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Espécies de Candida e a condição bucal de pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva

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Espécies de Candida e a condição bucal de pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva

Candida species and oral conditions in patients admitted to intensive care units

RESUMO

Objetivo: avaliar a presença de espécies Candida na cavidade bucal e no tubo orotraqueal de pa- cientes internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), além da prevalência de alterações bucais.

Materiais e Métodos: A condição bucal de 44 indivíduos internados na Santa Casa de Misericórdia de Barretos foi avaliada durante o período de 30 dias consecutivos. Amostras de saburra lingual, do biofilme dental e do tubo orotraqueal foram coletadas em três dias consecutivos após intubação para posterior contagem das unidades formadoras de colônias de Candida spp. (UFC/mL). A identificação das espécies foi feita por meio de utilização do meio de cultura cromogênico. Resultados: Os achados mostraram que as alterações bucais observadas foram: úlceras traumáticas (68,2%), hematoma de lábio e assoalho da boca (6,8%), hiposalivação (84,1%), acúmulo de biofilme (90,9%), saburra lingual (81,8%), ressecamento labial (86,3%), queilite angular (34%) e outras lesões associadas à Candida spp. (27,3%).

Todos os 31 indivíduos intubados apresentaram aumento da colonização por Candida spp. com o tempo de internação, sendo que a saburra lingual apresentou maior número e diversidade de leveduras (UFC/

mLx106) no primeiro dia (2,0) se comparado com a colonização do tubo orotraqueal (0,9) e do biofilme dental (0,6). O tubo orotraqueal apresentou colonização estatisticamente maior no terceiro dia (67,0), se comparado à saburra lingual (9,0) e biofilme dental (4,0). Conclusão: Conclui-se que pacientes interna- dos em UTI apresentam risco elevado de desenvolverem alterações bucais e apresentarem colonização por leveduras do gênero Candida na saburra lingual e no tubo orotraqueal, podendo favorecer o desen- volvimento de pneumonia nosocomial.

Descritores: unidades de terapia intensiva; boca; candida.

ABSTRACT

Objective: to assess the presence of Candida species in the oral cavity and in the endotracheal tube of patients admitted to the Intensive Care Unit (ICU), besides, prevalence of oral alterations. Materials and Methods: The prevalence of oral alterations was verified in forty-four patients admitted to the Santa Casa of the Misericordia of Barretos during the period of 30 days. Samples of tongue coating, dental biofilm and the endotracheal tube were collected on three different days after intubation, for subsequent coun- ting of colonies of Candida spp (CFU/ mL). Species identification was performed by use of chromogenic culture medium. Results: The findings showed that the oral features observed were traumatic ulcers (68.2%), hematoma lip and mouth floor (6.8%), hyposalivation (84.1%), accumulation of biofilm (90.9

%), tongue coating (81.8%), dry lips (86.3%), angular cheilitis (34%) and other lesions associated with Candida spp. (27.3%). All 31 individuals had been intubated showed increased colonization by Candida spp over time. The tongue coating had the greatest number and diversity of Candida yeast (UFC/mLx106) at the first day after intubation (2.0), if compared with endotracheal tube (0.9) and dental biofilm (0.6) colonization. The endotracheal tube had the highest statistically colonization at third day (67.0), if com- pared with tongue coating (9.0) and dental biofilm (4.0). Conclusion: it can conclude that ICU patients have high risk to develop oral abnormalities and colonization by Candida yeasts on the tongue coating and the endotracheal tube, which may favor the development of nosocomial pneumonia.

Descriptors: intensive care units; mouth; candida.

