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Universidade Federal de São Paulo Campus Diadema. Bianca Meira Gonçales Flores

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Academic year: 2021

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Universidade Federal de São Paulo 

Campus Diadema 

         

Bianca Meira Gonçales Flores 

           

Relação entre as taxas metabólicas padrão e a ocorrência de depressão 

metabólica em anfíbios anuros 

                       

Diadema 

2021

 

Bianca Meira Gonçales Flores 

(2)

       

Relação entre as taxas metabólicas padrão e a ocorrência de depressão 

metabólica em anfíbios anuros 

       

Trabalho  de  Conclusão  de  Curso  apresentado  como  exigência  parcial  para  obtenção  do  título  de Bacharel em Ciências Biológicas, ao Instituto 

de  Ciências  Ambientais,  Químicas  e 

Farmacêuticas  da  Universidade  Federal  de  São  Paulo – Campus Diadema.     Orientador: Prof. Dr. José Eduardo de Carvalho  Coorientador: Prof. Dr. Fábio Cury de Barros                    

Diadema 

2021 

   

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                                            Flores, Bianca Meira Gonçales    Relação entre as taxas metabólicas padrão e a ocorrência de depressão  metabólica em anfíbios anuros / Bianca Meira Gonçales Flores.  Diadema, 2021.  34 f.    Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) ­  Universidade Federal de São Paulo ­ Campus Diadema, 2021.    Orientador: José Eduardo de Carvalho   Coorientador: Fábio Cury de Barros    1. Anura. 2. Metabolismo. 3. Depressão metabólica. 4. Taxa metabólica  padrão. I. Título. 

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  Assinatura 

 

Assinatura 

Universidade Federal de São Paulo – Campus Diadema 

 

Bianca Meira Gonçales Flores 

     

Relação entre as taxas metabólicas padrão e a ocorrência de depressão 

metabólica em anfíbios anuros 

   

Monografia  apresentada  como  requisito  parcial  para  a  obtenção  do  título  de  bacharel do curso de Ciências Biológicas.    Aprovado em: 22/02/2021

 

   

____________________________________ 

Prof. Dr. José Eduardo de Carvalho  

Universidade Federal de São Paulo – Campus Diadema

 

 

________________________________________ 

Prof. Dr. Marcelo José Sturaro  

Universidade Federal de São Paulo – Campus Diadema

 

 

________________________________________ 

Danilo Giacometti dos Santos Uehara Oliveira 

Universidade Federal de São Paulo – Campus Diadema

 

 

Diadema   2021 

 

Assinatura

 

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AGRADECIMENTOS 

 

­ A Deus, em primeiro lugar, por me permitir viver e concluir este sonho de me formar em  uma das melhores universidades do país, na área que escolhi para mim. Sou grata todos os  dias de minha vida.    ­ Ao Prof. Dr. José Eduardo de Carvalho, por me apresentar a ideia deste trabalho e que  sempre, mesmo durante uma pandemia, se mostrou disponível, disposto e paciente a me  auxiliar no que fosse preciso. Começamos com um projeto simples, mas suas ideias e  motivação fizeram este trabalho ir mais longe. Para mim é um orgulho te ter como orientador  e trabalhar com você.    ­ Ao Prof. Dr. Fábio Cury de Barros, pela disponibilidade em participar e nos ajudar com  todas as análises. Suas ideias, sugestões e conhecimentos foram fundamentais para a  realização deste projeto.    ­ Aos meus pais, Elisângela e Valmir, por sempre me apoiarem e me motivarem a seguir meus  sonhos. Sou imensamente grata pela oportunidade que vocês me deram de escolher e seguir  meu caminho na Biologia, e por todo amor que recebi e recebo todos os dias. Sem vocês, isso  não seria possível. Todo o meu amor a vocês.    ­ Aos queridos amigos que tive o prazer de conhecer durante a graduação. Sou grata por cada  ajuda, risada, abraço, correção e motivação que recebi. Vocês são pessoas incríveis e todos  contribuíram de alguma forma para que eu chegasse até aqui.    ­ A todos os professores que tive durante a graduação, que fizeram dessa experiência única e  enriquecedora. Nunca me esquecerei desses momentos e de todo aprendizado.

 

     

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  RESUMO    Em vertebrados ectotérmicos, as atividades metabólicas são diretamente relacionadas  com as condições ambientais. Caso as condições do ambiente se tornem desfavoráveis,  algumas espécies podem ingressar em um estado de depressão metabólica com o intuito de  poupar energia. Esse estado de hipometabolismo é uma alternativa usada por vários grupos de  ectotérmicos, inclusive os anfíbios anuros, que são utilizados como modelo para este trabalho.  Para compreender melhor como as taxas metabólicas padrão de alguns anfíbios anuros estão  relacionadas com eventos de depressão metabólica, analisamos dados já existentes na  literatura sobre o assunto. Especificamente, testamos a hipótese de que espécies de anuros que  exibem eventos de depressão metabólica são aquelas com maiores taxas metabólicas padrão  quando comparadas com espécies que não possuem esse tipo de mudança no metabolismo. A  partir dos dados que obtivemos, conduzimos as análises usando o método comparativo  filogenético (PGLS). Em linhas gerais, nossos resultados indicaram não haver diferença entre  as taxas metabólicas de espécies que exibem algum evento de depressão metabólica quando  comparadas às espécies que não exibem hipometabolismo. Adicionalmente, comprovamos  que não existe uma estruturação filogenética das taxas metabólicas, além da massa corpórea  das espécies explicar cerca de 40% da variação das taxas metabólicas. Portanto, não  corroboramos nossa hipótese e sugerimos que existam outros fatores que influenciam os as  taxas metabólicas padrão e os eventos de depressão metabólica em anuros.    Palavras­chave: Anura. Metabolismo. Depressão metabólica. Taxa metabólica padrão.   

