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O Papel do Coping Diádico na Satisfação Conjugal:

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

O Papel do Coping Diádico na Satisfação Conjugal:

Estudo Comparativo entre Casais com e sem Acidente de Trabalho

Rita Martins Coelho

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/

Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica)

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

O Papel do Coping Diádico na Satisfação Conjugal:

Estudo Comparativo entre Casais com e sem Acidente de Trabalho

Rita Martins Coelho

Dissertação orientada pela Professora Doutora Maria Teresa Ribeiro

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

2017

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/ Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica)

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Agradecimentos

… à Professora Doutora Maria Teresa Ribeiro, por me ter aceite como herança, por toda a tolerância, pela disponibilidade e pela confiança. … à Professora Doutora Rita Francisco, por me ter despertado o interesse neste tema e pela disponibilidade apesar da ausência. … à Dra. Susana Lameiras, por ter sido presença constante ao longo destes dois anos de tese, por toda a ajuda, por todo o interesse no meu estudo e pela motivação permanente neste percurso. … ao meu Chefe Heliodoro, pela oportunidade, pela confiança (quase) cega, por toda a compreensão nesta reta final, por todos os ensinamentos e por me ajudar a crescer ao longo destes últimos seis meses. … à Nina, por aceitar e perdoar a minha ausência, o meu cansaço e nunca me deixar sozinha. … à Inês, por me levantar sempre (!) que eu caio. ... à Sónia, por ser farol neste final de percurso. Se não fosse a tua luz a encaminhar-me para terra ainda estaria à deriva, miga! … à Farinha, por toda a presença, motivação e ajuda nesta fase crítica, por ter sido a primeira e por nunca se ter ido embora. … à Susana Vaz, por estar sempre presente, pela atitude positiva com que me fez ver estes últimos momentos. ... à Daniela, à Sheyla e à Diana, por serem fonte de força inesgotável. … à Gente Linda, pelos 5+1 anos na faculdade, por todos os momentos, porque serão certamente amigos para a vida. …à Susana Pereira e à Pipas, por me fazerem querer seguir os vossos passos. … às primas, Lara, Luana, Elsa e Lúcia, por nunca me deixarem esquecer quem eu sou e do que sou feita. … à Sara, poderia pedir melhor irmã? Hm, nem por isso.. ... ao Pai, por aceitar o meu atraso, por acreditar em mim mais do que eu, por nunca me deixar desistir. … à Mãe, por se fazer ouvir na minha voz e ver no meu reflexo, por ser a minha estrela, o meu anjo da guarda, a minha maior fonte de inspiração.

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Índice

Lista de Tabelas e Figuras ... i

Resumo ... ii Abstract ... iii Introdução: ... 1 Enquadramento Teórico ... 2 Acidente de Trabalho ... 2 Conjugalidade ... 3 Satisfação Conjugal ... 4

Stress Individual e Stress Diádico ... 6

Coping Individual e Coping Diádico ... 7

Modelo Transaccional-Sistémico de Coping Diádico ... 9

Relação entre Acidentes de Trabalho, Satisfação Conjugal e Coping Diádico ... 10

Método ... 12

Seleção e Caraterização da Amostra ... 12

Operacionalização das Variáveis em Estudo... 14

Instrumentos Utilizados... 15

Questionário Sócio-Demográfico ... 15

Kansas Family Life Satisfaction Scale (ESCK) ... 15

Inventário de Coping Diádico (ICD) ... 15

Procedimento de Recolha e Tratamento de Dados ... 16

Resultados ... 17

Descrição dos resultados ... 17

Discussão... 20

Conclusão ... 25

Limitações e propostas futuras ... 25

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Lista de Tabelas e Figuras

Figura 1 – Mapa conceptual das variáveis em estudo (comparação entre amostras com e

sem acidente de trabalho).

Tabela 1 – Relação entre satisfação conjugal, soma total do ICD e fatores retiradas do

ICD, em casais com acidente de trabalho

Tabela 2 – Relação entre satisfação conjugal, soma total do ICD e fatores retiradas do

ICD, em casais sem acidente de trabalho.

Tabela 3 – Diferenças entre casais com e sem acidente de trabalho, relativamente à satisfação conjugal.

Tabela 4 – Diferenças entre casais com e sem acidente de trabalho, relativamente aos

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Resumo

A relação de casal é primordial na vida dos indivíduos, e, como tal, é importante entender os fatores que a influenciam e que contribuem para o sucesso de uma relação. Com o presente estudo pretendeu-se investigar qual a relação entre o coping diádico e a satisfação conjugal, em duas amostras distintas, uma em que um elemento do casal sofreu um acidente de trabalho e outra em que nenhum dos elementos do casal sofreu este stressor. A amostra foi composta por 68 casais, 31 dos quais eram casais em que um dos elementos tinha sofrido um acidente de trabalho e 37 em que nenhum dos elementos tinha sofrido um acidente de trabalho. Para avaliar a satisfação conjugal foi utilizada a versão portuguesa da “Kansas Family Life Satisfaction Scale” e para avaliar o coping diádico foi utilizado a versão portuguesa do “Dyadic Coping Inventory”. Os resultados revelam diferenças significativas, entre as duas amostras, em relação à satisfação conjugal. Em relação aos tipos de coping diádico utilizados, encontraram-se diferenças significativas apenas em relação ao fator do coping diádico apoiante focado nos problemas.

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Abstract

The couple relationship is paramount in the lives of individuals, and as such, it is important to understand the factors that influence it and that contribute to the success of a relationship. The present study aimed to investigate the relationship between dyadic coping and marital satisfaction in two distinct samples, one in which one partner suffered a work accident and another in which none of the couple's elements suffered this stressor. The sample consisted of 68 couples, 31 of whom were couples in which one of the members had suffered a work accident and 37 in which none of the members had suffered a work accident. The Portuguese version of the "Kansas Family Life Satisfaction Scale" was used to evaluate marital satisfaction and the Portuguese version of the “Dyadic Coping Inventory” was used to evaluate dyadic coping. The results revealed significant differences between the two samples in relation to marital satisfaction. Regarding the types of dyadic coping used, significant differences were found only in relation to the problem-related supportive dyadic coping factor.

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Introdução:

O presente estudo1 pretende compreender o papel dos tipos de Coping Diádico, utilizado pelos elementos do casal, na Satisfação Conjugal, e perceber se a existência de um acidente de trabalho altera a relação entre a Satisfação Conjugal e o Coping Diádico, ao comparar uma amostra de casais em que um dos elementos sofreu um acidente de trabalho e outra amostra de casais em que este fator de stress não ocorreu. Os acidentes de trabalho podem provocar stress, tanto no indivíduo como no seu parceiro e são assim desencadeados mecanismos de coping, tanto individual como diádico, para lidar com o mesmo, e é nesse sentido que vamos seguir a nossa investigação.

A escolha do tema é justificada 1) pela escassez de estudos que explorem estas variáveis, dentro e fora do nosso país; 2) pelas taxas elevadas de divórcio, tanto nos E.U.A como na Europa (Bodenmann, Pihet, Shantinath, Cina & Widmer, 2006b), particularmente em Portugal (64,8% de divórcios registados em 2009; Instituto Nacional de Estatística); 3) por muitos dos casamentos que não terminam em divórcio, serem sentidos pelos cônjuges como atribulados (Döring, Baur, Frank, Freundl, & Sottong, 1986, cit. por Bodenmann et al., 2006b); 4) pela importância que as relações amorosas têm para a felicidade e bem-estar dos indivíduos (Bodenmann et al., 2006b) e; 5) pela importância que estratégias de coping ao nível da díade parecem ter para uma maior satisfação e resiliência conjugal (Papp & Witt, 2010).

A presente dissertação, redigida em formato de artigo científico, divide-se em cinco capítulos: 1) Enquadramento teórico – reúne revisão de literatura e objetivos; 2) Metodologia – enquadra informação sobre participantes, instrumentos e procedimentos; 3) Resultados – composto pelos resultados obtidos através das análises; 4) Discussão – interpretações dos resultados e limitações do estudo; e 5) Conclusão – reflexões sobre as forças do estudo e pistas para investigações futuras.

