• Nenhum resultado encontrado

Informativo comentado: Informativo 668-STJ Márcio André Lopes Cavalcante

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Informativo comentado: Informativo 668-STJ Márcio André Lopes Cavalcante"

Copied!
37
0
0

Texto

(1)

Informativo comentado:

Informativo 668-STJ

Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE

DIREITO ADMINISTRATIVO

AUTOTUTELA

▪ Mesmo depois de terem-se passado mais de 5 anos, a Administração Pública pode anular a anistia política

concedida quando se comprovar a ausência de perseguição política, desde que respeitado o devido processo legal e assegurada a não devolução das verbas já recebidas.

CONCURSO PÚBLICO

▪ O prazo para se questionar a preterição de nomeação de candidato em concurso público é de 5 anos, contado da

data em que o outro servidor foi nomeado no lugar do aprovado. INFRAÇÕES DE TRÂNSITO

▪ É obrigatória a comprovação do envio da notificação da autuação e da imposição da penalidade de trânsito, mas

não se exige que sejam acompanhadas de aviso de recebimento. DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR

▪ Se a mulher passar a conviver com alguém em união estável após a morte do ex-combatente, ela perde a condição

de viúva (art. 2º, V, da Lei nº 8.059/90) e, portanto, não terá mais direito à pensão.

DIREITO DO CONSUMIDOR

PLANO DE SAÚDE

▪ Competência para julgar demandas entre usuário e operadora de plano de saúde. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

INTERNAÇÃO

▪ É legal a internação de adolescente gestante ou com o filho em amamentação, desde que assegurada atenção

integral à sua saúde, bem como as condições necessárias para que permaneça com seu filho durante o período de amamentação.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

SUSPEIÇÃO

▪ A falha procedimental consubstanciada na publicação antecipada de resultado de julgamento que havia sido adiado

não gera suspeição do relator. AGRAVO DE INSTRUMENTO

▪ Não cabe agravo de instrumento contra a decisão que aplica multa por ato atentatório à dignidade da justiça pelo

não comparecimento à audiência de conciliação.

DIREITO PENAL

LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS

(2)

Informativo

comentado

ROUBO

▪ Nos casos em que se aplica a Lei nº 13.654/2018, é possível a valoração do emprego de arma branca, no crime de

roubo, como circunstância judicial desabonadora. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

▪ Para a incidência do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 em caso de sonegação fiscal de tributos federais, é necessário que

o valor da dívida seja igual ou superior a R$ 1 milhão; se a sonegação fiscal for de tributos estaduais ou municipais, deve-se analisar o que define a Fazenda local.

CRIMES DO CÓDIGO DE TRÂNSITO

▪ A causa de aumento prevista no art. 302, § 1º, II, do Código de Trânsito Brasileiro não exige que o agente esteja

trafegando na calçada, sendo suficiente que o ilícito ocorra nesse local.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

TRIBUNAL DO JÚRI

▪ A mera presunção de parcialidade dos jurados do Tribunal do Júri em razão da divulgação dos fatos e da opinião da

mídia é insuficiente para o desaforamento do julgamento para outra comarca. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

▪ O cometimento do crime do art. 28 da Lei de Drogas deve receber o mesmo tratamento que a contravenção penal,

para fins de revogação facultativa da suspensão condicional do processo.

DIREITO ADMINISTRATIVO

AUTOTUTELA

Mesmo depois de terem-se passado mais de 5 anos, a Administração Pública pode anular a

anistia política concedida quando se comprovar a ausência de perseguição política, desde que

respeitado o devido processo legal e assegurada a não devolução das verbas já recebidas

Importante!!!

No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública rever os atos de concessão de anistia a cabos da Aeronáutica com fundamento na Portaria 1.104/1964, quando se comprovar a ausência de ato com motivação exclusivamente política, assegurando-se ao anistiado, em procedimento administrativo, o devido processo legal e a não devolução das verbas já recebidas.

Ex: 2003, João, ex-militar da Aeronáutica, recebeu anistia política, concedida por meio de portaria do Ministro da Justiça. Em 2006, a AGU emitiu nota técnica fazendo alguns questionamentos sobre a forma indevida pela qual estavam sendo concedidas anistias políticas, dentre elas a que foi outorgada a João. Em 2011, o Ministro da Justiça determinou que fossem revistas as concessões de anistia de inúmeros militares, inclusive a de João. Em 2012, foi aberto processo administrativo para examinar a situação de João e, ao final, determinou-se a anulação da anistia política. Mesmo tendo-se passado mais de 5 anos, a anulação do ato foi possível, seja por força da parte final do art. 54 da Lei nº 9.784/99, seja porque o prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente a Constituição Federal.

STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019 (repercussão geral – Tema 839) (Info 956).

(3)

Informativo

comentado

É possível a anulação do ato de anistia pela Administração Pública, evidenciada a violação direta do art. 8º do ADCT, mesmo quando decorrido o prazo decadencial contido na Lei nº 9.784/99.

STJ. 1ª Seção. MS 19.070-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 668).

Anistia política e reparação de natureza econômica

Durante a ditadura militar instalada no Brasil em 1964, diversas pessoas foram vítimas de perseguição política praticada pelo governo federal.

Como exemplo disso, diversos militares que não eram alinhados ao governo foram considerados “subversivos” pelo regime militar e expulsos das Forças Armadas.

A fim de reparar política e economicamente situações como essa e que atingiram milhares de indivíduos na época da ditadura militar, a CF/88 previu, no art. 8º do ADCT, que a União poderá conceder anistia política a pessoas que foram prejudicadas por perseguições decorrentes de motivação política no período de 18/09/1946 até a data de promulgação da Constituição.

Há previsão também de que o anistiado receba uma reparação de natureza econômica, a ser paga pela União, em alguns casos nos quais fique demonstrado que ele sofreu prejuízos em sua atividade laboral. A Lei nº 10.559/2002 regulamentou o art. 8º do ADCT e a concessão dessa reparação econômica para os anistiados. Veja:

Art. 1º O Regime do Anistiado Político compreende os seguintes direitos: I - declaração da condição de anistiado político;

II - reparação econômica, de caráter indenizatório, em prestação única ou em prestação mensal, permanente e continuada, asseguradas a readmissão ou a promoção na inatividade, nas condições estabelecidas no caput e nos §§ 1º e 5º do art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias;

(...)

Art. 3º A reparação econômica de que trata o inciso II do art. 1º desta Lei, nas condições estabelecidas no caput do art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, correrá à conta do Tesouro Nacional.

(...)

Art. 4º A reparação econômica em prestação única consistirá no pagamento de trinta salários mínimos por ano de punição e será devida aos anistiados políticos que não puderem comprovar vínculos com a atividade laboral.

(...)

Art. 5º A reparação econômica em prestação mensal, permanente e continuada, nos termos do art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, será assegurada aos anistiados políticos que comprovarem vínculos com a atividade laboral, à exceção dos que optarem por receber em prestação única.

(...)

Art. 6º O valor da prestação mensal, permanente e continuada, será igual ao da remuneração que o anistiado político receberia se na ativa estivesse, (...)

Breve explicação sobre o procedimento administrativo

Os pedidos de anistia política são analisados pela “Comissão de Anistia”, órgão que tem a finalidade de examinar os requerimentos formulados e assessorar o Ministro de Estado em suas decisões.

Até 2018, a Comissão de Anistia era vinculada ao Ministério da Justiça.