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  ABSTRACT    In ectothermic vertebrates, metabolic activities are directly related to the  environmental conditions. If the environmental conditions become unfavorable, some species  may enter in a state of metabolic depression in order to save energy. This state of  hypometabolism is an alternative used by several groups of ectotherms, including anuran  amphibians, which are used as a model for this work. To better understand how the standard  metabolic rates of some anuran amphibians are related to metabolic depression events, we  analyzed data already existing in the literature on the subject. Specifically, we tested the  hypothesis that anuran species that exhibit metabolic depression events are those with higher  standard metabolic rates when compared to species that do not have this type of metabolism  change. From the data we obtained, we conducted the analyzes using the phylogenetic  comparative method (PGLS). In general, our results indicated that there is no difference  between the metabolic rates of species that exhibit some event of metabolic depression when  compared to species that do not exhibit hypometabolism. Additionally, we prove that there is  no phylogenetic structuring of metabolic rates, in addition to the species' body mass  explaining about 40% of the variation in metabolic rates. Therefore, we did not corroborate  our hypothesis and suggest that there are other factors that influence the standard metabolic  rates and the events of metabolic depression in anurans.    Key­words: Anuran. Metabolism. Metabolic depression. Standard metabolic rate. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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SUMÁRIO 

 

1.  INTRODUÇÃO ...8 

2.  OBJETIVO E HIPÓTESE...10 

3.  MATERIAL  E  MÉTODOS...11  

3.1.  Coleta  de  dados...11 

3.2.  Análise  comparativa  filogenética...12 

   3.2.1. Conferência e dimensionamento dos dados...13 

   3.2.2.  Cálculo  do  sinal  filogenético...13  

   3.2.3. PGLS...14 

4.  RESULTADOS...15 

4.1. N  amostral  e  estatística  descritiva...15 

4.2. Sinal  filogenético...17  4.3. ANCOVA filogenética...17  5.  DISCUSSÃO...19   5.1. Relações filogenéticas e taxas metabólicas...20  5.2. Depressão metabólica e taxas metabólicas...21  5.3. Massa corpórea e taxas metabólicas...22  5.4. Outras perspectivas sobre a ocorrência de depressão metabólica...22  6.  CONCLUSÃO...23  7.  REFERÊNCIAS...24                       

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1.  INTRODUÇÃO   

Os  vertebrados  ectotérmicos  são  animais  que  dependem  de  fontes  externas  de  calor  para regular suas temperaturas corpóreas e, consequentemente, controlarem as taxas com que  os  processos  fisiológicos  ocorrem  (Angiletta  et  al.,  2002).  Isso  acontece  porque,  nestes  animais, as temperaturas, ambiente e corpórea, encontram­se em equilíbrio na maior parte do  tempo, o que implica que o desempenho para uma determinada atividade deve ser, em parte,  limitado pela temperatura corpórea (Angiletta, 2009). Muitos animais ectotérmicos encontram  alguma,  se  não  substancial,  variação  diária  e  sazonal  na  temperatura  corporal  (Tb)  devido  a  flutuações no ambiente térmico (Carey, 1979). 

Um  dos  mais  importantes  processos  afetados  pela  temperatura  nos  vertebrados  ectotérmicos  é  a  taxa  metabólica  padrão,  a  qual  se  refere  à  quantidade  de  energia  química  necessária para a manutenção das funções vitais do organismo, num determinado período de  tempo (Ferreira et al., 2009). Em geral, a taxa metabólica padrão representa o gasto energético  em  condições onde o animal  se encontra inativo, saudável,  não  estressado, fora do processo  digestivo  (ou  pós­prandial)  e  também  fora  do  período  reprodutivo  (Schmidt­Nielsen,  2002).  Assim, a taxa metabólica padrão é uma variável que informa sobre o custo de manutenção em  uma  determinada  temperatura,  sendo  utilizada  como  referência  para  testar  efeitos  de  diferentes fatores sobre a ciclagem energética nos ectotérmicos, assim como para comparação  entre espécies (Angiletta, 2009). 

Ao  observarmos  os  modos  de  vida  dos  vertebrados  ectotérmicos,  bem  como  os  diferentes  ambientes  que  estes  ocupam,  podemos  notar  uma  considerável  diversidade  interespecífica  e  uma  interação  de  diversas  formas  com  o  ambiente  térmico  (Andrade  et  al.,  2016). Por isso, podemos esperar que mudanças sazonais na temperatura, na disponibilidade  de  recursos  alimentares  ou  no  balanço  hídrico  podem  influenciar  de  forma  direta  o  metabolismo  desses  animais  (Navas  et  al.,  2008).  De  um  modo  geral,  quando  as  condições  desses  ambientes  se  tornam  desfavoráveis,  alguns  ectotérmicos  exibem  algum  tipo  de  depressão  metabólica,  que  é  uma  redução  da  taxa  metabólica  abaixo  do  valor  normal  de  repouso (Guppy e Withers, 1999).  

Alguns  exemplos  de  depressão  metabólica  em  vertebrados  ectotérmicos  são  a  hibernação  (relacionada  a  uma  diminuição  drástica  da  temperatura  corpórea),  a  anaerobiose  (em  resposta  à  diminuição  nos  níveis  de  oxigênio),  a  tolerância  ao  congelamento  (quando  ocorre  congelamento  verdadeiro  dos  órgãos)  e  a  estivação  (resposta  à  diminuição  da 

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disponibilidade  de  água  no  ambiente)  (Storey  e  Storey,  1990).  O  período  de  inatividade  depende das condições do ambiente e da espécie em questão, podendo variar de alguns dias  ou  semanas  consecutivas,  a  até  uma  estação  inteira  (Cooper,  2010).  Nesses  casos,  as  taxas  metabólicas  são  reduzidas  drasticamente  poupando  energia  enquanto  durarem  as  condições  desfavoráveis e/ou de estresse no ambiente (Guppy, 2004).  