1 A presente investigação constitui um recorte de uma investigação a decorrer no âmbito do projeto de

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Enquadramento Teórico

Acidente de Trabalho

É acidente de trabalho aquele que se verifique no local e no tempo de trabalho e produza direta ou indiretamente lesão corporal, perturbação funcional ou doença de que resulte redução na capacidade de trabalho ou de ganho ou a morte (artigo 8º, Lei n.º 98/2009 de 4 de Setembro). O acidente de trabalho inclui imprevistos que podem matar ou ferir física ou psicologicamente o trabalhador, como é o caso de uma queda, da perda de controlo de uma máquina, de incêndio ou explosão no decorrer do trabalho. (PORDATA, 2016). São também considerados acidentes de trabalho os acidentes de viagem, de transporte ou de circulação, nos quais os trabalhadores ficam lesionados e que ocorrem por causa, ou no decurso do trabalho, isto é, quando exercem uma atividade económica, ou estão a trabalhar, ou realizam tarefas para o empregador (INE, 2016).

Em Portugal, em 2013, aproximadamente 2% da população sofreu um acidente de trabalho. O número de acidentes de trabalho tem vindo a diminuir desde 2002; 2008 foi o ano em que houve mais acidentes, mas desde então o número tem vindo sempre a diminuir até ao presente ano, sendo que em 2013 houve 195.578 acidentes de trabalho, tendo 160 sido mortais (PORDATA, 2016).

Os estudos acerca desta temática começaram por focar-se principalmente nas causas dos acidentes de trabalho (e.g. Silva, 2003 cit. por Gonçalves, Ribeiro e Sales, 2009). Mais recentemente foi verificado um aumento da investigação ao nível das consequências dos acidentes de trabalho, ao nível social Castro, Correia e Lima (2006, cit. por Gonçalves, Ribeiro e Sales, 2009) analisaram o modo como os meios de comunicação relatam os acidentes de trabalho, tendo sido verificado que as notícias são escritas de forma diferente consoante o grupo ocupacional da vítima do acidente de trabalho. Também a nível organizacional tem sido estudada a forma como as organizações aprendem com os acidentes de trabalho (e.g. Silva e Lima, 2005 cit. por Gonçalves, Ribeiro e Sales, 2009) e ao nível individual, como os acidentes de trabalho se podem associar ao desenvolvimento de reações psicológicas adversas como a perturbação pós-stress traumático2. Foi notado que existia um sistema que não estava a ser estudado, o

2 A PPST refere-se a um conjunto de sintomas psicológicos e físicos que resultam de como uma experiência

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sistema familiar (e.g. Dembe, 2001 e Goff & Smith, 2005 cit. por Gonçalves, Ribeiro e Sales, 2009) e foi nesse sistema que o estudo de Gonçalves, Ribeiro e Sales (2009) incidiu, tendo sido concluído que o acidente de trabalho tem impacto no sinistrado e na sua família (e.g. Dembe, 2001 cit. por Gonçalves, Ribeiro e Sales, 2009) e que o apoio dos filhos e da família alargada foi fundamental para os casais entrevistados. A nível da investigação os resultados apontam para a necessidade de estudos sobre as consequências dos acidentes de trabalho, designadamente tendo em consideração um espectro mais alargado de vítimas do acidente (por exemplo, a família).

Conjugalidade

O Código Civil Português define casamento como “contrato celebrado entre duas pessoas que pretendam constituir família mediante uma plena comunhão de vida” (artº. 1577, Lei n.º 9/2010 de 31 de Maio). Apesar de as relações serem habitualmente concebidas ente indivíduos de sexo diferente, por meio de casamento, no presente a visão de conjugalidade é mais alargada e abrange relações entre duas pessoas não casadas, que vivam em regime de união de facto e relações entre pessoas do mesmo sexo.

A conjugalidade, que é entendida como uma relação em situação de casamento ou união de facto, entre dois indivíduos de sexo diferente, é um fenómeno complexo e, uma das áreas de interesse por parte dos investigadores nas últimas décadas.

De igual modo, nas últimas décadas, o fenómeno do divórcio, assim como os fatores que contribuem ou previnem o seu acontecimento, tem sido alvo de interesse por parte dos investigadores (Bodenmann, 2005; Bradbury, Fincham, & Beach, 2000; Gottman & Levenson, 2000; Karney & Bradbury, 1995). Deste modo tem-se conseguido reunir conhecimento acerca das variáveis relevantes para o sucesso ou insucesso do casamento, como os processos de comunicação e de resolução de conflitos (Gottman & Levenson, 2000; Wunderer & Schneewind, 2008), bem como as características e vulnerabilidades pessoais (Karney & Bradbury, 1995), o stress no casamento

outra ameaça à integridade física, ou então pelo observar de acontecimento que envolva a morte, ferimento ou ameaça à integridade de outra pessoa, ou ter conhecimento acerca de uma morte violenta ou não esperada, ferimento grave ou ameaça de morte ou ferimento vivido por um familiar ou amigo íntimo. A resposta da pessoa ao acontecimento deve envolver um medo intenso, sentimento de incapacidade de ter ajuda ou horror.

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(Bodenmann, 2000, Bodenmann & Cina, 2000, cit. por Wunderer e Schneewind, 2008), e o coping diádico (Bodenmann, 2000, cit. por Wunderer & Schneewind, 2008).

Por outro lado, estudos longitudinais revelam que, os casamentos que seguem um curso negativo, são constituídos por cônjuges com falta de competências (Bodenmann et al., 2006b) entre elas competências diádicas de comunicação, de resolução de conflitos e de coping (Karney & Bradbury, 1995).

Ao longo de ciclo de vida, são diversos os acontecimentos que podem ser encarados como stressores (Bodenmann, Pihet & Kayser, 2006a). Os quais afetam a família e cada um dos seus membros e as relações entre eles (Walsh, 2002) e, se por um lado, a forma como a díade responde ao stress promove o desenvolvimento das suas forças ou fragilidades, por outro, o stress que afeta um dos elementos do casal irá refletir-se no subsistema conjugal (Alarcão, 2006). Uma vez que o subsistema conjugal é o núcleo de uma família e a conjugalidade (satisfeita) representar uma fonte de satisfação com a vida (Ruvolo, 1998, cit. Por Bodenmann et al., 2006a), bem-estar emocional (Tesser & Beach, 1998, cit. por Bodenmann et. al., 2006a) e saúde física (Schmaling & Sher, 2000, cit. por Bodenmann et al., 2006a) torna-se pertinente compreender o modo como o subsistema conjugal (tanto a díade como cada elemento) reage perante a adversidade e é capaz de ser resiliente.

Satisfação Conjugal

Hendrick, Dicke e Hendrick (1998, pp. 137) definiram satisfação conjugal como “uma avaliação subjetiva de cada pessoa em relação ao que sente sobre a sua relação, num dado momento”.

Nos países ocidentais, de uma maneira geral, e em Portugal, em particular, as taxas de divórcio têm atingido valores bastantes elevados (Bodenmann et al., 2006b), e uma grande parte dos casais continua a optar pelo (re)casamento/união de facto. O motivo para este acontecimento parece residir na satisfação e bem-estar que o casamento representa (Narciso, 2001), os quais têm sido alvo de muita investigação.

Desde a década de 50 que a investigação se passou a focar nos estilos de interação entre os indivíduos e sobre as relações (Bateson, Jackson, Haley & Weakland, 1956 cit. por McCabe, 2006), e não apenas nos indivíduos. Neste sentido, também as interações entre o casal passaram a ser alvo de interesse. Nessa altura, os estudos abordavam

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principalmente a disfuncionalidade de comportamentos e cognições e portanto, havia a crença de que casais infelizes eram simplesmente mais negativos do que os casais felizes (McCabe, 2006).

