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Warren Dean A Industrialização de São Paulo

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Academic year: 2021

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Warren Dean – A Industrialização de São Paulo

Primeira Parte – Origens Econômicas e Sociais do Empresariado

(1880 - 1914)

A Industrialização de São Paulo dependeu, desde o princípio, da procura provocada pelo crescente mercado estrangeiro de café.

A comercialização do café foi fundamental para a formação da indústria em diversos aspectos:

• Estabeleceu relação de mão-de-obra assalariada, proveniente de imigração européia, que se tornaria parte muito importante para a manufatura.

• Construiu estradas de ferro e impulsionou o crescimento e a construção de portos.

• Trouxe técnicos formados em cursos superiores do exterior, e influenciou a criação de cursos superiores no Brasil, o que acabou por beneficiar a indústria, que também necessitava de mão-de-obra especializada.

• Estímulo à produção de energia elétrica.

Em sua fase inicial, a indústria era totalmente marginal dentro da economia, e foi ganhando espaço gradativamente.

Dentro desta gradual evolução, os importadores tiveram um papel muito importante para a formação da identidade industrial paulista.

Os importadores possuíam crédito e diversas outras facilidades que possibilitaram que eles mesmos viessem a produzir produtos, ao invés de apenas importá-los. Para se ter uma idéia, a atividade de importadores, ou importadores convertidos em manufatureiros era tão grande que em meados da década de 1920 já produziam uma quantidade muito variada de produtos, indo desde elevadores até ao engarrafamento de cerveja.

Os industrias viam diversas vantagens em continuar importando produtos, já que necessitavam de matéria-prima do exterior, assim como maquinários, além de se beneficiarem na obtenção de créditos e descontos, e poderem completar sua linha de produtos com aqueles que importavam.

Outro aspecto importante a ser ressaltado é a capacidade que a burguesia paulista possuía para se adaptar aos novos modelos.

Enquanto os cafeicultores do Vale do Paraíba desenvolveram suas plantações inteiramente à sombra do trabalho escravo, não conseguindo se adaptar à mão-de-obra livre, os paulistas perceberam a tendência à substituição desta pela mão-de-obra assalariada, e foram, em parte, responsáveis pela Abolição da Escravatura.

Durante as décadas de 1850 e 1860 os lucros do Vale do Paraíba foram reinvestidos num custoso suprimento de novos escravos, já que seu tráfico já havia sido proibido, e os preços dos escravos havia aumentando muitos durante estes anos. Já os paulistas perceberam de antemão que o custo inicial da mão-de-obra européia era insignificante comparado ao tráfico com a África.

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Portanto o êxito empresarial dos fazendeiros paulistas se deu da capacidade dos que conseguiram reinvestir e perceber a iminência do declínio de certos modelos vigentes na época, como a escravidão e a cultura do café como hegemônica na economia do estado. Além de tudo, maior parte das elites industriais paulistanas eram de origem imigrante, como os Matarazzo, ou os Jafet, de maneira que essas famílias geralmente não eram de origem humilde, e já possuíam no mínimo experiência para começar no ramo.

Havia também certa tendência de união matrimonial entre as elites industriais (de proveniência imigrante) e as elites fazendeiras (de proveniência brasileira), aumentando assim suas influências.

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Segunda Parte – Crescimento Industrial: Circunstância e Estrutura

(1914 -1930)

São Paulo possuiu um acelerado progresso de industrialização, devido aos seguintes fatores: as taxas dos produtos desembarcados na Baía de Guanabara eram muito maiores do que as do porto de Santos, cujas docas eram de propriedade particular, tornando São Paulo mais interessante comercialmente do que o Rio de Janeiro, principal mercado brasileiro na época; uma política fiscal favorável, mesmo que não sistematicamente, à industria; e o crescimento do mercado de café, que gerava dinheiro e créditos para o Estado de São Paulo, beneficiando, deste modo, também a indústria.

Com a guerra, a economia brasileira foi ligeiramente impulsionada, se comparada ao período entre 1909 e 1913.

As indústrias paulistas expandiram-se por haver crescido o comércio de exportação no período.

Enquanto os Estados Unidos não entraram na guerra, o comércio ultramarino brasileiro pouco sofreu.

Com a queda das importações de café e a entrada dos EUA na guerra, o Brasil foi obrigado a entrar nela, de modo a não permitir uma redução tão acentuada de suas possibilidades de comércio.

