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Secretaria de Estado da Saúde Coordenadoria de Controle de Doenças Instituto Adolfo Lutz. Luciana Nogueira Prata

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Secretaria de Estado da Saúde Coordenadoria de Controle de Doenças

Instituto Adolfo Lutz

Luciana Nogueira Prata

MICOBACTÉRIAS NÃO-TUBERCULOSAS – PRESENÇA EM FONTES DE ÁGUA E POSSÍVEIS PROCESSOS INFECCIOSOS

SANTOS 2019

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Luciana Nogueira Prata

MICOBACTÉRIAS NÃO-TUBERCULOSAS – PRESENÇA EM FONTES DE ÁGUA E POSSÍVEIS PROCESSOS INFECCIOSOS

Trabalho de conclusão de curso de especialização apresentado ao Instituto Adolfo Lutz – Unidade do Centro de Formação de Recursos Humanos para o SUS/SP – Doutor Antônio Guilherme de Souza como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Vigilância Laboratorial em Saúde Pública

Orientador: Dra. Andréa Gobetti Coelho Bombonatte

SANTOS 2019

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FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pelo Centro de Documentação – Coordenadoria de Controle de Doenças/SES-SP

©Reprodução autorizada pelo autor, desde que citada a fonte

Prata, Luciana Nogueira

Micobactérias não-tuberculosas – Presença em fontes de água e possíveis processos infecciosos/Luciana Nogueira Prata – Santos, 2019.

26 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização – Vigilância Laboratorial em Saúde Pública) – Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, CEFOR/SUS-SP, Instituto Adolfo Lutz, São Paulo, 2019.

Área de concentração: Diagnóstico Laboratorial da Tuberculose e outras Micobacterioses de Interesse em Saúde Pública

Orientação: Profa. Dra. Andréa Bombonatte

1- Tuberculose; 2- Micobactérias; 3- Água tratada; 4- Meio ambiente; 5- Controle de qualidade

SES/CEFOR/IAL-5/2019

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RESUMO

A tuberculose, apesar de antiga e possuir tratamento, é uma doença com alta incidência e prevalência na população brasileira, especialmente na região da Baixada Santista. Não há falta de incentivo e acesso ao diagnóstico e tratamento da tuberculose; o sistema público de saúde desenvolve campanhas anuais abrangentes e acessíveis para que a população possa procurar ajuda. Porém, mesmo assim, é uma doença negligenciada por muitos indivíduos que não seguem o tratamento até o fim, contribuindo, assim, ao aumento dos casos de resistência das micobactérias aos medicamentos. Há algum tempo, levantou-se a hipótese de que haveria uma possível infestação de bactérias relacionadas à tuberculose na água de alguns presídios do estado de São Paulo. Pesquisadores de uma universidade dessa região chegaram a essa ideia após alguns indivíduos residentes desses presídios terem constando nos resultados dos seus exames a presença de bactérias não-tuberculosas. Além disso, há diversos estudos que comprovam a disseminação das micobactérias não-tuberculosas em diversas fontes de água tratada e não tratada. Por conta disso, mostra-se importante o estudo acerca dessa espécie de bactéria, sua ação e efeitos em fontes de água, consequências no organismo humano, tratativas diante de uma infecção e planos e ações de controle de qualidade das instituições de tratamento e distribuição das águas tratadas. Esse estudo trata-se de uma revisão bibliográfica conduzida através de consultas e artigos científicos selecionados por meio de bancos de dados da SciELO, Bireme, MEDLINE e LILACS. A partir da análise de diversos estudos pesquisados, pôde-se observar que a presença das micobactérias no meio ambiente é bastante comum e disseminada; tais microrganismos são encontrados tanto na água bruta quanto na água tratada, havendo relatos de infecção a partir da água contaminada utilizada em tratamentos renais, água de distribuição em alguns municípios, água de piscina pública, entre outros locais.

Palavras-chave: tuberculose, micobactérias, água tratada, meio ambiente, controle de qualidade.

