existentes.

Este estudo é fruto da construção da tese de doutorado em desenvolvimento sobre o município do Rio de Janeiro. Apresentaremos aqui, de forma sintética, as reflexões sobre as motivações para a pesquisa da localização residencial da população. Isto porque ao considerarmos as precárias condições de moradia, acesso reduzido a serviços públicos e desigualdades em termos de renda, entre outros elementos, percebemos que a localização residencial pode estar associada a uma espécie de “acúmulo de carências”, conforme mencionado por Cunha e Jímenez (2002) em estudo sobre a Região Metropolitana de Campinas ao examinar a relação entre a segregação residencial e as formas de acesso aos serviços públicos.

O RIO DE JANEIRO E SEU ENLACE NA REGIÃO METROPOLITANA

Historicamente, o Rio de Janeiro desde o século XIX se constituiu espaço de coexistência das moradias da população pobre e da população mais abastada compartilhando a mesma localização e se diferenciando apenas pelo seu padrão construtivo (GOMES, 2016, p.3). No início do século XX surge mais um elemento importante na estruturação urbana que vai além das características socioeconômicas da população e influencia o processo de diferenciação espacial da localização residencial, a mobilidade urbana via equipamentos de transporte e as vias de acessibilidade da cidade, direcionando o seu crescimento e a formação de novas localizações (ABREU, 2013).

Com a continuidade desse processo, já era possível localizar o espaço de cada classe social no intraurbano e a Reforma Pereira Passos (1902-1906), por exemplo, vem consolidar um padrão de segregação socioespacial com perspectiva de aprofundamento no decorrer dos próximos anos com bairros residenciais aprazíveis para a população de alta renda, um centro de negócios “moderno”,

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deslocando a população mais pobre para o subúrbio por meio de ações diretas do Estado (LAGO, 2000).

O século XX é marcado pela expansão do mercado de terras pelas grandes imobiliárias que tornam os subúrbios heterogêneos por abrigar a população deslocada dos cortiços das áreas centrais, ou seja, os migrantes residenciais compulsórios. É nesse contexto que Lago (2000, p. 61) indica o início do processo de “periferização dos pobres” que ganha força na década de 1990 diante da integração da Baixada Fluminense à cidade.

Apesar da ênfase da pesquisa ser voltada para a distribuição espacial da população no intraurbano, vale ressaltar que em um contexto mais amplo, não perdemos de vista as características do Rio de Janeiro como principal metrópole de sua Região Metropolitana. Isto é importante porque o município em si se nutre de características como espaço concentrador de renda e recursos urbanísticos “cercado por extratos periféricos carentes de infraestrutura”.

O espaço ganha conotação econômica e social e os extratos periféricos se tornam espaço de moradia da população de baixa renda e esse complexo urbano compartimentado, a cidade do Rio de Janeiro, tem sua estrutura configurada de forma inusitada que conforma “periferias3” (as favelas) dentro do núcleo metropolitano (CUNHA, 2018).

A dinâmica demográfica nos municípios da Região Metropolitana no período de 1970 a 2010 pode ser apreciada de início através da observação da taxa de crescimento anual de sua população, conforme tabela 01. Os municípios que apresentaram as maiores taxas positivas do período são Maricá, Itaguaí e Guapimirim. Se considerarmos apenas o último período, 2000 – 2010, os municípios de Nilópolis e São João de Meriti apresentam as menores taxas positivas de crescimento com tendência à estabilização, enquanto Duque de Caxias e Magé apresentam taxa de 1% ao ano, mas com comportamentos opostos, pois o primeiro está em decréscimo de sua taxa se considerarmos todo o período apurado, e o segundo apresenta tendência de incremento da mesma.

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Tabela 01

População Residente e Taxa de Crescimento Médio Anual Municípios da RMRJ – 1970 – 2010.

Fonte: Censos Demográficos 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010.