Por força da MP 870/2019, convertida na Lei nº 13.844/2019, a Comissão de Anistia passou a fazer parte da estrutura do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

(4)

Informativo

comentado

A Comissão de Anistia poderá realizar diligências, requerer informações e documentos, ouvir testemunhas e emitir pareceres técnicos com o objetivo de instruir os processos e requerimentos, bem como arbitrar, com base nas provas obtidas, o valor das indenizações nos casos que não for possível identificar o tempo exato de punição do interessado (art. 12, § 3º da Lei nº 10.559/2002).

Após a Comissão de Anistia elaborar o parecer sobre o pedido, este é encaminhado ao Ministro de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que é a autoridade competente para decidir sobre a anistia. Assim, atualmente, caberá ao Ministro de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos decidir a respeito dos requerimentos de anistia (art. 10 da Lei nº 10.559/2002, com redação dada pela Lei nº 13.844/2019).

Se for concedida, a anistia é conferida por meio de Portaria assinada pelo Ministro.

Feita esta breve revisão, vejamos agora a situação concreta enfrentada pelo STF, com algumas adaptações:

Em 1964, João, cabo da Aeronáutica, foi dispensado do serviço militar na década de 1960 por meio da Portaria nº 1.104/1964.

Em 2003, o Ministro da Justiça concedeu a João a anistia reconhecendo a sua condição de perseguido político. Em 2006, a Advocacia-Geral da União emitiu nota técnica (AGU/JD-1/2006) fazendo alguns questionamentos sobre a forma indevida pela qual estavam sendo concedidas anistias políticas, dentre elas a que foi outorgada a João. Segundo esta nota, a Comissão de Anistia estava concedendo o benefício com base apenas em um documento produzido na época do regime militar de exceção, não sendo isso suficiente, considerando que seriam necessárias provas complementares.

Em 2011, o Ministro da Justiça, motivado pela nota técnica editada em 2006, determinou que fossem revistas as portarias de anistia de inúmeros militares, dentre elas a de João.

Em 2012, foi aberto processo administrativo para examinar a situação de João e, ao final, determinou-se a anulação da anistia política que lhe havia sido concedida sob o argumento de que a Portaria nº 1.104/1964, que ensejou a dispensa do cabo, não tinha motivação política.

A Portaria nº 1.104/1964 limitou-se a desligar João da Aeronáutica – assim como inúmeros outros – pelo simples fato de ele ter completado o tempo de serviço militar (8 anos).

O Ministério da Justiça fundamentou seu ato no poder de autotutela.

Autotutela

Segundo o princípio da autotutela (ou poder de autotutela), a Administração tem o poder-dever de controlar seus próprios atos, com a possibilidade de anular aqueles que forem ilegais e revogar os que se mostrarem inconvenientes ou inoportunos, sem precisar recorrer ao Poder Judiciário.

Existem duas súmulas do STF que preveem esse princípio:

Súmula 346-STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.

Súmula 473-STF: A administração pode anular os seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

Mandado de segurança alegando decadência

João não concordou e impetrou mandado de segurança contra o ato de anulação praticado pelo Ministro da Justiça.

No MS, alegou que, entre a data de concessão da anistia (2003) e a data de anulação do ato (2011) já havia se passado mais de 5 anos, tendo havido, portanto, a decadência do direito da Administração Pública de anular o ato, conforme previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99:

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

(5)

Informativo

comentado

Argumentou, ainda, que a portaria interministerial que instaurou procedimento de revisão das anistias não tem o condão de reabrir o prazo decadencial já finalizado.

Defesa da União

A União defendeu que não houve decadência, apresentando, dentre outros, os seguintes argumentos: 1) a nota emitida pela AGU em 2006 estancou o prazo decadencial antes que ele se completasse, de forma que, antes de se passarem cinco anos, a Administração Pública teria agido. A publicação da nota representa medida de autoridade administrativa visando à anulação do ato ilegal, nos termos do § 2º do art. 54 da Lei nº 9.784/99:

Art. 54 (...)

§ 2º Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato.

2) o impetrante agiu de má-fé porque não preenchia os requisitos para receber a anistia, de modo que não se aplica a ele o prazo decadencial de cinco anos, por conta da ressalva contida na parte final do art. 54.

A questão chegou até o STF. O que decidiu a Corte? A Administração Pública agiu corretamente ao anular a anistia política concedida ao impetrante?

SIM. Vamos entender com calma.

Prazo decadencial, excepcionalmente, pode ser suspenso

Em regra, o prazo decadencial não sofre interrupção ou suspensão. Porém, excepcionalmente, o ordenamento jurídico admite a suspensão do prazo decadencial. É o caso da parte final do art. 54 da Lei nº 9.784/99, que autoriza a anulação do ato administrativo consumado em situações de manifesta má-fé: Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

Assim, o decurso do prazo de cinco anos não impede que a Administração Pública faça a revisão de determinado ato, haja vista que a ressalva da parte final do caput do art. 54 da Lei nº 9.784/99 autoriza sua anulação a qualquer tempo, uma vez demonstrada a má-fé do beneficiário, no âmbito do procedimento administrativo, assegurado o devido processo.

Limite de prazo de 5 anos não se aplica em caso de ofensa direta à Constituição Federal

Além disso, a jurisprudência do STF construiu a tese de que o prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente a Constituição Federal.

Situações de flagrante inconstitucionalidade não devem ser consolidadas pelo transcurso do prazo decadencial previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99, sob pena de subversão das determinações insertas na Constituição Federal.

Desse modo, não pode haver “usucapião de constitucionalidade”, pois a obrigatoriedade da Constituição deriva de sua vigência. Não é possível entender, portanto, que o tempo derrogue a força obrigatória de seus preceitos por causa de ações omissivas ou comissivas de autoridades públicas.

Se há uma inconstitucionalidade flagrante, a pessoa que está se beneficiando dessa situação não está de boa-fé, já que deveria saber que aquela situação é incompatível com o ordenamento jurídico.

A parte final do art. 54 menciona que esse prazo não se aplica se ficar demonstrada a má-fé do beneficiário. Logo, estando o beneficiário de má-fé (porque a inconstitucionalidade era evidente), a ele não pode ser aplicado o prazo decadencial.

(6)

Informativo

comentado

Portanto, o ato administrativo que declarou o impetrante como anistiado político não é passível de convalidação pelo tempo, dada a sua manifesta inconstitucionalidade, uma vez que viola frontalmente o art. 8º do ADCT.

Notas Técnicas da AGU se enquadram na previsão do § 2º do art. 54

O art. 54, § 2º, da Lei 9.784/99, dispõe que a adoção pela Administração Pública de qualquer medida a questionar o ato se mostra bastante a afastar a decadência:

Art. 54 (...)

§ 2º Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato.

O STF entendeu que as Notas Técnicas da AGU/JD-10/2003 e AGU/JD-1/2006 revelam as iniciativas da Administração Pública no sentido da necessidade de revisão do ato de anistia, constituindo, assim, causa obstativa da alegada decadência.

Comissão de Anistia concedeu de forma generalizada

A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça editou súmula administrativa reconhecendo indiscriminadamente que todos os cabos da Aeronáutica que houvessem sido licenciados pela implementação do tempo de serviço militar (8 anos) seriam anistiados por ato de natureza exclusivamente política, sendo este o único fundamento para o enquadramento na situação do art. 8º do ADCT.

Essa interpretação dada pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça acabou presumindo que houve motivação política na Portaria 1.104/1964, implicando em números impressionantes de concessão de anistia política para ex-integrantes da Aeronáutica.

