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NED 2/ S Direitos Humanos Tema: Direitos Sexuais e de Gênero. Texto n. 1

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NED 2/ 2016-2S Direitos Humanos

Tema: Direitos Sexuais e de Gênero Texto n. 1

Gênero, sexualidade e direitos sexuais: uma visão geral1

Susie Jolly e Pinar Ilkkaracan2 TODOS…ME AVISARAM…que os homens iam me assediar com grande prazer. Assim, o ônus de preservar a moralidade dos homens recaía sobre mim. Os professores eram mais engraçados. Nos mostravam filmes assustadores de infecções sexualmente transmissíveis, com vaginas escancaradas, infestadas de feridas, que pareciam terrivelmente diferentes de tudo que conhecia. Não diziam como essa “transformação” tinha acontecido.

A mensagem implícita era virgindade, virgindade, virgindade; não para mim, mas para o marido que me amaria para sempre e para meus pais – entenda-se, meu pai –, que tanto dinheiro ganharia de meu noivo mítico.

Everjoice Win, 2004, p. 13

Por que o gênero e a sexualidade são importantes para os formuladores de políticas, profissionais e ativistas? A sexualidade e o gênero podem fazer uma enorme diferença na vida das pessoas, em termos da distância entre o bem-estar e o mal-estar e, algumas vezes, entre a vida e a morte.

As ideologias que defendem que as mulheres devem ser puras, castas e virgens até o casamento podem levar à mutilação genital feminina, aos crimes de honra e às restrições da mobilidade das mulheres, assim como da sua participação econômica e política. As idéias de que os homens devem ser “machos” podem significar que a violência sexual dos homens é algo natural e esperado e não uma atitude que deve ser condenada. As desigualdades entre os gêneros e os tabus em torno da sexualidade podem agravar a disseminação do HIV/Aids. Ainda hoje 68.000 mulheres morrem por ano por causa de abortos ilegais (Organização Mundial da Saúde, 2005). Em muitos lugares, para ser considerado um “homem adequado” ou uma “mulher adequada”, você precisa agir 100% como heterossexual, obedecendo aos estereótipos de gênero. Portanto, ser lésbica, gay, bissexual ou “trans” pode resultar em marginalização ou violência (Samelius e Wagberg, 2005).

No entanto, se a sexualidade tem repercussões relacionadas à pobreza, marginalização e morte, pode também levar à alegria, satisfação e bem-estar e melhorar as relações humanas com intimidade ou prazer compartilhados. Na verdade, o sexo pode ser um espaço da vida onde as mulheres estão livres das pressões da reputação e podem satisfazer plenamente seus

1 Gênero e desenvolvimento. IN BRIEF (Em resumo): Sexualidade, n. 18, Janeiro 2007. Disponível em:

<http://docs.bridge.ids.ac.uk/vfile/upload/4/document/1105/InBrief18_Sexualidade.pdf >. Acesso em: 20 set. 2016. Este artigo resume o Overview Report on ‘Gender and Sexuality’ (Relatório Geral sobre Gênero e Sexualidade)

2 SUSIE JOLLY é Técnica de Comunicação do BRIDGE, Institute of Development Studies, University of

Sussex, Brighton, BN1 9RE e-mail: bridge@ids.ac.uk . PINAR ILKKARACAN é coordenadora de Women for Women’s Human Rights (Mulheres pelos Direitos Humanos da Mulher), New Ways Foundation, Inönü Caddesi, 37/6 Saadet Apt. Gümüflsuyu, 80090, Istambul, Turquia. Tel: +90 212 251 00 29 Fax: +90 212 251 00 65

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desejos, os homens podem desfrutar sua vulnerabilidade e as pessoas trans afirmarem seu senso de identidade com amantes que as vejam como desejam ser vistas.

