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Gentrification no Parque Histórico do Pelourinho, Salvador/BA

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Academic year: 2021

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(1)

Gentrification no Parque

Histórico do Pelourinho

Salvador - BA

Daniel de Albuquerque Ribeiro 03/10/2011

S a l v a d o r , B a h i a

(2)

DANIEL DE ALBUQUERQUE RIBEIRO

GENTRIFICATION NO PARQUE HISTÓRICO DO PELOURINHO.

Salvador - BA

Dissertação apresentada, ao Mestrado de Geografia, Instituto de Geociências, como exigência para obtenção do grau de Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia.

Orientador: Prof. Dr. Pedro de Almeida Vasconcelos

S a l v a d o r , B a h i a

Outubro, 2011

(3)

Ficha Catalográfica Universidade Federal da Bahia

Ribeiro, Daniel de Albuquerque

Gentrification no Parque Histórico do Pelourinho. Salvador – BA / Daniel de Albuquerque. Ribeiro. UFBA, 2011

244 p.

Orientador: Prof. Dr. Pedro de Almeida Vasconcelos

Dissertação de Mestrado: Universidade Federal da Bahia, Instituto de Geociências, Departamento de Geografia.

Inclui referências.

1.Gentrification 2. Agentes Modeladores do Espaço 3. Parque Histórico do Pelourinho 4. Salvador 5. Globalização

Universidade Federal da Bahia. Instituto de Geociências. Departamento de Geografia.

(4)

GENTRIFICATION NO PARQUE HISTÓRICO DO PELOURINHO

Salvador - BA

DANIEL DE ALBUQUERQUE RIBEIRO

Orientador: Prof. Dr. Pedro de Almeida Vasconcelos

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Submetida em satisfação parcial dos requisitos do grau de

MESTRE EM GEOGRAFIA

BANCA EXAMINADORA APROVAÇÃO

Prof. Dr. Pedro de Almeida Vasconcelos ___________________________________ Profª. Drª. Rosalí Braga Fernandes ___________________________________ Prof. Dr. Sylvio C. Bandeira de Mello e Silva ___________________________________

Data da Defesa Pública: 03 de Outubro de 2011

Salvador, Bahia

Outubro, 2011

(5)

A minha mãe Jandira de Albuquerque Ribeiro (em memória) Ao meu pai Hamilton Alves Ribeiro

(6)

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, presente em todos os momentos da minha vida, nunca me deixando sozinho ou desprotegido. Ao menos nunca me senti assim, mesmo nos momentos mais difíceis sempre a mão divina esteve para me amparar, guiar e defender. E principalmente por ter me dado uma família tão maravilhosa e amigos tão bons e fieis.

Agradeço a minha mãe Jandira de Albuquerque Ribeiro (em memória), não só por todo amor sempre dedicado a mim, mas, também por tantos ensinamentos que contribuem até hoje para que eu tenha uma vida mais feliz. Graças a minha mãe, aprendi que a vida deve ser encarada sempre com um olhar positivo, com uma alegria de criança, com força de vontade e transparência. Obrigado por me ensinar que a verdade deve ser dita independente de qualquer coisa e que as coisas devem ser feitas com muito amor e doação.

Agradeço a meu pai Hamilton Alves Ribeiro, por todo amor e atenção sempre dados com muita satisfação e pela presteza em querer ensinar a qualquer instante. Obrigado por dizer sempre que se orgulha de mim, pois, me anima saber que lhe causo alegrias. Contigo aprendi a importância de conservar as amizades e de cativar as pessoas a quem gostamos. Devo agradecer especialmente, por tantos ensinamentos transmitidos e principalmente por ser meu professor e incentivador em uma das maiores maravilhas que tenho em minha vida – a música.

Agradeço à minha família, materna e paterna da qual me orgulho de ser membro. Se eu listasse todas as coisas pelo qual sou grato não caberiam em poucas páginas. Em especial agradeço à minha madrinha Janete de Albuquerque, meu padrinho Jurandir de Albuquerque, meus tios Jaime de Albuquerque, Jacira de Albuquerque, Iraci de Albuquerque e Aidil de Albuquerque, e os primos Francisco Madureira e Victor Lima - exemplos de alegria e inspiração para mim. Também agradeço a meu tio Haroldo Ribeiro, minha tia Marina Ribeiro e meus primos Cesar Túlio Ribeiro, Marcos Paulo Ribeiro e Patrício Ribeiro, que além de todo admiração são exemplos e inspiração para os meus estudos, desde criança.

Agradeço a meu irmão Cássio de Albuquerque Ribeiro, que a cada dia me surpreende positivamente. Sinto muito orgulho de tê-lo em minha vida e o sou grato por me inspirar, principalmente na importância da responsabilidade no cumprimento das coisas.

(7)

Agradeço ao Professor Pedro de Almeida Vasconcelos pelos momentos, prazerosos, leves e divertidos de orientação nesses três anos em que tenho a satisfação de ser seu orientando. Sua influência na pesquisa é total, começando pela escolha do tema, que começou ainda em 2005, nas aulas de geografia urbana do terceiro semestre, quando ouvi o conceito de gentrificação pela primeira vez. Depois, ao me emprestar ainda na graduação dois dos principais livros que utilizei na monografia e continuo a usar nessa dissertação. Por fim, tendo participado da minha banca de monografia e me convidando para fazer o mestrado sendo hoje meu orientador, com contribuições sempre coerentes e de importância fundamental para o amadurecimento de todo o trabalho.

Agradeço à Professora Rosalí Braga Fernandes, que como sempre faço questão de registrar, é um exemplo de mulher e inspiração no caminho da Geografia. Obrigado por todo carinho e atenção sempre dedicados com muita alegria e um belo sorriso. Fico feliz de tê-la tido em minha banca de monografia e agora também na dissertação.

Agradeço ao Professor Sylvio Bandeira de Mello e Silva, que também é um exemplo inspirador de geógrafo, sempre demonstrando alegria em seu trabalho e amor por essa ciência magnífica. Também agradeço pelas contribuições, que começaram desde que tivemos a nossa primeira conversa após uma mesa redonda no ENEG de 2006 quando me presenteou com o livro Estudos sobre globalização território e Bahia.

Agradeço a todos os profissionais que contribuem com o mestrado de Geografia da UFBA, em especial, a professora Catherine Prost por toda preocupação, compreensão e disposição a ajudar, à Dirce Almeida e Itanajara, sempre prestativos e simpáticos e ao professor Wendel Henrique que também contribuiu para a realização deste trabalho, primeiramente com as aulas que participei ainda como aluno especial, depois ao permitir que fizesse o tirocínio com ele e por fim com contribuições sempre muito boas nas conversas que tivemos.

Agradeço aos meus colegas do mestrado em especial à minha turma de 2009 que além de todo carinho e apoio com que pude contar, também são exemplo de superação e força de vontade, cada um em suas especificidades; Ione Rocha, Polyana Machado, Gedeval Paiva, Paulo, Henrique, Ivam Alves, Denilson de Alcântara, Fádia Rebouças, Noelia Lopes e Adriana Bittencourt

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Também do mestrado quero destacar outros colegas que foram importantes na trajetória deste trabalho, Daniela Araújo, Cintya Flores, Simone Costa, Lucillia Gomes e o Carlos Eduardo (Cadú).

Os amigos que contribuíram para essa dissertação são muitos, alguns de forma direta e outros indiretamente. Com certeza, esse trabalho só saiu graças a ajuda de todos. Desde os que compartilharam momentos de tristeza e alegria até os que ajudaram de alguma forma no processo de produção. Obrigado a todos.

Em especial agradeço aos amigos que ajudaram no cadastramento das unidades. São eles Laila Pacheco, Drielle Arruba, Vladmir Felix e Laila Bouças. Com destaque para Danilo Barreto e Vinicius Monteiro cujo comprometimento e trabalho executado foram fundamentais e essenciais para o sucesso do cadastro. Agradeço também a Laila Bouças, pelo tempo doado, ouvindo as minhas ideias, lendo e até mesmo comentando alguns dos textos que escrevi.

Agradeço ao Professor, orientador na monografia e grande amigo: Ricardo Machado, por todo apoio, atenção e ajuda dedicada sempre.