Juliana Rico Pires

Doutorado - Professora Pesquisadora Doutora do curso de mestrado em Ciências Odontológicas do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (Unifeb)

Suélen Matareli

Mestrado - Cirurgiã-Dentista

Raquel Girardi Ferreira Especialista - Cirurgiã-Dentista

Benedicto Egbert Corrêa de Toledo Titular - Professor Titular e Coordenador do curso de mestrado em Ciências Odontológicas do Unifeb

Elizangela Partata Zuza

Doutorado - Professora Pesquisadora Doutora do curso de mestrado em Ciências Odontológicas do Unifeb CEP/Unifeb nº007/09

Autor para correspondência:

Juliana Rico Pires

Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 Jd. Aeroporto – Barretos - SP 14783-226

Brasil

juricopires@yahoo.com.br

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RELEVÂNCIA CLÍNICA

Infecções bucais por microrganismos oportunistas como as espécies de Candida são frequentes em ambientes de UTIs, podendo ocasionar o desenvolvimento de pneumonias noso- comiais e lesões bucais. Estudos que verifiquem as condições dos pacientes críticos são importantes para que um diagnós- tico precoce dessas alterações seja realizado e uma conduta terapêutica adequada seja adotada.

INTRODUÇÃO

A infecção hospitalar ou nosocomial é qualquer infecção adquirida após a internação do paciente e que possa se ma- nifestar durante sua permanência no hospital ou mesmo após a alta1. Segundo Oliveira et al.2, as pneumonias nosocomiais corresponde 10 a 15% de todas as infecções hospitalares, sen- do responsáveis por 20 a 50% de todos os óbitos. Estudos têm demonstrado a estreita relação entre infecções bucais e sistê- micas3,4, indicando que os problemas bucais podem atuar como porta de entrada para microrganismos patogênicos, com efeito sistêmico, principalmente em pacientes debilitados5.

Algumas alterações bucais têm sido relatadas em pacientes internados em UTIs, tais como úlceras, hematomas, ressecamen- to labial6, maior acúmulo de biofilme dental, saburra lingual e hiposalivação7,8. Além disso, uma higienização bucal inadequa- da em pacientes internados em UTIs pode ocasionar um grande acúmulo de microrganismos, sendo o biofilme bucal e a saburra lingual os reservatórios de patógenos relacionados com maior risco de desenvolvimento de infecções nosocomiais9,10.

Acredita-se que o aumento da colonização microbiana, dentre inúmeros fatores, deve-se ao fato de algumas espécies como, por exemplo, de Candida (C. albicans) se co-agregarem e co-aderirem a certas espécies microbianas existentes na ca- vidade bucal como estreptococos e patógenos presentes no biofilme dental; e também que algumas proteínas salivares podem intensificar essas interações na presença de doença periodontal e cáries11. Ademais, além da presença da micro- biota, alguns fatores predisponentes são necessários para o estabelecimento de infecções, tais como: queda de imunidade do hospedeiro, desordens endócrinas, lesões em mucosa, hi- giene bucal deficiente, tratamento prolongado com antibióti- cos, corticosteroides e outros12-14.

O estudo da prevalência de Candida spp. na cavidade bu- cal humana de indivíduos internados em UTIs é importante sob o ponto de vista epidemiológico e a redução da prevalên- cia desses microrganismos oportunistas pode contribuir para controlar a formação de reservatórios intrabucais de infecção.

Dessa forma, o objetivo deste estudo foi avaliar a presença de espécies de Candida na cavidade bucal e no tubo orotraqueal de pacientes internados em UTI, além de avaliar a prevalência de alterações bucais.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário da Fundação Edu-

cacional de Barretos – Unifeb (protocolo no 007/09). Todos os participantes da pesquisa, representados pelos seus responsá- veis, assinaram um termo de consentimento livre e esclareci- do atestando sua participação voluntária.

Desenho experimental e exame clínico

Durante 30 dias consecutivos foram selecionados de ma- neira aleatória 100 pacientes hospitalizados na UTI da Santa Casa de Misericórdia de Barretos/SP. Destes 100 pacientes, 56 foram excluídos da pesquisa devido a não autorização dos exames clínicos pelas famílias, sendo que o estudo clínico foi conduzido com uma amostra de 44 indivíduos.

