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Ministério Público do Estado de Mato Grosso

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Academic year: 2021

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EXCELENTÍSSIMA JUÍZA DE DIREITO DA 1ª VARA ESPECIALIZADA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER DA COMARCA DE CUIABÁ/MT.

Inquérito Policial nº xxxxxxxxx/2009

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO, vem perante Vossa Excelência oferecer DENÚNCIA contra XXXXXXXXXX, RG. xxxxxxxx SSP/MT, CPF xxxxxxxxxxxxxx, brasileiro, casado, vigia, natural de Parnaiba-PI, nascido em 14/xxx/1967 (41 anos), filho de xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx e YYYYYYYYYYYYYY, brasileira, casada, auxiliar de serviços gerais, natural de xxxx-PA, nascida em 13/xxx/1970 (38 anos), filha de xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, ambos residentes na Rua xxx, quadra xx, lote xx, nº xxxx, Bairro xxxxxxxxx, nesta Capital, pela prática dos seguintes fatos delituosos:

O denunciado XXXXXXXXXXXXXX praticou crime de tortura contra seus filhos AAAAAAAAAA, BBBBBBBBB e CCCCCCCCCC. Ademais, estuprou AAAAAAAAA, constrangendo-a a manter consigo conjunção carnal em três ocasiões.

A denunciada YYYYYYYYYYYY, é co-autora do crime de tortura, vez que deixou de defender seus filhos da ação do co-denunciado, já que sua inércia ou passividade foi suficientemente relevante, porque violou seu dever de proteção para com a(s) filha(s), bem como em certos momentos também aplicava castigos humilhantes. Além disso foi partícipe do crime de estupro na modalidade omissão, deixando a vítima a mercê do seu

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marido, ora denunciado.

DO CRIME DE TORTURA

O denunciado XXXXXXXXXXXXXXX (41 anos) é casado com a co-denunciada YYYYYYYYYYYYYYY (38 anos), com quem possui quatro filhos, DDDDDD, 19 anos (nascida em 30/xx/89) BBBBBBBBBB, 16 anos (nascido em 09/xx/93), CCCCCCCCCCC, 11 anos (nascida em 14/xx/97) e a vítima AAAAAAAAA, nascida em 01/xx/1995 (doc. de fls. 62) e todos residem na na Rua xxx, quadra xxx, lote xxx, nº xxxx, Bairro xxxxx, nesta Capital.

A família é da Igreja Assembléia de Deus, sendo um dos dogmas é que as mulheres tenham os cabelos longos.

A família é oprimida pelo denunciado, o qual controla os passos de todos, especialmente das filhas mulheres e marginaliza o filho, possivelmente para mantê-lo calado. A conduta do denunciado não visa a educação dos filhos, mas sim, controlar totalmente a situação para ele poder satisfazer seus instintos sexuais.

Há fortes indícios de que o denunciado abusou sexualmente da filha mais velha, DDDDDDDD, que se acostumou com a situação, pois agem como namorados, ou seja; ele pega em suas nádegas, coloca-a sentada em seu colo e ela o abraça, ficam de mãos dadas e consta ainda que foram vistos saindo de um motel.

Ademais, ambos fazem faculdade juntos e ele faz questão de acompanhar seus passos e a controla totalmente, tanto que ela nunca foi vista com namorado. Atualmente, com a divulgação dos abusos sofridos por sua irmã AAAAAA, DDDD alega que está namorando e vai se casar, sendo sua atitude a de proteger totalmente o pai e desmentir a irmã AAAAAAA.

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O filho BBBBB também foi constrangido pelo denunciado, sendo submetido a sofrimento físico e moral mediante aplicação de castigo pessoal, pois pintou seu cabelo de vermelho e o expulsou e espancou de casa algumas vezes. Consta ainda que na hora das refeições ele é colocado para fora da casa e constantemente, o denunciado arremessa objetos contra ele.

A filha CCCCCCCC é uma criança triste e nunca sorri, é agredida com palmatória, assiste e sofre com as humilhações, juntamente com os demais irmãos. AAAAAAAAA temia que seu pai abusasse dela sexualmente, por isso resolveu contar o que vinha sofrendo, mas DDDDDDDD foi até a escola de Gláucia e pegou sua transferência escolar alegando que ela será mandada para Brasília. Possivelmente essa criança está sendo pressionada para manter-se calada.

A vítima AAA teve seus cabelos cortados com um facão em agosto/setembro 2008 pelo denunciado, que a humilhou e aplicou uma surra com palmatória. O corte de cabelos é uma ofensa muito grande para quem é da Igreja Assembleia de Deus, e possivelmente o objetivo do denunciado era afastar a filha da congregação para impedir que ela contasse para alguém o que lhe acontecia, assim como ocorreu com DDDDDDDD que se afastou da Igreja e até mesmo requereu a exclusão do seu nome da lista de membros da Igreja.

A par disso, com o constante assédio do denunciado, a vítima teve problemas de aprendizagem na escola e acabou reprovando de ano.

A denunciada YYYYYYYYYYY é omissa e acomodou-se com a situação de abuso que ocorria com as filhas mulheres, mesmo porque ela não tinha vida íntima com o denunciado e possivelmente achava justificável a atitude do esposo, tanto que aceitou o relacionamento da filha DDDDDDDD com o marido e até mesmo admitiu dormirem os três na mesma cama. Ademais, foi omissa e deixou de evitar tal abuso, mesmo tendo o dever de fazê-lo.

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As consequências da violência sofrida pelas vítimas são incalculáveis, desde baixo rendimento escolar, dificuldade de relacionamento interpessoal, depressão, baixa auto-estima e não raramente serão pais violentos e molestadores em potencial.

