Suspensão Preventiva
do advogado do
exercício profissional
- Estudo de ética na advocacia
Renata Soltanovitch
São Paulo – abril/2021
1ª edição
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SÍNTESE
Vamos estudar, neste ebook, sobre a possibilidade de o advogado
ter suspensa, de forma preventiva, a sua inscrição de advogado
nos quadros da OAB.
Exatamente
isto.
O
advogado
poderá
ficar
suspenso
preventivamente de exercer sua função de advogado, não
podendo peticionar em processo judicial, comparecer em
audiência ou praticar qualquer outra atividade privativa do
exercício da advocacia.
Mas vamos destrinchar melhor o tema com jurisprudência,
inclusive, para facilitar a compreensão, mas sempre
recomendando que o leitor fique atento ao meu site
(
www.vicentevieirasoltanovitch.adv.br
),
pois
poderá
haver
alterações futuras neste ebook, inclusive por mudanças
legislativas e/ou até mesmo jurisprudências.
Importante é observar o mês e o ano de sua publicação.
DA SUSPENSÃO PREVENTIVA
Vamos iniciar este ensaio com a leitura do artigo 71, inciso IV, do
Código de Ética e Disciplina:
Artigo 71 – Compete aos Tribunais de Ética e Disciplina:
(...)
IV – suspender, preventivamente, o acusado, em caso de conduta suscetível de acarretar repercussão prejudicial à advocacia, nos termos do Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil.
Vamos agora voltar à leitura do parágrafo 3º do artigo 70, só que
do Estatuto da Advocacia – Lei Federal n. 8.906/94:
Art. 70. O poder de punir disciplinarmente os inscritos na OAB compete exclusivamente ao Conselho Seccional em cuja base territorial tenha ocorrido a infração, salvo se a falta for cometida perante o Conselho Federal.
(...)
§ 3º O Tribunal de Ética e Disciplina do Conselho onde o acusado tenha inscrição principal pode suspendê-lo preventivamente, em caso de repercussão prejudicial à dignidade da advocacia, depois de ouvi-lo em sessão especial para a qual deve ser notificado a comparecer, salvo se não atender à notificação. Neste caso, o processo disciplinar deve ser concluído no prazo máximo de noventa dias.
Quero que você, leitor, fique atento a algumas questões
importantes:
(i)
O processo cautelar de suspensão preventiva irá tramitar
no Conselho Seccional onde o advogado tenha sua
inscrição principal;
(ii)
O advogado será intimado para ser ouvido em sessão
especial, para que os relatores da Turma Disciplinar
decidam sobre a aplicação da sanção de suspensão
preventiva;
(iii) O trâmite do procedimento de suspensão preventiva deve
ser concluído em até 90 dias;
(iv) O processo deve conter indícios suficientes de prática de
infração disciplinar que observe o critério de “repercussão
judicial” à imagem da advocacia.
O Regimento Interno do Tribunal de Ética da OAB SP, após anos
de estudo por diversos Conselheiros que integravam a Câmara
Recursal e pelos relatores do Tribunal de Ética da OAB SP, sendo
posteriormente remetido para aprovação pelo Conselho Federal, e
publicado no ano de 2019, assim pontuou sobre o tema:
Art. 8º. Compete às demais Turmas, designadas Disciplinares:
(...)
II – suspender preventivamente o advogado nos termos do art. 70, § 3º, da Lei 8.906/94, em observância ao procedimento regulamentado por este Regimento Interno;
Na Seção VII, a partir do artigo 81 do Regimento Interno do
Tribunal de Ética da OAB SP, é indicada a forma em que tramita
o referido procedimento:
Art. 81. Na hipótese prevista no art. 70, § 3º, do EAOAB, será determinada a instauração de procedimento específico pelo Presidente do TED, sorteando-se Relator que proferirá o voto no prazo de 5 (cinco) dias.
O relator sorteado para elaborar o voto do processo de suspensão
preventiva será o indicado pela própria Turma Disciplinar em
cuja base territorial o advogado acusado tenha sua inscrição
principal.
Todos os demais integrantes participarão do julgamento, sendo
no mínimo 08 (oito) relatores – vide artigo 83 do Regimento
Interno da OAB SP –, dada a gravidade do tema – suspensão
preventiva do advogado do exercício profissional.
Inclusive o próprio Presidente do Tribunal de Ética e Disciplina,
além do Presidente da Turma Disciplinar, poderão participar do
julgamento.
