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Eficácia plena e imediata independente da existência de fonte de custeio:

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VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE RURÍCOLA. ÓBITO OCORRIDO NA VIGÊNCIA DO

FUNRURAL E ANTERIOR A CF/88. CÔNJUGE VARÃO. EXIGÊNCIA NA LEGISLAÇÃO DE

QUE FOSSE INVÁLIDO PARA SER DEPENDENTE DA ESPOSA. DESNECESSIDADE.

TRATAMENTO DISCRIMINATÓRIO. EXIGÊNCIA INCOMPATÍVEL COM O PRINCÍPIO DA

IGUALDADE, SEJA NA ATUAL CONSTITUIÇÃO FEDERAL [ART. 5º, I], SEJA NA

PRETÉRITA [ART. 153, § 1º DA CF/67, com a EC N.º 01/69]. ENTENDIMENTO PACÍFICO

DO STF SOBRE A MATÉRIA. DEMONSTRAÇÃO DA CONDIÇÃO DE SEGURADO ESPECIAL

(RURAL) DA FALECIDA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA MANTIDA PELOS SEUS PRÓPRIOS

FUNDAMENTOS ACRESCIDOS AOS AQUI ORA ADUZIDOS. RECURSO DA PARTE RÉ

CONHECIDO E IMPROVIDO. 

1. Trata-se de recurso interposto pelo INSS contra sentença que julgou procedente o

pleito autoral, concedendo o benefício pensão por morte desde a data do óbito. O juízo

a quo

reconheceu a qualidade de segurada especial da falecida, bem como a qualidade

de dependente da parte autora.

2. Em sede recursal, afirma o INSS que o benefício é indevido, uma vez que deve ser

aplicada a legislação vigente à época do óbito. Como o falecimento se deu em

18/06/1980, a legislação aplicável seria a LC 11/1971, bem como o Decreto 73.617/74,

legislações estas que estabelecem a necessidade de invalidez do esposo para o

reconhecimento da dependência em relação à instituidora do benefício.

3. O ponto controvertido é o vínculo de dependência entre o instituidor da pensão

[esposa/companheira] e a parte autora [esposo/companheiro].

4. Na vigência da Lei Complementar n.º 11/71, alterada pela Lei Complementar n.º

16/73, regulamentada pelo Decreto 83.080/79, somente era considerado segurado o

arrimo ou chefe de unidade de familiar (art. 4º, 5º e 6º da LC n.º 11/71 c/c o art. 6º, §

2º da LC n.º 16/73 c/c 298 do Dec 83.080/79) , sendo que os demais membros da

família, que também trabalhassem em regime de economia familiar, eram considerados

dependentes do primeiro. Somente a partir com o advento da Lei n.º 8.213/91 (art. 11,

VII), aqueles que eram dependentes do arrimo de família passaram a ser considerados

segurados obrigatórios, na qualidade de segurados especiais. A propósito, confira o

seguinte julgado:

“EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE DE ESPOSA. TRABALHADORA RURAL. ÓBITO ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI 8.213/91.

1. No regime da LC 11/71 a unidade familiar compunha-se de apenas um trabalhador rural; os demais eram dependentes. A mulher casada, assim, somente poderia ser considerada segurada na qualidade de trabalhador rural e, por conseqüência, o homem, seu dependente, se o cônjuge varão fosse inválido e não recebesse aposentadoria por velhice ou invalidez (alínea "b" do inciso II do § 3º do artigo 297, inciso III do artigo 275 e inciso I do artigo 12, todos do Decreto 83.080/79.

2.Consoante entendimento do Supremo Tribunal Federal, em matéria de concessão de pensão a legislação aplicável é aquela vigente na data do óbito, não se tratando, ademais, o inciso V do artigo 101 da Constituição Federal de norma auto-aplicável. Assim, só se cogita de direito a pensão por morte da esposa ou companheira se o óbito ocorreu após o início da vigência da Lei 8.213/91, em 05-04-91(art. 145).