Podemos afirmar que o padrão regional da taxa de crescimento anual da população para a RMRJ segundo municípios é de cerca de 1,35% ao ano. A taxa do município do Rio de Janeiro de 0,76% ao ano no período 2000-2010 se aproxima muito da taxa para toda a RMRJ no mesmo período que é de 0,83% ao ano. O município de Nova Iguaçu apresenta taxa negativa desde o período 1991-2000 com – 3,38% ao ano e que ainda se mantém negativa para o próximo período com uma aparente perda de intensidade apresentando o valor de -1,44% ao ano no período 2000-2010.

O elemento demográfico se torna relevante quando conseguimos articular os fatores envolvidos nos resultados dessas taxas, pois os municípios apontados como aqueles que mais crescem estão associados à dinâmica metropolitana e expandindo sua área de ocupação. Estudos mostram que a migração foi um componente relevante para o crescimento observado nos períodos 1991-2000 e 2000 – 2010 (OLIVEIRA; SILVA, 2015). 1970 1980 1991 2000 2010 1970-1980 1980-1991 1991-2000 2000-2010 4251918 5090723 5480768 5857904 6320446 1,82 0,74 0,67 0,76 430271 615351 779832 891119 999728 3,64 2,40 1,34 1,16 431397 575830 667821 775456 855048 2,93 1,49 1,51 0,98 727140 1094789 1297704 920599 796257 4,18 1,71 -3,38 -1,44 324246 397135 436155 459451 487562 2,05 0,94 0,52 0,60 ... ... ... 434474 469332 ... ... ... 0,77 302394 398819 425772 449476 458673 2,81 0,66 0,54 0,20 113023 166603 191734 205830 227322 3,96 1,41 0,71 1,00 65912 114542 162742 187479 218008 5,68 3,57 1,43 1,52 ... ... ... ... 168376 ... ... ... ... 128011 151585 158092 153712 157425 1,70 0,42 -0,28 0,24 23664 32618 46545 76737 127461 3,26 3,62 5,13 5,21 ... ... ... 121993 137962 ... ... ... 1,24 55839 90131 113057 82003 109091 4,90 2,29 -3,16 2,90 ... ... ... 83278 95492 ... ... ... 1,38 ... ... ... 65260 78186 ... ... ... 1,82 34434 40038 45161 49691 55551 1,52 1,21 0,96 1,12 ... ... ... 37952 51483 ... ... ... 3,10 33793 35871 40208 48543 54273 0,60 1,15 1,90 1,12 25368 30310 36427 40475 47124 1,80 1,86 1,06 1,53 ... ... ... 26057 30732 ... ... ... 1,66 ... ... ... 10894156 11835708 ... ... ... 0,83239092 Taxa de Crescimento 1970 - 2010 Maricá Rio de Janeiro São Gonçalo Duque de Caxias Nova Iguaçu Niterói Belford Roxo São João de Meriti Magé Itaboraí Mesquita Nilópolis População Residente Cachoeiras de Macacu Paracambi Tanguá RMRJ Queimados Itaguaí Japeri Seropédica Rio Bonito Guapimirim

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Mapa 01

Taxa de Crescimento Médio Anual por Município – RMRJ - 1991-2000/2000 – 2010

Fonte: Cunha (no prelo).

MÉTODOS E MATERIAIS: CARACTERIZAÇÃO DA OCUPAÇÃO – alguns elementos sociodemográficos no espaço intraurbano.

Por meio da utilização dos dados do Censo Demográfico de 2010 do IBGE buscamos identificar e caracterizar a população segundo sua área de residência. O recorte territorial é o município do Rio de Janeiro segundo áreas de ponderação.

A aplicação de ferramentas do Sistema de Informações Geográficas com informações censitárias é o caminho metodológico seguido nessa pesquisa. O SIG na Demografia é muito útil para o “ganho de informação” sobre a ocupação populacional em diversas áreas. Por isso, as possibilidades que essa ferramenta oferece são favoráveis à proposta de estudo que aqui se apresenta (UMBELINO; BARBIERI, 2008).

