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LEITURA E VISÃO DE MUNDO: ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS A PARTIR DA CATEGORIA CONTEÚDO E FORMA

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Academic year: 2021

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196 ISBN 978-85-7846-516-2

LEITURA E VISÃO DE MUNDO: ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS A PARTIR DA CATEGORIA CONTEÚDO E FORMA

Rosangela Maria de Almeida Netzel – UEL Email: roalmeidaprofe@gmail.com Sandra Aparecida Pires Franco Email: sandrafranco26@hotmail.com Eixo 1: Didática e Práticas de Ensino na Educação Básica Resumo

Este resumo expandido embasa-se em propostas de trabalho com a leitura em diferentes segmentos educacionais, com foco na categoria marxista conteúdo e forma. A questão principal de investigação é: de que maneiras é possível contemplar a categoria marxista conteúdo e forma na prática de sala de aula? Refletir sobre isso é relevante, pois a teoria do Materialismo Histórico e Dialético pode legar aprimoramentos às ações didáticas. Para retratar essas possibilidades, é aqui relatada uma experiência na pós-graduação stricto sensu, realizada em uma disciplina da área de Educação. Divulgam-se algumas das discussões realizadas e ideias suscitadas na ocasião, em que a teoria e a prática complementam-se.

Palavras-chave: forma, conteúdo, estratégias, determinantes, leitura.

Introdução

As contribuições de diversas áreas, como da Sociologia, da Psicologia, da História, das Letras e das Artes, somam-se para dar corpo a ideias pedagógicas. Nesse contexto, a partir do estudo teórico, torna-se possível pensar adaptações da categoria marxista conteúdo e forma para diferentes segmentos educacionais.

Em uma disciplina da Pós-Graduação stricto sensu em Educação, da Universidade Estadual de Londrina, os estudantes fizeram leituras, discutiram a teoria e apresentaram sugestões sobre maneiras de viabilizar a categoria marxista conteúdo e forma a partir de práticas didáticas em diferentes segmentos, desde a Educação Infantil, passando pelo Ensino Fundamental até o Médio.

Essa reflexão teórico-prática foi realizada por pós-graduandos advindos de diferentes cursos, como Pedagogia, Letras, Psicologia e História.

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197 Mesmo diante dessa diversidade, foi possível contemplar as nuances do pensamento marxista, em sugestões que englobam o historicismo, a arte e a cultura, bases do ensino significativo.

Enfatiza-se o encaminhamento dado pelas ministrantes da disciplina, uma da área da Educação, e outra da Psicologia, que conseguiram conciliar os apontamentos de diferentes campos, permitindo aos pós-graduandos relacionar a teoria do materialismo histórico e dialético às possibilidades didáticas.

O trabalho com a leitura embasado no Materialismo Histórico e Dialético Segundo o Dicionário do pensamento marxista, a filosofia marxista teve sua primeira expressão no Materialismo Dialético, uma combinação do materialismo científico com a dialética de Hegel, que afirma ser a realidade concreta uma unidade contraditória, impulsionada por suas contradições, em um processo, evolucionário e revolucionário, de incessante transformação histórica (BOTTOMORE, 1988, p. 246).

Dessa perspectiva, o materialismo concebe matéria e espírito como opostos entre si dentro de uma unidade onde a matéria desempenha o papel principal. Assim, o materialismo dialético é uma “visão do mundo”, uma teoria sobre a natureza da realidade como um todo (BOTTOMORE, 1988, p. 247).

De acordo com Franco e Girotto (2017), a dialética e a historicidade das categorias marxistas, permitem apresentar a realidade em suas múltiplas determinações, levando o ser humano a refletir sobre a sociedade, compreendendo- a no seu todo, conforme postula Marx (2011). Ao comentarem, ainda, a potencialidade de trabalho com a literatura, concebem a forma como um elemento concreto, que possibilita a apreensão do conteúdo, de modo que a discussão sobre essa categoria é essencial para a prática pedagógica dos professores formadores de leitores (FRANCO; GIROTTO, 2017, p. 1.975).

Considerando que o trabalho pedagógico advém da relação entre teoria e prática, para didatizar os conteúdos, dando-lhes formas acessíveis aos alunos, o docente é como um cientista, que precisa considerar os elementos culturais e suas condições históricas de produção, para chegar a novos conhecimentos, na reflexão conjunta que propõem em sala de aula.

