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Palavras-chave: Ensino das Artes Visuais contemporâneo, Multiculturalidade, Identidade

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ENSINO DAS ARTES VISUAIS CONTEMPORÂNEO E MULTICULTURALIDADE: A APROPRIAÇÃO DE MOTIVOS ÉTNICO-CULTURAIS NA CRIAÇÃO DE

ESTAMPAS PARA CAMISETAS

MOSS, Cristian Poletti1

Palavras-chave: Ensino das Artes Visuais contemporâneo, Multiculturalidade,

Identidade

RESUMO: Partindo de uma leitura de mundo onde se constata um cotidiano híbrido, permeado pelas inúmeras tecnologias e pela ininterrupta globalização, este trabalho relata uma pesquisa a qual se utilizou de uma abordagem Qualitativa, desenvolvida com três adolescentes do gênero feminino, em espaço informal, no período de cinco encontros de, em média, duas horas cada um, onde a partir do ensino das Artes Visuais e seu viés com a multiculturalidade, foi trazida a questão das apropriações étnico-culturais na criação de estampas para camisetas. Essa temática suscitou uma gama de conteúdos e questionamentos acerca das Artes Visuais, quando possibilitou o trabalho com a modalidade da apropriação e da análise das produções artístico-visuais contemporâneas, bem como da temática da identidade, ao que se refere à roupa/território e aos hibridismos propostos pelas práticas pós-modernas. Quanto às produções visuais das participantes da pesquisa, muito mais que criarem um produto esteticamente agradável, elas puderam estar tecendo reflexões sobre as semelhanças e diferenças entre as culturas selecionadas para o trabalho, partindo da análise de suas visualidades e de sua cultura material, reafirmando assim, sua própria identidade cultural. Além do mais, a presente investigação teve uma grande relevância para as participantes da mesma, no que tange desde discussões acerca das temáticas propostas, até reflexões sobre a própria natureza da arte e de suas linguagens.

PERCEBENDO O CONTEXTO HÍBRIDO ATUAL

O ser contemporâneo atravessa hoje, por um processo de crise de identidade, ao passo que suas noções de origem, unidade e centralidade de conceitos e ideologias são constantemente abaladas por informações de toda a ordem que o arrebatam ininterruptamente, por um processo nato de globalização e contaminações de sistemas que derivam num ser fragmentado, o qual desenvolve múltiplos e diferentes papéis em seu dia-a-dia.

Hall (2005) define a globalização como um complexo de processos e forças de mudança nas sociedades que está contribuindo, cada vez mais, para o deslocamento das identidades culturais. O autor coloca que a aceleração dos processos globais resulta numa “compressão espaço-tempo” e faz com que se sinta

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que “o mundo é menor e as distâncias mais curtas” e “que os eventos em um determinado lugar têm um impacto imediato sobre as pessoas e lugares situados a uma grande distância”. (HALL, 2005, p.69)

Através de tecnologias como a televisão e a internet, o sujeito atual tem a possibilidade de contatar diversas culturas, estar em vários lugares ao mesmo tempo e até mesmo criar diversos personagens que o auxiliem em seu cotidiano. Knaak (2005, p.30) coloca que a “simultaneidade temporal que a tecnologia pode nos proporcionar atualmente é a mesma que a psicanálise encontra na configuração patológica da esquizofrenia”.

Percebe-se uma espécie de hibridação de valores, mestiçagem de conceitos e símbolos que são citados a todo o tempo pelas culturas de massa, criando uma grande “colcha de retalhos social” que dificulta uma percepção dinâmica das identidades culturais.

Sendo assim, é de grande importância que o ser atual possa entender melhor o seu próprio código cultural ou os distintos códigos com que o mesmo interage, bem como as diversas referências visuais que têm acesso hoje, criando e (re)significando percepções que o ajudem na leitura e na afirmação de sua(s) própria(s) identidade(s).

