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J. bras. psiquiatr. vol.61 número3

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Academic year: 2018

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CARTA

Aderência à técnica na psicoterapia

psicanalítica: estudo preliminar

Adherence to technique in psychoanalytic

psychotherapy: a preliminary study

Marina Bento Gastaud

1

, Camila Piva da Costa

1

, Carolina Stopinski Padoan

1

, Daniela Berger

1

, Daniela Bergesch

D´Incao

1

, Daniela Valle Krieger

1

, Letícia Dornelles Lacerda

1

, Michelle Aline Volkmann Camozzato

1

Prezado editor,

Classicamente, o treinamento em psicoterapia psicanalítica está baseado em um tripé pro-posto por Freud para formação de psicanalistas: aprendizado teórico, supervisão clínica e análi-se/psicoterapia psicanalítica pessoal. Por ser uma atividade realizada de forma isolada, sem que o professor/supervisor esteja presente durante a sessão, não há garantia de que esse aprendi-zado esteja sendo utiliaprendi-zado na prática clínica do terapeuta em formação. Ademais, a aplicação da técnica psicanalítica também depende de características do paciente: quando o paciente não apresenta capacidade de insight e de abstração ou quando necessita de contenção por parte do terapeuta, o terapeuta tende a utilizar técnicas mais diretivas, abordagens de apoio ou técnicas mistas em sua prática1,2. Diante dessas constatações, questiona-se: os psicoterapeutas

de um ambulatório de psicoterapia psicanalítica (Contemporâneo – Instituto de Psicanálise e Transdisciplinaridade, Porto Alegre/RS) de fato atuam psicanaliticamente com seus pacientes? Os pacientes dessa instituição propiciam o uso da técnica psicanalítica durante seus atendi-mentos? O ambulatório em questão agrega uma escola de psicanálise que forma especialistas em psicoterapia psicanalítica com base no tripé acima mencionado.

Decidiu-se, então, submeter à análise de pares de juízes 118 sessões dialogadas de pacien-tes adultos atendidos no referido ambulatório nos últimos cinco anos, cedidas pelos terapeu-tas (67 sessões, 56,8%) e seus supervisores (51 sessões, 53,2%). Quinze terapeuterapeu-tas e 81 pacien-tes estão representados nessas sessões. As sessões foram avaliadas por oito juízes (psicólogos especialistas em psicoterapia psicanalítica), independentemente, após treinamento.

Utilizou-se o Instrumento para Avaliação de Sessões Psicanalíticas (IASP), o qual apresenta boa coniabilidade e é composto pelos itens: neutralidade do terapeuta, tipo de intervenções utilizadas, uso de interpretações, uso da teoria psicanalítica para compreensão do material, criação de espaços relexivos e relação terapeuta-paciente3,4. A pontuação inal da sessão pode

variar de 0 a 25 pontos, e sessões com pontuações iguais ou superiores a 13 são consideradas psicanalíticas. O instrumento não mensura a qualidade da sessão e a adequação das interven-ções do terapeuta; não há necessariamente correlação entre a aderência à técnica e a qualida-de da sessão.

Das 118 sessões analisadas, houve concordância em que 106 delas seriam psicanalíticas e que duas não seriam; não houve concordância quanto às demais 10 sessões. Ajustando para

Recebido em 28/5/2012 Aprovado em

7/8/2012

Endereço para correspondência: Marina Bento Gastaud

Instituto de Psicanálise e Transdisciplinaridade, Departamento de Pesquisa Rua Comendador Caminha, 312/205 – 90430-030 – Porto Alegre, RS Telefone: (55 51) 3346-1664

E-mail: marinagastaud@hotmail.com

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a alta prevalência de sessões consideradas psicanalíticas, foi calculada a medida PABAK (prevalence-adjusted and bias-ad-justed kappa), conforme proposto por Byrt et al.5. A

concor-dância entre os juízes foi considerada alta (PABAK = 0,831/p = 0,009).

Assim, foi possível concluir que, nesse ambulatório, a téc-nica predominantemente utilizada corresponde ao modelo psicanalítico. Tentando favorecer o acesso às mais variadas sessões, de forma que fossem representativas dos atendi-mentos, optamos por coletar as sessões sem identiicação do terapeuta e do paciente. Assim, não foi possível, neste estudo preliminar, estabelecer associações entre a aderên-cia à técnica psicanalítica e as características dos pacientes e terapeutas envolvidos nesse atendimento, passos seguintes deste estudo ainda em andamento.

Assim, há indícios de que é possível aderir à técnica psi-canalítica em settings institucionais (não apenas em con-sultórios particulares) e de que o ensino da psicoterapia

psicanalítica baseado no tripé é suiciente para transmitir a técnica aos terapeutas.

REFERÊNCIAS

1. Gabbard G. Psiquiatria psicodinâmica – na prática clínica. Porto Alegre: Artmed; 2006.

2. Serralta F, Pole N, Nunes ML, Eizirik C, Olsen C. The process of change in brief psycho-therapy: efects of psychodynamic and cognitive-behavioral prototypes. Psychother Res. 2010;20(5):564-75.

3. Hauck S, Crestana T, Mombach C, Almeida E, Eizirik C. Pesquisa em psicanálise e psicotera-pia psicanalítica: um novo instrumento para avaliação de aderência à técnica em estudos de efetividade. Rev Bras Psiquiatr. 2008;30(3):290-301.

4. Almeida E. Criação e aplicação de instrumento para veriicação de aderência à técnica psi-canalítica em sessões de psicoterapia [dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas, Psiquiatria; 2010.

5. Byrt T, Bishop J, Carlin JB. Bias, prevalence and kappa. J Clin Epidemiol. 1993;46(5):423-9. Gastaud MB et al.

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