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SUMÁRIO A proposta deste artigo é a discussão sobre política e poder, colocando em discussão a dominação nas classes

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SUMÁRIO

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Neste artigo, Maria de Lourdes G. Almeida trata da violência representada pelo fracasso escolar e da importância da educação, ressaltando a atenção que a escola precisa dar ao escolar, trabalhando “com” o aluno e não “para” ele. Além de alertar para a necessidade da mudança de foco, a autora expõe o papel da arte no processo educativo.

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A violência, que de longa data instalou-se nas

escolas do país, tem apresentado faces que surpreendem pela crueldade e, ao mesmo tempo, ficado oculta sob as máscaras de textos literários que apresentam um país pacífico, onde imperam a beleza e a camaradagem. Este artigo mostra o duelo que se tem travado entre a mentira e a denúncia, conforme registra Zenaide B. R. Soares.

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Aqui,Irene J. Simões de Moura coloca em questão a violência urbana que se tornou rotina em cidades brasileiras populosas e tem inspirado a criação de várias obras literárias. Neste artigo, a autora se ocupa do conto Uma vela para Danilo, de Dalton Trevisan.

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Rosa Maria Gregori, aqui, aborda o uso da música

no ensino de língua estrangeira lembrando que esse tipo de atividade reforça o conhecimento do idioma e da estrutura linguística. A seleção do repertório variado é considerada, além de outros elementos como a sociabilidade, o companheirismo, a cooperação grupal, além da alegria que envolve os participantes em suas relações com a música.

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SUMÁRIO

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A proposta deste artigo é a discussão sobre política e poder, colocando em discussão a dominação nas classes sociais e fora delas. O autor, Jorge Carlos de França, aborda também as relações de dominação no cotidiano das pessoas, nos termos propostos por Foucault e por Felix Guattari.

A globalização, que altera de modo radical a economia, rompe marcos territoriais, explora mercados segmentados e mundializa costumes, tem sido vista por nós com entusiasmo, e nem percebemos que tem precarizado o trabalho e destruído direitos, como Juliana de Andrade Freire adverte neste artigo.

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Quando no debate sobre educação colocam-se

elementos afetivos como satisfação e alegria, decorrentes da experiência direta da vida, fora da escola, maior chance pode ser alcançada na proposta de acesso a um universo cultural mais elevado, que exige muito esforço porque é domínio da ciência, conforme Moema Souza Oliveira coloca em questão neste texto.

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Editor Responsável:

Zenaide Bassi Ribeiro Soares – MTb 8607. Conselho Editorial:

Prof. Dr. Alcides Ribeiro Soares (UNESP), Profa. Dra. Alessandra Moreira Lima(UCR), Prof. Dr. Armando Farias (USL), Profa. Dra. Ana Lúcia Cavani (UENF), Profa. Dra. Conceição Viúde Fernandes (Faculdade Drummond), Prof.Dr. Antônio Carlos Mazzeo (UNESP), Prof. Dr. João Cardoso Palma Filho (UNESP-São Paulo), Profa. Dra. Maria Lúcia Pimentel Góes (USP), Profa. Dra. Meire Mathias (UEM), Prof. Dr. Moacir Barbosa de Lima (UnG), Prof. Dr. Paulo Ribeiro Cunha (UNESP-Marilia), Prof. Dr. Pedro Scuro Neto (Universidade de Leeds), Profa. Roberta Nechar Gorni (Universidade de Coimbra), Profa. Dra. Rosa Maria Valente Fernandes (Universidade Católica de Santos), Profa. Dra. Urquisa Maria Borges (UNESP), Profa. Dra. Zenaide Bassi Ribeiro Soares (Celarth), Profa. Dra. Zilka Lins de Oliveira (EPA).

Capa:

Mariana Bassi Ilustrações:

André Santos, Joanes Lessa e Mariana Bassi Língua Inglesa:

Carla Cristina Pasquale e Magali Fialho Linge Editoração Eletrônica:

Lúcia Maria et Teixeira Roberto de Camargo Damiano Web Designer:

Eduardo Alexandre Santos

TEMA

Publicação vinculada ao Centro de Estudos de Letras, Artes e História - Celarth Edição de Maio a Agosto de 2011.

Letras, Artes e História - Nº 71, Ano 25. Volume XXV

CENTRO DE ESTUDOS DE LETRAS, ARTES E HISTÓRIA

Rua Barão de Itapetininga, 50, 5º andar, 502 - 01042-902 - São Paulo www.celarth.com.br

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TEMA

Letras, Artes e História

R.TEMA S.Paulo nº 71 Maio/Agosto 2011 P.58 ISSN 2446 5046

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Apresentação

A

violência cotidiana, registrada nas grandes cidades ou nas obras de ficção, é o tema central desta edição. A prática desse tipo de violência, que se expressa por intermédio da agressão a alguém, em sua integridade física, moral, ou ainda em suas posses, está nos textos de Dalton Trevisan e também nas obras de outros autores.

O antropólogo Gilberto Freire falou também de outra violência diária – a que era cometida nos grandes colégios, onde se abusava criminosamente da fraqueza infantil.

Outros tipos de violência são praticados todos os dias, muitas vezes sem nos darmos conta, tendo como referência o Estado ou não, pois como diz Felix Guattari, “o inimigo pode estar nos nossos próprios aliados, ou em nós mesmos, nessa insistente reencarnação dos modelos dominantes”.

O fracasso escolar, resultante de equívocos pedagógicos ou preconceitos de classe praticados pela escola, é também ato de violência, que precisa ser corrigido.

A mundialização da cultura, que aproximou países e costumes, trouxe, sob sua expressão, o neoliberalismo que

torpedeou o Estado de Bem Estar Social e esfacelou direitos sociais em todo o ocidente.

Mas, quando no debate sobre educação se toma como ponto de partida elementos afetivos como satisfação e alegria, decorrentes da experiência direta da vida, maiores são as possibilidades de se motivar um jovem a empreender esforços para atingir um universo cultural mais elevado, domínio da ciência. A música, também, pode se apresentar como ato de liberdade, ensinando um novo jeito de viver, e ajudando, na escola, a abrir portas para novos conhecimentos, como o de língua estrangeira, das artes, da expressão estética que embeleza o mundo.

Boa leitura !

Zenaide Bassi Ribeiro Soares Diretora Responsável

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Irene J. Simões de Moura

LITERATURA E ESPAÇO URBANO: OS CAMINHOS DA VIOLÊNCIA COTIDIANA

LITERATURE AND URBAN SPACE: THE WAYS OF VIOLENCE

R.TEMA S.Paulo nº 71 maio/agosto de 2011 P. 06-13 PALAVRAS-CHAVE

RESUMO

ABSTRACT

KEYWORDS Cidade. Violência. Furtos. Morte.

O artigo comenta um conto de Dalton Trevisan, que mostra a violência nas relações interpessoais numa grande cidade.

T h e a r t i c l e c o m m e n t s o n a t a l e b y D a l t o n Trevisan,which shows the violence in interpersonal relationships in a large city.

City. Violence. Thefts. Death.

Autor e Texto Author - Text

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Irene J. Simões de Moura*

LITERATURA E ESPAÇO URBANO: OS CAMINHOS DA VIOLÊNCIA COTIDIANA

LITERATURE AND URBAN SPACE: THE WAYS OF VIOLENCE

O

estabelecimento de relações entre a violência e as manifestações culturais e artísticas sugere que a representação dos atos violentos expressa, em geral, uma tentativa de interpretar a realidade contemporânea, apropriando-se dela, com a intenção de interferir nos processos culturais vigentes. Uma forma de denúncia da desumanização assumida nas relações interpessoais, onde os protagonistas enxergam o outro apenas como um ente a ser explorado.

