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COLÉGIO SÃO LUÍS ENSINO MÉDIO CURSO DE METODOLOGIA DE INCIAÇÃO CIENTÍFICA

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Academic year: 2022

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COLÉGIO SÃO LUÍS

ENSINO MÉDIO

CURSO DE METODOLOGIA DE INCIAÇÃO CIENTÍFICA

Alexandre Alvim Olivetti

O papel dos principais membros da Bossa Nova nos shows e discos do movimento.

São Paulo, Brasil 2021

Alexandre Alvim Olivetti

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O papel dos principais membros da Bossa Nova nos shows e discos do movimento.

Artigo apresentado como requisito de aprovação em “Metodologia de Iniciação Científica”, na 2ª série do EM do Colégio São Luís Orientadora: Profa Paula Galasso

São Paulo 2021

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AGRADECIMENTOS

Agradeço profundamente minha orientadora Paula Galasso por toda sua paciência e tolerância com minhas demoras de entrega e pelas suas ótimas revisões.

Também agradeço meu avô José Carlos, que me apresentou a Bossa Nova tocando e cantando as mais belas músicas do movimento toda vez que vou visitá-lo.

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RESUMO

A Bossa Nova foi um movimento primordialmente musical que teve sua origem no Rio de Janeiro no final da década de 1950 e é muito importante na história da música nacional. Ao longo deste trabalho são analisados os principais shows e discos da Bossa Nova, com o objetivo de observar qual foi o papel dos mais importantes músicos do movimento, sendo eles João Gilberto, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Nara Leão, Carlinhos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e Newton Mendonça durante o auge do movimento entre 1958 e 1964.

Palavras-chave: Bossa Nova. Shows. Discos.

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ABSTRACT

The Bossa Nova movement was primarily musical and was originated in Rio de Janeiro in the late 1950s. The movement is also very important to the history of national history. Throughout this work, the main shows and albums are analyzed, aiming to observe the role of the most important musicians of the movement, namely, João Gilberto, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Nara Leão, Carlinhos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e Newton Mendonça, during the peak of the movement between 1958 and 1964.

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1 INTRODUÇÃO

Ao longo da década de 1950, o Brasil estava passando por um processo claro de modernização: a nação compartilhava um sentimento de progresso que se evidencia no plano de ação do presidente eleito em 1956, Juscelino Kubitschek,

“Cinquenta anos em cinco” e na euforia presente durante a construção de Brasília. O desenvolvimento da nação trouxe para a população maior acesso a música e isso fez com que a influência e a necessidade de modernização dela aumentassem.

A modernização da música brasileira ocorreu no final dessa década, com o movimento da Bossa Nova, marcada pela sua batida derivada do samba, o uso de acordes não convencionais e uma forma de cantar quase falada que foi percurssionada pelo compositor, cantor e violonista João Gilberto, que segundo Carlos Pires (2015, p.83):

Ele transformou, no final da década de 1950, a maneira de tocar violão, de cantar de – junto com Tom Jobim – harmonizar e arranjar, de conceber o acompanhamento rítmico – enfim, praticamente todos os parâmetros musicais da canção foram afetados pelo seu trabalho.

A batida da Bossa Nova chegou ao público pela primeira vez em 1958 no disco da cantora Elizeth Cardoso, Canção do amor demais, o qual João Gilberto tocou seu violão em duas faixas e se destacou por conta de sua batida diferente. “O disco de Elizeth dava claras amostras das inovações que se processavam, tanto no repertório, quanto na presença do violão de João Gilberto” (Pedro Teixeira, 2021, 5.3). Nesse mesmo ano, ele lançou o compacto que marcou o início desse movimento, que possuía as músicas Bim bom e Chega de saudade, que se tornou um dos maiores símbolos do movimento. “O disco de Elizeth dava claras amostras das inovações que se processavam, tanto no repertório quanto na presença do violão de João Gilberto”

(Pedro Teixeira, 2021, 5.3).