Nos anos 70, foi dada importância a outras variáveis como o afeto, a comunicação e a resolução de conflitos e portanto os casamentos felizes e a satisfação conjugal começaram a ser explorados. Devido à sua importância para o indivíduo, família e bem-estar, alguns autores orientaram as suas investigações para este tema.

Dentro desta área, os estudos mais recentes têm procurado compreender os fatores que se relacionam com a satisfação conjugal, as suas causas e consequências, de modo a construir estratégias de intervenção e prevenção para casais em dificuldade (McCabe, 2006; Kardatzke, 2009).

Uma vez que a relação de casal é primordial na vida dos indivíduos (Robles e Kiecolt-Glaser, 2003), é importante entender os fatores que a influenciam e que contribuem para o sucesso de um casamento.

Halford e Moore (2002, cit. por Vedes, Lind & Lourenço, 2011) sugerem a seguinte categorização das variáveis que afetam a satisfação conjugal: 1) processos adaptativos do casal (afetivos, comportamentais e cognitivos); 2) transições ao longo do ciclo de vida (normativas e não-normativas que afetam o casal ou um dos cônjuges); características individuais (história, personalidade e experiências pessoais que os cônjuges trazem para a relação) e; 4) variáveis contextuais (família de origem, rede social, trabalho e cultura).

O stress afeta naturalmente a relação (Bodenmann, 2005) e, a literatura tem vindo a demonstrar que o apoio do parceiro aumenta a satisfação conjugal (Dehle, Larsen, & Landers, 2001; Pasch & Bradbury, 1998, cit. por Brock & Lawrence, 2008) e que casais que enfrentam em conjunto o stress, têm mais probabilidade de aumentar a confiança mútua, o compromisso e a perceção de si enquanto equipa (Bodenmann, 2005).

Cutrona (1996) sugere que um dos mecanismos através do qual o apoio do parceiro contribui para a satisfação no casamento é a prevenção da degradação relacional provocada pelo stress, e, no mesmo sentido, Bodenmann sugere que coping diádico tem dois objetivos principais: 1) a redução do stress e 2) o reforço da qualidade do relacionamento (Bodenmann, 2005).

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Stress Individual e Stress Diádico

Em 1936, Hans Selye (cit. por Ferreira- Santos, 2007) empregou pela primeira vez o termo stress para caracterizar qualquer agente ou estímulo, nocivo ou benéfico, capaz de desencadear no organismo mecanismos neuroendócrinos de adaptação (Schott, 1993 cit. por Ferreira-Santos, 2007).

As teorias mais individualistas e menos abrangentes definem o stress como um processo dinâmico e bidirecional (Indivíduo  Ambiente) no qual o indivíduo tem a capacidade de modificar o impacto de um indutor de desconforto através de estratégias de caráter cognitivo, emocional e comportamental (Folkman & Lazarus, 1984).

O stress pode ser entendido como um tipo de reacção que se ativa em situações nas quais se percebe que não existem recursos suficientes perante as demandas (Lazarus, 1990 cit. por Collado, 2008).

Este processo pode ser visto como um processo normal de adaptação ao meio na medida em que, depois de gastos energia e recursos, estes se recuperam através do descanso (Cano-Vindel & Serrano-Beltrán, 2006 cit. por Collado, 2008).

Quando duas pessoas se juntam, também passam por situações provocadoras de stress, tanto individualmente como em conjunto, sendo que o stress sentido em casal é designado por stress diádico. Bondenmann (2005) define stress diádico como um evento stressante que afeta ambos os parceiros, quer diretamente – quando ambos são confrontados com o mesmo evento stressante ou quando o stress se origina dentro da relação – quer indiretamente – quando o stress de um dos parceiros é transferido para a relação conjugal e afeta ambos os elementos do casal. O stress diádico provoca avaliações conjuntas, ou seja, avaliações diádicas, para além das avaliações individuais.

O stress diádico divide-se em três dimensões: 1) a forma como cada um dos parceiros é afetado pela situação de stress – direta ou indiretamente; 2) a origem do stress – externo ou interno à relação de casal e 3) a sequência temporal – em que momento do processo de coping é que cada parceiro fica envolvido.

Randall e Bodenmann (2009), entre outros investigadores, adotaram uma visão sistémica do stress, em que consideram que o stress de um dos elementos do casal tem sempre impacto no outro, e que o stress individual se reflete na díade.

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Cada um dos stressores pode ser caracterizado de acordo com a sua origem, com a intensidade do stress e com duração do mesmo. Em relação à sua origem, distingue-se entre ser um stressor externo ou interno. Os stressores externos incluem a interação entre os parceiros e o ambiente social, que pode afetar indiretamente a relação de casal. Como por exemplo o stress no trabalho, ou stress relativo à família fora da díade. Já os stressores internos são originados dentro da relação de casal. Como por exemplo conflitos existentes entre os parceiros devido a diferenças que perturbam o outro. No que toca à intensidade do stress estes podem ser stressores major, que são acontecimentos de vida significativos, normativos e não-normativos, como por exemplo doenças graves, desemprego, acidentes e morte, ou podem ser stressores minor, que são stressores diários da vida quotidiana; incluem exigências que ocorrem diariamente e geram irritação, frustração e ansiedade, como por exemplo conflitos no trabalho, aspetos da vida familiar, ou do ambiente físico. Por último, relacionado com a duração do stress, os stressores podem ser agudos ou crónicos, sendo que os primeiros são temporários e os seus efeitos costumam ser limitados, como por exemplo doenças graves, desemprego, acidentes e morte, enquanto os segundos são relativos a aspetos estáveis do ambiente e os seus efeitos podem ser a longo-prazo, como por exemplo conflitos no trabalho, aspetos da vida familiar, ou do ambiente físico.

Coping Individual e Coping Diádico

Como anteriormente referido, ao longo de ciclo de vida, são diversos os acontecimentos que podem ser encarados como stressores (Bodenmann et. al, 2006a) e esses acontecimentos críticos e o stress afetam não só a família como cada um dos seus membros e as relações entre eles (Walsh, 2002) e, se por um lado, a forma como a díade responde ao stress potencia o desenvolvimento das suas forças ou fragilidades, por outro, o stress que afeta um dos membros do casal irá repercutir-se no subsistema conjugal (Alarcão, 2006).

O coping é concebido como o conjunto das estratégias utilizadas pelos indivíduos para se conseguirem adaptar a circunstâncias adversas, entre elas o stress.

A teoria de coping diádico (Bodenmann, 2005) tem como objetivos principais a redução do stress de cada elemento do casal e o melhoramento da qualidade e estabilidade da relação conjugal, promovendo o sentimento de we-ness, (sentimento de nós) que se

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refere à confiança mútua, compromisso e a perceção de que a relação é uma fonte de apoio em circunstâncias difíceis. Esta teoria assenta nos pressupostos de que o stress e coping diádicos devem ser conceptualizados numa perspetiva sistémica, uma vez que não é possível examinar a avaliação da situação de stress e os esforços de coping de um dos parceiros, sem considerar os efeitos no outro parceiro e na relação conjugal. O bem-estar e satisfação de um dos parceiros depende do bem-estar e satisfação do outro, pois estes exercem uma influência mútua e ambos os parceiros devem estar motivados para se ajudarem mutuamente a lidar com situações de stress e para se envolverem num esforço conjunto para lidar com stressores que afetem os dois; o coping diádico é apenas uma forma de lidar com o stressor, não deve ser ignorada a existência de outras formas de lidar com o stress como o coping individual e interações apoiantes entre um dos parceiros e a sua rede social, ou entre o casal e a sua rede social; o coping diádico é usado mais frequentemente após terem sido feitos esforços de coping individual e destes terem falhado e por fim o coping diádico envolve formas de coping positivas e negativas.

