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AVALIAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE DE SISTEMAS DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA EM COMUNIDADES RURAIS

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Academic year: 2021

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AVALIAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE DE SISTEMAS DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA EM COMUNIDADES RURAIS

Adriana Dias da Silva1; Ronaldo Lopes Rodrigues Mendes2*; André Luís Assunção de Farias3

Resumo: Na ilha Grande, localizada no município de Belém, estado do Pará, os moradores ingerem cotidianamente água dos rios que não possuem nenhum tipo de tratamento ou ainda usam água comprada e de qualidade duvidosa. Diante da falta de água de qualidade, esta pesquisa toma como hipótese básica que o sistema de aproveitamento de água de chuva (SAAC) implantado pela UFPA na ilha é sustentável por respeitar as peculiaridades locais. Para comprovar a hipótese deste estudo, definiu-se 5 dimensões (ambiental, social, econômica, político-institucional e técnico-operacional) e suas respectivas variáveis. Os valores alcançados pelas variáveis se mostram favoráveis ao SAAC, ratificando a potencialidade dessa alternativa tecnológica para direcionar comunidades rurais ao desenvolvimento sustentável.

Palavras-Chave: Ilha Grande; Água de chuva; Desenvolvimento Sustentável.

SUSTAINABILITY OF RAINWATER UTILIZATION SYSTEM IN RURAL COMMUNITIES

Abstract: In the Grande Island located in Belém city, Pará State, residents daily drink river water without any treatment or they use doubtful quality water bought by them. In the absence of good quality water, this research takes as a basic assumption that rainwater utilization system (SAAC) built by UFPA in the island is sustainable because it takes into account local peculiarities. To prove the hypothesis of this study, it defined five dimensions (environmental; social; economic; political and institutional; and, technical and operational) and their variables. The values achieved by the variables have expressed their support to the SAAC, confirming the potential of this technological alternative to direct rural communities for sustainable development.

Keywords: Grande Island; Rainwater; Sustainable Development. 1 INTRODUÇÃO

A falta de água de qualidade foi um fator decisivo para a realização de pesquisas em áreas rurais da Amazônia pelo grupo de pesquisa Aproveitamento de Água de Chuva na Amazônia, Saneamento e Meio Ambiente (GPAC Amazônia), pertencente à Universidade Federal do Pará, a partir do ano de 2008. Estes estudos culminaram, em 2011, com a criação e implantação de um Sistema de Aproveitamento de Água de Chuva (SAAC) na ilha Grande, comunidade situada a 12,2 km ao sul do município (Figura 1), a falta de saneamento ambiental faz com que os moradores bebam água de rios sem qualquer tratamento.

1Pesquisadora do GPAC Amazônia/UFPA. E-mail: dias.adriana@ymail.com.

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Fonte: adaptado de CODEM, 2015.

Diante da implementação dessa alternativa, apresenta-se o seguinte problema como principal motivador desta pesquisa: o sistema de abastecimento implantado na comunidade de ilha Grande é um instrumento sustentável de acordo com os aspectos ambientais, sociais, técnico-operacionais, econômicos e político-institucionais?

De modo a responder a essa questão, no âmbito acadêmico, bolsistas e pesquisadores baseados nos princípios gerais de sustentabilidade considerados por Sachs (1993), estudaram sobre a gestão dos recursos naturais e os pilares do desenvolvimento sustentável (dimensões social, ambiental, econômica e política); e na comunidade atuavam diretamente com a população local, realizando diagnósticos, ações de educação sanitária e ambiental e ações técnicas relacionadas à elaboração e à implantação do sistema de abastecimento.

A perspectiva de desenvolvimento tecnológico adotada neste trabalho é defensora de uma nova configuração social, a partir da apropriação e reaplicação de novas técnicas e metodologias que estejam de acordo com as reais necessidades de uma população. Essa perspectiva é a característica fundamental da Tecnologia Social (DIAS et al, 2012).

Deste modo, a materialização do presente estudo, que possui como objetivo geral avaliar a sustentabilidade de tecnologias de aproveitamento de água de chuva, é o reconhecimento pelos pesquisadores do GPAC Amazônia da importância da gestão de águas pluviais como uma forma possibilitar o acesso à água potável para as comunidades rurais e de saída do plano apenas discursivo no debate sobre desenvolvimento sustentável.

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2 MATERIAIS E MÉTODOS

Inicialmente foram levantadas informações gerais sobre a Ilha Grande, realizando o diagnóstico socioeconômico e ambiental, baseado na aplicação de formulários no ano de 2008 aos responsáveis pelas residências. O levantamento de dados indicou demandas existentes, principalmente quanto ao saneamento básico.

Os anos seguintes caracterizam a segunda etapa da pesquisa. Nesta foram realizadas ações de educação ambiental e sanitária no intuito de: potencializar o nível de organização da comunidade e informar os moradores tanto sobre as patologias que podem ser ocasionadas pela ingestão de água contaminada como sobre o uso sustentável da água.