A letra da música Bim bom demonstra outra inovação que acompanhou várias músicas desse movimento, o uso de palavras baseado em seu valor rítmico e sonoro e não necessariamente pelo sentido que a palavra possui, assim como diz Pedro Teixeira (2021, 5.3) “A importância da letra, portanto, estava muito mais na sua possibilidade rítmica e fônica do que na semântica.”

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Além da letra, Bim bom demonstra exatamente a essência da Bossa Nova de João:

Bim bom funciona como uma espécie de manifesto da música que João Gilberto começa a inventar no final da década de 1950. A construção da canção – a letra mínima, uma estrutura musical que a potencializa não como moldura, nem estabelecendo uma relação ilustrativa com a voz articulada próxima à fala – causou muito do espanto desse cantor “sem voz”, ou ventríloquo – segundo a percepção de boa parte do público, de muitos músicos e produtores de discos. (PIRES, 2015, p.87)

No ano seguinte do lançamento desse single, foi lançado a música Desafinado, composta por Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça, onde a letra e a música se comentam e fazem alusões entre si, o que também pode se observar na música Samba de uma nota só, de mesma autoria.

Os elementos de transgressão da bossa nova encontram-se presentes sobretudo em Desafinado: no momento exato em que se pronuncia a sílaba tônica da palavra “desafino” ocorre, no plano da música, uma nota inesperada, que representa uma transgressão aos padrões harmônicos da música popular convencional. (NAVES, 2000, p.36)

Nesse processo de modernização João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moares protagonizaram o movimento, tanto no início, quanto nos anos seguintes. Por isso é possível afirmar que eles foram os grandes sustentadores desse movimento.

Enquanto Gilberto definiu a batida e a maneira de interpretar, Jobim foi o grande compositor desse movimento e Vinicius foi o poeta e letrista dessa geração que os seguiu (BARBOSA, 2008, p.40). Camila Barbosa (2008, p.41) também aponta outras figuras importantes desse movimento, como Newton Mendonça, que compôs em conjunto com Tom, algumas das principais músicas da Bossa Nova, entre elas, Desafinado, Samba de uma nota só e Meditação, e foi classificado pela autora como

“um dos mais ilustres desconhecidos da Bossa Nova”. Podem ser citados também Ronaldo Bôscoli, Nara Leão, Carlinhos Lyra e Roberto Menescal, que tiveram também grande influência no movimento.

A Bossa Nova perdeu espaço no Brasil em 1964, ano em que ocorreu o Golpe Militar, quando o espaço da música brasileira foi tomado por críticas a ditadura. Isso fez com que o movimento saísse do país e entrasse no mercado musical americano, o qual se adaptou com facilidade. A Bossa Nova já havia provado seu espaço na

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música internacional em 1962, com diversas apresentações nos Estados Unidos, além de alcançar o topo das paradas de sucesso do país.

Em 1962, esta música brasileira jovial e carioca chegou de vez e para ficar nos Estados Unidos. As apresentações no Carnegie Hall, no Village Gate e no Lisner Auditorium, confirmaram que o público norte-americano havia de fato apreciado a Bossa Nova. Alguns artistas já permaneceram nos Estados Unidos quase que definitivamente após o espetáculo na casa nova-iorquina, como Luiz Bonfá; outros retornariam mais tarde, mas quase todos tinham a pretensão de se estabelecerem no mercado musical estadunidense e se fixarem naquele novo país. (BARBOSA, 2008, p.40)

A música do movimento que teve mais sucesso internacionalmente foi A Garota de Ipanema, composta por Tom Jobim e Vinicius de Moraes em 1962, que teve diversas gravações, nota-se a feita por Astrud e João Gilberto em 1964 no álbum Getz/Gilberto juntamente com a versão em inglês The Girl from Ipanema, traduzida por Norman Gimbel, que ganhou a premiação de música do ano na sétima premiação do Grammy Awards enquanto o Getz/Gilberto ganhou o prêmio de álbum do ano.