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ABSTRACT

Tuberculosis, although old and with treatment, is a disease with high incidence and prevalence in the Brazilian population, especially in the region of Baixada Santista. There is no lack of incentive and access to the diagnosis and treatment of tuberculosis; the public health system develops comprehensive and accessible annual campaigns so that the population can seek for help. However, it’s a disease neglected by many individuals who do not follow the treatment until the end, contributing to the increase of cases of mycobacterial resistance to drugs.

Some time ago, the hypothesis was raised that there would be a possible infestation of bacteria related to tuberculosis in the water of some prisons in the state of São Paulo. Researchers from a university in the region came up with this idea after some residents of these prisons had included in their results of their examinations the presence of non-tuberculous bacteria. In addition, there are several studies that demonstrate the spread of non-tuberculous mycobacteria in several sources of treated and untreated water. Because of this, the study about this species of bacteria, its action and effects on water sources, consequences in the human organism, the treatment of an infection and the plans and actions of quality control of the institutions of treatment and distribution are important. This study is a bibliographical review through consults and scientific articles selected through the databases of SciELO, Bireme, MEDLINE and LILACS. From the analysis of several studies, it was observed that the presence of mycobacterias in the environment is quite commom and widespread; such microorganisms are found in both raw and treated water, with reports of infection from contaminated water used in renal treatments, distribution water in some cities, public swimming pool water etc.

Keywords: Tuberculosis, mycobacterias, treated water, environmental, quality control.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 8

2 OBJETIVOS... 10

2.1 Objetivo geral ... 10

2.2 Objetivo específico ... 10

3 METODOLOGIA ... 11

4 TUBERCULOSE ... 12

4.1 Epidemiologia da tuberculose no Brasil ... 12

4.2 Micobactérias não-tuberculosas ... 16

4.3 Ocorrências das micobactérias não-tuberculosas na água... 20

4.4 Propostas para a redução das micobactérias não-tuberculosas na água ... 21

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 22

6 CONCLUSÃO ... 24

REFERÊNCIAS ... 25

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1 INTRODUÇÃO

Sabe-se que a tuberculose, apesar de antiga e possuir tratamento, é uma doença com alta incidência e prevalência na população brasileira, especialmente na região da Baixada Santista. Não há falta de incentivo e acesso ao diagnóstico e tratamento da tuberculose; pelo contrário, pois o sistema público de saúde desenvolve campanhas anuais abrangentes e acessíveis para que a população possa procurar ajuda (NUNES, 2014;

ROSSETTO et al, 2017).

Por conta disso, tende-se a entender que se trata de uma doença negligenciada pelo próprio público infectado, que não faz ou não segue o tratamento até o fim. Este, por sua vez, ajuda a dificultar a erradicação da doença por conta da resistência que a bactéria pode adquirir contra os antibióticos administrados no primeiro tratamento, tornando o mesmo mais longo, com medicamentos mais fortes e, consequentemente, com mais efeitos adversos para quem lhe faz uso (GOMES, 2013; SOARES et al, 2017).

Há algum tempo, levantou-se a hipótese de que haveria uma possível contaminação por bactérias relacionadas à tuberculose na água de alguns presídios do estado de São Paulo. Pesquisadores de uma universidade dessa região chegaram a essa ideia após alguns indivíduos residentes desses presídios terem constando nos resultados dos seus exames a presença de bactérias não-tuberculosas. Somado a isto está o fato que esses mesmos indivíduos também apresentavam sintomas respiratórios característicos da doença (GASPAR, 2010; SOARES et al, 2017).

A grande problemática acerca disso é que mesmo se tratando de bactérias não-tuberculosas, as quais, a princípio, não causam sintomas respiratórios e nenhum dos desenvolvimentos perigosos da tuberculose, elas estão gerando sintomatologia similar à doença em questão. Segundo conhecimentos científicos sobre essas bactérias descobertas, elas precisam estar em altíssimas concentrações para gerarem tais sintomas, ou seja, há uma grande probabilidade de a água desses locais estarem bastante contaminadas. Além disso, não se tem certeza se a água que lá abastece, pode, também, estar sendo direcionada a outros locais de uma maneira ampla (GASPAR, 2010; SOARES et al, 2017).