A prática da violência cotidiana se expressa por intermédio da agressão a alguém em sua integridade física, moral ou ainda em suas posses – como tem sido mostrada nos contos de Dalton Trevisan, com muita força expressiva.

*Doutora em Literatura pela UNESP. Professora da FSM.

O corpo doente, na calçada, vai ficando vazio de bens, coberto de marcas.

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Nas grandes cidades brasileiras a violência, há muito, tornou-se rotina e a sua ficcionalização na literatura ou em outras expressões artísticas, decorre de um esforço de re-simbolizar essa violência, que emerge até durante atos de solidariedade, onde o desejo de favorecimento próprio eclode, seja de modo acintoso ou até de maneira imperceptível, como se poderá observar no conto Uma Vela Para Dario, Dalton Trevisan.

É uma história contada de modo objetivo, com períodos curtos, narrativa ágil que coloca em discussão um tipo de solidariedade epidérmica, simples cortina que não oculta o individualismo que se move nutrido pela ganância e desejo de posse de objetos até de vítimas que necessitam de um gesto generoso para sobreviver – e que acabam morrendo sem socorro efetivo.

Começa contando que na cidade, como todo mundo, num fim de tarde chuvoso, um homem caminha apressado, carregando um “guarda-chuva no braço esquerdo”, mas de repente começa a passar mal:

“Assim que dobra a esquina, diminui o passo até parar, encosta-se a uma parede. Por ela escorrega, senta-se na calçada, ainda úmida de chuva. Descansa na pedra o cachimbo. Dois ou três passantes à sua volta indagam se não está bem. Dario abre a boca, move os lábios, não se ouve resposta. O senhor gordo, de branco, diz que deve sofrer de ataque.

Ele reclina-se mais um pouco, estendido na calçada, e o cachimbo apagou. O rapaz de bigode pede aos outros se afastem e o deixem respirar. Abre-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe tiram os sapatos, Dario rouqueja feio, bolhas de espuma surgem no canto da boca.

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o pode ver. Os moradores da rua conversam de uma ponta a outra, as crianças de pijama acodem à janela. O senhor gordo repete que Dario sentou-se na calçada, soprando a fumaça do cachimbo, encostava o guarda-chuva na parede. Mas não se vê guarda-chuva ou cachimbo a seu lado “

Aqui a história muda de aspecto. A solidariedade inicial de pessoas que tentavam acudir Dario agora já aparece mesclada de seu oposto. Ali já desapareceram o guarda-chuva e o cachimbo do indefeso transeunte, que sente súbito mal estar que o torna indefeso.

O mesquinho costume de levar vantagem, tão arraigado na cultura do brasileiro, começa a mostrar suas garras e é isso que passa a tematizar este conto urbano de Dalton Trevisan.

Os curiosos se reúnem ao lado do corpo caído. Uns revelam piedade, mas outros têm olhos e mãos ágeis, logo veem miudezas que podem ser levadas, por que poupar quem não pode se defender? Até as crianças, de pijama, se divertem diante de um espetáculo inédito, que se desenrola na calçada. Nas janelas, com os cotovelos apoiados em travesseiros, muitos se divertem, acompanhando o espetáculo, nesse dia chuvoso quando a noite se aproxima. A noite que sempre colabora com os pequenos gatunos, que, independente do valor, roubam tudo o que está ao seu alcance, quase invisíveis, orgulhosos de tanta esperteza.

O enredo se enriquece, vai apresentando novos lances, em que a violência adquire novos contornos, agudizando-se :

“A velhinha de cabeça grisalha grita que ele está morrendo. Um grupo o arrasta para o taxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protesta o motorista : quem pagará a corrida? Concordam chamar a

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ambulância. Dario conduzido de volta e recostado à parede – não tem os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata. Alguém informa da farmácia na outra rua. Não carregam Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão, e, além do mais, muito peso. É largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobrem o rosto, sem que faça um gesto para espantá-las.

Ocupado o café próximo pelas pessoas que apreciam o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozam as delícias da noite. Dario em sossego e torto no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso”.

A escalada do furto avança. Já se foram o guarda-chuva, o cachimbo, os sapatos, o alfinete de pérola da gravata, o relógio de pulso. O corpo doente vai ficando vazio de bens, coberto de moscas. Em volta, cada um ocupado com seu próprio prazer, come e bebe, gozando as delícias da noite, indiferente à dor do homem jogado torto no degrau da peixaria.

E a história prossegue, desnudando a insensibilidade que domina o entorno, a degradação moral e ética que condiciona o comportamento de grande número de pessoas, independentemente da classe social a que se vinculam.

“Um terceiro sugere lhe examinem os papéis, retirados – com vários objetos – de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficam sabendo do nome, idade, sinal de nascença. O endereço na carteira é de outra cidade”. A multidão cresce na rua, e corre com a chegada da polícia. O morto é pisoteado dezessete vezes, e a violência prossegue, com novos furtos, que se avolumam.

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O narrador descreve o feito:

“Registra-se a correria de uns duzentos curiosos que, a essa hora, ocupam toda a rua e as calçadas: é a polícia. O carro negro investe na multidão. Várias pessoas tropeçam no corpo de Dario, pisoteado dezessete vezes.

O guarda aproxima-se do cadáver, não pode identifica-lo – os bolsos vazios. Resta na mão esquerda a aliança de ouro, que ele próprio – quando vivo –só destacava molhando no sabonete. A polícia decide chamar o rabecão.

...

Um senhor piedoso dobra o paletó de Dario para lhe apoiar a cabeça. Cruza as mãos no peito. Não consegue fechar olho nem boca, onde a espuma sumiu. Apenas um homem morto e a multidão se espalha, as mesas do café ficam vazias. Nas janelas alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.

Um menino de cor e descalço vem com uma vela, que acende ao lado do cadáver. Parece morto há muitos anos, quase o retrato desbotado pela chuva.

Fecham-se uma a uma as janelas. Três horas depois, lá está Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó. E o dedo sem a aliança. O toco de vela apaga-se às primeiras gotas da chuva, que volta a cair”.

CONCLUSÕES

O conteúdo crítico oculta-se em descrições concisas, aparentemente marcadas por objetividade e neutralidade.

O homem agoniza por duas horas.Vai passando por sucessivos furtos, entre a vida e a morte, até perder os sapatos, o relógio, e até a aliança, que, de tão apertada, em vida, só podia retirar do dedo com a ajuda de sabonete. Isso é contado de modo casual, levando o leitor a concluir que faz

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parte da rotina cotidiana a prática de subtrair do outro seus bens pessoais – e até a sua identidade, com velocidade e de modo impune, porque a desumanização atingiu proporções alarmantes nas relações interpessoais de brasileiros, dentro de seu próprio país.

Uma frase simples logo aponta mais um tipo de descaso a que os brasileiros vivem sujeitos : a lentidão com que os órgãos públicos atendem a população, em momentos críticos, que exigiriam rapidez, como, por exemplo no atendimento a um ferido na rua, ou na retirada de um morto na calçada. A frase é simples, mas tem o efeito de uma pedrada : “Três horas depois, lá está Dario esperando o rabecão”.

O ambiente está modificado. As janelas já estão fechadas, as pessoas já se retiraram, os bares ficaram vazios, o tempo caminhou mas o rabecão ainda não veio, e o corpo continuou na calçada, enquanto volta a chuva que já havia passado.

O tom amargo e desesperançado recupera um toque humano apenas quando um menino de rua, negro, aproxima - se do morto, trazendo uma vela, que é acesa ao lado do corpo inerte. Logo a vela se apaga pelas gotas da chuva que volta a cair, mas foram preciosos aqueles segundos em que a claridade trêmula da velinha anunciou a existência da piedade concreta e da solidariedade real, que felizmente continua a existir, ainda que em pequena escala, no país.