A Bossa nova se tornou um importante representante da cultura brasileira em outros países, por isso o Brasil começou a ser associado com essa leveza e suavidade da Bossa Nova, e Rio de Janeiro se tornou um ícone ainda maior do país.

Por conta da importância que possui, ao longo do trabalho será analisado o movimento da Bossa Nova do Brasil, usando de base os trabalhos dos autores citados na introdução em conjunto aos trabalhos que serão citados no trabalho final, a fim de explicar em qual contexto o movimento da Bossa Nova foi formado, quais foram os acontecimentos que o formou e quem protagonizou esses acontecimentos.

Meu trabalho tem como objetivo estudar quais foram as contribuições culturais de João Gilberto, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Nara Leão, Carlinhos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e Newton Mendonça para a Bossa Nova durante os anos de 1958 a 1964, visto que essas são as mais importantes figuras do movimento e seu período de maior relevância no Brasil.

A Bossa Nova reflete muito a vida do que seus autores, e as características da cidade do Rio de Janeiro. A música mais famosa que teve origem no movimento, A Garota de Ipanema, mostra em sua letra a clara inspiração da cidade.

João Gilberto foi o grande precursor do movimento, ele foi o responsável pela modernização da batida do samba o que levou a batida de Bossa Nova presente em todas as músicas do movimento. Gilberto também inovou no modo de cantar a música

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brasileira, cantando de forma que se assemelhasse a forma de falar naturalmente, se distanciando do que era valorizado na época.

Tom Jobim teve uma importante presença no movimento. Ele compôs, juntamente a Vinicius de Moraes, Chega de Saudade, música que marcou o início do movimento e marcou uma ruptura na música brasileira. Jobim e Vinicius compuseram outras músicas que marcaram a Bossa Nova e juntamente com João Gilberto são as três pessoas mais importantes do movimento.

Ronaldo Bôscoli, além de coautor de algumas músicas do movimento como O Barquinho, foi um grande articulador do movimento. Ele servia de ponte no contado daqueles envolvidos com a música da Bossa Nova e organizava shows. (BARBOSA, 2008, p.41)

Nara Leão foi outra importante base do movimento que promoveu encontros entre os músicos da Bossa Nova em seu apartamento (BARBOSA, 2008, p.42). Ela participou de várias apresentações de João Gilberto e cantou em alguns deles como o que ocorreu no colégio Mackenzie em São Paulo.

Carlinhos Lyra era considerado por Vinicius de Moraes o grande desenhista da Bossa Nova e, tanto ele, quanto Roberto Menescal são dois importantes divulgadores da Bossa Nova. Um dos motivos é a academia de violão que ambos mantinham no começo do movimento. Menescal compôs várias

músicas, sendo uma delas O Barquinho, que mostra justamente a temática do mar presente em várias de suas composições.

Levando em conta que o movimento da Bossa Nova foi o resultado além da situação em que o Brasil e a música brasileira se encontravam na década de 1950, do protagonismo de um grupo de pessoas que individualmente e entre si formaram o desenvolvimento do movimento e que como resultado

modernizou a música nacional, meu trabalho tem como objetivo responder a pergunta: Como João Gilberto, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Nara Leão, Carlinhos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e Newton Mendonça contribuíram culturalmente para o movimento da Bossa Nova no Brasil desde sua idealização até 1964?

Para poder responder o problema apresentado meu trabalho tem como objetivo principal analisar de qual forma João Gilberto, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Nara Leão, Carlinhos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e Newton Mendonça traçaram o rumo da Bossa Nova a fim de entender o que foi e como ocorreu o movimento e quais foram as contribuições culturais feitas por cada membro desse grupo, ter como objetivos específicos analisar os mais importantes álbuns e shows da Bossa Nova.

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Meu trabalho tem como hipótese que João Gilberto, Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Newton Mendonça foram fundamentais para a criação da Bossa Nova enquanto Nara Leão, Carlinhos Lyra, Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli foram muito importantes para que ela se desenvolvesse e se popularizasse.