Segundo Bodemann (2005), o coping diádico positivo existe o apoiante, o conjunto e o delegado, enquanto no negativo existe o hostil, o ambivalente e o superficial. O coping diádico apoiante ocorre quando um dos parceiros ajuda o outro nos seus esforços de coping, sendo que não é apenas um comportamento altruísta, mas implica também esforços para apoiar o outro, com o objetivo secundário de também reduzir o stress do próprio, como por exemplo ajudar nas tarefas diárias ou fornecer conselhos práticos. No coping diádico conjunto ambos os parceiros participam no processo de coping de forma mais ou menos simétrica ou complementar, para resolver um problema relevante para o casal, como por exemplo resolução de problemas conjunta, partilha de sentimentos, compromisso mútuo. Já o coping diádico delegado ocorre quando um dos parceiros assume responsabilidades de modo a reduzir o stress experienciado pelo outro, um dos parceiros pede explicitamente ao outro para lhe dar apoio, estabelecendo-se uma nova divisão de contribuições para o processo de coping, como por exemplo um dos parceiros faz tarefas domésticas normalmente realizadas pelo outro. O coping diádico hostil envolve apoio acompanhado por menosprezo, distanciamento, sarcasmo, desinteresse aberto, ou minimizar a gravidade do stress do parceiro, o apoio é prestado, mas de forma negativa. O coping diádico ambivalente ocorre quando um parceiro apoia o outro sem o querer fazer ou com a atitude de que o seu contributo é desnecessário. Enquanto o coping diádico superficial consiste em dar apoio que não é sincero.

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Bodenmann (e.g., 1990, 1995, 2000) associou coping diádico e funcionamento conjugal, tendo encontrado evidências de que existem mais comportamentos de coping diádico positivo em casais com satisfação conjugal elevada, que casais mais satisfeitos demonstram mais comunicação de stress focada no problema e nas emoções, mais coping diádico apoiante e menos coping diádico negativo e que coping diádico é um preditor de separação e divórcio – casais muito satisfeitos exibiam mais coping diádico apoiante e coping diádico conjunto no passado, comparativamente a casais que se divorciaram nos 5 anos seguintes de follow-up. Quando um indivíduo se depara com uma situação de stress, ativa mecanismos de coping começando pelo coping individual, depois segue para o coping diádico quando o primeiro não resulta e por aí em diante até chegar à terapia, passando pelo suporte social da família e dos amigos, e se for necessário também recorre a suporte social de pessoas mais distantes, como por exemplo colegas de trabalho, se o stress estiver a ocorrer no trabalho. Esta cascata foi desenvolvida por Bodenmann (2005) e é designada por Cascata de stress-coping em relações de casal.

Modelo Transacional-Sistémico de Coping Diádico

Bodenmann foi pioneiro na construção do conceito de coping diádico. Bodenmann (2005) sugere que o stress pode ser gerido de três formas: 1) coping individual; 2) coping diádico ou; 3) procura de apoio, e é por esta mesma ordem que estes recursos são utilizados. Defende ainda que os principais objetivos do coping diádico são reduzir os efeitos do stress de cada parceiro e melhorar a qualidade da relação.

Desenvolveu então um modelo sistémico-transacional que postula que a interação entre parceiros pode ser composta por: 1) stressores que afetam um dos elementos da díade e 2) os esforços de um ou ambos os membros para lidar com os stressores. Assim sendo, o coping diádico é um processo, caracterizado por a) sinais de stress específicos de um dos parceiros, b) as respostas verbais, não-verbais ou paraverbais do outro a estes sinais, e c) os esforços de ambos (Bodenmann, 2005; Bodenmann & Cina, 2005, cit. por Papp & Witt, 2010; Bodenmann, 1997, 2000, cit. por Wunderer & Schneewind, 2008). Portanto, tanto o stress como o coping diádico ocorrem num contexto espacial e temporal específicos, e envolvem ambos os membros do casal (Bodenmann, 2005).

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Sendo que, o coping diádico depende da comunicação do stress por um dos parceiros e da perceção e interpretação dos sinais pelo outro, diferentes respostas podem ser ativadas (Bodenmann et al., 2006b). Bodenmann diferencia também formas distintas de respostas: 1) o parceiro ignora por falta de motivação; 2) o parceiro deixa-se contagiar; 3) o parceiro usa formas positivas; ou 4) o parceiro usa formas negativas de resposta (Bodenmann, 2005; Bodenmann et al., 2006b; Kardatzke, 2009; Papp & Witt, 2010; Wunderer & Schneewind, 2008).

O tipo de coping diádico “escolhido” depende das competências de coping individual bem como das diádicas, das características da situação em que o stress ocorre e da motivação para se envolver no apoio ao parceiro (Wunderer & Schneewind, 2008).

Relação entre Acidentes de Trabalho, Satisfação Conjugal e Coping Diádico

Bodenmann (e.g., 2000) associa coping diádico e funcionamento conjugal, tendo encontrado evidências de que existem mais comportamentos de coping diádico positivo em casais com satisfação conjugal elevada.

A literatura existente relaciona a satisfação conjugal com o stress (e.g. Bodenmann, 2005, 2010; Gottman, 1998; Story & Bradbury, 2004) e a satisfação conjugal com o coping diádico (e.g. Bodenmann, 2005; Bodenmann et al., 2006b), mas a literatura existente acerca da relação destes dois conceitos com a existência de acidente de trabalho é muito reduzida, tendo sido explorada a relação entre acidentes de trabalho e as suas consequências no casal e na família (Gonçalves, Ribeiro e Lima, 2009). É nesta lacuna que a nossa investigação pretende incidir, de modo a compreender o impacto inerente aos tipos de coping diádico utilizados e a partir daí na definição de estratégias de apoio aos elementos do casal.

Para a nossa investigação partimos da questão “Qual a relação entre o Coping Diádico e a Satisfação Conjugal de casais em que um dos elementos sofreu um Acidente de Trabalho e de casais em que este stressor não existe?”.

Pretendemos fornecer uma representação gráfica das principais variáveis em estudo e das relações que nos propomos estudar. Como se pode observar no mapa conceptual (Figura 1), vamos estudar o papel do Coping Diádico Negativo e do Coping

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Diádico Positivo na Satisfação Conjugal, em relação com a variável Acidente de Trabalho. Tendo em conta que é um estudo comparativo queremos explorar também o papel do Coping Diádico Negativo e do Coping Diádico Positivo na Satisfação Conjugal em casais em que não houve nenhuma situação de Acidente de Trabalho.

Figura 1. Mapa conceptual das variáveis em estudo (comparação entre amostras com e sem acidente de trabalho)

Nesse sentido temos como objetivos gerais: 1) investigar qual a relação entre os tipos de coping diádico e a satisfação conjugal e 2) investigar qual o impacto do acidente de trabalho na satisfação conjugal. Como objetivos específicos: 1) averiguar o papel do coping diádico negativo na satisfação conjugal, com acidente de trabalho 2) averiguar o papel do coping diádico positivo na satisfação conjugal, com acidente de trabalho, 3) averiguar o papel do coping diádico negativo na satisfação conjugal, sem acidente de trabalho, 4) averiguar o papel do coping diádico positivo na satisfação conjugal, sem acidente de trabalho, 5) averiguar a diferença da satisfação conjugal nos casais com e sem acidente de trabalho, e 6) averiguar se os casais com acidente de trabalho utilizam menos estratégias de coping diádico focados nos problemas em relação aos casais sem acidente de trabalho.

Tendo em conta a revisão de literatura efetuada esperamos que, no presente estudo, os resultados demonstrem:

 Maior satisfação conjugal em casais com acidente de trabalho, que utilizam tipos de coping diádico positivos (hipótese 1);

 Menor satisfação conjugal em casais com acidente de trabalho, que utilizam tipos de coping diádico negativos (hipótese 2);

 Menor satisfação conjugal em casais sem acidente de trabalho, que utilizam tipos de coping diádico negativos (hipótese 3);

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 Maior satisfação conjugal em casais sem acidente de trabalho, que utilizam tipos de coping diádico positivos (hipótese 4);

 Maior satisfação conjugal em casais sem acidente de trabalho (hipótese 5);  Menor utilização de tipos de coping diádico focado nos problemas por casais

com acidente de trabalho (hipótese 6).