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Com base nisso, mostra-se de grande importância o estudo acerca dessa espécie de bactéria, sua ação e efeitos em fontes de água, consequências no organismo humano e tratativas diante de uma infecção (GOMES, 2013; ROSSETTO et al, 2017).

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Descrever sobre as micobactérias não-tuberculosas e suas ações em fontes de água e no organismo humano frente a uma infecção.

2.2 Objetivo específico

Caracterizar o gênero Mycobacterium, descrever as micobactérias não- tuberculosas e apresentá-las como agente de infecções diversas após a exposição a fontes de água contaminadas.

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3 METODOLOGIA

Este trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica conduzida através de consultas a artigos científicos selecionados por meio dos bancos de dados da SciELO, Bireme, MEDLINE e LILACS.

O levantamento bibliográfico para embasar esse estudo ocorreu entre o período de Agosto de 2018 a Janeiro de 2019, utilizando-se, principalmente, dos seguintes descritores: tuberculose, micobactérias, água tratada, meio ambiente e controle de qualidade. Os trabalhos utilizados como referência datam desde 1989 a 2017.

Os critérios de inclusão para o presente estudo limitaram-se à busca de trabalhos científicos que possuíssem, pelo menos, três dos descritores citados anteriormente, em especial os que contivessem os termos tuberculose, micobactérias e água. Quanto aos critérios de exclusão, não foram usados como referência os que não apresentassem tais termos e seus contextos.

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4 TUBERCULOSE

A tuberculose é uma doença causada pela bactéria do gênero Mycobacterium, o qual compreende diversas espécies do patógeno. A espécie M. tuberculosis é a mais conhecida e a mais disseminada, porém há outras que causam a doença não só em humanos, mas, também, em animais. No geral, esse gênero engloba as espécies do complexo Mycobacterium tuberculosis (CMTB) e as que não causam a sintomatologia da doença em si, ou seja, as micobactérias não-tuberculosas (MNT) (GOMES, 2013; NUNES, 2014).

O estudo acerca dessa doença acontece há centenas de anos, tendo especial importância as descobertas realizadas pelo bacteriologista Robert Koch, quem descreveu a M. tuberculosis. Não somente a partir disso, mas, também, concomitantemente à época dos estudos desse pesquisador, diversas outras espécies desse gênero foram sendo descobertas, levando à grande quantidade de micobactérias que hoje temos conhecimento (GOMES, 2013;

NUNES, 2014).

4.1 Epidemiologia da tuberculose no Brasil

De caráter infectocontagioso, a tuberculose é, mundialmente, uma das doenças que mais geram morbidade e mortalidade, chegando em 2015, segundo Rossetto et al (2017), há 9,6 milhões de indivíduos doentes e 1,5 milhões de mortes.

Dados epidemiológicos indicam que, em 2015, o Brasil ocupava o 18º lugar entre os 22 países com as maiores cargas da doença (incidência, prevalência e mortalidade). Seu caráter social é destacado em documentos de organismos governamentais, dada a maior exposição de indivíduos e comunidades em situação de vulnerabilidade. (ROSSETTO et al, 2017, p. 19).

As figuras 1 e 2 a seguir explicitam, em forma de gráfico, os coeficientes de incidência e mortalidade da população por conta da tuberculose entre os anos de 2004 a 2015. Observa-se que houve a diminuição de ambos os indicadores ao longo dos anos, o que pode estar relacionado às medidas de controle e prevenção prestadas, principalmente, pelos serviços do Sistema Público de Saúde, o qual possui programas abrangentes e consistente de combate à doença.

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Figura 1 – Coeficiente de incidência de tuberculose no Brasil nos anos de 2006 a 2015.