Caso o advogado esteja preso, a sessão especial poderá ocorrer no
local onde estiver custodiado, facilitando, assim, a sua defesa.
Do resultado da sessão especial de julgamento da suspensão
preventiva, o advogado e seu defensor sairão cientes, sendo que o
efeito da decisão é imediato, iniciando, inclusive, o prazo para
recurso da referida decisão, que não possui efeito suspensivo.
A tramitação do processo de suspensão preventiva é prioritária,
uma vez que deve ser julgado em até 90 dias, como já reiterado e
indicado no Regimento Interno do Tribunal de Ética da OAB SP,
sob pena de perder a eficácia do próprio procedimento de
suspensão preventiva.
Art. 87. Encerrado o julgamento, os autos serão imediatamente encaminhados à turma disciplinar competente para instrução e julgamento de processo disciplinar, cujo prazo de encerramento é de 90 (noventa dias) em caso de suspensão preventiva e, por este motivo, terá prioridade sobre todos os demais processos.
Então, cabe deixar reforçado que estamos tratando de um
procedimento cautelar, isto é, preventivo, que visa resguardar a
imagem da advocacia em razão do comportamento exercido pelo
advogado que repercutiu de forma negativa junto à sociedade.
COMPETÊNCIA PARA DECIDIR
SOBRE A SUSPENSÃO PREVENTIVA
Já sabemos que o procedimento deve ser concluído em até 90
dias e que ele tem prioridade no andamento processual.
Porém, é importante reforçar que o processo cautelar de
suspensão preventiva será julgado onde o advogado infrator tiver
sua inscrição principal. Mas observe: o processo principal
disciplinar sobre o tema – que gerou o processo cautelar acima –
será julgado na Seccional e respectiva Turma onde o advogado
tenha cometido a infração disciplinar.
Portanto, serão dois procedimentos, sendo um de suspensão
preventiva e o outro visando a apuração da conduta, que pode
gerar inclusive a exclusão do advogado dos quadros da OAB – os
quais poderão tramitar, inclusive, em Seccionais distintas,
conforme o exemplo que será dado no capítulo seguinte.
Antes, gostaria que você, leitor, lesse com atenção o acórdão
abaixo. Trata-se de julgamento de Conflito de Competência sobre
o tema, e o Conselho Federal, em outubro de 2019, decidiu que,
para julgar a medida cautelar de suspensão preventiva, a
competência deve ser do Tribunal de Ética onde o advogado tenha
sua inscrição principal.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 49.0000.2018.002527-8/OEP. Suscitante: Conselho Seccional da OAB/Pernambuco. Suscitado: Conselho Seccional da OAB/Bahia. Interessados: J.C.N.B (Adv: Joaquim Coelho Neto OAB/PE 13762) e Comissão Fiscalizadora do Exercício Profissional da OAB/Bahia. Relator: Conselheiro Federal Daniel Blume Pereira de Almeida (MA). EMENTA N. 082/2019/OEP. Conflito de competência. Processo disciplinar. Tramitação. Conselho Seccional em cuja base territorial se tenha constatado a prática da infração disciplinar. Suspensão preventiva. Competência do Conselho em que o advogado mantém inscrição principal. Necessidade de sobrestamento do processo disciplinar enquanto o Conselho Seccional de inscrição principal analisa a suspensão preventiva. Desnecessidade do trânsito em julgado para prosseguimento do processo disciplinar, visto que o art. 77 do EAOAB não atribui efeito suspensivo a recurso interposto em sede de processo de suspensão preventiva, hipótese em que, seja qual for a decisão proferida na sessão especial do Tribunal de Ética e Disciplina, deve o processo disciplinar em trâmite no outro Conselho Seccional retomar seu curso regular. Acórdão: Vistos, relatados e discutidos os autos do processo em referência, acordam os membros do Órgão Especial do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, observado o quorum exigido no art. 92 do Regulamento Geral, por unanimidade, dirimir o conflito de competência, nos termos do voto do Relator. Impedidos de votar os Representantes da OAB/Bahia e OAB/Pernambuco. Brasília, 17 de setembro de 2019. Afeife Mohamad Hajj, Presidente em exercício. Daniel Blume, Relator. (DEOAB, a. 1, n. 194, 3.10.2019, p. 6)
RESUMO DESTA FASE INICIAL
Realmente parece difícil compreender como funciona, mas vamos
dar um exemplo:
Imagine um advogado preso em flagrante por agredir sua esposa.