No procedimento de revisão realizado por Grupo de Trabalho Interministerial observou-se que não houve qualquer fato que indique que tenha havido punição ou perseguição por motivação política ao impetrante, em conformidade com o exigido no art. 17 da Lei 10.559/2002 para a anulação do ato:

Art. 17. Comprovando-se a falsidade dos motivos que ensejaram a declaração da condição de anistiado político ou os benefícios e direitos assegurados por esta Lei será o ato respectivo tornado nulo pelo Ministro de Estado da Justiça, em procedimento em que se assegurará a plenitude do direito de defesa, ficando ao favorecido o encargo de ressarcir a Fazenda Nacional pelas verbas que houver recebido indevidamente, sem prejuízo de outras sanções de caráter administrativo e penal.

Assim, a Portaria nº 1.104/1964, por si, não constitui ato de exceção (ato de perseguição política da ditadura), sendo necessária a comprovação, caso a caso, da ocorrência de motivação político-ideológica para o ato de exclusão das Forças Armadas e consequente concessão de anistia política.

Ato de concessão viola a Constituição Federal

O STF concluiu, portanto, que o ato de concessão das anistias violou a ordem constitucional, pois não se amolda ao art. 8º do ADCT.

O art. 8º do ADCT exige que o militar tenha sido afastado por motivação estritamente política, não podendo receber anistia o militar licenciado pelo mero decurso do tempo, como foi o caso de João. A anistia prevista no art. 8º do ADCT não alcança os militares expulsos com base em legislação disciplinar ordinária, ainda que em virtude de atos praticados por motivação política. Nesse sentido:

Súmula 674-STF: A anistia prevista no art. 8º do ADCT não alcança os militares expulsos com base em legislação disciplinar ordinária, ainda que em razão de atos praticados por motivação política.

Embora o verbete se refira às situações de expulsão, sua razão de decidir alcança, igualmente, os militares que foram licenciados das Forças Armadas por implemento do tempo de serviço.

(7)

Informativo

comentado

Autotutela não viola segurança jurídica nem direito líquido e certo

O poder-dever de autotutela autoriza a Administração a proceder a revisão da condição de anistiado político, não havendo que se falar em desrespeito ao princípio da segurança jurídica ou a direito líquido e certo.

Não devolução dos valores já recebidos

Vale ressaltar que o anistiado político recebe uma reparação econômica mensal, permanente e continuada.

Desse modo, João recebeu, de 2003 a 2012, valores na condição de anistiado político.

Apesar de o ato de concessão ter sido anulado, o STF entendeu que João não precisaria devolver as verbas já recebidas.

Em suma:

No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública rever os atos de concessão de anistia a cabos da Aeronáutica com fundamento na Portaria nº 1.104/1964, quando se comprovar a ausência de ato com motivação exclusivamente política, assegurando-se ao anistiado, em procedimento administrativo, o devido processo legal e a não devolução das verbas já recebidas.

STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019 (repercussão geral – Tema 839) (Info 956).

O STJ seguindo a orientação do STF, também definiu que:

É possível a anulação do ato de anistia pela Administração Pública, evidenciada a violação direta do art. 8º do ADCT, mesmo quando decorrido o prazo decadencial contido na Lei nº 9.784/99.

STJ. 1ª Seção. MS 19.070-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 668).

CONCURSO PÚBLICO

O prazo para se questionar a preterição de nomeação de candidato em concurso público é de 5

anos, contado da data em que o outro servidor foi nomeado no lugar do aprovado

Nos casos de preterição de candidato na nomeação em concurso público, o termo inicial do prazo prescricional quinquenal recai na data em que foi nomeado outro servidor no lugar do aprovado no certame.

STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1.643.048-GO, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 05/03/2020 (Info 668).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João foi aprovado em 2º lugar em concurso público para o concurso de técnico em informática de um órgão da Administração Pública federal.

O edital previa justamente 2 vagas.

Ocorre que, em 30/5/2016, este órgão da Administração Pública federal publicou um edital dizendo que das 2 vagas que haviam sido oferecidas no concurso, uma delas seria destinada aos aprovados no certame e a outra seria preenchida por meio de remoção decorrente de outras regiões do país. Em outras palavras, este edital retificou a quantidade de vagas oferecidas no concurso.

Em 30/6/2017, a Administração Pública nomeou o candidato aprovado em 1º lugar no concurso.

No dia 30/07/2017, nomeou para a 2ª vaga, Luísa, vencedora da remoção interna. Isso significa que João ficou sem a sua vaga, tendo sido preterido.

(8)

Informativo

comentado

No dia 30/08/2017, João ajuizou ação ordinária contra a União alegando que houve violação da ordem de classificação do concurso.

A União arguiu a prescrição afirmando que:

• o prazo prescricional para essa pretensão seria de 1 ano, nos termos do art. 1º da Lei nº 7.144/83: Art. 1º Prescreve em 1 (um) ano, a contar da data em que for publicada a homologação do resultado final, o direito de ação contra quaisquer atos relativos a concursos para provimento de cargos e empregos na Administração Federal Direta e nas Autarquias Federais.

• o termo inicial deste prazo seria a data de publicação do edital de retificação das vagas, em 30/05/2016. • logo, quando o autor propôs a ação em 30/07/2017, já tinha havido a prescrição.

A tese da União foi acolhida pelo STJ?

NÃO.

Não se aplica a Lei nº 7.144/83, mas sim o Decreto 20.910/1932

Em primeiro lugar, cumpre esclarecer que as normas da Lei nº 7.144/83 aplicam-se apenas a atos relacionados com o concurso público em si, não incidindo no caso de preterição do direito público subjetivo de nomeação para o candidato aprovado e classificado dentro do número de vagas ofertadas no edital de abertura.

Em caso de preterição do candidato aprovado, o prazo prescricional é de 5 anos, previsto no art. 1º do Decreto 20.910/1932. Nesse sentido:

Não se insurgindo o autor contra o processo seletivo em si, mas contra a negativa da Administração em lhe reconhecer o direito à nomeação, uma vez aprovados em concurso público, há de se aplicar, na hipótese dos autos, a regra da prescrição quinquenal, prevista no art. 1º do Decreto n. 20.910/32. STJ. 1ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 546.939/GO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 14/03/2017.

Desse modo, o prazo é de 5 anos.

Qual é o termo inicial deste prazo?

30/07/2017, data em que foi nomeada outra pessoa no lugar que, em tese, seria do autor.

Havendo preterição de candidato em concurso público, o termo inicial do prazo prescricional recai na data em que foram nomeados outros servidores no lugar dos aprovados na disputa. Isso porque foi neste dia que o direito do autor foi efetivamente violado.

A prescrição é regida pelo princípio da actio nata, sendo certo que o curso do prazo somente tem início com a efetiva lesão do direito tutelado, oportunidade em que nasce a pretensão a ser deduzida em juízo, caso resistida.

STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1279735/RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 21/06/2018.

Assim, considerando que o prazo é de 5 anos, que ele se iniciou em 30/07/2017 e que a ação foi proposta em 30/08/2017, conclui-se que não houve prescrição.

Em suma:

Nos casos de preterição de candidato na nomeação em concurso público, o termo inicial do prazo prescricional quinquenal recai na data em que foi nomeado outro servidor no lugar do aprovado no certame.

(9)

Informativo

comentado

INFRAÇÕES DE TRÂNSITO

É obrigatória a comprovação do envio da notificação da autuação e da imposição da penalidade

de trânsito, mas não se exige que sejam acompanhadas de aviso de recebimento

No processo administrativo para imposição de multa de trânsito, são necessárias as notificações da autuação e da aplicação da pena decorrente da infração. Tais notificações, se feitas por remessa postal, não precisam ser acompanhadas de aviso de recebimento (AR). Não há essa exigência no Código de Trânsito Brasileiro nem nas Resoluções do CONTRAN.