Como podem ser contestadas as ideologias dominantes de gênero em torno da sexualidade? Como a satisfação, bem estar e prazer podem se tornar possíveis para mais pessoas? Os direitos sexuais são uma resposta. Os direitos sexuais são um marco de referência promissor porque já têm alguma influência, tendo surgido a partir de anos de mobilização de ativistas de direitos no Sul e no Norte (mulheres; lésbicas, gays, bissexuais e pessoas trans; pessoas vivendo com HIV/Aids; e trabalhadores e trabalhadoras do sexo). Além disso, o marco referencial dos direitos sexuais pode ajudar a identificar os vínculos entre os diferentes temas da sexualidade, criando as bases de uma aliança ampla e diversa. Os direitos sexuais podem incluir tanto o direito de não sofrer violência e coerção em relação à sexualidade como também o de explorar e buscar prazeres, desejos e satisfação.

Na década de 1990, foram feitos acordos muito importantes nas Nações Unidas (Viena, Cairo e Pequim) sobre os direitos humanos relacionados à sexualidade. Desde então, trabalhos sobre esse tema prosseguiram em vários organismos da ONU. O atual ressurgimento dos fundamentalismos religiosos, seja cristão, muçulmano ou hinduísta, torna mais difícil o trabalho com direitos sexuais. Prosseguem as batalhas políticas sobre temas que vão do aborto, passando pela abstinência, até o trabalho do sexo. Ao mesmo tempo, os movimentos progressistas estão se organizando para as mudanças.

Várias iniciativas estimulantes dão apoio aos direitos sexuais das mulheres, como os cursos de direitos humanos na Turquia que incluem um módulo sobre o “prazer sexual como um direito humano da mulher”, o trabalho da organização que apóia as mulheres solteiras “fora da rede de segurança do casamento” na Índia, o enfrentamento da mutilação genital feminina pela promoção do prazer no Quênia ou a Iniciativa Poder das Garotas na Nigéria, [...]. Também estão em desenvolvimento trabalhos criativos com homens enquanto parceiros das mulheres, mas também para tratar da espoliação dos direitos sexuais dos próprios homens. Além disso, as pessoas trans estão se mobilizando, como exemplificado pelo Museu da Travesti no Peru [...].

Estão sendo forjadas novas alianças que assumem um enfoque integrado em relação à sexualidade, como a Coalizão pelos Direitos Sexuais e Corporais nas Sociedades Muçulmanas, fundada em 2001 e constituída de mais de 60 ativistas de ONGs e acadêmicos(as) do Oriente Médio, África do Norte, Ásia Meridional e Sudeste Asiático, incluindo pessoas que trabalham com os direitos das mulheres, educação da sexualidade, temas sobre lésbicas, gays, bissexuais e pessoas trans, HIV/Aids e saúde sexual e reprodutiva. A rede tem permitido que as pessoas enxerguem além de seu próprio tema e visualizem as interconexões com os outros temas, avançando para construir um movimento comum pelos direitos sexuais.

Recomendações

Instituições internacionais, governos, ONGs, agências de desenvolvimento, movimentos de mulheres, ativistas de direitos humanos e outras pessoas têm um papel vital no sentido de contribuir para um maior bem estar, apoiando os direitos sexuais das seguintes formas:

Reconhecer a importância da sexualidade

• Reconhecer a importância da sexualidade e direitos sexuais na vida das pessoas. • Reconhecer que a sexualidade é mais do que uma questão de saúde e violência.

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• Identificar as interconexões com o bem estar e o mal-estar, riqueza e pobreza, integração e marginalização, e a importância da sexualidade nas lutas políticas.

Assumir um enfoque inclusivo, positivo e de gênero em relação à sexualidade

• Reconhecer os vínculos entre os diferentes temas da sexualidade. Apoiar os enfoques integrados da sexualidade, que contestam as estruturas de gênero, raça, classe e outras estruturas de poder.

• Reforçar os movimentos de direitos sexuais inclusivos, apoiando alianças entre grupos diferentes e, ao mesmo tempo, contestando a desigualdade entre os gêneros e outras desigualdades no interior desses grupos e entre eles.

• Assumir um enfoque inclusivo e de gênero em relação aos direitos sexuais para todos – mulheres que podem ter seus direitos negados por causa de desigualdade entre os gêneros, pessoas trans cuja própria existência pode ser ignorada e homens heterossexuais que supostamente não necessitam de direitos, pois se pressupõe que já possuem todos os direitos. • Ir além dos direitos que dizem respeito a uma vida livre de violência e apoiar também direitos positivos e direitos ao prazer. Retirar inspiração das iniciativas estimulantes que já estão acontecendo e se ligar a elas.