BIBLIOGRAFIA

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Zenaide Bassi Ribeiro Soares

LIRISMO E HORROR NAS ESCOLAS BRASILEIRAS, MASCARADOS

PELA LITERATURA

LYRICISM AND HORROR IN BRASILIAN SCHOOLS MASKED BY LITERATURE

R.TEMA S.Paulo nº 71 maio/agosto de 2011 P. 14-23 PALAVRAS-CHAVE

RESUMO

ABSTRACT

KEYWORDS Escola. Violência. Literatura. Mentiras.

O artigo trata das diferentes formas de horror que existem nas escolas e das maneiras que a literatura é usada para ocultar a violência e embelezar a sociedade e o país.

The article deals with the diferente forms of horror that exist in scchools and the ways that literature is used to conceal violence and beautify society and the country.

School. Violence. Literature. Lies.

Autor e Texto Author - Text

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Zenaide Bassi Ribeiro Soares*

LIRISMO E HORROR NAS ESCOLAS BRASILEIRAS MASCARADOS PELA LITERATURA

LYRICISM AND HORROR IN BRASILIAN SCHOOLS MASKED BY LITERATURE

N

os antigos colégios abusou-se criminosamente da fraqueza infantil. Houve verdadeira volúpia em humilhar a criança, em dar coque na cabeça de menino. Reflexo da tendência geral para o sadismo criado no Brasil pela escravidão e pelo abuso do negro – quem conta é o antropólogo Gilberto Freyre, que fala também sobre o professor, um senhor todo poderoso que, do alto de sua cadeira “distribuía castigos com o ar terrível de um senhor de engenho castigando negros fujões. Ao vadio punha de braços abertos; ao que fosse surpreendi dando uma risada alta, humilhava com um chapéu de palhaço na cabeça para servir de mangação à escola inteira; a um terceiro, botava de castigo sobre grãos de milho, Isso sem falarmos na * Doutora em Comunicação e Artes. Diretora de Pesquisa e Extensão das Faculdades Teresa Martin e diretora de Pesquisa e Publicações do CELARTH-Centro de Estudos de Letras, Artes e História.

Á literatura que mascara a realidade contrapõe-se a outra, de caráter libertário que apresenta caminhos.

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palmatória e na vara, esta muitas vezes com um espinho ou um alfinete na ponta”.

Era uma violência sagrada, ritual orientado para o “bem” das crianças. A instituição escolar tinha discernimento, sabia distinguir com precisão o bem e o mal, o certo e o errado. Por isso as famílias não se opunham às práticas violentas contra seus próprios filhos.

As famílias, particularmente as pobres, viam a escola como uma instituição intocável, com seu alto prestígio de detentora de todos os tipos de saber, inclusive o de desenhar os caminhos seguros para o futuro das crianças que abrigava. Seus métodos eram indiscutíveis, inclusive as práticas violentas. Quem contestaria?

Como se pode observar, a violência na escola era exercitada por professores contra os seus alunos. A forma de exercitar essa violência era através de castigos físicos, vinculados a problemas de conduta e/ou baixo rendimento escolar na aprendizagem.

Esse tipo de violência gozou no Brasil, durante longos anos, de certa aceitação por parte de instituições envolvidas no processo pedagógico, inclusive o núcleo familiar, que delegava a professores o direito de espancar para educar.

As famílias acreditavam que é de pequenino que se torce o pepino, por isso aceitava a agressão física como importante coadjuvante para a disciplina e a concentração nas atividades escolares.

A crença de que torcer de pequeno o pepino evitaria problemas que poderiam trazer infelicidade ou insegurança no futuro, deixa supor que havia paralelismo entre as formas punitivas adotadas na escola e as praticadas em casa.

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jovens no Brasil, tanto no passado como na atualidade, são muito conhecidas, sendo, em geral, exercitadas pela própria família, abarcando diferentes tipos de violência

física, psíquica, moral, sexual, como ainda, em muitos casos, de negligência, sendo que não eram raras as punições com requintes de crueldade, conforme está amplamente documentado pela imprensa e em dezenas de pesquisas acadêmicas, além de denúncias e relatórios de órgãos públicos.

Com a sensibilidade de artistas e precisão de cientistas sociais, escritores brasileiros do passado e do presente descreveram o sadismo e a violência com que crianças eram ou são tratadas na sala de aula ou fora dela, como Aluísio Azevedo, Machado de Assis, Lima Barreto, João Antônio, José Louzeiro, Paulo Lins.

Graciliano Ramos, de modo extremamente delicado, em uma obra infanto-juvenil, tratou do menino “diferente” e sua situação em relação ao grupo; era preciso criar um novo mundo para que um menino careca, com um olho preto e outro azul, pudesse viver tranqüilamente e com alegria, longe da zoeira e perseguição de outros garotos, tidos como “normais”.

“A terra dos meninos pelados”, de Graciliano Ramos, é uma obra prima tanto do ponto vista estético como de denúncia de opressão na infância pelo preconceito e discriminação.

O romance de José Louzeiro,”Infância dos mortos: a lei do mais fraco”, depois de várias edições de muito sucesso, foi reimpresso com o título de “Pixote: a lei do mais fraco”, para acompanhar o nome do filme para o qual o livro foi adaptado. Dirigido pelo cineasta Héctor Babenco, foi lançado em 1980, levou multidões aos cinemas, e foi eleito por críticos

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estrangeiros como um dos dez melhores filmes daquele ano. O filme conta a história de meninos abandonados, que são encaminhados a um reformatório para delinqüentes juvenis, onde recorrem ao uso de cola de sapateiro, para suportarem o horror das ameaças e agressões a que eram submetidos. Um menino morre, por abuso físico cometido por zeladores do abrigo, e logo em seguida Pixote,com mais dois companheiros, conseguem fugir e vão para o Rio de Janeiro, viver nas ruas daquela cidade, em contato com o mundo do crime.

HORROR E LIRISMO

Ao lado de todo o horror que tanto no passado como no presente tem marcado a existência de crianças e jovens, a escola sempre conviveu com o lirismo, expresso desde inícios do século XX, nos livros escolares.

Belas cenas pastoris logo marcavam de líricas referências as páginas das obras oferecidas a crianças e adolescentes pela escola, como por exemplo, “Através do Brasil”, do grande poeta parnasiano Olavo Bilac, em parceria com Manuel Bomfim, publicado em 1910.

A descrição da natureza transmitia uma imagem tão forte de beleza, harmonia e perfeição que logo se confundia com a própria idéia de pátria. Uma pátria idealizada, onde as relações de pais e filhos são de camaradagem e companheirismo; onde existe uma convivência fraterna entre brancos, negros e índios; onde aparece a figura maternal da negra que cuida das crianças com extremado cuidado, sendo plenamente reconhecida nesse trabalho.

Nesta obra, fica bem clara a intenção dos autores de transmitirem ensinamentos morais, lições de vida, padrões de conduta que se adequassem ao projeto pedagógico da República recém implantada no Brasil.

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O livro possuía, então, a função de contribuir para a formação da identidade nacional, centrada em valores rurais, dispostos de modo persuasivo para seduzir os jovens leitores, levando-os a amarem a sua terra, orgulhando-se dela, a ponto de ficarem blindados diante do acesso a possíveis discursos políticos sobre problemas sociais e econômicos do país ou pregações de inconformismo.