Método

Seleção e Caraterização da Amostra

Para a seleção da amostra estabelecemos como critérios de inclusão ter mais de 18 anos, residir em Portugal continental ou ilhas e serem casais. Recorremos à técnica de amostragem que é habitualmente referida na literatura como métodos de amostragem “não-probabilísticas”, “dirigidas” ou “não-casual” (Hill & Hill, 2002). Especificamente, utilizámos a “amostragem de conveniência”, que consiste em aceder ao recurso disponível de sujeitos (neste caso os casais) que preenchem os critérios de inclusão das amostras e que se dispõem a participar voluntariamente na investigação.

Para o presente estudo foram recolhidos 68 casais (N = 136), dos quais 31 em que um dos elementos sofreu um acidente de trabalho e 37 em que nenhum dos elementos sofreu acidente de trabalho.

Na amostra sem acidente de trabalho 48% dos participantes eram do sexo masculino e 52% do sexo feminino. Os participantes tinham, em média 28,3 anos (DP = 10,41). Enquadravam-se sobretudo na faixa-etária dos 19 aos 24 anos (55,4%), seguidamente na faixa etária dos 25 aos 30 anos (21,6%), entre os 31 e os 40 anos (12,2%) e, por fim, entre os 41 e os 66 anos (10,8%).

Dos casais da amostra 75,7% não tem filhos e 24,3% tem pelo menos um filho. A maioria dos casais da amostra (56,8%) encontra-se numa relação entre 1 mês e 4 anos de duração, com maior frequência nos 3 anos de relação (13,5%), seguidos dos 2 anos (10,8%); enquanto 27% se encontram numa relação entre os 5 e os 11 anos, com maior frequência nos 5 anos de relação (13,5%); 10,8% dos casais encontram-se numa relação entre 12 e 20 anos de duração; e, por fim, um casal (2,7%) encontra-se numa relação há 27 anos e outro (2,7%) há 42 anos.

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A residência dos participantes encontra-se dividida apenas entre a região centro (73%) e sul (27%) do país. Relativamente às habilitações literárias 1,4% da amostra tem entre o 7º e o 9º ano de escolaridade, 25,6% concluiu os estudos entre o 10º e o 12º ano de escolaridade, a maioria da amostra (51,4%) tem a licenciatura concluída, e, por fim, 21,6% dos participantes detém o grau de mestre ou doutorado. Quanto à situação profissional dos participantes, a maioria enquadra-se na categoria de Trabalhadores não qualificados (45,9%), seguidos da categoria de Especialistas das Profissões intelectuais e científicas (31%), os restantes participantes são Pessoal administrativo e similares (6,8%), Técnicos e Profissionais de nível intermédio (5,4%) e Pessoal dos serviços e vendedores (5,4%), Operadores de instalações e máquinas e trabalhadores de montagens (2,7%), Quadros superiores da Administração Pública, Dirigentes e Quadros (1,4%), e Operários, Artíficies e Trabalhadores similares (1,4%).

Na amostra com acidente de trabalho, 48% dos participantes eram do sexo masculino e 52% do sexo feminino. Os participantes com AT tinham, em média 46,97 anos (DP = 11,43) e os seus cônjuges 45,94 anos (DP = 12,13). Os participantes com AT enquadravam-se sobretudo na faixa-etária dos 50 aos 59 anos (29%), seguidamente na faixa etária dos 27 aos 39 anos (25,8%) e entre os 40 e 49 anos (25,8%) e, por fim, entre os 60 e os 66 anos (19,4%); já os seus cônjuges enquadravam-se sobretudo na faixa-etária dos 39 aos 50 anos (38,7%), seguidamente na faixa etária dos 51 aos 60 anos (29%), entre os 19 e os 35 anos (22,6%) e, por último, entre os 61 e os 70 anos (9,7%).

Dos participantes com AT 19,4% não tem filhos e 80,6% tem pelo menos um filho, em relação aos seus cônjuges 16,1% não tem filhos e 83,9% tem pelo menos um filho. A maioria dos casais desta amostra (41,9%) encontra-se numa relação entre 1 e 10 anos de duração, enquanto 29% se encontram numa relação entre os 21 e os 30 anos, 19,4% dos casais encontram-se numa relação entre 11 e 20 anos de duração; e, por fim, 9,7% dos casais estão numa relação entre 31 e 41 anos.

A residência dos participantes encontra-se dividida entre a região norte (3,2%), centro (61,3%) e sul (35,5%) do país. Relativamente às habilitações literárias dos participantes com AT 9,7% tem até ao 4º ano de escolaridade, 22,6% tem entre o 5º e o 6º ano, 22,5% dos participantes tem entre o 7º e o 9º ano de escolaridade, 19,4% concluiu os estudos entre o 10º e o 12º ano de escolaridade, 22,5% tem a licenciatura concluída, e, por fim, 3,2% dos participantes terminou o mestrado ou doutoramento; já em relação aos

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seus cônjuges 3,2% tem até ao 4º ano de escolaridade, 6,5% tem entre o 5º e o 6º ano, 19,3% tem entre o 7º e o 9º ano de escolaridade, a maioria dos cônjuges (35,5%) terminou os estudos entre o 10º e o 12º ano de escolaridade, 29% tem a licenciatura concluída, e, por fim, 6,5% dos cônjuges terminou o mestrado ou doutoramento. Quanto à situação profissional dos participantes não nos foi possível analisar uma vez que em 62 participantes apenas 6% responderam a esta questão.

Questionámos os participantes com AT se tinham tido um ou mais acidentes de trabalho e 45,2% teve apenas um e 54,8% teve mais do que um acidente de trabalho. Questionámos também acerca da gravidade percebida, pelos participantes e seus cônjuges do, ou dos, acidentes de trabalho nos quais se viram envolvidos, sendo que, em relação ao acidente atual, nenhum participante, nem nenhum cônjuge, pontuaram o acidente como nada grave; 9,7% dos participantes e 12,9% dos cônjuges relataram que o acidente foi pouco grave; 32,3% dos participantes e 22,6% dos cônjuges referiram que foi moderadamente grave; 19,4% dos participantes e 29% dos cônjuges sentiram que o acidente atual foi grave; e, por fim, 38,7% dos participantes e 35,5% dos cônjuges perceberam o acidente como muito grave. Já em relação a outro acidente, 48,3% dos participantes e 41,9% referiram que não foi nada grave; 6,5% dos participantes e 16,1% dos cônjuges relataram que o acidente foi pouco grave; 16,1% dos participantes e 9,7% dos cônjuges referiram que foi moderadamente grave; 9,7% dos participantes e 3,2% dos cônjuges sentiram que o acidente anterior foi grave; e, por fim, 12,9% dos participantes e 22,6% dos cônjuges perceberam o acidente como muito grave; 6,5% dos participantes e dos cônjuges não responderam a esta questão.

Operacionalização das Variáveis em Estudo

Por Satisfação Conjugal (SC), tal como já foi referido no ponto 1.1.2., entende-se a “avaliação subjetiva de cada pessoa em relação ao que sente sobre a sua relação, num dado momento” (Hendrick, Dicke & Hendrick, 1998, p.137).

Considera-se o Coping Diádico (CD) tal como é entendido por Bodenmann (2005), ou seja, como o processo de coping interpessoal, que envolve ambos os membros do casal onde, perante a manifestação de stress de um dos membros, o outro pode responder de diferentes formas mais ou menos positivas.

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Entende-se por Acidente de Trabalho (AT) aquele que se verifique no local e no tempo de trabalho e produza direta ou indiretamente lesão corporal, perturbação funcional ou doença de que resulte redução na capacidade de trabalho ou de ganho ou a morte (artigo 8º, Lei n.º 98/2009 de 4 de Setembro).

Instrumentos Utilizados

Questionário Sócio-Demográfico

Foi utilizado um questionário sociodemográfico composto por informações relativas a cada elemento do casal tais como: a idade, o sexo, habilitações literárias, nacionalidade, residência, profissão e número de anos de serviço, e também a duração da relação amorosa e a existência ou não de filhos. No questionário preenchido pelos casais em que um dos elementos sofreu um acidente de trabalho, está incluído para os acidentados um item acerca da perceção de gravidade do acidente (ou dos acidentes, no caso de ter sofrido mais do que um acidente de trabalho).

