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ACORDAM OS JUÍZES DA SECÇÃO CÍVEL DO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE ÉVORA

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Tribunal da Relação de Évora

Processo nº 140/15.1T8MMN-C.E1 Relator: CONCEIÇÃO FERREIRA Sessão: 07 Dezembro 2017

Votação: UNANIMIDADE

DIREITO AO ARRENDAMENTO PENHORA

Sumário

A posição de locatário num arrendamento de um imóvel para habitação é intransmissível por ato entre vivos, sendo tal posição inalienável e,

absolutamente impenhorável.

Texto Integral

Apelação n.º 140/15.1T8MMN-C.E1 (2ª Secção Cível)

ACORDAM OS JUÍZES DA SECÇÃO CÍVEL DO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE ÉVORA

Por apenso aos autos de execução que é movida por (…), a (…), que corre termos no Tribunal Judicial da Comarca de Évora (Juízo de Execução de Montemor-o-Novo) veio esta deduzir Oposição à Penhora, invocando, como fundamento, a inadmissibilidade da penhora sobre o seu direito ao

arrendamento, dada a impenhorabilidade da sua posição de arrendatária habitacional.

Liminarmente admitida a Oposição à Penhora foi o Exequente notificado para deduzir contestação, o que fez, pugnando pela improcedência dos

fundamentos invocados.

Tramitado o processo veio a ser proferida sentença pela qual se julgou procedente a oposição e se ordenou o levantamento da penhora.

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Inconformada com esta decisão, interpôs o exequente, o presente recurso de apelação, terminando nas respectivas alegações, por formular as seguintes conclusões que se transcrevem:

“1 – O presente recurso versa unicamente sobre a questão jurídica de saber se o direito ao arrendamento para fins habitacionais da executada é ou não

possível de ser penhorado.

2 - No fundo, trata-se de saber se bem andou a sentença apelada ao sufragar a tese de que o direito ao arrendamento se insere na categoria de direito

inalienáveis, conforme preceitua o art. 736.º, alínea a) do C.P. Civil ou, em alternativa, se é susceptível de penhora como qualquer outro direito, nos termos do art. 783.º da lei adjectiva civil.

3 - No âmbito dos autos principais de execução, o recorrente logrou penhorar o direito ao arrendamento para fins habitacionais da executada, conforme melhor resulta de fls. e foi dado como provado na decisão posta em crise.

4 - A sentença recorrida considerou que o direito ao arrendamento para fins habitacionais da executada, ora recorrida, se situa na categoria dos bens absolutamente impenhoráveis por se tratar de um direito inalienável, no dizer do supra aludido art. 736.º, alínea a), do C.P.Civil.

5 – Fundamenta tal entendimento através do raciocínio que se transcreverá para melhor explanação da peça recursória:

“Entre os bens inalienáveis contam-se direitos relativamente disponíveis mas intransmissíveis em razão do seu objeto.

É este o caso da posição do locatário num arrendamento de um imóvel para habitação, isto é, das faculdades de gozo que tal contrato confere ao locatário e cujo respeito este pode exigir do locador e de terceiros.

Com efeito, como se extrai do disposto os artigos 1038.º, alínea f) e 1059.º, ambos do CC, a posição de locatário é intransmissível por ato entre vivos.

Logo (…) tal posição é inalienável e, logo, absolutamente impenhorável.

O que bem se compreende, à luz da natureza e das características de tal

relação jurídica, não para a tutela do locatário, antes e apenas locador, a quem não pode ser imposta a transmissão das faculdades de gozo do imóvel.

Termos em que é inadmissível a penhora da posição de locatário de imóvel para habitação de que é titular a oponente / executada, sendo portanto meritória a oposição deduzida.”

6 - Ora, salvo o devido respeito – e é muito – o direito ao arrendamento

habitacional não tem a natureza de direito inalienável intimamente ligado aos direitos fundamentais e à dignidade da pessoa humana.

7 - No fundo, a lei quis proteger o patamar mínimo da dignidade humana que não pode responder por dívidas e daí que estabeleça bens que são

absolutamente impenhoráveis e relativamente impenhoráveis.

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8 - É assegurado que o executado não ficará privado de rendimentos ou de bens que lhe garantam um mínimo de subsistência digna. Tal não importa, porém, que não possam ser sacrificados interesses pessoais e patrimoniais do executado para que a realização coativa da prestação seja assegurada.

9 - Com efeito, o património do executado, maxime, a casa de morada de família pode ser penhorada e responder por dívidas. O mesmo se diga do direito ao trespasse ou ao arrendamento comercial do estabelecimento comercial que se pode ser o local de trabalho e fonte de rendimentos do executado.

10 - Dentro do ideário em que nos movemos, é mister concluir que o direito ao arrendamento para habitação é, antes de mais, um direito pessoal de gozo, conforme se tem por jurisprudencialmente pacífico.

11 - O direito ao arrendamento pode ser transmitido (ex: cessão de posição contratual) e a lei não faz qualquer distinção na disciplina da penhora do direito ao arrendamento que se inclui no tratamento comum da penhora dos demais direitos, na economia e remissão legal do art. 783.º do C.P. Civil.