No âmbito profissional, duas pessoas foram fundamentais na contribuição para o acontecimento deste trabalho.

O Professor Euvaldo Carvalhal Britto, que primeiramente como professor na Universidade Católica do Salvador, depois como meu Supervisor na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), sempre me incentivou, apoiou e ajudou no meu caminho como geógrafo. Além disso, se não fosse o seu apoio como de toda equipe da GERIDE, setor em que trabalhava, eu não teria conseguido fazer os dois primeiros semestres do mestrado e trabalhar ao mesmo tempo.

A segunda pessoa que foi de suma importância, também é da mesma empresa, porém em um momento diferente. Agradeço profundamente a Maria Angélica Barreto Ramos, que me convidou a trabalhar no DEGET, pouco mais de um ano, após eu ter deixado o meu antigo setor. Seu carinho, me acolhendo como uma mãe e me ajudando muito, foram fundamentais para que eu conseguisse concluir minha dissertação.

A esses dois anjos e a todos os amigos que tenho nessa empresa que só me trás boas lembranças, quero agradecer de todo o coração, com destaque para José Amaral, José Dourado, José Carlos, Elizabeth Seydel, Alexandre Malaquias, Ivanara Santos, Eder Lima, Violeta Martins, Emanoel Macêdo, Neide Ângela e Isabel Matos.

(9)

Além dos amigos já mencionados, existem muitos outros que com certeza contribuíram de forma direta ou indireta na construção dessa dissertação. Não quero cometer injustiças, esquecendo o nome de alguém, mas, alguns precisam ser destacados por terem maior participação no processo. Dessa forma agradeço:

Ao Amigo João Paulo Cunha Meirelles por todo apoio desde sempre e pela ajuda com o Abstract. Também agradeço ao senhor José Carlos Meirelles que contribuiu diretamente na confecção do Abstract.

Aos Sócios e amigos, Darlan Gomes, Elton Bahia e Gabriel Costa da empresa OCAZUL, pelo apoio técnico, principalmente na impressão e encadernação de excelente qualidade, das inúmeras versões que imprimi até aqui.

Ao Padre Irineu de Jesus Menezes e todos os amigos do Convento dos Perdões, onde encontrei conforto espiritual e alegria nas novas amizades conquistadas.

Ao amigo e afilhado, Anderson Magalhães e a todos os amigos com quem toco, canto e me divirto.

Aos amigos, Ananda Berenwinkel, Camilla Poulsen, Camille Gratierri, Mailson Ferreira e todos que mesmo distantes sempre estão presentes.

Aos amigos Murilo Aguiar, Jackson Andrade, Augusto Copque e todos os que sempre me apoiaram na caminhada acadêmica.

Ao amigo Bruno Lima pela amizade e por todo apoio dado, principalmente no dia da minha defesa, onde pude contar com sua ajuda.

Aos companheiros Tzadkiel, Haaiah e todos os amigos que me acompanham desde sempre.

OBRIGADO PELA AMIZADE OBRIGADO PELO AMOR

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“Vencer a sí próprio é a maior das vitórias” Platão

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria

como o metal que soa ou como o sino que tine.

E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.”

(11)

NO CAMINHO, COM MAIAKOVSKI

Assim como a criança humildemente afaga a imagem do herói,

assim me aproximo de ti, Maiakósvki. Não importa o que me possa acontecer por andar ombro a ombro

com um poeta soviético. Lendo teus versos, aprendi a ter coragem. Tu sabes,

conheces melhor do que eu a velha história.

Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor

do nosso jardim. E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores,

matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles

entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e,

conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada. Nos dias que correm

a ninguém é dado repousar a cabeça alheia ao terror.

Os humildes baixam a cerviz: e nós, que não temos pacto algum com os senhores do mundo, por temor nos calamos. No silêncio de meu quarto a ousadia me afogueia as faces e eu fantasio um levante; mas amanhã,

diante do juiz, talvez meus lábios calem a verdade

como um foco de germes capaz de me destruir. Olho ao redor

e o que vejo

e acabo por repetir são mentiras.

Mal sabe a criança dizer mãe

e a propaganda lhe destrói a consciência. A mim, quase me arrastam

pela gola do paletó à porta do templo

e me pedem que aguarde até que a Democracia se digne aparecer no balcão. Mas eu sei,

porque não estou amedrontado

a ponto de cegar, que ela tem uma espada a lhe espetar as costelas

e o riso que nos mostra é uma tênue cortina lançada sobre os arsenais. Vamos ao campo

e não os vemos ao nosso lado, no plantio.

Mas no tempo da colheita lá estão

e acabam por nos roubar até o último grão de trigo.

Dizem-nos que de nós emana o poder mas sempre o temos contra nós. Dizem-nos que é preciso

defender nossos lares,

mas se nos rebelamos contra a opressão é sobre nós que marcham os soldados. E por temor eu me calo.

Por temor, aceito a condição de falso democrata

e rotulo meus gestos com a palavra liberdade, procurando, num sorriso, esconder minha dor diante de meus superiores. Mas dentro de mim,

com a potência de um milhão de vozes, o coração grita - MENTIRA!

EDUARDO ALVES DA COSTA Niterói, RJ, 1936

(12)

RESUMO

Gentrification é um processo urbano que ocorre em bairros históricos

comumente centrais. Estando associado às transformações desencadeadas em um momento posterior à década de 1930, o mesmo implica a substituição de uma população de baixo poder aquisitivo por outra mais abastada. Essas características agregam a este objeto de estudo um tipo específico de recorte espacial, temporal e social. A presente análise sobre o processo no município de Salvador recai no Parque Histórico do Pelourinho, que abrange três bairros tradicionais da cidade: Maciel, Carmo e Santo Antônio Além do Carmo. Tanto o tema como a área de pesquisa são objetos de extrema riqueza e complexidade e, também por esse motivo, possuem conexões com todas as escalas geográficas. Sendo assim,

Gentrification no Parque Histórico do Pelourinho, busca traçar um fio lógico que

interliga os fenômenos ocorridos localmente com os grandes eventos mundiais. Para as questões locais, procurou-se observar detalhes que passam pela esfera do cotidiano, da pesquisa de casa em casa e até mesmo dos pequenos acontecimentos. Para as questões globais, traçou-se um paralelo dos fatos históricos de repercussão e seu desdobramento no lugar em questão.

PALAVRAS-CHAVE

(13)

ABSTRACT

Gentrification is an urban process that usually occurs at central or downtown historical neighborhoods. Being associated to the transformations that took place soon after the decade of 1930, it implies the substitution or replacement of a low income population by another one more prosperous. These characteristcs aggregate to this object of study a specific spatial, historical and social outline. This analysis focuses on the process occurred in the city of Salvador, at the Historical Park of Pelourinho wich encompasses three traditional neighborhoods: Maciel, Carmo e Santo Antonio Além do Carmo. Both the theme and the research area are of extreme richnesss and complexity and, also on account of this fact, have connections with all geographical scales. As a result of this, Gentrification at the Historical Park of Pelourinho is an attempt to delineate a logical thread connecting local phenomena and global events. As to local questions, daily life aspects are observed, since house to house research to small occurrences. As far as the global questions a parallel is made regarding historical facts of great impact and their developments in the area object of study.

