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DEVER DE MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS: UMA GARANTIA INERENTE AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

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V Mostra de Pesquisa da

Pós-Graduação

DEVER DE MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS: UMA

GARANTIA INERENTE AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE

DIREITO

Frederico Loureiro de Carvalho Freitas, Prof. Dr. José Maria Rosa Tesheiner (orientador)

Programa de Pós-Graduação em Direito da PUCRS, Mestrado em Direito Resumo

O presente estudo pretende fazer uma abordagem sobre a garantia constitucional do dever de motivação das decisões judiciais, conforme o artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal de 1988. Para tanto, são analisados diversos elementos que fundamentam o dispositivo, com o intuito de observar a finalidade e a utilidade da obrigação, para verificar a possibilidade de acatar proposta para suprimir a fundamentação de acórdão de tribunal ad

quem, quando forem confirmados os fundamentos do julgamento do juiz ad quo. Importante

observar, que o movimento atual de criação de um novo Código Processual Civil, pretende reformular alguns conceitos e instrumentos processuais, no intuito de garantir uma prestação jurisdicional mais adequada, efetiva e tempestiva. De fato, alguns elementos do código atual estão defasados frente à necessidade e realidade enfrentada pelo Poder Judiciário, necessitando realmente de uma readequação pontual. Ocorre que, a atividade judicial do magistrado vai além da aplicação lógica da lei, bem como é eivada pelo alto nível de discricionariedade e subjetivismo do juiz na solução da lide, tendo em vista a complexidade de nosso ordenamento, o que facilita a posição do juiz ativo, bem como aumenta o grau de insegurança jurídica dos jurisdicionados. Justamente por isso, a necessidade de efetivar o controle das decisões judiciais, para garantir um juiz imparcial, ativo e vinculado a legalidade, é essencial para o Estado Democrático de Direito.

Introdução

A origem do dever de motivação das decisões judiciais remonta à segunda metade do século XVIII, quando o surgimento dos pensamentos revolucionários iluministas tomou conta do continente europeu. Desde então, diversos países passaram a incorporar em seus

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ordenamentos o dever expresso de motivação das decisões judiciais. Em um primeiro momento, a idéia expressava uma solução puramente técnica de controle das decisões judiciais, quando então era possível verificar o raciocínio lógico da decisão do magistrado, para melhor fundamentar a impugnação da decisão proferida. O caráter público empregado ao processo, fez com que o cidadão tivesse acesso ao julgamento das controvérsias, no sentido de fiscalizar a legalidade da sentença proferida, através de uma participação democrática no controle externo das decisões judiciais. Na segunda metade do século XX, no período do pós-guerra, o dever de motivação das decisões judiciais foi elevado à nível constitucional em alguns países ocidentais, dos quais, pode-se destacar Portugal, artigo 205, da Constituição de 1976; Espanha, no artigo 120, da Constituição de 1978; a Constituição Belga de 1994, em seu artigo 149; na Itália, conforme o artigo 111, da Constituição italiana. Com o Brasil, não fora diferente, pois, em que pese já haver previsão expressa no Código de Processo Civil de 1973, a Constituição Federal de 1988, trouxe em seu artigo 93, inciso IX, o dever de motivação das decisões judiciais. Como bem lembra Michele Taruffo, l´obbligo di motivazione non è soltano

uno strumento di garanzia processuale in senso stretto, ma si ricollega alla concezione generale dello Statto e del potere pubblico, che proprio nell´esercizio della giurisdizione trovano una manifestazione fondamentalle.( Il significato costituzionale dell´obligo di motivazione, 1988, p. 41).

Em face deste breve levantamento histórico, é possível compreender que o dever de motivação das decisões judiciais acompanhou o movimento histórico cultural dos povos ocidentais, que ao longo dos últimos séculos sofreu influxos políticos e sociais fundamentais na formação do Processo Civil e do Estado Democrático de Direito. A relação juiz – partes, também foi objeto de evolução e amadurecimento nestes últimos séculos. A idéia de um processo extraestatal, caracterizado pela ausência de jurisdição estatal, onde o procedimento era controlado e regulado pelas próprias partes, e o juiz simplesmente identificava e reconhecia o direito ao caso concreto, cedeu espaço ao processo inquisitório, caracterizado pela incorporação da jurisdição pelo Estado. Nesta fase, a relação juiz – partes era considerada assimétrica, pois o juiz representava o poder estatal, e, portanto, estava totalmente ligado a lei, a vontade maior do Estado, representada pela força legislativa. A postura assimétrica, marcada pelo desequilíbrio entre as partes na relação processual, perdeu espaço no período pós-guerra, quando começou a surgir a preocupação pelos direitos fundamentais do cidadão e pelo controle dos poderes, que passou a ser exercido pelo Poder Judiciário, quando a relação juiz-partes assume postura denominada isonômica ou

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colaborativa. Nesta última fase, vivenciada nos dias de hoje, a grande influência das garantias fundamentais constitucionais e processuais acabam por regulamentar posturas e atitudes, antes inconcebíveis e inexistentes. A participação ativa de juízes e partes na relação processual alterou enormemente a estrutura processual e a maneira de interpretação e aplicação do direito no caso concreto.