Tal situação caracteriza violência psicológica, definida pela Lei 11.340/2006, pois o denunciado controla a vida de todos da família, desde suas ações, comportamentos, crenças e decisões (o que vestir, onde ir, o que assistir) agindo mediante ameaça, isolamento (exigir que o filho saia da casa na hora das refeições) vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, constrangimentos, humilhação e ridicularização (cortar os cabelos e pintar de vermelho). Para isso conta com a omissão da co-denunciada YYYYY, que mesmo após a revelação de tudo o que acontecia em sua casa, preferiu ficar ao lado do marido e contra a filha.

DO ESTUPRO

No dia 09 de novembro de 2008, por volta das 6 h, contando com a ausência da denunciada, o denunciado XXXXXXX foi até o quarto onde a vítima AAAAAAAA dormia e a constrangeu a manter consigo conjunção carnal. O crime foi cometido mediante violência real, dado seu comportamento agressivo e dominador e ainda mediante violência presumida, pois a vítima tinha 13 anos e ficou totalmente sem reação.

A noite a vítima contou o que tinha acontecido à sua mãe YYYYYYYY, que, ao invés de levar o caso ao conhecimento das autoridades e tomar providências para proteger sua filha do denunciado, nada fez.

Após esse primeiro episódio, o denunciado constrangeu a vítima mais duas vezes, a manter consigo conjunção carnal e além da penetração normal, ele colocava o dedo na vagina da vítima.

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O último abuso deu-se dia 27 de dezembro de 2008, quando a vítima se desesperou pois o denunciado disse que se ela contasse para alguém, mataria a mãe quando estivesse dormindo.

A atitude da denunciada – de omissão – demonstrou-se penalmente relevante diante dos danos sofridos pela vítima, que passou a desenvolver pensamentos suicidas, já que não encontrou apoio nem sequer na própria mãe.

Some-se a gravidade da omissão praticada pela denunciada o fato de existirem fortes indícios de que não era a primeira filha de quem XXXXXXXXXX abusava, ou seja, a denunciada conhecia e concordou com tal comportamento do marido.

A denunciada aderiu à conduta criminosa do denunciado também pelo fato de não manter contato sexual com o marido, aquiescendo que as filhas servissem ao agressor, satisfazendo sua lascívia doentia com a própria prole; fato que pode ter ocorrido inúmeras vezes, além das três vezes detectadas na presente investigação.

Pensando até em suicídio, sem encontrar apoio na mãe, AAAAAAAAA relatou os fatos a uma vizinha e foi levada até o pastor da Igreja em que congrega e várias pessoas tomaram conhecimento do crime e a ajudaram buscar ajuda, tendo sido decretada a prisão preventiva do denunciado.

As consequências do crime cometido pelo denunciado contra sua filha pode ser ilustrado pela cartilha elaborada pela CPI da pedofilia, que concluiu que crianças e adolescentes que sofrem abuso sexual tornam-se retraídas, perdem a confiança no adulto, ficam aterrorizadas, deprimidas e confusas, sentem medo de serem castigadas, às vezes até sentem vontade de morrer, perdem o amor próprio, têm queda no rendimento escolar, apresentam sexualidade não correspondente à sua idade.

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O laudo pericial constatou que a vítima tem hímen complacente (fls. 96/142).

Assim agindo, incorreu o denunciado XXXXXXXXXX nas sanções do art. 1º II e § 4º II (contra adolescente) da Lei 9.455/97 (tortura) cc. 71 do CP e art. 213 cc. 224 “a” (menor de 14 anos), 226 II (3x) cc. 69 do CP, e YYYYYYYYYYY nas sanções do art. 1º § 2º da Lei 9.455/97 (tortura por omissão) e art. 213 cc. 224 “a” (menor de 14 anos), 226 II (3x) cc. 29 e 69 do CP, razão pela qual é oferecida a presente denúncia, que requer seja D.R. A, para citação e interrogatórios, para se verem processar, sob pena de revelia, e ao final condenação. Requer a oitiva das testemunhas e informantes abaixo.

1-AAAAAAAAAAAAA, vítima do estupro e denunciante 2-..., fls. 66 3-..., fls. 69 4-..., fls. 72 5-..., fls.75 6-..., fls. 80 7-..., fls.83 8-..., fls.85 9-CCCCCCCCCCCCCCCCCCCC, informante 10-BBBBBBBBBBBBBBBBBB, informante Cuiabá, 11 de março de 2009

ELISAMARA SIGLES VODONÓS PORTELA PROMOTORA DE JUSTIÇA

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IP 152/2008

Geap 001551-007/2009

1a.Vara de Violência Doméstica Meritíssima Juíza

Segue denúncia em separado em 06 laudas por crime de tortura e estupro contra XXXXXXXXXXXXXXX e YYYYYYYYYYYYYYYYY. Requer seja decretado SEGREDO DE JUSTIÇA no presente processo, a fim de evitar a revitimização e exposição desnecessária da vítima AAAAAA e ainda o desentranhamento das fotografias de fls.100 a 106 (erroneamente numeradas em 100, 110, 120, 130, 140, 141, 142).

1-Requer seja certificado acerca dos antecedentes criminais dos denunciados junto a Comarca de Cuiabá e Várzea Grande e estado do Piauí e Pará

2- Seja oficiado a Casa de Retaguarda Paulo Prado para informar se foi elaborado estudo psicológico da vítima.

3- Foi encaminhada cópia da denúncia a Promotoria da Infância para adoção das medidas que entender cabíveis.

4-Requer que a criança CCCCCCCCCCCCCC seja localizada e colocada em segurança, pois é suscetível a influência da mãe e da irmã mais velha DDDDDDDDD.

Cuiabá, 11 de março de 2009.

ELISAMARA SIGLES VODONÓS PORTELA PROMOTORA DE JUSTIÇA

Referências

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