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INICIAÇÃO ESPORTIVA NO BASQUETEBOL: UMA ANÁLISE DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS PROFESSORES

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Recebido em: 28/02/2009 Emitido parece em: 17/03/2009 Artigo original

INICIAÇÃO ESPORTIVA NO BASQUETEBOL: UMA ANÁLISE DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

DOS PROFESSORES

Wagner dos Santos1, Daniel Godoi1, Mileide Maria Gottardo1, Diego Lima Reis1.

RESUMO

O objetivo da pesquisa foi identificar e analisar as práticas metodológicas predominantes em processos de formação esportiva na modalidade basquetebol. A metodologia utilizada foi de caráter qualitativo, descritivo-exploratório, cujo instrumento de coleta de dados foi às filmagens das aulas. Os sujeitos participantes foram alunos e profissionais de escolinhas de iniciação esportiva, na modalidade basquetebol, de duas escolas de ensino fundamental e médio da rede privada e dois clubes das cidades de Vitória e Vila Velha-ES. Os resultados do estudo demonstraram certa preferência dos profissionais dessas instituições pela metodologia analítico-sintética, não correspondendo às exigências da formação que levem em consideração as capacidades técnicas, táticas e coordenativas.

Palavras chaves: Metodologia, basquetebol e iniciação esportiva. ABSTRACT

The objective of the research was identifying and analyzing the predominant methodology and practices used in the process of sport education, specifically in the teaching of basketball. The methodology used had a qualitative, descriptive and explanatory character. The instrument for data collection was in-class filming. The subjects of research were students and teachers from sport initiation schools (specifically basketball lessons) within two private elementary and high schools, and two sports club in the cities of Vitoria and Vila Velha. The study results showed that the teachers from these institutions tend to prefer the analytical-synthetic methodology and not consider the education requirements which include technical, tactical and coordination abilities.

Key words: Methodology, basketball, sport initiation. INTRODUÇÃO

No âmbito esportivo, especificamente quando tratamos do desporto coletivo, verifica-se uma preocupação acentuada quanto às metodologias usadas no processo de ensino-aprendizagem-treinamento. Autores como Greco (1998a), Kroger e Roth (2006), e Dietrich, Durrwarchter e Shaller (1984), destacam diferentes teorias e objetivos pedagógicos e psicológicos para o processo de iniciação esportiva.

Ao estudar as práticas de professores na iniciação esportiva, alguns autores como Paes e Balbino (2005), Pinto e Santana (2005), Nascimento et al. (2008) e Reis (2008), evidenciam um panorama de críticas ao afirmarem que o referencial metodológico assumido nos processos de formação tem se aproximado da abordagem analítico-sintétito, distanciando-se da metodologia global-funcional.

Diante desse contexto, este estudo pretende analisar quais as metodologias e métodos de ensino-aprendizagem-treinamento estão sendo empregados por professores no processo de iniciação do Basquetebol, na faixa etária entre 8 a 12 anos. Essa pesquisa se dá no contexto de escolinhas de iniciação dessa modalidade, inseridas em duas escolas particulares e um clube do município de Vila Velha-ES.

Este estudo é de caráter qualitativo e caracteriza-se como uma pesquisa exploratória. De acordo com Lakatos e Marconi (1991, p. 188), “[...] são estudos exploratórios que tem por objetivo descrever completamente determinados fenômenos”. Para tanto foi utilizada a filmagem como forma de coleta de dados e o diário de campo.

Consideramos que esta pesquisa apresenta grande relevância social, pelo fato de que a escolha da metodologia de ensino-aprendizagem é de extrema importância para o processo de formação, física, psíquica e cognitiva. Além disso, justifica-se no campo científico, por contribuir para a sistematização de reflexões acerca das metodologias e métodos utilizados no processo de ensino-aprendizagem em escolinhas de iniciação esportiva.

UM DIÁLOGO COM A LITERATURA

Ao falarmos da iniciação do basquetebol com crianças de 8 a 12 anos, torna-se impreterível a discussão do sistema de formação que corresponda à fase do desenvolvimento motor, emotivo/volitivo e

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cognitivo que esses alunos se encontram. Desta forma, para compreensão do processo de ensino-aprendizagem correspondente a esta faixa etária, utilizamos os princípios abordados por Greco (1998a). Dos 6 aos 12 anos, procura-se desenvolver todas as capacidades motoras e coordenativas de uma forma geral, criando uma base ampla e variada de movimentações que ressaltam o aspecto lúdico. Portanto, o ensino do basquetebol não deve objetivar o refinamento das técnicas, mas a transferência e adaptação das habilidades fundamentais para os gestos motores das diferentes modalidades esportivas, pois nessa fase a criança não se encontra com um acervo motor apto para o aprimoramento das habilidades técnicas específicas ao basquetebol.