STJ. 1ª Seção. PUIL 372-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 11/03/2020 (Info 668).

O que acontece caso um condutor pratique infração de trânsito?

A autoridade deverá fazer a autuação, ou seja, deverá lavrar um auto de infração, conforme determina o art. 280 do Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/97):

Art. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito, lavrar-se-á auto de infração, do qual constará:

I - tipificação da infração;

II - local, data e hora do cometimento da infração;

III - caracteres da placa de identificação do veículo, sua marca e espécie, e outros elementos julgados necessários à sua identificação;

IV - o prontuário do condutor, sempre que possível;

V - identificação do órgão ou entidade e da autoridade ou agente autuador ou equipamento que comprovar a infração;

VI - assinatura do infrator, sempre que possível, valendo esta como notificação do cometimento da infração.

§ 1º (VETADO)

§ 2º A infração deverá ser comprovada por declaração da autoridade ou do agente da autoridade de trânsito, por aparelho eletrônico ou por equipamento audiovisual, reações químicas ou qualquer outro meio tecnologicamente disponível, previamente regulamentado pelo CONTRAN. § 3º Não sendo possível a autuação em flagrante, o agente de trânsito relatará o fato à autoridade no próprio auto de infração, informando os dados a respeito do veículo, além dos constantes nos incisos I, II e III, para o procedimento previsto no artigo seguinte.

§ 4º O agente da autoridade de trânsito competente para lavrar o auto de infração poderá ser servidor civil, estatutário ou celetista ou, ainda, policial militar designado pela autoridade de trânsito com jurisdição sobre a via no âmbito de sua competência.

O condutor infrator precisa ser notificado (avisado) de que foi autuado?

SIM, obviamente.

Como é feita essa notificação?

Depende:

a) se houve autuação em flagrante, o agente da autoridade de trânsito coleta a assinatura do infrator no momento e isso já vale como notificação do cometimento da infração;

b) não havendo autuação em flagrante (ex: excesso de velocidade constatado por radar), o órgão de trânsito deverá encaminhar uma notificação para o infrator no prazo de até 30 dias.

O que acontece após a notificação?

Inicia-se o prazo para que o infrator apresente defesa prévia questionando a autuação. Por isso, é conhecida na prática como “defesa da autuação”.

(10)

Informativo

comentado

Com ou sem essa defesa prévia, a autoridade de trânsito irá julgar se o auto de infração foi consistente e, caso tenha consistência, aplicará a penalidade cabível (art. 281 do CTB).

Depois que aplicada a penalidade, o infrator deverá ser novamente notificado?

SIM. Isso está expressamente previsto no art. 282 do CTB:

Art. 282. Aplicada a penalidade, será expedida notificação ao proprietário do veículo ou ao infrator, por remessa postal ou por qualquer outro meio tecnológico hábil, que assegure a ciência da imposição da penalidade.

§ 1º A notificação devolvida por desatualização do endereço do proprietário do veículo será considerada válida para todos os efeitos.

(...)

§ 3º Sempre que a penalidade de multa for imposta a condutor, à exceção daquela de que trata o § 1º do art. 259, a notificação será encaminhada ao proprietário do veículo, responsável pelo seu pagamento.

Obs: após ser notificado de que foi aplicada a penalidade, o infrator ainda terá um prazo de 30 dias para apresentar recurso (art. 282, § 4º do CTB) a JARI – Junta Administrativa de Recursos de Infrações.

Duas notificações

Repare, portanto, que falamos aqui em duas notificações: 1) Notificação da autuação;

2) Notificação da imposição da penalidade de trânsito.

Em observância ao princípio insculpido no art. 5º, LV, da Constituição Federal, o CTB determina que, constatada a infração de trânsito, a autoridade competente deve expedir duas notificações a fim de assegurar ao administrado o exercício do contraditório e da ampla defesa, sendo a primeira referente ao cometimento da infração e, a segunda, relativa à penalidade aplicada.

A necessidade da dupla notificação encontra-se pacificada há muito tempo no STJ:

Súmula 312-STJ: No processo administrativo para imposição de multa de trânsito, são necessárias as notificações da autuação e da aplicação da pena decorrente da infração.

Essas notificações são feitas obrigatoriamente via remessa postal (Correios)?

NÃO. A notificação pode ser feita “por remessa postal ou por qualquer outro meio tecnológico hábil, que assegure a ciência da imposição da penalidade” (art. 282).

Veja o que diz o art. 282-A, incluído pela Lei nº 13.281/2016:

Art. 282-A. O proprietário do veículo ou o condutor autuado poderá optar por ser notificado por meio eletrônico se o órgão do Sistema Nacional de Trânsito responsável pela autuação oferecer essa opção.

§ 1º O proprietário ou o condutor autuado que optar pela notificação por meio eletrônico deverá manter seu cadastro atualizado no órgão executivo de trânsito do Estado ou do Distrito Federal. § 2º Na hipótese de notificação por meio eletrônico, o proprietário ou o condutor autuado será considerado notificado 30 (trinta) dias após a inclusão da informação no sistema eletrônico. § 3º O sistema previsto no caput será certificado digitalmente, atendidos os requisitos de autenticidade, integridade, validade jurídica e interoperabilidade da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil).

Caso a notificação ocorra por remessa postal, será necessário que a correspondência enviada seja acompanhada de aviso de recebimento (AR)?

(11)

Informativo

comentado

O Código de Trânsito Brasileiro em nenhum momento impõe que as notificações sejam realizadas mediante carta com aviso de recebimento. Isso também não consta na Resolução 619/2016, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que regulamenta os procedimentos para aplicação das multas por infrações.

O que se exige é apenas a efetiva ciência por parte do infrator do conteúdo das notificações.

Por que não é necessário o AR?

Porque o CTB não exigiu.

O CTB afirma que é válida a notificação por remessa postal, sem explicitar a forma de sua realização. Logo, não se pode impor à administração pública uma obrigação (AR) que não foi prevista em lei, ou, sequer, em ato normativo infralegal (resolução), sob pena de ofensa aos princípios da legalidade e da separação dos poderes.

Seria possível invocar a aplicação do art. 26, § 3º da Lei nº 9.784/99 (Lei do Processo Administrativo federal)?

NÃO. Veja o que diz o art. 26, § 3º da Lei nº 9.784/99: Art. 26 (...)

§ 3º A intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por via postal com aviso de recebimento, por telegrama ou outro meio que assegure a certeza da ciência do interessado. Esse dispositivo não serve para obrigar o AR na notificação de trânsito por duas razões:

• o rol de intimações estabelecido no art. 26, § 3º, da Lei nº 9.784/99 é meramente exemplificativo; • a própria Lei nº 9.784/99 afirma, em seu art. 69, que “os processos administrativos específicos continuarão a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente os preceitos desta Lei”.

Em suma:

É obrigatória a comprovação do envio da notificação da autuação e da imposição da penalidade de trânsito, mas não se exige que sejam acompanhadas de aviso de recebimento.

STJ. 1ª Seção. PUIL 372-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 11/03/2020 (Info 668).

O envio da notificação, por carta simples ou registrada, satisfaz a formalidade legal, assim não há que se falar em ofensa ao contraditório e à ampla defesa no âmbito do processo administrativo, até porque, se houver falha nas notificações, o art. 28 da Resolução nº 619/2016 do Contran prevê que “a autoridade de trânsito poderá refazer o ato, observados os prazos prescricionais”.

DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR

Se a mulher passar a conviver com alguém em união estável após a morte do ex-combatente, ela

perde a condição de viúva (art. 2º, V, da Lei nº 8.059/90) e, portanto, não terá mais direito à pensão

A definição de viuvez do art. 2º, V, da Lei nº 8.059/90 contempla a viúva de militar que passa a conviver em união estável, após a óbito do beneficiário, mesmo sem contrair novas núpcias, porquanto já constituída instituição familiar equiparável ao casamento.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.386.713-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/03/2020 (Info 668).

Pensão especial de ex-combatente

As pessoas que tenham participado de operações bélicas durante a Segunda Guerra Mundial, assim como seus dependentes, possuem direito a uma pensão especial prevista no art. 53, II e III, do ADCT da CF/88 e na Lei nº 8.059/90.

(12)

Informativo

comentado

Quem é responsável pelo processamento e pagamento da pensão? O INSS?

NÃO. A competência é do Ministério Militar ao qual esteve vinculado o ex-combatente durante a Segunda Guerra Mundial (art. 12).

Por essa razão, essa pensão não é considerada um benefício previdenciário.

Quem recebe a pensão?

A pensão especial é devida ao ex-combatente. Quando ele morre, a pensão é revertida para os seus dependentes (art. 6º da Lei).

Quem são os dependentes do ex-combatente?

A Lei nº 8.059/90 prevê um rol de dependentes:

Art. 5º Consideram-se dependentes do ex-combatente para fins desta lei: I - a viúva;

II - a companheira;

III - o filho e a filha de qualquer condição, solteiros, menores de 21 anos ou inválidos; IV - o pai e a mãe inválidos; e

V - o irmão e a irmã, solteiros, menores de 21 anos ou inválidos.

Parágrafo único. Os dependentes de que tratam os incisos IV e V só terão direito à pensão se viviam sob a dependência econômica do ex-combatente, por ocasião de seu óbito.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:

João foi ex-combatente e, nessa condição, recebia pensão especial.

João faleceu e deixou uma esposa (Regina), que passou a receber a pensão na qualidade de viúva (art. 5º, I, da Lei).

Regina recebeu a pensão durante algum tempo, até que o benefício foi cessado pela Administração Militar, sob o argumento de que, depois do falecimento de João, ela passou a viver em união estável com Ricardo. Logo, ao passar a viver em união estável com outra pessoa, Regina teria perdido a condição de viúva. Vale ressaltar que a Lei nº 8.059/90 confere uma definição de viúva nos seguintes termos:

Art. 2º Para os efeitos desta lei, considera-se: (...)

V - viúva a mulher com quem o ex-combatente estava casado quando falecera, e que não voltou a casar-se;

Regina não concordou e ajuizou ação na qual alega que não voltou a se casar, de forma que continua se amoldando na definição de viúva do art. 2º, V, da Lei.

Para o STJ, quem tem razão: Regina ou a Administração Militar?

A Administração Militar.

Em atenção ao princípio da isonomia, o art. 226, § 3º da Constituição Federal reconheceu a união estável como entidade familiar e estabeleceu que não pode haver discriminação dos companheiros em relação aos cônjuges.

Essa previsão constitucional ensejou a modificação legislativa e de interpretação de diversos diplomas que, no rol de dependentes, não previam a figura da companheira.

Como exemplo, podemos citar o art. 50, § 2º, I, da Lei nº 6.880/80 (Estatuto dos Militares) que, em sua redação original, antes daquela conferida pela Lei nº 13.954/2019, não previa a companheira como dependente do militar. Mesmo assim, a jurisprudência reconhecia, com base no dispositivo constitucional, que a companheira tinha os mesmos direitos da esposa:

(13)

Informativo

comentado

(...) 4. A discussão dos autos, em verdade, cinge-se em estabelecer se a ex-companheira, que recebe alimentos, teria o direito à pensão por morte de Militar, ainda que a expressa previsão legal só assegure tal garantia à ex-esposa que percebe alimentos.

(...)

6. Esta Corte, em consonância com o texto constitucional, reconheceu a união estável como entidade familiar, não podendo haver discriminação dos companheiros em relação aos cônjuges. Assim, o direito reconhecido à ex-esposa é também devido à ex-companheira, que, após a separação, percebia mensalmente pensão alimentícia do falecido.

STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 784.539/ES, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 07/10/2019. A interpretação expansiva baseada na isonomia de que trata o art. 226, § 3º da CF/88 vale tanto para o bônus como para o ônus.

Assim, se por um lado, não se pode deixar de incluir a união estável no momento da concessão dos benefícios, por outro, não se pode conferir um tratamento mais vantajosa à companheira do que à pessoa que decide se casar.

Desse modo, a partir do momento em que a autora passou conviver em união estável com outra pessoa, deixou de atender ao requisito legal para a percepção da pensão, na condição de viúva, embora a dicção legal não se refira, especificamente, à união estável como óbice, mas apenas o novo casamento.

Em suma:

O art. 5º, I, da Lei nº 8.059/90 prevê que a viúva do ex-combatente terá direito à pensão especial na condição de dependente.

O art. 2º, V, por sua vez, estabelece que somente pode ser considerada viúva “a mulher com quem o ex-combatente estava casado quando falecera, e que não voltou a casar-se”. Assim, se a mulher voltar a se casar depois da morte do ex-combatente, ela perde a condição de viúva e deixa de receber a pensão. A despeito de o art. 2º, V, não falar em união estável, entende-se que se a viúva passar a conviver com alguém em união estável, ela perde a condição de viúva e, portanto, não terá mais direito à pensão. Nas palavras do STJ: “A definição de viuvez do art. 2º, V, da Lei nº 8.059/90 contempla a viúva de militar que passa a conviver em união estável, após a óbito do beneficiário, mesmo sem contrair novas núpcias, porquanto já constituída instituição familiar equiparável ao casamento.”

STJ. 1ª Turma. REsp 1.386.713-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/03/2020 (Info 668).

DIREITO DO CONSUMIDOR

PLANO DE SAÚDE

Competência para julgar demandas entre usuário e operadora de plano de saúde

Tema polêmico!

Complemente os informativos 620 e 627 STJ

Compete à Justiça comum julgar as demandas relativas a plano de saúde de autogestão empresarial, exceto quando o benefício for instituído em contrato de trabalho, convenção ou acordo coletivo, hipótese em que a competência será da Justiça do Trabalho, ainda que figure como parte trabalhador aposentado ou dependente do trabalhador.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.799.343-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/03/2020 (Tema IAC 5) (Info 668).

(14)

Informativo

comentado

Vale ressaltar, contudo, que temos aqui uma “polêmica”. No mesmo dia, na mesma sessão de julgamento, a 2ª Seção apreciou o CC 165.863-SP no qual foram redigidas teses aparentemente contraditórias com as do REsp 1.799.343-SP. Compare:

Compete à Justiça comum o julgamento das demandas entre usuário e operadora de plano de saúde, sendo irrelevante a existência de norma acerca da assistência à saúde em contrato de trabalho, acordo ou convenção coletiva.

Para a definição da competência do julgamento das demandas entre usuário e operadora de plano de saúde, é irrelevante a distinção entre trabalhador ativo, aposentado ou dependente do trabalhador.

STJ. 2ª Seção. CC 165.863-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/03/2020 (Tema IAC 5) (Info 667).

Foram opostos embargos de declaração nos dois processos, de forma que o tema deverá ser esclarecido em breve. Penso, contudo, que irá prevalecer a redação da tese fixada no REsp 1.799.343-SP porque reflete o entendimento presentes em outros julgados do STJ.

