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EXCELENTÍSSIMO DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO RJ

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Gerência Tribunais Superiores BJ 100170375032

EXCELENTÍSSIMO DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO RJ

Grerj eletrônica nº: 30818661271-50

Apelação nº 0308153-29.2009.8.19.0001

BANCO ITAUCARD S/A, já qualificado nos autos da ação interposta por PERIVAL GOMES BEZERRA, com fulcro nos artigos 105, inciso III, alíneas “a” e “c”, da Constituição Federal e 541 e seguintes do Código de Processo Civil, vem interpor

RECURSO ESPECIAL

pelas razões anexas, requerendo, uma vez recebidas, sejam remetidas ao Superior Tribunal de Justiça.

Requer, por oportuno, a juntada da guia devidamente recolhida, referente ao porte de remessa e retorno do Recurso Especial.

Rio de Janeiro, 17 de Março de 2016

_________________________________ Laura Maria Ribeiro Gomes de Queiroz

OAB/RJ 127.561

TJRJ 201600151730 18/03/2016 18:08:00 K?F? - PETIÇÃO ELETRÔNICA Assinada por LAURA MARIA RIBEIRO GOMES DE QUEIROZ

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RAZÕES DE RECURSO ESPECIAL

Recorrente: BANCO ITAUCARD S/A

Recorrido: PERIVAL GOMES BEZERRA

Apelação nº: 0308153-29.2009.8.19.0001

Colenda Corte,

Trata-se de recurso especial interposto com fulcro no art. 105, inciso III, alíneas “a” e “c”, da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado RJ que, em agravo interno manteve os fundamentos exarados pela decisão monocrática do relator nos seguintes termos:

Decisão Monocrática

“Apelação Cível – Ação de prestação de contas – Cartão de crédito – Direito do consumidor em exigir a prestação de contas – Aplicação por analogia da Súmula nº 259 do STJ – Condenação do Réu a prestar contas na forma mercantil na primeira fase do processo – Desnecessidade de intimação pessoal para deflagrar a segunda fase – Inércia do réu em prestá-las – Homologação dos cálculos apresentados pelo autor, na forma prevista no artigo 915, §§ 2º e 3º, do CPC – Pretensão de rediscutir questões já decididas na primeira fase de prestação de contas - Descabimento – Negativa de seguimento do recurso, na forma do artigo 557, caput, do Código de Processo Civil.“

Acórdão Agravo Interno

“Agravo interno em apelação cível – Ação de prestação de contas – Cartão de crédito – Direito do consumidor em exigir a prestação de contas – Aplicação por analogia da Súmula nº 259 do STJ – Condenação do Réu a prestar contas na forma mercantil na primeira fase do processo – Desnecessidade de intimação pessoal para deflagrar a segunda fase – Inércia do réu em prestá-las – Homologação dos cálculos apresentados pelo autor, na forma prevista no artigo 915, §§ 2º e 3º, do CPC – Pretensão de rediscutir questões já decididas na primeira fase de prestação de contas - Descabimento – Reiteração dos mesmos argumentos em sede de agravo interno – Desprovimento do recurso. “

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Acórdão Embargos de Declaração

“Agravo interno em apelação cível – Ação de prestação de contas – Cartão de crédito – Direito do consumidor em exigir a prestação de contas – Aplicação por analogia da Súmula nº 259 do STJ – Condenação do Réu a prestar contas na forma mercantil na primeira fase do processo – Desnecessidade de intimação pessoal para deflagrar a segunda fase – Inércia do réu em prestá-las – Homologação dos cálculos apresentados pelo autor, na forma prevista no artigo 915, §§ 2º e 3º, do CPC – Pretensão de rediscutir questões já decididas na primeira fase de prestação de contas - Descabimento – Reiteração dos mesmos argumentos em sede de agravo interno – Desprovimento do recurso. “

DA TEMPESTIVIDADE

Considerando que a publicação do acórdão recorrido ocorreu em 03/03/2016 (quinta-feira), o prazo para interposição do Recurso Especial se encerrará em 18/03/2016 (sexta-feira).