Muitos outros autores embarcaram nesse projeto republicano, como Domingos de Castro Perdigão, Abílio Cesar Borges –Barão de Macahubas, Felizberto Carvalho, Arnaldo Pulgari Barreto, João Kopke, Vera Cleser, Miguel Milano, que avançavam de 1915 para o final da década de 1930,entre outros, que publicavam as famosas coleções do primeiro ao quinto livro, em que a preocupação era o ensino moral, religioso e cívico, ressaltando-se sempre que esse tipo de ensino enrijecia o caráter.

Para as meninas não faltavam lições onde se ressaltavam a importância do casamento e da maternidade para a mulher, bem como seu papel de regeneradora da espécie humana, conforme os postulados dos vanguardeiros das luzes, aqueles intelectuais brasileiros do século XlX, herdeiros do iluminismo, que atribuíam à palavra escrita a capacidade de modificar a sociedade, ajudando o país a modernizar-se.

É importante lembrar que grande parte das meninas brasileiras, nessa época, não iam à escola, especialmente as que viviam no campo ou em pequenos núcleos urbanos, porque o casamento marcava os limites de seu horizonte e principalmente pelo estranho cuidado dos pais que impediam a sua escolarização, visto que era generalizada a crença dos chefes de família de que o estudo poderia colocar ideias perigosas na frágil cabeça das garotas, ensinando modelos de conduta não recomendados a uma menina honesta.

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autora de “As meninas exemplares”, que se constituía numa trilogia, com a inclusão de “As férias” e “Os desastres de Sofia”, Andersen e seus contos, Robert Louis Stevenson, com “A ilha do tesouro” foram incluídos no rol de leituras recomendadas por escolas urbanas, voltadas para crianças e adolescentes das classes médias, a que se podiam também incluir setores pobres, embora a esses o acesso mais comum fosse o conto oral.

Autora brasileira muito conceituada no passado foi Júlia Lopes de Almeida, que em parceria com sua irmã, Adelina Lopes Vieira, publicou “Contos infantis”, para uso nas escolas primárias de todo o país. Esse livro foi publicado em 1891, e obteve aprovação da inspetoria escolar para circular nas escolas. Obedecia ao paradigma estabelecido que previa a valorização da modéstia, o desapego de bens materiais, o amor materno e filial, o acolhimento e a piedade religiosa.

Uma obra de formação que circulou durante cerca de noventa anos nas escolas brasileiras, indicado para crianças de oito a treze anos de idade, tendo ainda inúmeros de seus capítulos selecionados e publicados em antologias escolares, foi o livro “Coração”, do escritor italiano Edmondo de Amicis,que encantava pela leveza de seu texto e força sedutora de seus argumentos que transformavam o horror em formosura, como a beleza de crianças pobres que trabalhavam duro em serviços pesados, como o pedreirinho, sempre com muita alegria, como se estivessem brincando.

Ao lado do pequeno pedreirinho, com boné de dois bicos feito de jornal e todo manchado de reboco e cal da construção, circulavam outras personagens, como gente sem eira nem beira, trabalhando com enxada, com plainas, com caibros, com lâminas de ferro, com folhas de flandres, cansadas, desnutridas, mas sempre muito felizes, cantando do amanhecer ao fim do dia. Adultos e crianças amorosos, cordiais, corajosos, enfrentando enormes dificuldades e a

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dureza da vida sem se lamentar, conformados, sem apegos materiais, submissos aos poderes constituídos, e sempre orgulhosos de sua nobreza de sentimentos.

Era, na verdade, um modelo divulgado pelas elites intelectuais do país, articulado com as elites dirigentes, para um estilo politicamente tranquilo de viver, fortemente marcado pela submissão e conformismo, sem questionamentos. Nada de aspirações conflituosas – um modo suave de manter o status quo.

Era o modelo que se desejava perpetuar para o país, terra de gente trabalhadora e de índole pacífica, como sempre se apregoou.

TIRANDO AS MÁSCARAS

À literatura que mascara a realidade contrapõe-se outra, de caráter libertário, que a desvela e mesmo indiretamente aponta caminhos.

Monteiro Lobato e Jorge Amado atuaram de modo amplo no sentido de desnudar o preconceito e abrir espaço para um novo jeito de se viver, mas a partir dos anos 1980, a literatura orientada para crianças e jovens ganhou uma feição crítica bem delineada, com obras de Ziraldo como “O menino marrom”, publicado em 1986, e “Os meninos morenos”, de 2004. Marcos Reys, que a partir de 1980, dedicou-se à produção juvenil, escreveu grande elenco de obras, com extraordinário e merecido sucesso, tendo entre seus principais protagonistas um menino cadeirante.

Geni Guimarães lançou em 1997, “A cor da ternura”, um livro com grande densidade poética sobre uma menina negra. Com características de auto-ajuda, o livro “Felicidade não tem cor” trata de preconceito étnico e ainda de discriminação contra outros grupos, como pessoas gordas ou excessivamente magras, ou ainda pessoas incapacitadas

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fisicamente.

Até os anos 1980, não faltaram em colégios brasileiros, diretores que, por sua conta e risco, proibiam a leitura de obras de Jorge Amado, acusando-as de subversivas e principalmente de imorais. Só quem estava prestes a realizar exames vestibulares ao ensino superior podiam ter acesso a esses livros na biblioteca escolar.

A literatura de Graciliano Ramos, apesar de seu teor contundente em “Vidas Secas”, não sofreu rejeições significativas como recomendação escolar, exceto “Memórias do Cárcere”.

A partir de 2004, com a adoção da obrigatoriedade da inclusão, no ensino superior, de estudos das relações étnico-raciais e do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana, determinada pelo Conselho Nacional de Educação –CNE, em 26/06/2004, as editoras ganharam novo alento para a publicação de livros, inclusive obras literárias, orientadas para esse segmento.

O que, naquele momento, chamou a atenção de alguns críticos foi o fato de que o trato de questões dessa ordem só viessem a merecer efetiva atenção governamental em 2004, ou seja, 116 anos após a abolição da escravatura, ocorrida em 1888. Mas, de qualquer forma, surgia a oportunidade de uso nas escolas de obras literárias que viessem a tratar do negro e do afrodescendente como cidadãos e não apenas como o criado, a ama de leite, a empregada doméstica, o carregador de sacaria, a cozinheira ou o suspeito.

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Maria de Lourdes Almeida

CONSIDERAÇÕES SOBRE ENSINO E SUJEITO DA APRENDIZAGEM

CONSIDERATIONS ABOUT TEACHING AND LEARNING SUBJECT

R.TEMA S.Paulo nº 71 maio/agosto de 2011 P. 24 - 29 PALAVRAS-CHAVE

RESUMO

ABSTRACT

KEYWORDS Educação. Arte. Criança. Curriculo.

O artigo trata da importância da educação e da atenção que a escola precisa dar ao escolar, procurando trabalhar com a criança e não para a criança. Essa mudança de foco provoca já resultados mais imediatos. A integração ensino e arte ajuda o desenvolvimento do olhar estético, da sensibilidade e da sociabilidade.

The article deals with education and streses the importance of the school working “with” the child and not “for”child. The integration of arts into the school curriculum contributes to the development of aesthetic gaze,sensitivity and sociability.

Education. Art. Child. Curriculum.

Autor e Texto Author - Text

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Maria de Lourdes Almeida*

C

ontinuam muito elevadas no país as taxas de fracasso escolar, embora exista um universo relativamente elevado de métodos, técnicas e recursos que, teoricamente, dariam conta da alfabetização – porém vários outros fatores exercem influência direta no sucesso escolar de uma criança.