Nesse mesmo sentido, Barroco e Superti (2014, p. 30) defendem

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198 que a obra Psicologia da arte (VIGOTSKI, 1999), merece atenção por conter aspectos teórico-metodológicos pertinentes, em que postula que “a arte não desencadeia uma ação, um comportamento, mas uma transformação das emoções determinada pela estrutura da obra”, levando a uma catarse, uma identificação, que desperta o interesse a vivências posteriores com aquele mesmo objeto, por meio da reação estética. Tem-se, portanto, na catarse, uma contradição afetiva, e na fruição artística uma função organizadora do comportamento, que amplia o domínio do sujeito sobre si e sobre o mundo, elemento favorável à apropriação do conteúdo veiculado pelas obras artísticas.

Também segundo Saccomani (2014, p. 175-178), em dissertação de mestrado sob orientação de Newton Duarte, por meio do trabalho sistematizado e intencional é que se realiza a reprodução e produção da vida humana, em um processo histórico-social, que tem como dinâmica essencial a relação dialética entre apropriação e objetivação. Sob esses argumentos, defende o trabalho intencional e diretivo do professor na educação escolar. Assim, busca evidenciar uma visão afirmativa sobre o ato de ensinar, no sentido de evidenciar que o trabalho educativo não se contrapõe à criatividade, nem tão pouco torna as crianças passivas e sem iniciativa.

Reafirmando as implicações didáticas que os apontamentos de Marx e de Vigotski podem legar ao ensino, a obra de Gasparin (2011), cuja primeira edição foi publicada em 2002, foi motivada pela ideia de traduzir a Pedagogia Histórico-Crítica, estruturada por Saviani com base no materialismo histórico- dialético, para uma didática que partisse da prática, para ascender à teoria. No tópico relacionado à problematização, a ciência é tida como um produto social, nascida de necessidades históricas, econômicas, políticas, ideológicas, filosóficas, religiosas, técnicas, entre outras dimensões, que revestem o conteúdo escolar, que devem ser tratadas em conjunto com a dimensão científica. Neste trabalho, as dimensões referidas por Gasparin, são denominadas de determinantes.

Categoria conteúdo e forma em possibilidades didáticas

Para exemplificar o trabalho com a categoria conteúdo e forma, a professora da área da Educação disponibilizou o artigo A categoria marxista

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199 conteúdo e forma na leitura literária, em que aborda a obra Noite na Taverna, comparando o formato de narrativa tradicional com o de história em quadrinhos.

Com as discussões propiciadas a partir do estudo desse e de outros textos, foi solicitada a formulação de atividades didáticas que os pós-graduandos poderiam propor tendo em mente a categoria marxista conteúdo e forma.

Os resultados foram apresentados pelos participantes da disciplina, sendo possível formular o seguinte quadro:

Quadro 2: Conteúdo e forma em propostas didáticas Possíveis

conteúdos

Formas relacionadas Alguns

determinantes 1. Cultura

popular brasileira

- Música Asa Branca

- O voo da Asa Branca, livro de Rogério Soud - Oração do Milho, poema de Cora Coralina

- Geográficos - Econômicos - Artísticos - Culturais 2. Violência - Quadro Guernica, de Pablo Picasso

- Vídeo com a pintura em 3D

- Artísticos - Geográficos - Históricos - Culturais 3. Relação

professor-aluno

- Filme Escritores da liberdade - Históricos - Culturais - Pedagógicos 4. Dança como

narrativa artística

- O lago dos cisnes, dança de balé clássico

- O lago dos cisnes, livro de Lee Ji Yoeng e Pyotr Ilyich Tchaikovsky

- Vídeos com cenas do balé com mesmo título

- Artísticos - Geográficos - Culturais 5. Criação

literária

- As mil e uma noites, narrativa clássica - Artísticos - Culturais - Geográficos 6. Música como

forma de

protesto

- Cálice, de Chico Buarque - Criolo, versão Cálice, em vídeo

- Políticos - Artísticos - Culturais 7. As várias

formas de

retratar um fato

- Notícia sobre a queda do edifício Linda do Rosário.

Ocorrida no Rio de Janeiro, em 2002.

