Cereais não maltados na produção de cerveja
Raul Santiago Rosa Farmacêutico-Bioquímico
Responsável de Produção de Cerveja Avós Cervejeiro, hidromeleiro e vinicultor caseiro
email: raul@cervejaavos.com
2011: Cerveja caseira
2012 hidromel caseiro
Prazeres da Casa Brew Shop
Cerveja Avós 2015-2017
2016: Medalha de ouro no Nacional de Acervas:
Categoria Gose
2018: Medalha de Ouro: Alternative Grain Beer e bronze com RyeRIS (coautor)
2017: Vinho Caseiro
2019 - Avós Prata em Blumenau:
Leichtbier
2020 Avós dois Ouros em Blumenau: Baltic Porter e
Experimental Beer
2018 - atual
Tópicos:
● História
● Aspectos Gerais
● Reologia do mosto
● Estrutura dos grãos
● Dicas práticas
Histórico
● Sedentarismo e cultura agrícola
● Bebidas fermentadas a base de grãos precedem malte
● Adjuntos estão estritamente ligados à história da cerveja
○ No 2° Império da Babilônia (sec.V A.C.) mais de 70 tipos de cerveja eram produzidos com cevada e farro (um tipo de trigo) e outros grãos e adjuntos.
● Zósimo de Panópolis (final do século III e início do IV)
○ Zythos também descrita por Plínio, o Velho.
● Povos celtas e germânicos produziam diversos híbridos de cerveja e
hidromel.
Histórico
● Idade Média (sec. V ao XV)
○ Deterioração econômica e cultural
● Carlos Magno em 811 promulga Lei restringindo atividade cervejeira à realeza.
● Peste Negra mata cerca de 200 milhões em meados de 1350
○ Miséria. Grãos de melhor qualidade usados para alimento.
● Reinheitsgebot
○ Trouxe aspecto menos obscurantista à produção cervejeira.
...Algum tempo depois…..
● Em 2010 cerca de 85-90% da cerveja no mundo é produzida com
adjuntos, principalmente por motivos econômicos e logísticos
Aspectos Gerais
● Tipos de adjuntos
○ Açúcares
○ Amiláceos (Grãos, flocos, farinha, tubérculos e fécula)
● Grãos necessitam gelatinização
● Açúcares podem diminuir fermentabilidade do mosto
○ Maltotriose/maltose transferase (sacarose, glicose, frutose, maltose e maltotriose)
Razões para o uso
● Econômica/Logística
○ Substituição de 30% de malte por milho confere economia de 8%
○ Utilizaçao de insumos regionais
● Aumentar ou diminuir “corpo” da cerveja
● Conferir característica sensorial de cereal específico
● Aumentar ou diminuir quantidade de proteínas
● Aumentar ou diminuir quantidade de polifenois
● Aumentar quantidade de fibras solúveis prebioticas
○ 2g/L vs 1,6g/L no vinho e 1,9g/L no suco de laranja. 250ml de cerveja equivale a ingestão de fibras solúveis de 125g de tomate ou 83g de maçã
○ Beta glucanos solúveis reduziram colesterol em camundongos
Principais problemas associados ao uso de adjuntos
● Açúcares
○ Redução de fermentabilidade
● Cevada, centeio e trigo não malteados
○ Aumento do teor de polissacarídeos não amiláceos (beta-glucanos e pentosanas)
○ Viscosidade e formação de gel => Entupimento
● Milho, arroz e sorgo
○ Ausência de cascas
○ Produção de DMS (?)
○ Gelatinização
● Farinhas
○ Gelatinização
● Tubérculos
○ Baixo extrato
Reologia do mosto cervejeiro
● Reologia: Subseção da física que tem a deformação e transporte de fluídos como objeto (rheo, "fluxo" e, -logia, "estudo do")
○ Não existem só sólidos ideais e líquido ideais. Os fluído viscoelásticos são a maior parte dos materiais reais.
● Fluídos newtonianos
○ Viscosidade constante
○ τ = ηγ, 𝜏=Tensão; γ=Taxa; η=Viscosidade
● Fluídos não-newtonianos
○ Viscosidade dependente da taxa de cisalhamento
○ Dilatantes ou pseudoplásticos
Reologia do mosto cervejeiro
Por que estudar reologia do mosto?
● Extenso uso de transporte de fluídos.