Sexualidade

A sexualidade é um aspecto central do ser humano durante sua vida e compreende o sexo, identidades e papéis de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. A sexualidade é vivenciada e expressa em pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos, práticas, papéis e relações. Embora a sexualidade possa incluir todas essas dimensões, nem todas elas são sempre vivenciadas ou expressas.

A sexualidade é influenciada pela interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos, culturais, éticos, legais, históricos, religiosos e espirituais.

Direitos sexuais

Os direitos sexuais abrangem direitos humanos já reconhecidos por leis nacionais, documentos internacionais sobre direitos humanos e outras declarações consensuais. Isso inclui o direito de toda pessoa, livre de coerção, discriminação e violência, ao seguinte:

• O mais alto padrão atingível de saúde sexual, incluindo o acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva;

• Busca, recebimento e fornecimento de informações relacionadas à sexualidade; • Educação da sexualidade;

• Respeito à integridade corporal; • Escolha de parceiro ou parceira;

• Decisão de ser ou não sexualmente ativo(a); • Relações sexuais consensuais;

• Casamento consensual;

• Decisão de ter ou não filhos e quando os ter;

• Busca de uma vida sexual satisfatória, segura e prazerosa.

O exercício responsável dos direitos humanos exige que todas as pessoas respeitem os direitos das demais.

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Texto n. 2 Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos3

A definição do Ministério da Saúde para os Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos é a seguinte:

Os Direitos Sexuais e os Direitos Reprodutivos dizem respeito a muitos aspectos da vida: o poder sobre o próprio corpo, a saúde, a liberdade para a vivência da sexualidade, a maternidade e a paternidade. Mas podemos dizer que dizem respeito, antes de mais nada, aos acordos para a vida em sociedade e à cidadania.

Os direitos reprodutivos compreendem o direito básico de todo casal e de toda pessoa escolher o número de filhos(as), o espaçamento entre um e outro; a oportunidade de ter filhos(as), de ter informação e meios de assim o fazer, gozando dos mais elevados padrões de saúde sexual e reprodutiva. Incluem os direitos:

 De mulheres e homens poderem decidir, livre e conscientemente, se querem ou não ter filhos(as); se querem, em que momento de suas vidas e quantos(as) filhos(as) desejam ter.

 De tomar decisões sobre a reprodução, livre de discriminação, coerção ou violência.

 De homens e mulheres participarem com responsabilidades iguais na criação os(as) filhos(as).

 De acesso aos serviços de saúde pública de qualidade, durante todas as etapas da vida.

 De adoção e tratamento da infertilidade

 De acesso aos meios, informações e tecnologias reprodutivas cientificamente testadas e aceitas.

Os direitos sexuais, por sua vez, procuram garantir o direito de todas as pessoas:

 Viver a sexualidade sem medo, vergonha, culpa, falsas crenças e outros impedimentos à livre expressão dos desejos;

 Viver a sua sexualidade, independentemente do estado civil, idade ou condição física.

 Escolher o(a) parceiro(a) sexual sem discriminações e com liberdade e autonomia para expressar sua orientação sexual;

 Viver a sexualidade livre de violência, discriminação e coerção e com o respeito pleno pela integridade corporal do(a) outro(a);

 Praticar a sexualidade independentemente de penetração;

 Insistir na prática do sexo seguro para prevenir a gravidez não desejada e as doenças sexualmente transmissíveis, incluindo HIV e aids.

Cabe ao poder público o compromisso de fornecer todas as informações, bem como facilitar o acesso de adolescentes e jovens a todos(as) os métodos anticoncepcionais. Por outro lado, cabe também aos/às adolescentes e jovens se comprometerem a ter uma prática sexual protegida e livre de qualquer tipo de preconceito.

Todos devem estar comprometidos e batalhando juntos para que se construa uma cultura de sexualidade saudável, livre e protegida.