No Censo 2010 identificamos um total de 10.233 setores censitários agrupados em 122 áreas de ponderação para o município do Rio de Janeiro dando cobertura a todo o território de interesse nesse estudo.

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Os critérios seguidos para a criação das áreas de ponderação do Censo 2010 foram, IBGE (2002):

 Conjugação de tamanho, contiguidade e homogeneidade do conjunto de características populacionais e de infraestrutura.

 O maior nível geográfico é o Município.

 O menor tamanho de uma área de ponderação é de 400 domicílios particulares ocupados na amostra.

Na descrição dessas áreas percebemos que sua relação com os bairros é bilateral, tal qual, que uma APOND pode reunir mais de um bairro e, por outro lado, um bairro pode reunir mais de uma APOND. Isso é importante, porque optamos por “nomear” as áreas de ponderação com o nome de um dos bairros de sua constituição. Observe a espacialização no mapa 02.

Mapa 02

No mapa 03 podemos observar o “rótulo” concedido a cada área de ponderação para que possamos identifica-las no momento da caracterização das variáveis sociodemográficas que serão apresentadas a seguir.

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Mapa 03

No quadro 01 podemos observar título identificação para cada área segundo seu código numérico.

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Em síntese, decidimos apresentar a caracterização da ocupação com exemplo de variáveis que representam a dimensão social (educação e nível de instrução), a dimensão demográfica (razão de sexo, razão de dependência, índice de envelhecimento) e a dimensão econômica (renda nominal per capita em salários mínimos).

Dimensão Social: Educação e Nível de Instrução

As variáveis selecionadas são úteis na composição do estudo das condições de vida da população. No que se refere à educação verificamos a representação da população não alfabetizada, ou seja, aquela que confirma “não saber ler e escrever”. Essa opção tem o fim de identificar a concentração dessa população específica em alguma área de ponderação. Não ser capaz de ler e escrever nos dias atuais em uma grande cidade pode sugerir a ausência de acesso à oportunidades de alfabetização e ainda confirmar a restrição de melhor condição de vida na cidade.

As áreas que apresentaram maior contingente nesta condição foi Rio das Pedras, Sepetiba, Cosmos, Coreia, Guaratiba, Acari, Complexo do Alemão, Maré e Manguinhos, todas essas áreas são constituídas por comunidades em situação de carência social e econômica na cidade.

Quanto ao nível de instrução, a metodologia censitária visou compatibilizar os sistemas de ensino anteriores e o vigente. Optamos por especializar situações que consideramos extremas no que tange a esse quesito. Por isso, exploramos os dados da população “sem instrução” se referindo aos sem instrução ou com nível fundamental incompleto. Conforme nota metodológica do Censo, trata-se do grupo de pessoas que nunca frequentou escola ou que não completou o nível elementar.

Os casos mais preocupantes, com um contingente mais expressivo nessa categoria de instrução estão presentes nas áreas de Sepetiba, Coreia, Rio das Pedras, Vila Isabel e Complexo do Alemão. Na análise que propomos apresentar, esta informação pode configurar como redundante, pois reuniria também informação sobre “não saber ler e escrever”.

A população com nível superior completo parece se concentrar nas áreas de ponderação referentes à zona sul como, Ipanema, Leblon, Lagoa, Jardim

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Botânico/Gávea, Flamengo. A Barra da Tijuca é a única área de ponderação da zona oeste como mais de 46% de sua população com nível superior completo. Esta característica apresenta um gradiente com mudanças mais evidentes na direção do centro e do litoral.

Figura 01

Dimensão Demográfica: razão de sexo, razão de dependência e índice de envelhecimento

A Razão de Sexo:

Trata-se da relação quantitativa entre o sexo da população e auxilia no entendimento da distribuição da população por sexo. Essa é uma informação valiosa quando consideramos processos de planejamento para diversas áreas sociais com prioridade para área de saúde, educação e emprego.