Ao tratar do processo de formação esportiva Greco e Silva (2008), Greco (1998a) procuram sistematizar uma proposta teórico-metodológica de ensino para jogos coletivos com a bola. Os autores tomam como referência o desenvolvimento das capacidades coordenativas, tática, técnica e os jogos situacionais. Segundo Greco e Silva (2008), as capacidades coordenativas são definidas como a base para o aprendizado e

controle das habilidades técnicas, sendo elas: acoplamento – unir diferentes movimentos do corpo;

diferenciação – domínio do movimento de forma perfeita com o mínimo de esforço, capacitando o executante a diferenciar uma ação motora da outra; orientação – determinar o espaço disponível e atuar nele, relacionando-se com o contexto externo (companheiros, adversários, bem como com o objeto central do jogo, a bola); reação – velocidade com que um sinal é detectado, ocorrendo uma resposta a este estímulo; equilíbrio – manter ou

recuperar a estabilidade; ritmo – adaptação do movimento interno de acordo com o contexto externo; e

mudança – adaptação a novas situações, às posições e direções sem perder a continuidade do gesto.

As capacidades coordenativas são condicionadas pelas diferentes pressões exercidas durante os jogos coletivos. De acordo com Kroger e Roth (2006) essas pressões devem ser incorporadas pelo treinamento de

coordenação com a bola e podem ser definidas como: pressão de tempo – minimização do tempo ou

maximização da velocidade; pressão de precisão – busca pela maior exatidão possível; pressão de

complexidade – séries de exigências sucessivas; pressão de organização – superação de muitas exigências

simultâneas; pressão de variabilidade – superar exigências em várias condições ambientais; e pressão de carga – exigências do tipo físico-condicional ou psíquica.

No que se refere às capacidades técnicas, Greco (1998b, p. 55), as define como “[...] a interpretação, no tempo, espaço e situação do meio instrumental operativo inerente à concretização da resposta para a solução de tarefas ou problemas motores”. Sua classificação se apresenta da seguinte maneira: organização dos ângulos – conduzir de forma precisa a bola; controle da força – controle de força ao manipular a bola; determinar o tempo e o passe da bola – compreender o espaço no momento de passar a bola; determinar a linha de corrida e o tempo da bola – percepção da direção e velocidade da bola; oferecer-se e orientar-se – apresentar-se no momento certo levando em consideração o colega e/ou adversário; antecipar a direção e a distância do passe –

determinar a direção e distância da bola ao passá-la; antecipação da posição defensiva – fazer uma leitura

antecipada do posicionamento da equipe adversária; observar deslocamento – perceber o deslocamento dos

adversários (GRECO e SILVA, 2008).

Por outro lado às capacidades táticas são definidas por Greco (1998b, p. 59) como “[...] um conjunto de processos psíquicos-cognitivo-motor que conduz a tomadas de decisão adequadas para resolver a tarefa-problema de jogo”. Categorizamos tais capacidades como: acertar o alvo – chutar a bola com precisão a um determinado local; transportar a bola ao objetivo – conduzir a bola a um objetivo pré-determinado; tirar vantagem tática no jogo – de maneira coletiva chegar ou alcançar a pontuação no jogo; jogo coletivo – receber ou passar a bola para o colega; reconhecer espaços – possibilidades para se chegar ao gol; superar o adversário – em uma disputa durante o jogo; oferecer-se e orientar-se - obter uma posição favorável em situações de jogo.

Ao discutirem sobre o basquetebol, autores como Paes e Balbino (2005), ressaltam a importância do papel dessa modalidade no desenvolvimento das capacidades psíquicas na criança. Para eles torna-se possível desenvolver as técnicas do jogo (fundamentos) integrada a sua lógica tática (defensiva, ofensiva e de transição), para se criar um ambiente educacional por excelência, oferecendo inúmeras e imprevisíveis situações-problemas a serem superadas por quem vivencia o jogo basquetebol.