Para o desenvolvimento de um produto final, a metodologia utilizada durante o trabalho será uma revisão bibliográfica.

2 O INÍCIO DA BOSSA NOVA: CHEGA DE SAUDADE

O primeiro ano da Bossa Nova foi 1958, no qual dois discos marcam o momento inicial do movimento, Canção do Amor demais de Elizeth Cardoso em abril e do compacto Chega de Saudade de João Gilberto em agosto (BARBOSA, 2008, p.28).

O disco de Elizeth contava apenas com músicas de Tom Jobim e Vinícius de Moraes e duas faixas que contavam com o violão de João Gilberto se aproximando muito da Bossa Nova, porém a forma de cantar de Elizeth faz a música soar mais como um samba canção do que uma música da bossa nova (TEIXEIRA, 2011, p.87).

Já o compacto de 78 rotações lançado por João Gilberto contém em seu lado A a música Chega de Saudade que marca o início do movimento da Bossa Nova, é resultado do trabalho de seus compositores Vinícius de Moraes e Tom Jobim, o qual também escreve, rege o arranjo da canção e toca piano na gravação lançada no compacto. A voz de João Gilberto, juntamente com sua dicção próxima a fala, comedida e ritmada além da sua batida de violão expõem pela primeira vez ao movimento musical revolucionário da Bossa Nova (TEIXEIRA, 2011, p.69). O lado B do compacto continha Bim Bom de autoria e intérprete do próprio João Gilberto que demorou a fazer sucesso, ao contrário de Chega de Saudade que impactou fortemente seus ouvintes, tanto que Gilberto Gil (apud ARAÚJO, 2006, p. 65) declara:

“Aquilo era como se fosse um canto de sereia, você começava a olhar para a cara dos outros perguntando: você está ouvindo também? É isso mesmo o que eu estou ouvindo? Eu não estou maluco?”. Muitos outros como Chico Buarque e Caetano Veloso afirmam lembrar de que lembram de quando a ouviram pela primeira vez.

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O próximo compacto de 78 rotações lançado por João Gilberto no final do mesmo ano, traria consigo outra canção importantíssima da Bossa Nova, Desafinado, composta por Tom e Newton Mendonça. A música era inovadora em vários frontes e também fundamentalmente contraditória, visto que a mesma defende os desafinados e ao mesmo tempo é tão complicada que um desafinado com certeza não seria capaz de cantá-la (CASTRO, 1990, p.203). No outro lado do compacto foi lançado Hô-bá-lá- lá de autoria própria de João Gilberto.

Em abril de 1959 foi lançado o primeiro disco da Bossa Nova, Chega de Saudade, que além das quatro músicas dos compactos lançados no ano anterior, trazia outras oito, Brigas Nunca Mais, que também foi composta pela dupla Vinicius e Tom, Samba de uma nota só composta pela dupla Tom Jobim e Newton Mendonça, Lobo Bobo e Saudade fez um samba, composições da dupla Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli, Maria Ninguém, composta somente por Lyra. As outras três músicas do disco são releituras de Morena Boca de Ouro de Ary Barroso, Rosa Morena de Dorival Caymmi e Aos pés da cruz do repertório de Orlando Silva (TEIXEIRA, 2011, p.87). As músicas de Tom e Newton apresentam a transgressão entre letra e harmonia introduzida na música brasileira pela Bossa Nova. O modo de cantar de João está presente fortemente no álbum, assim como seu violão. Outra influência de Gilberto o uso de sílabas sem uma mensagem verbal se apresenta em Ho-ba-la-lá assim como em Bim Bom (TEIXEIRA, 2011, p.89). Bôscoli e Lyra eram os mais jovens do núcleo da bossa nova e em Lobo Bobo mostram uma música repleta de malícia que se destaca das demais do disco por conta disso. As releituras ajudam a mostrar as diferenças entre a Bossa Nova e os movimentos que o precederam, João Gilberto em uma entrevista de 1971 (apud Caymmi, 2008, p. 258), destaca as mudanças feitas por ele:

Uma das músicas que despertaram, que me mostraram que podia tentar uma coisa diferente foi “Rosa Morena”, do Caymmi. Senti que aquele prolongamento de som que os cantores davam prejudicava o balanço natural da música. Encurtando o som das frases, a letra cabia certa dentro dos compassos e ficava flutuando. Eu podia mexer com toda a estrutura da música, sem precisar alterar nada. Outra coisa com que eu não concordava era as mudanças que os cantores faziam em algumas palavras, fazendo o acento do ritmo cair em cima delas para criar um balanço maior. Eu acho que as palavras devem ser pronunciadas da forma mais natural possível, como se estivesse conversando. Qualquer mudança acaba alterando o que o letrista quis dizer com seus versos. Outra vantagem dessa preocupação é que, as vezes, você pode adiantar um pouco a frase e fazer as vezes com que caibam duas ou mais num compasso fixo. Com isso pode-se criar

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uma rima de ritmo. Uma frase musical rima com a outra sem que a música seja artificialmente alterada.

Em setembro desse mesmo ano, ocorreu um importante show para a Bossa Nova na Faculdade Nacional de Arquitetura no qual compareceram pessoas suficientes para lotar o lugar. No show cantaram: Norma Bengell, Alayde Costa, Luiz Carlos Vinhas e Ronaldo Bôscoli. Vinícius de Moraes e Tom Jobim compareceram, porém não se apresentaram (CASTRO, 1990, p.226).

Além desse, houve outro importante show para a Bossa Nova esse ano, no dia 2 de dezembro, aniversário do jornal O Globo. O show transmitiu a Bossa Nova pela primeira vez a Bossa Nova ao vivo na rádio, com o mesmo elenco de sempre e uma contribuição dos Os Cariocas que cantaram Chega de saudade e Menina Feia (CASTRO, 1990, p.228).

3 A BOSSA NOVA DEPOIS DE SEU NASCIMENTO

Em março de 1960, João começara a gravar as músicas para o seu segundo disco O Amor, O Sorriso e a Flor que lançara nesse mesmo ano. O disco possui doze faixas sendo três delas de autoria de Jobim em parceria com Newton (Samba de uma Nota Só, Meditação e Discussão) e outras três apenas de Tom (Só em Teus Braços, Corcovado e Outra Vez). As outras seis eram: Doralice de Dorival Caymmi e Antônio Almeida, Trevo de Quatro Folhas de H. Woods e M. Dixon, Se É Tarde Me Perdoa de Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli, Um Abraço no Bonfá do próprio João Gilberto, O Pato de Jayme Silva e Neuza Teixeira e Amor Certinho de Roberto Guimarães (CASTRO, 1990, p.249).

Dois meses depois, no começo de maio, a Gravadora Philips lança ao público Bossa Nova Carlos Lyra que contém muito do repertório conhecido dos shows de Bossa Nova como: Chora tua tristeza, Ciúme, Barquinho de papel, Gosto de você, Quando chegares e Maria Ninguém.

Nesse mesmo mês ocorreram dois grandes shows de Bossa Nova, um na mesma Faculdade de Arquitetura em que ocorreu o primeiro show, o outro na PUC e os dois ao mesmo tempo. O show na Faculdade de Arquitetura contava com Vinicius, Os Cariocas, Nara, Johnny Alf, Norma Bengell, Rosana Toledo, Elza Soares, o Trio

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Irakitam e pela primeira vez em um show de Bossa Nova João Gilberto e sua esposa Astrud. A mais esperada apresentação foi justamente a do casal, a qual se iniciou com João cantando Samba de uma nota só e O pato, depois ele passou a acompanhar Astrud no violão durante Lamento e Brigas, nunca mais. A última música foi justamente o tema do espetáculo, o amor, o sorriso e a flor de Meditação de Tom e Newton, que não foi visto ou ao menos comprovadamente convidado ao festival. O show da PUC também lotou, mas não se compara ao show da Arquitetura, tanto que segundo Ruy Castro: “os que preferiram ir a PUC, se arrependeram no dia seguinte”.