Ambos moram em Santos – litoral paulista –, mas o advogado
agressor tem sua inscrição principal no Acre.
O advogado é preso em flagrante pela Delegacia da Mulher de
Santos por agressão, a qual expede um ofício para a OAB de
Santos, informando a prisão, com as cópias respectivas da
autuação.
Com o conhecimento do fato, o Presidente da Turma de Santos
encaminha o expediente com urgência para o Presidente do
Tribunal de Ética da OAB de São Paulo, que, então, providencia:
(i) a remessa deste ofício para a Seccional do Acre, onde o
advogado agressor tem sua inscrição principal, para a
instauração de processo cautelar de suspensão preventiva –
leitura do artigo 70, parágrafo 3º, do EAOAB –, e (ii) o envio, para
a Turma Disciplinar de Santos, de uma cópia para instauração do
processo principal, visando a exclusão do advogado dos quadros
da OAB ou sua suspensão do exercício profissional.
Ou seja, é importante frisar que teremos dois processos
tramitando em locais diferentes, referentes ao mesmo fato de
fundo, que é o seu próprio mérito:
➢
O do local onde o acusado tem a sua inscrição principal, para
o processamento e julgamento do procedimento cautelar de
suspensão preventiva (em nosso exemplo, a OAB do Acre); e
➢
O do local onde ocorreu a infração, para o processamento e
julgamento do processo administrativo disciplinar principal (em
nosso exemplo, a Comarca de Santos).
O Presidente da Turma Disciplinar de Santos instaura um
processo visando a exclusão do advogado dos quadros da OAB
por inidoneidade moral, de acordo com a interpretação da
Súmula 09/2019 do Conselho Federal.
CONSELHO PLENO SÚMULA N. 09/2019/COP (DEOAB, 21/03/2019, p. 3)
O CONSELHO PLENO DO CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, no uso das atribuições que lhe são conferidas nos arts. 75, parágrafo único, e 86 do Regulamento Geral da Lei nº 8.906/94, considerando o julgamento da Proposição n. 49.0000.2019.002283-2/COP, decidiu, na Sessão Ordinária realizada no dia 18 de março de 2019, editar a Súmula n. 09/2019/COP, com o seguinte enunciado: INIDONEIDADE MORAL. VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. ANÁLISE DO CONSELHO SECCIONAL DA OAB. Requisitos para a inscrição nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil. Inidoneidade moral. A prática de violência contra a mulher, assim definida na “Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher – ‘Convenção de Belém do Pará’ (1994)”, constitui fator apto a demonstrar a ausência de idoneidade moral para a inscrição de bacharel em Direito nos quadros da OAB, independente da instância criminal, assegurado ao Conselho Seccional a análise de cada caso concreto.
Lembrando que, em razão da repercussão do caso, já foi
encaminhado para a Seccional do Acre o pedido de procedimento
visando a suspensão preventiva do advogado.
Com relação ao processo de exclusão, remeto o leitor ao ebook
disponibilizado no meu site. Aqui vamos focar na medida cautelar
de suspensão preventiva.
O Presidente da Turma Disciplinar da base territorial onde o
advogado tenha sua inscrição principal – remeto à leitura do
artigo 70, parágrafo 3º, do Estatuto da Advocacia – instaura o
procedimento da medida cautelar de suspensão preventiva.
Quanto à Medida Cautelar, o Presidente da Turma imediatamente
nomeia um Relator, que compõe a sua Turma, para analisar os
documentos que acompanham o ofício e dar o seu voto sobre a
suspensão ou não da medida preventiva.
Enquanto isso, o advogado representado é intimado pela
Secretaria da Turma Disciplinar para comparecer em audiência
designada em, no máximo, 15 dias, onde será ouvido em sessão
especial, nos termos do artigo 70, § 3º, do Estatuto da Advocacia
e da OAB, Lei Federal nº 8.906/94, ocasião em que lhe serão
facultadas a apresentação de defesa, a produção de provas e a
sustentação oral, restritas à questão do cabimento, ou não, da
suspensão preventiva – vide artigo 63 do Código de Ética e
Disciplina.
No dia da sessão especial, o relator irá ler seu voto, o advogado
susterá suas razões e, em seguida, o Presidente da Turma irá
colher o voto dos demais relatores, que poderão votar pela
aplicação da sanção disciplinar de suspensão preventiva.
