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O Mundo É Uma Alcachofra

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Academic year: 2021

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Texto

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UFCG – Universidade Federal de Campina Grande

CEEI – Centro de Engenharia Elétrica e Informática

DSC – Departamento de Sistemas da Computação

Disciplina: Seminários

Período: 2008.1 (Graduação)

Exposição Do Texto:

O Mundo É Uma Alcachofra

De Ítalo Calvino

Aluno: Rodrigo Cerqueira Lopes (20111004)

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Introdução

O capítulo chamado “O Mundo É Uma Alcachofra” do livro “Por Que Ler Os Clássicos” de Ítalo Calvino consiste-se predominantemente de uma crítica, ou, para ser mais coerente com o objetivo do livro, de uma exposição e impressões do autor sobre o livro “La Cognizione del Dolore” (O Conhecimento Da Dor), de Carlo Emilio Gadda. Sua obra é bastante vasta, mas neste texto nos restringiremos a contar sobre o autor e este livro.

Carlo Emilio Gadda era um mestre na deformação literária da realidade, onde a representação da mesma poderia estar cheia de significados, e sempre permeado de elementos satíricos. Também foi um dos inovadores da linguagem italiana, brincando com as palavras onde inseria gírias comuns na época antes da Primeira Guerra e elementos dialetais e acrescentava outros de jargão técnico, problemas idiomáticos e regionalismos. Essas características permitiam que suas obras desfavoráveis ao fascismo fossem publicadas.

O título “O Mundo É Uma Alcachofra” diz respeito à comparação que Calvino faz ao fato de a realidade do mundo se apresentar de muitas maneiras aos nossos olhos com a característica que uma alcachofra possui de possuir estratos densamente sobrepostos, e introduzindo sua visão sobre Gadda pela sua capacidade de “desfolhar” esta “Alcachofra infinita” que é o mundo.

Aparentemente, o texto de Calvino foi escrito em 1963, dez anos antes da morte de Gadda, e ano em que este ganharia pelo livro o Prix International de Littérature. Nessa época, o autor, aposentado, vivia quase exclusivamente na publicação nas dezenas de livros e centenas de textos que escreveu em vida e mantinha outros tantos ainda inéditos. Mesmo com pouca divulgação, exerceu forte influência na vanguarda literária italiana o que explica, assim, o trecho abaixo:

Por isso, sustentamos que dentre todos os autores importantes e brilhantes de quem se falou estes dias talvez só Gadda mereça o nome de grande escritor.

O Autor

Gadda nasceu em Milão em 1893, filho de um executivo com uma professora de ensino público. Durante sua infância, sua formação cultural foi dominada pelos valores da burguesia milanesa do século XIX, que era permeado pela ciência positivista e pelo liberalismo econômico tradicional, tendo Milão como um modelo do racionalismo e a capital moral e cultural da Itália.

Em contrapartida com a imagem ideal de família e sociedade da época nessa cidade, Gadda obsessivamente lembra sua infância como sendo sempre atormentado, marcado pela contínua frustração e falta de afeição. Para piorar, o pai foi um investidor imprudente levando a família a grandes dificuldades financeiras após sua morte em 1919.

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meses finais do conflito. A memória dele iria perseguir a vida de Gadda como autor e sua presença seria constante em seus textos, especialmente La Cognizione Del Dolore.

Em 1919 retorna a faculdade para terminar os estudos e se formar como Engenheiro Industrial e, desde então, passou a exercer sua profissão. Passa o ano de 1923 em Buenos Aires, Argentina, onde começa a dedicar seu tempo na literatura. De volta a Milão entra para faculdade de filosofia onde só não termina sua tese por dificuldades financeiras, o que o obriga a voltar a exercer a profissão de engenharia e se mudar para Roma. Durante esse período, escreve um número de textos e seus dois primeiros livros. Em 1934 abandona a profissão de vez e passa então a se dedicar à literatura.

Com a morte de sua mãe em 1936, Gadda escreve La Cognizione Del Dolore, publicado em fascículos entre 1938 e 1941.

Para ajudar sua situação financeira cada vez mais precária, faz contratos com alguns jornais e revistas para escrever séries de artigos sobre ciência e tecnologia. Move-se para Florença, considerada capital literária do país, onde entra em contato com vários outros autores italianos e lá permanece até 1950, quando retorna a Roma para se empregar como jornalista literário. Aí então permanece até sua morte em 1973, vivendo exclusivamente na escrita, reedição e publicação de sua vasta obra.

O Livro

O enredo do livro se passa em um país imaginário localizado na América do Sul chamado Maradagal (espécie de anagrama do nome do autor) em guerra e conta sobre Gonzalo, um engenheiro e escritor de meia idade, que vive isolado em na vila de uma aldeia em escombros importunada pelo medo dos ladrões.