No verão desse ano e do próximo, entre as pescarias de Ronaldo para Cabo frio, Arraial do Cabo e Rio das ostras, às vezes acompanhado de Menescal, que os dois iniciaram a exploração do tema do mar na Bossa Nova que estão presentes nas mais famosas músicas do movimento como O Barquinho, composta justamente nessa época, Garota de Ipanema e Samba de verão que serão compostas em 1962 e 1964 respectivamente (CASTRO, 1990, p.269).

Em 11 de novembro morreu Newton Mendonça, um autor de grande importância na Bossa Nova ao mesmo tempo que era o mais negligenciado pelo público, os jornais e as gravadoras, um exemplo dessa negligência está no compacto Desafinado, em que seu noma saíra como Milton Mendonça.

Em 9 março de 1991, começaram as gravações do terceiro disco de João Gilberto chamado simplesmente de João Gilberto, até 11 de março gravou Bolinha de Papel de Geraldo Pereira, Saudade da Bahia e O samba da minha terra ambos de Dorival Caymmi, Trenzinho de Lauro Maia e Presente de Natal de Nelcy Noronha.

Todas com exceção de Presente de Natal podem ser consideradas antigas, o disco até esse momento não era Bossa Nova (CASTRO, 1990, pg.293). O motivo disso pode ser explicado por Ruy Castro (1990, p.293):

João Gilberto estava de mal com a Bossa Nova. Nunca gostara do rótulo, mas, agora que este servia para tudo que vinha sendo adotado por gente que ele nem conhecia, começou a dizer que não fazia Bossa Nova – fazia samba.

Além disso, suas relações com Jobim estavam péssimas. Tom “não tinha paciência” e a saída de Aloysio de Oliveira da Odeon, em setembro último, complicara tudo. João não gostava muito de Aloysio (só o chamava de

“aquele americano”), mas, quando começavam os seus atritos com Tom por questões de trabalho, Aloysio vinha socorrer. Sem este por perto, Tom não quisera participar do disco e era por isso que João estava gravando com Walter Wanderley.

Depois da gravação do dia 11, o disco foi paralisado, voltando a ser gravado cinco meses depois, agora com Tom Jobim no comando. De 2 de agosto a 28 de

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setembro, os dois gravaram o restante do disco, que agora podia ser considerado Bossa Nova. As faixas gravadas foram: O Barquinho de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, O amor em paz e Insensatez, de Tom e Vinicius, Este seu olhar apenas de Antônio, e Você e eu e Coisa mais linda de Carlinhos Lyra e Vinicius de Moraes.

(CASTRO, 1990, P.294).

Em agosto de 1962, na boate Au Bon Gourmet, ocorreu a noite de estreia do que pode ser considerado o “show de Bossa Nova para acabar com todos os shows de Bossa Nova: Tom, Vinicius e João Gilberto – juntos, pela primeira e última vez num palco” (CASTRO, 1990, p.307). A temporada era prevista para durar um mês inicialmente, mas como a casa lotava todas as noites, o show se estendeu por mais duas semanas. O show previsto para começar toda noite a meia-noite nunca começava na hora pois a minutos do início do show algum dos artistas ainda não tinha chegado. Mesmo assim, não havia quem falasse mau do show, ele foi altamente elogiado e ganhou várias capas de jornais (CASTRO, 1990, p.310). Cinco dos maiores clássicos da Bossa Nova foram lançados nesse show: Só danço samba, de Tom e Vinicius; Samba do avião, de Jobim, Samba de bênção e O astronauta, que foi composto por Baden e Vinicius durante um retiro dos dois no apartamento de Vinicius por noventa dias em que foram compostas 25 canções e segundo os cálculos do próprio Vinicius: vinte caixas de uísque (CASTRO, 1990, p.301). E o último novo clássico a ser revelado na noite: Garota de Ipanema de Tom e Vinicius, que pode ser considerado a mais famosa canção da Bossa Nova. O show com o acompanhamento de Otávio Bailly no baixo e e Milton Banana na bateria começava com Só danço samba seguido de Samba de uma nota só, Corcovado, Samba de Benção, Amor em paz, Samba do avião, O astronauta, Samba da minha terra, Insensatez, Garota de Ipanema e por fim Devagar com louça (THOMPSON, 2004).