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

As duas escolas particulares investigadas possuem destaque no cenário esportivo do Estado, um espaço físico em boas condições, variedade de materiais e profissionais que desenvolvem trabalhos voltados para o basquetebol. As práticas dessa modalidade esportiva são referentes a um projeto de formação extracurricular. Já os clubes em que foi realizada a pesquisa, são voltados e criados para o desenvolvimento de

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escolas de iniciação esportiva e alto rendimento, tendo o basquetebol dentre as modalidades trabalhadas, possuindo excelente estrutura, grande número de alunos e profissionais da área de Educação Física.

Consideramos que os três contextos pesquisados possuem características semelhantes, local adequado para a aplicação de atividades, profissionais com reconhecimento e resultados expressivos na modalidade basquetebol. No que se refere à característica das aulas observamos que mesmo sendo em contextos diferentes, elas mantiveram a mesma estrutura organizacional e concepção de formação esportiva, fato esse que nos levou a fazer uma apresentação e análise geral dos dados coletados na pesquisa.

Buscamos identificar e discutir as metodologias e os métodos empregados nas escolinhas de iniciação esportiva de instituições de Vila Velha/ES. Essa análise incidiu sobre a modalidade basquetebol, destinados a pré-adolescentes na faixa etária entre 8 e 12 anos. Para isso, foram filmadas 2 sessões de cada escola e 16 aulas nos dois clubes, durante o primeiro semestre de 2008, totalizando 21 horas de filmagens. Na primeira escola foram analisadas 10 atividades em 2 dias da semana, na segunda 12 atividades em 2 dias da semana e nos clubes 50 atividades em 4 dias da semana, totalizando 72 atividades durante 18 dias.

Como forma de análise foi elaborado um quadro tomando como base os estudos de Greco e Silva (2008) e Kroger e Roth (2006). Nele, procuramos traçar um paralelo entre as capacidades técnicas e táticas, além de estabelecer uma análise das capacidades coordenativas e seus condicionantes.

Quadro 1. Relação entre Capacidades Coordenativas e seus Condicionantes. CONDICIONANTES COORDENATIVA Pre s s ã o de te m po P re s s ã o da pre c is ã o P re s s ã o da c om p le x ida de P re s s ã o da organi -z a ç ã o P re s s ã o da v a ri a bi -li dade P re s s ã o da c a rga Capacidade de acoplamento 21.0% 75.5% 39.1% 81.8% 35.3% 66.0% Capacidade de diferenciação 21.0% 73.1% 39.1% 80.1% 33.0% 60.2% Capacidade de Equilíbrio 18.1% 58.2% 34.1% 63.5% 30.3% 48.7% Capacidade de orientação 19.3% 67.0% 38.0% 76.7% 32.0% 52.7% Capacidade de ritmo. 17.0% 34.2% 32.4% 28.4% 26.8% 34.8% Capacidade de reação 19.3% 55.8% 29.0% 40.0% 30.3% 36.5 Capacidade de câmbio 19.3% 36.5% 26.8% 41.9% 30.25% 41.2%

A análise do quadro indica que tanto nas escolas quanto no clube, predominou o método analítico-sintétito. Porém observamos certa atenção dos profissionais ao desenvolvimento das capacidades coordenativas de acoplamento condicionada pela pressão de precisão e organização com valores de 75,5 e 81.8%. Uma das escolas apresentou maior especificidade das técnicas da modalidade, aplicadas ao ambiente do jogo, enquanto as demais limitaram-se as atividades básicas, como: bandeja, arremessos, passes, drible, etc. sem a busca de maior refinamento dessas habilidades esportivas.

A perspectiva de formação centralizada no método analítico-sintético se apresenta de maneira oposta a uma gama variada de produções teóricas que tratam sobre a temática em questão. Nesse caso, há uma notória preferência pela metodologia global-funcional, por partir de jogos menos complexos, onde o aluno experimenta diversas situações-problema semelhantes a do desporto, vivenciando os princípios técnicos e táticos do jogo coletivo. Pinto e Santana (2005), afirmam que “o global é centrado na tática, no jogo, cujo ambiente torna-se mais prazeroso, a especialização precoce de algumas habilidades é refutada e o objetivo é desenvolver a inteligência do aprendiz”. Tal inteligência pode ser classificada como um potencial neural, podendo ou não ser ativada, dependendo dos valores da cultura em que o indivíduo está inserido e dos estímulos que recebe no ambiente composto por pais, familiares, professores, técnicos e outros agente interventores (PAES e BALBINO, 2005 p. 143).