As  modificações  fisiológicas  exibidas  pelos  organismos,  que  permitem  com  que  os  grupos lidem com os desafios impostos pelos ambientes que ocupam, tendem a ser similares  em  diferentes  linhagens – o que representa um  paralelismo evolutivo  (Rossi, 2020;  Elias &  Tawfik,  2012;  Bolnick  et  al.,  2018).  Tais  modificações  normalmente  estão  relacionadas  à  regulação das reações bioquímicas que ocorrem nas células em todos os órgãos, por exemplo,  a  repriorização  de  funções  celulares  para  conservar  o  uso  de  energia,  e  outros  mecanismos  (Storey, 2015).

 

Além  disso,  é  possível  que  para  as  espécies  que  apresentam  relativas  altas  taxas  metabólicas, ingressar em um estado de hipometabolismo possa ser a única alternativa quando  os  recursos  do  ambiente  limitam  a  manutenção  da  atividade  diária  (Hillman  et  al.,  2009).  Assim,  espécies  que  possuem  altas  taxas  metabólicas  seriam  mais  propensas  a  exibir  episódios  de  depressão  metabólica  em  comparação  com  aquelas  cujo  custo  de  manutenção  seja  menor.  Apesar  de  plausível,  esta  hipótese  não  foi  formalmente  testada  entre  os  ectotérmicos até o momento. 

Os  anfíbios  anuros  constituem  um  grupo  bastante  diverso  dentre  os  vertebrados  ectotérmicos  quanto  à  morfologia,  fisiologia  e  o  comportamento,  além  de  estarem  presentes  em  uma  grande  variedade  de  habitats  (Wells,  2007).  Um  dos  maiores  desafios  desses  organismos é que o metabolismo e a termorregulação não são apenas acoplados, mas também  controlados  por  fatores  externos,  como  a  temperatura  ambiente  (Mokhatla  et  al.,  2019),  e,  algumas  espécies  manifestam  um  estado  de  hipometabolismo  em  decorrência  de  mudanças  nas condições desses ambientes que ocupam (Hillman et al., 2009).  

Dentre esses casos de depressão metabólica em anuros, o mais comumente observado  é  o  estado  de  inatividade,  conhecido  como “estivação”, caracterizado  por  um  conjunto  de  mudanças  morfológicas,  fisiológicas,  bioquímicas  e  comportamentais  que  aumentam  a  sobrevivência  durante  as  estações  e  períodos  de  seca,  associados  à  baixa  disponibilidade  de  água e altas temperaturas (Ferreira­Cravo et al., 2010; Carvalho et al., 2010). Em anuros que  habitam  regiões  áridas  e  semiáridas,  a  estivação  ocorre  em  resposta  a  um  ambiente  seco  e  pode durar por períodos que variam de semanas a anos, dependendo da espécie (Groom et al.,  2013).  Outras  poucas  espécies  também  exibem  formas  alternativas  de  depressão  metabólica 

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como estratégia de conservação de energia, como espécies escavadoras e outras que formam  um  casulo  epidérmico  conhecido  como “cocoon”  (Withers  &  Thompson,  2000).  Por  essa  razão, os anfíbios anuros são interessantes para se estudar como ocorrem as relações entre as  condições  do  ambiente  e  as  respostas  metabólicas.  A  literatura  é  relativamente  abrangente  quanto  a  estudos  sobre  as  taxas metabólicas  de  anfíbios  anuros,  o  que  nos  permite  conduzir  uma análise ampla sobre a evolução das taxas metabólicas e sua relação com a ocorrência de  eventos de depressão metabólica nesses animais. 

Neste trabalho, partimos da premissa já demonstrada na literatura de que a depressão  metabólica é um mecanismo que visa poupar energia durante períodos desfavoráveis. Assim,  propomos  testar  se  as  espécies  que  possuem  altas  taxas  metabólicas  padrão  seriam  as  mais  propensas a ingressarem em estado hipometabólico quando as condições ambientais se tornam  adversas. Podemos nos perguntar se as espécies de anfíbios anuros que exibem algum tipo de  depressão metabólica possuem custos de manutenção básicos (taxa metabólica  padrão) mais  altos  quando  não  estão  em  hipometabolismo.  Portanto,  este  trabalho  compara  dados  já  disponíveis  na  literatura,  e  testa  a  hipótese  de  que “as  espécies  de  anuros  nas  quais  há  registro de hipometabolismo, por algum período do ano, são aquelas que possuem as maiores  taxas  metabólicas  padrão  em  comparação  com  as  espécies  que  não  exibem  esse  tipo  de  mudança drástica no metabolismo”. 

A  compreensão  de  que  as  comparações  interespecíficas  devem  considerar  a  história  evolutiva das espécies resultou em mudanças profundas nos estudos comparativos durante as  últimas  décadas.  Esses  métodos  aumentaram  muito  os  tipos  e  qualidades  de  inferências  que  podem ser extraídas de dados comparativos e abriram novos campos de pesquisa em fisiologia  que ainda estão em desenvolvimento (Rezende & Diniz­Filho, 2012; Felsenstein, 1985;). Isso  porque  o  emprego  de  análises  filogenéticas  em  estudos  comparativos  é  fundamental  para  corrigir  os  graus  de  liberdade  da  análise  estatística,  evitando  erros  de  interpretação  dos  resultados. O uso desse método requer a disponibilidade de uma topologia bem suportada, que  reflita a evolução das relações entre as linhagens estudadas (Garland et al., 2005).      2.  OBJETIVO E HIPÓTESE   

Nosso  objetivo  com  esse  trabalho  foi  investigar  de  que  forma  as  taxas  metabólicas  padrão de algumas espécies de anfíbios anuros estão relacionadas com eventos de depressão  metabólica, em alguma de suas manifestações. Especificamente, fizemos um levantamento de 

