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Open A inclusão sócioeducacional de crianças e jovens com deficiência visual e a participação da ong instituto dos cegos da paraíba

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Academic year: 2018

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CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

MARCO ANTONIO GRANGEIRO LIMA

A INCLUSÃO SÓCIO-EDUCACIONAL DE CRIANÇAS E

JOVENS COM DEFICIÊNCIA VISUAL E A PARTICIPAÇÃO

DA ONG INSTITUTO DOS CEGOS DA PARAÍBA

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MARCO ANTONIO GRANGEIRO LIMA

A INCLUSÃO SÓCIO-EDUCACIONAL DE CRIANÇAS E

JOVENS COM DEFICIÊNCIA VISUAL E A PARTICIPAÇÃO

DA ONG INSTITUTO DOS CEGOS DA PARAÍBA

Dissertação de Mestrado apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social/CCHLA da Universidade Federal da Paraíba, em cumprimento às exigências para obtenção do grau de mestre.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Áurea Carneiro

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MARCO ANTONIO GRANGEIRO LIMA

A INCLUSÃO SÓCIO-EDUCACIONAL DE CRIANÇAS E

JOVENS COM DEFICIÊNCIA VISUAL E A PARTICIPAÇÃO

DA ONG INSTITUTO DOS CEGOS DA PARAÍBA

Dissertação de Mestrado apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social/CCHLA da Universidade Federal da Paraíba, em cumprimento às exigências para obtenção do grau de mestre.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Áurea Carneiro

Aprovada em: ___/____________/___.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Áurea Carneiro (Orientadora) - UFPB

________________________________________________________

Profª. Drª Maria de Lourdes Soares (Examinadora) - UFPB

_________________________________________________________________

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DEDICÁTORIA

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AGRADECIMENTOS

Ao meu Supremo e Eterno Senhor da Vida – Causa Primeira de Todas as Coisas.

Aos Meus Familiares – pela paciência e compreensão.

Ao Mestrado de Serviço Social da UFPB- Pela Qualidade.

À Professora Drª Áurea Carneiro, pela dedicação e preciosos esclarecimentos, incentivo, orientação segura, enfim uma amiga especial para vida.

A Professor Drª Virgínia Ângela, pela motivação e toda orientação inicial da pesquisa.

Aos Meus colegas de Mestrado – Pelo apoio

Ao Instituto dos Cegos da Paraíba ― Adalgisa Cunha‖ – Uma Grande Escola e uma Ponte Iluminada da Inclusão.

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“O Homem não cabe no seu peito, Nem no seu sonho, Nem cabe mesmo na sua solidão Em nenhuma parte do mundo O homem cabe. Porque seus pés, têm jeito de raízes Mas seus olhos lembram a cada, instante As asas de um pássaro”.

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RESUMO

A presente dissertação intitulada: A Inclusão Sócio-Educacional de Crianças e Jovens com Deficiência Visual e a Participação da ONG Instituto dos Cegos da Paraíba, trata-se de uma pesquisa desenvolvida no Programas de Pós Graduação em Serviço Social da Universidade Federal da Paraíba tendo por objetivos a analise das ações sócio-inclusivas implementadas pela ONG Instituto dos Cegos da Paraíba, voltadas para crianças e Jovens com deficiência visual, a partir das percepções desses sujeitos em relação ao processo de inclusão social ao qual estão submetidos segundo os parâmetros da Política Nacional de Educação Inclusiva. O estudo teve como premissa a análise das políticas públicas de atendimento aos jovens portadores de deficiência visual especificamente, desenvolvida pelo poder público com a participação da ONG Instituto dos Cegos (ICP) na complementação do processo de inclusão social. A bibliografia levantada apresentou a discussão em torno do papel social das organizações ligadas ao Terceiro Setor, enfocando as -ONGs ditas Cidadãs- na perspectiva da solidariedade, como agente fundamental para complementação e apoio às políticas públicas, tendo em vista o grande desafio que é colocar os sujeitos dessas políticas, como verdadeiros protagonistas. As ações sócio-educativas desenvolvidas pela ONG/ICP, objeto da nossa investigação, estão todas vinculadas ao processo de inclusão social dos seus usuários, a exemplo da educação, do esporte, da cultura, da facilitação do acesso, da entrada do deficiente ao mercado de trabalho, ao combate da discriminação e pelo exercício da cidadania. Convém frisar que todas essas ações são condicionantes para evitar a exclusão social e ao mesmo tempo efetivar ações inclusivas. Nesse sentido a nossa investigação vem contribuir para a ampliação do debate a respeito dos problemas enfrentados pelos deficientes considerando as respostas materializadas por meio de políticas publicas e operacionalizadas tanto pelo poder publico como pela iniciativa privada não lucrativa, na atenção as suas necessidades e concretização dos seus direitos.

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ABSTRACT

This dissertation entitled: The Social and Educational Inclusion of Children and Young People with Visual Impairment and participation of the NGO Institute of the Blind of Paraiba, this is a survey developed in the Graduate Programs in Social Work at the Federal University of Paraíba and by objectives the analysis of social-inclusive implemented by the NGO Institute of the Blind of Paraiba, aimed at children and youth with visual impairments, from the perception of these subjects in terms of social inclusion process to which they are submitted according to the parameters of the National Education Policy inclusive. The study was premised on the analysis of public policies of assistance to young people with visual disabilities specifically developed by the government with the participation of the NGO Institute of the Blind (ICP) in completing the process of social inclusion. The references presented a discussion on the role of social organizations linked to the Third Sector, focusing on the spoken-NGO-Citizens in the perspective of solidarity, as a key agent for completion and support of public policies in view of the great challenge that is put subjects such policies as real protagonists. The social-educational activities undertaken by the NGO / ICP, the object of our investigation, we are all linked to the process of social inclusion of its users, such as education, sport, culture, facilitation of access, the poor entry to the market of work to end discrimination and the exercise of citizenship. It must be remembered that all these actions are conditions to prevent social exclusion, while effecting inclusive actions. In this sense our research contributes to the broadening of debate about the problems faced by disabled people considering the responses materialized through public policies and operated both by the public as by private non-profit organization, attention to their needs and achieving its rights.

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 01 - Número de jovens segundo a faixa etária e escolaridade ... 60

GRÁFICO 02 – Gênero dos entrevistados ... 61

GRÁFICO 03 – População Brasileira por sexo ... 62

GRÁFICO 04 – Local de moradia dos atores da pesquisa ... 62

GRÁFICO 05 – Tipos de moradia ... 63

GRÁFICO 06 – Renda familiar das famílias dos entrevistados e participação do BPC ... 64

GRÁFICO 07 – Jovens que possuem o BPC ... 65

GRÁFICO 08 – Composição familiar ou dinâmica familiar dos entrevistados, com quem moram ... 66

GRÁFICO 09 – Grau de escolaridade dos Pais dos entrevistados ... 66

GRÁFICO 10 – Tipos de deficiências visuais apresentados pelos jovens ... 67

GRÁFICO 11 – Participação em grupos na sociedade ... 68

GRÁFICO 12 – Inclusão através do esporte ... 69

GRÁFICO 13 – Inclusão pela Música ... 70

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

... 11

CAPÍTULO I

1 INTRODUÇÃO AO DEBATE SOBRE O TERCEIRO SETOR ... 16

1.1 Trajetória Histórica das ONGs e Contexto Atual Brasileiro ... 22

1.2 Caracterização das ONGs e Aspectos Legais ... 25

CAPÍTULO II

2 EXCLUSÃO SOCIAL: UMA QUESTÃO EM DEBATE... 31

2.1 Instâncias de Exclusão Social e Categorias ... 32

2.2 O Paradoxo Brasileiro ... 34

CAPÍTULO III

3 CIDADÃO, CIDADANIA E EDUCAÇÃO INCLUSIVA ... 38

3.1 Cidadão e Cidadania, Conceitos e Perspectivas ... 38

3.2 Educações Inclusiva na Efetivação do Direito ... 40

3.3 Marcos Histórico e Aspectos Legais da Educação Inclusiva ... 49

CAPÍTULO IV

4 CONSTRUÇÃO E DELIMITAÇÃO DO OBJETO: AS TRILHAS METODOLÓGICAS ... 52

4.1 Questões Norteadoras ... 53

4.2 Procedimentos Metodológicos: a abordagem Quantitativa e Qualitativa ... 53

4.3 Tipo de Estudo ... 55

4.4 Sujeitos da Pesquisa ... 55

4.5 Técnicas e Procedimentos Metodológicos... 56

4.6 Análise e Apresentação dos Dados ... 57

4.7 A Educação de Crianças e Adolescentes com Deficiência Visual na Proposta da Educação Inclusiva ... 58

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4.7.2 Caracterização Geral dos Sujeitos e o seu Perfil Sócio-econômico ... 59