Tempestivo, portanto, o protocolo deste recurso na presente data.

DO CABIMENTO

O presente recurso insurge-se contra o acórdão recorrido pela alínea “a”, do art. 105, inciso III, CF, por entender que violou aos seguintes dispositivos de lei federal:

• Arts. 1022, I e II, por omissão do tribunal de origem quanto à arguição de coisa julgada, pois o v. acórdão não enfrentou tal questão;

• Art. 550, do CPC, vez que no contrato de mútuo derivado de um contrato originário de cartão de crédito, a instituição financeira não faz gestão de patrimônio alheio;

• Art. 327, §1º, III, do CPC, pois é condição sine qua non para o deferimento da cumulação que os pedidos tenham ritos procedimentais compatíveis entre si.

O recurso também se insurge em face do acórdão recorrido com fulcro na alínea “c”, do art. 105, inciso III, CF, por divergência em face da jurisprudência veiculada no(s) seguinte(s) precedente(s) paradigmático(s):

• AgRg no AREsp 468.908/MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, que entendeu não ser cabível prestação de contas de cartão de crédito;

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• REsp 1.231.027/PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, e AgRgAI 1.094.287/MG, Rel. Min. João Otávio Noronha, que assentaram a impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em sede de ação de prestação de contas, em razão da diversidade de ritos.

OMISSÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO QUANTO A MATÉRIA ESSENCIAL AO DESLINDE DA LIDE – VIOLAÇÃO AO ART. 1022, I e II DO CPC – MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA

PASSÍVEL DE ANÁLISE DE OFÍCIO

Visando obter expresso posicionamento do Tribunal Local quanto a questão de ordem pública relevante para o deslinde da lide, o recorrente opôs oportunamente Embargos Declaratórios. No entanto, o E. Tribunal entendeu sequer apreciou tal questão

Ao assim decidir, o Tribunal local negou vigência ao seguinte dispositivo de lei federal:

a) art. 1022, I e II, do CPC por deixar de se manifestar sobre ponto essencial para o deslinde do feito.

Diante do exposto, a manifesta omissão do Tribunal que há de ser corrigida por esse C. STJ, com o acolhimento da preliminar de nulidade da decisão guerreada e consequente remessa dos autos ao Tribunal local para, com fulcro no art. 1022, II do CPC, sanar a omissão mediante apreciação dos pontos abordados nos embargos declaratórios.

FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL – IMPOSSIBILIDADE DE PRESTAÇÃO DE CONTAS EM CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO

O acórdão recorrido afastou a preliminar de falta de interesse de agir, conquanto o recorrido tenha formulado pedido de prestação de contas em contrato de mútuo derivado de um contrato originário de cartão de crédito, a partir do momento em que optou pelo parcelamento das faturas.

Ao assim decidir, a decisão guerreada violou o art. 914, do CPC, uma vez que no contrato de cartão de crédito a instituição financeira não faz gestão de patrimônio alheio, de modo que a prestação de contas não é a medida judicial pertinente para debater encargos ou lançamentos decorrentes dessa relação jurídica.

Na relação estabelecida entre as partes em contrato de cartão de crédito a instituição financeira efetua os pagamentos dos fornecedores dos produtos comprados pelo cliente, com recursos próprios, até determinado limite convencionado entre as partes. Ao final do período estipulado para o vencimento da fatura o cliente tem a opção de quitar integralmente os valores adiantados pelo Banco naquele período aos fornecedores ou parcelar o pagamento deste valor nas próximas faturas. Nesta hipótese, converte-se a relação em mútuo, cabendo ao financiado restituir o montante agora acrescido dos encargos previstos no contrato.