Fonte: BRASIL (2016).

Figura 2 – Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil nos anos de 2004 a 2014.

Fonte: BRASIL (2016).

Tal como citado acima, há, de fato, a relação entre a incidência e prevalência da tuberculose em indivíduos imunocomprometidos, especialmente os portadores do HIV, os quais costumam ter uma maior resistência ao início e continuidade do tratamento devido aos efeitos indesejáveis dos medicamentos utilizados, o que acaba levando aos quadros de resistência das bactérias a essas drogas. Como consequência disso, o tratamento acaba, diante de um

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novo início, durando mais de seis meses e fazendo uso de medicamentos mais fortes (Ministério da Saúde, 2016; ROSSETTO et al, 2017).

A figura 3 a seguir apresenta os dados pertinentes aos indicadores operacionais e epidemiológicos dos casos de retratamento da doença no país referente ao período de 2014. Observa-se que a região sul, seguida da região sudeste, destacam-se na maioria das categorias apresentadas na figura, desde as de contexto positivo quanto as de contexto negativo. Por exemplo, de forma negativa, a região sul tem o maior índice de retratamento da doença, abandono e co-infecção de tuberculose com HIV; porém, de forma positiva, é a segunda região que mais realiza o exame de cultura (considerado o padrão-ouro na detecção das micobactérias) e, também, o teste para a detecção do HIV naqueles pacientes com tuberculose. Quanto à eficiência dos processos tratativos da doença, a região centro-oeste destaca-se como sendo a com maior índice de cura com confirmação laboratorial.

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Figura 3 – Indicadores operacionais e epidemiológicos dos casos de retratamento da tuberculose por estado brasileiro referente a 2014.

Fonte: BRASIL (2016).

Diante do atual quadro de incidência e prevalência da tuberculose no país, o governo brasileiro tem buscado aumentar as ações de controle da doença, através da investigação dos casos já existentes, do tratamento destes e da profilaxia dentro dos ambientes de risco. Além disso, o foco não está, somente, na intervenção direta do indivíduo doente, mas, também, na comunicação com a população, ou seja, distribuindo informações acerca da doença, de forma a envolver os indivíduos em ações de identificação, tratamento e prevenção. Vale lembrar que a atenção primária à saúde promovida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tem grande importância no cenário de redução dos casos de tuberculose a nível nacional devido o

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acompanhamento dos indivíduos que frequentam as unidades básicas para o diagnóstico e mapeamento da tuberculose, proporcionado pela Estratégia de Saúde da Família (ESF), e supervisão dos indivíduos infectados através do tratamento diretamente observado (TDO) (BRASIL, 2016).

4.2 Micobactérias não-tuberculosas

As MNT, embora do mesmo gênero, possuem diversas características que as diferenciam das MTB. Não somente no que diz respeito à sua morfologia, mas, principalmente, à forma como são transmitidas (PEDRO et al, 2008).

Ao contrário do CMTB, as MNT estão amplamente distribuídas na natureza, sendo encontradas em água (encanada e de reservatórios naturais), solo, pedras, aerossóis, protozoários e em muitas espécies animais. Também podem ser isoladas de diversos sítios do corpo humano, como saprófitas ou causando infecções oportunistas (WILDNER, 2012, p. 37).

Esses microrganismos são encontrados em diversos ambientes e seres vivos, inclusive na água natural e potável e, diferentemente das MTB, têm patogenicidade variável. A documentação da ocorrência das MNT tem aumentado não apenas por conta de o ser humano estar compartilhando seus habitats, mas, também, devido ao desenvolvimento das técnicas de identificação e diagnóstico dessas espécies (PEDRO et al, 2008; BOMBARDA et al, 2011).