4.7.2.1 A ONG (Instituto dos Cegos da Paraíba) e os Jovens com Deficiência Visual ... 59

4.7.3 Análise qualitativa: Perspectivas subjetivas... ...72

4.7.3.1 Auto Percepção dos Jovens com Deficiência Visual .... ... ...72

4.7.4 A Importância do Estudo na Visão do Estudante com Deficiência Visual ... 74

4.7.5 As experiências de inclusão sócio-educacional vividas pelos estudantes com deficiência visual na cidade de João Pessoa – PB ... 75

4.7.6 A presença da discriminação no âmbito escolar ... 79

4.7.7 O papel da ONG Instituto dos Cegos da Paraíba no atendimento educacional especializado aos jovens ... 81

4.7.8 Auto-percepção e perspectivas do jovem deficiente visual na atualidade ... 82

CONSIDERAÇÕES FINAIS

... 86

REFERÊNCIAS

... 92

APÊNDICES

... 99

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INTRODUÇÃO

Temos o direito a sermos iguais quando a diferença nos inferioriza, temos o direito de sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza.

(MANTOAN apud SANTOS, 2006, p. 193) 1.

A presente dissertação desenvolvida junto ao Programa de Pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal da Paraíba na linha de pesquisa de Políticas Sociais tem por objetivo geral: analisar as ações sócio-inclusivas implementadas pela ONG Instituto dos Cegos da Paraíba, voltadas para crianças e adolescentes com deficiência visual e verificar as percepções desses sujeitos, em relação ao processo de inclusão ao qual estão submetidos segundo os parâmetros da Política Nacional de Educação Especial direcionada para a Perspectiva da Educação Inclusiva.

O estudo objetiva especificamente verificar e dar visibilidade ao programa sócio-educacional desenvolvido pelo Instituto dos Cegos da Paraíba (ICP) em apoio à inserção desses atores enquanto grupo social, com deveres a cumprir e direitos de cidadania; traçar o perfil sócio-econômico dos adolescentes, assistidos pelo ICP com deficiência visual e investigar quais as principais dificuldades encontradas por eles na rede pública e regular de ensino na cidade de João Pessoa/PB, a partir das suas impressões.

A análise procura contextualizar a temática situando-a no debate contemporâneo acerca dos direitos humanos fundamentais, notadamente o direito da inclusão social das pessoas com deficiência, exarado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, anunciada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em dezembro de 1948. Passados 61 anos, observaram-se principalmente nos países em desenvolvimento, que a simples Declaração desses direitos, não foi suficiente para garantir a paz, a justiça social e a efetivação da igualdade dentro da diferença, haja vista o acentuado nível de exclusão social, apontado nas pesquisas de cunho sócio-econômico.

No Brasil, os debates sobre os Direitos Humanos ganham visibilidade durante o período de redemocratização do País, nas décadas de 70 e 80, quando a sociedade civil

1Boaventura de Sousa Santos é Professor Catedrático da faculdade de Economia da Universidade de Coimbra,

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reconquistou seus direitos civis e políticos. A partir dos anos 80, houve uma intensa movimentação no sentido de construir propostas de políticas públicas baseadas na temática dos Direitos Humanos, especialmente voltadas para as nossas carências sociais e econômicas.

Podemos observar a partir do movimento democrático de lutas pelos direitos sociais, uma mobilização de toda sociedade e a questão da inclusão da pessoa com deficiência entra na pauta como um movimento mundial, referendado pela Conferência Mundial de Educação para todos (1990), a Declaração de Salamanca (1994) e Convenção de Guatemala (1999), a indicar um novo paradigma para educação desses atores.

Identificamos que o Movimento Mundial pela Educação Inclusiva é uma ação Política, Cultural, Social e Pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando sem nenhum tipo de discriminação. A partir da formulação desse paradigma educacional, fundamenta-se a concepção de Direitos Humanos que conjuga Igualdade e Diferença, como valores indissociáveis em direção da equidade e da vivência da cidadania plena, dentro e fora da escola.

Evidentemente existem na implementação desse novo paradigma educacional, dificuldades decorrentes das práticas discriminatórias secularmente excludentes que se cristalizaram. O desafio, portanto, é continental, pois há necessidade de serem criadas alternativas para superar todos os obstáculos e avançar nesse debate, que atualmente assume espaço central na sociedade contemporânea e sem dúvida, vem resignificar o papel social da escola na superação da lógica da exclusão.

Algumas questões são apresentadas nesse contexto para viabilizar o processo da Educação Inclusiva, tais como: a construção de Sistemas Educacionais Inclusivos, a Organização de Escolas e Classes Especiais (multifuncionais), etc., implicando numa mudança estrutural e cultural, da escola para que todos os alunos possam ter suas especificidades atendidas. Discute-se nessa perspectiva a construção dos três pilares básicos da Educação Inclusiva:

A Cultura Inclusiva (acolhimento, colaboração, valorização do sujeito e inclusão de todos os alunos);

Política da Inclusão (meios e estratégias de desenvolvimento da Escola Inclusiva ampliando sua capacidade em dar respostas às demandas sociais);

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Segundo Viola (2008), só pela construção de uma cultura social respeitadora é que se pode formar a base social que garanta o êxito das políticas inclusivas, de não serem vistas apenas como um compromisso a mais do Universo Escolar. Portanto, avançar na elaboração de políticas públicas específicas levando em conta as bases das culturas sociais inclusivas,

constitui o fundamento para conquista e a preservação dos direitos de todos e de cada um. No contexto educacional brasileiro as políticas inclusivas pretendem potencializar a relação da educação especial com a educação formal, estruturar o acesso e a permanência no sistema, dos alunos com deficiência, bem como possibilitar o desenvolvimento cultural e profissional de cada um. Sobre esse enfoque, é importante acrescentar que, estão presentes posições diferentes, tanto na academia quanto nas diferentes redes de escolas. Iremos analisar essas posições no Capítulo III.

A pesquisa realizou-se na ONG2 Instituto dos Cegos da Paraíba, na cidade de João Pessoa/PB que realiza o Atendimento Educacional Especializado à crianças e adolescentes com deficiência visual desde 1944, data da sua fundação. O Instituto dos Cegos (ICP3) desenvolve atividades nas áreas de Educação, Cultura, Esporte, Lazer e Pré-Profissionalizantes.

Os adolescentes com deficiência visual, sujeitos da pesquisa são todos assistidos pelo ICP e concomitante são alunos da rede pública de ensino, municipal e estadual. Esse recorte foi importante na investigação, pois através das falas desses sujeitos, verificou-se suas impressões acerca do processo de inclusão identificando as possíveis dificuldades que eles enfrentam.