- Linda do Rosário, obra em formato de escultura, de Adriana Varejão

- Música Conversa de botas batidas, de Los Hermanos

- Históricos - Artísticos - Culturais

8. Êxodo rural - Morro da favela, de Tarsila do Amaral - Triunfo, música e clipe de Emicida

- Políticos - Artísticos - Culturais 9. Biografia - O menino que mordeu Picasso, de Antony Penrose - Artísticos

- Históricos - Culturais 10. Literatura

infantil

- Livro Os três porquinhos (adaptação) - Narrativa em CD da fábula

- Históricos - Culturais 11. Relações

sociais

- Admirável Gado Novo, Zé Ramalho - Políticos - Artísticos - Culturais

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200 12. A dança de

rua como

elemento cultural

- Frase de Nitzche sobre “dança”

- Dança de rua

- Artísticos - Filosóficos - Culturais 13. Fases e

acontecimentos

da vida

retratadas por meio da arte

- O beijo, tela de Gustav Klimt

- As três idades da mulher, tela de Gustav Klimt

- Artísticos - Culturais

14. Ampliação de proposta do livro didático sobre a Guerra de Canudos

- Capítulo (reduzido) de livro didático sobre a Guerra de Canudos

- Livro Os sertões - Música Os Sertões

- Históricos - Geográficos

Fonte: autoria própria, com base nas apresentações dos pós-graduandos.

As apresentações dos estudantes de pós-graduação envolveram as obras listadas no Quadro 2, de modo que os conteúdos e determinantes foram inferidos na escrita deste relato, como alguns dos possíveis elementos a serem acionados mediante a interligação entre as manifestações artísticas eleitas por eles para exemplificar a relação entre conteúdo e forma. Desse modo, muitos aproveitaram estratégias didáticas utilizadas em suas experiências docentes e de pesquisa, enriquecendo as discussões e propiciando a ampliação mútua de repertórios.

Como se pode observar, os determinantes históricos e os culturais, como enfatizados por Bottomore (1988), estiveram presentes nas propostas dos pós-graduandos, expressando visões de mundo sobre conteúdos diversificados.

A categoria conteúdo e forma foi acionada nas ideias apresentadas, levando a reflexões sobre aspectos da sociedade atual. A arte foi elemento constante também nessas propostas, evidenciando a potencialidade de trabalho com a literatura, como destacam Franco e Girotto (2017), em uma relação teórico- prática, na abordagem de formas que permitam e motivam o acesso aos conteúdos, e a fruição artística, o que permite reafirmar que o trabalho educativo dá vazão à criatividade.

As problematizações evidenciadas pelos pós-graduandos, consideraram a ciência como produto social, somada a determinantes variados, como postula Gasparin (2011) ser possível no ensino intencional e sistematizado.

Após as apresentações e as formulações individuais dos planos de atividades, os estudantes foram motivados a expressar oralmente o que

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201 compreenderam da aula em que as apresentações foram realizadas. Desse modo, foi possível observar o quanto a atividade prática colaborou na compreensão da categoria marxistas conteúdo e forma, anteriormente abordada em texto teórico discutido em sala.

Conclusão

A partir do estudo teórico, torna-se possível aos docentes pensar adaptações da categoria marxista conteúdo e forma. Reafirma-se, portanto, a importância de refletir sobre a prática a partir de elementos teóricos.

Essa reflexão pode ser caminho de aprimoramento e de valorização do trabalho docente, suscitando olhares pedagógicos para além da didatização mecânica, remetendo à contextualização histórico cultural e, consequentemente, à humanização possível por meio do ensino.

Referências Bibliográficas

GASPARIN, J. L. Uma didática para a Pedagogia Histórico-Crítica. 5 ed. Campinas:

Autores Associados, 2011.

BARROCO, S. M. S.; SUPERTI, T. Vigotski e o estudo da psicologia da arte:

contribuições para o desenvolvimento humano. In: Psicologia & Sociedade, 26(1), 2014. P. 22-31. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/psoc/v26n1/04.pdf>.

Acesso em: 07 set. 2018.

BOTTOMORE, Tom (Org.). Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar, 1988.

FRANCO, Sandra Aparecida Pires.; GIROTTO, Cyntia Graziella Guizelim Simões. A categoria marxista conteúdo e forma na leitura literária. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 12, n. 4, p. 1972-1983, out./dez. 2017.

Disponível em: <http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n4.out./dez.2017.8776>.

Acesso em: 18 jul. 2018.

SACCOMANI, Maria Cláudia da Silva. A criatividade na arte e na educação escolar : uma contribuição à pedagogia histórico-crítica à luz de Georg Lukács e Lev Vigotski, 2014 , 186 f., Dissertação (Mestrado em Educação Escolar) Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Ciências e Letras (Campus de Araraquara).

Vigotski, L. S. Psicologia da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

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Referências

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