Kansas Family Life Satisfaction Scale (ESCK)

Para avaliar a satisfação conjugal foi utilizada a versão portuguesa da “Kansas Family Life Satisfaction Scale” (ESCK; Schumm et al., 1996; Versão Portuguesa: Antunes, Francisco, Pedro, Ribeiro & Santos, 2014). É uma escala breve constituída por 3 itens relativos à satisfação com o cônjuge, com o casamento e com a relação de casal (e.g., Em que medida está satisfeito(a) com a sua relação de casal?) numa escala de Likert que varia de 1 (Extremamente insatisfeito/a) a 5 (Extremamente Satisfeito/a). A escala apresenta níveis elevados de consistência interna (α = .98 para homens e mulheres). Resultados elevados refletem níveis elevados de satisfação conjugal.

Inventário de Coping Diádico (ICD)

O ICD é um instrumento de autorrelato composto por 37 itens de resposta fechada medidos numa escala de Likert de 5 pontos (exemplo de item - “Não levo a sério o stress do(a) meu(minha) parceiro(a)”). Este inventário - “Dyadic Coping Inventory” – foi criado por Guy Bodenmann (2007). A adaptação e validação portuguesa foi realizada por Vedes, Lind e Ferreira (2011a). Estes autores, numa amostra portuguesa de 681 indivíduos (441 mulheres e 216 homens) que viviam em união de facto ou estavam casados, encontraram uma estrutura que confirma em parte a do instrumento original. A versão portuguesa apresenta índices entre bons a excelentes de consistência interna quer para a escala total

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(α de Cronbach = 0,92 para as mulheres, e α de Cronbach = 0,91 para os homens), quer para os seus fatores (α de Cronbach entre 0,65 e 0,97; consultar Vedes, Lind e Ferreira, 2011a). Analisámos, para a nossa amostra, a consistência interna dos fatores que os autores retiraram da escala total do ICD, e o α de Cronbach varia entre 0,55 e 0,87: Comunicação de Stress α=0,76; CD Apoiante focado nas Emoções α=0,55; CD Apoiante focado nos Problemas α=0,75; CD Delegado α=0,67; CD Negativo α=0,86; CD Conjunto focado nos Problemas α=0,87; CD Conjunto focado nas Emoções α=73. Nunnally (1978, cit. por Pallant, 2005) recomenda um valor mínimo do α de Cronbach de 0,70, no entanto os valores do α dependem do número de itens da escala. Quando o número de itens é inferior a 10 é possível que o valor do α seja inferior a 0,70 (Pallant, 2005), por isso optámos por manter os fatores CD Apoiante focado nas Emoções e CD Delegado.

Procedimento de Recolha e Tratamento de Dados

De forma a recolher a nossa amostra de casais que não sofreram acidente de trabalho, recorremos à divulgação da investigação por e-mail e pelo facebook. Pedimos que, caso as pessoas não correspondessem aos critérios de inclusão, que reencaminhassem para outros contactos que pudessem participar (método “bola de neve”). Já para os casais em que um dos elementos sofreu um acidente de trabalho recorremos a clínicas médicas de seguradoras, para aceder diretamente à amostra pretendida.

A cada questionário foi adicionada uma folha relativa ao consentimento informado, onde constavam os objetivos gerais da investigação, a garantia de se preservar o anonimato e a confidencialidade e as instruções gerais para o preenchimento (ver Anexo I).

Os questionários poderiam ser respondidos online (apenas para os participantes sem acidente de trabalho) ou em papel. No caso de papel, a cada cônjuge era entregue um envelope com os questionários. No fim do preenchimento, era pedido aos cônjuges para colocarem os questionários no envelope, selando-o.

Os dados recolhidos, tanto em papel como online, foram transcritos para uma base de dados e analisados com recurso ao programa Statistical Package for the Social Sciencies (SPSS) versão 21.0 para Windows e os casais foram emparelhados com base no código escolhido pelos participantes, segundo as instruções dadas.

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Numa primeira fase, e tendo em conta os objetivos, foi realizada a análise descritiva dos dados (médias e desvios-padrão), tendo sido realizada uma comparação de médias através do teste de diferenças de médias de T-Student para amostras independentes. Esta análise incluiu como variáveis a satisfação conjugal e os fatores retirados da escala total do ICD.

Em seguida, foram realizadas análises de correlações entre as variáveis em estudo: satisfação conjugal, fatores retirados do ICD e uma variável para a soma total do ICD para as duas amostras, casais com acidente de trabalho e casais sem acidente de trabalho, através do coeficiente de Pearson.

Resultados

Descrição dos resultados

Para averiguarmos se existia uma relação entre a utilização de coping diádico negativo ou positivo na satisfação conjugal, em casais com acidente de trabalho, utilizámos uma correlação de Pearson para a nossa amostra, uma vez que esta apresenta uma distribuição normal (N>30; N=62) (Tabela 1).

Tabela 1 – Relação entre satisfação conjugal, soma total do ICD e fatores retirados do ICD, em casais com acidente de trabalho

Satisfação conjugal

CD Total .568**

Comunicação de Stress .421*

CD Negativo .356*

CD Apoiante focado nas Emoções .573**

CD Apoiante focado nos Problemas .504**

CD Delegado .440*

CD Conjunto focado nos Problemas .498**

CD Conjunto focado nas Emoções .383*

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Após análise da Tabela 1 podemos verificar a existência de correlações significativas, positivas e fortes entre a variável satisfação conjugal e as variáveis soma total dos itens do ICD, CD apoiante focado nas emoções e CD apoiante focado nos problemas, e correlações significativas, positivas e moderadas com as variáveis comunicação de stress, CD delegado, CD conjunto focado nas emoções e CD negativo, tendo sido esta última a correlação mais baixa de todas as variáveis.

Para avaliarmos a relação entre coping diádico negativo e positivo na satisfação conjugal, em casais sem acidente de trabalho, utilizámos também uma correlação de Pearson, uma vez que a nossa amostra sem acidente de trabalho também apresenta distribuição normal (N>30; N=74) (Tabela 2).

Tabela 2 – Relação entre satisfação conjugal, soma total do ICD e fatores retirados do ICD, em casais sem acidente de trabalho

Satisfação conjugal

CD Total .291

Comunicação de Stress .309

CD Negativo .185

CD Apoiante focado nas Emoções .277

CD Apoiante focado nos Problemas .170

CD Delegado .175

CD Conjunto focado nos Problemas .169

CD Conjunto focado nas Emoções .183

Nota. CD= Coping Diádico; *p≤0,05 **p≤0,01

Como se pode observar na Tabela 2, a variável satisfação conjugal não se correlaciona significativamente com a variável CD negativo, nem com nenhuma das outras variáveis analisadas.

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Para verificarmos qual a diferença nas duas amostras relativamente à satisfação conjugal, utilizámos o teste de diferenças de médias de T-Student para amostras independentes (Tabela 3).

Tabela 3 - Diferenças entre casais com e sem acidente de trabalho, relativamente à satisfação conjugal Com Acidente de Trabalho Sem Acidente de Trabalho M DP M DP t Satisfação Conjugal 4.45 0.67 4.47 0.81 1.31 Nota. *p≤0,05 **p≤0,01

Quanto às diferenças na satisfação conjugal, pode verificar-se na Tabela 3 que apesar da média da amostra de casais sem acidente de trabalho ser superior à média da amostra de casais com acidente de trabalho, a diferença entre os dois grupos não é significativa.

Quisemos também averiguar a diferença na utilização de estratégias de coping diádico, entre os casais com e sem acidente de trabalho, e para tal prosseguimos mais uma vez à realização de um teste de diferenças de médias de T-Student para amostras independentes (Tabela 4).