Entendemos na posição de pesquisador, que o ICP no seu percurso histórico junto à população dos deficientes visuais, esteve voltado para dois papéis distintos: o primeiro deles como protagonista de ações educativas e socialização desses sujeitos em face do pioneirismo no Estado da Paraíba, desde a década de 40, quando o paradigma vigente era a escola especial, segregada; o segundo e atual como coadjuvante do processo de inclusão desses

sujeitos, tendo que adequar a estrutura administrativa e pedagógica, aos novos paradigmas propostos pela Política Nacional de Educação Inclusiva, que apresenta como modelo a escola

2 O Termo ONG (Organizações Não-Governamentais) se proliferou no Brasil principalmente nos anos 90,

sendo aplicado às organizações da sociedade civil que a atuam paralelamente ao Governo em busca do bem-estar da coletividade, organizações essas constituídas sob diversas formas e denominações: associações, centros comunitários, grupos, fundações, institutos etc. Podem ser classificadas segundo as autoras brasileiras – Scherer-Warren e Gohn (2000) – tendo como referencial suas áreas de atuação: assistencial, desenvolvimentistas cidadãs.

3 Fundado em 16 de maio de 1944, é uma entidade privada, sem fins lucrativos, beneficente, autônoma de caráter

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para todos. Portanto, dois papéis e em momentos distintos, como protagonistas; Escola

Especial para Cegos; e como coadjuvante: Instituição de Atendimento Educacional Especializado (AEE). Analisamos o andamento do processo de inclusão desses sujeitos na rede pública de ensino de João Pessoa/PB, e verificamos a confirmação da tendência nacional, de aumento de matrículas dos alunos com deficiência nas classes comuns da rede regular, segundo dados do Censo da Educação Básica (2009), divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP).4

Essa dissertação apresenta-se em cinco (5) capítulos. O primeiro capítulo faz menção ao debate a respeito do terceiro setor e as organizações não-governamentais, caracterizando-as e retratando o debate contemporâneo travado à nível da academia, buscando-se entender o alcance e a importância das intervenções dessas entidades frente às questões sociais.

O segundo capítulo busca analisar de forma específica e ao mesmo tempo sucinta os fenômenos abordados como a exclusão social e sua vinculação com a pobreza, compreender as instâncias onde se apresentam e quais as categorias que se estigmatizam sob a sua tutela, baseados em dados de pesquisas que definem o Índice de Exclusão Social (IES), no Brasil. Buscamos compreender tal realidade relacionada aos grupos minoritários, entre os quais os que apresentam deficiência visual, e a partir desse contexto sócio-econômico, compreender os desafios encontrados por esses atores na busca de garantir seus direitos à cidadania plena.

O terceiro capítulo enfoca a discussão sobre a cidadania, conceitos e perspectivas atuais, tendo como referência os princípios da declaração universal dos Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas, que está completando 61 anos de existência. Aborda a inclusão social da pessoa com deficiência na perspectiva da Educação Inclusiva, trazendo o debate sobre os avanços em termos de marcos legais e os desafios colocados à efetivação da Política Nacional de Educação Inclusiva.

O Quarto e último capítulo contemplam a metodologia que utilizaremos em nossas análises e o percurso percorrido desde o levantamento dos dados até a conclusão dos resultados.

Enfoca também as análises a partir das percepções dos atores nela arrolados, acerca dos fenômenos aqui estudados, suas opiniões sobre essas questões; como esses adolescentes com deficiência visual, se percebem enquanto protagonistas do processo de inclusão social proposto pela política nacional inclusiva; como se definem enquanto jovens estigmatizados pela cegueira; quais suas opiniões sobre o preconceito e discriminação; como eles definem e

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(17)

CAPÍTULO I

1 INTRODUÇÃO AO DEBATE SOBRE O TERCEIRO SETOR

A origem da expressão terceiro setor vem do termo inglês Third Sector. Também são

empregadas outras denominações como, Voluntary, Independent ou Non-profit Sector e Public Charites, esses termos estão citados pela Cartilha do Terceiro Setor elaborada pela

OAB/SP 2007. Genericamente na literatura especializada, denomina-se de terceiro setor, um certo conjunto de organizações constituídas sob a forma jurídica de direito privado, cujos objetivos ou finalidades sejam voltados para o interesse social e que não estão submetidas às limitações impostas ao Estado.

No campo teórico, é comumente apontada como marco inicial da responsabilidade social a obra Responsabiliities of the Businessman de Howard Bowen, publicada no ano de

1953, nos Estados Unidos. Na prática, também no ano de 1953 e nos Estados Unidos, ocorreu o caso A. P. Smith Manufacrturing verus Barlow, quando a Suprema Corte, decidiu que a organização pode doar parcelas de seu lucro para atividades voltadas ao desenvolvimento social. O termo terceiro setor foi utilizado pela primeira vez por pesquisadores nos Estados Unidos, tais como Etzione e Levitt em 1973, e a partir da década de 80 passou a ser utilizado também pelos pesquisadores Europeus Douglas (1983); Reese (1987) e Ronge (1988).

Atualmente essa terminologia é muito abrangente, inclui um amplo espectro de organizações sociais com características filantrópicas, dedicadas à prestação de serviços nas áreas de saúde, educação e bem-estar social. Insere-se também as organizações ligadas a defesa dos direitos dos grupos específicos da população, como mulheres, deficientes físicos e mentais, negros, povos indígenas, etc., ou de proteção ao meio ambiente, promoção do esporte, cultura e lazer, como preconiza os estudos de Santos (2008). Engloba as experiências com o trabalho voluntário pelas quais os cidadãos exprimem sua solidariedade, por meio da doação de tempo, emprestando seus talentos e habilidades a benefício das causas sociais.

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existe é uma combinação de eficiência e flexibilidade entre o mercado no que tange a

equidade e a previsibilidade da burocracia pública.

O debate a respeito do chamado terceiro setor, pode ser entendido a partir da discussão a respeito da relação entre as necessidades humanas e sua satisfação via políticas públicas. É importante inserir na pesquisa sobre esse objeto, questões mais amplas que compõem o debate contemporâneo na arena das discussões, entre eles destaca-se o papel do Estado; a crise do Welfare State nos países centrais e a crise fiscal nos países em desenvolvimento. Nessa conjuntura de crises, poderemos situar o acirramento e expansão do pensamento neoliberal no campo econômico, através do Consenso de Washington, cujo cerne é a redução do Estado e a

expansão do mercado e como conseqüência a redução dos investimentos nas políticas sociais e serviços de bem-estar.

No Século XX, observou-se um acentuado crescimento das ações Estatais em geral. O Estado passou a intervir de forma crescente na produção, financiamento e gestão de bens e serviços e a questão social e suas demandas, convertem-se efetivamente, em questão política. Ao término da Segunda Guerra Mundial, em consonância com o paradigma Keynesiano do Estado, gestor de políticas anti-crise, erigiu-se o Estado da Seguridade Social, o Estado-Providência, O Estado do Bem-Estar Social ou Welfare State, em suas variadas expressões:

liberal, conservador, social-democrático. De acordo com a análise de Silva (2004), esses modelos foram desenhados de acordo com as especificidades dos países quanto as suas expectativas de desenvolvimento que pretendiam alcançar, tendo como diretriz a geração do emprego formal e integração aos agentes e fatores de mercado.

No Brasil o modelo de Welfare State tentou seguir uma trajetória própria, distinta do modelo neoliberal americano, tendo inclusive fortalecido a rede pública de previdência social, baseada em princípios universais em termos de cobertura de toda a população. Para Draibe (1995), especialista nesse assunto, o modelo Welfare brasileiro, no entanto, apresenta-se

eivado de distorções na sua estrutura e o que realmente se configurou foi um modelo ―Estado

de mal-estar social‖.

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apogeu do Welfare State, houve uma perfeita parceria entre a política social e a política econômica, sustentada por um consenso; estímulo econômico conjugado com segurança e justiça social.

