Registro: 2018.0000084819
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1031071-54.2016.8.26.0224, da Comarca de Guarulhos, em que é apelante ROBERTO ASSAIANTE JUNIOR, é apelado SIRLENE SALES MACIEL.
ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 1ª Câmara de Direito Privado do
Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Desembargadores RUI CASCALDI (Presidente sem voto), CHRISTINE SANTINI E AUGUSTO REZENDE.
São Paulo, 20 de fevereiro de 2018.
Francisco Loureiro Relator
Apelação no 1031071-54.2016.8.26.0224
Comarca: GUARULHOS
Juiz: ALEXANDRE ANDRETTA DOS SANTOS
Apelante: ROBERTO ASSAIANTE JUNIOR
Apelada: SIRLENE SALES MACIEL
VOTO Nº 32.423
INDENIZATÓRIA. Danos morais. Supostas ofensas dirigidas genericamente contra seguranças contratados por sindicato, se qualquer alusão específica ao autor. Mensagem em rede social que refere aos seguranças como jagunços contratados pelo sindicato, que teriam agredido advogada de chapa de oposição. Inexistência de qualquer imputação específica à pessoa do autor, que não pode tomar para si crítica dirigida a uma coletividade de seguranças. Ação improcedente. Recurso improvido.
Cuida-se de recurso de apelação interposto contra a r. sentença de fls. 97/99, que julgou improcedente a ação indenizatória de danos morais ajuizada por ROBERTO ASSAIANTE JUNIOR em face de SIRLENE SALES MACIEL.
Fê-lo a r. sentença, basicamente sob o argumento de que não há prova das ofensas supostamente sofridas pelo autor, que labora como agente de segurança do sindicato a que a requerida é filiada.
Embora a ré tenha se referido aos seguranças da entidade como “jagunços” e lhes tenha atribuído a prática de agressões contra terceiros, não há referência alguma ao nome do autor. O termo “jagunço” é empregado de forma impessoal e abstrata, sem qualquer
menção ao autor.
A suposta publicação das ofensas pela autora na social “Facebook”, tal como descrita pelo autor, assume teor altamente genérico, sem indicar intenção de atingir pessoalmente o requerente.
Sustenta o apelante, em síntese, que: i) houve cerceamento de defesa, diante do julgamento antecipado da lide; ii) a requerida dirigiu-lhe ofensas, ao chamar de “jagunços” todos os seguranças do sindicato “SINTEPS”; iii) trabalhava como agente de segurança na entidade, de sorte que se sentiu pessoalmente atingido pela ofensa; iv) as acusações são falsas e lhe causaram profundo constrangimento; v) afirmar que as ofensas são genéricas assegura a impunidade da ofensora; vi) dos fatos resultaram danos morais indenizáveis.
Em razão do exposto e pelo que mais argumenta às fls. 106/111, pede o provimento de seu recurso, com preliminares de deserção e inépcia da apelação.
O apelo foi contrariado às fls. 115/119. É o relatório.
1. Rejeito as preliminares arguidas em contrarrazões. A falta de preparo genericamente arguida pela apelada não comporta acolhimento, uma vez que o apelante pagou as custas recursais, no equivalente a 4% do valor da causa (fls. 06 e 116).
A preliminar de inépcia também não prospera. Afere-se sem dificuldades que as razões recursais impugnam a rejeição do pedido indenizatório. Assim, o recurso preenche os requisitos legais, pois refuta tendo expressamente os fundamentos da sentença.
Nesse sentido o seguinte precedente do Superior Tribunal de Justiça:
“AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. APELAÇÃO.
REQUISITOS. REPETIÇÃO DOS ARGUMENTOS DA
CONTESTAÇÃO. ART. 514 DO CPC. APTIDÃO.
1. Na linha dos precedentes desta Corte, a reprodução, na apelação, dos argumentos já lançados na petição inicial ou na contestação não é, em si, obstáculo bastante para negar conhecimento ao recurso. 2. No caso dos autos, o que se percebe é que, muito embora a recorrente tenha se limitado a repetir os argumentos que já haviam sido expostos na contestação, não houve prejuízo ao princípio da dialeticidade recursal. Isso porque apesar da incorreção técnica, ainda é possível compreender a irresignação manifestada e os fundamentos dessa irresignação, de alguma forma, ainda dialogam com os fundamentos da sentença recorrida.
3. O agravante não trouxe nenhum argumento capaz de modificar a conclusão do julgado, a qual se mantém por seus próprios fundamentos.
4. Agravo Regimental improvido.” (AgRg no REsp 1268413/SP, Rel.
Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, j. 17.04.12).
Rejeito as preliminares arguidas.
2. Não houve cerceamento de defesa pelo julgamento antecipado da lide.
Os autos já se encontravam adequadamente instruídos para o julgamento, de forma que a fase instrutória não teria maior utilidade, a impertinente seria a produção de provas.