É sabido que as crianças situadas nas camadas mais exploradas da população são as mais atingidas pelo insucesso escolar. Por isso, a maior atenção deve ser dispensada a esses segmentos da população. Por outro lado, sabe-se que a alfabetização não acontece num vazio pedagógico. É condição básica dar significado ao ato de ler e escrever, explorando o vivido com uma carga epistemológica *Mestre em Educação pela PUC-SP, professora na FSF.

É necessário dar significado ao ato de ler

CONSIDERAÇÕES SOBRE ENSINO E SUJEITO DA APRENDIZAGEM

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que envolva tanto o aluno como o professor.

É importante entender o contexto social em que a ação ocorre e a partir dele trabalhar “com” a criança e não “para” a criança. Também é indispensável que não se trabalhe “contra” a criança, o que seria ponto certo para o insucesso.

É urgente que se acredite na criança, na sua capacidade para aprender, pois salvo algum comprometimento maior que exija atenção especial, todas as crianças têm condições de serem alfabetizadas com sucesso.

O respeito à criança, às suas condições de vida e às suas experiências não pode ser visto de modo desatento pelo educador. Respeitar o outro não é alienar-se em relação a ele; mas é entende-lo e partir para conquistar os objetivos propostos em situação que visem a superação das dificuldades apresentadas – lembrando o que diz Paulo Freire: ”O que não é possível é o desrespeito ao saber de senso comum; o que não é possível é tentar superá-lo sem partindo dele, passar por ele”.

O trabalho com crianças deve ser construído conforme a caminhada vai ocorrendo, sempre com base no tripé : referências teóricas, multiprofissionais em diálogo constante e as respostas e questionamentos formulados pelo aluno, que, de fato, é quem deve dar o tom, a cor, o brilho à caminhada que se desenrola.

O pequeno aluno deve ser o “sujeito do processo de aprendizagem” e não “objeto de experiências”. A criança tem que ter voz e vez. Pode e deve mostrar-se sem ser tolhida e, principalmente, deve ser vista pelo educador como “pensante”, capaz de produzir o trabalho que vai decidir a trajetória da construção.

Sem fazer uso de expedientes como imposição e coerção, pode-se dar sentido ao trabalho, descobrir os concretos

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objetivos daquilo que se faz, pois, como diz Freinet, “Ninguém gosta de trabalhar sem objetivo, atuar como máquina, sujeitando-se a rotinas nas quais não se participa”.

O que todo educador nunca pode se esquecer é o desafio de construir junto com as crianças um sentido para o convívio escolar, visto que nenhum conteúdo será fixado se não houver sentido, significado para a sua realização.

UMA BUSCA DE EQUILÍBRIO

Uma prática criativa e problematizadora não dispensa a arte, que pode ser praticada em suas variadas expressões, como o desenho, a pintura, as dramatizações, as contações de histórias, a valorização do lúdico, da fantasia, do sonho. Na arte, o homem busca a plenitude através de um universo que tenha significado, daí a importância de não se privar o aluno desse tipo de experiência a que tem direito por pertencer à espécie humana e ser herdeiro de tudo o que a humanidade produziu.

Também é importante verificar se a alegria tem espaço no cotidiano escolar, assim como as atividades coletivas.

Observar, também, que o trabalho de intervenção do professor é fundamental para que o espaço escolar não se estreite a ponto de cair num reducionismo da técnica pela técnica, nem se alargue de forma que o espaço escolar perca sua identidade e função, acabando por não cumprir o seu papel, distanciando ainda mais a criança dos bens culturais, da alfabetização propriamente dita, diminuindo ainda mais suas oportunidades sociais.

Cabe lembrar que a organização da escola tem grande peso na superação de muitas dificuldades que surgem no cotidiano escolar.

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que a escola se organizasse como lugar onde o aluno se sentisse suficientemente seguro para tentar, esforçar-se, abordar o novo, o difícil, lançar-se mais ousadamente do que fora da escola; questionar o que foi vagamente percebido ‘na vida’, colocar todas as cartas sobre a mesa. A escola não é para escapar da vida, evitar a vida”.

A busca de alternativas de forma coletiva tende a ter mais chance de alcançar resultados positivos.

Sobre esta questão, afirma Makarenko: ”... nenhum método pode ser elaborado à base do par professor-aluno, mas só à base da ideia geral da organização da escola e do coletivo. Por conseguinte, as questões do trabalho educativo nunca podem ser resolvidas por meio da recomendação de algum método de cada professor em relação a cada aluno, mas só podem ser resolvidas mediante a recomendação da forma, estilo e tom para toda a organização”.

O diretor que percebe e respeita a necessidade que professor e aluno têm de se expressarem, com certeza abrirá espaço para inovações. A estrutura maior tende a se abrir à medida em que pequenas mas corajosas ações são ousadas.

Temos papéis e funções na sociedade e como pessoas precisamos nos relacionar. Administrativamente falando, não podemos viver em função de necessidades muito particularizadas, mas não podemos desprezá-las. O que consideramos oportuno é uma reflexão e uma ação no sentido de encontrarmos o ponto de equilíbrio que, ao mesmo tempo, valorize as pessoas, dê conta do que a organização necessita.

Gostaria de ratificar que ter a criança como sujeito do processo educativo implica novas posturas da escola, a começar pela comunicação que será condição primeira a ser restabelecida.

(29)

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, Maria de Lourdes Granato. Possibilidades e desafios de gestão democrática em uma escola pública. Dissertação de mestrado. PUC-SP,1993

CAPRILES,René. Makarenko:o nascimento de uma pedagogia

socialista.São Paulo:Scipione,1989

FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança : um reencontro com a

pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1992

SAMPAIO, Rosa M.W. Ferreira. Freinet, evolução, histórico e

atualidades. São Paulo:Scipione,1999

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Rosa Maria Gregori

A MÚSICA NO ENSINO DE LINGUA ESTRANGEIRA

MUSIC IN THE TEACHING OF FOREIGN LANGUAGE

R.TEMA S.Paulo nº 71 maio/agosto de 2011 P. 30-37 PALAVRAS-CHAVE

RESUMO

ABSTRACT

KEYWORDS Música. Lingua estrangeira. Repertório.

O artigo trata do uso da música no ensino de língua estrangeira, como precioso auxiliar. O uso da música reforça o conhecimento da língua e, ao mesmo tempo, reforça o conhecimento da estrutura linguística. No artigo, são ainda enfatizados os recursos desejáveis para os exercícios,bem como a seleção de repertórios.

The article addresses the issue of the use of music foreign language teaching. It also deals with desired resources to perform the exercises and the selection of the musical repertoire.

Music. Foreign. Language. Repertore.

Autor e Texto Author - Text

(31)

Rosa Maria Gregori *

A MÚSICA NO ENSINO DE LINGUA ESTRANGEIRA

MUSIC IN THE TEACHING OF FOREIGN LANGUAGE

N

o ensino de língua estrangeira, a música propicia ao aluno, além do prazer do canto, uma forma agradável de contato direto com a língua, que, então, é apresentada de forma direta, linear, onde os enunciados expressam a própria cadeia da fala.

No uso da música como apoio ao ensino de idioma, a escolha do repertório é de fundamental importância.

As músicas de caráter folclórico, muitas já exploradas pelo cinema, são bastante interessantes por aproximarem o aluno da cultura do povo cujo idioma está aprendendo. No caso das línguas inglesa e francesa, esse acesso é bastante fácil, por isso não há dificuldade ao planejar a seleção de músicas em seus diferentes gêneros.

As músicas populares, especialmente as de maior * Doutora em Literatura, Professora na Uniban.

Uma forma agradável de contato com a língua e de conhecer a cultura de outros povos.