Neste período, ainda, São Paulo explorou o mercado interno do Rio de Janeiro, já que o Rio importava muito mais do que exportava, estava muito mais vulnerável do que São Paulo na época de guerra, e era responsável pelo abastecimento de uma extensa área, que incluía o Estado do Rio e boa parte de Minas Gerais.

Devido à incerteza quanto às importações, a indústria de metais também foi impulsionada neste período, por sua importância na manufatura.

“Em suma, a Primeira Guerra Mundial aumentou consideravelmente a procura de artigos manufaturados nacionais, mas tornou quase impossível a ampliação da capacidade produtiva para satisfazer a essa procura. As fortunas que se fizeram durante a guerra surgiram de novos ramos de exportações, da produção durante vinte e quatro horas por dia, ou de fusões e reorganizações. Novas fábricas e novas classes de manufatura não eram importantes. Poder-se-á até perguntar se a industrialização de São Paulo não se teria processado mais depressa se não tivesse havido guerra”.

De 1900 a 1920 o parque industrial de São Paulo expandiu-se rapidamente.

Aqueles que encararam a Primeira Guerra Mundial como um estímulo à industrialização, sustentaram com muita lógica, que, durante a crise mundial da década de 1930, o Brasil conheceu um período de rápido crescimento industrial.

Alguns fazendeiros, desiludidos com a baixa dos preços do café, transferiram para a indústria grande parte do seu capital.

Os importadores se envolveram menos no crescimento da indústria nas décadas de 1920 e 1930, muito embora o padrão de distribuição continuasse praticamente o mesmo.

É provável que os investimentos dos fazendeiros e importadores fossem menos importantes para o desenvolvimento da indústria nesse período do que o reinvestimento feito pelos industriais.

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Duas características talvez expliquem o lento crescimento da indústria paulista nas décadas de 1920 e 1930: a ausência de qualquer tendência para a concentração e a organização de cartéis e outras associações controladas dos preços e da produção.

Formaram-se cartéis na maioria das linhas de produção já mais ou menos mecanizadas, e umas poucas firmas monopolizaram certos gêneros.

As maiores dentre as sociedades familiais ou combinações de clientela, que revelaram certa estabilidade e diversificação em atividades imobiliárias passaram a chamar-se “grupos”. Além disto, a indústria paulista nesta época permaneceu marginal e um tanto desacreditada. Outro motivo pelo qual a indústria nas décadas de 1920 e 1930 não apresentou grandes crescimentos foi a escassez de novas infusões de capital pelos fazendeiros.

Os industriais só perceberam a tendência para um desenvolvimento mais lento da economia após-guerra no princípio da década de 1930.

Os industrias compreenderam que, no sentido mais lato, sua prosperidade dependia do setor agrícola.

Os industriais haviam conquistado algo mais do que a tolerância dos fazendeiros por se haverem abstido de atacar-lhes frontalmente os privilégios. Mostravam-se geralmente prontos a colaborar quando o inimigo comum era a classe média e os importadores.

A Associação Comercial de São Paulo era o principal porta-voz dos negócios do Estado. Foi fundada em 1894 por comerciantes e manufatores, e em 1917 absorvera uma organização semelhante, chamada Centro de Comércio e da Indústria de São Paulo. Após a fusão, a Associação Comercial parece ter sido controlada pelos comerciantes e importadores, e os interesses do comércio passaram a dominar-lhe a agenda.

Os industriais não estavam dispostos a aceitar esse tipo de posição, e decidiram fundar uma associação de comércio separada, a que deram o nome de Centro das Indústrias do Estado de São Paulo.

A implantação anterior de indústrias de bens de consumo talvez tenha retardado o desenvolvimento de indústrias mais básicas, pois cada unidade de consumo, fosse ela o consumidor final, fosse um intermediário, tenderia a opor-se ao aumento do custo de suas aquisições.

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Terceira Parte – Os Industriais Enfrentam a Sociedade e o Estado

(1920-1945)

O conflito entre manufatores e operários é importante para o estudo do empresariado porque, no tratamento que dispensavam à mão-de-obra, revelam os empregadores muita coisa acerca do que pensam da sociedade e do papel que representam dentro dela.