Greco (1998b, p. 43) explica que, nessa metodologia, “[...] procura-se em cada jogo ou formas de jogadas, pelo menos a ideia central do jogo ou que suas estruturas básicas estejam presentes na metodologia”. Nota-se que a divisão dos jogos não deve abranger muitas partes, de forma que o aluno consiga alcançar logo o jogo objetivado. No entanto, deve-se ter cuidado, também, para que as formas de jogo prévias não sejam mais difíceis que o desporto.

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Analisando o desenvolvimento das capacidades coordenativas em relação à pressão de tempo, constatamos um percentual em torno de 20%. Considerando que o basquetebol é baseado no tempo, 24” para realizar o ataque, 8” para atravessar o campo de defesa e 5” para repor a bola em jogo, esse percentual se apresenta como irrisório diante das características do esporte.

No que se remete às capacidades de acoplamento e diferenciação condicionadas a pressão de precisão encontramos os percentuais de 75.5 e 73.1%, valores esses resultantes do tipo de atividade realizada com os alunos como: arremessos, bandejas e passes executados em situações de jogo. Tais ações são imprescindíveis para a faixa etária trabalhada de 8 a 12 anos, pois é durante essa fase que as crianças desenvolvem a combinação de habilidades esportivas, tendo a possibilidade estrutural e funcional para atingir o padrão maduro nas habilidades fundamentais. Dos 10 aos 12 anos, a criança começa aprender a partir do jogo os esquemas táticos e técnicos de forma geral, o professor utiliza-se de exercícios repetitivos, procurando aprimorar as habilidades fundamentais de acordo com a idade (GRECO, 1998a; GRECO e SILVA, 2008).

Ao dividir a iniciação esportiva em três etapas de desenvolvimento Oliveira e Paes (2004) ressaltam a necessidade de se levar em consideração na primeira fase, correspondente a idade entre 7 a 10 anos, o envolvimento das crianças nas atividades desportivas. Essa fase deve ter caráter recreativo, participativo e alegre, a fim de oportunizar o ensino das técnicas desportivas, estimulando o pensamento tático. A segunda fase que compreende a idade de 11 a 13 anos é marcada por oportunizar os jovens à aprendizagem de várias modalidades esportivas. Parte-se do princípio de que a fase de iniciação desportiva I visa à estimulação e à ampliação do vocabulário motor por intermédio das atividades variadas específicas, mas não especializadas de nenhum esporte, a fase de iniciação esportiva II dá início à aprendizagem de diversas modalidades esportivas, dentro de suas particularidades. A partir dessa descrição observamos que as instituições investigadas não estão levando em consideração a idade, as especificidades e os interesses dos alunos.

Comparando o desenvolvimento das capacidades de acoplamento, diferenciação e orientação com a pressão da organização, nota-se um percentual em torno de 80%, fato esse referente às centralizações nas atividades que levam ao desenvolvimento da técnica ligada aos processos cognitivos. Em contrapartida, percebemos um percentual baixo com cerca de 30% para as atividades que envolviam ritmo, reação e câmbio. Nas atividades que envolveram capacidades coordenativas relacionadas à pressão de variabilidade, tivemos um percentual dentre 30 a 35%. O interessante desse percentual está no fato do basquete ser um esporte com alta variabilidade contextual, tendo o aluno que se adaptar constantemente a novas situações provocadas pelo ambiente.

De acordo com Nascimento et al (2008), o basquete é constituído por habilidades motoras abertas, executadas em um ambiente instável, que possui alta interferência contextual. Nesse sentido, é preciso que o executante se adapte as alterações do ambiente (que pode ser o contexto da ação ou o objeto da ação) para realizar as tarefas com sucesso.