O advogado sai intimado da decisão, ciente de que o prazo
recursal para impugnação é de 15 (quinze) dias, a contar da
audiência, e que no mesmo prazo de 15 (quinze) dias deverá ser
apresentada a defesa prévia quanto aos fatos que lhe foram
imputados, devendo estar acompanhada de todos os documentos
e do rol de testemunhas, até o máximo de 5 (cinco).
O processo deve ser julgado em até 90 dias pela Turma
Julgadora, sendo que, do acórdão, poderá o advogado infrator
recorrer, mas o recurso não terá efeito suspensivo.
PRAZO DA SUSPENSÃO PREVENTIVA
O prazo de tramitação e conclusão da medida cautelar, como
dissemos, é de 90 dias – vide § 3º do artigo 70 do Estatuto da
Advocacia.
Embora o Estatuto da Advocacia não indique o tempo da pena de
suspensão do exercício profissional da medida cautelar, a
interpretação é aquela similar ao tempo de duração do próprio
procedimento, ou seja, de 90 dias.
Leia a Consulta feita ao Conselho Federal sobre a interpretação
do tema:
CONSULTA 2010.27.04699-01. Origem: Processo Originário. Assunto: Consulta. Competência, tramitação e natureza jurídica da suspensão preventiva. Art. 70, § 3º, do Estatuto da Advocacia e da OAB. Consulente: Conselho Seccional da OAB Mato Grosso (Advs.: Claudia Alves Siqueira - OAB/MT 6217-B e Marcondes Rai Novack OAB/MT 8571). Relator: Conselheiro Federal José Alberto Ribeiro Simonetti Cabral (AM). Relator para o acórdão: Conselheiro Federal Jean Cleuter Simões Mendonça (AM). EMENTA N. 048/2011/OEP: CONSULTA. Art. 70, caput, do EAOAB. Competência disciplinar. Conselho Seccional em que ocorreu a falta. Exclusão de competência das Subseções. Art. 70, § 3º, do EAOAB. Suspensão preventiva. Competência do Tribunal de Ética e Disciplina do Conselho Seccional no qual o advogado possui inscrição principal. Prazo de suspensão preventiva. Máximo de 90 (noventa) dias. Proteção da dignidade da advocacia. Punição no processo disciplinar principal. Detração. Inocorrência de bis in idem. Imposição. Desconto do tempo de suspensão cautelar. Acórdão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, decidem os membros integrantes do Órgão Especial do Conselho Pleno do Conselho Federal da OAB, por unanimidade, responder a consulta, nos termos do voto do Relator, parte integrante deste. Brasília, 21 de fevereiro de 2011. Márcia Regina Machado Melaré - Presidente em exercício do Órgão Especial. Jean Cleuter Simões Mendonça - Relator ad hoc. (D.O.U, S. 1, 19/05/2011, p. 174/175)
DA INVIABILIDADE DA DEFESA NO PROCESSO CAUTELAR
No exemplo dado acima, de forma expressa para que o leitor
atento observe as questões práticas da lei, o advogado infrator
deverá sair do litoral paulista (Santos) – conforme nosso exemplo
– e se dirigir até a Seccional do Acre – onde tem sua inscrição
principal – para apresentar defesa.
Pois bem. Diante do que parece ilógico, há três questões
importantes, para que possam ser objeto de reflexão:
(i)
A pandemia de Covid-19 acelerou o que muitos já
previam que aconteceria em um futuro não muito
distante, que é a videoconferência e o julgamento por
meio eletrônico, o que facilitou o acesso à justiça para
muitos;
(ii)
A medida cautelar tem como ponto a repercussão
negativa à dignidade da advocacia. Isto é, um fato
ocorrido em Santos pode não ter dado repercussão
nacional a ensejar o requisito basilar da cautelar, o que
afastaria a sua aplicação;
(iii) Os fatos ocorridos que tenham gerado a repercussão
devem ser recentes (contemporaneidade), e de forma que
a conduta do advogado viesse a resultar em infração
disciplinar capitulada na pena de suspensão do exercício
profissional ou de exclusão dos quadros da OAB.
São divagações sobre as quais vale a pena refletir antes de tentar
argumentar que o mesmo juízo (ou o mesmo Tribunal) poderia
julgar ambos os casos (o processo cautelar de suspensão
preventiva e o processo principal visando a exclusão do advogado
ou sua suspensão pela prática do ato infrator).