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A cidade mostra um padrão espacial quando avaliamos a razão de sexo. Observando a figura 02 verificamos que as áreas onde existem mais mulheres são as relativas a zona norte, sul, Barra da Tijuca e Realengo. A maioria da população brasileira já é composta por mulheres, fato constatado desde o Censo de 1991 e essa relação permanece.

Figura 02

A estrutura etária de uma população é um elemento relevante da análise demográfica aliado a estudos específicos voltados para as componentes demográficas principais como a fecundidade, a mortalidade e a migração. Todas as componentes interferem nessa estrutura, simbolizando um processo de modificação ao longo do tempo. Observar a estrutura etária oferece a possibilidade de acompanhar os processos demográficos de incrementos e decrementos que influenciam essa estrutura e o tamanho de uma população. A estrutura etária pode apontar possíveis demandas relacionadas à população e o local de residência, o que auxilia na elaboração de políticas públicas, por exemplo. Sendo assim, é interessante entender indicadores demográficos como a razão de dependência e índice de envelhecimento. O cálculo da razão de dependência auxilia a compreensão da relação existente entre os grandes grupos etários de uma população.

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Razão de Dependência:

A Razão de Dependência Demográfica, ou simplesmente, Razão de Dependência, é mais um instrumento simples da Demografia Descritiva e Analítica. Este indicador parte do pressuposto da existência de dependência econômica entre os grupos etários de uma população. O contingente considerado “dependente” se refere às pessoas que compõem o grupo de até 14 anos de idade e aquelas acima de 64 anos.

Essa definição está associada à concepção de que a população intermediária a estes grupos, ou seja, a população que constitui o grande grupo etário entre 15 anos e 64 anos de idade é a população de potencial suporte econômico àquelas dos outros dois grupos, sendo assim considerada “população potencialmente produtiva”, conforme o IBGE.

Vale ressaltar, que esse recorte conceitual deve considerar traços culturais específicos de cada população em estudo. Nesse estudo, tratamos da população brasileira e da população do município do Rio de Janeiro, o que está de acordo com a estruturação etária de grandes cidades brasileiras e o processo de transição demográfica, com fecundidade em declínio essa estrutura vem se modificando ao longo do tempo. Apresentamos a razão de dependência total e ainda a jovem e a de idosos.

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Figura 03

É nítido que quando desmembramos a razão de dependência total para a de jovens e idosos, percebemos que o contingente jovem está mais adensado nas áreas a oeste na cidade e os idosos estão concentrados na zona sul.

Índice de Envelhecimento:

De acordo com o processo de transição demográfica, a população brasileira já apresenta-se durante um processo de envelhecimento. No entanto, ao observarmos a distribuição do índice pelas áreas em estudo podemos afirmar que a ocorrência de índices maiores também indica estágio mais avançado de transição demográfica. A cidade do Rio de Janeiro é um espaço brasileiro considerado em um processo avançado de envelhecimento da população, (SILVA, 2012, p.212). Este indicador vem confirmar a concentração dos idosos ao norte e ao sul da cidade e na área da Barra da Tijuca.

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Figura 04

Dimensão Econômica: Renda Domiciliar per capita em salários mínimos

O processo de urbanização e o ritmo da atividade econômica são reconhecidos como fatores básicos tanto na incidência quanto na espacialização da pobreza no Brasil, (ROCHA, 1998). A insuficiência de renda, como indicador de pobreza, apresenta tendências locais bem diferenciadas nas grandes cidades no período 1980/1993, mas não foi possível associar essas diferenças às taxas de crescimento demográfico, ROCHA (1998). Historicamente, a renda é afetada pela estrutura produtiva e pelo nível de atividade, CASARIN (2009).

O conceito de pobreza é complexo e por isso optamos por tratar as desigualdades sociais que tem na insuficiência de renda o seu cerne, pois dessa forma se explicaria a situação na qual as necessidades mais básicas de um ser humano no meio urbano não serem atendidas.