Segundo Hernández (2007 p. 22-24), nós “vivemos e trabalhamos num mundo visualmente complexo”, portanto faz-se necessário levar até a sala de aula não somente imagens da arte, mas imagens as quais nos deparamos todo dia em

outdoors, no cinema e na televisão, a fim de cruzá-las com as imagens artísticas e

assim, adquirir um “alfabetismo visual crítico” que nos permita

“(...) analisar, interpretar, avaliar e criar a partir da relação entre os saberes que circulam pelos ‘textos’ orais, auditivos, visuais, escritos, corporais e, especialmente, pelos vinculados às imagens que saturam as representações tecnologizadas nas sociedades contemporâneas.” (HERNÁNDEZ, 2007 p. 22-24)

Precisa-se atualizar constantemente a “educação do olhar” e, através de medidas educativas propostas pelo professor de arte, profissional este mais indicado para trabalhar, na escola, as questões referentes à imagem, ampliar a leitura de mundo e da própria cultura visual que nos cerca e tanto influencia nosso imaginário.

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Com o objetivo de propor um entrosamento entre a linguagem da arte - com a modalidade da apropriação de motivos étnico-culturais, tão recorrentes nas produções atuais - bem como do design - ao passo que, juntamente às participantes da investigação, são criadas estampas para camisetas, recorrendo ainda às questões acerca de um trabalho a respeito do melhor entendimento acerca do conceito de identidade, através do território da roupa e da observação das diversas visualidades culturais – que surge este trabalho.

APROPRIANDO VISIBILIDADES E ESTAMPANDO IDENTIDADES

As atividades aqui descritas, dizem respeito a uma série de cinco encontros que ocorreram de maio a julho de 2007, em espaço informal de educação, com três sujeitos de pesquisa do gênero feminino e fizeram parte da monografia de graduação desenvolvida no curso de Desenho e Plástica – Licenciatura Plena, sob orientação do professor Ayrton Dutra Corrêa, na Universidade Federal de Santa Maria/RS.

Basicamente os encontros consistiram de discussões promovidas a partir de imagens da cultura visual que compactuam das temáticas propulsoras do trabalho, bem como de atividades procedimentais, onde as participantes apropriaram-se de signos/referências pertencentes a culturas estrangeiras e, a partir das mesmas, foram criadas estampas para camisetas, a fim de discutir e perceber as semelhanças e diferenças entre as visualidades e os valores culturais, bem como as questões relativas a roupa como território, promotor/deturpador de identidades.

Os encontros foram extremamente produtivos, na medida em que possibilitaram discutir diversas questões acerca dos hibridismos culturais presentes na visualidade do cotidiano atualmente, bem como entrar em contato com as obras e processos, da arte e da moda contemporâneas, que ressaltam essas questões.

Inferiu-se, no decorrer dos encontros, junto às participantes da investigação, que a questão da identidade num cotidiano permeado por encontros culturais de diversas ordens, é extremamente fragmentada. Silva (2000, p.97) colocando da importância de educadores trabalharem a questão da identidade e da diferença com seus educandos, diz que a identidade

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“(...) é um problema social porque, em um mundo heterogêneo, o encontro com o outro, com o estranho, com o diferente, é inevitável. É um problema pedagógico e curricular não apenas porque as crianças e os jovens, em uma sociedade atravessada pela diferença, forçosamente interagem com o outro no próprio espaço da escola, mas também porque a questão do outro e da diferença não pode deixar de ser matéria de preocupação pedagógica e curricular.” (SILVA. 2000, p. 97)

A questão da roupa/vestuário como território definidor/destruidor de identidades, também tangenciou fortemente os encontros, partindo da análise das diferentes vestimentas as quais cada cultura se utiliza, definindo assim sua visualidade específica. Sobre esse assunto, Barnard (2003, p.57) exprime que “moda, indumentária e vestimenta são fenômenos culturais” e complementa dizendo que “a moda e a indumentária são, portanto, algumas das maneiras pelas quais a ordem social é exprimida, explorada, comunicada e reproduzida” (BARNARD, 2003, p.63), sendo, portanto, constituinte dos fenômenos culturais.