Os exames intrabucais incluíram a avaliação da presen- ça ou ausência de hiposalivação, alterações da normalidade e lesões associadas à Candida spp. A presença de alterações bucais foi verificada considerando as regiões topográficas da boca de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS)15. O exame clínico foi realizado no leito dos pacientes com au- xílio de espátulas de madeira e gazes previamente esteriliza- das. Toda a cavidade bucal foi examinada, incluindo dentes, gengivas, mucosas, palato, língua e assoalho de boca, sendo que, a presença de alterações da normalidade foi anotada em fichas clínicas devidamente identificadas. Esses exames fo- ram realizados por um profissional da área de Odontologia, experiente para o diagnóstico das lesões e atendimento em ambiente hospitalar. Durante o período de 30 dias do estudo, a equipe de enfermagem não recebeu nenhuma orientação quanto aos procedimentos de higiene bucal.

As lesões ulcerativas foram visualizadas clinicamente e descritas como lesões de solução de continuidade do epitélio (com exposição do tecido conjuntivo adjacente). Os hema- tomas foram descritos como lesões azulada-avermelhado- preta sob a pele/mucosa decorrente de um trauma seguido de extravasamento de sangue dos vasos sanguíneos e difusão para os tecidos.

A presença de hiposalivação (ou hiposialia) foi verifi- cada por meio de utilização de uma espátula de madeira.

A espátula era colocada sobre a mucosa jugal e a presença de hiposalivação era diagnosticada quando a espátula apre- sentava aderência à mucosa. Adicionalmente, o diagnóstico final de hiposalivação foi dado se o paciente não apresen- tasse acúmulo de saliva em qualquer região da boca ou se apresentasse regiões com estagnação de saliva16. A presença de hiposalivação, de saburra lingual, de lesões suspeitas de candidoses, de ressecamento (mucosa ou lábio) e de biofil- me (dentes) ou placa bacteriana (mucosas) foi caracterizada como presente ou ausente.

Coleta das amostras

Dos 44 pacientes, após 15 dias de internação, 31 deles receberam intubação orotraqueal. Após intubação, foram co- letadas amostras de saburra lingual, biofilme dental e do tubo orotraqueal dos 31 pacientes, durante três dias consecutivos, para posterior contagem das colônias (UFC/mL) de Candida

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spp. e identificação fenotípica das espécies com o meio de cultura cromogênico. As amostras do tubo foram obtidas durante o procedimento de aspiração de secreção realizado diariamente pela equipe de enfermagem. A secreção obtida foi colocada em tubo de ensaio com solução salina estéril. A coleta da saburra e biofilme dental foi realizada através de palito de madeira estéril, colocado em tubo de ensaio com solução salina (Tampão Fosfato 0,05M pH 7,3) para posterior análise microbiológica.

Processamento microbiológico

Os tubos contendo as amostras foram submetidos a um minuto de vibração em agitador de tubos (Marconi), visando à obtenção de uma suspensão uniforme. Após este procedi- mento, a solução foi diluída em séries decimais de 10-1 a 10-4 em Tampão Fosfato 0,05M pH 7,317.

Para o cultivo das espécies de Candida alíquotas de 100mL de solução de cada diluição foram inoculadas em placas de Petri contendo meio de cultura Agar Sabouraud Dextrose, acrescidos de 0,1mg/mL de cloranfenicol (Quemicetina Succi- nato/ Carlos Erba) e incubadas a 37ºC por 48 horas18. Após o crescimento das colônias com características leveduriformes foi feita a contagem em UFC/mL-1 do inóculo. A morfologia colonial característica desses microrganismos foi confirmada com o auxílio de lupa esteroscópica14. As colônias, cujas ca- racterísticas microscópicas apresentaram morfologia ovalada, foram classificadas como colônias sugestivas de Candida spp. Para identificação mais precisa, as colônias de cada amos- tra, com características morfológicas macroscópicas distin- tas, foram re-inoculadas em meio cromogênico CHROMagar®

Candida (Probac do Brasil) para identificação das espécies de leveduras amostradas19,20.

Foram assim identificadas: Candida albicans (coloração verde claro); Candida parapsilosis (coloração branco ou cre- me, com textura lisa); Candida tropicalis (coloração azul);

Candida Krusei (coloração rosa e textura rugosa); Candida guilliermondii (coloração púrpura); Candida dubliniensis (co- loração verde escuro) e Candida glabrata (coloração lilás)20. Os dados obtidos foram convertidos em UFC/mL-1 e submetidos ao teste Kruskal–Wallis (Dunn) considerando 95% de nível de confiança (Statistics 17.0 - IBM Inc., Chicago, IL, USA).