A figura 4 a seguir mostra a quantidade de novos casos confirmados de infecção por micobactérias de crescimento rápido nos estados brasileiros no período de 2001 a 2008. Observa-se que, na maioria dos casos, houve o crescimento dos números referentes à infecção ao longo dos anos. Isso não significa, apenas, que a contaminação dos indivíduos aumentou e/ou que os mesmos apresentaram queda da imunidade, por exemplo. Na verdade, muito provavelmente, tal crescimento é decorrente do avanço das técnicas de diagnóstico, as quais, com o passar dos anos, foram se aprimorando para detectar cada vez mais microrganismos e de maneira mais rápida. Ou seja, anteriormente a esse avanço muitas infecções não eram detectadas e/ou associadas a tais bactérias, por isso da menor quantidade de casos explicitada.

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Figura 4 – Distribuição dos casos, por estado, de surtos de infecção por micobactérias de crescimento rápido segundo dados da Rede Nacional de Investigação de Surtos e Eventos adversos em Serviços de Saúde (RENISS) de 2001 a 2008.

Fonte: GASPAR (2010).

Há alguns anos, as infecções causadas por MNT têm despertado o interesse dos pesquisadores em todo o mundo devido, principalmente, ao seu crescente isolamento e reconhecimento clínico. Esses microrganismos têm sido associados a infecções respiratórias e a diversas doenças oportunistas, especialmente em pacientes imunocomprometidos (BOMBARDA et al, 2011;

COUTO & LIMA, 2016).

Apesar do seu isolamento frequente, [...] as MNT não foram amplamente reconhecidas como doença humana até o [...]

isolamento e a descrição de M. fortuitum por Costa e Cruz em 1938, fato este que representou um marco nos estudos das micobactérias no Brasil sendo possível ampliar o conhecimento do gênero e reconhecendo sua patogenicidade e importância médica (COUTO &

LIMA, 2016, p. 4).

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Já foram descritas cerca de 175 espécies e 13 subespécies das MNT, cuja maioria delas está associada a doenças que acometem tanto os humanos quanto os animais (EUZÉBY, 2016). Essas espécies são identificadas a partir de testes fenotípicos (tempo de crescimento, presença ou ausência de pigmentos, provas bioquímicas, presença ou ausência de crescimento frente a inibidores químicos, morfologia dos bacilos, formação de corda, entre outros) e moleculares (PCR, sonda genética, entre outros) (GASPAR, 2010;

BOMBARDA et al, 2011).

A figura 5 a seguir apresenta as principais micobactérias não- tuberculosas divididas em grupos referentes ao grande potencial patogênico e ao baixo potencial patogênico. Segundo Bombarda et al (2011), a identificação correta dessas espécies é de extrema importância porque a relevância clínica e o tratamento são diferentes para cada tipo.

Figura 5– Classificação quanto à patogenicidade das espécies de MNT.

Fonte: BOMBARDA et al (2011).

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As MNT são capazes de gerar diversos problemas aos organismos vivos, sejam humanos e animais, sendo responsáveis por uma grande quantidade de manifestações, tais como infecções de pele, tecidos moles, pulmonares, gastrointestinais, linfadenites e disseminadas, especialmente em pacientes imunocomprometidos (GOMES, 2013; WILDNER, 2012). A figura 6 a seguir aponta o local que algumas micobactérias não-tuberculosas se alojam e causam infecção no indivíduo contaminado. No entanto, a manifestação clínica mais comumente encontrada naqueles infectados por MNT é a doença pulmonar crônica, com características semelhantes às da tuberculose causada por MTB. Os patógenos mais frequentes responsáveis por esse quadro são os do complexo M. avium (MAC), seguido pela espécie M. kansasii. As espécies responsáveis por causar outras sintomatologias são, principalmente, a M.

fortuitum, M. chelonae e M. abscessus, a partir de infecções por procedimentos médicos invasivos e estéticos (PEDRO et al, 2008; GOMES, 2013).

Figura 6 – Principais espécies de MNT e os locais que se instalam.

Fonte: WILDNER (2012).