(TRF 4ª Reg., AC 2005.04.01.056972-6/RS, Turma Suplementar, Relator Luciane Amaral Corrêa Münch, D.E. 24/04/2007)”

5. O entendimento tradicional era de que segurado era somente aquele que fosse o

arrimo de família, sendo que os demais membros do grupo familiar que trabalhavam em

regime de economia familiar eram considerados dependentes, inclusive existe

precedente da TNU:

“EMENTA RURÍCOLA. APOSENTADORIA POR IDADE. REGIME DA LC 11/71. EXIGÊNCIA DA CONDIÇÃO DE ARRIMO DE FAMÍLIA. REGIME DA LEI Nº. 8.213/91. EXERCÍCIO DA ATIVIDADE PELO LAPSO TEMPORAL CORRESPONDENTE À CARÊNCIA NO PERÍODO IMEDIATAMENTE ANTERIOR AO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO OU JUDICIAL. AUSÊNCIA DE FILIAÇÃO AO REGIME EM VIGOR. INAPLICABILIDADE DA LEI 10.666/2003 AOS SEGURADOS ESPECIAIS. PRECEDENTES DESTA TURMA. INCIDENTE CONHECIDO E

(2)

NÃO PROVIDO. DEVOLUÇÃO DOS RECURSOS COM MESMO OBJETO ÀS TURMAS DE ORIGEM (ART. 15, §§ 1º E 3º RI/TNU).

1 - Tendo a autora trabalhado, inequivocamente, na agricultura (1952 a 1985) e atingido a idade de 55 anos (1987), porém em momento em que se submetia a regime jurídico diverso e já revogado, no qual deveria comprovar sua condição de arrimo de família (LC nº. 11/1971) para obter aposentadoria como segurado especial, não faz jus a esse benefício em regime jurídico superveniente (Lei nº. 8.213/1991) e ao qual sequer chegou a filiar-se.

2 - No regime instituído pela Lei nº. 8.213/91, a aposentadoria por idade é concedida ao trabalhador rural mediante demonstração do exercício de atividade (ainda que de forma descontínua) em período imediatamente anterior ao requerimento administrativo ou judicial e em número de meses idêntico à carência (art. 143). Entendimento pacífico do STJ e desta Turma de Uniformização.

3 – a Lei 10.666/2003 (art. 3º, § 1º) é inaplicável aos segurados especiais. Entendimento consolidado nesta Turma de Uniformização. Precedentes (PEDILEF 2006.70.51.000943-1 e PEDILEF 2007.72.95.004435-1) 4 - Incidente conhecido e não provido, determinada a devolução dos recursos com mesmo objeto às Turmas de origem, a fim de que, nos termos do art. 15, §§ 1º e 3º do RI/TNU, mantenham ou promovam a adequação da decisão recorrida.

(PEDILEF 200671950087719, JUIZ FEDERAL ALCIDES SALDANHA LIMA, DOU 25/11/2011.)”

6. Contudo, este entendimento restou superado pelo STF a partir do julgamento do RE

n.º 385.397-AgR, relator Ministro Sepúlveda Pertence, em sessão realizada no dia

29/06/2007 e dos sucessivos julgados posteriores. O STF decidiu que viola o princípio da

isonomia (art. 5º, I, da CF/88) a lei exigir do marido para fins de recebimento de pensão

por morte da mulher (esposa) a comprovação da condição de invalidez , uma vez que tal

requisito não é exigido em relação à esposa. Entendeu que o art. 201, V da CF/88 possui

eficácia plena e imediata, não subordinando a prévia fonte de custeio específica. A ratio

decidendi

se aplica tanto para o Regime Geral da Previdência Social – RGPS como para o

Regime Próprio de Previdência Social – RPPS, inclusive para os óbito ocorridos

anteriormente a Constituição Federal de 1988 (art. 153, § 1º da CF/69 ). Sobre o tema,

cito os diversos precedentes:

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. CONCESSÃO AO CÔNJUGE VARÃO. ÓBITO DA SEGURADA ANTERIOR AO ADVENTO DA LEI N. 8.213/91. EXIGÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE INVALIDEZ. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA. ARTIGO 201, INCISO V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AUTOAPLICABILIDADE.