3 MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE, DEPARTAMENTO DE AÇÕES

PROGRAMÁTICAS ESTRATÉGICAS. Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos: uma prioridade do governo. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. Disponível em:

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_direitos_sexuais_reprodutivos.pdf >. Acesso em 20 set. 2016.

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Texto n. 3 Gravidez na adolescência4

Muitas vezes vemos reportagens na TV, revistas ou jornais sobre o aumento do número de adolescentes grávidas. Essas notícias, geralmente, têm um caráter negativo e culpabilizador, em que as meninas, muitas vezes, são retratadas como “fáceis” e irresponsáveis por não tomarem contraceptivos orais e os meninos, quando aparecem, são chamados de inconsequentes.

No entanto, basta dar uma olhada nas estatísticas atuais para perceber que o número de gravidezes na adolescência ou encontra-se estável ou até mesmo diminuiu nos últimos anos, como é o caso do Estado de São Paulo onde, em comparação a 1998, reduziu-se em 34,7% em 2007.

Mãe adolescente/Jovem mãe

Desde crianças, as meninas são estimuladas a desenvolver habilidades relacionadas ao exercício da maternidade e do cuidado. Histórica e culturalmente, associamos a imagem da mulher à de mãe, como se as duas coisas fossem inseparáveis, ou como se para ser uma mulher completa, necessariamente, fosse necessário também ser mãe. Tanto é assim que, muitas vezes, ouvimos frases como “uma mulher sem filhos é como uma árvore sem frutos”, ou coisa parecida.

Nem toda mulher quer ter filhos(as) e não há nenhum problema nisso. Pelo contrário, decidir não ter filhos(as) é um direito. Assim, a decisão pela maternidade precisa estar atrelada ao desejo de cada mulher e não a construções sociais impositivas.

Tais construções sociais impõem outras questões às mulheres: espera-se que quando engravidem saibam tudo que se deve fazer, não podendo mostrar dúvidas e fragilidade no papel de mãe. Esquece-se, muitas vezes, que ninguém nasce sabendo ser mãe ou pai, que isso é algo que se descobre no dia a dia e com a ajuda dos(as) outros(as).

A partir do momento em que a garota se descobre grávida e decide ter o(a) filho(a), ela precisa, como qualquer outra mulher, tomar alguns cuidados para que a gravidez ocorra sem problemas. É por meio das consultas do pré-natal, realizadas nas unidades de saúde, que podemos acompanhar todo o crescimento do bebê, detectar e tratar possíveis problemas durante a gestação.

Pai adolescente/Jovem pai

O jovem pai é quase sempre visto como inconsequente, irresponsável e como aquele que geralmente desaparece quando a menina engravida. É verdade que às vezes isso acontece, mas em que medida nós também, com nossos preconceitos, podemos dificultar ainda mais a presença do pai nos processos da gravidez e cuidados dos(as) filhos(as)?

Quando se fala em jovem pai, raras vezes vemos serviços de orientação e apoio. Em geral, as pessoas só pensam em prevenção e punição, dificultando ainda mais ao adolescente pensar, prevenir ou assumir sua condição de pai: com desejo, direito e compromissos.

Trabalhar com paternidade na adolescência e juventude significa, portanto, discutir e desconstruir preconceitos fortemente presentes no nosso cotidiano. Precisamos superar certos valores que, a nosso ver, impõem obstáculos à liberdade e ao crescimento das pessoas.

4 Texto adaptado da Cartilha Sua Saúde, Seu Direito! Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos dos/das

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Mas não basta desconstruir, precisamos também transformar, construir outras alternativas e repensar a possibilidade da adoção de novos valores. Propomos, assim, outros valores que possam guiar trabalhos com os(a) adolescentes e apoiá-los na construção de sua autonomia: 1) é necessário respeito pelas jovens gerações; 2) promover igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, nos espaços públicos e privados; e 3) nem toda gravidez na adolescência é, por princípio, indesejável.

Vídeo

Meninas Grávidas na Adolescência! - Documentário... Disponível em: <https://youtu.be/r49J92hTzbs >.

Referências

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