RESULTADOS

As características gerais da população em estudo podem ser verificadas na tabela 1. Pode-se observar que houve uma equiparidade de participação entre os gêneros, sendo 23 ho- mens e 21 mulheres. Dos 44 pacientes, a maioria (38,4%) era casada, apresentando idade média de 56,8 anos. Nove par- ticipantes (39%) eram totalmente edêntulos e o tempo de internação geral foi em média de 17,1 dias.

Os diferentes tipos de lesões encontradas podem ser ve- rificados na tabela 2 e figuras 1 a 3, sendo que, a maioria dos indivíduos apresentava concomitantemente mais de um tipo de lesão. As lesões foram classificadas de acordo com a

FIGURA 1

Úlcera labial sugestiva de lesão herpética, úlcera na comissura labial sugestiva de queilite angular e aspecto da mucosa bucal ressecada

FIGURA 2

Saburra lingual com sugestiva candidose pseudomembranosa, hiposalivação e ressecamento bucal

FIGURA 3

Úlceras e ressecamento labial, além de presença de biofilme dental

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causa primária ou sinal clínico, devido ao fato do diagnóstico definitivo depender de análises laboratoriais mais complexas com biópsias histopatológicas. Dessa forma, as lesões foram classificadas em sua maioria como possivelmente associadas à Candida spp., como por exemplo, queilite angular (34%), saburra lingual (81,8%) e outras lesões (27,3%). A prevalên- cia de úlceras labiais com características traumáticas foi de 68,2% (30 indivíduos), sendo que, 29,5% correspondiam a úlceras sangrantes. Outras características também demons- traram alta prevalência de acometimento, tais como, hipo- salivação (84,1%), saburra lingual (81,8%) e ressecamento labial (86,43%) (tabela 2).

Os resultados ainda mostraram que 31 pacientes recebe- ram intubação orotraqueal, 04 pacientes permaneceram sem intubação e 09 pacientes receberam traqueostomia (tabela 1). Todos os indivíduos intubados apresentaram colonização por Candida spp. Verificou-se grande diversidade de espécies presentes na cavidade bucal dos participantes do presente estudo (tabelas 3 e 4). A saburra lingual foi o reservatório que apresentou maior frequência de espécies de Candida no primeiro dia após intubação, entretanto, ao terceiro dia (após 72 horas da intubação), o tubo orotraqueal apresentou maior frequência e diversidade de colonização (tabelas 3 e 4). A Candida albicans foi a espécie mais prevalente em to- dos os sítios de coleta, seguida pela Candida glabrata e Can- dida tropicalis. O biofilme dental foi a área que apresentou menor colonização e diversidade de espécies de leveduras do gênero Candida. Ressalta-se ainda que dos 31 pacientes in- tubados, 08 desenvolveram pneumonia nosocomial, os quais foram à óbito.

DISCUSSÃO

Além das pneumonias nosocomiais (PNNs), as alterações bucais são alguns dos achados mais comuns em pacientes in- ternados em UTIs. Os nossos dados revelaram que o acúmu- lo de biofilme bucal (dentes e mucosas) e de saburra lingual apresentaram achados importantes de infecção, com alta pre- valência de ocorrência. É importante ressaltar que nas UTIs, frequentemente, são encontrados quadros de infecções de origens diversas, os quais são responsáveis por um alto índice de mortalidade nos pacientes internados21. Especialmente, os patógenos presentes na cavidade bucal são responsáveis pelo desenvolvimento da PNN, que é aquela desenvolvida 48 horas após a internação22.

A grande ocorrência de biofilme em dentes e mucosas (90,9%), de saburra lingual (81,8%) e de candidoses (27,3%) também demonstra uma comprovada necessidade do estabe- lecimento de protocolos que orientem a equipe de enferma- gem com relação aos cuidados odontológicos e da presença constante de um profissional da área de odontologia para ga- rantir o seguimento deste protocolo e possível identificação e tratamento precoce de alterações bucais e da orofaringe.