KEYWORDS

(14)

Lista de Figuras

Figura 01 – Mapa de Localização de Salvador...12

Figura 02 – Mapa de Situação do Parque Histórico de Salvador ...12

Figura 03 - Desfile do Dois de Julho, Salvador-BA, 2010...20

Figura 04. Forte do Santo Antônio, antes a pós a reforma, ...23

Figura 05. Gráfico de Lorenz ...28

Figura 06. Região da Arkhêr Geográfica Soteropolitana. ...37

Figura 07. Arkhêr Geográfica Soteropolitana, ...38

Figura 08. Delimitação da área de estudo...42

Figura 09 - Turista dinamarquesa, fazendo aula de dança silvestre – Liceu de Artes - 2007 ..53

Figura 10 - Turistas dinamarquesas, jantando ao som do Jazz no Restaurante Olivier - 2007 53 Figura 11 - Bloco Natakatushia – 2006 – Santo Antônio Além do Carmo ...55

Figura 12 - Bloco Natakatushia – 2009 – Pelourinho ...55

Figura 13 - Jogo de Capoeira no largo do Pelourinho...56

Figura 14 - Jogo de Capoeira, ao fundo, a cidade Baixa e Cidade Alta de Salvador. ...56

Figura 15 - Esferário...58

Figura 16. Mapa mundi – WAR III – O Maracatu Atômico ...65

Figura 17 - Correlação das edificações com os logradouros e numeração métrica. Santo Antônio Além do Carmo em 2007 ...117

Figura 18. Residências alugadas e próprias no Santo Antônio, 2007. ...118

Figura 19. Atividades e Serviços do Santo Antônio, 2007...119

Figura 20 - Praça da Sé...125

Figura 21 - Terreiro de Jesus ...125

Figura 22 - Tradição ...126

Figura 23 - Rampa do Elevador, Salvador BA, 1918...128

Figura 24 - Desfile dos Mercadores de Bagdá – 1959 ...133

Figura 25 - Nelson Maleiro – 1959 ...133

Figura 26 - Um dos Fundadores dos Filhos de Gandhy ...134

Figura 27 - Filhos de Gandhy pegando o bonde – Photo Pierre Verger...134

Figura 28 - Desfile do bloco Filhos de Gandhy – Photo Pierre Verger ...134

Figura 29- Bloco Os Fantasmas, Salvador - BA, 1957 ...135

Figura 30 – Flâmulas dos Blocos Fantasmas e Corujas ...135

Figura 31 – Maria Bethânia, madrinha do bloco os Corujas, 1980 ...135

...135

Figura 32 – Sr. Hamilton sendo carregado pelos associados - a 1975 ...136

Figuras 33 e 34 – Evolução no número de associados do Bloco Os Corujas – b 1964 – c 1978 ...136

Figura 35: Sr. Clarindo Silva pousando com a foto de Seu Pai...144

Figura 36: Paul Simon e Neguinho do Samba na sede do Olodum...146

Figura 37: Michael Jackson e o Olodum, ...146

Figura 38 - Salvador Smile ...158

Figura 39 - Mosaico de Fotos do 2 de Julho ...161

Figura 40 – Mapa de campo ...166

Figura 41 – Mapa de edificações não habitadas ...168

Figura 42 - O Pelourinho não é mais aquele ...169

(15)

Figura 44 - Desfile do 2 de Julho, Rua dos Adobes. Figura 45 – Desfile do 2 de Julho,

Ladeira do Boqueirão. 172

Figura 46: Mosaico Iguatemi, evento no Largo do Santo Antônio ...176

Figura 47 – Mapa de hierarquia dos estabelecimentos segundo os Circuitos da Economia ..178

Figura 48 – Mapa de tempo do morador no lugar ...183

Figura 49 – Mapa dos vetores da gentrification ...185

Figura 50 – Mapa relacional da especulação imobiliária ...192

Figura 51: VENDEM-SE ...197

Figura 52: Momentos bucólicos de brincadeira, Largo do Santo Antônio, Salvador - BA ...202

Figura 53: Carnaval no Pelourinho (2011) ...206

Figura 54: São João no Pelourinho (2011) ...206

Figura 55: Trezena de Santo Antônio...207

Figura 56: Show de Jerônimo na Escadaria do Passo ...208

Figura 57: Samba do Santo Antônio ...210

Lista de Quadros e Tabelas Quadro 01: Políticas públicas para o Centro Histórico de Salvador ...148

Quadro 02 - Impactos, das ações no Parque Histórico do Pelourinho por etapa...152

Quadro 03 - População do Pelourinho/Maciel em 1984 e 1997...152

Quadro 04 – Valor dos Investimentos por etapas x quantidade de imóveis recuperados ...152

Tabela 01: Perfil da população, segundo Origem...190

Tabela 02 - Perfil da população, segundo Origem x conservação...194

Quadro 05: Análise do Parque Histórico do Pelourinho pelo método SWOT ...212

Lista de Gráficos Gráfico 1: Perfil da população, segundo Origem ...190

Gráfico 2 Conservação das edificações segundo o perfil de origem da população...194

(16)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO... 8

2 COMPREENDENDO A ESSÊNCIA DO OBJETO DE ESTUDO... 20

2.1. A cidade...21

2.1.1. Forma/Função – Estrutura/Processo ...22

2.1.2 Os agentes modeladores do espaço ...24

2.1.3 Complexidade e Caos no Parque Histórico do Pelourinho ...28

2.2 A área de estudo ...31

2.2.1 A Arkher (αρκηέ) geográfica soteropolitana ...32

2.2.1.1 Centro Original e Periferia Histórica...33

2.2.1.2 A Arkhê (Αρκηέ) Geográfica Soteropolitana ...35

2.2.1.3 Continuum Concreto Existente da Arkhê (Αρκηέ) Geográfica Soteropolitana 39 2.2.2 A Cabeça Da Ponte...40

2.2.3 O Parque Histórico do Pelourinho...41

2.2.4 O conceito de território...43

2.3 O Espírito da gentrification ...45

2.3.1 A raiz do termo gentrification ...47

2.3.2 Elitização, Aburguesamento, Enobrecimento, Nobilização, Gentrificação ...48

2.3.3 Os tipos de Gentrification ...50

3 UMA GLOBALIZAÇÃO DA GENTRIFICATION OU UMA GENTRIFICATION DA GLOBALIZAÇÃO? ... 51

3.1. A Globalização ...59

3.1.1 O tripé da imagem do consumo e da competição ...62

3.2 Das inovações tecnológicas à produção do consumo ...63

3.3 A cidade produto ...68

3.4 O produto cultural...71

3.5 Patrimônio e Turismo, Gentrification e Globalização...74

3.5.1 Turismo...79

3.5.2 Uma Globalização da Gentrification ou uma Gentrification da Globalização?...83

4 ANÁLISE DA ESPACIALIZAÇÃO DO PROCESSO DE GENTRIFICATION... 85

4.1 Debatendo o processo de Gentrification no recorte- espaço-tempo-social ...85

4.2 O milagre sem o nome do santo ...89

4.3 Algumas considerações sobre o Capital ...90

4.4 Rent Gap, Yuppies e os Ciclos da Gentrification ...93

(17)

4.6 Complexidade, Caos, Gentrification, Caos, Complexidade...98

4.7 Estudos de caso...101

4.7.1 Soho - Nova Iorque - EUA ...102

4.7.2 Ciutat Vella - Barcelona - Espanha ...104

4.7.3 Saint-Georges – Lyon - França...106

4.7.4 Cidades Mexicanas ...108

4.7.5 Bruxelas – Bélgica...110

4.7.6 São Paulo - Brasil ...111

4.7.7 Salvador ...113

4.8 Aplicação do conceito de Gentrification no caso de Salvador...120

4.9 Rugosidade x Plasticidade ...122

5 TRAÇOS DO COTIDIANO - DO PASSADO AO PRESENTE ... 124

5.1 Uma antiga estrutura, um antigo cotidiano...125

5.1.1 Da Salvador dos Carnavais a uma gentrification do carnavalis ...131

5.1.2 Redefinindo o conceito do recorte espacial da gentrification ...138

5.1.3 Das Imagens da cidade da Bahia à gentrification em Salvador ...139

5.3 O Programa de Recuperação do Centro Histórico de Salvador...150

5.3.1 A sétima etapa do programa e o Rememorar ...156

6 SALVADOR SMILE – FATOS E DADOS ... 158

6.1 Fatos e Dados - O Parque Histórico do Pelourinho no presente. ...162

6.3 Iguatemi (holding LGR) ...173

6.4 Outros agentes econômicos e a mídia...177

6.5 A população ...181

...183

6.4.1 A pressão dos vetores da especulação sobre a população ...184

6.4.2 A face mais perversa da gentrification ...186

6.4.3 O perfil da população ...189

6.4.4 Panorama geral sobre a população no Parque Histórico do Pelourinho...195

6.5 Vendem-se Salvador – Os Promotores Imobiliários ...197

6.6 A Igreja e as ordens leigas...199

6.7 O grupo dos excluídos ...200

6.8 Parque Histórico do Pelourinho – Transformações e Resistências ...201

6.8.1 A Barraca de Dona Julia – a Morte do Lugar...203

6.8.2 As festas e tradições – A resistência...206

6.9 SWOT...211

6.10 Por Uma Sociedade da Educação, Por uma Geografia do Ubuntu...215

(18)