O Estado de Bem-Estar Social (EBES) erigido após a Segunda Guerra Mundial com base no modelo adotado na Inglaterra na perspectiva Beveridgeana, apresenta-se para atacar os cinco gigantes do caminho (a necessidade, a moléstia, a ignorância, a imundície e o ócio). Além desse enfoque, os estudos de Silva (2004), sobre o EBES, apresenta outros conceitos, mas que convergem para um consenso entre os autores que estudam o Estado de bem-estar-social, ao defini-lo de modo geral, pela responsabilidade do Estado pelo Bem-Estar de seus membros. Em sentido restrito, as intervenções do Estado para provisão de serviços de bem-estar, saúde, educação, habitação, garantia de renda e demais serviços sociais.

No que se refere à natureza do Estado de bem-estar-social, Silva (2004), afirma que podemos concebê-lo como um sistema econômico baseado na livre empresa, entretanto com acentuada participação do Estado na promoção de benefícios sociais. O Autor ainda afirma que não se trata de uma economia estatizada, as empresas respondem pelo incremento e realização da produção, cabendo ao Estado a aplicação de uma progressiva política fiscal, possibilitando a realização de programas sociais, previdência social, seguro desemprego e política de pleno emprego.

Santos (2008) relata que no contexto histórico entre o período de 1930 a 1970, observou-se nos países centrais, um Estado comprometido com os direitos sociais, regulação do mercado, proteção da renda, com as políticas sociais de cunho Keynesiano e visavam compensar a insuficiência do mercado em adequar os níveis de oferta e demanda agregada. Continuando na sua análise, Santos (2008), cita alguns especialistas em economia a exemplo de Além (1999); Giambiagi (1999) e Ikeda (1999), os quais afirmam que a década de 80 apresenta-se emblemática, por se caracterizar como uma década perdida do ponto de vista

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crise do endividamento externo ou a chamada crise do setor público. Ocorreu nesses países uma queda considerável no ritmo de desenvolvimento econômico e social, com elevado endividamento externo, obrigando-os a submeterem-se a um rigoroso programa de ajuste fiscal acordado com os credores internacionais.

Neste cenário de crise financeira mundial, foram estabelecidas nos países centrais, diretrizes econômicas anti-crise, para os países desenvolvidos e os em desenvolvimento, a partir Consenso de Washington, que passou então a ditar os fundamentos da política

econômica no âmbito global, baseado na doutrina do neoliberalismo econômico, cujo cerne é estabelecer uma relação diferente entre Estado e Sociedade, no tocante ao processo de proteção social tendo como diretriz programática a redução do Estado e a expansão do mercado. Para Paiva (2003), o pensamento ideológico da vertente neoliberal ganha resistência nesse momento, quando endossa a ideia de Estado Mínimo, em face dessa ineficácia do Estado no enfrentamento das demandas sociais.

No entanto as medidas econômicas suscitadas e orientadas pelo Consenso de Washington, longe de equacionar as distorções sociais nas várias regiões dos países emergentes principalmente, produziram efeitos danosos a população pobre desses países. Tais medidas são duramente criticadas pelo Economista Joseph Stilgltz (1998), então presidente do Banco Mundial:

Las políticas promovidas por el Consenso de Washington.. no son precisamente completas y a menudo han estado equivocadas... los resultados econômicos no vienen determinados solo por La politica econômica y los recursos humanos, sino por La calidad de las instituiciones de um país (La sociedad civil em uma perspectiva comparativa – Lester M. Salomon, Helmut K. Anheier y colaboradores). (FUNDAÇÃO JOHN ROPIKINS, 1990, p. 21).

Podemos afirmar que os países em desenvolvimento foram os mais atingidos no que se refere às restrições impostas por essas medidas econômicas, quanto ao investimento em políticas sociais de proteção e bem-estar, coube aos movimentos sociais e a sociedade civil organizada a busca de alternativas viáveis no enfrentamento da questão social.

Segundo a especialista Gohn (2000), o contexto histórico dos anos oitenta é caracterizado por fortes mudanças no âmbito das lutas sociais. A sociedade civil ganha maior mobilidade na busca de novas interlocuções entre o Estado e o Mercado com reflexos na cultura política do país, com ênfase na questão da solidariedade, como grande eixo

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De acordo a colocação de Tenório (2006), referindo-se ao cenário de crise, a

questãosocial torna-se mais complexa com o fenômeno da globalização que cria riquezasna

mesma magnitude em que acentua a pobreza dos excluídos do processo civilizatório– com a constatação de que o Estado, supostamente remediador dessesmales, tem sido ineficaz como promotor de maior justiça social. Nessa direção comenta Carneiro (2002), o Terceiro Setor é articulado como premissa às crises econômica e social geradas pelo modelo econômico de acumulação vigente e relata que o seu desenvolvimento é fruto em grande parte e atribuído as falhas do Estado e do mercado na provisão de bens e serviços sociais implícitos no bem-estar. Diante da complexidade dos problemas globais, as tentativas para solucioná-los agora dependem da capacidade de articulação de um espectro mais amplo de agentes sociais. Nesse ínterim, ganha visibilidade a crescente intervenção da sociedade civil organizada, ocupando espaços no enfrentamento compartilhado da questão social. Essa intervenção é analisada, ainda por Tenório (2006), não como uma substituição da ação do Estado, mas pela rediscussão do seu papel, e pela importância da participação cidadã no processo de democratização, direcionando o foco do desenvolvimento sustentável para o seu aspecto social e ambiental, fazendo o contraponto aos modelos vigentes de desenvolvimento centrado no Estado e no mercado.

Em geral, o terceiro setor apresenta-se na atualidade como um conjunto de entidades da sociedade civil organizada, unidas no objetivo de dar respostas as limitações do Estado e

do mercado quanto à questão social e suas demandas agregadas, visando contribuir através de ações complementares às públicas para o desenvolvimento da cidadania plena.

No aspecto civil e fundamentação legal, as entidades do terceiro setor são regidas

legalmente pelo Código Civil (Lei nº 10.406/02 com as introduções trazidas pela Lei nº 10.825/03 e 11.127/05) e juridicamente constituídas sob a forma de associações ou

fundações.

A temática tem suscitado muitas controvérsias, tanto no nível do debate teórico quanto na esfera da prática, isso em parte se deve a inconsistência ou imprecisão conceitual, no que se refere ao terceiro setor e suas organizações, no tocante a sua abrangência. Vários pesquisadores apresentam posições diferentes acerca do tema. Apresentaremos algumas, porque entendemos ser importante a análise dessas posições.

Montano (2003) se posiciona contrário a articulação da sociedade civil e expõe suas idéias com criticidade em relação ao terceiro setor, exatamente pela ausência de fundamentos teóricos e conceituais consistentes. Na sua abordagem generalista, inclui como tendenciosas

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da sua conclusão, a inserção num mesmo patamar as ONGs sérias e as não sérias, as boas e as ruins, no entanto, seu posicionamento não invalida a importante contribuição, que ofereceu para o debate teórico do tema.

Outra contribuição nessa direção crítica é dada por Paiva (2003), quando afirma que o terceiro setor criou um imaginário coletivo falso, no que se refere à participação da sociedade

nas questões políticas, pois o que se observa na prática é a omissão da defesa dos espaços e dos direitos da maioria e que a sociedade civil não é o verdadeiro cenário da história. Para a Pesquisadora, falta à abordagem a conscientização política nos programas e projetos sociais implantados pelas entidades do terceiro setor.

Outras críticas direcionadas ao terceiro setor e as suas organizações no Brasil, partem dos argumentos de que são criações de agências internacionais interessadas em influenciar nas decisões políticas e intervir nas questões econômicas e ambientais do País, tendo em vista ampliação de seus interesses e negócios em áreas estratégicas; outra crítica refere-se aos desvios dos recursos financeiros na execução dos projetos implementados, tendo em vista a alocação dos altos salários pagos aos técnicos envolvidos nessas organizações em detrimento dos objetivos sociais declarados; e outra crítica é a que existe de fato, uma Pilantropia Social.