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sucesso podem ser usadas com bastante êxito pelo fato de já serem conhecidas pelos alunos, e dentre elas ,convém selecionar aquelas cujos fatos gramaticais guardem alguma relação com os fatos lingüistiscos que se encontram no momento em estudo na sala de aula. Desse modo dois resultados podem ser encontrados, ou seja o reforço do conhecimento da língua pela reiterada repetição das canções, e a possiblidade de corrigir ou reforçar o conhecimento da estrutura linguística em foco.

Os meios de comunicação, no caso do ensino de línguas, fornecem muita colaboração, com seus programas musicais, que muito privilegiam sucessos musicais estrangeiros. Mas a escola deve também contar com laboratório áudio- lingual, que oferece inestimável serviço nessa área de trabalho.

Os aparelhos de rádio são muito baratos e seu fácil acesso contribui para que os alunos o utilizem ,inclusive fora do horário escolar, para audição de programas específicos, que divulgam músicas de sucesso de outros países.

O rádio, o cd, o gravador, qualquer meio a que se tenha alcance é precioso auxiliar no ensino de línguas, porque reproduzem vozes de profissionais do canto, cujo som é ,geralmente, mais aprimorado que o emitido pela voz do professor. São também equipamentos de fácil acesso que podem ser utilizados na sala de aula, no laboratório ou fora da escola.

O gravador é um aparelho que oferece múltiplas possibilidades de uso , por isso o acesso a ele é muito recomendável já que ele registra, estoca, restitui e difunde o material em estudo. Sendo um meio pedagógico eficiente para o ensino, é também um indutor de atividades, já que ele oferece ampla gama de opções aos usuários, que podem desenvolver sua criatividade, gravando e ouvindo falas,dramatizações , discursos, cantos do próprio grupo ou

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mixando sons.

A experiência de cantar na sala de aula, com os colegas, constitui-se em ato muito agradável, e até inesquecível. É o prazer de partilhar coletivamente o saber, a emoção, a alegria. Por isso essa prática deve ser sempre estimulada.

A CANÇÃO COMO OBJETIVO INSTRUCIONAL

Ao planejar o ensino de língua estrangeira com uso de música, convém não se esquecer de estabelecer os objetivos instrucionais do curso, que devem descrever resultados observáveis, registrando condições acerca do comportamento do aluno, bem como os critérios em relação ao desempenho final.

Cada canção poderá ser utilizada como um objetivo instrucional em si mesma, conforme a formulação que será a seguir apresentada.

1-Condições – Fornecidos ao aluno a letra e o vocabulário de uma canção e a audição da mesma através de laboratório áudio-lingual

2-Comportamento - Espera que o aluno repita oralmente a letra e a seguir, cante, observando o vocabulário da letra.

3 – Critérios – Dentro de um prazo previamente estabelecido, o aluno deverá ser capaz de cantar a música ,escandindo bem os termos, usando, se necessário, o texto a ele anteriormente fornecido. O ato de cantar numa língua estrangeira pode apresentar dificuldades quanto à aferição de resultados e nesse caso os objetivos instrucionais podem vir a ser formulados em cadeia, ou seja numa estrutura totalizada, e considerados

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como um só objetivo educacional mais abrangente.

Os objetivos educacionais formulados em termos não diretamente observáveis podem ajudar o professor, fornecendo um quadro de referência auxiliar, propiciando direção e ordem ao seu trabalho.

Ao cantar, o aluno recebe a canção como uma peça pronta, uma história integralizada, e entra em contato com a cadeia da fala, vindo a perceber os enunciados orais como estruturas globalizadas ,ou seja, providas de expressão fônica e conteúdo semântico, que são captadas com sucessões no tempo.

Deve ainda ser lembrado que os textos das canções, em geral, valorizam a informação pela própria forma da mensagem, ou seja, os ritmos, o jogo das sonoridades, as rimas e aliterações, as imagens – e tudo isso tem tanta importância quanto o conteúdo das informações veiculadas.

FUNÇÃO POÉTICA

Na canção, como na poesia, a função poética da linguagem é dominante, isto é, nota-se o pendor para a mensagem em si, tal como é dentro do enfoque da própria mensagem.

O arranjo das palavras e a exploração das rimas favorecem, seguramente, a rápida retenção da mensagem e levam os alunos a receberem e memorizarem com facilidade, por intermédio da letra da canção, significativas estruturas linguísticas, uma vez que, para letras de música ,é escolhido, em geral, aquilo que soa melhor – a melhor combinação de palavras, para que o sentimento que está sendo expressado, envolva totalmente o objeto.

Desta maneira, o aluno passa a aprender a língua estrangeira a partir de estruturas globalizadas, como o fizera na gênese do aprendizado da própria língua materna,

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facilitando, assim, o seu entendimento, pois conforme se sabe, as estruturas globais são percebidas com maior prontidão e mais facilidade. A comunicação nesse caso atua como molar e não molecular.

Se analisar uma cadeia falada é excelente – do ponto de vista da aprendizagem de uma língua estrangeira uma cadeia cantada pode ser também considerada fonte riquíssima de informações, porque abrange todos os níveis desejáveis a um bom desempenho linguístico: o treino fonético, o fonológico, o contato com as unidades supra-segmentais, ritmo, acentuação ,junturas, entonação, até o próprio nível semântico das significações, o que leva o aprendiz à motivação e ao interesse pela matéria.

Apoiando-se nos conceitos da moderna Lingüistica, pode-se admitir a existência de uma organização psico-fisiológica que, durante o aprendizado da língua materna ou de uma língua estrangeira,se condiciona para permitir a comunicação do ponto de vista lingüístico.

É nessa organização, que podemos chamar de Língua, e que vem a ser o próprio código, que encontramos a função e a extensão das regras combinatórias, pré condições de base para o uso da língua.

A fala – discurso ou mensagem – tem no código o pré-requisito básico para expressar-se, uma vez que a fala concretiza o código. Os constituintes do código ( os morfemas, os lexemas), apresentam seu real funcionamento somente na língua falada.

Ao usar o canto no ensino de língua estrangeira, entregam-se aos alunos informações no entregam-sentido da organização do código, da reunião de um inventário da língua.

Por mais passivo que ,à primeira vista, possa parecer o aprendizado advindo do ato de cantar, com ele, o aluno

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estará se colocando em contato com as estruturas fonéticas – como realizar o som; fonológicas – diferenciação de sons, sílabas e palavras; sintáticas – as regras combinatórias ; e semânticas – da significação das palavras, familiarizando-se com elas, para criar um princípio de organização do código, um repertório.

Desse modo, no momento em que o aprendiz precisar apresentar uma atitude mais ativa, no sentido de transmitir mensagens, terá, com toda a certeza, competência suficiente para fazê-lo, visto que dispõe das bases necessárias, que lhe foram ensinadas.

DIMENSÕES BÁSICAS

Há três dimensões básicas na comunicação linguística, embora entre elas não existam delimitações claras ,nem necessárias :

1 - Podemos nos referir à dimensão sintática da comunicação, que toca a própria organização do signo linguístico e a estrutura imanente da língua. 2 - Paralelamente, podemos falar da dimensão semântica da comunicação, que observa a linguagem emitida em termos de sua significação. 3 - Temos ,por fim, de levar em conta a dimensão pragmática da comunicação, ou seja o uso que se faz da língua – o como e o quanto ela é usada. Ao se cantar com os alunos, as três dimensões serão ativadas, de modo indistinto.

Na cultura ocidental, a difusão de canções de distintos povos é muito acentuada, e dessa maneira o modo de ser e de sentir de cada grupo social fica bastante conhecido, até porque a vontade de aproximar-se de diferentes populações marca de maneira forte essa cultura. Por isso, quando se

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trata de música estrangeira é grande o interesse demonstrado pelo alunado.