No presente julgado, o STJ discutiu qual é a “justiça” competente para julgamento de ações relacionadas com contrato de plano de saúde que é assegurado ao usuário por força contrato de trabalho, acordo ou convenção coletiva. Seria competência da Justiça do Trabalho ou da Justiça Comum?

Vamos verificar.

Plano de saúde de autogestão

Para entendermos o julgado, é necessário inicialmente aprendermos o que é um plano de saúde de autogestão.

Planos de saúde de autogestão (também chamados de planos fechados de saúde) são criados por órgãos, entidades ou empresas para beneficiar um grupo restrito de filiados com a prestação de serviços de saúde. Tais planos são mantidos por instituições sem fins lucrativos e administrados paritariamente, de forma que, no seu conselho deliberativo ou de administração, há representantes do órgão ou empresa instituidora e também dos associados ou usuários.

O objetivo desses planos fechados é baratear para os usuários o custo dos serviços de saúde, tendo em vista que não visam ao lucro.

Exemplo: CASSI (Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil); Fundação Saúde Itaú. Segundo a Resolução Normativa 137, da ANS, de 14/11/2006, a operadora de autogestão é...

(...) a pessoa jurídica de direito público ou privado que, diretamente ou por intermédio de entidade pública ou privada patrocinadora, instituidora ou mantenedora, administra plano coletivo de assistência à saúde destinado exclusivamente a pessoas (e seus dependentes) a ela ligadas por vínculo jurídico ou estatutário, ou aos participantes (e seus dependentes) de associações, fundações, sindicatos e entidades de classes, nos termos dos incisos I, II e III e § 2º, do art. 2º.

A principal característica das entidades de autogestão que operam planos de saúde é constituir-se em um sistema fechado sem a finalidade lucrativa, ou seja, os planos por elas administrados não são oferecidos ao mercado de consumo em geral, mas apenas a grupos restritos. É por isso que não se aplica, nesses contratos, o Código de Defesa do Consumidor.

A ANS, ao regulamentar as entidades de autogestão no âmbito do sistema de Saúde Suplementar, enumerou três tipos:

a) a autogestão empresarial (ou da própria empresa);

b) a autogestão instituída ou patrocinada (há as figuras do instituidor, mantenedor e patrocinador); c) as autogestões associativas ou fundacionais de categorias profissionais.

(15)

Informativo

comentado

Imagine agora a seguinte situação hipotética:

João era empregado do Banco do Brasil e possuía plano de saúde coletivo oferecido aos funcionários da instituição.

Vale ressaltar que se tratava de plano de saúde de autogestão.

No ano de 2010, João foi demitido sem justa causa e pediu para continuar no plano de saúde com as mesmas condições de cobertura assistencial que gozava, pagando as mensalidades.

O plano de saúde recusou o pedido.

Diante disso, João ingressou com ação requerendo a permanência no plano de saúde, com base no art. 30 da Lei nº 9.656/98 (Lei que trata sobre os planos de saúde):

Art. 30. Ao consumidor que contribuir para produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, em decorrência de vínculo empregatício, no caso de rescisão ou exoneração do contrato de trabalho sem justa causa, é assegurado o direito de manter sua condição de beneficiário, nas mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral.

Surgiu, no entanto, uma dúvida sobre a competência. De quem será a competência para julgar a presente ação: Justiça Comum ou Justiça do Trabalho?

Justiça Comum.

Compete à Justiça Comum Estadual o exame e o julgamento de feito que discute direitos de ex-empregado aposentado ou demitido sem justa causa de permanecer em plano de saúde coletivo oferecido pela própria empresa empregadora aos trabalhadores ativos, na modalidade de autogestão.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.695.986-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/02/2018 (Info 620). Compete à Justiça Comum Estadual o julgamento de demanda com natureza predominantemente civil entre ex-empregado aposentado ou demitido sem justa causa e operadoras de plano de saúde na modalidade autogestão vinculadas ao empregador.

STJ. 2ª Seção. CC 157.664-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/05/2018 (Info 627).

Relação do usuário com o plano de saúde é autônoma da relação de emprego

A relação jurídica mantida entre o usuário do plano de saúde e a entidade de autogestão não é apenas uma derivação da relação de emprego.

Plano de saúde não é considerado salário

O próprio art. 458, § 2º, IV, da CLT, incluído pela Lei nº 10.243/2001, é expresso em dispor que a assistência médica, hospitalar e odontológica concedida pelo empregador, seja diretamente ou mediante seguro-saúde, não será considerada como salário. Isso porque o plano de saúde fornecido pela empresa empregadora, mesmo a título gratuito, não possui natureza retributiva, não constituindo salário-utilidade (salário in natura), sobretudo por não ser contraprestação ao trabalho.

Ao contrário, referida vantagem apenas possui natureza preventiva e assistencial, sendo uma alternativa às graves deficiências do Sistema Único de Saúde (SUS), obrigação do Estado.

Plano da saúde de autogestão é disciplinado no âmbito do sistema de saúde suplementar

As entidades de autogestão são enquadradas como operadoras de planos de saúde, de modo que são reguladas e fiscalizadas pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).

Caráter civil do litígio

Desse modo, em virtude da autonomia jurídica, as ações originadas de controvérsias entre usuário de plano de saúde coletivo e entidade de autogestão não se adequam ao ramo do Direito do Trabalho,

(16)

Informativo

comentado

tampouco podem ser inseridas em “outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho” (art. 114, IX, da Constituição Federal), sendo, pois, predominante o caráter civil da relação entre os litigantes, mesmo porque, como visto, a assistência médica não integra o contrato de trabalho.

Assim, as ações que discutem abusividade de mensalidades, cobertura de tratamento médico, deficiência de prestação de serviços suplementares de saúde propostas pelos usuários contra as operadoras de plano de saúde, incluídas as autogestões, são de competência da Justiça comum.

Com maior razão, por já ter sido encerrado o seu contrato de trabalho, a pretensão do ex-empregado de manutenção no plano de assistência à saúde fornecido pela ex-empregadora não pode ser vista como simples relação de trabalho.

Dessa forma, conclui-se que a Justiça competente para o exame e julgamento de ação fundada nos arts. 30 e 31 da Lei nº 9.656/98, que discute direitos de ex-empregado aposentado ou demitido sem justa causa de permanecer em plano de saúde coletivo oferecido pela própria empresa empregadora aos trabalhadores ativos, na modalidade de autogestão, é a Justiça Comum estadual, visto que a causa de pedir e o pedido se originam de relação autônoma nascida com a operadora de plano de saúde, a qual possui natureza eminentemente civil, envolvendo tão somente de maneira indireta os aspectos da relação de trabalho.

A competência será da Justiça Comum mesmo que o usuário que ingressou com ação contra o plano ainda seja trabalhador ativo?

SIM. A competência será da Justiça comum não importando se o autor da ação contra o plano é trabalhador ativo ou inativo (aposentado). Vale ressaltar que, mesmo se a ação foi proposta pelo dependente do trabalhador, ainda assim a competência será da Justiça Comum.

Existe alguma exceção? Existe alguma hipótese na qual a ação proposta pelo usuário contra o plano de saúde de autogestão será de competência da Justiça do Trabalho?

SIM.

A demanda será de competência da Justiça do Trabalho se o plano de saúde é de autogestão empresarial e foi instituído em contrato de trabalho, convenção ou acordo coletivo.