Os operários e seus sindicatos não eram simples rivais econômicos por suas pretensões aos lucros; eram também testemunhas e críticos do sistema fabril e do capitalismo.

As condições de trabalho de São Paulo dificilmente se justificariam. Em 1920, o industriário paulista médio recebia cerca de sessenta centavos de dólar por dia e, para ganhá-los, trabalhava dez horas ou mais durante seis dias por semana. Mulheres e crianças trabalhadoras recebiam menos ainda pelo mesmo serviço.

Os manufatores sustentavam que os operários não eram mal pagos, e que o transporte, os impostos, as máquinas e o capital circulante, que eram caros, influíam na remuneração da mão-de-obra.

Até certo ponto, os empresários paulistas suplementavam a remuneração inferior dos trabalhadores com vários benefícios, de creches a assistência médica, porém as provisões de benefícios aos operários não eram, de maneira alguma, generalizadas.

De certa forma, essas ações foram oportunistas, já que os empresários sabiam que o rendimento dos trabalhadores diante das máquinas, como uma extensão das mesmas, dependia de um conjunto de fatores como alimentação adequada e boa saúde.

Esse behaviorismo, que tratava os empregados como extensão da maquinaria, pode ser considerado mais progressista do que a atitude paternalista representada pela expressão “pai dos pobres”, porque, pelo menos, anunciava uma exploração mais plena e racional das possibilidades dos trabalhadores, mas o paternalismo, por si mesmo, passa a ser uma forma de exploração racional da mão-de-obra a partir do momento em que se torna autoconsciente, já que alguns, ao invés de elevar os salários, davam tais benefícios como forma de controlar as massas.

Esse curso de ação, entretanto, teve seu efeito limitado em parte, pela emergente solidariedade dos próprios industriais, que não hesitavam em aplicar sanções contra o colega que desempenhasse com excessiva liberdade o seu papel paternalista.

A questão social tornou-se um problema politicamente negociável durante a Primeira Guerra Mundial. O súbito advento da inflação e a escassez de gêneros alimentícios causaram tremendas dificuldades aos operários, cujos sindicatos cresceram rapidamente em número e militância, e provocaram inclusive as greves gerais de 1917 e 1919.

Os apuros dos operários despertaram na classe média urbana certa dose de simpatia, por motivos não só humanitários, mas também de interesse próprio.

A capacidade da classe média de embaraçar os manipuladores conservadores do Partido Republicano e o reconhecimento de que os operários e suas organizações, pelo menos potencialmente, eram uma força que devia ser agradada, redundou na promulgação de umas poucas leis pelos governos estadual e federal.

O governo era apenas um campeão ocasional do trabalhador, cuja intersessão se verificava principalmente em época de eleições, estando sujeita a revisões quando os manufatores fizessem pressão. Os próprios operários olhavam com indiferença para o interesse do

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governo, porque não se dirigia à questão que entendiam ser a mais importante: o reconhecimento legal dos contratos sindicais.

As reivindicações dos operários incluíam, por via de regra, aumentos de salários de acordo com o aumento do custo de vida, dia de oito horas de trabalho e proibição do trabalho aos domingos, pagamento à vista, abolição do sistema de multas e eliminação das fábricas de menores de doze anos.

A reação dos industriais a tais manobras era geralmente decisiva e pesada, porém, é difícil avaliar a eficácia dos esforços repressivos coletivamente, enviados pelos empregadores. Aparentemente o número de greves diminuiu depois de 1922, mas isso pode ser ilusório, visto que os jornais relutavam em publicar notícias de greves durante o estado de sítio, que durou até 1927. Se foi, de fato, menor a inquietação trabalhista, não é provável que isso se devesse ao fato de os empregadores terem se tornado mais paternais no trato com os operários ou mais manipulatórios.

Não obstante, a luta com os trabalhadores compelira os industriais a se definirem mais claramente, a se organizarem e a adotarem certas atitudes de classe.

Na maior parte, os industriais não tentaram justificar sua riqueza. Puderam até certo ponto, ignorar as críticas das classes inferiores e até dos fazendeiros, por não lhes reconhecerem plenamente a capacidade de conferir ou retirar status.

Quando podiam, e eram suficientemente ricos, casavam-se com aristocratas européias, cujas patentes de nobreza consideravam, sem dúvida, mais autênticas.