As partes tiveram oportunidades suficientes para colacionar documentos aos autos, bem como quaisquer outros elementos
de informação que reputavam adequados à prova de suas alegações.
Ademais, os documentos já apresentados nos autos foram suficientes à elucidação os fatos, de sorte que não haveria proveito na produção de novas provas, em especial a oitiva de testemunhas desejada pelo apelante.
Os fatos que configurariam em tese os danos morais alegados pelo autor já foram devidamente comprovados, reduzindo-se a controvérsia a questão de direito, qual seja, se o comportamento da requerida configura ato ilícito e impinge dano moral. Dessa forma, a prova testemunhal pouco ou nada acrescentaria de relevante ao quadro dos autos.
Lembre-se ainda o disposto no art. 355, I, do CPC/15, que autoriza o julgamento antecipado da lide quando não houver necessidade de produzir prova em audiência.
Tal é justamente a hipótese verificada no caso em tela, razão pela qual rejeito a preliminar suscitada.
3. O recurso não comporta provimento.
Cuida-se de ação indenizatória de danos morais supostamente pela requerida, por ofensa à honra.
O autor é empregado do Sindicato dos Trabalhadores do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza SINTEPS, no cargo de segurança desarmado.
Em meio a uma campanha eleitoral pela presidência da entidade, a requerida, pretendente do cargo, teria distribuído panfletos em que qualificava os seguranças como “jagunços” (fls. 13/14).
Além disso, no mesmo documento teria dito que a advogada de sua chapa foi agredida pelo autor, e que ele trabalhava armado.
Esses fatos teriam impingido danos morais ao autor, que pretende se indenizar.
4. A manifestação da requerida não chega a impingir danos morais ao requerente.
Em tema de liberdade de expressão e de imprensa, a melhor doutrina é toda no sentido de que não há prevalência entre os direitos fundamentais de livre expressão, de um lado, e da honra, intimidade ou privacidade, de outro lado (Cláudio Luiz Bueno de Godoy, A Liberdade de Imprensa e os Direitos da Personalidade, Atlas, p. 65/85).
Disso decorre que para julgar o conflito entre direitos fundamentais deve ser feita uma ponderação de bens no caso concreto, levando em conta uma série de circunstâncias. Para solução da antinomia, devem ser ponderadas as circunstâncias, de modo a estabelecer limites de ambos os direitos e alcançar o saldo mais favorável ao caso que se apresenta. Essa ponderação de direitos não é abstrata, pois depende da situação concreta, de circunstâncias factuais, objetivas e subjetivas, juridicamente relevantes. Entre os comportamentos relevantes, está a conduta ético-jurídica censurável de uma parte (Rabindranath V A Capello de Souza, O Direito Geral de Personalidade, Coimbra Editora, 1.995, ps. 533/535).
No caso, a ponderação desses princípios impede cogitar de ato ilícito gerador de dano moral.
gestão do sindicato, a que acusa de “militarizar” com a contratação de “verdadeiros jagunços”. Também chega a afirmar que os “tais jagunços agrediram a advogada da chapa 2” (fl. 13), mas sem referência específica ao requerente.
Houve não mais que um juízo de valor, talvez injusto, a respeito da contratação e atuação dos agentes de segurança do sindicato. Trata-se de comportamento inserido dentro dos limites da livre liberdade de expressão.
Na lição maior de Manuel da Costa Andrade (Liberdade de Imprensa e Inviolabilidade Pessoal, Coimbra Editora, p. 276), há nítida diferença entre o juízo de valor e a imputação de um fato. O que fez a requerida foi emitir juízo de valor sobre um fato verdadeiro ocorrido nas dependências do sindicato, a colocar em dúvida a lisura do processo eleitoral daquela entidade.
Destaque-se que a requerida não dirigiu qualquer ofensa pessoalmente ao autor, nem sequer sugeriu que foi ele quem promoveu a suposta agressão física a uma advogada ligada ao processo eleitoral.
Não favorece o autor alegar que, na qualidade de agente de segurança da entidade, sentiu-se ofendido pela referência genérica à categoria como “jagunços”.
A alusão depreciativa a determinada categoria profissional é insuscetível de gerar dano moral indenizável às pessoas naturais que a integram.
É inegável que o tom das críticas da requerida apresenta uma visão negativa da contratação de agentes de segurança
para o sindicato. Entretanto, limita-se a atingir o grupo político contrário ao da requerida e, genericamente, a categoria profissional dos agentes de segurança, sem afetar seus componentes individualmente considerados.
5. Em suma, por qualquer ângulo que se analise o inconformismo do apelante, inviável seu acolhimento.
A sentença recorrida deve ser mantida, inclusive por seus próprios fundamentos.
E em observância ao disposto no art. 85, §§ 2º e 11º do Código de Processo Civil de 2015, elevo os honorários devidos aos advogados de cada uma da ré para R$ 2.000,00.
Nego provimento ao recurso.
FRANCISCO LOUREIRO Relator