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4.3 Ocorrências das micobactérias não-tuberculosas na água

Tal como dito anteriormente, as MNT não se restringem a existir apenas no corpo humano ou animal, podendo habitar de forma satisfatória o meio ambiente. Prova disso é o fato de que alguns estudos descobriram a presença de diversas espécies de micobactérias na água potável de consumo. Isso se dá pelo fato dessas bactérias serem bastante resistentes ao processo de limpeza da água, tal como a desinfetantes. Segundo os dados disponibilizados por esses estudos, as espécies mais encontradas nesse material foram M.

mucogenicum, M. kansasii, M. gordonaee M. flavescens (NUNES, 2014;

GASPAR, 2010).

A maioria das MNT é capaz de multiplicar-se mesmo em condições de escassez nutricional, altas temperaturas e extremos de pH. Além disso, devido à hidrofobicidade de sua parede celular, são resistentes ao glutaraldeído e aos processos de cloração utilizados para o tratamento de água e, ainda, possuem a capacidade de formar biofilme como um mecanismo de sobrevivência. (WILDNER, 2012, p.

37).

Segundo Gaspar (2010), foi descoberta a contaminação pelas MNT em águas de clínicas e, também, em um hospital onde se realiza tratamentos renais. Já Nunes (2014) aponta que já foram descritas infecções hospitalares e surtos das MNT provenientes de desinfecção e esterilização de equipamentos médicos de forma inadequada; as infecções acontecem, principalmente, em locais onde há pacientes com a imunidade comprometida e, portanto, estes estão mais expostos à ação dessas bactérias.

Um outro indício da contaminação pelas MNT em fontes de água está descrito no estudo de Stamm & Brown (2004) onde pessoas que têm uma longa exposição a ambientes aquáticos contaminados por essas bactérias desenvolvem ferimentos de diferentes proporções na pele. Segundo eles, granulomas na pele foram observados em pacientes infectados por M. marinum devido o manuseio de peixes presentes em águas contaminadas.

Mais um exemplo da infecção por micobactérias através da água está citado no estudo de Dytoc et al (2005), em que, no Canadá, houve 85 casos de crianças com lesões de pele e, dentre esses, a M. abscessus estava presente em 16 pacientes e, também, na água da piscina pública da qual as crianças faziam uso.

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4.4 Propostas para a redução das micobactérias não-tuberculosas na água

Visto que o processo de limpeza da água com o uso de diversas substâncias químicas conhecidas não se mostra totalmente eficiente para eliminar essas bactérias, uma solução encontrada por pesquisadores trata-se do uso de substâncias que não se misturam na água para reter essas bactérias devido à característica hidrofóbica das MNT. Por outro lado, precisaria haver uma outra substância envolvida nesse procedimento, a qual se ligasse à essa rede onde estariam capturadas as MNT e que fosse facilmente removida da água, tal como solventes orgânicos e/ou filtros de parafina. (FALKINHAM, 2015). Segundo esse mesmo autor, o uso da radiação UV também poderia estar presente na proposta de redução das MNT das fontes de água, porém, essa alternativa tem o ponto negativo de propiciar a mutagenicidade das bactérias, tornando-as mais resistentes ao processo.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estudo de Gaspar (2010) explicita bem a presença de micobactérias de espécies diversas em fontes de água, tratadas e não-tratadas. Nele, há o relato da coleta de amostras de água bruta, saída do filtro, do reservatório e da rede de distribuição, todas provenientes do munícipio de Araraquara, SP.

Houve o isolamento de micobactérias em, aproximadamente, 30% das amostras de água tratada (reservatório e distribuição) e em 70% das amostras de água não-tratada (bruta e filtro). As principais espécies de micobactérias encontradas foram: M. lentiflavum, M. genavense, M. gordonae, M. fortuitum, M. aviumsubsp. paratuberculosise M. szulgai. (GASPAR, 2010).