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Tabela 4 - Diferenças entre casais com e sem acidente de trabalho, relativamente aos fatores retirados do ICD Com Acidente de Trabalho Sem Acidente de Trabalho M DP M DP t Comunicação de Stress 3.61 0.53 3.76 0.43 1.24

CD Apoiante focado nas Emoções 3.84 0.68 4.43 0.75 3.33

CD Apoiante focado nos Problemas 3.53 0.65 4.07 0.44 4.08**

CD Delegado 3.46 0.63 3.51 0.49 0.38

CD Negativo 3.72 0.61 4.31 0.45 4.50

CD Conjunto focado nos Problemas 3.42 0.65 4.26 0.54 5.62

CD Conjunto focado nas Emoções 3.26 0.75 3.78 0.72 2.82

Nota. CD= Coping Diádico; *p≤0,05 **p≤0,01

Relativamente às diferenças, entre casais com e sem acidente de trabalho, na utilização de estratégias de CD focado nos problemas, existe uma diferença significativa em relação ao fator CD apoiante focado nos problemas. Os casais sem acidente de trabalho utilizam mais estratégias de CD apoiante focado nos problemas (M=4.07; DP=0.44) quando comparados com os casais com acidente de trabalho (M=3.53; DP=0.65), pois t=4.08, p=0,01. Não existe diferença significativa entre as médias das duas amostras em relação ao fator CD conjunto focado nos problemas.

Discussão

O presente estudo teve como principal objetivo investigar a relação entre os tipos de coping diádico e a satisfação conjugal, comparando os resultados de duas amostras, uma de casais em que um dos elementos sofreu um acidente de trabalho e uma de casais sem este stressor. Pretendemos com esta investigação contribuir para a literatura na área da satisfação conjugal e do coping diádico, uma vez que a investigação empírica é escassa na relação entre as três variáveis, dentro e fora do nosso país. Neste sentido, os objetivos centraram-se na comparação entre casais com e sem acidente de trabalho relativamente

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às variáveis em estudo – satisfação conjugal e os fatores retirados do ICD (Comunicação de Stress; CD Apoiante focado nas Emoções; CD Apoiante focado nos Problemas; CD Delegado; CD Negativo; CD Conjunto focado nos Problemas; CD Conjunto focado nas Emoções) – e na análise da relação das variáveis entre si.

Em relação aos casais com acidente de trabalho, verificámos que a hipótese inicial, H1, foi confirmada, uma vez que foi encontrada uma correlação significativa, positiva e forte com os três fatores correspondentes ao coping diádico positivo, nomeadamente CD apoiante focado nas emoções, CD apoiante focado nos problemas e CD delegado. Ou seja, quanto mais estratégias de coping diádico positivo são utilizadas, maior a satisfação conjugal. Estes resultados vão de encontro à literatura; vários autores (Dehle, Larsen & Landers, 2001; Bodenmann, 2000, Walen & Lachman, 2000, cit. por Bodenmann et al, 2006a; Bodenmann et al., 2006b) demonstraram que o coping diádico representa um fator importante para a satisfação com a relação, e que desta forma pode prevenir divórcios. Tal como referido no enquadramento teórico, Bodenmann (e.g., 1990, 1995, 2000) associou coping diádico e funcionamento conjugal, tendo encontrado evidências de que existem mais comportamentos de coping diádico positivo em casais com satisfação conjugal elevada, que casais mais satisfeitos demonstram mais comunicação de stress focada no problema e nas emoções, mais coping diádico apoiante e menos coping diádico negativo.

A segunda hipótese, H2, não foi confirmada, uma vez que a correlação encontrada entre satisfação conjugal e CD negativo foi significativa e positiva, ou seja, tal como com as estratégias de coping diádico positivo, existe um crescimento das duas variáveis na mesma direção, ao contrário do que esperávamos. Foi a variável com menor correlação com a variável satisfação conjugal, mas ainda assim foi significativa, positiva e moderada. Bodenmann et al (2006a) encontraram maiores níveis de satisfação conjugal associadas a formas mais positivas de coping diádico e subescalas de CD negativo (do próprio e do parceiro) com uma relação negativa com a qualidade conjugal. Tal relação negativa não se verifica no nosso estudo, talvez porque a forma como a amostra com acidente de trabalho perceciona o coping diádico negativo possa ser diferente da forma como os casais sem esta condição o percecionam. Bodenmann (2005) sublinha a ideia de que, a satisfação conjugal está associada a formas mais adaptativas de coping diádico. Talvez a utilização de estratégias de coping diádico negativo por casais com acidente de trabalho seja adaptativo para eles e daí a correlação não ser negativa. Gonçalves, Ribeiro e Sales (2009)

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conduziram uma investigação acerca das consequências do acidente de trabalho no sistema familiar e conjugal, e concluíram que os resultados confirmam que o acidente de trabalho tem impacto no sinistrado e na sua família (e.g., Dembe, 2001, cit por Gonçalves, Ribeiro e Sales, 2009). Relataram também consequências na dinâmica do casal, ao nível da intimidade e da comunicação. A adaptabilidade à mudança foi uma das características familiares que foram identificadas nas investigações sobre famílias confrontadas com a adversidade. Em dois casais participantes da investigação de Gonçalves, Ribeiro e Sales (2009) foram identificadas consequências e mudanças positivas como a valorização da vida e um sentimento de coesão nos casais.

Em relação à terceira e quarta hipóteses, H3 e H4, foram ambas refutadas, uma vez que não foi encontrada correlação significativa entre a satisfação conjugal e as variáveis correspondentes ao coping diádico positivo e ao coping diádico negativo. Estes resultados eram pouco expectáveis, uma vez que toda a literatura aponta para uma correlação direta entre a satisfação conjugal e o coping diádico. No estudo longitudinal de Bodenmann, Pihet e Kayser (2006a), com o objetivo de avaliar o impacto do coping diádico na satisfação conjugal ao longo do tempo, os resultados indicaram que para ambos os sexos, o coping diádico é importante para a satisfação conjugal. Os nossos resultados não vão de encontro à literatura, talvez pelo tamanho não muito elevado da amostra, ou também pela hipótese de que porventura os casais com acidente de trabalho terem sido desafiados a trabalhar mais as suas estratégias de coping diádico, e por isso percecionem mais a satisfação conjugal comparativamente ao coping diádico. Existem outros fatores que podem influenciar a satisfação conjugal; alguns autores referem que o género pode ser um desses fatores, e argumentam que os homens apresentam geralmente uma visão mais positiva da relação conjugal (Gottman, 2000 cit. por Narciso & Ribeiro, 2009; Comin-Scorsolini & Santos, 2010) e neste sentido que as mulheres são mais exigentes do que os homens relativamente à conjugalidade (Norgren, Souza, Kaslow, Hammerschimidt e Sharlin, 2004). Apesar de que para outros autores, o sexo dos indivíduos não tem influência na satisfação conjugal (Jackson, Miller, Oka & Henry, 2014). Um dado importante, tendo em conta variáveis e fatores que podem influenciar a satisfação conjugal, sugerido por Narciso (2001) é de que o grau de satisfação conjugal é independente do tempo de relação e da existência ou não de filhos, embora Bodenmann (2005) e Li e Fung (2011) refiram que os objetivos conjugais são críticos na satisfação conjugal, mas que apesar disso não são independentes de outros fatores que a influenciam. Em estudos prévios (Bradbury et al., 2000, cit. por Li e Fung, 2011), vários fatores foram

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reportados como influenciadores da satisfação conjugal, incluindo fatores intrapessoais (e.g., personalidade), fatores interpessoais (e.g., comunicação entre o casal, atribuição do comportamento do outro, e semelhanças entre as personalidades do casal), fatores microambientais (e.g., satisfação conjugal dos pais, e rede social do casal), e fatores macroambientais (e.g., clima económico do local de residência e políticas governamentais). Neste sentido, podemos hipotetizar que, uma vez que o coping diádico não é o único fator que influencia a satisfação conjugal, todos estes fatores podem ter tido uma maior influência na satisfação conjugal da amostra, uma vez que podem não ter percecionado o coping diádico da mesma forma como o foi pela amostra com acidente de trabalho.