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Note que nas duas situações, quitação a vista ou parcelada, a instituição financeira não faz gestão do patrimônio alheio, tampouco atua por força de cláusula mandato. Muito ao contrário, é o recorrido quem tem o controle dos valores e escolhe onde e quando usar o cartão.

Com efeito, o procedimento especial da ação de prestação de contas é dividido em duas fases, sendo que, na primeira, verifica-se unicamente se o Demandado está ou não obrigado a prestá-las e, caso seja exigível, será na segunda fase realizada a análise das contas.

Efetivamente, o disposto no art. 915, § 2º do CPC não impõe a homologação automática das contas apresentadas pelo autor quando o réu, condenado a prestá-las, omite-se ou as apresenta intempestivamente, cabendo ao juiz avaliar os cálculos apresentados, podendo valer-se do auxílio de perícia contábil.

Contudo, é notório que as contas apresentadas pelo Recorrido partem da presunção da existência de capitalização dos juros. Assim, por via transversa, a r. sentença recorrida abraçou também a tese da impossibilidade de cobrança de juros em valores superiores a 12% ao ano, o que já restou ultrapassado há muito, além se não ser tal matéria objeto da ação de prestação de contas.

Com efeito, a r. sentença recorrida está diametralmente oposta ao que dos autos consta, de forma não parecer crível que o Recorrido expurgue por sua conta o que entender devido, até chegar ao absurdo crédito de R$ 20.202,85 (vinte mil duzentos e dois reais e oitenta e cinco centavos).

Efetivamente as contas apresentadas pelo Recorrido às fls. partem da presunção da existência de capitalização dos juros. Assim, por via transversa, a r. sentença recorrida abraçou também a tese da impossibilidade de cobrança de juros em valores superiores a 12% ao ano, o que já restou ultrapassado há muito, além se não ser tal matéria objeto da ação de prestação de contas.

As questões atinentes a tais pontos fogem por completo aos estreitos limites da presente ação prestação de contas, na forma dos artigos mencionados.

Como se vê do quadro abaixo, o acórdão paradigma é apto a demonstrar o dissenso jurisprudencial que autoriza o conhecimento deste recurso especial também pela alínea “c”, do art. 105, III da CF, na medida em que retratam a mesma hipótese fática:

Acórdão recorrido Acórdão paradigma – AgRg no AREsp

468.908/MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti – Quarta Turma*.

Base fática: Trata-se de ação de Prestação de Contas ajuizada pela parte autora, alegando, em síntese, que é titular do cartão de crédito administrado pelo réu.

Base fática: prestação de contas de cartão d crédito.

Conteúdo decisório:

"(...) Portanto, é dever das instituições financeiras administradoras de cartões de crédito exibir, sempre que solicatadas, cópia dos documentos comuns entre as partes contratantes, mesmo que

Conteúdo

decisório:

provimento

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE FINANCIAMENTO (CARTÃO DE CRÉDITO). AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. SÚMULA 259 DO STJ. INADEQUAÇÃO DA VIA

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tenha enviado ao cliente extratos das movimentações do cartão de crédito. A ação de prestação de contas caracteriza-se como procedimento especial de jurisdição contenciosa, normatizado nos artigos 914 a 919 do Código de Processo Civil, e que se presta, essencialmente, a dirimir incertezas surgidas a partir da administração de bens, negócios e interesses alheios, cabendo ao gestor a apresentação minuciosa de todas as receitas e despesas envolvidas na relação jurídica e, ao final, a exibição do saldo, que tanto pode ser credor quanto devedor.(...)”

ELEITA. INTERESSE DE AGIR. CARÊNCIA DE AÇÃO. REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. IMPOSSIBILIDADE.

(...)