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informações  disponíveis  na  literatura  a  respeito  das  taxas  metabólicas  padrão  em  anuros  e,  através de uma analise comparativa considerando as relações filogenéticas entre as espécies,  buscamos testar a hipótese de relação positiva entre o custo de manutenção e a ocorrência de  eventos  de depressão metabólica. Este trabalho  contribui para a  ampliação do conhecimento  geral sobre o metabolismo energético de anfíbios anuros e como estas espécies lidam com as  condições  ambientais,  de  modo  a  aumentar  a  compreensão  de  como  estados  de  hipometabolismo estão relacionados com taxas metabólicas padrão mais altas.      3.  MATERIAL E MÉTODOS    3.1. Coleta de dados    Realizamos um amplo levantamento dos artigos disponíveis referentes ao metabolismo  de anfíbios anuros, além de uma revisão da bibliografia existente para coletar dados sobre as  “taxas metabólicas padrão”, ou “taxas metabólicas de repouso”, do maior número de espécies  possível. Com  esse levantamento,  buscamos por resultados já publicados sobre espécies que  manifestam  algum  estado  de  hipometabolismo  (estivação  ou  hibernação),  assim  como  de  espécies que não exibem nenhum tipo de depressão metabólica. 

Usamos as plataformas de dados acadêmicos “Web of Science” e “Google Schoolar”,  para encontrar artigos existentes sobre o assunto. Nossas pesquisas contaram com as seguintes  variáveis  de  interesse: ‘espécie’,  ‘taxa  metabólica  padrão’  ou  ‘taxa metabólica de repouso’,  ‘taxa  metabólica  em  atividade’, ‘taxa  metabólica  durante  a  depressão  metabólica’,  ‘massa  corpórea’  e  ‘temperatura’  em  que  as  medidas  foram  realizadas.  Realizamos  as  buscas  bibliográficas  a  partir  de  combinações  das  palavras­chave ‘amphibia’ e ‘anura’ com pelo menos um dos termos ‘metabolic rate’, ‘oxygen consumption’,  ‘metabolic depression’, ‘estivation’ ou ‘standard metabolic rate’ sobre o assunto, juntamente com os rótulos de campo  e boolianos da própria plataforma. 

Em  geral,  os  diversos  autores  utilizam  como  um  indicativo  das  taxas  metabólicas  padrão ou de repouso as “taxas de consumo de oxigênio específicas (VO2)” relacionadas com 

o metabolismo  aeróbio dos animais.  A VO2 é  expressa em ‘variação do volume de gás’ por 

unidade de tempo (volume de O2 consumidos por unidade de tempo e por unidade de massa 

corpórea expressa como, por exemplo, mLO2/h/g). Nos casos em que os artigos utilizados não 

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artigos, livros ou sites de literatura referenciais sobre anfíbios anuros (como “Amphibia  Web”). 

Assim,  filtramos  os  dados  que  encontramos  e  os  organizados  em  uma  planilha  no  Excel  (Microsoft  Corp.)  e,  posteriormente,  convertemos  os  valores  compilados  para  uma  mesma unidade de medida (mLO2/h/g) e para uma mesma temperatura (20ºC), possibilitando 

assim a comparação entre eles. Para as correções para uma mesma temperatura, utilizamos um  coeficiente de temperatura (conhecido como Q10) de 2.5, por ser este o valor mais comum aos 

efeitos  da  temperatura  sobre  o  metabolismo  de  organismos  ectotérmicos  (Schmidt­Nielsen,  2002; Stuginski et al., 2017).    3.2. Análise comparativa filogenética    Após a organização dos dados, utilizamos a hipótese filogenética proposta por Pyron  (2014), por ser a mais recente e abrangente para o grupo de anuros, para testarmos a evolução  da  taxa  metabólica  padrão  de  modo  comparativo  (Frost  et  al.,  2006).  O  uso  de  métodos  comparativos filogenéticos é de extrema importância em trabalhos desse tipo, uma vez que as  espécies  compartilham  ancestrais  no  tempo  e,  portanto,  não  são  independentes  (Felsenstein,  1985;  Diniz­Filho,  2000).  Para  isso  realizamos  uma  abordagem  similar  à  realizada  por  Stuginski  e  colaboradores  (2017),  utilizando  a  plataforma  R  versão  4.0.3  e  o  programa  RStudio versão 1.3.1056 para as análises estatísticas.  

Inicialmente testamos a evolução das taxas metabólicas padrão em anfíbios anuros per  se,  por  meio  de  um  teste  de  sinal  filogenético  e,  em  seguida,  comparamos  as  taxas  de  consumo  de  oxigênio  (VO2)  das  espécies  que  exibem  algum  tipo  de  hipometabolismo  com 

aquelas  das  espécies  que  não  manifestam  qualquer  tipo  depressão  metabólica.  Neste  último  passo, utilizamos a regressão filogenética (phylogenetic generalized least­squares regression  ­  PGLS)  para  tesar  o  grau  de  dependência  entre  o  VO2  e  a  ocorrência  ou  não  de  depressão 

metabólica  entre  as  espécies,  incluindo  a  massa  corpórea  como  covariável  (Stuginski  et  al.,  2017).  Assumimos  0.05  como  nível  de  significância  em  todas  as  análises.  O  detalhamento  específico está descrito nas seguintes subseções. 

Para  algumas  espécies  que  encontramos  dados  de  VO2,  os  respectivos  artigos  não 

especificavam  a  massa  corpórea  dos  indivíduos  estudados,  assim  como  não  havia  esta  informação  disponível  em  outras  fontes  de  consulta.  Nesses  casos,  resolvemos  retirar  essas  espécies  das  nossas  análises,  para  que  não  houvesse  erro  de  informação  faltante  durante  as  análises  no  software  RStudio.  Da  mesma  forma,  retiramos  das  análises  as  espécies  para  as 

(14)

quais encontramos dados de VO2, mas não estavam presentes na filogenia que usamos como  base. Por fim, desconsideramos da filogenia de Pyron (2014) todas as espécies de anfíbios não  anuros e as que não estavam no nosso banco de dados.      3.2.1 Conferência e dimensionamento dos dados   

Primeiramente,  alguns  dos  artigos  selecionados  que  traziam  informações  de  taxas  metabólicas aferidas, não especificavam a massa corpórea dos indivíduos estudados. Como a  informação  faltante  foi  menor  do  que  10%  dos  casos,  essas  espécies  foram  retiradas  das  nossas  análises  corrigindo  o  erro  de  informação  faltante  de  acordo  com  Gotelli  &  Elison  (2011). Da mesma forma, recortamos do conjunto de dados as espécies para as quais existiam  valores de massa e taxa metabólica disponíveis, mas não estavam presentes na filogenia que  usamos como base. 

