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AS ATUAIS POLÍTICAS DA REDE OFICIAL DE ENSINO BÁSICO DE SÃO PAULO: Membros de uma realidade perversa

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Academic year: 2021

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AS ATUAIS POLÍTICAS DA REDE OFICIAL DE ENSINO BÁSICO

DE SÃO PAULO: Membros de uma realidade perversa

Luís Fernando de Freitas Camargo

Professor do Curso de Geografia e Especialização em PROEJA

Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo – CEFET-SP

Membro da diretoria da AGB – Seção São Paulo

A década de 1980 marca um período de euforia da população brasileira devido ao possível processo de redemocratização e essa “esperança” se expressava também nas pessoas que idealizavam os novos “projetos de governo”. Assim, a Educação Paulista foi precursora de uma nova sugestão curricular para o ensino de 1º e 2º graus que irá contaminar todo o território nacional. Tal proposta, elaborada a partir de um quadro de representação de professores, se organizou em quatro versões; idealizada para todos os componentes curriculares, algumas, consideradas mais polêmicas, como as de Geografia e História, tiveram um percurso mais sinuoso de implementação. Esses documentos elaborados pela Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas - CENP foram denominados de Propostas Curriculares e marcaram um momento importante de revisão do currículo da escola básica. Coincidentemente, o rótulo dessas Propostas Curriculares são utilizados, agora, porém apresentando uma fundamentação metodológica sem nenhuma correspondência com a anterior, valorizando a afirmação marxista de que os “fatos da historia se repetem uma segunda vez como farsa”.

Na verdade, uma rápida análise das atuais Propostas Curriculares permite afirmar que desta vez, o currículo como mecanismo de controle, ultrapassou os limites da dissimulação (próprio de uma estrutura neoliberal) e se explicitou como instrumento concreto de manipulação “fascista” do cotidiano da escola.

Tudo começa com uma pretensa “recuperação” que ameaça o professor frente aos seus rendimentos, caso os alunos não consigam responder uma

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avaliação elaborada segundo critérios estabelecidos pela Secretaria da Educação; recuperação essa justificada pela defasagem no conhecimento do aluno, detectada nas avaliações centrais (SARESP). Esse argumento permitiu a distribuição de materiais didáticos em que, segundo um roteiro estabelecido aula a aula, os professores deveriam desenvolver os conteúdos designados por especialistas da Secretaria da Educação ou por ela contratados. No caso da Geografia do ensino fundamental, os elementos e técnicas da Cartografia se expressaram como principal conteúdo, até porque foram elaborados por professores de Matemática. A denominada edição especial da Proposta Curricular de Geografia que definiu essa recuperação foi organizada por professores de Matemática, numa explicita alusão de descompromisso com as ciências humanas e com o desvendamento da realidade social. Uma das autoras, a Professora Célia Maria Carolino Pires, além de professora de Matemática, é também, coordenadora geral dos cadernos denominados de: Orientações Curriculares que estão sendo produzidos pela Secretaria Municipal de Educação e que têm pretensões semelhantes à das Novas Propostas Curriculares do Governo do Estado.

Na década de 1980, pelo menos no discurso, os órgãos centrais reconheciam que era importante uma leitura crítica da realidade, visto que esta possibilitaria ao aluno, do ensino básico, estabelecer relações e se colocar como um indivíduo que está apto a “aprender a aprender” e, portanto, se inserir no mercado de trabalho. Entretanto, o atual currículo da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo não reconhece essa habilidade a ponto de designar professores de Matemática para elaborarem os conteúdos de Geografia, e pior, retiram aulas desse e de outros componentes, no 3º ano do ensino médio, para a incorporação de uma nova disciplina que promete qualificar melhor o aluno para o mundo do trabalho. Nesse sentido, a idéia que prevalecia sobre a qualificação do trabalhador, a partir de relações mais articuladas, necessárias para as novas funções produtivas (toiotismo) não é mais considerada, visto que as ciências humanas estão sendo duramente “golpeadas” no âmbito da educação básica. Aliás, retirar disciplinas que estimulam uma reflexão social para colocar outras

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sem definição (explícita) de objetivos já foi estratégia da ditadura militar, reiterada pela Lei de Diretrizes e Bases 5692/71.