Considerando a alta colonização por leveduras do gêne- ro Candida na cavidade bucal e no tubo orotraqueal, estu-

Características N %

Homem - n (%) 23 52,3%

Mulher - n (%) 21 47,7%

Idade - média ± DP 56,8 ± 17,1

Estado civil - n (%) Casado

Solteiro Viúvo Divorciados

17 6 10 11

38,6%

13,6%

22,7%

25%

Número de dentes presentes -

média ± DP 17,5 ± 10,2

Pacientes edêntulos - n (%) 9 20,45%

Tempo médio de internação 17,1 dias

TABELA 1

Características da população em estudo (n = 44)

Características Número de

pacientes %

Úlceras Traumáticas 30 68,2%

Úlcera traumática labial sangrante 13 29,5%

Queilite angular 15 34%

Hematoma de lábio e assoalho da boca 3 6,8%

Sinais de hiposalivação 37 84,1%

Acúmulo de placa microbiana 40 90,9%

Saburra lingual 36 81,8%

Ressecamento labial 38 86,3%

Outras lesões associadas à Candida spp. 12 27,3%

TABELA 2

Características bucais (n = 44)

Períodos

UFC/mL-1 x 106

Saburra lingual Tubo orotraqueal %LR¿OPHGHQWDO 1º. dia 2,0 (0,02-3,0) a 0,9 (0,2-0,12) a 0,6 (0,2-0,8) a 2º. dia 17,0 (4,0-30,0) b 14,0 (1,0-20,0) b 3,0 (0,9-9,0) b 3º. dia 9,0 (0,5-20,0) c 67,0 (5,0-75,0) c 4,0 (0,4-10,0) b

Letras diferentes nas colunas denotam diferença estatística na frequência de espécies de

&DQGLGDHQWUHRVSHUtRGRVDQDOLVDGRVWHVWH.UXVNDO:DOOLV'XQQS”

TABELA 3

Mediana (mínimo-máximo) do número de colônias de Candida spp (UFC/ml-1 x 106) isoladas dos pacientes da UTI

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dos têm demonstrado que a microbiota bucal de indivíduos imunossuprimidos em ambiente hospitalar é composta por uma variedade de microrganismos (Pseudomonas aerugino- sa, Acinetobacter baumannii, Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenza e Staphylococcus aureus), os quais podem colonizar o biofilme dental, a saburra lingual e o tubo orotraqueal9,10.

Ademais, a Candida albicans é considerada a espécie de maior importância médica, acreditando-se também ser a mais virulenta para o ser humano23. Além disso, a espécie mais frequentemente isolada da microbiota bucal de indi- víduos hospitalizados e imunocomprometidos24 juntamente com maior diversidade de espécies de leveduras do gêne- ro Candida. Da mesma forma, no presente estudo, a espécie mais prevalente foi a Candida albicans, seguida da Candida glabrata e Candida tropicalis.

Várias explicações baseadas em dados disponíveis na li- teratura são plausíveis de serem formuladas para explicar a hipótese de que indivíduos internados em UTI apresentam