Pode ser que se deva considerar a parcialidade dos empresários industriais pelas idéias autoritárias mera idiossincrasia, derivada porventura do sentido de poder quase ilimitado que experimentavam em sua vida cotidiana e, em parte, do desejo de arrogar-se o poder do Estado a fim de estender o processo de industrialização e suprimir os esforços de organizações de trabalhadores.

A atitude autoritária em relação à sociedade pode ter sido a causa de outra peculiaridade da industrialização em São Paulo. Até meados da Segunda Guerra Mundial, os empresários não demonstravam quase nenhum interesse pelo treinamento técnico da sua mão-de-obra.

Só em meados da Segunda Guerra Mundial, diante do total desaparecimento de suas reservas ultramarinas de mão-de-obra, fundaram e promoveram os fabricantes um programa de treinamento para operários paulistas.

É possível que os industriais ignorassem outro desenvolvimento potencial da estrutura industrial, em virtude do seu apego a uma sociedade autoritária e ordenada.

Na década de 1930, a mudança mais notável no ambiente econômico foi a crescente intervenção do governo. Mas essa intervenção não se propunha acelerar o processo da industrialização; as alternativas da economia de exportação ainda não se haviam esgotado. Durante as fases provisórias e constitucional dos anos Vargas o governo continuava a acreditar que o mundo de 1913, de uma forma ou de outra, pudesse voltar e reorganizar-se. Os controles impostos à economia eram medidas ditadas pelo desespero, constante ação de retaguarda que mais visava a salvar um sistema existente do que a tentar criar um sistema novo. A principal inovação do período, uma espécie paternalista de reformismo social, originara-se do meliorismo da classe média e pretendia afastar uma crise política e não dilatar o mercado para os artigos manufaturados nem melhorar a qualidade das contribuições da mão-de-obra. Uma série de circunstâncias estorvava a reorientação da política oficial; e a maior delas talvez não fosse a atitude dos industriais, incapazes de convencer os fazendeiros, a classe média ou a burocracia de que, zelando pelos seus interesses particulares, eles estariam zelando pelos interesses do Brasil.

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No período do Estado Novo, implicou-se outra relação entre o Estado e a indústria. Abriu-se novas extensas fontes de financiamento público.

Os empréstimos feitos à indústria, como os que se fizeram à agricultura, parecem ter sido orientados no sentido de aumentar a auto-suficiência do Brasil.

A reorientação da política do comércio e os oferecimentos mais generosos de crédito eram sinais do interesse do governo pelo desenvolvimento da manufatura.

A arrancada para a auto-suficiência na produção de matérias-primas e artigos manufaturados não fora totalmente inspirada pela desilusão de Vargas sobre a economia da exportação. Era também sinal da crescente apreensão de que as potências européias se estivessem encaminhando para a guerra. Antes que isso acontecesse, o Brasil teria de fazer todos os esforços no sentido de insular sua economia.

Já durante a guerra, as dificuldades da indústria paulista eram muitas, assim como aconteceu na Primeira Guerra. Havia necessidade de explorar ao máximo os recursos de mão-de-obra, o que levou o governo a estender ainda mais as vantagens concebidas aos industriais em suas relações com os trabalhadores, na verdade, durante a guerra, seguiu-se a quase completa extinção dos direitos dos mesmos.

Os industrias se mostravam profundamente sensíveis aos esforços do governo para controlar os trabalhadores e eliminar conflitos.

O Estada Novo aumentara substancialmente a quantidade de interferência nas operações de empresas particulares, mas a atitude dos industriais era cada vez mais favorável à ditadura. À proporção que a guerra ia chegando ao fim os industriais paulistas entraram a cogitar o seu papel na economia dos tempos de paz. Vargas parecia disposto a seguir na parceria, porém, o Estado Novo foi perdendo pouco a pouco o apoio da elite política. Passada a crise, a sua constituição fascista revelou-se um estorvo que irritava os Estados Unidos. Dentro do país, a oposição democrática liberal ao ditador cobrou ânimo diante da atitude dos aliados e descobriu que até o exército estava pronto para renunciar ao compromisso anterior com o Estado autoritário. Vargas, portanto, foi instado a convocar eleições. Considerando, porém, que seria arriscado permitir que ele as presidisse, os militares depuseram-no em 29 de outubro de 1945. Com a queda de Vargas caíram também os industriais.

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