O  último  passo  foi  desconsiderar  da  filogenia  de  Pyron  (2014)  todas  as  espécies  de  anfíbios  que  não  estavam  contempladas  no  nosso  banco  de  dados.  Para  tanto,  utilizamos  a  função ‘drop.trip’ relativa ao pacote ‘ape’ (Paradis & Schliep, 2019). Fizemos a intersecção  das espécies contidas na filogenia de Pyron (2014, ver figura 1) com as espécies contidas no  nosso  banco  de  dados,  para  garantir  a  equivalência  de  ordem  de  ambas  através  da  função  ‘intersect’, pertencente ao mesmo pacote em RStudio. 

Após redimensionar o conjunto de dados, realizamos a estatística descritiva incluindo  o cálculo da média dos valores, que contém nosso n amostral e a média dos valores de VO2 

para  espécies  com  ou  sem  eventos  de  depressão  metabólica,  e  outras  informações,  como  o  intervalo  de  confiança,  desvio  padrão,  máximo  e  mínimo,  utilizando  o  pacote ‘psych’  (Revelle,  2020)  (fig.2).  A  normalidade  e homocedasticidade  foram  testadas  por  meio  do  pacote ‘fitdistrplus’ (Delignette­Muller and Dutang, 2015), e a foi realizada a logaritimização  das variáveis (i.e. taxa metabólica e massa corpórea), que confirmou uma distribuição normal  e homogênea dos dados.  

 

3.2.2. Cálculo do sinal filogenético    

O  sinal  filogenético  sobre  as  taxas  metabólicas  padrão  das  espécies,  foi  calculado  como  uma  indicação  do  grau  de  plasticidade  da  variável.  O  sinal  filogenético  com  valores  altos  é  um  indicativo  de  que,  as  diferenças  observadas  entre  as  linhagens  na  variável  em 

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questão  seguem  um  padrão  estruturado  ao  longo  do  tempo  evolutivo.  Em  contrapartida,  um  sinal  filogenético  baixo  reflete  taxas  de  evolução  mais  variáveis  para  a  característica  entre  espécies­irmãs  (Blomberg  et  al.,  2003).  Para  este  cálculo,  utilizamos  duas  metodologias,  a  proposta por Blomberg e colaboradores, (2003), onde o sinal filogenético é determinado pelo  índice K, e o cálculo do lambda de Pagel (Pagel, 1999). Em ambos, o sinal filogenético pode  variar  entre  0  e  1.  Quando  o  sinal  filogenético  é  0,  ou  mais  próximo  de  0,  representa  a  plasticidade fenotípica da variável – ou seja, a evolução da característica reflete uma filogenia  estelar,  com  independência  dos  dados  em  relação  à  história  evolutiva  do  grupo.  Quando  é  igual ou mais próximo de 1, reflete um modelo de evolução estruturado filogeneticamente, em  que os valores de VO2 de espécies irmãs, tendem a se parecer entre si. O sinal filogenético dos 

valores de VO2 foi calculado pela função ‘phylosig’ do pacote ‘phytools’ (Revell, 2012), e a 

opção pela utilização dos dois índices se reflete no fato de que o K de Blomberg pode ser mais  sensível à variação quando utilizado com um ‘n amostral’ reduzido (i.e. abaixo de 100) (Munkemuller et al. 2012). 

 

3.2.3. PGLS 

   

Testamos a relação dos valores de VO2 em função dos grupos (que entram ou não em 

depressão  metabólica),  usando  a  massa  corpórea  de  cada  espécie  como  uma  covariável  no  modelo, em uma base filogenética (ANCOVA filogenética). Usamos na análise a estrutura de  correlação  derivada  de  um  modelo  de  evolução  por  movimento  browniano  via ‘corPagel’  (package ape ­ Paradis et al. 2004), com valor de lambda (λ) fixo em 1 (um), 0 (zero) e 0,5.  Os modelos foram testados pela função ‘gls’ no pacote ‘phytools’ (Revell, 2009), inicialmente  usando  a  interação  entre  os  termos  massa*grupo.  Como  o  fator  de  interação  não  foi  significativo em nenhuma instância, os modelos foram reduzidos – excluindo­se os termos de  interação (seguindo Burnham e Anderson, (2002)). Usamos o critério de avaliação de Akaike  de  amostras  reduzidas  (AICc)  para  selecionar  o  modelo  com  melhor  ajuste  nos  resíduos.  Modelos  com  uma  diferença  igual  ou  menor  a  2  (delta  AICc  <  2)  foram  considerados  equivalentes (Burnham e Anderson, 2002). 

Modelos  selecionados  com  valor  de  lambda  igual  a  1  indicam  que  os  resíduos  da  relação entre a variável resposta e as variáveis preditoras evoluem segundo a  relação  entre  as  espécies  (ou  seja,  o  que  sobra  da  variação  da  taxa  metabólica  padrão  evoluiu  segundo  as  relações de parentesco entre as espécies). Valor de lambda igual a 0 indica que os resíduos da  regressão não seguem uma estrutura filogenética e, portanto, são plásticos. E, se lambda igual 