A M. lentiflavum possui baixa virulência, mas já foi encontrada em infecções tais como pneumonia, linfadenite cervical e bacteremia. (LEÃO et al, 2004). A M. genavense ganhou maior destaque após o advento da AIDS; esta micobactéria desenvolve sintomatologia parecida com a MAC (complexo M.

avium), ou seja, o indivíduo apresenta febre, anorexia, dor abdominal e hepatoesplenomegalia. (LORENZEN et al, 2009).A M. gordonae não costuma ser patogênica, exceto indivíduos cuja imunidade esteja comprometida.

(LALANDE et al, 2001).A M. fortuitumé responsável por cerca de 60% das infecções de pele observadas em imunocomprometidos e, raramente, gera doença pulmonar. (SHARBATI et al, 2009).A M. aviumsubsp. paratuberculosis já teve relatada sua ligação com a doença de Crohn em humanos e, também, infecções gastrintestinais em animais. (CHAMBERLIN et al, 2001).Por fim,a M.

szulgai foi isolada, pela primeira vez, da década de 70 na Inglaterra, no relato de um caso com 53 infecções pulmonares humanas.

A pesquisa de Gaspar (2010), embora não trate diretamente de casos de infecções de humanos via contato com água contaminada, mostra, ao menos, o risco que esse tipo de material pode trazer a eles. Tal como descrito anteriormente, a diversidade de microrganismos presentes nas águas dessa pesquisa foi grande e cada um deles tem seu potencial para causar algo, especialmente aos humanos. Portanto, é de grande relevância tais dados para mostrar o quão preocupante é a situação da infestação desses microrganismos, as MNT, nas fontes de água.

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Não só Gaspar (2010), mas, também, diversos outros autores descreveram a ocorrência nas MNT em água, não necessariamente casos das patologias estabelecidas, mas, principalmente, da contaminação de fontes de água. Nos estudos de Leite (1989), Santos et al (2005) e Kanai (2006) foi descrita a existência desses microrganismos tanto em águas não tratadas (rios e lagos) e tratadas de distribuição; Santos et al (2005), em sua pesquisa, encontrou cerca de 90% de micobactérias saprófitas nas águas encanadas de Lisboa, Portugal; Kanai (2006), por sua vez, encontrou, principalmente, a M.

gordonae no mesmo tipo de material.

Um outro tipo de contaminação além da água tratada contaminada, seria a contaminação de produtos de consumo humano por meio dessas águas, como é o caso do estudo de Jordão (2008). Nele, é descrito que, mesmo após o processo de cloração da água, o qual já foi descrito nessa pesquisa que é bastante falho no sentido de eliminar tais bactérias, foram isoladas diversas micobactérias em pontos diferentes de uma fazenda produtora de leite de búfala no interior de São Paulo.

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6 CONCLUSÃO

É de conhecimento geral que microrganismos existem em qualquer lugar e em qualquer ser. Diversos fazem parte de nós e trazem benefícios. Porém, há os que comprometem não só os indivíduos, mas, também, o ambiente no qual estão inseridos.

Os microrganismos alvo desse trabalho, as MNT, são parte de um gênero vasto, onde cada espécie tem sua peculiaridade. O fato de estarem mais disseminadas no ambiente do que nos animais, inclusive os seres humanos, não as tornam menos importantes e passíveis de atenção; pelo contrário, o ideal seria tratar o ambiente, o qual costuma ser o maior reservatório delas, para, então, se evitar o desenvolvimento das patologias em seres vivos.

Além disso, por conta dos muitos relatos da existência das MNT no meio ambiente é importante que se busque alternativas de eliminá-las por conta da alta taxa de sobrevivência que as mesmas possuem. O desenvolvimento de formas efetivas de limpeza da água para distribuição é imprescindível para diminuir a ocorrência delas no ambiente e, consequentemente, nos indivíduos.

Mesmo que a literatura aponte que a maioria dos casos ocorre naqueles indivíduos imunologicamente debilitados, não se deve deixar de dar a devida atenção a tais contaminações, buscando mapeá-las, controlá-las e tratar os que estejam infectados, evitando, assim, a disseminação do problema.

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REFERÊNCIAS

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Referências

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