A escola deve aproveitar esse pendor dos jovens pela música e ensinar usando esse precioso recurso. A esse modo alegre e motivador de ensinar, o aluno responde sempre de modo estimulante ao seu próprio crescimento cultural, ativando seu desenvolvimento social e sua felicidade pessoal.

BIBLIOGRAFIA

ARISTÓTELES.Política. São Paulo:Escala,2006

CURY, Augusto Jorge. O ensino e o aprendizado no ensino

superior de música.São Pulo: Unesp, 2007

DUBOIS, Charlier. Bases de análise linguística. Portugal – Almedina: Cambra. 1977

GREGORY,Rosa Maria. O percurso da música na escola. IN TEMA:letras,artes e história,nº 3, edição de janeiro/abril de 1988, p.13-20

JAKOBSON,Roman. Lingüistica e comunicação. São Paulo: Cultrix.1970

SAUSSURE,Ferdinand. Curso de lingüística geral. São Paulo: Cultrix. 1974

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Jorge Carlos de França

POLÍTICA E PODER

POLITICS AND POWER

R.TEMA S.Paulo nº 71 maio/agosto de 2011 P. 38 - 43 PALAVRAS-CHAVE

RESUMO

ABSTRACT

KEYWORDS Poder.Dominação.Política. Mentiras.

Este artigo coloca em discussão política e poder, explicando a dominação nas classes sociais e fora delas, no cotidiano de cada um.

This article puts in discussion politics and power, explaining the domination in social groups and outside in daily life of each.

Power. Domination. Politics. Lies.

Autor e Texto Author - Text

(39)

Jorge Carlos de França*

POLÍTICA E PODER

POLITICS AND POWER

A

política, num sentido amplo, implica nas relações de poder na sociedade. Para Max Weber, a política pode significar a participação no poder ou a luta para influir na distribuição de poder seja entre Estados ou entre grupos dentro de um mesmo Estado.

Nessa perspectiva, a política tem como ponto de referência o Estado. Dessa maneira, por exemplo, para além da disputas entre os partidos políticos que aspiram a assumir o governo, pode-se observar uma luta, à primeira vista, de natureza econômica,contra a politica salarial imposta pelo governo consiste também numa luta política porque através dela se exerce pressão sobre o Estado visando a influir na repartição do poder. O mesmo se aplica às lutas de

* Mestre em Ciências Sociais, professor na FRB.

O inimigo, muitas vezes, está em nôs mesmos.

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estudantes em favor do ensino público e gratuito, às lutas de mulheres por creches, à lutas de artistas e intelectuais contra a censura, à luta de parcelas da população pela humanização dos presídios – havendo um denominador comum entre estas demandas,por mais diferentes que sejam, e o alvo é o Estado,numa tentativa de levar o poder estatal a acatar as reivindicações de diferentes segmentos da sociedade.

Há porém outras dimensões da política, que vistas num sentido mais amplo, implica em relações de poder, independentemente de fazer do Estado um ponto de referência.

Nesse sentido, a Ciência Política ultrapassa seus limites convencionais, atravessando o cotidiano de cada um de nós, inclusive em circunstâncias e lugares muitas vezes insuspeitados.

Desse modo, temos de considerar que o poder está por toda parte e não diz respeito apenas a este ou aquele sujeito histórico, mas muitas vezes se instala de modo conflitivo inclusive em nós mesmos.

A esse respeito, Felix Guatari afirma que “o inimigo não está só nos imperialismos dominantes. Ele está também em nossos próprios aliados, em nós mesmos, nessa insistente reencarnação dos modelos dominantes”.

É evidente que certas classes sociais, grupos sociais ou indivíduos dispõem de mais poder do que outros. E esse poder se exprime sempre de maneira contraditória, não há como admitir a dominação absoluta: nos aparelhos de Estado, nas empresas, nas relações cotidianas convivem, contraditoriamente, a dominação e a resistência.

COTIDIANO E PODER

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e uma faces, e não escolhem lugar para se manifestarem. Sobre isso, Michel Foucault afirmou que o poder é algo que circula, ou seja, algo que funciona e se exerce em cadeia. Nesse sentido, é necessário ficar alerta para o fato de que o poder não se esgota nas relações de exploração e dominação entre as classes sociais.

As relações de dominação se estabelecem no cotidiano das pessoas, como, por exemplo, pode ser observado nas relações conjugais, onde muitas vezes impera o machismo, sendo comum o marido assumir o papel de dominador, subjugando e oprimindo a mulher, no caso a dominada. Não que em muitos casos não ocorra o inverso.

Conforme já citamos, Guattari alerta para a reencarnação em todos, inclusive em nós mesmos, dos modelos de dominação. Por isso, alerta para que fiquemos atentos às questões micropolíticas, à economia do desejo, aos modos de produção da subjetividade capitalística, encarados como uma indústria de base do sistema capitalista.

De modo geral, na sociedade, as relações de produção são enquadradas nos domínios do campo econômico, e consequentemente da Economia. Como então isolar, artificialmente, as presenças nessas mesmas relações de mecanismos de poder? Como separar nitidamente os campos do “econômico” e do “político”, se estes se cruzam e se articulam de maneira indissociável?

VISÕES DO PASSADO: CRENÇA NO PODER DIVINO DO ESTADO E CONTESTAÇÕES Durante a Idade Média, a reflexão política estava imersa na Teologia, sinal de uma época em que a Igreja – na época portadora de imenso poder econômico, político e social – corporificava a ideologia dominante.

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seguindo os ensinamentos do apóstolo São Paulo, que “todo o poder está em Deus”, afirmando com isso as bases divinas do Estado.este era concebido como o promotor do bem comum e a política deveria ser, então, regida pela ética.

Em meio às múltiplas transformações que sacudiriam a sociedade feudal em transição para o capitalismo, destaca-se a Renascença Italiana, que impulsionava um novo modo de ver a política, e em que sobressaia a figura de Maquiavel.Para esse pensador florentino, que rompeu com as concepções medievais, o poder real “é tudo menos divino”. Ele tratou da política como uma atividade essencialmente humana e contribuiu para separar o pensamento político de reflexões meramente idealistas, deixando claro que “por ser da minha intenção escrever coisa útil para quem a compreenda, pareceu-me de mais conveniente procurar a verdade real das coisas, e não o que sobre elas nos é dado imaginar”.

Nesse sentido, Maquiavel ensina que de nada adianta alimentarmos ilusões acerca da política – tipo “política é a arte de governar voltada para o bem comum”, quando a vida política desmente isso a cada dia. Na prática – e é esse o significado do realismo de Maquiavel, que aqui desejamos enfatizar –as aparências frequentemente se confundem com a realidade e muitos governantes, cientes de que na política oficial normalmente a versão é mais importante que o fato, ou melhor, transforma-se no próprio fato, acabam. às vezes, por buscar justificativas inclusive na religião para os mais diversos procedimentos. Afinal, como observou Maquiavel, o governante, ao ser visto e ouvido, deve dar a impressão “de que é todo clemência, todo boa fé,todo integridade, todo humanidade, todo religião. Quanto a esta última qualidade, é a que mais importa aparentar”.

Dono de um realismo chocante, por colocar as pessoas cara a cara com a realidade da política institucional, Maquiavel dissertou sobre os mais variados meios usados

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pelos homens, para atingir o poder estatal, nele manter-se e expandir seu poderio, vendo nisso um atestado de “virtú”, ou seja de eficácia política. E sabiamente, constatou, entre outras coisas, que o príncipe, para evitar ser odiado, deveria evitar apropriar-se tanto dos bens como das mulheres dos seus súditos, pois “os homens

mais depressa se esquecem da morte do pai que da perda do patrimônio”.