7.1 As forças, fraquezas, oportunidades e ameaças do lugar. ...226

7.2 Proposições para o Parque Histórico do Pelourinho ...227

7.2.1 Proposições estruturais ...228

7.2.2 Proposições para os lugares ...230

7.2.3 Proposição para conjuntura regional ...232

7.3 Assim ...232

8. REFEÊNCIAS ... 234

9. APÊNDICE A1 – Santo Antônio Além do Carmo ... 240

APÊNDICE A2 – Carmo... 241

APÊNDICE A3 – Maciel / Pelourinho... 242

APÊNDICE B - Tabela de atributos do ARCGIS...243

(19)

1. INTRODUÇÃO

O processo de gentrification, que em seu conceito original implica a substituição de populações com menor poder econômico, dos centros históricos, por populações com maior poder de compra, vem sendo alvo de estudos por diversas ciências nos últimos anos. A Geografia forneceu, através das análises de Neil Smith, valorosas contribuições para a compreensão do mesmo.

Podendo ser o produto de uma estratégia de planejamento urbano que visa a inserção da cidade na economia global, muitas vezes o processo é fomentado com a justificativa de preservar o patrimônio histórico e cultural. Percebe-se, no entanto, que o consumo do espaço urbano é um dos principais fundamentos em que se estruturam as ações do mesmo, disfarçadas no eufemismo de requalificação ou revitalização urbana.

Verificando outros casos de gentrification do mundo a partir de diferentes visões, percebe-se que o conceito é mais amplo do que se imagina sendo inclusive ponto de divergência entre os teóricos do tema. Entende-se que não existe uma fórmula exata de como o processo ocorre. Por outro lado sabe-se da existência de fenômenos similares adaptados às diferentes realidades, geográficas, jurídicas, culturais, sociais e econômicas de cada localidade. O próprio Smith realça a importância de não se tomar um modelo como padrão.

Seria um erro considerar o modelo nova- iorquino como uma espécie de paradigma, e medir o progresso da gentrificação em outras cidades pelos estágios que foram lá identificados. Não é isso que estou sugerindo. Por ser uma expressão de relações sociais, econômicas e políticas mais amplas, a gentrificação em uma cidade especifica irá exprimir as particularidades da constituição de seu espaço urbano. (SMITH, 2006, p.74) Alguns autores preferem trabalhar com um termo que se adéque melhor à língua portuguesa, como enobrecimento, aburguesamento ou elitização ou até mesmo gentrificação. A opção por continuar a trabalhar com gentrification é preferida pelo fato de que o termo já foi incorporado à literatura cientifica mundial e ganhou uma carga que traduz diversas características por si mesmo.

É possível ainda contestar os termos - enobrecimento, aburguesamento ou elitização, a partir de seus próprios significados. No caso do enobrecimento, por exemplo, podemos falar do enobrecimento de determinada área sem que para isso haja substituição populacional. Também é possível abordar sobre o enobrecimento e

(20)

elitização de qualquer lugar que não seja centro histórico. Aburguesamento fica fora do contexto uma vez que o termo não necessariamente se adequaria a uma lógica enobrecedora do espaço.

Poder-se-ia falar o mesmo da gentrification, já que os espaços afetados pelo fenômeno, não são “gentrificados” necessariamente pelos pequenos nobres ingleses. Mas, retoma-se a justificativa de que o termo já foi incorporado na literatura mundial, sendo preferido nesse trabalho assumi-lo devido a um conjunto de características que representa.

Um ponto a se refletir é se existe uma única forma de gentrification, ou o se o processo identificado inicialmente em Londres teria subdivisões a partir do momento que ocorre em outros lugares do mundo. Estaríamos falando de diferentes formas de

gentrification, ou de diferentes processos?

As relações possíveis de serem abordadas giram em torno das variadas contradições que envolvem o tema - da parte de quem promove as ações e de quem é afetado. Esses acontecimentos são observáveis também quanto a sua espacialização. Há uma conexão do local com o todo a partir do movimento que se dá de fora para dentro – como no caso da vinda de estrangeiros - e concomitantemente o inverso acontece – ocupações espontâneas dos cidadãos menos favorecidos da cidade.

As contradições continuam ainda entre o discurso e a prática. Se pensarmos de forma não generalizante podemos afirmar que, em boa parte dos casos, o fator de atração da gentrification é a cultura local mais as estruturas físicas. Por um lado o fator cultura local que é proveniente do cotidiano vivido e produzido pela população é enfraquecido com o fortalecimento das ações que promovem a substituição populacional. Por outro lado o fator conservação das edificações costuma ser afetado devido à falta de recursos ou pouca instrução por parte dos moradores mais pobres.

É possível afirmar que a tese para a gentrification no caso de Salvador implica no fortalecimento das estruturas físicas e enfraquecimento do cotidiano, ou seja, a cultura local. Seria então a morte do lugar pela artificialização. A antítese para tal questão abrangeria o enfraquecimento das formas, mas, fortalecimento da cultura popular.

(21)

Assim, no caso em estudo, o fator de atração – cultura local - é o mesmo que se torna escasso ao atrair o fator que será responsável pela redução do elemento de atração inicial – cultura local. A síntese delineia a implicação de que uma nova dinâmica se configura com a escassez do fator cultural e conservação das estruturas físicas com aumento da pressão imobiliária, gerando, com o tempo, um novo cotidiano.

Ainda dentro do jogo dialético de reflexões - a má conservação das estruturas não pode ser reduzida a um pensamento local, mas, entendida como algo que vem em cadeias relacionadas mundialmente. Essas cadeias promovem a atração para os lugares de um tipo de publico especifico que está relacionado à gentrification, ou seja, atraem os agentes que expulsam aqueles que não têm como preservar as estruturas que habitam.

A cidade é um espaço de conflitos, e na maioria das vezes os processos decorrentes no meio urbano são frutos desses conflitos ou ocasionam o mesmo. A afirmação anterior não anula uma posterior complementação de que a cidade é também um espaço de solidariedade e é essa diversidade de características que faz da mesma um objeto complexo de ser estudado.

Na atualidade as forças que atuam transformando o meio urbano permanecem em um jogo de interesses onde, quase sempre, prevalece a vontade dos mais poderosos. Isso porque as esferas do capital se confundem com as do poder, sobretudo no neoliberalismo. Vale a pena realçar que o espaço é dinâmico e isso explica a perda de terreno que o atual modelo econômico vem sofrendo na conjuntura global. Essa perda repercute direta e indiretamente na cidade.

Na dinâmica da produção espacial urbana, os agentes modeladores podem ser classificados de acordo com Corrêa (2005) como os proprietários do meio de produção, os proprietários fundiários, os promotores imobiliários, o Estado, e o grupo dos excluídos.

È importante entender que a cidade é formada dentro de uma combinação e sobreposição de tempos em uma dinâmica de ordenamentos e reestruturações. Dessa forma, uma compreensão mais completa dos agentes modeladores do Centro Histórico de Salvador deve combinar os agentes do presente, dentro do contexto de um modo capitalista de produção, que para o trabalho serão considerados, os já mencionados, de Corrêa (2005), com os do passado, que para Vasconcelos (2006,

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pg. 249) são: “A Igreja; as ordens leigas; o Estado; os agentes econômicos; a população e os agentes sociais”

Assumir já de principio que há um processo de gentrification no Centro Histórico de Salvador, é admitir que substituições populacionais estão acontecendo nesta área. É importante destacar que anterior ao processo mencionado, ocorre a invasão-sucessão (CORREA, 2005), onde uma área anteriormente habitada por uma população mais rica é ocupada por outra mais pobre. Diante desta abordagem, pode-se analisar o processo da gentrification, que como explica Smith (2006, p.63) “Seja qual for a sua forma, a gentrification implica no deslocamento dos moradores das classes populares dos centros”.