A terceira etapa se deu em 2011 por meio de um novo diagnóstico da realidade local no intuito de se verificar possíveis mudanças como: número de habitantes, mudanças no perfil destes moradores quanto aos hábitos e cuidados relacionados à água destinada ao consumo humano, interesse em possuir o sistema de abastecimento na própria residência, etc. Ainda nesta etapa foi debatida a viabilidade de implantação do SAAC com a comunidade.

A quarta etapa se caracterizou pela implantação do SAAC e realização de ações práticas para a apropriação do conhecimento técnico relacionado ao uso e manutenção do sistema pela população local.

A quinta etapa correspondeu à escolha de variáveis organizadas conforme os princípios gerais de sustentabilidade considerados por Sachs (1993) a serem relacionadas ao SAAC (ver Quadro 1), aliando método quantitativo e qualitativo, de forma a analisar a viabilidade do sistema, considerando aspectos sociais, ambientais, técnico-operacionais, econômicos e político-institucionais.

Quadro 1 – Variáveis de avaliação do SAAC conforme as dimensões de sustentabilidade

DIMENSÕES VARIÁVEIS DE AVALIAÇÃO DO SAAC

Dimensão Social

Local de Origem Tempo de Residência

Fontes para obter água para beber e cozinhar. Qualidade da água para beber e cozinhar

Risco de adquirir doenças por meio da água destinada à ingestão Interesse pelo uso do SAAC

Escolaridade Dimensão Ambiental

(água da atmosfera)

Volume de Água Pluvial (L/mês) pH (água atmosfera)

Cor

Turbidez (água atmosfera) Dimensão

Técnico-operacional (água do SAAC)

Atendimento ao Consumo de Água per capita Cor

Turbidez

Coliformes totais E. coli

Dimensão Econômica Tempo de Retorno de Capital

Dimensão Político-institucional

Instituição de Políticas

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Dimensão Social

Em 2008, a maioria (62%) dos habitantes de Ilha Grande era originária do próprio município de Belém, fato que se confirma no ano de 2011 (59% são naturais de Belém). Quanto ao tempo de residência, constatou-se que o convívio entre os habitantes da comunidade é significativo haja vista que cerca de mais de 50% da população mora há mais de 10 anos na ilha. Deste modo, as variáveis Local de Origem e Tempo de Residência foram tomadas como favoráveis, pois conforme Schejtman e Berdegué (2004), a implementação de projetos de desenvolvimento em um território é fruto de relações sociais que se alicerçam a partir de uma identidade e um sentimento de pertencimento compartilhado por agentes públicos e privados.

Quanto aos serviços básicos nessa comunidade, estes são ausentes ou precários. Falta abastecimento de água potável e tratamento de esgoto pela Companhia de Saneamento do Estado do Pará (COSANPA), o que faz com que os moradores lancem o esgoto diretamente no leito dos rios ou em fossas negras. Assim como também não há serviço de coleta de lixo.

Em 2011, os resultados da pesquisa mostraram que a população de Ilha Grande utilizava várias fontes para obter água para beber e cozinhar. Sendo que 43% dos habitantes utilizavam água de poços, dentre estes, 38% pagam por essa água de qualidade duvidosa. Ao se perguntar aos moradores sobre a qualidade da água, a maioria (69%), considera a água como de boa qualidade. E ao se avaliar o risco de adquirir doenças por meio da água destinada à ingestão, a maioria (60%) não acredita nessa possibilidade. Entretanto, entre aqueles que acreditam, o número de casos de doenças de veiculação hídrica corresponde a 40,3%.

Mesmo diante da boa classificação dada à água já consumida pela maioria dos moradores, estes demonstraram interesse pelo uso do SAAC, corroborado pela alta porcentagem de moradores que aceitariam usar o sistema tanto em 2008 como em 2011, 78% e 81%, respectivamente. O interesse pelo SAAC deve ser em razão da independência adquirida com relação à comercialização de água na comunidade.

Com relação à escolaridade, em 2011, 81% dos habitantes da comunidade nunca foram à escola ou não completaram o ensino fundamental. Esta situação indica que as ações de sensibilização sobre a importância da água, limites e riscos relacionados ao seu uso, assim como o treinamento para implantação, uso e manutenção do SAAC devem ser mais elementares.

3.2 Dimensão Ambiental

De acordo com dados pluviométricos pertencentes ao banco de dados históricos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), constatou-se que no município de Belém a média pluviométrica anual gira em torno de 2533,6 mm. Isso demonstra que Volume de Água Pluvial atende a demanda de usuários ao se considerar o cálculo de entrada (L/mês) e o consumo (L/mês). Quanto à qualidade da água de chuva coletada da atmosfera, o pH 53,33% das amostras coletadas se manteve acima de 5,0, valor que sinaliza a possibilidade de consumo por seres humanos. Já com relação à cor, 92,86% das amostras apresentaram valores iguais ou menores a 15 UH. Ao se tratar do parâmetro turbidez, a média apresentada pelas amostras corresponde a 0,9 UT. Tais valores estão de acordo com o padrão definido por Brasil (2011).