1. O Princípio da Isonomia resta violado por lei que exige do marido, para fins de recebimento de pensão por morte da segurada, a comprovação de estado de invalidez (Plenário desta Corte no julgamento do RE n. 385.397-AgR, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJe 6.9.2007). A regra isonômica aplicada ao Regime Próprio de Previdência Social tem aplicabilidade ao Regime Geral (RE n. 352.744-AgR, Relator o Ministro JOAQUIM BARBOSA, 2ª Turma, DJe de 18.4.11; RE n.

585.620-AgR, Relator o Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, 1ª Turma, Dje de 11.5.11; RE n. 573.813-AgR, Relatora a Ministra CÁRMEN LÚCIA, 1ª Turma, DJe de 17.3.11; AI n. 561.788-573.813-AgR, Relatora a Ministra CÁRMEN LÚCIA, 1ª Turma, DJe de 22.3.11; RE 207.282, Relator o Ministro CEZAR PELUSO, 2ª Turma, DJ 19.03.2010; entre outros).

2. Os óbitos de segurados ocorridos entre o advento da Constituição de 1988 e a Lei 8.213/91 regem-se, direta e imediatamente, pelo disposto no artigo 201, inciso V, da Constituição Federal, que, sem recepcionar a parte discriminatória da legislação anterior, equiparou homens e mulheres para efeito de pensão por morte.

3. Agravo regimental não provido.

(RE 607907 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 21/06/2011, DJe-146 DIVULG 29-07-2011 PUBLIC 01-08-2011 EMENT VOL-02556-06 PP-01041)

Óbito ocorrido anterior a CF/88:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PENSÃO POR MORTE INSTIUÍDA ANTES DA CONSTITUIÇÃO FEDERA DE 1988. CÔNJUGE VARÃO. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA IGUALDADE. PRECEDENTES.

O cônjuge varão faz jus ao recebimento de pensão por morte no caso em que o óbito ocorreu na vigência da Constituição Federal de 1969, tendo em conta o princípio da igualdade. Precedentes. Agravo regimental a que se nega provimento.

(RE 439484 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 09/04/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-083 DIVULG 02-05-2014 PUBLIC 05-05-2014)

(3)

Ementa: PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PENSÃO POR MORTE AO CÔNJUGE VARÃO. ÓBITO DA SEGURADA EM DATA ANTERIOR AO ADVENTO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. PRINCÍPIO DA ISONOMIA (ART. 153, § 1º, DA CF/1967, NA REDAÇÃO DA EC 1/1969). PRECEDENTES.

1. Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o óbito da segurada em data anterior ao advento da Constituição Federal de 1988 não afasta o direito à pensão por morte ao seu cônjuge varão. Nesse sentido: RE 439.484-AgR, Rel. Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, DJe

de 5/5/2014; RE 535.156-AgR, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, DJe de 11/4/2011. 2. Agravo regimental a que se nega provimento.

(RE 880521 AgR, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 08/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-054 DIVULG 22-03-2016 PUBLIC 28-03-2016)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE: EXTENSÃO AO CÔNJUGE VARÃO. PRINCÍPIO DA ISONOMIA. PRECEDENTE. AGRAVO REGIMAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

(RE 546169 AgR, Relator(a) Min-CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 14/06/2011, DJe-125 DIVULG 30-06-2011 PUBLIC 01-07-2011)

Trecho do acórdão: "O princípio da igualdade, fundamento principal do precedente citado, também

estava na presente na Carta de 1969 (art. 153, § 1º), razão pela qual deve ser mantida a decisão agravada".