Barnard (2003) coloca ainda que:

“indumentária e moda são frequentemente usadas para indicar importância ou status, e as pessoas emitem comumente julgamentos a respeito da importância e do status das outras com base no que estão vestindo.” (BERNARD. 2003, p. 94)

Observou-se que, no contexto híbrido pós-moderno, há a utilização deliberada de signos e símbolos de culturas estrangeiras, por conta dos avanços tecnológicos e da ininterrupta globalização. Burke (2003, p.14), sobre a questão dos encontros culturais e da globalização, conclui que “por mais que reajamos a ela, não conseguimos nos livrar da tendência global para a mistura e a hibridização”. O autor ainda comenta que “o preço da hibridização, especialmente naquela forma inusitadamente rápida que é característica de nossa época, inclui a perda de tradições regionais e de raízes locais” (BURKE, 2003, p.18).

Quanto ao fato de levar às participantes imagens alheias a arte Hernández (2000) considera importante levar aos educandos, não somente imagens e artefatos pertencentes ao universo da arte, mas, de toda a cultura visual, pois

“(...) esses artefatos, que vão do lápis ao computador, de um quadro a uma imagem publicitária, têm uma base cultural, ou seja, respondem a necessidades concretas da sociedade e produzem representações simbólicas de valor para determinados grupos num espaço (cada vez mais amplo) e num tempo (cada vez mais curto).” (HERNÁNDEZ. 2000, P. 104)

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Houve, ainda que brevemente, a construção de conceitos a respeito da modalidade da apropriação, proposta pela arte e pelas produções visuais, no decorrer da história até a atualidade, apurando a leitura de mundo e da cultura visual atual. Hernández (2000, p.53) nos diz que “as obras artísticas, os elementos da cultura visual, são, portanto, objetos que levam a refletir sobre as formas de pensamento da cultura na qual se produzem”. Sendo assim, teve-se o cuidado de sempre estar tecendo conotações com as questões culturais e as diversas referências que estão presentes no contexto atual.

As participantes perceberam que, no universo artístico, apropriar-se de algo não se trata simplesmente da transposição das referências escolhidas na íntegra, mas que, ao deslocar/apropriar uma referência e colocá-la em outro contexto, também estamos, de alguma forma, criando.

Tratando-se da questão da multiculturalidade presente no universo contemporâneo, pensa-se que as participantes puderam entender, de forma análoga, que assim como a arte apropria-se de referências externas para criar novos universos visuais, estabelecendo para tais uma nova sintaxe ao deslocá-las de seu contexto de origem, as culturas e especificamente as culturas contemporâneas globalizadas o fazem, tomando para si elementos estrangeiros que, em um determinado momento e contexto histórico, correspondem melhor às suas necessidades expressivas e de interação com o meio.

Além da constatação e entrecruzamento dos valores multiculturais, procurou-se refletir criticamente acerca dos preconceitos culturais existentes na fala das participantes. Segundo Santos (1994)

(...) tanto no estudo de culturas de sociedades diferentes quanto das formas culturais no interior de uma sociedade, mostrar que a diversidade existe não implica concluir que tudo é relativo, apenas entender as realidades culturais no contexto da história de cada sociedade, das relações entre elas. (SANTOS. 1994, P. 20)

Sem dúvida, faz-se de grande importância trabalhar os preconceitos culturais, muitas vezes arraigados no pensamento dos educandos, simplesmente pela falta de reflexão. Ballengee-Morris, Daniel e Stuhr (2005, p.267-268) colocam que “é necessário examinar os preconceitos que conduzem ao prejuízo, à discriminação e ao colonialismo mediante a exploração da história, de questões sociais correntes e

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de cultura visual”. Ou seja, enquanto educadores, não deve-se velar essas discussões como se não existissem, mas, trazê-las a tona com o intuito de justamente trabalhá-las de forma a construir conceitos a partir de uma visão cultural ampla e de um sistema aberto de perceber o outro.