Até aí, acredito que você, leitor, entendeu como funciona o
processo de suspensão preventiva, que é uma medida cautelar e
deve ser encerrado em até 90 dias.
A medida preventiva é imediata, com repercussão atual. Não se
deve julgar medida de suspensão preventiva se os fatos ocorreram
há mais de um ano.
Só para ratificar, vale a pena a leitura de algumas
jurisprudências sobre o tema.
CÂMARA ESPECIAL - PROCESSO N° 2804/2020
Representante: ex-offício; Representado: O.A.C. (Advs. Olavo de Araujo Costa OAB/PR n° 70.633 – Leonidas Santos Leal OAB/PR n° 60.043). Ementa: SUSPENSÃO PREVENTIVA. PRÁTICA DE "GOLPE MILIONÁRIO". FURTO QUALIFICADO, APROPRIAÇÃO INDÉBITA E ESTELIONATO. REPERCUSSÃO JORNALÍSTICA BASEADA NO CUMPRIMENTO DE MANDADOS DE BUSCA E APREENSÃO E SEQUESTRO E NA DENÚNCIA, NÃO ACOSTADA AOS AUTOS. MANIFESTAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO, NO INQUÉRITO, ACERCA DA NECESSIDADE DE OUTRAS DILIGÊNCIAS PARA MELHOR ELUCIDAR OS FATOS. MEDIDA ACAUTELATÓRIA QUE EXIGE A PRESENÇA DE FUMUS COMISSI DELICTI E PERICULUM LIBERTATIS. IMPROCEDÊNCIA. A suspensão preventiva, por se tratar de medida excepcional, deve ser aplicada com redobrada cautela, em situações que revelem ser indispensável a imediata e enérgica intervenção institucional. A aplicação da medida de suspensão preventiva não se confunde com o processo principal em que é analisado o cometimento de infração disciplinar ou o desrespeito a regra deontológica. São requisitos para a suspensão preventiva do advogado, além da repercussão prejudicial à dignidade da advocacia, da notoriedade da conduta e de sua atualidade, o fumus comissi delicti e o periculum libertatis. Ainda que sua finalidade seja veicular uma resposta institucional imediata e enérgica a uma conduta grave tendente a diminuir, em larga escala, a dignidade da profissão, a suspensão preventiva deve ocorrer no contexto da presença de indícios da prática de uma infração, aliada à necessidade de interrupção do comportamento infracional, o que ocorre mediante o afastamento do representado de suas atividades profissionais.
Acórdão: Vistos, relatados e examinados estes autos de Representação,
acordam os integrantes da Câmara Especial do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/PR, por maioria, em julgar improcedente o pedido de suspensão preventiva, nos termos do relatório e voto do relator, que passam a fazer parte integrante do presente acórdão, inclusive para efeito de sua fundamentação. Curitiba, 18 de maio de 2020. Renato Cardoso de Almeida Andrade, Presidente. Roberto Ribas Tavarnaro, Relator do Julgamento da Câmara Especial do TED.
INTIMAÇÃO DE ACÓRDÃO Nº. 21.0000.2020.004159-7/TED
Repte: OAB EX OFFÍCIO - Repdo: A.C.N. (Def. dat. Marcelo Lima Bertuol - OAB/RS 75.643). EMENTA/TED0053/2020: MEDIDA CAUTELAR. Indícios suficientes para suspensão preventiva. Conduta contrária à Ética e Disciplina que norteia a atividade profissional do advogado. Fatos que determinam repercussão prejudicial à Dignidade da Advocacia. Medida Cautelar que se julga procedente, com a suspensão preventiva do Representado pelo prazo de noventa dias, na forma do previsto no Artigo n.º 70, § 3º, do EAOAB. Representação Procedente. ACÓRDÃO: Acordam os integrantes da Segunda Turma Julgadora - Gestão 2019/2021 do Egrégio Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil - Secção do Rio Grande do Sul, à maioria, em acolher a medida cautelar para suspender preventivamente o Representado, do exercício profissional em todo território nacional, pelo período de 90 (noventa) dias, com previsão do art. 70 §3° do EAOAB, nos termos do voto do divergente do julgador Camilo Gomes de Macedo. parte integrante deste. Processo julgado em 01 de julho de 2020. Newton Artur Medeiros Giuliani, Presidente da Turma. Camilo Gomes de Macedo, Relator(a).
Porto Alegre, 21 de julho de 2020.