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE: EXTENSÃO AO CÔNJUGE VARÃO. PRINCÍPIO DA ISONOMIA. PRECEDENTE. AGRAVO REGIMAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

(RE 535156 AgR, Relator(a) Min-CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 23/03/2011, DJe-068 DIVULG 08-04-2011 PUBLIC 11-04-2011)

Trecho do acórdão: "Ressalte-se que o princípio da igualdade, fundamento principal do precedente

citado, também estava presente na Constituição da República de 1969, razão pela qual deve ser mantida a decisão agravada".

Eficácia plena e imediata independente da existência de fonte de custeio:

EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário. Previdenciário. Pensão por morte. Cônjuge varão. Demonstração de invalidez. Princípio da isonomia. Aplicabilidade imediata do Regime Geral de Previdência Social. Precedentes.

1. A regra isonômica aplicada ao Regime Próprio de Previdência Social também se estende ao Regime Geral de Previdência Social. 2. O art. 201, inciso V, da Constituição Federal, que equiparou homens e mulheres para efeito de pensão por morte, tem aplicabilidade imediata e independe de fonte de custeio.

3. A Lei nº 8.213/91 apenas fixou o termo inicial para a aferição do benefício de pensão por morte. 4. Agravo regimental não provido.

(RE 415861 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 19/06/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-150 DIVULG 31-07-2012 PUBLIC 01-08-2012 RSTP v. 24, n. 279, 2012, p. 172-177)

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA. PENSÃO POR MORTE. CÔNJUGE VARÃO. ÓBITO ANTERIOR AO ADVENTO DA LEI 8.213/91. PRINCÍPIO DA ISONOMIA. INCIDÊNCIA DA REDAÇÃO ORIGINAL DO ART. 201, V, DA CONSTITUIÇÃO. AUTOAPLICABILIDADE. ART. 195, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO. EXIGÊNCIA DE FONTE DE CUSTEIO. DESNECESSIDADE.

Agravo regimental a que se nega provimento.

(RE 352744 AgR, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 01/03/2011, DJe-073 DIVULG 15-04-2011 PUBLIC 18-04-2011 EMENT VOL-02505-01 PP-00056)

Ementa: PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PENSÃO POR MORTE AO CÔNJUGE VARÃO. ÓBITO DA SEGURADA ANTERIOR AO ADVENTO DA LEI 8.213/91. PRINCÍPIO DA ISONOMIA. AUTOAPLICABILIDADE DO ART. 201, INCISO, V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o óbito da segurada em data anterior

ao advento da Lei 8.213/91 não afasta o direito à pensão por morte ao seu cônjuge varão, tendo o art. 201, inciso V, da Constituição Federal, que equiparou homens e mulheres para efeito de pensão por morte, aplicabilidade imediata (RE 415.861 AgR, 1ª Turma, Min. Dias Toffoli, Dje de

(4)

01/08/12; RE 352.744 AgR, 2ª Turma, Min. Joaquim Barbosa, DJe 18/04/11). 2. Agravo regimental a que se nega provimento.

(RE 493892 AgR, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 27/08/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-178 DIVULG 10-09-2013 PUBLIC 11-09-2013)

EMENTA: SERVIDOR PÚBLICO. Associado obrigatório do instituto previdencial. Inclusão do cônjuge como dependente após a EC nº 20/98. Indicação de fonte de custeio. Desnecessidade. Aplicabilidade direta e imediata do art. 201, V, da Constituição Federal. Recurso extraordinário provido. Precedentes. Independe da indicação de fonte de custeio, a inclusão do cônjuge, pelo servidor público, como seu dependente para fins previdenciários.