Devemos considerar que o salário mínimo definido no Censo de 2010 foi no valor de R$ 510,00 (quinhentos e dez reais). Enquanto “linha de pobreza”, Rocha (1993) aplicou para o Brasil a faixa correspondente a ¼ do salário mínimo, podemos então considerar que os domicílios com renda per capita inferior a 1 salário mínimo são os domicílios com maior probabilidade de compor a linha de pobreza para a cidade do Rio de Janeiro.

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A distribuição da renda per capita domiciliar em salários mínimos, no que tange aos estratos mais baixos, as categorias referentes a domicílios com renda per capita “menor que um salário mínimo” e de “1 a 3 salários mínimos” mostram uma ampla distribuição sem gradiente específico, mas podemos observar que com um breve aumento da renda, as áreas ao norte da cidade já se destacam.

Figura 05

O aumento da renda domiciliar per capita gera destaque nas áreas da direção do norte ao sul da cidade. Essa variável parece ser bem adequada para a avaliação de sua autocorrelação espacial, sua condição apresentada nos leva a entender que existem áreas específicas onde a renda domiciliar per capita é mais elevada. A renda domiciliar per capita além de indicar a condição social da população é a adequada à concepção do valor do espaço territorial.

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Figura 06

RESULTADO: ANÁLISE ESPACIAL DA RENDA NO RIO DE JANEIRO

A análise espacial segundo um modelo de variação discreta nos ajuda a conhecer o arranjo espacial da variável em estudo que é a renda domiciliar per capita em salários mínimos. A escolha de tal variável se dá no âmbito da reflexão de que insistimos em conhecer os elementos que associam a população ao seu território de residência. O modelo inferencial nesse estudo deve considerar os limites de cada área e, vale ressaltar, que os dados agregados não se referem a comportamentos individuais. Sendo assim, a base metodológica recorre ao modelo de variação espacial discreta, um processo estocástico4 para estimar a distribuição das variáveis aleatórias5.

A localização também é concebida como uma variável e, de uma forma geral, ao descrever as ocorrências dos eventos nas áreas delimitadas, nos ajuda a conhecer a realidade no período de referência do Censo e a pensar no

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Processo estocástico: coleção de variáveis aleatórias, geralmente utilizadas para estudar a evolução de fenômenos observados no tempo. Ou seja, ao contrário de um processo determinístico, não controlamos a evolução do fenômeno, (BUSSAB; MORETTIN; 2006).

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comportamento dessas ocorrências ao longo do tempo. É relevante considerar que a descrição estatística serve para avaliar o conjunto amostral, pois tende a ser semelhante ao da variável aleatória.

Tabela 02

Análise Exploratória de Renda Domiciliar per capita – Rio de Janeiro – 2010

Fonte: elaboração própria a partir do Censo 2010.

Para caracterizar a dependência espacial investigamos a autocorrelação que mostra “o quanto o valor observado de um atributo numa região é dependente dos valores desta mesma variável nas localizações vizinhas”, Câmara et al (2004, p. 13). Para isso, aplicamos a metodologia que investiga o padrão global de autocorrelação espacial que é o Índice de Moran (global e local).

Nesta pesquisa, este é um passo essencial por auxiliar a detecção do vínculo entre os resultados censitários e o espaço intraurbano. Para alcançar esse objetivo aplicamos o índice de Autocorrelação Global, o Índice de Moran I, que resume e ao mesmo tempo define a existência ou não de correlação entre a variável selecionada e a distribuição de seus resultados no espaço.

Calculamos o índice de Moran Global para os quatro níveis de renda definidos e os resultados mais intensos foram aqueles para as faixas de renda extremas, ou seja, a renda domiciliar per capita menor que um salário mínimo e a renda domiciliar per capita maior que 10 salários mínimos.