O termo gentrification foi empregado pela primeira vez em 1964, pela socióloga Ruth Glass, após isso os estudos sobre o fenômeno ganharam maior repercussão, despertando o interesse de muitos estudiosos. Alguns chegaram a afirmar que o processo consistia em um fenômeno pontual, limitado no espaço e tempo, ocorrido nos bairros londrinos e de algumas cidades estadunidenses. Porém, o que se percebe é que o fenômeno vem crescendo cada vez mais, “de forma tanto horizontal como vertical” (Smith, 2006, p.62). O processo não só se expande como assume diferentes facetas em todo o mundo, causando assim inúmeras inquietações dentre os cientistas sobre os diversos aspectos da gentrification.

A cidade do Salvador é bastante peculiar devido a seu clima, cultura, paisagem e tantos outros aspectos, mas, principalmente por conta de sua história. A capital do estado da Bahia foi durante três séculos a capital do Império português na América, segunda maior cidade do Império Português, ficando atrás apenas de Lisboa. Foi palco de inúmeros episódios que influenciaram direta e indiretamente na historia do país. Localizada a leste do país, encontra-se entre a latitude 10ºS e 20ºS e longitude 30ºW e 40ºW. (Figura 01)

A área de estudo corresponde ao limite estabelecido pelo decreto estadual número 7.984 de 04 de setembro de 1987 - BA, que Cria o Parque Histórico do Pelourinho “inserido na área tombada da Cidade de Salvador reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) como Patrimônio da Humanidade” (Bahia, 1987). (Figura 02)

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Figura 01 – Mapa de Localização de Salvador

Figura 02 – Mapa de Situação do Parque Histórico de Salvador

Fonte: Elaboração própria

Uma primeira justificativa para a pesquisa está no fato do tema gentrification ser pouco abordado no âmbito acadêmico e principalmente da Geografia, sendo a contribuição do geógrafo importante para a compreensão do fenômeno em sua dimensão espacial e não somente social. Observa-se ainda que os geógrafos que

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trabalham com o tema estão em sua maioria nos países europeus e nos Estados Unidos, o que significa que abordar a gentrification a partir da realidade de um país emergente como o Brasil, é igual a contribuir com outro extremo ao que se está acostumado observar nas literaturas sobre o termo.

As ações da gentrification no mundo são baseadas em modelos de planejamento urbano – ou da ausência deles - que encaram a cidade como um espaço a ser consumido ao invés de um espaço do cidadão. Com isso elas envolvem aspectos relevantes dos estudos sobre globalização, tais como a sociedade do consumo, a competição entre os lugares e a cultura da imagem. O processo se mascara através do turismo com a justificativa ideológica da preservação da cultura. A consequência para tal fato é a geração de espaços artificiais onde se perde cada vez mais a identidade cultural. Sendo esses temas bastante atuais, é de suma importância analisar o fenômeno em questão.

Tendo em vista que a gentrification interfere e modifica a vida de pessoas nas cidades do mundo, encontrar uma proposta para o processo em análise pode contribuir à ciência geográfica, refletindo sobre os impactos sociais que o mesmo costuma causar e colaborando para se pensar em um turismo de melhor qualidade para o turista e para a cidade.

A área selecionada para análise é um importante conjunto urbanístico de relevância internacional cuja essência traduz muito da história do país, do estado da Bahia, da cidade de Salvador e sua relação com as diversas nações. Por isso é importante observar até quando os projetos de cunho turístico não estão descaracterizando o centro da cidade e “limpando” desse espaço sua essência histórica.

O estudo da gentrification não se resume a uma análise local, mas a uma conjuntura regional, pois ele vem acompanhado de inúmeros processos urbanos como a coesão e difusão, segregação espacial, a invasão populacional e juntamente com eles, problemas que afetam o cotidiano das populações urbanas.

A perspectiva de análise pode trazer diferentes contribuições, uma vez que apesar de possuir uma base dialética, complementa-se a mesma com o paradigma da complexidade. Essa forma de trabalho vem justamente da concepção da complexidade que segundo Morin (1999), diz respeito à incompletude e não à completude. Com isso entende-se que a complexidade não se contrapõe à dialética,

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mas, procura complementar as lacunas deixadas pelos diferentes modelos de pensamento. Dentro das mesmas perspectivas ainda é valido realçar o que autor chama de oitava avenida, que para ele: “A oitava avenida da complexidade é a volta do observador na sua observação” (MORIN, 1995, p.185). Assim, entende-se que cada visão de mundo produzirá diferentes abordagens e concepções sobre determinados assuntos.

A dialética é um instrumento de grande valia para as ciências sociais. Para corroborar essa afirmação basta citar que só nesse estudo renomados autores trabalham com esse paradigma. Harvey, Santos, Smith, Hobsbawm dentre outros. Além do jogo das contradições os estudos críticos oferecem uma visão com grande carga política, o que é de fundamental importância para o campo das ciências humanas.

Em contrapartida a fenomenologia também oferece elementos interessantes para a compreensão do comportamento humano. O entendimento da subjetividade como fator relevante nas transformações sociais não deve ser negligenciado em favor das grandes teorias geográficas, históricas, econômicas e sociais. Contudo, o caminho inverso também não é suficiente para suprir a demanda do entendimento sobre o homem.

Ainda é possível mencionar a importância de métodos como o hipotético dedutivo e o próprio pragmatismo que forneceram grandes avanços no pensar científico,como também na ciência geográfica. Infelizmente há uma tendência de se negar tudo o que não estiver adequado a um paradigma X, Y ou Z e por outro lado existe uma parcela de pesquisadores que não concordam com tal postura.

Não há dúvidas de que o paradigma da complexidade ainda é um caminho frágil e temido por muitos como todo e qualquer caminho que seja desconhecido pela maioria. No entanto ele oferece elementos que talvez, com uma ou outra exceção, não inovem, mas, permitam a reunião de fatores que durante muito tempo na história da ciência buscaram se negar. Outra questão é que o mesmo não surge como um caminho final e autossuficiente para explicar o mundo, mas, como um complemento. “De fato, a inspiração à complexidade tende para o conhecimento multidimensional. Ela não quer dar todas as informações sobre um fenômeno estudado, mas respeitar suas diversas dimensões.” (MORIN, 1995, p.177)

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A Geografia é uma ciência complexa por sua própria natureza. É possível se observar traços do pensamento complexo em uma gama de trabalhos de caráter geográfico. Mesmo que na maioria dos casos, talvez não haja uma intencionalidade por parte dos autores. Os caminhos que levam até a complexidade são uma necessidade inerente a natureza humana. Para finalizar os comentários sobre esse paradigma ficam duas menções de Morin (1995) sobre as confusões que são feitas ao se falar do mesmo.

“O primeiro mal entendido consiste em conceber a complexidade como receita, como resposta, em vez de considerá-la como desafio e como uma motivação para pensar.” (...) O segundo mal entendido consiste em confundir a complexidade com a completude. Acontece que o problema da complexidade não é o da completude, mas o da incompletude do conhecimento. Num sentido, o pensamento complexo tenta dar conta daquilo que os tipos de pensamento mutilante se desfaz, excluindo o que eu chamo de simplificadores e por isso ele luta, não contra a incompletude, mas contra a mutilação. (MORIN, 1995, p.176)

A teoria do Caos por sua vez é mais um elemento que é incorporado no pensamento complexo. Sua existência levou o pensamento científico a rever sua postura descendo de um “pedestal da imponência” para o degrau de humilde instrumento que tenta compreender parte da realidade. O pensamento sob viés caótico, apesar de ter sido originado matematicamente, se adéqua perfeitamente a realidade das ciências humanas, pois, não existe no mundo conhecido pela ciência ser mais complexo e imprevisível do que o humano. No caso da Geografia, o espaço produzido pelo homem, por mais que busque a ordem sofrerá a ação da desordem, pois, este estará submetido ao caos. Muitos autores já falaram da importância de “diversas geografias”. Porque não falar então de uma Geografia do complexo?