Às voltas com a política oficial de seu tempo, Maquiavel estava, enfim, preocupado em estudar empiricamente, isto é, concretamente, como era a vida política, em vez de envolve-la em nebulosas considerações sobre como eenvolve-la deveria ser ,se não fosse o que era.

Mostrava como o príncipe agia para sempre parecer bondoso, generoso, honesto, correto – qualidades que não tinha – procurando assim ser amado, enquanto enganava o povo, com o suporte da máquina estatal

BIBLIOGRAFIA

FOUCAULT, Michel. Microfísifica do poder. Rio de Janeiro: Graal,1981

GUATTARY, Felix et al. Micropolítica.Petróplis: Vozes.1996 MAQUIAVEL.O príncipe. São Paulo: LPM,2007

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Juliana de Andrade Freire

MUNDIALIZAÇÃO DA CULTURA. COMO ENTENDER O QUE É ISSO ?

GLOBALIZATION OF CULTURE : HOW TO KNOW WHAT THIS IS?

R.TEMA S.Paulo nº 71 maio/agosto de 2011 P. 44 - 51 PALAVRAS-CHAVE

RESUMO

ABSTRACT

KEYWORDS

Cultura. Costumes. Mundialização.Produtos. O artigo coloca em discussão a questão da mundialização da cultura,características e consequências.

The article raises the question of the globalization of culture, its characteristics and consequences.

Culture. Mores.Globalization.

Autor e Texto Author - Text

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Juliana de Andrade Freire*

MUNDIALIZAÇÃO DA CULTURA. COMO ENTENDER O QUE É ISSO ?

GLOBALIZATION OF CULTURE: HOW TO KNOW WHAT THIS IS?

* Mestranda em Educação na PUC-SP. Professora na rede pública de São Paulo.

Q

uem trabalha com adolescentes logo percebe a dificuldade que apresentam diante de questões como “globalização” e “mundialização da cultura”. Alguns antropólogos têm procurado explicar e a relação que se estabelece é sempre com a economia e o mercado, tendo em vista a produção fragmentada de automóveis e outros bens e serviços, dispersos aleatoriamente pelo planeta e que são juntados para atenderem ao consumo. Mais que expressão do avanço tecnológico, representam alterações profundas no intercâmbio cultural, homogeinizando padrões de conduta e aspirações entre povos tradicionalmente separados por enormes distâncias e diferentes costumes.

A produção fragmentada de produtos e serviços

O crescimento do neoliberalismo colocou em colapso o Estado de Bem Estar Social.

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promovida pela indústria contemporânea leva o observador a constatar, nesse sistema de produção, em primeiro lugar, a perda de um território fixo, que Enzensberger, citado por Renato Ortiz, chama de “desterritorialização”.

Para reduzir custos, em vez de fabricar um automóvel numa fábrica situada numa determinada cidade, de um país – a produção se subdivide, cada parte confeccionada num local diferente. Assim, um carro é montado nos Estados Unidos, mas os vidros vêm do Canadá, o carburador da Itália, os radiadores da Áustria, os cilindros, as baterias e a ignição da Inglaterra, o pistão da Alemanha e o eixo de transmissão da França.

O que acontece é que, diante da concorrência global, as grandes empresas fragmentam o processo de produção, fabricando em lugares distantes as peças que serão montadas posteriormente. Com isso, conseguem produzir com custos mais baixos, o que aumenta o seu poder de competição internacional.

Isso ocorre em todos os campos. Por exemplo, uma campanha publicitária de xampus pode ser concebida na Inglaterra, rodada no Canadá e editada em Nova York. O mesmo anúncio é visto em Roma, Viena, no Chile, em Berlim e em qualquer canto do Brasil.

Isso ajuda a aumentar em nós a sensação de que estamos muito próximos de outros povos, compartilhando os mesmos sabonetes, as mesmas pastas de dentes, os mesmos condicionadores de cabelos.

Esse modo de ser parecido, esse modo de agir parecido, esse modo de vestir-se parecido tornam-se partes de uma cultura comum, mundializada.

Renato Ortiz, antropólogo, falando sobre a produção de roupas, diz que “as roupas japonesas consumidas no mercado americano são fabricadas em Hong Kong, Taiwan, Coréia do Sul e Cingapura, já a indústria de confecção norte-americana, quando inscreve em seus produtos “made in USA”, esquece de mencionar que eles foram produzidos no

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México, Caribe ou Filipinas”.

COTIDIANO COMPARTILHADO

Nós gostamos de olhar em volta e constatar que há,em torno de nós, um universo habitado por objetos compartilhados em grande escala. São eles que constituem nossa paisagem, mobiliando nosso meio ambiente.

As corporações transnacionais ,com seus produtos mundializados e suas marcas facilmente identificáveis, balizam o espaço mundial, marcando nosso cotidiano e o dia a dia de muitos milhões de pessoas, em centenas de países.

É só olhar nas nossas prateleiras. Ali estão chocolates Nestlé, iogurtes Danone, cerveja Budweiser, biscoitos Nabisco, tênis Nike. Mas esses mesmos produtos estão também nas prateleiras de outras famílias no mundo inteiro.

E quando visitamos outros países, logo vemos postos de gasolina com as marcas que estão em nossas esquinas, logo encontramos os mesmos chocolates que compramos aqui, os mesmos automóveis com que estamos acostumados, muitas das lojas onde compramos nossas roupas ou calçados. Diante disso, nós nos sentimos em casa, completamente a vontade nesses países.

Países não globalizados, onde a cultura não é mundializada já nos parecem estranhos e inóspitos.

Já aprendemos a dizer que a desterritorialização, a des-localização exprimem o espírito de uma época. A época em que estamos vivendo, a época contemporânea.

UM PREÇO A PAGAR

Essa fragmentação da produção, em que os produtos são fabricados em fragmentos, em lugares distantes para serem montados posteriormente e em seguida distribuídos, provocam algumas consequências que merecem reflexão.

Desse modo, logo aparece o fenômeno da terceirização dos trabalhos, a sub-contratação de profissionais, a adoção de prestação intermitente de serviços.E o que isso significa? Concretamente significa para o trabalhador a precarização

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de seu trabalho, ausência de direitos trabalhistas, exploração do trabalhador em escala crescente, enfraquecimento dos sindicatos.

Muitos não percebem essas consequências, mas o fato de não se ter consciência não significa que determinados fatos não estejam ocorrendo.

ANTECEDENTES

É bastante antigo o início da busca de integração internacional de mercados, tendo se iniciado entre o final do século XV e inícios do século XVl.

O aprimoramento das embarcações marítimas e dos sistemas de orientação e segurança, estimularam as grandes viagens, por intermédio das quais, além de aquisição de produtos como especiarias e minerais preciosos, ocorreram descobertas e/ou conquistas de novas terras.

Foi no contexto dessas grandes navegações que ocorreram a descoberta das Américas e a descoberta do Brasil.

Assim surgiram inúmeras colônias europeias situadas na África, no Caribe, nas Américas, no Brasil. Essas colônias forneciam às matrizes, matérias primas, produtos e trabalho escravo.

Com o passar do tempo, muitas colônias conseguiram sua independência política, mas se mantiveram submissas economicamente a países ricos, formando-se o que se convencionou designar como países centrais e países periféricos.

O crescimento do domínio colonial ou dos países centrais, ocorrido no período compreendido entre o século XlX e inícios do século XX ensejou a evolução para um tipo de capitalismo que ficou conhecido como “capitalismo industrial”.

Nesse quadro, as matrizes coloniais e os países centrais ocuparam-se em implantar nas suas colônias, ou no caso de países centrais em ajudar os países periféricos na

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