Notamos que as capacidades coordenativas condicionadas à pressão de carga, girou entre 41 a 66%, valor baixo se considerarmos a dinâmica do esporte basquetebol e suas implicações de carga física e psíquica tanto nos aspectos técnicos quanto táticos. Por fim, percebemos que os maiores índices estão presentes nas capacidades de acoplamento, diferenciação e orientação e as condicionantes que mais se destacaram em relação às atividades exercidas foram à pressão de precisão e pressão de organização. Possibilitando desta forma, a compreensão, por parte dos alunos, dos parâmetros motores específicos das habilidades trabalhadas por meio dos fundamentos, desconsiderando as situações de jogo, as capacidades táticas e o desenvolvimento da inteligência e a criatividade.

No que tange ao paralelo traçado entre as capacidades técnicas e capacidades táticas, verificamos a seguinte configuração: (quadro 2)

Ao fazermos uma análise das atividades observadas, gostaríamos de colocar em evidências os percentuais ligados ao desenvolvimento das capacidades técnicas em relação às capacidades táticas. Nesse caso, apenas 20% do total de atividades trabalhadas consideraram esta relação, ou seja, as ações técnicas e táticas eram exigidas de forma independente com centralização nos fundamentos do esporte. Apenas a capacidade tática de transportar a bola ao objeto, em relação a organizar os ângulos e dirigir a aplicação de força, se mostrou relevante na prática dos profissionais dessas instituições, tendo um percentual de 81.9 e 81.2%, seguidos da capacidade técnica observar linhas de corrida, chegando a 67.6%, número inexpressível, considerando que esta capacidade é um dos componentes primordiais das atividades com bola. A focalização nas dimensões técnicas limita a experiência do aluno no que se refere à percepção, a antecipação e a tomada de decisão, aspectos estes inerentes ao desenvolvimento das capacidades coordenativas e fundamentais nos jogos coletivos com bola.

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Quadro 2. Relação entre as Capacidades Táticas e as Capacidades Técnicas. TÉCNICA TÁTICA Org a n iz a r o s â n g u lo s D ir ig ir a a p li c a ç ã o d e fo a D e te rm in a r o m o m e n to e o t e m p o d a b o la D e te rm in a r a l in h a d e c o rr id a e o t e m p o d a b o la O fe re c e r-s e e o ri e n ta r-se D e te rm in a r a d ir e ç ã o e a d is n c ia d o p a s s e a n te c ip a d a m e n te A n te c ip a r a p o s ã o d o d e fe n s o r O b s e rv a r li n h a s d e c o rr id a Relacionando com o objetivo Acertar o alvo 55.0% 53.4 % 24.9% 28.3 % 22.8 % 19.3% 20.5% 42.1% Transportar a bola ao objeto 81.9% 81.2 % 26.0% 43.0 % 36.5% 20.5% 20.5% 67.6% Relacionando com o colega Tirar vantagem tática no jogo 26.8% 21.6% 21.6% 22.8% 22.8% 21.6% 21.6% 30.7% Jogo coletivo 21.6% 21.6% 21.6% 21.6% 21.6% 21.6% 21.6% 21.6% Relacionando com o adversário Reconhecer espaços 43.0% 23.3% 23.3% 29.9% 21.6% 21.6% 21.6% 37.5% Superar o adversário 30.3% 21.6% 21.6% 21.6% 23.3% 20.5% 22.8% 29.1% Relacionando com o meio ambiente Oferecer-se e orientar-se 40.6% 21.6% 21.6% 21.6% 33.0% 21.6% 22.8% 57.2%

Nesses termos, para trabalhar com a iniciação esportiva se faz necessário à utilização da metodologia global-funcional, por essa atender o desenvolvimento das capacidades coordenativas, técnicas e táticas de maneira conjunta. As ações motoras trabalhadas na faixa etária de 8 a 12 anos devem assumir como base as interrelações existentes entre as ações técnicas e táticas.

Esses dados reforçam os achados apresentados no quadro anterior e indicam uma centralização das práticas pedagógicas dos professores na concepção analítico-sintética, tendo como base o método parcial.

Segundo Dietrich, Durrwarchter e Shaller (1984) no método parcial respeitam-se os princípios da “série de

exercícios”, utilizando-se da repetição dirigida ao domínio das técnicas, consideradas como elementos básicos para a prática do jogo, para se obter o êxito na ação.

Essa perspectiva evidencia a necessidade de um processo de iniciação esportiva que tome como referencia as capacidades que estão correlacionadas com o desenvolvimento da inteligência e a criatividade, para tanto, é preciso criar um contexto ambiental favorável para que isso ocorra. Fato esse que não parece esta ocorrendo nas aulas observadas, já que há uma centralização na execução das habilidades técnicas e ausência de situações problemas pertencentes ao ambiente de jogo, impossibilitando o desenvolvimento das capacidades táticas das crianças.