Outro importante show ocorreu nesse ano fora do Brasil, em 21 de novembro, no Carnegie Hall em Nova York, com três mil pessoas que lotavam o lugar. O show teve diversas derrapadas e equívocos por parte dos artistas e dos técnicos, o que alguns jornais usaram de justificativa para chamar o show de fracasso (CASTRO, 1990, p.322). As principais atrações da noite eram sem dúvida Tom Jobim e João Gilberto. Tom, entre outros motivos, por conta das gravações de suas músicas nos Estados Unidos, Desafinado por exemplo, fora gravado onze vezes apenas naquele ano, sendo uma delas com Stan Getz e Charlie Byrd, que vendeu um milhão de cópias, Gilberto por ser a voz da Bossa Nova (CASTRO, 1990,p.324). Tom apresentou

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logo após Agostinho do Santos cantar A felicidade, começou com Samba de uma nota se complicando com a letra no início, mas sendo extremamente aplaudido (CASTRO, p.324). Jobim começou a segunda música, Corcovado, no tom errado, pediu um momento e recomeçou a música sem errar, nas palavras de Ruy Castro sobre a plateia diante dessa apresentação: “O Carnie Hall só faltou ajoelhar-se”. João Gilberto iniciou com Samba da minha terra acompanhado apenas de Milton Banana na bateria, seguidos de Corcovado e Desafinado, acompanhados por Tom Jobim no piano. Além de receber muitos aplausos, deixou uma forte impressão nos artistas presentes na plateia (CASTRO, p.326).

Alguns dias após o show, ocorreu um encontro entre Stan Getz, João Gilberto e Creed Taylor, dono da gravadora Verve, no Rehearsal Hall do próprio Carnegie Hall para analisarem a viabilidade de um disco entre os dois (CASTRO, 1990, p.329).

Mesmo havendo diferenças e desavenças entre si gravaram em 18 e 19 de março de 1963 todas as faixas do disco Getz/Gilberto. O disco em si foi lançado apenas em 1964, e contava com oito músicas: The Girl from Ipanema, a versão em inglês de Garota de Ipanema adaptada por Norman Gimbel cantada além de por João também por sua mulher Astrud Gilberto; Doralice; Para machucar meu coração de Ary Barroso;

uma versão de Corcovado com parte da letra em inglês cantada por Astrud e adaptada por Gene Lees; Só danço Samba; O grande amor de Tom e Vinicius; e Vivo Sonhando de Jobim. Em conjunto ao disco, foi lançado um single de The Girl from Ipanema sem a parte cantada por João Gilberto, reduzindo o tempo da faixa em 1 minuto e 20 segundo, deixando-a com 3 minutos e 55 segundos no tota, deixando-o mais propício para rádio. A participação de Astrud e o lançamento do single com sua voz tiveram um grande impacto no disco, mesmo sem ser famosa. Segundo Ruy Castro, “o disco só com Astrud puxou o LP para o sucesso e rendeu-lhe uma coleção de Grammys”

(CASTRO, 1990, p.333).

Em maio de 1963 Tom Jobim gravou o seu primeiro álbum, The Composer of Desafinado, Plays em Nova York. O álbum, lançado no mesmo ano continha as músicas mais famosas de Jobim e foi aclamado pela crítica. “O LP recebeu as cinco estrelas que a revista DownBeat conferia as obras primas e o crítico Pete Welding lamentou que não tivesse mais estrelas em catálogo para dar ao disco” (CASTRO, 1990, p.354). O álbum foi lançado no Brasil em 1964 com o nome de Antônio Carlos Jobim pela gravadora Elenco.