Contra a ameaça dos ladrões toma forma a organização de um corpo de vigilância noturna que deveria devolver a segurança aos proprietários da região. Mas tal organização é tão desonesta, tão equívoca, que acaba constituindo para Gonzalo um problema mais grave que o medo dos ladrões.

Gonzalo, na história, carrega constantemente um constante rancor contra tudo e todos, incluindo sua mãe e seus falecidos pai e irmão, a ponto de abandonar a si mesmo na raiva e a fazer todos os tipos de acusações. Acusa os peões de roubo, a classe média pela desgraça da sociedade, os ricos por tomarem vantagem da guerra para ganhar dinheiro, e os militares por serem irresponsáveis apoiadores da guerra.

O livro também enfoca, e isso é situação-chave da história, o relacionamento e a ambivalência amor/ódio entre Gonzalo e sua família, principalmente sua mãe. Señora Elisabetta, viúva, que vive iludida de que a família ainda é saudável em posse da vila da aldeia, é mais preocupada com a aparência de seu status social do que com os problemas emocionais de seu filho misantropo, e obcecado pela memória do irmão de Gonzalo, que morreu na guerra. Em certo momento, Gonzalo não apenas insulta e grita com sua mãe como até a agride.

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edição original nunca tenha sido revisado). Segundo Calvino, o encerramento da narrativa pouco importava ao autor, pois era mais interessante a ele a arquitetura da tensão expressada por meio de todas as divagações e detalhes da história.

Fica claro que o romance é cheio de significados objetivos e universais e que muitos fatores da vida de Gadda, como a família (começou a escrever este livro logo depois da morte de sua mãe), sua educação burguesa, seu gosto e desgosto pela engenharia, sua participação na Primeira Guerra, entre outros, constituem forte influência na construção do romance, tornando-se em grande parte autobiográfica, e fazendo com que Gadda seja uma descrição de quem é Gonzalo. E também, muitas referências indicam que Maradagal é, na realidade, Itália.

Calvino é de opinião que a ambivalência ódio/amor entre Gonzalo e sua mãe pode ser entendida como ódio/amor de Gadda pelo próprios país e ambiente social, e que o protagonista representa o burguês transtornado ao ver a paisagem dos lugares e valores que lhe eram caros, pois o escritor, outrora combatente da Primeira Guerra Mundial, vê nela o momento em que os valores amadurecidos do século XIX que foi a base de sua formação cultural, encontram-se no ápice de sua expressão e, ao mesmo tempo, no princípio de seu fim:

[Gadda] vive o drama do nosso tempo também bem como drama do pensamento científico, da segurança racionalista e progressista oitocentista com a consciência da complexidade de um universo nem um pouco tranqüilizante e fora de qualquer possibilidade de expressão.

Calvino conclui o texto ressaltando que o romance representa plenamente as possibilidades que Gadda pode oferecer ao leitor, não só estilísticas, mas também de implicações culturais, posicionamentos filosóficos que abrangem desde o racionalismo técnico-científico rigoroso até os mais obscuros resultados de seu profundo lirismo. Essa representação provavelmente justifica a escolha deste livro para representar os clássicos que este autor compôs.

Conclusão

Infelizmente não encontrei nenhum resumo que detalhasse melhor o enredo da narrativa. Os textos que utilizei em sua maioria concentram seus esforços mais na alegorização dos elementos centrais do livro com os da vida do autor, me dando uma impressão que o livro provoque a mesma impressão que senti quando terminei de ler “A Metamorfose” de Kafka, onde só pude me sentir melhor depois que li sobre a vida do autor.

Percebi também que não existe de fato uma grande divulgação da obra de Gadda, e que a inclusão do texto de Calvino em seu livro se deve a isso. Pessoalmente, o texto despertou bastante interesse pelo autor. No entanto sinto um certo temor ao tentar entrar em contato com os textos de Carlo Emilio Gadda pela perda que se gera durante as traduções, onde muitos dos termos e brincadeiras com palavras, que são uma das grandes características de seus escritos, não são capturados pelos leitores estrangeiros, da mesma forma com que leitores de língua não portuguesa sentem ao ler autores brasileiros como Guimarães Rosa e Machado de Assis.

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para sua época, e, enfim, pela maneira como escreve e como expõe suas aflições e contradições.

A melhor justificativa que encontrei para o porquê ler os clássicos de Gadda, não especificamente o livro “El Cognizione Del Dolore” que foi explicitado aqui, é resumida na recordação por Calvino de uma prosa escrita para rádio:

Referências

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