É notório e merecedor de destaque o baixo percentual de atividades, entre 21.6 a 30.7%, que propuseram e tiveram a intenção de proporcionar o desenvolvimento das capacidades táticas como superar o adversário, tirar vantagem tática no jogo, etc. e sua correlação com as capacidades técnicas. Se as capacidades táticas representam as sínteses das capacidades perceptivas, intelectuais e psicomotoras (GRECO, 1995), como estabelecer um processo de formação que desconsidera tais questões? Essa pergunta nos remete para a necessidade de assumirmos outros referenciais que vão além da perspectivas analítico-sintética para o processo de iniciação esportiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa realizada evidenciou, por meio da análise dos dados e apropriação dos conceitos dos autores citados, uma pequena representatividade de atividades direcionadas as capacidades técnicas, táticas e coordenativas de forma concomitante, não atendendo as fases de desenvolvimento das faixas-etárias inerentes ao processo de ensino-aprendizagem. As observações mostraram, nas instituições observadas, um predomínio

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das atividades de caráter técnico, apropriando-se da metodologia analítico-sintético. Não identificamos um planejamento sistematizado que correspondesse às necessidades das faixas-etárias trabalhadas.

O processo de formação que toma como referência os jogos situacionais, o desenvolvimento das capacidades táticas, técnicas, coordenativas e seus condicionantes, possibilitam o desenvolvimento geral da criança, pois “[...] nesta fase a criança se encontra com as habilidades básicas de locomoção, manipulação e estabilização em refinamento progressivo, podendo assim, participar de um número maior e mais complexo de atividades motoras” (GRECO, 1998b, p. 67).

Nesse caso, o profissional não deve priorizar a especialização das tarefas motoras referentes à modalidade basquetebol, mas permitir uma maior variabilidade de movimentos, que busque ampliar o acervo motor das crianças. Acreditamos que o meio para se alcançar tais objetivos está em um sistema de formação que contemple as capacidades e necessidades dos alunos, agregando um planejamento que priorize a metodologia global-funcional a fim de contemplar os aspectos processual, conceitual e atitudinal no processo de ensino-aprendizagem.

Desta forma são imprescindíveis determinados estímulos que possibilitem a estabilização e automatização das diversas habilidades fundamentais neste momento da formação do indivíduo. Portanto, nos apropriamos de Greco (1998b), ao destacar as capacidades coordenativas como reguladoras e condutoras das ações motoras. Em outro trabalho, Greco (1995) aponta a necessidade de ações variadas e flexíveis em situação de jogo, para que os adolescentes alcancem esse automatismo.

REFERÊNCIAS

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GRECO, P. J. (Org.). Iniciação esportiva universal: da aprendizagem motora ao treinamento técnico. Belo Horizonte: UFMG, 1998a.

GRECO, P. J. (Org.). Iniciação esportiva universal: metodologia da iniciação esportiva na escola e no clube. 2 ed. Belo Horizonte: UFMG, 1998b.

GRECO, P. J. O ensino do comportamento tático nos jogos esportivos coletivos: aplicação no handebol. 1995. Tese (Doutor em Educação) - Curso de Pós-Graduação em Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1995.

GRECO, P. J.; SILVA, S. A. A metodologia de ensino dos esportes no marco do programa segundo tempo. In: Ministério dos Esportes. Segundo tempo: material didático para o processo de capacitação do Programa. Brasília: Ministério do Esporte, 2008.

KROGER, C.; ROTH, K. Escola da Bola: um abc para iniciantes nos jogos esportivos. 2 ed. São Paulo: Phorte, 2006. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Metodologia Científica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1991.

NASCIMENTO, P. F. do.; OLIVEIRA, S. S. S. Os tipos de prática utilizados no processo de iniciação esportiva em um Clube de Vitória/ES. Coleção Pesquisa em Educação Física, Jundiaí, v. 7, p. 369-374, 2008.

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PAES, R. R.; BALBINO, H. F. Pedagogia do esporte: contextos e perspectivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

PINTO, F. S.; SANTANA, W. C. de. As crianças jogam para aprender ou aprendem para jogar? Revista Digital

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