Para estimar a variabilidade dos dados por área o modelo de variação discreta tem a matriz de proximidade Wnxn que é uma matriz quadrada que relaciona

a proximidade entre as áreas consideradas e sua elaboração pode considerar diferentes critérios. O critério de proximidade (ou vizinhança) adotado foi o de contiguidade Queen de primeira ordem. A matriz gerada com auxílio do software Geoda é com resultados normalizados prontos para o cálculo de indicadores de correlação.

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Figura 07

Moran Map para Renda Domiciliar Per Capita menor que 1 salário mínimo (Moran I 0,32)

Figura 08

Moran Map para Renda Domiciliar Per Capita acima de 10 salários mínimos (Moran I 0,56)

Por fim, o estudo da autocorrelação das faixas de renda domiciliar Per Capita demonstrou a existência de dependência espacial para este atributo e a autocorrelação foi positiva para todas as faixas recortadas.

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Tabela 03

Síntese do Índice de Moran Global

Fonte: elaboração própria.

O teste de autocorrelação local, conhecido como Moran Local ou LISA (Local

Indicators of Spatial Association) visa identificar agrupamentos de valores altos ou

baixos e ainda avalia a existência de observações discrepantes em relação à vizinhança. Aplicamos esse índice apenas para a renda domiciliar per capita acima de 10 salários mínimos, pois o seu Moran Global indicou autocorrelação espacial mais intensa.

O LISA para a Renda Domiciliar Per Capita acima de 10 salários mínimos identificou como áreas de perfil ALTO-ALTO predominantemente aquelas situadas na zona sul da cidade, excluindo-se desse conjunto a Rocinha, área classificada como BAIXO-ALTO não permitindo que as áreas vizinhas influenciassem seu perfil.

Figura 09

LISA Map para Renda Domiciliar Per Capita acima de 10 salários mínimos

Ao aplicarmos o teste de pseudo significância observamos no mapa áreas na região norte, sul e oeste da cidade cujo indicador local alcançou 95% de significância para dezesseis áreas e a significância de 99% para catorze áreas. A

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correlação espacial além de confirmada para este atributo, mostra que os valores mais elevados atraem vizinhos com valores altos. Conforme já mencionamos, podemos considerar a existência de uma “área de influência” de domicílios com renda per capita acima dos 10 salários mínimos, especificamente a região sul da cidade.

Figura 10

LISA Map de significância para Renda Domiciliar Per Capita acima de 10 salários mínimos.

DISCUSSÃO: A LOCALIZAÇÃO RESIDENCIAL REALMENTE IMPORTA QUANDO CONSIDERAMOS AS CONDIÇÕES DE VIDA DA POPULAÇÃO?

A discussão que se coloca é sobre as condições de vida nas grandes cidades em meio à desigualdade social e a qualidade de vida relacionada ao local de moradia e suas condições. Esse espaço das grandes cidades, assim como do Rio de Janeiro se caracterizam como um tecido fragmentado, com diferenciações e desigualdades atinentes às condições materiais, sociais e econômicas as quais a população residente poderá ou não ter acesso.

Diante das variáveis apresentadas percebemos que nas áreas menos privilegiadas da cidade reúne-se uma população com nível de instrução inferior, mais dependente e que esses elementos entre outros podem ser os constituintes de um “acúmulo de carências”.

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De fato, tomando essa leitura dos dados e da aplicação do procedimento metodológico, confirmamos que a cidade tem seu espaço com característica compartimentada no sentido de mesclar áreas mais carentes com áreas mais estruturadas cujos efeitos de vizinhança e contiguidade puderam ser captados pelo índice de Moran no qual fica bem delimitado onde podemos encontrar a população com a maior renda domiciliar per capita e aquela com menor.

Acredita-se que de fato o “espaço importa” e a população residente em locais mais precários e carentes tem sua qualidade de vida afetada por esse elemento que é ao mesmo tempo espacial e social.

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Referências

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