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a 0,5, indica que a variação nos resíduos é parcialmente estruturada.  O resultado do modelo  final  para  a  regressão  filogenética  (PGLS)  foi  confirmado  com  os  pacotes ‘caper’ (Orme et  al., 2018) e ‘phytools’.       4.  RESULTADOS    4.1. N amostral e estatística descritiva    Encontramos registros de VO2 para 73 espécies de anfíbios anuros. Utilizando nossos 

critérios  para  seleção  de  dados,  concluímos  o  trabalho  com  uma  árvore  filogenética  ultramétrica  com  62  espécies  com  registros  válidos  (fig.1).  Estas  espécies  estão  distribuídas  entre  as  famílias  seguintes  famílias  (número  de  espécies):  Hylidae  (19),  Bufonidae  (10),  Ranidae  (5),  Hyperoliidae  (4),  Dendrobatidae  (4),  Eleutherodactylidae  (3),  Leptodactylidae  (3), Microhylidae (3), Myobatrachidae (3), Alytidae (1), Bombinatoridae (1), Ceratophryidae  (1),  Dicroglossidae  (1),  Odontophrynidae  (1),  Pipidae  (1),  Pyxicephalidae  (1),  Scaphiopodidae  (1).  Os  valores  que  encontramos  estão  disponíveis  no  anexo  I,  juntamente  com as referências dos trabalhos, e a tabela 1 traz a descrição dos valores médios, n amostral,  e desvios por grupo metabólico. 

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    Figura 1. Árvore filogenética utilizada neste estudo, baseada em Pyron (2014), contendo apenas as espécies para  as quais há informações sobre as taxas de consumo de oxigênio (VO2).     

Tabela  1.  Estatística  descritiva  sobre  os  valores  de  taxa  de  consumo  de  oxigênio  em  repouso  (VO2 em 

mLO2/h/g)  e  a  massa  corpórea  (BM,  em  gramas)  das  espécies  de  anfíbios  anuros  que  exibem  depressão 

metabólica e daquelas que não manifestam esse comportamento;  

variável  grupo   n  média   dp   mediana   min   máx   ep 

VO2   Depressão  10  0,06   0,03   0,05   0,02   0,10   0,01   VO2   Sem  depressão  52  0,08   0,06   0,06   0,01   0,41   0,01   BM   Depressão  10  86,47   162,08   21,33   5,11   520,00   51,25   BM   Sem  depressão  52  30,33   51,43   7,13   0,28   238,00   7,13     Número amostral, representando o número de espécies (n); desvio padrão (dp); erro padrão (ep); mínimo (min),  máximo (máx) e mediana dos valores.     

(18)

 

4.2. Sinal filogenético   

Utilizando  as  62  espécies  do  nosso  banco  de  dados,  identificamos  que  o  sinal  filogenético  das  taxas  metabólicas  padrão  foi  [K=0,1627],  ou  seja,  não  foi  significativo.  O  resultado do K de Blomberg foi convergente com os valores de sinal filogenético para lambda  de Pagel e o valor de p não foi significativo, [6,6107­05, p=1] indicando que a taxa metabólica  padrão entre as 62 espécies amostradas evoluiu plasticamente.    4.3. ANCOVA filogenética   

A  relação  da  taxa  metabólica  de  repouso  com  as  variáveis  preditoras  pode  ser  explicada  pela  massa  corpórea,  mas  não  varia  entre  grupos  que  exibem  ou  não  exibem  depressão metabólica. No caso, os valores de VO2 decaem com o aumento da massa corpórea 

(relação  é  negativa),  mostrando  que  indivíduos  maiores  têm  proporcionalmente  taxas  de  consumo de oxigênio especificas mais baixas em relação a indivíduos menores (figura 2). 

 

Além disso, não há diferença entre as medidas dos valores de VO2 entre as espécies de 

anuros que exibem algum tipo de depressão metabólica em comparação com as espécies que  não exibem este fenômeno (tabela 1). 

(19)

  Figura 2. Regressão filogenética entre log da taxa de consumo de oxigênio padrão (VO2 em mLO2/g/h) e o log 

da  massa  corpórea  (BM)  com  das  espécies  que  exibem  depressão  metabólica  (círculos)  e  as  espécies  que  não  exibem depressão metabólica (triângulos). 

 

No melhor modelo selecionado (λ=0), a  massa  corpórea  explicou  cerca  de  40%  da  variação no VO2 de repouso, embora as medidas do consumo de oxigênio entre grupos foram 

similares  (tabela  1,  tabela  2).  Outro  ponto  é  que,  a  seleção  do  melhor  modelo  com  lambda  igual  a  0  (modelo  2  da  tabela  2),  indica  que  os  resíduos  da  regressão  filogenética  são  plásticos,  não  possuem  estruturação  filogenética  (figura  3).  Isto  significa  que  parte  da  variação  das  taxas  metabólicas  padrão,  que  não  é  explicada  pela  massa  corpórea,  mudou  segundo outros parâmetros evolutivos que não o grau de parentesco das espécies.           

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Tabela 2. Modelos de evolução (PGLS) simplificados para uma matriz de correlação com  λ=1 (Modelo 1, M1),  λ=0 (Modelo  2,  M2) e λ=0,5 (Modelo  3,  M3).  Os  valores  de  AICc  e  peso  (weight)  para  cada  modelo  estão  expressos  nas  últimas  linhas  da  tabela.  Siglas:  logaritmo  do  consumo  de  oxigênio  à  20ºC  (log10  VO220ºC); 

logaritmo da massa corpórea (log10 BM); nível de significância *p<0,1; **p<0,05; ***p<0,001.     