Recentemente muitas fraudes envolvendo falsas licitações tem colocado diversas ONGs dentro de escândalos de corrupção e desvio de verbas, noticiado pelos principais jornais e veículos de comunicação de massa do País. São ONGs apenas de fachada, dirigidas por políticos inescrupulosos envolvidos em malversação do dinheiro público.

Como observamos na academia e fora dela o tema é bastante controvertido, no entanto entendemos que o conceito terceiro setor, aproxima-se do consenso, quando empregado como conjunto de iniciativas provenientes da sociedade civil voltadas para a questão social e conscientização para os direitos de cidadania. Para Franco (apud COELHO, 2000), tratando da utilidade pública das organizações do terceiro setor, afirma que são consideradas como tal, aquelas que produzem bens ou serviços de caráter público ou de interesse geral da sociedade.

Santos (2008), na sua investigação, apresenta argumentos em que defende a existência de três setores, a saber; O Estado como Primeiro Setor; o mercado, Segundo Setor; as ONGs, institutos, fundações, associações, entidades de classe, Igrejas entre outras, que atuam na área social sem fins lucrativos, fazem parte do Terceiro Setor.

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intervenções na sociedade, obedecem a diversos interesses. Comprovamos que entre os autores que pesquisam esse tema, não existe unanimidade no tocante a sua abrangência, conceito e bases teóricas. O debate prossegue ainda distante do consenso.

1.1Trajetória Histórica das ONGs e Contexto Atual Brasileiro

As associações voluntárias acompanharam o cotidiano das comunidades e antecederam o surgimento do Welfare State. Eram em sua maioria ligadas às organizações religiosas, filantropicas e étnicas. Com predominância do viés das tradições religiosas ressaltavam o papel de instituições como família, amigos ou vizinhos e a igreja como as primeiras instâncias às quais apelarem em tempos de necessidade.

Essas associações cujas finalidades tem sido objeto de investigação por parte de alguns autores ao longo da história, entre eles, Alexis Tocqueville (2005, grifo nosso) que em sua obra A Democracia na América, publicada inicialmente em 1835 e depois em 1840, enfoca o

cotidiano dos norte-americanos com ênfase ao espírito associativo e solidário presente nas relações sociais.

Essa tendência ao associativismo e a solidariedade é destacada por Tocqueville (2005), no cotidiano dos norte-americanos e corrobora com a colocação de Coelho (2000), acerca da filantropia e da caridade cristã, norteadores das ações das ONGs nas suas raízes históricas até por questões de sobrevivência, a organização coletiva se impôs, juntamente com a divisão de tarefas e prestação de auxílio mútuo como decorrência direta desse convívio em sociedade.

Especialista como Moura (apud GOHN, 2000), datam o surgimento de organizações e entidades sociais e filantrópicas no Brasil desde a época colonial vinculada as tradições religiosas. Já a Associação Brasileira das Organizações Não-Governamentais (ABONG), através do seu site nos informa que a expressão ONG aparece primeiramente na Carta da Organização das Nações Unidas, no Conselho Econômico e Social (ECOSOC), na década de 40.

Em Âmbito mundial, a expressão surgiu pela primeira vez na Organização das Nações Unidas (ONU), após a Segunda Guerra Mundial, com uso da denominação

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Na década 70 no Brasil, a configuração das entidades Não-Governamentais, se estabelece sob uma intensa influência da literatura estrangeira ao propor a delimitação da dicotomia existente na época entre Estado Ditatorial e Sociedade Civil. No período da ditadura militar, as ONGs e os movimentos sociais com tendência progressista, emancipatória e democrática, levantaram a bandeira em prol do ensino público e de qualidade. Movimentos como a Consciência Nacional Popular, experiências ligadas as Ligas Camponesas, Movimento de Cultura Popular e as propostas pedagógicas de Paulo Freire, travaram um embate político-ideológico com o Estado ditatorial, na busca de assegurar aos cidadãos brasileiros os seus direitos sociais, como também a politização dos segmentos populares, fomentando uma reflexão crítica sobre suas condições de vida.

Abreu (2002) enfatiza a trajetória histórica das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) na busca de construir espaços democráticos visando estabelecer um novo tipo de intervenção das classes subalternas no movimento histórico na perspectiva de sua emancipação.

As estratégias de enfrentamento dos problemas sociais, por parte das ONGs inicialmente tinham caráter assistencialista em face das ligações com grupos religiosos. A

partir da década de 70, essa estratégia transformadora, caracterizou-se nos países da América Latina, por seu empenho na democratização dos países, mediante ações voltadas tanto para

uma política social de desenvolvimento comunitário quanto para execução de atividades de auto-ajuda, assistência e serviços no campo do consumo, da educação, saúde, entre outros. Na Década de 80 com as mudanças conjunturais dos países Latino Americano, as ONGs passaram a defrontar com os novos desafios na forma de gestão em face das mudanças ocorridas no âmbito sócio-econômico e político desses países, caracterizadas por:

Índices cada vez mais altos de inflação;

Emergência ou vigência de governos democráticos;

Implantação de uma política neoliberal de desenvolvimento, agravando a pobreza; Crescimento do setor informal da economia;

(25)

Retomamos a discussão do cenário da crise financeira internacional ocorrida na década de 80, considerada como a década perdida para economia e as repercussões nefastas no âmbito social. Em contrapartida e paradoxalmente, ocorre nos países em desenvolvimento, particularmente no Brasil, uma intensa mobilização dos movimentos sociais e da sociedade civil organizada na busca de construir novos paradigmas de interlocução e enfrentamento da crise.

Hebert de Souza, um dos ícones do processo de redemocratização do Brasil e protagonista de campanhas em favor da cidadania plena, assim definia as organizações não-governamentais:

Uma ONG se define por sua vocação política, por sua positividade política: uma entidade sem fins de lucro cujo objetivo fundamental é desenvolver uma sociedade democrática, isto é, uma sociedade fundada nos valores da democracia – liberdade, igualdade, diversidade, participação e solidariedade. (SOUZA, 1996 Vol. 4 p.1)

Na sua visão as ONGs são, comitês da cidadania e surgiram para ajudar a construir a

sociedade democrática com que todos sonham.

Continuando com sua abordagem Hebert de Souza (apud SANTOS, 1991), enfatiza que o papel das ONGs no Brasil, pós Constituição de 1988, foi propor à sociedade brasileira, a partir da sociedade civil, uma sociedade democrática, nos pontos de vista político, social, econômico e cultural. Entendia a necessidade da sociedade civil, colaborar com o Estado e

viabilizar uma nova forma de produzir e distribuir bens e serviços que superassem os limites da lógica do capital e estabelecessem um diálogo construtivo entre o setor governamental e empresarial, numa tentativa de universalizar todos os direitos sociais.

Na década de 90, as ONGs se vêem diante de outros desafios entre eles o de estabelecer diálogo com os setores governamental e empresarial, tais como:

Sair do micro para o macro, isto é, não limitar suas ações a microrregiões e sim contribuir com sua experiência para o desenvolvimento macro;

Sair do privado para o público, deixando de atuar na clandestinidade para atuar de forma mais transparente, divulgando ao público o que são, por que lutam, o que propõem;

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Atualmente, a difusão das ONGs no Brasil caminha a passos largos. Segundo dados apurados pelo IPEA e pelo IBGE, em 2004, o país contava com 276.000 fundações e associações sem fins lucrativos, em dados atuais de 2009, são 300.000. No final da década de 90, a literatura especializada apontava que os valores destinados à filantropia e promoção social no Brasil eram de US$ 300 milhões, atualmente, esse valor é estimado em R$ 40 Bilhões.