DA REPERCUSSÃO PREJUDICIAL À DIGNIDADE DA
ADVOCACIA
O advogado cuja conduta tenha causado repercussão prejudicial
à dignidade da advocacia poderá ser suspenso preventivamente
do exercício da profissão, conforme acima citado.
Para que isso ocorra, é necessária a instauração de um Processo
Disciplinar para tal finalidade, em que o advogado será notificado
para apresentar sua defesa.
O Processo Disciplinar deverá ser encerrado no prazo máximo de
90 dias, sob pena de revogação da suspensão preventiva –
informação esta importante para o leitor.
Quando o dispositivo trata de “repercussão prejudicial à dignidade
da advocacia”, poderá ser a prática de determinado crime,
noticiado na imprensa.
O Tribunal de Ética poderá instaurar a representação, inclusive
de ofício, tendo como fonte de início de prova a notícia veiculada
nas redes sociais, nos jornais e/ou na televisão.
O que se visa proteger é a dignidade da advocacia, daí ser o
procedimento célere, tanto que o recurso da decisão do Tribunal
de Ética, excepcionalmente neste caso, não possui efeito
suspensivo, portanto, o advogado é suspenso desde logo.
É claro que, dependendo da situação, ele pode se valer de medida
judicial para tentar suspender essa decisão.
O COMPORTAMENTO DO ADVOGADO
O advogado deve ser merecedor de respeito, tanto em sua vida
privada como, muito mais, em sua vida pública, que repercute
diretamente em seu mister como advogado.
Para caracterizar a infração a ensejar a causa suspensiva, de
forma liminar, do exercício da advocacia (suspensão pelo prazo de
90 dias, conforme já esclarecemos), é necessária a comprovação
de que o advogado agiu em desacordo com os ditames éticos, ou
seja, ofendendo o mandamento do Estatuto da Advocacia e do
Código de Ética, bem como tenha gerado uma repercussão ruim à
imagem da própria advocacia.
Para melhor elucidar os exemplos, veja algumas jurisprudências
atuais e selecionadas sobre a conduta do advogado que geraram a
aplicação da medida preventiva de suspensão do exercício
profissional:
PROCESSO N. 2.127/2020 – Pleno do TED
Rqte: Diretoria de Mulheres da OAB/RJ, Rqdo: A.E., OAB/RJ 061207, Def.Dat; Pedro Miguel Gomes da Cruz Junior, OAB/RJ 179109 Ementa 2/2020: “Processo instaurado nos termos do parágrafo 3º, do art. 70 da Lei 8.906/94. Publicação nas redes sociais de vídeo nos quais o requerido divulga relação íntima com uma parceira e, em decorrência da repercussão de tal mídia, outro no qual afirma que o país é mal visto internacionalmente por conta do comportamento das mulheres brasileiras que não mais prezam pelo sentimento e pela relação saudável, preferindo praticar sexo por dinheiro, vendendo seus corpos por qualquer valor ou em troca de bens materiais de valores variados. Repercussão negativa a imagem da advocacia. Suspensão preventiva que se aplica. Remessa dos autos a Procuradoria desta Casa para adoção de medidas cabíveis no tacante a veiculação dos vídeos nas redes sociais. Decisão Unânime.” Ss. 13.02.2020 (a) Geraldo Antônio Crespo Beyruth, Pres., Cristiane Cardoso Lopes Mançano, Rel.
Pedido de Suspensão Preventiva nº 67/2020. Repte: OAB/SC “EX
OFFICIO”. Repdo: C. F. B. (OAB/SC 11094) (Adv. Alan Muxfeldt da Silva OAB/SC 15957). Relatora: Veridiana Mendes Lazzari Zaine. Acórdão nº
027/2020. Ementa: “PROCESSO ÉTICO-DISCIPLINAR. INFRAÇÃO ÉTICA
PREVISTA NO ART. 34, INCISOS XXV E XXVII DO EOAB. MANTER CONDUTA INCOMPATÍVEL COM A ADVOCACIA. TORNAR-SE MORALMENTE INIDÔNIO PARA O EXERCÍCIO DA ADVOCACIA. Suposta prática de crime de estelionato falsificação de documentos públicos, falsificação de documentos particulares e lavagem e ocultação de valores.