3. Na hipótese de contrato de financiamento, ou como no caso dos autos, de cartão de crédito, não há entrega de recursos financeiros do correntista à instituição financeira ou à administradora (depósitos), para que os administrem ou efetuem pagamentos, mediante débitos em conta-corrente. A instituição financeira ou administradora promove o pagamento aos fornecedores dos produtos ou serviços adquiridos pelo usuário, perdendo a disponibilidade dos valores correspondentes até o limite convencionado, os quais acaso não quitados no prazo estipulado convertem-se em modalidade de empréstimo, cabendo ao financiado restituir o valor emprestado, com os encargos e na forma pactuados. Não há, portanto, interesse de agir para pedir prestação de contas, de forma mercantil (CPC, art. 917), a fim de apurar os encargos dos financiamentos necessários à quitação dos débitos ao longo da relação contratual.

4. Se o usuário não possui os documentos necessários para a compreensão dos encargos contratados, assiste-lhe o direito de ajuizar ação

de exibição de documentos.

5. A pretensão deduzida na inicial, voltada, na realidade, a aferir a legalidade dos encargos cobrados (taxas de juros, tarifas etc.), deveria ter sido veiculada por meio de ação ordinária de revisão de contrato, cumulada com repetição de eventual indébito, no curso da qual poderia ser requerida exibição de documentos, caso não postulada esta em medida cautelar preparatória. 6. Na espécie de contrato em exame, não há abusividade na estipulação da cláusula-mandato porque inerente ao funcionamento do sistema, não incidindo o óbice do enunciado 60 da Súmula do STJ (3ª Turma, AgRg no REsp 796.466/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 2.2.2011; 4ª Turma, REsp 296.678/RS, Rel. p/ acórdão Min. Fernando

Gonçalves, DJe 1º.12.2008).

7. Não se alega, no caso presente, o pagamento indevido, pela instituição financeira ou administradora, a fornecedores de produtos ou serviços adquiridos pelo usuário. Não foi alegado, específica e concretamente, pagamento efetuado em nome do usuário e por este contestado, hipótese em que, em tese, caberia a prestação de contas dos valores desembolsados em nome do cliente. 8. A jurisprudência de ambas as Turmas que compõem a Segunda Seção do STJ reconhece a impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em sede de ação de prestação de contas, em razão da diversidade e

incompatibilidade de ritos.

9. Agravo regimental a que se nega

."

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* O acórdão paradigma foi publicado no DJe no dia 18/06/2014. Trata-se de documento autêntico (declarado autêntico pelo patrono da parte recorrente), que se encontra anexado ao recurso especial no seu inteiro teor, obtido, vale dizer, via internet pelo site http://www.stj.jus.br/.

O acórdão recorrido afastou a preliminar de falta de interesse processual por não entender prejudicial a via da prestação de contas para contratos de cartão de crédito.

O acórdão paradigma, entretanto, considerando que a instituição financeira não faz gestão de patrimônio alheio nos contratos de cartão de crédito, acolheu a preliminar por falta de interesse de agir da parte.

Além disso, vale ressaltar que a decisão recorrida dissentiu do mais recente posicionamento da Ministra Maria Isabel Gallotti, especificamente no julgamento do REsp 1.250.126/RS (Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 04/04/2013).

Comprovadas a violação de lei federal e a divergência jurisprudencial, requer-se o conhecimento e o provimento deste recurso pelas alíneas “a” e “c” do art. 105, III, da CF/88 para reconhecer a falta de interesse de agir do recorrido em razão da impossibilidade de se formular pedido de prestação de contas em contrato de cartão de crédito.

FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL. PEDIDO REVISIONAL EM AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. VIOLAÇÃO DE LEGISLAÇÃO FEDERAL E DISSENSO JURISPRUDENCIAL

O acórdão recorrido afastou a preliminar de ausência de interesse processual por entender que a ação de prestação de contas era o meio adequado a atender a pretensão do recorrido, que seria o de apenas ver esclarecidos os lançamentos de sua conta e não o de rever cláusulas contratuais ou mesmo declara-las nulas a luz da legislação aplicável.