Podemos deduzir que vários fatores estão contribuindo para essa expansão de entidades e recursos financeiros, entre elas destacamos a significativa adesão de empresas e particulares como apoiadores de projetos sociais. O próprio público consumidor encontra-se mais atento às boas práticas sociais e valorizando as empresas que são adeptas da responsabilidade social, de acordo com a Rede Brasileira do Terceiro Setor (REBRATES, 2009).

É importante frisarmos que o aumento da criação de ONGs é vista pelos críticos do terceiro setor, como uma forma encontrada pelo modelo econômico neoliberal, para difundir a idéia da minimização do papel do Estado frente às demandas sociais. Entretanto, em face da diversidade e modalidades existentes na atuação social e cultural das ONGs, identificamos a existência de muitas que são sérias e que desenvolvem projetos complementares às ações do Estado, como é o caso do Instituto dos Cegos da Paraíba (ICP), escolhida para nossas análises.

1.2Caracterização das ONGs e Aspectos Legais

Apesar das dificuldades de concepções que envolvem as entidades do terceiro setor, elas compartilham algumas características comuns, segundo o grupo de pesquisadores da Universidade Johns Hopkins nos Estados Unidos, particularmente são:

Organizações da sociedade civil que possuem uma estrutura institucional; Privadas, têm uma existência institucionalmente separada do Estado;

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Participação de voluntários, a participação dos voluntários não está legalmente imposta e atraem certo número de doações voluntárias de tempo e dinheiro.5

Podemos assim caracterizar as ONGs por serem organizações sem fins lucrativos, autônomas, o que significa sem um vínculo com o governo, tendo como finalidade o atendimento das necessidades sociais e culturais de uma parcela da população excluída, de bens e serviços públicos, de base popular, complementando a ação do Estado. Atualmente,

estudiosos têm defendido o uso da terminologia organizações da sociedade civil para designar

as mesmas instituições.

As Organizações Sociais (OS), Organizações Não-Governamentais (ONGs) e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSSIPS), caracterizadas como o terceiro setor, consistem em linhas gerais, na articulação da sociedade civil por meio de um ente que tem como objetivo e compromisso fomentar ações voltadas para a melhoria da qualidade de vida da população excluída socialmente.

É importante enfatizar que o Estado, setor público, se financia com os impostos pagos pelos contribuintes; o mercado, setor privado, sustenta-se com o lucro; e o Terceiro Setor, enquanto iniciativa organizativa da sociedade civil, mantêm-se com doações, convênios, parcerias, etc. As diferenças terminológicas para referir-se a este setor mudam de país a país dependendo em parte da cultura organizativa, no caso do Brasil as entidades da sociedade Civil em geral são denominadas de ONG(Organização Não-Governamental).

O Termo ONG se proliferou no Brasil principalmente a partir dos anos 80, sendo aplicado às organizações da sociedade civil que atuam paralelamente ao Governo em busca do bem-estar da coletividade, organizações essas constituídas sob diversas formas e denominações: associações, centros comunitários, grupos, fundações, institutos, etc.

Possui a ONG amplo campo de atuação, desenvolvendo atividades que vão desde a promoção social, defesa do meio ambiente, direitos humanos, direitos da mulher, da criança, do adolescente e do idoso, inclusive trabalhos voltados para a mobilização popular, visando à defesa de determinada causa.

Acompanhando o percurso histórico da legislação brasileira sobre as organizações sem fins lucrativos, a primeira delas foi elaborada em 1916 – Lei para Regular as Entidades sem Fins Lucrativos a qual determinava as exigências para sua constituição através da publicidade dos estatutos da organização em Diário local e posteriormente apenas com a Razão Social da

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entidade e o Cartório onde está registrada. A partir do registro dessa documentação, as entidades passaram a estar aptas a se beneficiarem das isenções fiscais e de fundos públicos.

Analisando numa perspectiva crítica o processo de constituição das entidades sem fins lucrativos brasileiras, a pesquisadora Gohn (2002), ressalta que é muito confuso e complicado, tendo em vista as dificuldades na fiscalização e no controle social das mesmas. A Constituição Federal em seu artigo 150 ressalta: é vedada a União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, o poder de tributar as entidades sem fins lucrativos, entretanto essa

isenção fiscal deve ser concedida obedecendo a certas condições:

Não remunerar dirigentes;

Não distribuir lucros a quaisquer títulos;

Aplicar integralmente os recursos na manutenção e desenvolvimento de objetivos sociais;

Escriturar receitas e despesas de forma exata.

São as exigências necessárias para obtenção por parte das entidades sem fins lucrativos, do certificado de utilidade pública. Somente sendo reconhecida com tal é que poderão ter acesso a subsídios públicos.

Segundo Gohn (2002), para se adquirir o status de Utilidade Pública, as associações, organizações, fundações, deverão percorrer uma verdadeira via-crucis burocrática, seguindo

pelas instâncias federal, estadual e municipal. No plano federal a exigência é dupla, além do título de utilidade pública deve obter o Certificado de Fins Filantrópicos, exigido por uma lei datada de 1959. Esse certificado constitui-se o passaporte para atingir o Fundo Público, pela isenção de taxas e impostos e subvenções estatais, sendo que essas subvenções e concessões são reguladas por leis e ou decretos. Os recursos para a assistência social são repassados para o Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS), que processa a distribuição.

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e ampliação de prédios, instalações e equipamentos. Quanto à subvenção, é a ajuda do Estado com caráter necessariamente supletivo, quando aplicada em despesas de manutenção. No âmbito municipal, as concessões são reguladas por lei orgânica municipal.

Atualmente as entidades que integram o chamado terceiro setor têm fundamento jurídico de validade no Brasil no art. 5º, incisos XVII e XVIII da Constituição Federal, que assegura a plena liberdade de associação para fins lícitos, sendo garantido, ainda, às associações sua instalação sem autorização prévia do Poder Público, estando condicionada sua dissolução ou suspensão de atividades, quando requeridas pelo Estado, somente mediante decisão judicial. As ONGs são regidas pelo Código Civil Lei nº 10.406/02, arts. 44 a 52 (normas gerais); arts. 53 a 61 (associação); 62 a 69 (fundações) e; arts. 2031, 2.033 e 3034 (adaptação ao Código Civil) com as introduções trazidas pela Lei nº 10.825/03 e pela Lei nº 11.127/05. Juridicamente constituídas sob a forma de associações e fundações.

O Novo Código Civil Brasileiro classifica as modalidades de pessoas jurídicas em: Associações, Fundações e Organizações Religiosas e Partidos Políticos, conforme está escrito:

Já o Código Civil, que é a Lei a quem compete a definição das espécies de pessoas

jurídicas, deixando claro que as ―sociedades‖ são pessoas jurídicas de direito

privado como fins econômicos ou lucrativos (arts. 44 e 981), assim como que as

―cooperativas‖ são ―sociedades cooperativas‖ (arts. 1093 a 1.096), identifica e caracteriza como ―sem fins lucrativos ou econômicos‖ as seguintes organizações:

(a) Associações (arts. 44 e 53): União de pessoas que se organizam para fins não econômicos.

(b) Fundações (arts. 44 e 62): Dotação especial de bens livres destinado ao fim especificado pelo instituidor, que poderá, inclusive, declarar a maneira que a fundação será administrada. A fundação apenas poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.

(c) Organizações Religiosas (art. 44, § 1º): Liberdade de criação, organização, estruturação interna e o funcionamento, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento.

(d) Partidos Políticos (art. 44, § 3º): São organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica. (BRASIL, 2007).