(RE 207282, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em 02/03/2010, DJe-050 DIVULG 18-03-2010 PUBLIC 19-03-2010 EMENT VOL-02394-02 PP-00463 LEXSTF v. 32, n. 376, 2010, p. 159-163 RJTJRS v. 46, n. 281, 2011, p. 29-31)

7. Entendimento da TNU: A despeito do entendimento inicial em sentido contrário, ou

seja, pela impossibilidade de concessão de pensão por morte a marido não inválido na

hipótese de óbito da esposa em data anterior a 05/10/1988 [1) PEDILEF

05074089520104058200

1

, Juiz Federal LUIZ CLAUDIO FLORES DA CUNHA, TNU, DOU

1 O entendimento anterior da TNU se encontra bem retratado no acórdão abaixo:

PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE A MARIDO SOBREVIVENTE. MORTE DA ESPOSA EM DATA ANTERIOR A 05/10/1988. IMPOSSIBILIDADE. DECRETO 89.312/84 VEDAVA A HIPÓTESE E NÃO ENCONTRAVA ÓBICE NO TEXTO CONSTITUCIONAL VIGENTE. A HIPÓTESE SOMENTE PASSA A SER AMPARADA PELO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL A MARIDOS NÃO INVÁLIDOS A CONTAR DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. PARADIGMA APONTADO VÁLIDO, MAS DISSONANTE DA POSIÇÃO TRADICIONAL DA JURISPRUDÊNCIA, JÁ HÁ TANTO PACIFICADA, SOBRE O TEMA. PEDILEF CONHECIDO E NÃO PROVIDO.

O requerente busca a concessão de pensão pela morte de sua esposa, ocorrido em 22/10/1984.

Embora a Sentença e o Acórdão lhe tenham negado o direito, o requerente traz um paradigma que, embora antigo, se mostra adequado aos limites do caso concreto, em que Turma Recursal da Seção Judiciária de São Paulo, por maioria, admitiu a concessão de pensão por morte a marido não inválido para óbito de esposa ocorrido antes da Constituição Federal de 1988.

Trata-se do Recurso Inominado 2002.61.84.016308-1, da relatoria da Juíza Federal Mônica Autran Machado Nobre, equivocadamente citado pela parte requerente como tendo se dado pela TNU, mas ainda assim válido, já que se trata de precedente de Turma Recursal de Região diversa daquela da origem do processo em exame.

Contudo, não espelha nem a Jurisprudência da TNU, nem do STJ e nem de qualquer outra instância federal, muito provavelmente tendo sido situação isolada dentro da própria Jurisprudência paulista.

Veja-se que a Constituição Federal de 1967, vigente ao tempo do óbito da Sra. Josefa Fernandes Barbosa, esposa do requerente, não constitucionalizara a questão da pensão por morte.

Dizia a Constituição apenas o que segue a respeito dos direitos previdenciários:

“Art 158 - A Constituição assegura aos trabalhadores os seguintes direitos, além de outros que, nos termos da lei, visem à melhoria, de sua condição social: (...)

XVI - previdência social, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, para seguro-desemprego, proteção da maternidade e, nos casos de doença, velhice, invalidez e morte; (...)

XX - aposentadoria para a mulher, aos trinta anos de trabalho, com salário integral;”

Assim, o Decreto 89.312/84, ao estabelecer a pensão por morte em condições distintas ao cônjuge sobrevivente, conforme fosse mulher (direito amplo) ou homem (direito restrito aos inválidos), não ofendia o texto constitucional, que não assegurava a igualdade material de direitos entre homens e mulheres. Aliás, nem a sociedade entendia essa diferenciação de forma estranha, mas antes era o natural para aquele tempo. Dizia o Decreto:

“Art. 10. Consideram-se dependentes do segurado:

I - a esposa, o marido inválido, a companheira mantida há mais de 5 (cinco) anos, o filho de qualquer condição menor de 18 (dezoito) anos ou inválido e a filha solteira de qualquer condição menor de 21 (vinte e um) anos ou inválida;

(...)

§ 3º Inexistindo esposa ou marido inválido com direito às prestações, a pessoa designada pode, mediante declaração escrita do segurado, concorrer com os filhos deste.”