O objetivo deste trabalho consiste em analisar o processo de gentrification no Parque Histórico de Salvador. Esta pesquisa também visa responder, qual é o impacto sofrido e provocado pelos bairros contidos na poligonal da área estudada, com o desdobramento do processo em questão. Pretende-se a partir dessa análise alcançar os seguintes objetivos específicos:

1. Criar uma concepção sobre a área de estudo para delimitá-la;

2. Realizar um estudo da evolução no tempo e espaço do processo de

Gentrification em Salvador;

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4. Fazer uma breve comparação do fenômeno ocorrente em Salvador com os observados em algumas cidades do mundo, a fim de buscar similaridades e divergências.

5. Compreender quais as principais consequências da gentrification para a área de estudo e a cidade de Salvador;

6. Construir propostas para o Parque Histórico de Salvador a partir dos resultados obtidos nos estudos.

Como procedimento adotado para a análise inicialmente fez-se o levantamento bibliográfico teórico-conceitual, sobre gentrification, lugar, centro histórico, turismo e a história da cidade de Salvador. Concomitantemente a essa ação, realizou-se o levantamento de mapas da localidade para a elaboração de cartografia temática, delimitando a área a ser estudada, considerando critérios, socioeconômicos, espaciais, culturais, históricos e urbanísticos.

Após isso, criou-se um código de identificação das edificações na área selecionada, com o intuito de fornecer suporte para o trabalho de campo. Esse código consiste em uma chave única dentro da poligonal trabalhada, que permite uma fácil identificação da edificação no banco de dados elaborado para a pesquisa.

Em seguida, foi efetuado o levantamento das formas e funções, das edificações da poligonal selecionada – excluindo-se a maioria das situadas na borda da mesma. Foram organizadas equipes para realizar o recenseamento na área e com isso produziu-se material de apoio visando orientar os cadastradores durante a obtenção dos dados na área selecionada.

A partir disso, foram relacionadas as informações em cima dos dados obtidos para se analisar, a gentrification, bem como as suas características peculiares. Foram comparados os dados da análise obtida, nas distintas localidades dentro do centro histórico e com aspectos observados nas análises do processo feitas por outros autores, a fim de se identificar, quais as relações do processo estudado no mundo, com localidades de outros espaços globais.

Tendo processado os dados coletados foi gerado o sistema de informações geográficas (SIG), para a área. Após estudo dos resultados da pesquisa juntamente com a pesquisa bibliográfica foram selecionados, alguns representantes - atores do espaço em estudo, para efetuar entrevistas qualitativas de aprofundamento.

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Com a análise dos discursos, as informações dos meios de comunicação, o referencial teórico conceitual, e a produção coletada em campo, foi elaborado o entendimento do processo estudado, buscando analisar as contradições existentes no mesmo, bem como a percepção do processo em uma perspectiva da subjetividade. Iniciou-se uma reflexão a respeito das diversas variáveis existentes no sistema em análise, para construir uma concepção complexa sobre o tema, visando relacionar a dinâmica dialógica do espaço com as dimensões da ordem, desordem, que fundamentaram uma visão ampliada do assunto.

Dentro desse conjunto de relações, foram pensadas propostas para serem trabalhadas no espaço, considerando a teoria e prática, o concreto e abstrato, levando em conta as limitações da realidade, mas, pensando soluções que talvez não tenham sido postas em prática.

No capitulo dois (2), busca-se compreender as questões essenciais do objeto de estudo, estando elas relacionadas diretamente com o significado dos principais aspectos a serem abordados. São esses, o processo em si e a terminologia utilizada, o espaço onde a gentrification ocorre e os agentes modeladores que atuam nesse espaço ocasionando as ações em questão.

Para alcançar o objetivo de dissecar esses três aspectos, é necessário passar por outros conceitos, tanto para a compreensão do objeto estudado, como para subsidiar futuras análises. É nesse contexto que os conceitos de estrutura, função, forma e processo (SANTOS, 1979) são abordados. Da mesma forma é feita uma explanação sobre a teoria do Caos.

Ainda nesse capitulo alguns conceitos foram debatidos e questionados, tendo subsequentemente a proposição de alternativas para os mesmos. É o caso no que diz respeito ao conceito de Centro Antigo que é desconstruído para se chegar ao conceito de Periferia Histórica, ao mesmo tempo em que se desenvolve o conceito de Arkher Geográfica e Continuum Concreto Existente, para aprofundar em uma abordagem sobre território. Ao terminar a abordagem conceitual buscou-se a legitimação da área de estudo através do decreto estadual número 7.984 de 04 de setembro de 1987. É feito no fim a critica ao aportuguesamento de palavras cujo sentido fica desprovido de nexo diante da “suposta tradução”. Desenvolvendo o pensamento para justificar a utilização do termo trabalhado em inglês, ou seja,

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O capitulo três (3), tem a pretensão de abordar as questões mais relacionadas à chamada psicosfera do processo. Ao tentar compreender as concepções que permeiam a globalização e a gentrification, se norteia o debate sobre as relações cotidianas estabelecidas pelos agentes modeladores do espaço, bem como a estrutura ideológica que baseia o processo estudado.

Diante desse embate, a primeira questão a ser focada recai sobre o jogo dialético entre as relações locais de habitar e as ações homogeneizantes da globalização. Essa abordagem passa antes pelo realce da importância da teoria do caos como um aspecto que salvaguarda qualquer pretensão de compreensão das relações sociais e espaciais.

Apresenta-se também um modelo, de concepção espacial, denominado de Esferário. É interessante realçar, que apesar de pretender debater as estruturas psicológicas e ideológicas que circundam o processo em questão o capitulo termina por passar por diversas questões conceituais que constituem justamente o fundamento psicológico de percepção do autor diante do objeto de estudo.

O capitulo quatro (4), debate o conceito de Gentrification propriamente dito, incluindo algumas das teorias já levantadas envolvendo o tema. Busca-se analisar como o processo tem se desdobrado no mundo tanto no aspecto material, como no aspecto do acontecer.

Ainda nesse capitulo são demonstrados alguns estudos de casos em diferentes contextos do mundo, como Nova Iorque, Lyon, Barcelona, Bruxelas, Cidades Mexicanas e São Paulo, dentro de diferentes visões fornecidas por autores distintos. Esses estudos forneceram bases conceituais para a elaboração da aplicação do conceito no caso soteropolitano. Antes disso, é feita um breve apanhado de alguns autores que já utilizaram o termo para falar sobre o processo na cidade em trabalhos anteriores.

No capitulo cinco (5), é feita uma construção histórica sobre alguns dos acontecimentos da cidade no passado e do seu cotidiano. Após isso foram demonstrados, de forma sucinta, as principais tentativas de recuperação do Parque Histórico do Pelourinho culminando com os acontecimentos que se iniciam em 1985, com o tombamento da área estudada pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e os fatos posteriores a isso, como a vinda de celebridades internacionais para o lugar, o que deu visibilidade ao mesmo. O

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capítulo é encerrado com a avaliação do chamado Programa de Recuperação do Parque Histórico do Pelourinho.

O capitulo seis (6), apresenta os resultados da pesquisa de campo, sendo uma analise que intercala os dados registrados com os fatos observados. Após a apresentação de algumas características da área, é feito o detalhamento do método utilizado para a realização do trabalho de campo. Na sequência, faz-se a contraposição de tabelas, gráficos e mapas com informações sociais espaciais e temporais sobre as áreas analisadas. Ao final do capitulo é retomada a abordagem dos fatos observados no lugar concluindo com o ensaio de uma analise diagnostico para o mesmo utilizando o método do SWOT e de uma observação sobre a questão estrutural da sociedade e sua influência no lugar, através do comentário sobre o conceito do Ubuntu.

Percebe-se que apesar de ter como tema central o processo de gentrification,

o trabalho em foco termina por abordar muitas questões que vão além do proposto,

chegando a debater criticar e criar conceitos que estão relacionados com diversos aspectos da ciência geográfica.

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2 COMPREENDENDO A ESSÊNCIA DO OBJETO DE ESTUDO

Compreender o contexto em que se dá a gentrification exige o entendimento do lugar onde o fenômeno acontece. Só assim é possível escapar da tentação de tentar enquadrar modelos ocorridos em outros lugares do mundo no caso especifico da área estudada.