Fatos que tiveram grande repercussão. Conhecimento da população local e do Estado. Repercussão negativa à dignidade da advocacia. Suspensão preventiva julgada procedente. Aplicação do art. 70, § 3º do EAOAB”. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, ACORDAM os Membros da 2ª Turma do Tribunal de Ética e Disciplina, por unanimidade, julgar ao pedido de suspensão preventiva, nos termos do voto da Relatora. Joinville, 13 de março de 2020. Celso Correia Zimath, Presidente. Veridiana Mendes Lazzari Zaine, Relatora.
INTIMAÇÃO DE ACÓRDÃO Nº. 21.0000.2020.003576-3/TED
Repte: OAB EX OFFÍCIO- Repdo: L.H. (Proc. Augusto Tarradt Villela - OAB/RS 99.723). EMENTA/TED0045/2020: SUSPENSÃO PREVENTIVA. PREVISÃO NO ARTIGO 70, § 3º, DA LEI Nº 8.906/94. CONDUTA DO ADVOGADO QUE TENHA REPERCUSSÃO PREJUDICIAL À DIGNIDADE DA ADVOCACIA. ADVOGADO ACUSADO DE USAR ATESTADO MÉDICO FALSO PARA LIBERTAR DA PRISÃO CLIENTE SEU. ATESTADO INDICA QUE PACIENTE SERIA PESSOA DE RISCO POR SER PORTADOR DE DIABETES. APROVEITOU-SE DE FLEXIBILIZAÇÃO DA PRISÃO DOMICILIAR PELA JUSTIÇA EM RAZÃO DA EPINEMIA DO CORONAVÍRUS, OBTENDO O DEFERIMENTO JUDICIAL DA PRISÃO DOMICILIAR, REVOGADA POSTERIORMENTE E ADVOGADO PRESO. ELEMENTOS SUFICIENTES PARA CONFERIR A SUSPENSÃO PREVENTIVA DO PROFISSIONAL. ACÓRDÃO: Acordam os integrantes da Quarta Turma Julgadora - Gestão 2019/2021 do Egrégio Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil - Secção do Rio Grande do Sul, à maioria, em afastar as preliminares arguidas na Tribuna e, no mérito, à maioria, em acolher a medida cautelar para suspender preventivamente o Representado, do exercício profissional em todo território nacional, pelo período de 12 (doze) meses, com previsão do art. 70 §3° do EAOAB, nos termos do voto do relator, parte integrante deste. Processo julgado em 07 de maio de 2020. Daciano Accorsi Peruffo, Presidente da Turma. Hugo Antonio de Bitencourt, Relator(a).
Porto Alegre, 21 de maio de 2020.
INTIMAÇÃO DE ACÓRDÃO Nº. 21.0000.2020.003495-5/TED
Repte: OAB EX OFFÍCIO- Repdo: L.C.D.R.A. (Proc. Fabiano Aita Carvalho - OAB/RS 56.228) e L.C.D.R.A.S.I. (Proc. Fabiano Aita Carvalho - OAB/RS 56.228). EMENTA/TED 0052/2020: SUSPENSÃO PREVENTIVA. ACUSAÇÃO CONTRA ADVOGADA DE PRÁTICA DE PUBLICIDADE IRREGULAR VISANDO CAPTAÇÃO ILEGAL DE CLIENTES ATRAVÉS DE CRIAÇÃO DE APLICATIVO ELETRÔNICO, PROMETENDO CONSULTAS GRATUITAS, COM AMPLA DIVULGAÇÃO NA MÍDIA. DESCUMPRIMEITO DE DETERMINAÇÃO EMANADA PELA COMISSÃO DE FISCALIZAÇÃO DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL PARA CESSAR COMPORTAMENTO DELITIVO, RESULTANDO EM REPERCUSSÃO NEGATIVA A IMAGEM DA ADVOCACIA E EM ATO DE DESLEALDADE AOS DEMAIS COLEGAS QUE EXERCEM A
PROFISSÃO, MAXIME EM SE TRATANDO DE MOMENTO EM QUE A HUMANIDADE ATRAVESSA UMA PANDEMIA, A EXIGIR ESFORÇO COMUNITARIO, SOLIDARIEDADE, LEALDADE E HONESTIDADE E, NA CONTRAMÃO DOS FATOS, A ADVOGADA SE APROVEITA DA SITUAÇÃO PARA BURLAR NORMA REFERENTE AO EXERCÍCIO DE SUA PROFISSÃO. A ADEQUAÇÃO DE CONDUTA REALIZADA TARDIAMENTE NÃO TEM O CONDÃO DE APAGAR A REPERCUSSÃO NEGATIVA E PREJUDICIAL À DIGNIDADE DA ADVOCACIA. APLICAÇÃO DA PENA DE SUSPENSÃO POR 30 DIAS DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL. ACÓRDÃO: Acordam os integrantes da Segunda Turma Julgadora - Gestão 2019/2021 do Egrégio Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil - Secção do Rio Grande do Sul, à unanimidade, em afastar a preliminar de arquivamento dos autos e, no mérito, à unanimidade, em acolher a medida cautelar para suspender preventivamente a Representada, do exercício profissional em todo território nacional, pelo período de 30 (trinta) dias, com previsão no art. 70 §3° do EAOAB, nos termos do voto da Relatora, parte integrante deste. Processo julgado em 27 de maio de 2020. Newton Artur Medeiros Giuliani, Presidente da Turma. Marjori Teixeira Duren, Relator(a). Porto Alegre, 01 de junho de 2020.