Foi a Constituição Federal de 05/10/1988 que assegurou a igualdade entre homens e mulheres inclusive quanto ao direito à pensão por morte.

Dizia em seu artigo 201, inciso V e § 5º:

“Art. 201. Os planos de previdência social, mediante contribuição, atenderão, nos termos da lei, a: (...)

V - pensão por morte de segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, obedecido o disposto no § 5º e no art. 202.

(5)

02/05/2014 PÁGINAS 93/167; 2) PEDILEF 05033653220124058302, Juíza Federal KYU

SOON LEE, TNU, DOU 21/03/2014 Seção 1, pág. 97/127; 3) PEDILEF

0500001-32.2015.4.05.8501, Rel. Juiz Federal DOUGLAS CAMARINHA GONZALES, julgado em

16.03.2016, publicado no DOU, Seção 1, Páginas 113/247], a TNU se conformou ao

entendimento do STF no PEDILEF 501462934.2013.4.04.7001, Rel. Juiz Federal

GERSON LUIZ ROCHA, julgado em 20.10.2016, publicado no DOU 10.11.2016, Seção 1,

páginas 67/566), cabendo destacar o seguinte trecho do julgado:

"Observo que, em relação aos óbitos verificados entre a promulgação da Constituição Federal de 1988 e a vigência da Lei nº 8.213/91, esta Turma Nacional já encontra-se alinhada à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, no sentido de que independentemente da edição da mencionada lei reguladora, o art. 201, V, da Carta Política, assegura, diretamente, tratamento igualitário entre homens e mulheres, de modo que a exigência de invalidez do cônjuge ou companheiro varão, para efeito de pensão por morte, deve ser afastada. Nesse sentido, PEDILEF000776094.2008.4.03.6306 (Relator Juiz Federal Douglas Camarinha Gonzales, DJU 09/10/2015):

PREVIDENCIÁRIO.INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO INTERPOSTO PELO INSS. PENSÃO POR MORTE A MARIDO NÃO INVÁLIDO. ÓBITO DA SEGURADA OCORRIDO ENTRE A DATA DE PROMULGAÇÃO DA CF/88 E A ENTRADA EM VIGOR DA LEI Nº 8.213/91. PRINCÍPIO DA ISONOMIA. AUTOAPLICABILIDADE. ACÓRDÃO RECORRIDO NO MESMO SENTIDO DA JURISPRUDÊNCIA DA TNU. INCIDÊNCIA DA QUESTÃO DE ORDEM Nº 13. INCIDENTE NÃO CONHECIDO.

Todavia, no que diz respeito aos óbitos ocorridos anteriormente à Constituição de 1988, não obstante o entendimento desta Turma Nacional, refletido no precedente trazido à colação pelo INSS, penso que tal posicionamento merece ser revisto, em razão dos precedentes do Supremo Tribunal Federal que entendem que a discriminação em relação ao cônjuge varão, exigindo a invalidez para a concessão do benefício de pensão pelo falecimento da mulher, contida na legislação que regulava o regime previdenciário ainda na vigência da Constituição Federal de 1967, afronta a garantia de igualdade que já vigia naquela época.

(...)

§ 5º Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo.”

O que muito se discutiu na Justiça desde então, mas que encontrou pacificação, após alguma discórdia, foi se óbitos de esposas ou companheiras ocorridos entre 05/10/1988 e 05/04/1991, data limite do prazo constitucional dado aos Poderes Executivo e Legislativo para edição da Lei de Benefícios, dariam ou não ensejo à pensão por morte.

Sempre me filiei à posição da autoaplicabilidade do artigo 201, inciso V, da Constituição Federal de 1988, bastando que se aplicasse as disposições do Decreto 89.312/84 em interpretação conforme, com ajuste dos benefícios mediante revisão para aplicação do disposto na Lei 8.213/91 a partir de sua edição.