Modelos de evolução 

Variável dependente 

 

Log

10

 VO

20°C 

M1 (λ=1)  M2 (λ=0)  M3 (λ=0,5) 

Log

10

BM

­0.246

***

 

­0.244

***

 

­0.271

***

 

(0.063) 

(0.043) 

(0.047) 

t = ­3.899  t = ­5.710  t = ­5.715 

p = 0.0001  p = 0.000 

p = 0.000 

 

Grupos

­0.151 

­0.126 

­0.222 

(0.286) 

(0.197) 

(0.238) 

t = ­0.527  t = ­0.638  t = ­0.929 

p = 0.599  p = 0.524 

p = 0.353 

 

Constante

­2.097

***

 

­2.155

***

 

­1.991

***

 

(0.777) 

(0.226) 

(0.351) 

t = ­2.698  t = ­9.546  t = ­5.676 

p = 0,007  p < 0,001 

p < 0,001 

Obs. (n espécies)

62 

62 

62 

Delta AICc

55.48 

0.00 

6.40 

Weight

0.00 

0.96 

0.04 

Akaike Inf. Crit. (AICc)

162.594 

107.118 

113.516 

Note:

*

p

**

p

***

p<0.01 

     

(21)

   

Figura 5. Reconstrução ancestral com base no critério de máxima verossimilhança. As cores de azul (negativo) a  vermelho (positivo) representam valores correspondentes aos resíduos da VO2 de repouso das espécies de anuros 

e sua evolução ao longo da filogenia. Os gráficos de setores representam as proporções de ramos que exibem e  não  exigem  depressão  metabólica  sobre  os  nós  da  filogenia.  A  figura  foi  construída  com  base  na  hipótese  filogenética proposta por Pyron (2014).      5.  DISCUSSÃO    5.1. Relações filogenéticas e taxas metabólicas    Neste trabalho reunimos informações a respeito das taxas metabólicas  padrão de 62  espécies  de  anfíbios  anuros,  distribuídas  entre  17  famílias.  Tomando  como  base  os  baixos  valores de sinal filogenético (K próximo à zero; ver Blomberg et al., 2003), concluímos que  não  há  estruturação  filogenética  das  taxas  metabólicas  padrão  em  anuros.  Assim,  as  taxas 

(22)

metabólicas  padrão  (ou  de  repouso)  são,  sob  perspectiva,  plásticas  na  história  evolutiva  de  anfíbios  anuros,  provavelmente  sofrendo  interferência  de  outros  fatores  ambientais,  fisiológicos  ou  comportamentais  (Wells,  2007).  É  bem  discutido  na  literatura,  espécies  que  escavam e se enterram em substratos para fugir da desidratação, outras que formam um tipo  de casulo, eficaz contra a perda de água por evaporação, entre outras estratégias (Glass et al.,  1997; Withers & Thompson, 2000).    5.2. Depressão metabólica e taxas metabólicas    O fato de algumas espécies de anuros apresentarem depressão metabólica, não esteve  relacionado  a  uma  maior  taxa  metabólica  padrão.  Dessa  forma,  rejeitamos  nossa  hipótese  inicial  de  que  haveria  um  compromisso  entre  o  custo  de  manutenção,  estimado  pela  taxa  metabólica  padrão,  e  a  manifestação  de  uma  redução  drástica  do  metabolismo  quando  as  condições  do  ambiente  se  tornam  desfavoráveis  (ver  Carvalho  et  al.,  2010  para  exemplos).  Embora  tenhamos  refutado  esta  hipótese,  sabemos  que  fatores  que  interferem  direta  ou  indiretamente na taxa metabólica desses animais, estão relacionados também com a queda do  metabolismo e ocorrência de depressão metabólica. 

A  manutenção  da  temperatura  corpórea  ótima  em  anfíbios  anuros  é  dada,  principalmente,  por  meios  comportamentais  como  a  seleção  de  microclimas  adequados,  determinando  assim  como  essas  espécies  interagem  com  o  seu  ambiente  (Mokhatla  et  al.,  2019). Além de ser crucial para a taxa metabólica padrão, a temperatura corpórea também é  crucial para outro processo fisiológico, a perda de água por evaporação. A perda de água por  evaporação é particularmente pronunciada em anuros devido à alta umidade e pele permeável  e, as  evidências sugerem que  as espécies que ocupam  diferentes nichos ecológicos mostram  diferenças pronunciadas nas taxas de perda de água por evaporação (Andrade and Abe, 1997;  Mokhatla et al., 2019).  

No entanto, alguns anuros podem suportar as condições potencialmente desidratantes  impostas,  por  exemplo,  por  ambientes  áridos  ou  semiáridos  (Shoemaker  and  Nagy,  1977),  através  de  estratégias  anatômicas,  fisiológicas  e  comportamentais  (Withers  and  Thompson,  2000). Devido ao clima e/ou estações mais quentes, algumas espécies de anuros podem entrar  nesse estado hipometabólico de estivação para economizar energia, diminuir a perda de água  para  o  ambiente  e  evitar  a  dessecação  (McClanahan  et  al.,  1983).  Como  observamos,  a  depressão metabólica não está condicionada a altas taxas metabólicas padrão, mas em anuros 

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que  estivam,  por  exemplo,  as  taxas  metabólicas  geralmente  atingem  menos  de  30%  dos  valores de repouso (Carvalho et al., 2010). 

 

5.3. Massa corpórea e taxas metabólicas   

De  acordo  com  nossas  análises,  as  diferenças  interespecíficas  de  massa  corpórea  explicaram,  cerca  de  metade  da  variação  da  taxa  metabólica  padrão  específica.  A  massa  corpórea  é,  classicamente,  um  fator  que  influencia  a  taxa  metabólica  dos  animais  incluindo  anfíbios  anuros,  juntamente  com  o  nível  de  atividade  (Navas  et  al.,  2008).  Segundo  nossos  resultados,  a  influência  da  massa  corpórea  sobre  o  metabolismo  aeróbio  de  repouso  foi  praticamente a mesma entre as espécies que exibiam algum evento de depressão metabólica e  aquelas  que  não  ingressavam  em  hipometabolismo.  Essa  constatação  de  certa  forma  abre  a  possibilidade  de  investigarmos  se  outros  fatores  poderiam  influenciar  o  metabolismo  energético de anuros, em especial os hábitos alimentares (Timpone et al., 2019; Secor, 2005),  o  modo  de  forrageio  (Taigen  et  al.,  1982;  Taigen  e  Pough,  1983),  ou  ainda  a  ocupação  de  diferentes ambientes com drásticas mudanças de produtividade primária (Withers, 1993).   