Pode-se pensar em diversos tipos de gentrification, onde o termo serve como a chave que associa o fenômeno, mas, não busca o definir como um padrão para todo o mundo. No entanto independente da diversidade com que o processo se manifesta em cada lugar, similaridades encontradas em todos os espaços, permitem o agrupamento dos diferentes fenômenos ocorridos em um conceito. No caso soteropolitano, o principal elemento identificado diz respeito ao binômio; estrutura física x estrutura social, que de desdobra nos bairros históricos da cidade. Para a

melhor compreensão desse fenômeno heterogêneo, faz-se necessário

primeiramente uma reflexão sobre a área que se pretende estudar (Figura 03), explicando o porquê do recorte espacial tomado.

Figura 03 - Desfile do Dois de Julho, Salvador-BA, 2010

Foto: Daniel de Albuquerque Ribeiro. Em 02 Jul 2010

a) b)

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2.1. A cidade

A cidade, como principal produto das transformações do espaço pelo homem, sempre representou objeto de profundo interesse das mais diversas áreas cientificas. Em sua evolução histórica, apresenta em cada momento da temporalidade humana, o reflexo da sociedade que a constrói.

Justamente por conta de sua pluralidade, política, social e cultural, é possível se encontrar muitos conceitos que tentam defini-la. Também por isso ela é um objeto complexo de ser estudado, proporciona diferentes formas de interpretação, proveniente das diversas visões de mundo.

Para Marx e Engels (1846), “A cidade seria a “realidade da concentração da população, dos instrumentos de produção, do capital, dos prazeres, das necessidades...” (MARX, apud, VASCONCELOS, 1984, p.64,). Já o urbanista Lewis Munford (1938), afirma que a cidade “é um ponto de concentração máxima do poderio e da cultura de uma comunidade” (p.11) “um produto da terra” bem como “um produto do tempo” (MUNFORD, apud, VASCONCELOS, 1945, p.12).

Ambos os autores concordam no ponto em que a cidade é produto da concentração, ela tem por si só o poder de atrair e concentrar – o que não impede que o contrário também possa acontecer. Contudo, de modo geral, as áreas urbanas como polo de atração possuem a heterogeneidade relativa à quantidade de regiões que polariza. Quanto maior o poder de atração da cidade, maior será a região que ela polarizará e por consequência maior será a sua heterogeneidade.

Por sua vez é certo que nem sempre a cidade exercerá fator de atração, podendo chegar a repelir seus habitantes, o que levará ao seu desaparecimento. A afirmação anterior leva a uma reflexão do que há de mais importante na cidade, os seus habitantes. Sendo assim, a cidade é antes de tudo o espaço onde vivem os cidadãos.

Para David W. Harvey, (1973) a cidade é um “sistema dinâmico complexo no qual a forma espacial e o processo social estão em continua interação” (HARVEY, 1980, p.34). Ele trás três elementos importantes, primeiro o entendimento da cidade como um sistema complexo, depois os conceitos de forma e processo. Compreender os diferentes tipos de processos, ocorrentes no espaço urbano vem sendo um dos desafios que a ciência geográfica se propõe a enfrentar.

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Dentro dessa conjuntura, entender os importantes processos urbanos que ocorrem nas cidades no passar dos tempos é interpretar qual o interesse representado pela classe dominante e ao mesmo tempo sondar qual a reação dos grupos desfavorecidos. Seja esse processo a centralização, descentralização, coesão, segregação, inércia, invasão, sucessão, ou qualquer outro (CORRÊA, 1989).

2.1.1. Forma/Função – Estrutura/Processo

Os processos sociais ocorridos no meio urbano resultam em formas espaciais, visíveis na cidade. Em contrapartida, os processos urbanos serão uma consequência, do modelo de cidade que é construído pela sociedade vigente. Logo, a paisagem que a cidade apresenta é o produto da conjuntura desenvolvida pela ação do homem no espaço habitado.

Santos em 1979 afirmou que o entendimento de processo perpassa pela idéia de movimento que expressa à totalidade:

Os processos nada mais são do que uma expressão da totalidade, do que uma manifestação de sua energia na forma de movimento; eles são o instrumento e o veículo da metamorfose da universalidade em singularidade por que passa a totalidade. O conceito de totalidade constitui a base para a interpretação de todos os objetos e forças. (SANTOS, 2007, p.119)

Essa afirmação possibilita o discernimento de que os processos antes mesmo de movimento, são fatos expressos entre os lugares e melhor compreendidos na visão mais ampla do espaço. Nesse sentido com a difusão de fenômenos sociais a partir de um centro, cada lugar terá um tipo de resposta consequente. Primeiro, presume-se a existência de uma maior estabilidade no centro, cuja repercussão dos acontecimentos é mais rápida, dispersando maiores influencias para a sua periferia. Ao mesmo tempo essa periferia terá consequências diferenciadas do grande movimento, mas nela também estão as possibilidades de gerar novos movimentos, freando ou mudando a direção do processo.

Sendo assim o entendimento do processo como uma expressão da totalidade manifestada na forma de movimento, indica dois fatores: Primeiro que há um centro que comanda o movimento das partes, cuja repercussão em cada uma ocorre de maneira diferenciada. É importante frisar que se há um eixo é porque existem

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agentes exercendo o comando nesses lugares centrais. A segunda a ser alcançada é que, se o processo é a totalidade expressa em movimento, pode-se dizer que o processo está inerente nas categorias da forma, função e estrutura, como explica Santos em 1979.

Devemos levar em consideração, além das categorias tempo e escala que funcionam externamente, as categorias internas estrutura, função e forma. A noção de processo permeia todas estas categorias. O processo, entretanto, nada mais é do que um vetor evanescente cuja vida é efêmera; é um breve momento, a fração de tempo necessária à realização da estrutura, que deve ser geografizada, ou melhor, espacializada, através de uma função, isto é, através de uma atividade mais ou menos duradoura e pela sua indispensável união a uma forma. A forma geralmente sobrevive à sua função especifica. (SANTOS, 2007, p.199).

A forma é o produto do modelo estrutural vigente em dado período histórico, consequência da influência exercida pelo processo e de sua diferente repercussão em cada parte do todo. A remodelação da forma é o produto de um processo, porém o mais comum é que a forma permaneça, mudando a sua função.

É no entendimento de forma e função que se pode alcançar a essência do processo de gentrification. Esse processo busca remodelar as funções através da reconstituição, reestruturação ou reformulação das formas. Ao contrário do que se observam em outros modelos especulativos onde o que impera é a introdução de novas formas, na gentrification a forma é conservada, podendo ou não ter sua função alterada, mas, a grande consequência desse processo se dá na estrutura (figura 04).

Figura 04. Forte do Santo Antônio, antes a pós a reforma,

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O que está em questão não é a transformação ou permanência da forma, mas, a sua reutilização, para o enobrecimento das funções, afetando assim a estrutura espacial e por consequência os circuitos da economia. Trata-se aí de uma nova forma de se fazer a mesma coisa que Santos em 1979 já alertara ao tratar da introdução das formas nos países em desenvolvimento “(...) “para ajudar o processo de superacumulação, cuja contrapartida é a superexploração. Aqueles países em que isto ocorre têm sua economia distorcida, suas tradições sacrificadas e suas populações empobrecidas.”(SANTOS, 2007, p.198)

2.1.2 Os agentes modeladores do espaço

Na dinâmica da produção espacial urbana, os agentes modeladores podem ser classificados de acordo com Corrêa (1989) como os proprietários do meio de produção, os proprietários fundiários, os promotores imobiliários, o Estado, e o grupo dos excluídos.

Entende-se então, o Centro Histórico de Salvador, como um produto do trabalho dos diversos agentes modeladores do espaço, ao longo do tempo, compreendidos em sua relação de contradições e complementaridades em nível horizontal, bem como por ação vertical do Estado e do capital, mas, que transcende o limite do seu entorno, abrange a região que polariza e por fim se conecta com o espaço através dos fluxos e redes estabelecidos historicamente e que se reforçam em novas relações de poder nos tempos atuais.