Exemplo dessa exceção: Programa de Assistência Multidisciplinar de Saúde (AMS), operado pela PETROBRAS S/A e disciplinado em acordo coletivo de trabalho. Nesse sentido:

As ações relacionadas ao Programa Multidisciplinar à Saúde mantida pela Petrobrás são de competência da Justiça do Trabalho, porquanto disciplinado por Convenção Coletiva de Trabalho e normas internas empresariais vinculadas ao contrato de trabalho, sem discussão acerca da aplicação da legislação civil relacionada aos planos de saúde.

STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 1.315.336/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/02/2019.

Em suma:

Compete à Justiça comum julgar as demandas relativas a plano de saúde de autogestão empresarial, exceto quando o benefício for instituído em contrato de trabalho, convenção ou acordo coletivo, hipótese em que a competência será da Justiça do Trabalho, ainda que figure como parte trabalhador aposentado ou dependente do trabalhador.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.799.343-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/03/2020 (Tema IAC 5) (Info 668).

Vale ressaltar, contudo, que temos aqui uma “polêmica”.

No mesmo dia, na mesma sessão de julgamento, a 2ª Seção apreciou o CC 165.863-SP no qual foram redigidas teses aparentemente contraditórias com as do REsp 1.799.343-SP. Compare:

(17)

Informativo

comentado

CC 165.863-SP (Info 667) REsp 1.799.343-SP (Info 668) Compete à Justiça comum o julgamento das demandas entre

usuário e operadora de plano de saúde, sendo irrelevante a existência de norma acerca da assistência à saúde em contrato de trabalho, acordo ou convenção coletiva.

Para a definição da competência do julgamento das demandas entre usuário e operadora de plano de saúde, é irrelevante a distinção entre trabalhador ativo, aposentado ou dependente do trabalhador.

Compete à Justiça comum o julgamento das demandas entre usuário e operadora de plano de saúde, exceto quando o plano é organizado na modalidade autogestão empresarial, sendo operado pela própria empresa contratante do trabalhador, hipótese em que a competência é da Justiça do Trabalho.

STJ. 2ª Seção. CC 165.863-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/03/2020 (Tema IAC 5) (Info 667).

Compete à Justiça comum julgar as demandas relativas a plano de saúde de autogestão empresarial, exceto quando o benefício for instituído em contrato de trabalho, convenção ou acordo coletivo, hipótese em que a competência será da Justiça do Trabalho, ainda que figure como parte trabalhador aposentado ou dependente do trabalhador.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.799.343-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/03/2020 (Tema IAC 5) (Info 668).

A tese oficial que constou na ementa do CC 165.863 ficou assim redigida:

(...) 2.1. Compete à Justiça comum o julgamento das demandas entre usuário e operadora plano de saúde, exceto quando o plano é organizado na modalidade autogestão empresarial, sendo operado pela própria empresa contratante do trabalhador, hipótese em que competência é da Justiça do Trabalho.

2.2. Irrelevância, para os fins da tese 2.1, da existência de norma acerca da assistência à saúde em contrato de trabalho, acordo ou convenção coletiva.

2.3. Aplicabilidade da tese 2.1 também para as demandas em que figure como parte trabalhador aposentado ou dependente do trabalhador. (...)

E agora?

Foram opostos embargos de declaração nos dois processos, de forma que o tema deverá ser esclarecido em breve. Penso, contudo, que irá prevalecer a redação da tese fixada no REsp 1.799.343-SP porque reflete o entendimento presentes em outros julgados do STJ.

ECA

INTERNAÇÃO

É legal a internação de adolescente gestante ou com o filho em amamentação, desde que

assegurada atenção integral à sua saúde, bem como as condições necessárias para que

permaneça com seu filho durante o período de amamentação

Não há impeditivo legal para a internação de adolescente gestante ou com filho em amamentação, desde que seja garantida atenção integral à saúde do adolescente, além de asseguradas as condições necessárias para que a adolescente submetida à execução de medida socioeducativa de privação de liberdade permaneça com o seu filho durante o período de amamentação (arts. 60 e 63, § 2º da Lei nº 12.594/12 - SINASE).

STJ. 5ª Turma. HC 543.279-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/03/2020 (Info 668).

Imagine a seguinte situação hipotética:

Uma adolescente de 16 anos foi representada pela prática do ato infracional análogo ao crime de homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I e IV, do Código Penal).

(18)

Informativo

comentado

A sentença julgou procedente a representação e fixou a medida socioeducativa de internação.

A defesa impetrou habeas corpus afirmando que a adolescente está gestante e que, portanto, não poderia ficar internada.

Afirmou que o Código de Processo Penal assegura às rés grávidas o direito à prisão domiciliar, de modo que uma adolescente não pode receber tratamento mais gravoso que uma pessoa adulta. Logo, seria ilegal a internação.

A tese da defesa foi acolhida pelo STF?

NÃO.

Internação

A medida socioeducativa de internação somente pode ser aplicada nas hipóteses legais arroladas no art. 122 do ECA:

Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:

I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;

III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. Esse rol é taxativo, não permitindo ao julgador nenhuma interpretação extensiva.

O caso concreto se amolda ao inciso I do art. 122 do ECA

Diante da prática de ato infracional equiparado ao crime de homicídio duplamente qualificado, que traduz gravíssima e irremediável violência contra pessoa, está autorizada a aplicação da medida socioeducativa de internação, nos termos do art. 122, I, do ECA

Lei do SINASE não proíbe internação de adolescentes grávidas

Não há impeditivo legal para a internação de adolescente gestante ou com filho em amamentação, desde que seja garantida atenção integral à saúde do adolescente, além de asseguradas as condições necessárias para que a adolescente submetida à execução de medida socioeducativa de privação de liberdade permaneça com o seu filho durante o período de amamentação (art. 60 e § 2º do art. 63 da Lei nº 12.594/2012 – Lei do SINASE).

Lei de Execução Penal e Estatuto da Primeira Infância

Com a edição da Lei nº 13.257/2016 (Estatuto da Primeira Infância), houve alteração no CPP e o rol de hipóteses em que é permitida a inserção da mãe em um regime de prisão domiciliar foi ampliado, ficando evidente o compromisso do legislador com a proteção da criança e seu desenvolvimento nos primeiros anos de vida.

A Lei nº 13.769/2018 também tratou sobre o tema. Veja a atual redação do CPP:

Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for: (...)

IV - gestante;

V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos; (Redação dada pela Lei nº 13.257/2016)

Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que:

I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa; II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente. (artigo incluído pela Lei nº 13.769/2018).

(19)

Informativo

comentado

No caso concreto, a adolescente praticou o ato infracional com emprego de violência contra pessoa, de forma que incide na hipótese do inciso I do art. 318-A do CPP na qual não se concederá prisão domiciliar.

Em suma:

Não há impeditivo legal para a internação de adolescente gestante ou com filho em amamentação, desde que seja garantida atenção integral à saúde do adolescente, além de asseguradas as condições necessárias para que a adolescente submetida à execução de medida socioeducativa de privação de liberdade permaneça com o seu filho durante o período de amamentação (arts. 60 e 63, § 2º da Lei nº 12.594/12 - SINASE).

STJ. 5ª Turma. HC 543.279/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/03/2020.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

SUSPEIÇÃO

A falha procedimental consubstanciada na publicação antecipada de resultado

de julgamento que havia sido adiado não gera suspeição do relator

A falha procedimental consubstanciada na publicação antecipada de resultado de julgamento que havia sido adiado não gera suspeição do relator.

Essa falha não se enquadra em nenhuma das hipóteses taxativas de suspeição previstas no art. 135 do CPC.

As hipóteses taxativas de cabimento da exceção devem ser interpretadas de forma restritiva, sob pena de comprometimento da independência funcional assegurada ao magistrado no desempenho de suas funções.