Segundo Chalmers (2005, p.258) “é importante e crítico que os educandos procurem compreender o conceito de que as culturas são simultâneas e diferentes internamente e estão em constantes mudanças”.

Verificou-se que a questão étnico-cultural, na atualidade global, perpassa a questão do vestuário e das próprias características físicas, tornando o sujeito contemporâneo um ser híbrido, que reflete muito mais uma ideologia mutável, que uma raça contida nessas características. Nesse sentido Hall (2000, p.106) infere que a identidade “não é, nunca, completamente determinada – no sentido de que se pode, sempre, ‘ganhá-la’ ou ‘perdê-la’; no sentido de que se pode ser, sempre, sustentada ou abandonada”.

Quanto à produção das camisetas, muito mais que meramente produzir um trabalho visual, esteticamente agradável, as participantes puderam estar refletindo sobre a identidade e a diferença por meio do território da roupa e das estampas produzidas por elas, assim como das diferenças e semelhanças presentes na visualidade de cada cultura.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os questionamentos e discussões levantados durante os encontros, trouxeram para o âmbito da investigação, conceitos extremamente ricos que poderão ser utilizados pelas participantes em seu cotidiano, colaborando para construir significado ao universo de imagens e referências a que estamos dispostos atualmente.

O caminho utilizado para trabalhar as temáticas citadas anteriormente, empregando para tal a questão da roupa como uma identidade e da apropriação de motivos ético-culturais como construção plástica para a estampa, abriu uma gama de possibilidades bastante proveitosa, sendo que, a partir desses conceitos, tivemos a oportunidade de cruzar diversas considerações de extrema importância, tanto para o âmbito social, no que diz respeito às questões da fragmentação das identidades

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no mundo pós-moderno, como para o âmbito da arte, no que se referem às inúmeras apropriações e citações que o universo visual se utiliza atualmente.

Partindo da idéia de que a construção de conhecimento só é realmente significativa quando considera verdadeiramente o contexto do educando, pôde-se perceber que, a questão do vestuário enquanto construção identitária e da mesma forma a construção plástica da estampa como expressão visual individual, foram extremamente interessantes para inserir reflexões e conceitos bastante importantes para as participantes, partindo do pressuposto de que as mesmas estão inseridas na realidade pós-moderna que levanta a gama de discussões a esse respeito, trabalhadas durante os encontros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BALLENGEE-MORRIS, Christine; DANIEL, Vesta A. H.; STUHR, Patrícia L. Questões de diversidade na educação e cultura visual: comunidade, justiça social e pós-colonialismo. In: BARBOSA, Ana Mae. (Org.) Arte/educação contemporânea: consonâncias internacionais. São paulo: Cortez, 2005.

BARNARD, Malcolm.Moda e comunicação. Rio de Janeiro: Rocco, 2003. BAUMAN, Zygmund. Vida líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007. BURKE, Peter.Hibridismo cultural. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2003.

CHALMERS, Graham. Seis anos depois de celebrando o pluralismo: transculturas visuais, educação e multiculturalismo crítico. In: BARBOSA, Ana Mae. (Org.)

Arte/educação contemporânea: consonâncias internacionais. São paulo: Cortez,

2005.

CUCHE, Denys.A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: EDUSC, 2002. HALL, Stuart. Quem precisa de identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.).

Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes,

2000.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

HERNÁNDEZ, Fernando. Catadores da Cultura visual: transformando fragmentos em nova narrativa educacional. Porto Alegre: Mediação, 2007.

HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura visual, mudança educativa e projeto de

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KNAAK, Bianca. Citação, apropriação, criação e história circulante. In: Expressão –

Revista do centro de artes e letras. Santa Maria. v. 1, n° 2, p.29-35, 2005.

RICHTER, Ivone Mendes. Interculturalidade e estética do cotidiano no ensino

das artes visuais. Campinas: Mercado de Letras, 2003.

SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.

SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.

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