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No final de 1963, Nara grava o seu primeiro disco, Nara, que continha Diz que vou por aí, de Zé Kéti e Nelson Cavaquinho, O sol nascerá, de Cartola e Elton Medeiros e Luz negra, de Nelson Cavaquinho, músicas que segundo o produtor Aloysio de Oliveira dono da Elenco “nada tinham a ver com a Bossa Nova” (CASTRO, 1990, p.341). Aloysio também critica que as outras músicas do disco, mesmo que ligadas a autores da Bossa Nova, são “composições de tendencias puramente regionais”, como Maria Moita e Feio não é Bonito de Carlos Lyra, Berimbau e Consolação de Baden e Vinicius, Canção da terra e Requiem para um amor de Edu Lobo e Ruy guerra, e Nanã de Moacir Santos. O disco mostra, por meio de seus temas, o interesse de Nara por questões políticas, os quais encerram sua participação na Bossa Nova no seu próximo disco Opinião de Nara (CASTRO, 1990, p.343). Em janeiro de 1964, Nara faz vários shows no Beco das Garrafas e depois partiu para fazer shows no Japão com o trio Sergio Mendes.

Em setembro de 1964, ocorreu em São Paulo, no teatro Paramount, o show O remédio é Bossa, o qual foi o primeiro show ao vivo de Antônio Jobim na cidade em que tocou pela primeira vez em público Só tinha de ser você, que compôs juntamente a Aloysio de Oliveira (CASTRO, 1990, p.362).

No final de 1964 Stan Getz e João Gilberto se apresentam no Carnegie Hall, o show gravado vira o disco Getz/Gilberto 2 que foi lançado em 1966.

4 CONCLUSÃO

Ao longo do trabalho foi feita a revisão bibliográfica dos principais discos e shows da Bossa Nova e como resultado pode se perceber como João Gilberto, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Nara Leão, Carlinhos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e Newton Mendonça foram fundamentais para o movimento.

Pode se perceber principalmente que a importância de Newton Mendonça nos iniciais anos da Bossa Nova foi fundamental para o movimento e demorou a ser reconhecida.

Foi possível observar também a importância da presença de João Gilberto como autor, violonista e cantor do movimento durante todo o movimento. A grande importância de Vinicius e Tom no movimento como compositores e depois as apresentações de Jobim nos shows. Carlinhos Lyra, Nara Leão e Roberto Menescal foram também imprescindíveis para alavancar o movimento com seus shows e álbuns

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foram fundamentais para manter o movimento ativo no Brasil, quando a outra parte da Bossa Nova se internacionalizava.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Camila. A bossa nova, seus documentos e articulações: um movimento para além da música. São Paulo: Centro de Ciências da Comunicação – Unisinos, 2008

CASTRO, Ruy. Chega de Saudade: A História e as Histórias da Bossa Nova. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

CAYMMI, Stella. Dorival Caymmi e a Bossa Nova. Leituras sobre música popular:

reflexões sobre sonoridades e cultura. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2008.

GEROLAMO, Ismael. Nara Leão: entre a bossa nova e a canção engajada. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, [S. l.], n. 66, p. 172-198, 2017.

NAVES, Santuza Cambraia. Da bossa nova à tropicália: contenção e excesso na música popular. Revista. Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 15, n. 43, p. 35- 44, 2000.

PIRES, Carlos. Rigor e liberdade: a causa de João Gilberto. Magma, [S. l.], v. 22, n.

11, p. 82-92, 2015.

TEIXEIRA, Pedro. Do Samba à Bossa Nova: Inventando um País. São Paulo Editora Appris, 2021.

https://www.jobim.org/jobim/handle/2010/4687

https://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/ha-50-anos-era-gravado-getzgilberto-o- lp-que-colocou-o-brasil-no-mapa-azyprk2lwl6vdp6b8crf8vrym/

http://daniellathompson.com/Texts/Reviews/Bon_Gourmet.htm

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