STJ. 2ª Seção. AgInt na ExSusp 198-PE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/03/2020 (Info 668).

Imagine a seguinte situação adaptada:

A empresa MPG interpôs agravo interno dirigido para a 3ª Turma do STJ. O relator do agravo é o Min. Ricardo Villas Bôas Cueva.

A sessão de julgamento foi marcada para o dia 02/04.

Ocorre que não foi possível realizar o julgamento nesta data, razão pela qual ele foi adiado para 14/04. Deveria ter sido publicada a certidão de adiamento da sessão.

Ocorre que, por uma falha procedimental, foi publicado o resultado do julgamento do agravo interno, constando a informação de que o julgamento já teria sido realizado e que o recurso teria sido improvido, por unanimidade pela 3ª Turma.

Diante disso, a empresa recorrente ingressou com exceção de suspeição alegando que ocorreu parcialidade na condução do processo, ao argumento de que houve publicação antecipada de resultado do julgamento do agravo interno por ela interposto, a despeito do adiamento de seu julgamento. A empresa estende o pedido de exceção a toda a 3ª Turma, uma vez que o julgamento publicado resultaria da manifestação de todos os seus membros.

A 2ª Seção do STJ acolheu a exceção de suspeição?

NÃO.

Hipóteses taxativas

A exceção de suspeição somente é admitida nas hipóteses taxativamente previstas no art. 145 do CPC/2015:

(20)

Informativo

comentado

Art. 145. Há suspeição do juiz:

I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;

II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio;

III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive;

IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes.

No caso, a excipiente não indicou nenhuma situação fática que, ao menos, se aproximasse das hipóteses legais de suspeição. Suas alegações demonstram tão somente a ocorrência de falha procedimental, que, acaso confirmada, rende ensejo à cassação do acórdão proferido de forma viciada. Contudo, esse fim não pode ser alcançado por meio deste incidente processual.

Em verdade, pretende a excipiente utilizar-se da via da exceção de suspeição como sucedâneo recursal, o que é manifestamente inviável ante a total ausência de respaldo legal.

Interpretação restritiva

As hipóteses taxativas de cabimento da exceção devem ser interpretadas de forma restritiva, sob pena de comprometimento da independência funcional assegurada ao magistrado no desempenho de suas funções.

Em suma:

A falha procedimental consubstanciada na publicação antecipada de resultado de julgamento que havia sido adiado não gera suspeição do relator.

STJ. 2ª Seção. AgInt na ExSusp 198-PE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/03/2020 (Info 668).

AGRAVO DE INSTRUMENTO

Não cabe agravo de instrumento contra a decisão que aplica multa por ato atentatório à

dignidade da justiça pelo não comparecimento à audiência de conciliação

A decisão que aplica a multa do art. 334, §8º, do CPC, à parte que deixa de comparecer à audiência de conciliação, sem apresentar justificativa adequada, não pode ser impugnada por agravo de instrumento, não se inserindo na hipótese prevista no art. 1.015, II, do CPC. Tal decisão poderá, no futuro, ser objeto de recurso de apelação, na forma do art. 1.009, §1º, do CPC.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.762.957-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/03/2020 (Info 668).

Multa pelo não comparecimento à audiência de conciliação

As partes possuem o dever processual de comparecer à audiência de conciliação e a ausência injustificada configura ato atentatório à dignidade da justiça, nos termos do § 8º do art. 334 do CPC/2015:

Art. 334 (...)

§ 8º O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado.

(21)

Informativo

comentado

++ (PGM Campinas 2016 FCC) O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é considerado ato de litigância de má-fé, sendo apenado com multa de até cinco por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado. (errado)

Imagine agora a seguinte situação hipotética:

João ajuizou ação contra Pedro.

O juiz designou audiência de conciliação, nos termos do art. 334, caput, do CPC/2015. O réu não compareceu à audiência de conciliação nem apresentou qualquer justificativa.

Diante disso, o juiz considerou a ausência como ato atentatório à dignidade da justiça e fixou, contra Pedro, multa de 1%, nos termos do art. 334, § 8º do CPC.

Inconformado, o réu interpôs agravo de instrumento, afirmando que esse recurso seria possível com base no art. 1.015, II, do CPC:

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: (...)

II - mérito do processo;

Esse recurso será conhecido?

NÃO. Essa decisão que impõe a multa pelo não comparecimento à audiência de conciliação não pode ser considerada como uma decisão interlocutória que verse sobre o mérito do processo (inciso II).

Inciso II do art. 1.015: questões de fundo relacionadas com o pedido das partes

Ao se referir ao “mérito”, no inciso II do art. 1.015 do CPC, o legislador quer tratar das “questões de fundo”, ligadas ao pedido formulado pelas partes e que seriam objeto de resolução quando da prolação da sentença, mas que acabam por ser analisadas antes, na via interlocutória.

São as chamadas “sentenças parciais” ou “julgamento antecipado parcial de mérito”. Assim, o inciso II do art. 1.015 mantém intrínseca relação com o art. 487 do CPC.

Intenção do legislador

O regramento do CPC/2015 a respeito do agravo de instrumento teve por objetivo incrementar a fluidez e celeridade do processo.

Se fosse admitido agravo de instrumento contra a decisão que aplica a multa do art. 334, § 8º, do CPC isso iria contra a intenção de celeridade do legislador, considerando que esse tema seria apreciado imediatamente pelo Tribunal, sendo que tal questão poderia muito bem aguardar e ser analisada oportunamente em sede de eventual apelação.

Não há urgência

Vale ressaltar que não há urgência no enfrentamento dessa decisão, tendo em vista que o §3º do art. 77 do CPC é bastante claro ao prever que a multa somente será inscrita como dívida ativa da União ou do Estado após o trânsito em julgado da decisão que a fixou.

Com isso, o nome da parte somente será inscrito na hipótese de não pagar a multa e não interpor o competente recurso de apelação contra a sentença posteriormente prolatada ou, interpondo, somente quando da prolação da última decisão. Não haveria, portanto, risco de dano irreparável.

Apelação

Deve-se esclarecer, por fim, que essa decisão poderá ser discutida, no futuro, em recurso de apelação, na forma do art. 1.009, § 1º do CPC:

Art. 1.009. Da sentença cabe apelação.

§ 1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.

Referências

Documentos relacionados

O Ministério Público possui legitimidade para promover ação civil pública para tutelar não apenas direitos difusos ou coletivos de consumidores, mas também direitos

SIM. Era necessária a intimação pessoal do executado para fins de constituição do devedor assistido como depositário fiel da penhora realizada por termo nos autos. Logo, não

O direito real de habitação tem caráter gratuito, razão pela qual os herdeiros não podem exigir remuneração do(a) companheiro(a) ou cônjuge sobrevivente pelo fato de estar usando

Alan foi aprovado em 1º lugar no concurso público para Assistente Social Judiciário do TJ/SP. Embora aprovado dentro do número de vagas do edital, o prazo da prorrogação do

▪ Na letra de câmbio não aceita não há obrigação cambial que vincule o sacado e assim, o sacador somente tem ação extracambial contra o sacado não aceitante, cujo

Vale para outros casos de foro por prerrogativa de função. Foi o que decidiu o próprio STF no julgamento do Inq 4703 QO/DF, Rel. Luiz Fux, julgado em 12/06/2018, no qual afirmou que

Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a

Como regra geral, o comodante não pode pedir de volta a coisa emprestada antes de terminar o prazo combinado ou antes do comodatário usar a coisa para a finalidade que motivou