No entanto, não é o que depreende da simples leitura da inicial, cujos trechos pede-se venia para destacar abaixo:

"(...) Salienta, ainda, que tal cartão de crédito possui limite de crédito rotativo, com opção de financiamento do saldo devedor, tendo como valor correspondente de limite de crédito de R$ 2.000,00 ( dois mil e quatrocentos reais).

É sobremodo importante assinalar, que a autora pactuou com o réu um contrato de adesão para utilização do referido cartão de crédito, sendo certo que através da cláusula mandato 12º, onde o réu pode obter junto ao mercado financeiro, com instituições financeiras, a captação recursos financeiros objetivando financiar o saldo devedor do cartão de crédito e repassando seu custo a autora , conforme DOC.III. Ocorre, que o Banco-réu jamais prestou contas dos lançamentos dos débito (compras e saques), dos juros remuneratórios mensais, encargos(...) e ainda apresenta um saldo devedor inexistente de R$ 65.948,49 (sessenta mil, novecentos e quarenta e

oito reais e quarenta e nove centavos ), de origem duvidosa e incerta.(...)”

Como se vê do trecho acima, o recorrido declara na petição inicial que não concorda com os lançamentos e com as cláusulas contratuais que pactuou, chegando a afirmar que é praxe bancária a aplicação de taxas abusivas e por essa razão questiona, por exemplo, a legalidade da capitalização dos juros e da comissão de permanência.

(8)

Insta destacar, a propósito, que a leitura de peças processuais, sobretudo da petição inicial, não é reexame do acervo fático-probatório dos autos. Neste sentido, aliás, é a posição desse C. STJ, conforme voto exarado pela Min. Maria Isabel Gallotti, no julgamento do AgRg no AREsp nº 566.255/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, j. em 16/12/2014, DJe 16/03/2015:

"Ocorre que o STJ não está vinculado à leitura que o Tribunal de origem faz da petição inicial. Ao STJ não cabe o reexame do conjunto probatório dos autos (Súmula 7). A leitura das peças processuais, sobretudo da petição inicial, não é, todavia, reexame do acervo fático-probatório dos autos. Precedentes desta Corte Superior seguem a mesma linha"

A ação de prestação de contas, como se sabe, é ação hábil a exigir de quem administra patrimônio alheio o esclarecimento e a justificativa sobre as movimentações realizadas no patrimônio administrado.

O recorrido, como se depreende das causas de pedir de sua inicial, não tem dúvidas, mas sim certeza de que os lançamentos estariam equivocados, à sua ótica, e veementemente rechaça cláusulas contratuais, inclusive pretendendo a declaração de nulidade de cláusulas que pactuaram a capitalização de juros e sua taxa, a cobrança de comissão de permanência e outros encargos!

Tais argumentos foram expostos ao Tribunal que se limitou a afastar a alegação entendendo cabível a prestação de contas no caso.

Ao assim decidir, entretanto, o Tribunal “a quo” negou vigência ao art. 327, §1º, III, do CPC, pois é condição sine qua non para o deferimento da cumulação que os pedidos tenham ritos procedimentais compatíveis entre si, o que, com efeito, não se observa entre um pedido de prestação de contas, cujo rito processual regulado pelo art. 914 e ss do CPC é absolutamente peculiar, inclusive com prolação de duas sentenças, e um pedido revisional de

rito ordinário.

Além da violação ao dispositivo legal acima citado, o acórdão recorrido dissentiu da jurisprudência consolidada desse C. STJ, notadamente dos julgamentos dos REsp 1.231.027/PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJe de 18.12.12, Segunda Seção e AgRg no Ag 1.094.287/MG, Rel. Ministro João Otávio Noronha, DJe de 20/05/10, Quarta Turma, que assentaram a impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em sede de ação de prestação de contas, em razão da diversidade de ritos.

Como se vê do quadro abaixo, os acórdãos paradigmas são aptos a demonstrar o dissenso jurisprudencial que autoriza o conhecimento deste recurso especial também pela alínea “c”, do art. 105, III da CF, na medida em que retratam a mesma hipótese fática:

Acórdão recorrido Acórdão paradigma 1 – REsp 1.231.027/PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti - Segunda Seção*.