De toda forma o tema encontrou pacificação, como disse, e há vários precedentes inclusive da TNU nesse mesmo sentido.

Mas não encontrei precedentes específicos para óbitos ocorridos antes da Constituição Federal de 1988.

Isso porque redunda em determinar a retroatividade de sua aplicação para situações já consolidadas na vigência de outra Constituição, sem qualquer determinação em seu texto em mesmo sentido.

O óbito da segurada é o fato gerador do benefício da pensão por morte, ali, naquele momento exato, devem ser colhidos os estatutos legais aplicáveis à situação sob exame.

Em 22/10/1984, quando do óbito da Sra. Josefa, o que se devia aplicar era o disposto no Decreto 89.312/84, que em nada se chocava com a Constituição Federal de 1967, diversas vezes emendada e não nesse aspecto.

Assim, entendo que a TNU deva reafirmar a Jurisprudência tradicional de que apenas com o advento da Constituição Federal de 1988 pode-se falar em pensão por morte da esposa ao marido sobrevivente.

As invocações de textos da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Pacto de San José da Costa Rica são estranhas ao objeto dos autos, já que tratam da igualdade de condições de homem e mulher no casamento e no caso de sua dissolução, não se referindo às normas de previdência social dos países signatários.

Ante o exposto, voto por conhecer e negar provimento ao Pedido de Uniformização da Interpretação de Lei Federal, para reafirmar a tese da impossibilidade de concessão de pensão por morte a marido não inválido, na hipótese de óbito da esposa em data anterior a 05/10/1988, data da promulgação da Constituição Federal, que introduziu o direito de forma ampla aos maridos e companheiros. Julgamento realizado de acordo com o art. 7º, VII, a, do RITNU, servindo

como representativo de controvérsia.

(PEDILEF 05074089520104058200, JUIZ FEDERAL LUIZ CLAUDIO FLORES DA CUNHA, TNU, DOU 02/05/2014 PÁGINAS 93/167.)

(6)

Como se vê, é entendimento do Supremo Tribunal Federal que a "já à época da instituição da pensão, afigurava-se inconstitucional a exigência, veiculada no art. 11, I, da Lei 3.807/1960 e no art. 12, I, do Decreto 83.080/79, de comprovação da condição de invalidez do cônjuge varão para que fosse considerado dependente da segurada."

Por conseguinte, penso que deve esta Turma Nacional alinhar-se a tal entendimento, de modo que conheço do recurso e nego-lhe provimento, fixando a seguinte tese: É desnecessária a

comprovação da condição de invalidez do cônjuge varão para que seja considerado dependente da segurada falecida na vigência da Constituição Federal de 1967 (EC nº 01/69), em face da inconstitucionalidade da exigência contida no art. 11, I, da Lei 3.807/1960 e no art. 12, I, do Decreto 83.080/79.

8. Assim, diante de tudo o que foi dito e tal como decidiu a sentença de origem, é de se

deferir o benefício da pensão por morte ao autor, na medida em que preenchidos todos

os requisitos exigidos pela lei de regência.

9. Ante o exposto, CONHEÇO e NEGO PROVIMENTO ao recurso inominado. Manutenção da

sentença pelos próprios fundamentos (art. 46 da Lei n.º 9.099/95 c/c o do art. 1º da Lei

nº 10.259/2001) com os acréscimos aqui efetuados.

Sucumbência: Sem condenação em custas, uma vez que: 1) a parte autora é

beneficiária da justiça gratuita; 2) o ente público somente está obrigado a devolver as

custas antecipadas pela outra parte. Condeno o recorrente-vencido [INSS] em honorários

advocatícios no percentual de 10% (dez por cento), sobre as prestações vencidas, nos

termos da Súmula n.º 111 do STJ.

ACÓRDÃO

Certificação do resultado e composição da Turma conforme certidão de julgamento.

FÁBIO CORDEIRO DE LIMA

Referências

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