Esta verdadeira mudança de paradigma, trouxe uma postura muito mais ativa e discricionária por parte do órgão judicial, pois, a justiça do caso concreto não se restringe mais a mera aplicação da lei, através de um método silogístico e subsuntivo, mecânico e lógico. A transformação da relação juiz – partes, bem como Estado – cidadão, trouxe novos elementos e valores que acabaram por serem incorporados no ordenamento interno, o que alterou o modelo de interpretação e racionalidade jurídica. Hoje, il pottere non è assoluto, e

soprattutto non è occculto: al contrario, vige il principio di trasparenza, dell´esercizio potere, dato che la sua legittimazione non è piú fondada sul principio di autoritá, ma sulla legittimittà democratica (TARUFFO, Michele. Il significato costituzionale dell´obbligo di motivazione, 1988, p. 41.). O processo de raciocínio jurídico realizado pelo magistrado

quando da aplicação da lei ao caso concreto é extremamente complexo e subjetivo, muito distante da máxima que pregava o juiz como la bouche de la loi, reforçando, ainda mais, a necessidade da motivação da decisão e dos fundamentos apresentados pelo julgador. O fim do direito não é outro senão aplicar a lei ao caso concreto,e, para tanto, o juiz deve atentar para a correta aplicação e interpretação da controvérsia, buscando resolver da melhor forma possível a lide. Através da interpretação racional do ordenamento, o juiz aplica a norma ao direito, que

non è mai qualcosa di meccanico e di oggettivamente determinato, ed è invece il risultato di un insieme complesso di scelte e di valutazioni. Ma se il giudice non si limita a dedurre passivamente la decisione, ed invece, la crea scegliendo l´interpretazione della legge che ritiene piú giusta. (TARUFFO, Michele. Il significato costituzionale dell´obbligo di motivazione, 1988, p. 43).

A relevância histórica da motivação e sua utilidade prática para o Estado Democrático de Direito, deve ser observada e respeitada, assim como o fez o legislador Constituinte, ao prever o artigo 93, inciso IX, que dispõe: (...) todos os julgamentos dos órgãos do Poder

Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as suas decisões, sob pena de nulidade,(...).

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simples veiculação de proposta1 para flexibilizar a exigência de fundamentação de acórdão que remete as razões da sentença vergastada, não merece prosperar, pois fere frontalmente garantia constitucional do cidadão.

Metodologia

Nesta etapa da pesquisa utilizou-se, predominantemente, o método de abordagem dedutivo – partindo-se, portanto, da análise de questões gerais, comuns à teoria dos direitos fundamentais processuais, e, especificamente, a garantia da motivação das decisões judiciais, com a finalidade de analisar proposta realizada pela Associção dos Magistrados Brasileiros à Comissão responsável pelo novo Código de Processo Civil – tendo sido utilizado, como técnica de pesquisa, a revisão bibliográfica, a coleta jurisprudencial, e propostas de legge

ferenda sobre o tema.

Resultados (ou Resultados e Discussão)

Feitas as devidas ponderações, é possível sustentar que o dever de motivação das decisões judiciais serve como elemento idealizador da garantia da imparcialidade do juiz, do controle da discricionariedade e da administração judicial pelo tribunal ad quem e pela coletividade, além de constituir elemento fundamental para o regular exercício do contraditório. Portanto, a finalidade da garantia constitucional em tela, tem sua fundamentação amplamente difundida nos elementos processuais que asseguram a dialética e a democracia na resolução da lide pelo órgão Judiciário, de tal sorte que não pode ser suprimida, nem mesmo contrária à garantia do cidadão nos moldes atuais.

Conclusão

A pesquisa pretendeu analisar a garantia constitucional do dever de motivação das decisões judiciais, inserida no artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal, como corolário de

1 A Associação dos Magistrados Brasileiros formalizou uma série de propostas e encaminhou à Comissão de

juristas responsáveis pelo Novo Código de Processo Civil, dentre as propostas, no item 5.2.5, foi sugerido: Adotar, no CPC, a regra da parte final do art. 46 da Lei n. 9.099/95, que dispensa o acórdão na hipótese de confirmação integral da sentença; suficiente a certidão do julgamento e a ementa para firmar jurisprudência. Quando necessário o acórdão, dele se deve dispensar o relatório, como se propôs em relação à sentença. O relatório só subsiste no momento de proferir o voto, na sessão de julgamento.

Art. 46. O julgamento em segunda instância constará apenas da ata, com a indicação suficiente do processo, fundamentação sucinta e parte dispositiva. Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.

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concretização do Estado Democrático de Direito. O tema mostra-se oportuno em razão da preocupação atual do legislador em aperfeiçoar o ordenamento processual civil para melhor atender as necessidades do jurisdicionado e conter a crise que fere o amplo acesso à justiça. Neste diapasão, a busca pela celeridade processual não pode, nem deve ferir direitos expressamente inseridos na Constituição Federal, sob pena de corromper com a própria idéia de democracia, vista sob o prisma processual. A simples previsão de afastar a necessidade de motivação das decisões judiciais, mesmo quando da confirmação integral da sentença ad quo, fere frontalmente o dispositivo constitucional, portanto, tal hipótese não deve ser admitida, ainda que em forma de simples proposta para a Comissão encarregada de redigir o novo diploma processual civil.

Referências

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