A cidade é formada dentro de uma combinação e sobreposição de tempos em uma dinâmica de ordem e desordem. Dessa forma, uma compreensão mais completa dos agentes modeladores do Parque Histórico de Salvador deve combinar os agentes do presente dentro do contexto de um modo capitalista de produção, que para o trabalho serão considerados os já mencionados de Corrêa (1989), com os do passado, que para Vasconcelos (2002, pg. 249) são: “A Igreja; as ordens leigas; o Estado; os agentes econômicos; a população e os agentes sociais”

A partir da combinação dos agentes modeladores do espaço do presente com os do passado, é possível reconhecer no Parque Histórico de Salvador sete agentes a serem analisados nessa pesquisa. Começando com os do passado e “caminhando” até os tempos atuais, temos:

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• A Igreja

• As ordens leigas

• O Estado ou instancias estatais

• Os promotores imobiliários

• Os agentes econômicos

• O grupo dos excluídos

• A população

A Igreja que no passado era representada unicamente pela Igreja Católica, hoje deve ter seu entendimento ampliado, com a seguinte pergunta: quais outras instituições religiosas possivelmente exercem influência na área em estudo? Qual o grau de interferência no processo analisado?

Passando esse momento de questionamento, é possível retornar a atenção para a Igreja Católica, cuja força é ainda visível na área estudada, primeiramente através das formas - os grandes templos situados em uma média a cada 500 metros de um logradouro para outro, estando a maioria em funcionamento. Outro sintoma da presença ainda marcante da Igreja é observável no cotidiano dos lugares, movimentados e influenciados pelas festas religiosas, procissões e cultos que terminam por configurar uma dinâmica peculiar àquela região. Ao se aprofundar na pesquisa, sabe-se que a Igreja é ainda detentora de grande parte das terras dessas localidades, herança que vem do passado.

Ainda é possível compreender a influência da Igreja, nos aspectos administrativos e políticos. Como exemplo pode-se citar as freguesias, que influenciaram na atual divisão da cidade e das paróquias que territorializam os lugares.

Uma característica bastante peculiar é a de que em Salvador se encontra o Arcebispado do Brasil, o que faz da cidade e mais especificamente da área estudada um centro religioso de influencia nacional e internacional, pois há uma grande confluência de religiosos de diversas nacionalidades para a cidade e da cidade para vários lugares do planeta. Essa forte influencia do passado é sondável através do seguinte fragmento retirado do livro de Vasconcelos (2002, p.75):

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A Igreja: o Arcebispado foi implantado em 1676 (PERES, 2002, apud, VASCONCELLOS, 1974:78), e a Relação Eclesiástica foi estabelecida em 1678 ((RUY, 2002, apud, VASCONCELLOS, 1949:217). O Arcebispado da Bahia extrapolava o território brasileiro e tinha sua abrangência sobre Luanda e São Tomé, na África (VARNHAGEN, 2002, apud, VASCONCELOS, 1962:III:229).

As ordens leigas perderam parte de sua influência do passado, mas, ainda estão diretamente ligadas com a estrutura do espaço estudado, principalmente pelo fato de que algumas dessas ordens são detentoras de imóveis nos bairros do Parque Histórico bem como em toda cidade, participando diretamente no jogo especulativo que envolve a região em questão. É o caso da Santa Casa de Misericórdia.

Além disso, as procissões e festas organizadas pelas irmandades influenciam diretamente no cotidiano e calendário dos lugares, sendo um elemento representativo de considerável importância para o entendimento da vida e dos hábitos locais.

A influência do Estado é incontestável, agindo desde o processo que acarretou no tombamento do Pelourinho pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) (1984) que acarretou na declaração do sitio como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) (1985), passando pelo processo de expulsão das famílias no Pelourinho e restauração das edificações daquela área, e vindo até os tempos atuais, com inúmeros projetos e ações diretas que visam valorizar o espaço.

Pelo menos no que diz respeito ao caso brasileiro, é importante abrir um parêntese, quando se falar do Estado, pois, apesar de teoricamente ser uma única face representativa, na prática não é bem isso o que acontece. Talvez, seja mais coerente falar nas instancias estatais.

É um grande equivoco nos tempos atuais considerar o Estado como uma única instância, pois, nem sempre o Estado está coeso em suas ações, existe em alguns casos, uma grande disputa dentro das esferas sejam elas hierárquicas; municipal x estadual x federal, sejam elas as instâncias dos poderes executivo, legislativo, e judiciário, isso sem inserir no debate os órgãos públicos e os setores dentro de cada empresa, companhia, secretaria e demais instituições estatais.

Os promotores imobiliários e os agentes econômicos quase que se confundem no estudo em questão, mas, a importância de distingui-los se dá

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justamente pelo diferente papel que cada qual exerce nas relações com o lugar. Um exemplo que será abordado mais a frente é o do grupo Iguatemi que é um agente econômico que atua como promotor imobiliário na área de estudo. Da mesma forma a Santa Casa da Misericórdia, que é uma ordem leiga, funciona como um agente econômico e ao mesmo tempo promotor imobiliário na cidade.

A população é o grupo mais heterogêneo e mais complexo de ser estudado, justamente, porque cada unidade pode representar qualquer categoria de agentes ou nenhum deles, e porque no papel que representam podem ter inclinações distintas, desde posições políticas reacionárias até posturas colaborativas com o processo. A mesma representa a essência do lugar e devido ao seu elevado grau de complexidade, existem muitas limitações na conceituação do que possa ser a população da área estudada. Será a população composta somente pelos moradores, ou é população aquele frequentador do lugar? Talvez uma postura pragmática incline a resposta para a primeira opção, mas, se o que estiver em foco for a analise do cotidiano bem como a interligação do fragmento estudado com as outras partes, então, a resposta engloba as duas opções.

Diante da heterogeneidade desse grupo bem como da dificuldade em delimitar territorialmente a sua ação enquanto agente modelador delineia-se a questão principal que é a de como definir essa população tão heterogênea e efêmera em uma única categoria?

O grupo dos excluídos constitui a parte mais delicada e complexa do trabalho, justamente porque eles estão excluídos do sistema de leis e do que há de regulamentar, causando assim, um grande impasse conceitual para o trabalho em questão. Ao se tomar a poligonal adotada, as leis vigentes e as medidas estatais em curso, percebe-se claramente que o grupo dos excluídos fica de fora de todas elas e quando não, as ações são executadas tendo por finalidade retira-los da área. Compreender a dinâmica que envolve esse grupo é de fundamental importância para alcançar respostas que fujam do trivial.

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2.1.3 Complexidade e Caos no Parque Histórico do Pelourinho

O gráfico de Lorenz (Figura 05) também conhecido popularmente como gráfico do efeito borboleta é o símbolo que melhor representa o sistema caótico. A grande diferença entre o caos e os sistemas determinísticos, diz respeito à previsibilidade. “Uma teoria pode ser dita determinística se, usando apenas, a teoria e uma descrição completa do estado de um sistema, cada estado subsequente do sistema é logicamente inevitável.” (SILVER, 2003, p.118)

Figura 05. Gráfico de Lorenz

Eu voz digo: é preciso ter ainda caos dentro de si, para poder dar à luz uma estrela dançarina. Eu vos digo: ainda há caos dentro de vós (NIETZSCHE, 1885)

Fonte: Elaboração própria, www.portaldascuriosidades.com, acessado em 2011

No que diz respeito à teoria do caos, ela surge como uma resposta aos diversos fenômenos que não possuem uma previsibilidade e que no passado eram desprezados. A teoria do Caos representa uma quebra do paradigma determinístico, ao reconhecer que existem situações no campo das ciências em que as condições iniciais de um fator X não permitem a previsibilidade da consequência em um momento posterior. “Existem sistemas em que o desfecho de uma série de eventos é muito sensível às condições iniciais. Tão sensíveis, que o comportamento do sistema pode ser impredizível na prática, mesmo que predizível na teoria.” (SILVER, 2003, p.119)

A palavra, caos ou caótica é desse modo erroneamente confundida com desarrumado, ou desorganizado o que não é coerente, uma vez que modelos caóticos são estruturados, porém referem-se justamente a sistemas que devido à quantidade de elementos que interagem tornam qualquer tentativa de previsão do

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