12 - Se assim não fosse, e não podendo ao locador ser imposta a transmissão das faculdades de gozo do imóvel, qualquer direito ao arrendamento era insuscetível de penhora, fosse para fins habitacionais ou não…

13 - Nestes termos, é mister concluir pela possibilidade de penhora do direito ao arrendamento para fins habitacionais, razão pela qual deve a decisão

recorrida ser substituída por uma outra que autorize a penhora do direito ao arrendamento para fins habitacionais, seguindo a execução os seus ulteriores termos até final.”

Cumpre apreciar e decidir

O objeto do recurso é delimitado pelas suas conclusões, não podendo o tribunal superior conhecer de questões que aí não constem, sem prejuízo daquelas cujo conhecimento é oficioso.

Tendo por alicerce as conclusões, a única questão que importa apreciar consiste em saber se o direito ao arrendamento para fins habitacionais é ou não suscetível de penhora.

Na 1ª instância foram considerados provados os seguintes factos:

1 - O agente de execução nos autos de execução de que estes são incidentais remeteu a (…) uma comunicação datada de 1 de Junho de 2015 com o

seguinte teor:

"Exequente : (…)

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Executada: (…) Valor: 9.627,01€

Fica V.ª Exa. por este meio notificado de que, pela presente, fica penhorado o direito ao arrendamento da executada supra identificada sito na Rua (…), 31 – 5º-A - 2650-129 Amadora, e do qual é senhorio, ficando o mesmo penhorado à ordem deste Tribunal e processo.

Mais fica notificado que, nos termos do n° 2 e 3 do artº 7730 do CPC, no prazo de 10 dias, poderá fazer as declarações que entender quanto ao referido

direito – se existe ou não – e quanto ao modo de o tornar efetivo, quais as garantias que o acompanham e outras circunstâncias que possam interessar à causa.

Na falta de qualquer declaração entender-se-á que reconhece a existência da obrigação, conforme preceitua o n° 4 do artº 773º do CPC."

2 - E em 4 de Setembro de 2015 juntou aos autos um documento intitulado

"Auto de Penhora", emitido com idêntica data, e com o teor que consta do documento que integra o histórico processual com a referência Citius 877457, no qual, em síntese, declara ter procedido à "Penhora do Direito ao

arrendamento correspondente à fração autónoma AL do prédio sito na Rua (…

), 31 - 5.0, Alfornelos."

3 - A oponente/executada come, dorme, recebe os amigos e a correspondência na fração autónoma "AL" do prédio sito na Rua (…), 31 - 5.0, Alfornelos.

Conhecendo da questão

No caso em apreciação é nossa convicção que não assiste razão ao recorrente.

“O principio geral de que todos os bens do executado são garantia da divida exequenda sofre limitações de ordem substantiva e adjetiva, projetando-se na impenhorabilidade, que pode decorrer da inalienabilidade” (Ac. STJ

14/01/1982, proc. 068981).

O procedimento que o recorrente pretende, encontra-se limitado pela lei, nomeadamente no seu artº 736º do CPC, epigrafado de “Bens absoluta ou totalmente impenhoráveis” quando aí enuncia que: “São absolutamente impenhoráveis, além dos bens isentos de penhora por disposição especial:a) As coisas ou direitos inalienáveis; (…)”.

Entre os bens inalienáveis, ou impenhoráveis encontra-se o direito de uso e habitação, até porque é constituído intuitu personnae (art.º 1488º, do C. Civil), bem como o direito ao arrendamento para fins habitacionais, atendendo a que conforme decorre do disposto nos artºs 1038º, al. f) e 1059º do C. Civil, a posição de locatário é intransmissível por ato entre vivos, pois este está obrigado a não proporcionar a outrem o gozo total ou parcial da coisa por meio de cessão onerosa ou gratuita da sua posição jurídica, sublocação ou

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comodato.

Tal situação não é nova, pois a mesma corresponde à que vigorava já no anterior CPC, nomeadamente no seu artº 822º-a).

Como defendem José Lebre de Freitas, in A Ação Executiva à Luz do Código de Processo Civil de 2013, 6ª ed. 236, Virgínio da Costa Ribeiro/Sérgio Rebelo in A Ação Executiva Anotada e Comentada, 2015, 279/280 e Rui Pinto in Manual da Execução e Despejo 497/498, a posição de locatário num arrendamento de um imóvel para habitação é intransmissível por ato entre vivos, sendo tal posição inalienável e, absolutamente impenhorável.

Neste sentido, também o decidido nos Acs. do TRL, de 22/06/1989, in CJ, tomo 3, 150/151, em cujo sumário conta que “O direito de habitação é um direito inalienável e, como consequência, é também um direito impenhorável”.; e de 2/11/1989 in BMJ, 391º, 681, no qual se refere que “o direito de habitação é impenhorável”.

Assim, no caso dos presentes autos a penhora do direito ao arrendamento da fração autónoma, que constitui a casa de morada de família da executada, é um direito inalienável e como consequência um direito impenhorável.

Nestes termos, a decisão recorrida é de manter, improcedendo, assim, as conclusões formuladas pelo apelante.

DECISÃO

Pelo exposto, decide-se julgar improcedente a apelação e, em consequência, confirmar a sentença recorrida.

Custas pelo Apelante.

Évora, 07 de Dezembro de 2017 Maria da Conceição Ferreira

Rui Manuel Duarte Amorim Machado e Moura Maria Eduarda de Mira Branquinho Canas Mendes

Referências

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