Para a quinta hipótese, H5, também não foram encontrados resultados significativos, ou seja, a hipótese não foi confirmada. Apesar dos valores em média terem sido mais elevados para os casais sem acidente de trabalho, estes valores não foram significativos. A existência ou não de acidente de trabalho não parece ter afetado a satisfação conjugal o suficiente para existir uma diferença significativa entre os dois grupos. Existem outros fatores que podem influenciar uma maior ou menor satisfação conjugal, como, por exemplo, o desenvolvimento ao longo da vida. Carstensen, Graff, Levenson, e Gottman (1996) reportaram que os adultos mais velhos experienciam uma maior satisfação conjugal, em comparação com casais mais jovens. Berg e Upchurch (2007), ao estudar casais com doenças crónicas, verificaram que a experiência destas traz frequentemente desafios para a relação conjugal, estando a doença relacionada com uma satisfação conjugal reduzida (Hafstrom e Schram, 1984, cit. por Berg e Upchurch, 2007), mas também com uma satisfação conjugal elevada (Hannah et. al., 1992, cit. por Berg e Upchurch, 2007). Vários autores (e.g., Bodenmann, 2000, Neff e Karney, 2004, cit por Bodenmann, 2005) mostraram que o stress é correlacionado inversamente com a satisfação conjugal, mas Bodenmann (2005) refere que é de notar que a natureza do stressor (evento de vida vs stress do dia-a-dia vs transições desenvolvimentais) têm efeitos diferentes na satisfação conjugal. Stressores crónicos (i. e., stresses do dia-a-dia persistentes) têm sido associados a satisfação conjugal mais baixa. Em contraste, stressores eventos de vida, não têm sido correlacionados com satisfação conjugal, a não ser que estes envolvam relações próximas em desenvolvimento, incluindo distress conjugal grave, conflitos com o parceiro, separação ou divórcio (Williams, 1995, cit. por Bodenmann, 2005). E em alguns casamentos, os eventos de vida podem aumentar a

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coesão conjugal (McCubbin & Patterson, 1983, cit. por Bodenmann, 2005). É possível que nestes casos, os parceiros providenciem suporte mútuo e que se empenhem no coping diádico, avaliando o evento stressor como um stressor diádico que desafia ambos os parceiros. Assim, as avaliações dos parceiros de quem é afetado pelo evento stress e se o stressor é definido como um problema do indivíduo ou da relação podem ser determinantes dos resultados conjugais. Assim, a presença de um stressor pode tanto quebrar a díade, como reforçá-la, dependendo de outras variáveis, e por isso esta pode não ser uma condição sine qua non para uma satisfação mais baixa do que quando este stressor não está presente.

Por fim, a sexta hipótese, H6, foi parcialmente confirmada. Em média, os casais sem acidente de trabalho utilizam mais estratégias de coping diádico focado nos problemas, mas apenas a diferença entre as duas amostras em relação ao CD apoiante focado nos problemas foi significativa. A diferença entre as duas amostras em relação ao CD conjunto focado nos problemas não foi significativa. O coping diádico positivo inclui o CD apoiante, que pode ser ajudar nas tarefas diárias ou providenciar sugestões práticas, compreensão empática, ajudar o parceiro a reformular a situação, comunicar que se acredita nas capacidades do parceiro, ou expressar solidariedade com o parceiro (Bodenmann & Shantinath, 2004). CD apoiante pode ser focado nas emoções ou nos problemas, tal como o CD conjunto, o CD apoiante focado nas emoções pode ser traduzido em comportamentos de ajudar a reformular positivamente a situação, promover um sentido de solidariedade com o parceiro, dizer ao parceiro o quanto ele ou ela é apreciado, ajudar o parceiro a acalmar e relaxar, ou ajudar ativamente o parceiro a encontrar soluções para o seu problema (Bodenmann & Shantinath, 2004). Tendo em conta que o acidente de trabalho pode estar associado ao desenvolvimento de reações psicológicas adversas, como a perturbação pós-stress traumático, era de esperar que as estratégias de coping que fizessem referência ao problema fossem menos utilizadas do que as focadas nas emoções, uma vez que reviver o evento stressor, dependendo do seu grau de gravidade, pode provocar stress por se estar a relembrar do evento.

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Conclusão

Em 2013, 2% da população portuguesa sofreu um acidente de trabalho (PORDATA, 2016). Apesar de ser um número que está a diminuir desde 2002, é uma realidade que acontece, e por isso se tornam necessárias formas de responder às necessidades psicológicas tanto do acidentado, como da família, de forma a que o processo de recuperação ocorra da melhor forma, para o bem-estar psicológico tanto do acidentado como do parceiro, uma vez que o acidente de trabalho tem impacto no sinistrado e na sua família (e.g. Dembe, 2001, cit por Gonçalves, Ribeiro e Sales, 2009). No que diz respeito a implicações do presente estudo para a investigação sobre o papel do coping diádico na satisfação conjugal, considerando a superação dos limites anteriormente enunciados, nomeadamente: a) compreender o papel dos tipos de coping diádico, utilizado pelos elementos do casal, na satisfação conjugal, e b) perceber se a existência de um acidente de trabalho altera a relação entre a satisfação conjugal e o coping diádico, comparando uma amostra de casais em que um dos elementos sofreu um acidente de trabalho e outra amostra de casais em que este fator de stress não ocorreu, poderia ser interessante que a investigação também passasse por explorar a influência de outras variáveis, como a existência de filhos, a duração da relação, ou outros eventos stressores.

O presente estudo contribui também para a reflexão sobre a prática clínica, na medida em que analisa a associação dos tipos de coping diádico à satisfação conjugal e ao acidente de trabalho, e abre caminho para que se possam desenvolver intervenções específicas para a população com este stressor.

Limitações e propostas futuras

A presente investigação apresenta limitações ao nível da metodologia, designadamente em relação à dimensão reduzida da amostra total, uma vez que houve dificuldade na recolha da amostra com acidente de trabalho. Foram recolhidos 140 respostas de participantes sem acidente de trabalho, mas 66 não foram válidas uma vez que não tinham códigos correspondentes com o outro elemento do casal. Tal aponta para outra limitação que tem que ver com o processo de recolha de dados ter sido diferente para as duas amostras, os casais com acidente de trabalho preencheram o protocolo

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presencialmente e as instruções foram dadas oralmente, enquanto os participantes sem acidente de trabalho não preencheram o protocolo presencialmente e as instruções dadas foram escritas, podendo dar origem à sua não compreensão. Acresce que a amostra sem acidente de trabalho era uma amostra com uma média de idades na faixa dos 20-30 anos, e por isso pode não ser representativa da população. Isto pode ter tido influência nos resultados obtidos quanto à relação entre satisfação conjugal e coping diádico. Abrimos aqui uma linha que pode ser estudada no futuro, a influência das idades nesta mesma relação entre as variáveis da satisfação conjugal e do coping diádico. Relativamente às caraterísticas sócio demográficas da amostra com acidente de trabalho, podemos apontar como limitação o facto de não terem sido obtidas respostas acerca das suas profissões, e não podermos ter estudado a relação entre esta variável e as outras variáveis do estudo.

Outra limitação está relacionada com o processo de amostragem por conveniência e, por isso, tendo em conta a nossa localização geográfica e o acesso aos casais, as nossas amostras encontram-se divididas apenas entre o centro e o sul do país, a relação entre esta variável e as outras variáveis do estudo não foi contemplada, o que pode também abrir uma linha de investigação futura, para que se possa verificar se existem diferenças entre a região, e as características associadas a cada região, a satisfação conjugal e/ou os tipos de coping utilizados.

Apesar das limitações referidas, consideramos que o nosso estudo pode contribuir para a reflexão e aprofundamento dos conhecimentos científicos sobre a influência dos tipos de coping diádico na satisfação conjugal, relacionando-os com outras variáveis, como o acidente de trabalho e outras que possam influenciar esta relação. Pode também abrir um espaço, na terapia conjugal, para a intervenção psicológica destinada a casais que tenham passado por este stressor evento de vida, que é o acidente de trabalho.

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