A ideologia da qualificação ou formação profissional como mecanismo de vulgarização da reflexão:

É importante desmascarar o conceito de “qualificação” profissional como argumento para explicitar a falta de emprego na sociedade brasileira. A acumulação ampliada do capital e o conseqüente avanço da tecnologia, expulsaram o trabalhador da linha de produção, ou seja, as “máquinas inteligentes” descartaram o trabalho operário e promoveram o desemprego estrutural. Este trabalhador, sem a possibilidade de comércio da sua força de trabalho, muitas vezes, vai se ocupar com atividades relacionadas à economia informal, realizando a circulação e viabilizando o circuito do comércio e do consumo. Assim, o trabalhador perdeu a sua dimensão de produtor material e se transformou em “funcionário” do chamado setor terciário – o de serviços. Portanto, o desemprego é contexto da realidade presente e não responsabilidade individual do trabalhador sem qualificação, mesmo porque algumas pesquisas demonstram que, nos últimos 10 anos, a escolaridade e a qualificação promoveram, concretamente, o rebaixamento dos salários (os salários foram cortados pela metade) e um aumento considerável nas taxas de desemprego.1[1][1]

Levar em conta tal realidade é importante para desmontar ou destruir o argumento utilizado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo na inserção de uma disciplina extra-curricular que tem como objetivo a veiculação de conteúdos profissionalizantes, conforme o que está explicitado na resolução nº 92 de 19 de dezembro de 2007. Na referida resolução, fica definido que a formação profissional pretendida a partir dessa disciplina será feita em parceria com o Centro Estadual de Educação Tecnológica “Paula Souza” – CEETEPS. Entretanto, na realidade da escola, o que está sendo utilizado como material

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de suporte é um “Guia” elaborado pela Editora Abril, destinado aos vestibulandos.

Essa situação define uma “estranha” sociedade entre Estado e iniciativa privada. Vale destacar que a mesma Editora Abril é responsável pela Revista Veja, que tem se colocado como principal veículo de promoção das políticas voltadas para escola pública estadual. Várias matérias têm sido destinadas à divulgação do discurso oficial da Secretaria da Educação. A título de ilustração, os materiais produzidos e denominados de Propostas Curriculares não têm seriedade, sequer nos profissionais que as elaboraram, se considerado o documento de Geografia, por exemplo, conforme já foi salientado. No entanto, a resistência dos professores frente a essa determinação possibilitou manifestações públicas, na tentativa de denunciar esse projeto de controle curricular; tais manifestações rapidamente foram entendidas como “expressões da inquisição ou do nazismo” na interpretação da Revista Veja nº 2056. Na reportagem denominada “Fogueira ideológica” a revista ressalta que os professores, com essas manifestações, rejeitam ser controlados pelo Estado e isso se apresenta como verdadeiro absurdo na visão da jornalista Camila Pereira, omitindo, entretanto, que tal controle é o que efetivamente determina uma prática nazista.

Na essência, parece que se trata, de fato, de uma troca de favores. Na semana seguinte a essa reportagem, a Revista Atualidades Vestibular da Editora Abril é adotada como manual para a essa nova disciplina de apoio curricular “profissionalizante” que “rouba” seis aulas da grade do 3º ano do ensino médio.

Por outro lado, qualquer professor pode assumir essa nova disciplina, o que facilita a prática do “apadrinhamento” no interior da escola pública, ao mesmo tempo em que se estabelece a redução da carga disponível para professores, principalmente aqueles das ciências humanas, ciências que, segundo o atual discurso, não combina com as necessidades técnicas da “sociedade informática”.

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A guisa de algumas considerações:

Todo esse conjunto de procedimentos, identificados hoje com a flexibilização da ocupação escolar, ao mesmo tempo em que impõe o controle da atividade docente por parte da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, estabelece um plano burocrático que intensifica o trabalho como mecanismo de isolamento do professor e rotinização da sua prática, definindo a sua desqualificação intelectual e reforçando a idéia de que ele (o professor) precisa se renovar, se adaptar, se dotar de novas técnicas para por em prática uma outra proposta curricular, como se o seu conhecimento acumulado fosse algo obsoleto e, portanto, desprezível nesse processo.

Não é possível que aqueles que tenham o mínimo de compromisso com a Escola Pública fiquem omissos a essa cruel realidade. É importante que a sociedade civil organizada, através dos sindicatos, associações e entidades de classe, além dos próprios professores das universidades (principalmente as públicas), denunciem tal encaminhamento e assegurem um debate permanente sobre a educação neste Estado (São Paulo) e neste país.

Assim, é importante que a Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB, através do Grupo de Trabalho instaurado no ultimo “Fala Professor” em Uberlândia / MG, organize uma grande manifestação no próximo XV Encontro Nacional de Geógrafos a se realizar em São Paulo, no período de 20 a 26 de julho de 2008, a fim de conduzir um efetivo diálogo entre entidades e órgãos públicos, com vistas, não só a revisão deste “estado de coisas”, mas principalmente consolidando uma discussão permanente sobre o futuro da educação básica no Brasil .

1[1][1] POCHMANN, Marcio. Educação e trabalho: como desenvolver uma relação virtuosa?

Referências

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