As ONGs podem ser classificadas segundo as autoras brasileiras – Scherer-Warren (2000) e Gohn (2000), tendo como referencial suas áreas de atuação em:

a) Assistencial

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doação de bens: cestas básicas, remédios, fornecimento de abrigos, passagens, etc. Outras têm uma atuação nas áreas da Educação, com aulas de reforço escolar, atividades culturais, esportivas e também na área da Saúde, preventiva, curativa e alternativa.

b) Desenvolvimentista

Estimuladas pela realização da Conferencia do Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro, mais conhecida como a ECO 92, que constituiu seu marco histórico, surgiram muitas ONGs com o propósito de atuar no meio ambiente. As propostas que mais se destacam são as alicerçadas no desenvolvimento auto-sustentável, nas áreas de barragens, reservas ecológicas, reservas indígenas ou de produção alternativa de produtos para comercialização popular.

Para a especialista e pesquisadora Gohn (2000), das 400 ONGs canadenses, que atuam nessa área desenvolvimentista, dados de 1992, um percentual elevado delas têm projetos voltados para a América Latina, junto as comunidades indígenas e populações pobres, onde são estimuladas oficinas de produção de bens voltados para exportação, tendo um impacto positivo na economia local, através da geração de emprego e renda. Com esses projetos podemos perceber que é possível conciliar o desenvolvimento sustentável, através da cooperação internacional e desenvolvimento social de muitas regiões carentes, com respeito ao meio ambiente.

No que se refere ao meio ambiente, existem diversas ONGs espalhadas no mundo todo, cujo foco é o desenvolvimento sustentável. A Rede ONGs Mata Atlântica, é uma articulação que reúne 257 organizações não governamentais em 17 Estados brasileiros que atuam na conservação e recuperação e uso sustentável da Mata Atlântica.

c) Cidadã

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perspectiva, visto que seu foco é promover a inclusão sócio-educacional de crianças e jovens com deficiência visual e lutar para garantir os direitos de cidadania desses sujeitos.

Santos (2008, grifo nosso), na sua dissertação analisa as ONGs que defendem os direitos humanos e cita em destaque a Anistia Internacional, conhecida mundialmente e respeitada pela opinião pública, por vários segmentos da sociedade: intelectuais, pelo governo, pela Organização das Nações Unidas (ONU), pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Possui um secretariado internacional em Londres na Inglaterra, onde se localiza as equipes de investigação.

Essa classificação demonstra as áreas de atuação das ONGs, na qual fica claramente evidenciado o papel sociopolítico dessas organizações e seus desafios globais na sociedade pós-moderna. Relacionamos algumas contribuições de autores para o aprofundamento do debate.

Tenório relata (2006), que assistimos a emergência de novos centros de poder econômico e político, à revolução nas comunicações, aumento da produtividade industrial e agrícola, assim como da urbanização. Paralelo a esse desenvolvimento, no campo social, temos o crescimento da pobreza, da violência, de doenças e da poluição ambiental, acrescidos de conflitos religiosos, étnicos, sociais e políticos. Nessa perspectiva atuam as ONGs de cunho assistencial e cidadã.

Para Tachizawa (2004), o público envolvido e atendido pelas ONGs é bastante diversificado. Inclui associações, sindicatos, grupos religiosos, trabalhadores, etc. Entre os beneficiários estão os setores marginalizados, como portadores de deficiência física, moradores de rua, negros, indígenas, presos comuns, entre outros.

No entendimento de Borges (2005), na agenda propositiva das ONGs, estão ressaltados, o exercício da cidadania, a valorização da ética, da solidariedade. Daí um número crescente de pessoas e instituições imbuídas de propósitos de bem estar da população nas áreas da educação primária, meio ambiente e defesa dos direitos humanos.

Para a pesquisadora Zapelon (2002), as ONGs têm os seguintes objetivos: aumentar o nível de participação social fortalecendo os laços de solidariedade entre grupos sociais diversos; resolver problemas postos pela ausência do Estado nas áreas sociais e ambientais. Para ela, as ONGs travam uma espécie de contraponto em relação ao avanço do neoliberalismo econômico, pois elas representam inclusive um foco de resistência a tal

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CAPÍTULO II

2 EXCLUSÃO SOCIAL: UMA QUESTÃO EM DEBATE

Podemos iniciar a discussão abordando a contribuição dos estudos de Fleury (2005), retirado do seu artigo sobre a Seguridade Social e os Dilemas da Inclusão Social, quando a autora coloca que a exclusão social e a questão social estão imbricadas numa problemática, que demanda como resposta seu equacionamento por parte do governo e da sociedade. Afirma também que nos países Latino-Americanos a exclusão sempre existiu e com a qual esses países convivem como algo natural.

Ao se referir à exclusão Fleury (2005), refere-se a não-incorporação de uma parte significativa da população à comunidade social e política, negando sistematicamente seus direitos de cidadania impedindo seu acesso à riqueza produzida no país.

De modo amplo a exclusão social pode ser entendida como um processo sócio-histórico caracterizado pelo recalcamento de grupos sociais ou pessoas, em todas as instâncias da vida social, com profundo impacto na sua individualidade.

Numa abordagem técnica, pessoas ou grupos sociais são de uma maneira ou de outra

excluídas de ambientes, situações ou instâncias. Estar excluído é ―estar fora‖, à margem, sem

possibilidade de participação, seja na vida social como um todo, seja em algum dos seus aspectos. Nessa direção, pode-se designar, desigualdade social e econômica, marginalização social, exploração social, injustiça, entre outras significações, fazendo parte intrínseca de um mesmo aspecto fenomenológico.

Jaime Pinsk (2004), aborda em seu artigo sobre a Cidadania e a Inclusão Social, a exclusão social observada numa perspectiva sistêmica. Enfatiza a contribuição de vários autores, entre eles a da antropóloga e pesquisadora Francesa Martine Xiberra (1993 apud PINSK 2004), ao asseverar que, excluídos são todos aqueles que são rejeitados de nossos mercados materiais e simbólicos, de nossos valores. Nessa mesma direção expõe o pensamento da Assistente Social Sposatti (1996), quando coloca que a condição de excluído, é uma impossibilidade de poder partilhar, por isso, uma exclusão social e não pessoal.

(33)

como um desigual, mas como um não-semelhante. Tais conceitos embasam nossa pesquisa que tem como fulcro, o olhar da exclusão pelos excluídos, particularmente os deficientes visuais e os consequentes entraves para inserção desses indivíduos na sociedade atual.

Outra abordagem, trata a exclusão social no seu aspecto dialético, sendo um processo complexo e multifacetado (polissêmico), dotado de contornos materiais e, políticos, relacionais e subjetivos. Nessa visão a exclusão é colocada não como uma falha, uma característica do processo capitalista, ou de outro regime ideo-político: a exclusão é parte integrante do sistema social, produto do seu funcionamento; dessa forma, sempre haverá, mesmo teoricamente, pessoas ou grupos sofrendo do processo de exclusão social.

2.1 Instâncias de Exclusão Social e Categorias

Podemos situar as instâncias da exclusão inicialmente no plano macro-político global. Países periféricos da América Latina, África e parte do Continente Asiático – são excluídos da ordem econômica mundial, em relação aos países centrais, Estados Unidos, Países da União Européia entre outros economicamente desenvolvidos.

Os países centrais, a partir dessa nova ordem econômica mundial (globalização), estabelecem uma relação hegemônica com os países em desenvolvimento e com o restante do planeta em função do imenso poderio econômico e militar.

São considerados excluídos no nível de grupos sociais:

Minorias étnicas (indígenas, negros);

Minorias religiosas; Minorias culturais.

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QUADRO 1 - Representação gráfica da exclusão

Excluidos de genêro: mulheres e crianças

Excluídos em termos de opção sexual: homossexual e bissexual

Excluídos por idade: crianças e idosos

Excluídos por aparência física: obesos, deficientes físicos, pessoas calvas, pessoas mulatas ou pardas, portadores de deformidades físicas, pessoas multiladas

Excluídos do universo do trabalho: desempregados e subempregados, pessoas pobres em geral

Excluídos do universo sócio cultural: pessoas pobres em geral, habitantes das periferias dos grandes centros urbanos

Excluídos do universo da educação:

os pobres em geral, os sem eescola, as vitimas de repetição, da desistência escolar, da falta de escola junto a seus lares,

deficientes físicos, sensoriais e mentais.