Pedido de Suspensão Preventiva nº 1244/2019. Repte: OAB/SC “EX
OFFICIO”. Repdo: R. J. G. (OAB/SC 37242) (Adv. Júlio Cesar Oltramari - OAB/SC 42825, Carlos Henrique Correa Vailati - OAB/SC 41411, Alice Cardozo da Silva - OAB/SC 43222). Relator: Cícero Dittrich. Acórdão nº
063/2020. Ementa: “PEDIDO DE SUSPENSÃO PREVENTIVA. ADVOGADO
CONDENADO POR CRIMES DE NATUREZA SEXUAL EM DECISÃO JUDICIAL CONFIRMADA EM SEGUNDA INSTÂNCIA, MAS AINDA NÃO TRANSITADA EM JULGADO. REPERCUSSÃO PREJUDICIAL À DIGNIDADE DA ADVOCACIA. EXEGESE DAS SÚMULAS 9 E 10 DO CONSELHO FERDERAL DA OAB E DAS SÚMULAS 7 DO STJ E 279 DO STF. INTELIGÊNCIA DO ART. 70, § 3º DO ESTATUTO DA ADVOCACIA E DA OAB. A materialidade e autoria de crimes de natureza sexual praticados por advogado, reconhecidas em sentença penal condenatória confirmada em acórdão unânime de segunda instância, ainda que não transitada em julgado, autorizam a suspensão preventiva do profissional do exercício da advocacia até o julgamento do incidente de inidoneidade, ou até o prazo máximo de 90 (noventa) dias úteis”. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, ACORDAM os Membros da 2ª Turma do Tribunal de Ética e Disciplina, por unanimidade, julgar procedente o pedido, nos termos do voto do Relator. Joinville, 27 de maio de 2020. Anacleto Canan, Presidente. Cícero Dittrich, Relator.
CÂMARA ESPECIAL - PROCESSO N° 3371/2020
Representante: ex-officio; Representado: M.G.B. (Advs. Michael Gonçalves Barreto OAB/PR 78.322 – Cleonice Santos da Silva OAB/PR n° 81.621).
Ementa: SUSPENSÃO PREVENTIVA. ADVOGADO PRESO
CAUTELARMENTE ENVOLVIDO EM FATO RELACIONADO À FEMINICIDIO. FATOS DIVULGADOS PELA IMPRENSA COM PUBLICAÇÕES EM JORNAIS ELETRÔNICOS E GRAVE REPERCUSSÃO NEGATIVA À DIGNIDADE DA ADVOCACIA. VERIFICADA A PRESENÇA DOS REQUISITOS ELENCADOS NO ART. 70, § 30, DO EAOAB, PARA APLICAÇÃO DA MEDIDA. SUSPENSÃO DETERMINADA PELO PRAZO DE 90 (NOVENTA) DIAS.
Acórdão: Vistos, relatados e examinados estes autos de suspensão
preventiva, acordam os membros da Câmara Especial do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/PR, por unanimidade de votos, pela procedência da representação, com aplicação em desfavor do Representado da medida de suspensão do exercício da profissão pelo prazo de 90 (noventa) dias, nos termos do relatório e voto do Relator, que passam a fazer parte integrante do presente acórdão, inclusive para efeito de sua fundamentação. Curitiba, 18 de maio de 2020. Renato Cardoso de Almeida Andrade, Presidente. João Eurico Koerner, Relator do Julgamento da Câmara Especial do TED.