○ Bombas, encanamentos, trocador de calor, separação de mosto e filtração
● Fatores de impacto reológico
○ Mosto high-gravity
○ Adjuntos
○ Insumos não convencionais
■ Presença de PNA (polissacarídeos não amiláceos)
○ Mosto viscoso, separação de mosto lenta, diminuição na recuperação de extrato, filtração lenta, risco de turbidez temporária ou irreversível e maior utilização de filtros (STEINER et al., 2010)
○ Formação de gel
○ Pseudoplasticidade
Reologia do mosto cervejeiro
η τ ₒ γ
Reologia do mosto cervejeiro
Estrutura geral dos grãos
Estrutura geral dos grãos
Dicas para adjuntos mais comuns
● Cevada não maltada
○ Alto teor beta glucanos
● Dura
● Gelatinização 60-62°C
Na prática:
○ Cozimento prévio (parte dos PNA estão no endosperma)
■ Floco
○ Até 10% betaglucanase dispensável
○ Acima de 10% betaglucanase indicada
○ Acima de 20% betaglucanase necessária (talvez insuficiente)
○ Acima de 25% protease indicada
○ Acima de 50% necessário alfa amilase
Dicas para adjuntos mais comuns
● Aveia não maltada
○ Médio alto teor beta glucanos, proteínas
○ Sem casca
● Dureza média
● Gelatinização 52-54°C
● Turbidez do floco menor que malte
Na prática:
○ Cozimento prévio (parte dos PNA estão no endosperma)
■ Floco (altamente recomendável dependendo da utilização)
○ Até 10% betaglucanase dispensável
○ Acima de 15% betaglucanase indicada
○ Acima de 20% uso de aveia virtualmente DESNECESSÁRIO
Dicas para adjuntos mais comuns
● Centeio não maltado (e trigo não maltado em menor escala)
○ Alto teor de pentosanas e beta glucanos
○ Muitos só com epiderme, sem casca
● Dureza alta e “chiclete”
● Gelatinização 49-61°C
Na prática:
○ Cozimento prévio (parte dos PNA estão no endosperma)
■ Floco
○ Até 5% betaglucanase dispensável (se usado sem outros adjuntos)
○ Acima de 10% betaglucanase indicada
○ Acima de 20% betaglucanase necessária
○ Sparge em temperatura alta
Dicas para adjuntos mais comuns
● Milho
○ Alto teor de amido
○ Geralmente sem casca
○ Gera extrato levemente mais fermentável
○ DMS?
● Dureza baixa
● Gelatinização 62-77°C
Na prática:
○ Cozimento prévio
■ Floco ou amido de milho
○ Acima de 20% interessante correção de proteína e nutrientes
○ Até 30% é suportado pelas enzimas do malte
Dicas para adjuntos mais comuns
● Arroz (e sorgo)
○ Alto teor de amido
○ Geralmente sem casca
○ Resultado limpo, seco e neutro
○ DMS?
● Dureza médio-baixa
● Gelatinização 62-83°C
Na prática:
○ Cozimento prévio
■ Floco ou farinha
○ Acima de 20% interessante correção de proteína e nutrientes
○ Até 30% é suportado pelas enzimas do malte
○ Possibilidade de uso de outras variedades
Dicas para adjuntos mais comuns
● Tubérculos
○ Alta umidade
○ Barateamento
● Gelatinização ~50-80°C
Na prática:
○ Fécula
○ Cozimento prévio
■ Decocção
○ Acima de 20% interessante correção de proteína e nutrientes
○ Até 30% é suportado pelas enzimas do malte
○ Possibilidade de uso de diversas variedades
Dicas para adjuntos mais comuns
● Açúcares, xaropes e mel
○ Basicamente açúcar “fermentável”
○ Resultado se usado certo: seco, maior ABV e pouco sabor
○ Assimilação de açúcares pela levedura segue a ordem:
■ Sacarose
■ Glicose e frutose
■ Maltose, Maltotriose (quando maltose tiver chegado a 50%) e outros
Na prática:
○ Até 5% (algumas fontes dizem 10%) uso na fervura
○ Acima de 10% pode ocorrer problemas de fermentação
■ Adicionar do meio para o final da fermentação
■ Aplicar nutrientes
○ Mel raramente contribui, exceto mel bruto em concentrações superiores a 30%
Dicas para adjuntos mais comuns
● Gelatinização é importante
● Composições de grist “radicais” podem acompanhar malte de 6fileiras
● “ ”” podem ter moagem mais grossa do malte
● Temperatura de recirculação alta evita problemas (correção de pH)
● O melhor da cerveja caseira é a CRIATIVIDADE
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Referências
● ANNEMÜLLER, G. Processing of various adjuncts in beer production. VLB- Berlin 2013. 164 p
● ARENDT, E.; ZANNINI, E.R. In: ARENDT, Elke; ZANNINI. Cereal Grains For The Food And Beverage Industries. Sawston: Woodhead Publishing, 2013. P.220- 243
● AUTIO, K.. Functional Aspects of Cereal Cell-Wall Polysaccharides. In: ELIASSON, Ann-charlotte. Carbohydrates in Food. Boca Raton:
Crc Press, 2006. p. 167-199.
● BRAUN, J.; DISHMAN, B. Microbrewing. In: STEWART, G.G.;PRIEST, F. Handbook Of Brewing. New York: CRC Press, 2006.
P.600-627
● BOGDAN, P.; KORDIALIK-BOGACKA, E. Alternatives to malt in brewing. Trends in Food Science & Technology, 2017. p. 1-9.
● KUNZE, W. Technology of Brewing and Malting. Berlin: VLB Berlin, 2014. 960p.
● LIMA, U.A. Matérias Primas Amiláceas. In: LIMA, Urgel de Almeida. Matériasprimas dos alimentos. São Paulo: Edgard Blücher, 2010.
Cap. 4. p. 33-116.
● MEUSSDOERFFER, F. G. A Comprehensive History of Beer Brewing. Freiberg:Freiberger Brauhaus Gmbh, 2009. 42 p.
● PREEDY, V.. Beer in Health and Disease Prevention. San Diego: Academic Press, 2008. 1250 p