Acórdão paradigma 2 – AgRg no Ag 1.094.287/MG, Rel. Min. João Otávio Noronha - Quarta Turma*.

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Base fática: (...)”Trata-se de ação de Prestação de Contas ajuizada pela parte autora, alegando, em síntese, que é titular do cartão de crédito administrado pelo réu; o réu jamais prestou contas sobre os juros remuneratórios; encargos contratuais; TAC; CET e spread bancário. Requereu a prestação das contas relativas a todas as movimentações do seu cartão de crédito, bem como os juros, encargos financeiro, comissões, tarifas, impostos de operações financeiras.

Base fática: Center MB Informática Ltda. - ME, ajuizou ação de prestação de contas em face do Banco Banestado S.A. exigindo a demonstração mercantil da movimentação financeira do contrato de abertura de crédito em conta corrente 025157-8, da agência 0019, celebrado em setembro de 1993 (fl. 5), ".até o presente momento..." (fl. 9). (...) No caso em exame, depreende-se da leitura da genérica inicial a inconformidade da autora com o saldo de sua conta corrente, aventando ela a ilegalidade dos encargos contratados, tais como juros além do limite legal, em taxas variáveis, capitalização diária, comissão de permanência cumulada com multa, tarifas etc. Pede seja acertada a relação jurídica, a fim de que se apure se está em débito ou possui crédito perante a instituição financeira, caso em que esta deverá ser condenada a ressarcir-lhe o que pagou em excesso.

Base fática: Trata-se de agravo regimental interposto (...) em face de decisão monocrática que negou provimento a agravo de

instrumento ante o

entendimento de que a conclusão do Tribunal de origem

encontra amparo na

jurisprudência deste Tribunal no sentido da impossibilidade de a ação de prestação de contas ser cumulada com ação ordinária em que se busca revisão contratual em face da incompatibilidade de ritos.

Conteúdo decisório: “(...)

Assim, diante da inércia

do Banco Réu, ora Apelante, a

Autora apresentou suas contas

sob

a

forma

mercantil,

indicando um saldo credor de

R$20.202,85,

conforme

planilhas

constantes

dos

Indexadores 00493/00504, e,

como se sabe, não prestadas

as contas por aquele que foi

condenado

a

prestá-las,

apresentá-las-á aquele que

propôs a ação, sendo defeso

àquele que as deveria prestar

impugnar

as

apresentadas

pela parte contrária.

(...) Nesse sentido, veja-se a jurisprudência desta Corte:

APELAÇÃO CÍVEL.

PRESTAÇÃO DE CONTAS.

SEGUNDA FASE. NÃO

APRESENTAÇÃO DAS CONTAS NO PRAZO FIXADO NA SENTENÇA PROFERIDA EM

PRIMEIRA FASE.

APRESENTAÇÃO PELO AUTOR DAS CONTAS QUE DEIXARAM DE SER PRESTADAS PELO

RÉU, NA FORMA

ESTABELECIDA NA

SENTENÇA. Dispõe o

Conteúdo decisório: No caso em exame, depreende-se da leitura da genérica inicial a inconformidade da autora com o saldo de sua conta-corrente, aventando ela a ilegalidade dos encargos contratados, tais como juros além do limite legal, em taxas variáveis, capitalização diária, comissão de permanência cumulada com multa, tarifas etc. Pede seja acertada a relação jurídica, a fim de que se apure se está em débito ou possui crédito perante a instituição financeira, caso em que esta deverá ser condenada a ressarcir-lhe o que pagou em excesso. A pretensão deduzida na inicial, voltada a aferir a legalidade dos encargos cobrados (comissão de permanência, juros, multa, tarifas), deveria ter sido veiculada, portanto, por meio de ação ordinária revisional, cumulada com repetição de eventual indébito, no curso da qual, se insuficientes os extratos, pode ser requerida a exibição de documentos, caso esta não tenha sido postulada em medida cautelar