5.4. Outras perspectivas sobre a ocorrência de depressão metabólica   

Neste trabalho identificamos que há uma considerável variação das taxas metabólicas  aeróbias de repouso em  anuros, não  explicadas pela variação de massa corpórea e nem  pela  história de parentesco das espécies. Considerando o perfil de variação nos dados, é possível  que  outros  fatores  ecológicos  ou  comportamentais  possam  se  relacionar  à  evolução  do  metabolismo  em  anfíbios  anuros.  Podemos  levar  em  consideração,  por  exemplo,  a  ecofisologia e a ocupação de diferentes ambientes, que são fatores normalmente investigados  e  que  explicam  parte  da  variação  metabólica  nos  organismos  (como  em  Mokhatla  et  al.  (2019), Navas (1996), Chang and Hou (2005)). 

Carvalho e colaboradores (2010) constaram que a maioria das espécies de anuros que  ingressam  em  estivação  ocorre  em  regiões  áridas  e  semiáridas,  com  variação  sazonal  da  disponibilidade  de  água  e,  consequentemente,  na  produtividade  primária.  Por  outro  lado,  a  presença de espécies de anuros que estivam em regiões florestadas é pequena, com registros  ocasionais  de  espécies  que  estivam  em  savanas  ou,  no  caso  do  Brasil,  em  áreas  de  cerrado  (Abe e Garcia, 1990; Abe 1995; Bastos e Abe, 1998). Assim, podemos esperar que os eventos  de depressão metabólica ocorram em espécies que ocupam ambientes de baixa produtividade 

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primária.  Ainda,  as  taxas  metabólicas  padrão  poderiam  estar  associadas  a  diferenças  na  disponibilidade de recursos que influenciam o balanço energético desses animais. 

Os resultados desse estudo foram importantes para compreender melhor a ocorrência  de  depressão  metabólica  em  anfíbios  anuros  e  como  as  taxas  metabólicas  padrão  evoluíram  nas  linhagens.  Nossa  identificação  de  que  não  existe  uma  correlação  entre  baixas  taxas  metabólicas  padrão  e  a  ocorrência  de  depressão  metabólica,  mostra  que  possivelmente  existem outros fatores ainda não estudados, que ter interferido nesses eventos de variação da  taxa metabólica padrão e que merecem atenção em futuros estudos.      6.  CONCLUSÃO   

Neste  estudo  testamos  a  relação  entre  a  ocorrência  de  eventos  de  depressão  metabólica e altas taxas metabólicas padrão (que reflete o custo de manutenção dos animais)  em  anfíbios  anuros.  A  hipótese  de  que  espécies  de  anuros  nas  quais  há  registro  de  hipometabolismo  exibem  as  maiores  taxas  metabólicas  padrão,  foi  refutada  e,  observamos  ainda que parte da variação no consumo de oxigênio decorre da relação com a massa corpórea  das  espécies.  O  restante  da  variação  não  é  estruturada  filogeneticamente,  o  que  nos  permite  deduzir que outros fatores ecofisiológicos podem ter sido determinantes para a evolução desse  traço fisiológico importante.                       

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ANEXO A    Tabela A1. Relação de espécies e famílias, consumo de oxigênio específico no repouso (VO2), massa corpórea  média das espécies (g) e ausência (A) ou presença (P) de comportamento de depressão metabólica.    Família / espécies  Depressão  metabólica  VO2 – 20oC  (mLO2/g/h)  Massa  Corpórea (g)  Referências  Hylidae         

Agalychnis callidryas  NÃO  0,0610  5,7  Taigen et al. 1982  Aparasphenodon brunoi  NÃO  0,0603  19,13  Andrade and Ahe 1996  Corythomantis greeningi  NÃO  0,0479  17,05  Andrade and Ahe 1996  Cyclorana alboguttata  SIM  0,0238  20,8  Rossi et al. 2020 

Cyclorana australis  SIM  0,1001  44,2  Withers and Thompson 2000  Cyclorana cultripes  SIM  0,1017  11,7  Withers and Thompson 2001 

Cyclorana maini  SIM  0,0424  5,11  Withers 1993 

Cyclorana platycephala   SIM  0,0296  21,86  Withers 1993 

Hyla arborea  NÃO  0,0770  6,3  Grafe and Thein 2000 

Hyla arenicolor  NÃO  0,0930  3,4  Taigen et al. 1982 

Hyla chrysoscelis  NÃO  0,1290  5,47  Navas 1996 

Hyla cinerea  NÃO  0,0410  8,87  Secor et al. 2006 

Pseudacris crucifer  NÃO  0,1110  1,3  Taigen et al. 1982 

Dendropsophus labialis  NÃO  0,0980  7,45  Navas 1996 

Dendropsophus microcephalus  NÃO  0,1190  0,67  Navas 1996 

Hypsiboas prasinus  NÃO  0,1052  4,87  Kiss et al. 2008 

Osteopilus septentrionalis  NÃO  0,0660  5  Taigen et al. 1982  Phyllomedusa hypochondrialis  NÃO  0,0331  2,65  Gomez et al. 2006 

Smilisca fodiens  NÃO  0,0320  15,1  Taigen et al. 1982 

Bufonidae 

       

Bufo alvarius  NÃO  0,0136  140  Secor 2005 

Bufo americanus  NÃO  0,0510  27  Taigen et al. 1982 

Bufo boreas  NÃO  0,0562  27,3  Hillman and Withers 1978 

Bufo calamita  NÃO  0,0580  8,7  Taigen et al. 1982 

Bufo cognatus  NÃO  0,0169  75,2  Secor et al. 2006 

Bufo marinus  NÃO  0,0336  97  Overgaard et al. 2012 

Bufo terrestris  NÃO  0,1671  15  Ward et al. 2006 

Bufo viridis  NÃO  0,0719  35,8  Gil and Katz 1995 

Bufo woodhousii  NÃO  0,1260  25,8  Walton and Anderson 1987 

Bufo schneideri  SIM  0,0313  191,7  Senzano and Adrade  2018 

Ranidae 

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