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Hist. cienc. saudeManguinhos vol.23 número2

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Academic year: 2018

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Caros leitores,

Estas linhas são escritas sob o signo da incerteza em paralelo ao processo que visa depor, no Brasil, a presidenta democraticamente eleita em 2014, Dilma Rousseff. Os contornos que se desenham no horizonte próximo não são alvissareiros. Deposto o atual governo, assumirá a condução do país um conluio cujas intenções já foram em parte declaradas. Apontam para medidas de aprofundamento do ajuste fiscal, com consequente retração de políticas sociais e da atuação do Estado em setores fundamentais como saúde e educação. Caso permaneça, a presidenta ver-se-á diante da difícil missão de (re)construir consensos mediante uma base de apoio político frágil, um país ainda mais cindido e o desafio de contornar a crise econômica.

Independentemente de filiação ideológica e política, a qual não abdicamos de professar na condição de cidadãos, é flagrante o ataque à Carta de 1988 não só em termos de atropelo aos fundamentos que alicerçam o Estado democrático de direito, mas também no que concerne às conquistas sociais que ela consubstancia. Expressão significativa delas é nosso Sistema Único de Saúde, que, a despeito de imperfeições e problemas contextuais, representa o bem-sucedido resultado da articulação entre movimentos sociais, tendências intelectuais progressistas e lideranças políticas. Em 2016, a reunião desses segmentos na oitava Conferência Nacional de Saúde completa trinta anos. A conferência foi palco dos debates e reivindicações que em grande medida confluíram no desenho do sistema de saúde proposto em 1988. É um momento bastante oportuno para recuperarmos a memória daquele evento, com o intuito de assegurar as agendas, motivações e conquistas obtidas.

Não podemos deixar de registrar a preocupação com o destino reservado à saúde, uma vez concretizados os ideais veiculados na carta sintomaticamente chamada “Uma ponte para o futuro”. Ela assinala as intenções dos pretensos futuros governantes de desobrigar-se de cumprir as determinações constitucionais de investimento no desobrigar-setor. Junto com os projetos para a previdência social e a educação, a carta evidencia a fé no credo neoliberal. As consequências de tal abordagem para a saúde já são conhecidas, inclusive da literatura histórica que perscruta nosso passado recente.

Uma eventual desarticulação das já claudicantes estruturas de atenção primária à saúde e de campanhas sanitárias pode agravar ainda mais o estado de calamidade provocado pela tríplice epidemia de dengue, chikungunya e zika, transmitidas pelo Aedes aegypti, além da

CARTA DOS EDITORES

http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702016000200001

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ameaça representada pelo vírus da gripe H1N1. O enfrentamento de tais crises sanitárias demanda, em curto e médio prazos, a montagem de estruturas bem azeitadas, que por sua vez requerem investimento, racionalização burocrática e articulação entre os diferentes níveis da esfera política e com a sociedade civil.

Há poucos dias o escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo imaginou a História – assim mesmo, com “H” maiúsculo – como uma velha senhora “pachorrenta e sábia”, porque detentora da perspectiva conferida a quem testemunha o longo drama da humanidade neste planeta. Com vivências que carregam o signo do inaudito, seu papel como repositório de experiências e como instância capaz de iluminar o presente e inspirar projetos de futuro não é levado em devida consideração.

Sem a perspectiva, a experiência e a sabedoria dessa senhora, resta-nos registrar as angústias e incertezas de um presente bastante conflitivo, mas com o consolo de servi-la, cultivando nas páginas desta revista o lugar que lhe é direito, que é o da análise crítica, do pensamento refletido (em vez da opinião apressada), da investigação própria de uma temporalidade que não é a da política imediata, mas que contribui para compreendê-la, formulá-la e modificá-la. Nesse sentido, apresentamos a atual edição de História, Ciências, Saúde – Manguinhos, que desde sua criação vem cumprindo o papel de fomentar a perspectiva histórica na análise da medicina, da saúde pública e das ciências da vida, em suas complexas interfaces com a política, a economia e a cultura. Ela inclui dossiê que aborda a experiência de cooperação internacional entre Brasil, Cuba e Haiti, um capítulo da interação entre países do chamado “Sul Global” no campo da saúde.

Os primeiros artigos vertidos para o inglês com recursos da Fundação Wellcome Trust vêm publicados neste número. Além de contribuir para a internacionalização, tais recursos são um alento em meio ao estrangulamento financeiro que assola as instituições públicas e seus periódicos.

Na esperança de melhor futuro, de respeito às instituições democráticas, de tolerância entre os contrários e diversos, de observância do direito à saúde e à vida, valores amplamente reconhecidos como produtos e produtoras do universo social, desejamos-lhes uma boa leitura!

André Felipe Cândido da Silva, editor científico Marcos Cueto, editor científico

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