Excluídos do universo da saúde: pobres em geral, doentes crônicos e deficientes físicos, sensoriais e mentais

Excluídos do universo social como um todo:

os portadores de deficiência física, sensórias e mentais, os pobres, os desempregados

Quadro 1: Categorias de exclusão

Fonte: Lemos e Nunes, 1997.

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2.2 O Paradoxo Brasileiro

Podemos inicialmente considerar o contexto sócio-histórico brasileiro a partir dos 300 anos de escravidão, onde o escravo era completamente excluído do sistema econômico, mas a sociedade da época era sustentada pelo seu trabalho. Com advento da abolição, desenhou um novo quadro econômico e social, no que tange a produção, dada a fuga da mão de obra, agora liberta de seus locais de trabalho e a vinda de imigrantes europeus; e por outra, pela situação dos ex-cativos, libertos e tendo que encarar sua nova condição, sem nenhum preparo para assumir com dignidade as funções na sociedade.

No Brasil a situação atual da exclusão social, em quaisquer instâncias, ou em todas, vem se agravando, segundo o Mapa da Exclusão Social, elaborado em pesquisa por Lemos e Nunes (l997, grifo nosso). Segundo o mapa é cada vez maior o número de desvalidos e de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza.

A pesquisa construiu o Índice de Exclusão Social (IES), a partir dos (5) cinco indicadores da exclusão a saber:

1. Percentagem da população do município ou distrito que está privada de água tratada;

2. Percentagem da população do município ou distrito que está privada de saneamento;

3. Percentagem da população do município ou distrito que está privada de coleta de lixo;

4. Percentagem da população maior de 10 anos com no mínimo 1 ano de escolaridade;

5. Percentagem da população que sobrevive em domicílios particulares cuja renda pessoal diária é de no máximo um dólar por dia.

É possível observar nessa pesquisa que esses critérios indicativos da exclusão social brasileira, estão mais evidenciados especificamente em algumas regiões, onde se aglomeram um contingente maior dos excluídos. É o caso da região Nordeste cujo município com maior IES é Fernando Falcão, no Maranhão, que também é o Estado com maior percentual de

(36)

Segundo o Senador Aluízio Mercadante do PT/SP, na tribuna do Senado Federal, teceu comentários sobre o diagnóstico da exclusão social brasileira, afirmando que apesar das mudanças ocorridas no âmbito da política e da economia nos últimos anos, a concentração de renda permaneceu inalterada durante toda a nossa história. Para o Senador, o único modo de mudar essa realidade seria através das reformas estruturais, como a da previdência, tributária, agrária e do poder judiciário. Na sua fala ele considerou como fundamental ao processo de inclusão social o fator educação, ao afirmar: que a educação é a porta de entrada do processo de inclusão social, e concluiu que Inclusão é primordialmente educação e emprego.

Analisando o que disse Mercadante a respeito das mudanças ocorridas na política e na economia, na verdade o modelo econômico é o mesmo mantido pelas elites governantes brasileiras nos últimos anos, inclusive pelo Governo Lula, mantendo os mesmos fundamentos e submetido às teses do neoliberalismo, para o ingresso na nova ordem mundial globalizada. Tal modelo vem intensificando profundamente a concentração de renda, de forma que, somos um país potencialmente produtor de riquezas e ao mesmo tempo, figuramos nos últimos lugares, nas estatísticas sobre a qualidade de vida da população.

O Brasil é na escala mundial o 10º PIB (Produto Interno Bruto), enquanto o nosso Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), referencial para qualidade de vida da população de um país é o 72º, segundo o economista Nassif (2002), em artigo publicado na Folha de São Paulo. Porquanto, esse contraste entre a produção de riqueza e a qualidade de vida das pessoas denota a concentração demasiada de renda nas mãos de minoria dominante e insensível, perante uma esmagadora população subtraída dos seus direitos mais legítimos de cidadania. Daí observa-se, um aumento considerável nos índices de violência urbana, razão intrínseca da miséria e da desigualdade.

Outra consideração a respeito desse tema foi proferida pelo Ex-Ministro da Segurança Alimentar, do Governo Lula, José Graziano, que defende a inclusão social começando por uma nutrição adequada, pois pra Ele a fome é a mãe da exclusão social. Graziano também exalta a criação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA), criado pelo então Presidente Itamar Franco, em l993. A partir desse conselho houve uma imensa mobilização da sociedade brasileira pela campanha do sociólogo Hebert de Souza, o Betinho.

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auto-estima, e gozar de respeito por parte das outras pessoas. Segundo o Human Development Report (HDR) de 1997, estabelece que pobreza significa a negação de oportunidades de escolhas mais elementares do desenvolvimento humano.

Na literatura especializada observa-se dois eixos básicos que buscam definir pobreza. Partimos da premissa que a pobreza envolve um forte componente de subjetividade ideológica. Na perspectiva de interpretação neoclássica e conservadora, a pobreza é uma condição ou um estágio na vida de um indivíduo ou de uma família, podendo ser mensurada através de uma relação entre indivíduo ou família, a uma linha imaginária de pobreza, geralmente determinada por padrões de vida, envolvendo consumo e renda, abaixo das quais as pessoas são consideradas pobres. Em síntese, nessa visão a pobreza se refere a um posição passível de quantificação, determinada pela posição que o indivíduo ou família ocupa no que se refere à posse de bens e ao acesso a serviços e a riqueza.

Numa visão progressista, a pobreza é considerada sob o aspecto sócio-político, como uma relação historicamente determinada entre lutas de grupos sociais, na qual uma significativa parte da população, está privada dos meios que lhes assegurem os níveis adequados de bem estar social. Essa visão interpreta do ponto de vista da economia política a pobreza, a partir das relações entre grupos sociais, que competem entre si, e que em graus diferentes e desiguais, portanto assimétricos, assumem o controle dos bens e dos meios de produção.

São análises distintas de um mesmo fenômeno social, a primeira considera a pobreza simplesmente como uma condição ou um estágio na vida de um indivíduo ou de uma família, e a segunda mais abrangente, enfatiza os determinantes históricos ligados as relações sociais entre grupos e no poder que determinado grupo tem de apoderar-se dos ativos gerados pelas atividades econômicas. Em suma a pobreza é fruto da competição e dos conflitos que se estabelecem entre os grupos sociais na busca da posse dos ativos, sejam eles produtivos, ambientais ou culturais.

Numa tentativa de compatibilizar as diversas concepções a respeito do conceito de pobreza, entendida como um processo de exclusão social, a ONU (HDR, 1997) propõe interpretá-lo em três perspectivas:

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Perspectiva das Necessidades Básicas. Segundo essa perspectiva a pobreza é a privação das condições materiais mínimas aceitáveis das necessidades humanas, incluindo alimentação, serviços de saúde, educação e de serviços essenciais como saneamento, água potável, dentre outros;

Perspectiva da Capacidade. Representa a ausência de algumas capacidades básicas para os indivíduos ou famílias. Essas capacidades variam desde as físicas, associadas ao fato das pessoas estarem bem alimentadas, bem vestidas, bem abrigadas e imunes à morbidade previsível, até as realizações sociais mais complexas, tais como participação na vida da comunidade, participação nas decisões políticas, dentre outras.

Imagem

GRÁFICO 01 – Número de jovens segundo a faixa etária e escolaridade.
GRÁFICO 02  –  Gênero dos entrevistados.
GRÁFICO 03 – População Brasileira por sexo
GRÁFICO 05  –  Tipos de moradia.
+7

Referências

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