Espécies

1º. Dia

Saburra lingual Tubo orotraqueal %LR¿OPHGHQWDO

Candida albicans 86,7% 39,0% 58%

Candida tropicalis 0,6% 22,0% 2,0%

Candida glabrata 12,4% 23,4% 40%

Candida krusei 0,3% 15,6% ---

Espécies

2º. Dia

Saburra lingual Tubo orotraqueal %LR¿OPHGHQWDO

Candida albicans 73,5% 53,8% 79,6%

Candida tropicalis --- 15,9% ---

Candida glabrata 26,5% 23,6% 20,4%

Candida krusei --- 6,7% ---

Espécies

3º. Dia

Saburra lingual Tubo orotraqueal %LR¿OPHGHQWDO

Candida albicans 87,5% 66,0% 77,0%

Candida tropicalis --- 8,0% ---

Candida glabrata 12,5% 26,0% 23,0%

Candida krusei --- --- ---

TABELA 4

Prevalência (%) das espécies de Candida isoladas dos pacientes da UTI

maior densidade de colonização por espécies de Candida. Uma dessas hipóteses baseia-se em resultados de estudos de ade- rência às superfícies mucosas, importante para a colonização inicial e progressão da infecção25. Portanto, devido a adesão da Candida spp. na mucosa, sugere-se que a proliferação das espécies de Candida pode ser favorecida pelas condições in- trabucais desses indivíduos, como baixo pH, higienização de- ficiente, baixo fluxo salivar e interações com a microbiota.

Outros mecanismos biológicos podem explicar essa apa- rente persistência de leveduras na cavidade bucal. Talvez certa parcela desses pacientes tenha sido continuamente re-exposta e re-infectada por leveduras no ambiente hos- pitalar, influência de terapia medicamentosa ou ainda pela deficiência imunológica, a qual favorece a persistência de mi- crorganismos na cavidade bucal durante a permanência dos pacientes em UTI, considerando que alguns estudos apontam essas condições como fatores predisponentes para o estabe- lecimento de infecções12-14.

Com relação à colonização do tubo orotraqueal, alguns es-

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tudos relatam que os meios de contaminação do trato respira- tório inferior ou pulmonar pelos microrganismos bucais são: a aspiração do conteúdo da orofaringe, a inalação de aerossóis infectados, a disseminação da infecção através de áreas contí- guas, além da disseminação hematogênica por meio de áreas infecciosas extra-pulmonares como, por exemplo, a infecção do trato gastro-intestinal2,22,26. Ademais, o tubo orotraqueal proporciona uma superfície onde os microrganismos podem aderir colonizar e crescer, formando biofilmes e sendo, poste- riormente, broncoaspiradas27.

Vários fatores de virulência de Candida albicans têm de- terminado com sucesso a colonização ou invasão do tecido do hospedeiro. Dentre os fatores de virulência, os mais estudados são os relacionados à parede celular, à adesão e à produção de enzimas proteolíticas28. A aderência de espécies Candida às superfícies do hospedeiro é requerida para a colonização inicial e contribui para a sua persistência dentro do hospe- deiro. Sem aderência, a taxa de crescimento de Candida spp. é insuficiente para manter a colonização na cavidade bucal.

Portanto, a aderência é um fator importante durante a pro- gressão do estado de colonização para infecção25.

Tem sido relatado que muitos indivíduos são portadores de Candida spp. em diferentes sítios do corpo humano29. To- davia, tem sido demonstrado que muitos destes podem abri- gar mais que uma espécie de Candida ao mesmo tempo, e

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que em muitos pacientes hospitalizados e imunocomprome- tidos a ocorrência é mais comum14. Dessa forma, a utiliza- ção do meio de cultura Chromagar Candida, em concordân- cia com alguns autores26, apresenta grande utilidade para a identificação presuntiva rápida de leveduras, favorecendo a prescrição adequada de fármacos antifúngicos, e de higiene bucal e da orofaringe, diminuindo o risco de candidose dis- seminada, a qual está relacionada com casos de óbito em pa- cientes imunossuprimidos. Ademais, a descontaminação da cavidade bucal por meios mecânicos e químicos associada às técnicas assépticas na aspiração e intubação orotraqueal são imprescindíveis para a prevenção do surgimento de in- fecções nosocomiais2,22.

CONCLUSÃO

Diante dos resultados obtidos pode-se concluir que pa- cientes internados em UTI apresentam alto risco para o de- senvolvimento de alterações bucais, além de alta coloniza- ção por leveduras do gênero Candida na saburra lingual e no tubo orotraqueal, podendo favorecer o desenvolvimento de pneumonia nosocomial. Todavia, procedimentos terapêuticos e de higiene bucal devem ser adotados para a prevenção da colonização e proliferação de patógenos oportunistas, a fim de contribuir para a redução da prevalência de morbidade e mortalidade dos pacientes intubados.

Referências

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