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3.3 Dimensão Técnico-Operacional

A demanda per capita de água para beber e cozinhar correspondia ao valor de 20 litros/dia. Por isso foi utilizado um reservatório superior de 500 litros para armazenamento de água da chuva e outro de 310 litros para água filtrada (GONÇALVES, 2012), sendo que os altos índices pluviométricos da região garantem o Atendimento ao Consumo de Água per capita.

Quanto à qualidade da água do SAAC, as amostras indicaram que o sistema quanto ao parâmetro cor apresenta 80% de eficiência. Atendendo em média o padrão de potabilidade preconizado por Brasil (2011). Quanto parâmetro turbidez, a água foi analisada de acordo com os valores de turbidez para filtração lenta (1,0 UT), ainda considerando Brasil (2011), sendo constatado que o filtro realizou a remoção de 93,33% da turbidez. Entretanto, ao se tratar das análises bacteriológicas, todas as amostras da calha, descarte e reservatório superior apresentaram coliformes totais e E. coli (GONÇALVES, 2012).

3.4 Dimensão Econômica

Ao compararmos os valores que eram gastos mensalmente pelos beneficiários do SAAC com a compra de água, percebemos que se esse dinheiro fosse investido no sistema, o Tempo de Retorno de Capital seria de aproximadamente 7 meses. E ao considerarmos o prazo de um ciclo anual, a redução dos gastos usuários do SAAC com a compra de água corresponde a 38,9%. E ainda é preciso salientar que não foram considerados os benefícios econômicos advindos em médio e longo prazos com a redução e/ou eliminação de gastos com internações hospitalares e compra de remédios para combater patologias transmitidas pela água.

3.5 Dimensão Político-Institucional

O SAAC como política pública pode ser viabilizado tanto em razão da instituição da Política Municipal de Meio Ambiente no ano de 1998, tendo em vista que a política incentiva o desenvolvimento de tecnologias que proporcionem o uso racional dos recursos naturais. Quanto pela existência de organizações sociais locais e a atuação destas na comunidade de Ilha Grande, pois a apropriação de tecnologias para e pelas comunidades locais depende principalmente da articulação dos atores sociais locais.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os habitantes de ilha Grande, a exemplo do que ocorre em muitas comunidades rurais da Amazônia, consomem água subterrânea de qualidade duvidosa e/ou água retirada diretamente do rio comprometida por ações antrópicas. Por isso a população local demonstra interesse na implantação de alternativas que possibilitem o acesso à água potável, e consequentemente proporcionem a diminuição da incidência de patologias.

Porém, como o processo de transformação social implica em compreender a realidade, o grupo GPAC Amazônia acreditou ser fundamental a realização de uma análise sistêmica da comunidade. O que, neste caso, compreendeu aspectos ambientais, sociais, técnico-operacionais, político-institucionais e econômicos e suas respectivas variáveis.

A proposta da avaliação de sustentabilidade do SAAC, indica a necessidade de realização de novos estudos para que o desempenho alcançado por essa tecnologia seja alterado positivamente. Mas

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acima de tudo demonstra que além de desejarmos o desenvolvimento sustentável, devemos fomentar o nascimento de um processo em que os planejadores do setor público e privado estarão municiados a elaborar políticas sociais que respeitem as peculiaridades locais.

5 REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da saúde. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Portaria n. 2.914, de 12 de dezembro de 2011.

DIAS et al. Tecnologias Sociais de Aproveitamento de Água de Pluvial para Uso Potável na Região Insular de Belém/PA/: Uma Proposta Sustentável. In: SIMPOSIO BRASILEIRO DE CAPTAÇÃO E MANEJO DE ÁGUA DE CHUVA, 8, 2012, Campina Grande, Anais.... Disponível em:

<www.bibliotekevirtual.org/index.php/2013-02-07-03-02-35/simposios/127-8sbcmac/370-8sbcmac-a109.html>. Acesso em: 21 mai. 2015.

GONÇALVES, Cristiane da Costa. Aproveitamento de Água da Chuva para Abastecimento em Área Rural na Amazônia. Estudo de Caso: Ilha Grande e Murutucu, Belém-Pará. Dissertação de mestrado (Mestrado em Engenharia Civil)- PPGEC/UFPA, Belém, 2012.

HARDI, Peter et al. Measuring sustainable development: review of current practice. Occasional Paper Number 17. Canada: Industry Canada, 1997.

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA. Banco de dados Meteorológicos para o ensino e pesquisa. Disponível em: < http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep>. Acesso: 31 jul. 2013.

SACHS, Ignacy. Estratégias de Transição para o século XXI. In: BURSZTYN, Marcel (org.). Para Pensar o Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: Brasiliense, 1993.

SCHEJTMAN, Alexander; BERDEGUÉ, Julio A. Desarrollo territorial rural. Debates y temas rurales, Chile, n.1, mar. 2004.

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