Conteúdo decisório: (....) tenho que o entendimento do Tribunal de origem encontra amparo na jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça no sentido da impossibilidade de ação de prestação de contas ser cumulada com ação ordinária em que se busca a revisão contratual, em face da incompatibilidade de ritos, conforme precedentes ali transcritos. Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

(10)

parágrafo 2º, do artigo 915 do CPC, que se o réu não prestar as contas dentro do prazo assinalado, não lhe será lícito impugnar as que o autor apresentar, importando na procedência do pedido formulado na inicial. Tal fato não obsta a determinação de qualquer prova necessária a formação do convencimento do julgador, que deverá decidir a lide segundo seu prudente arbítrio. O mandatário é obrigado a prestar contas ao mandante como forma de verificação ao fiel cumprimento do contrato. Sentença prolatada levando em consideração os débitos reconhecidos pelo réu. Desprovimento do recurso. (0010489-60.2006.8.19.0203

(2008.001.58239) –

APELAÇÃO - DES. MONICA

COSTA DI PIERO -

Julgamento: 05/02/2009 - OITAVA CÂMARA CÍVEL)”

preparatória.

A propósito, a jurisprudência de ambas as Turmas que compõem a Segunda Seção reconhece a impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em sede de ação de prestação de contas, em razão da diversidade de ritos. (...)

Em síntese, embora cabível a ação de prestação de contas pelo titular da conta corrente

(Súmula 259),

independentemente do fornecimento extrajudicial de extratos detalhados, tal instrumento processual não se destina à revisão de cláusulas contratuais e não prescinde da indicação, na inicial, ao menos de período determinado em relação ao qual busca esclarecimentos o correntista, com a exposição de motivos consistentes, ocorrências duvidosas em sua conta-corrente, que justificam a provocação do Poder Judiciário mediante ação de prestação de contas. Em face do exposto, nego provimento ao recurso especial

.

* Os acórdãos paradigmas foram publicados no DJe no dia 18/12/2012 e 27/05/2010, respectivamente. Trata-se de documento autêntico (declarado autêntico pelo patrono da parte recorrente), que se encontra anexado ao recurso especial no seu inteiro teor, obtido, vale dizer, via internet pelo site http://www.stj.jus.br/.

O acórdão recorrido afastou o preliminar de inépcia por entender que os pleitos do autor eram pertinentes ao processamento da ação de prestação de contas, enquanto que o acórdão paradigma foi categórico em assentar que pretensões de rever cláusulas contratuais e declarar nulidades à luz da legislação pertinente comportaria pedido em ação revisional, absolutamente incompatível com o rito especial da ação de prestação de contas.

Comprovadas a violação de lei federal e a divergência jurisprudencial, requer-se o conhecimento e o provimento deste recurso pelas alíneas “a” e “c” do art. 105, III da CF/88 para reconhecer a falta de interesse de agir do recorrido em razão da impossibilidade de cumulação de pedido revisional em ação de prestação de contas.

CONCLUSÃO

Ante o todo exposto, requer-se seja conhecido e provido o presente recurso especial nos termos acima apresentados, para:

(11)

• Acolher a preliminar de nulidade da decisão guerreada e consequente remessa dos autos ao Tribunal local para, com fulcro no art. 1022, II do CPC, sanar a omissão mediante apreciação dos pontos abordados nos embargos declaratórios.

• Reconhecer a falta de interesse de agir do recorrido em razão da impossibilidade de se formular pedido de prestação de contas em contrato de cartão de crédito;

• Reconhecer a falta de interesse de agir do recorrido em razão da impossibilidade de cumulação de pedido revisional em ação de prestação de contas.

Rio de Janeiro, 17 de Março de 2016

_________________________________ Laura Maria Ribeiro Gomes de Queiroz

OAB/RJ 127.561

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