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Pass - through de tarifas de importação na economia brasileira

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSU

DOUTORADO EM ECONOMIA DE EMPRESAS

PASS-THROUGH DE TARIFAS DE IMPORTAÇÃO NA

ECONOMIA BRASILEIRA

Brasília - DF

2013

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ANDREA PEREIRA MACERA

PASS-THROUGH DE TARIFAS DE IMPORTAÇÃO NA ECONOMIA BRASILEIRA

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Economia da Universidade Católica de Brasília como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Economia.

Orientador: Prof. Dr. José Angelo Divino

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Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

M142p Macera, Andrea Pereira.

Pass-though de tarifas de importação na economia brasileira. / Andrea Pereira Macera – 2013.

166 f.; il : 30 cm

Tese (Doutorado) – Universidade Católica de Brasília, 2013. Orientação: Prof. Dr. José Angelo Divino

1.Política econômica. 2.Tarifas. 3.Importação. 4.Câmbio. 5.Economia. I. Divino, José Angelo, orient. II. Título.

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AGRADECIMENTOS

Ao professor José Angelo Divino, por suas críticas e comentários, pela presença e participação constantes em todas as etapas do desenvolvimento desta tese e principalmente por sua paciência e dedicação aos alunos da pós-gradução da UCB.

Aos professores Wilfredo Maldonado e Jaime Orrillo, pelo apoio durante todo o curso de doutorado, sobretudo pelas longas e pacientes explicações matemáticas que foram essenciais à realização desta tese.

À Maysa, pelo apoio administrativo prestado durante todo o curso de doutorado.

À Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, pelo apoio financeiro à realização do curso de doutorado.

À minha substituta e amiga, Regina Chacur, que com brilhantismo assumiu minhas atividades na SEAE/MF para que eu pudesse me dedicar à minha tese de doutorado.

À equipe de técnicos da Coordenação-Geral de Concorrência Internacional da SEAE/MF, Celso Almeida, Emerson Gazzoli, Guilherme Pires, Carolina Campos, Afonso Lopes, Alessandra Morais, Vinicius Araújo e Caio Silva, pelo profissionalismo e competência técnica sempre presentes, que permitiram minha dedicação quase exclusiva a esta tese durante os últimos meses.

Ao meu marido, Paulo Godoy, pela compreensão e apoio manifestados ao longo de todo o curso de doutorado.

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RESUMO

Referência: MACERA, Andrea. Título: Pass-through de tarifas de importação na economia brasileira. Ano de Defesa: 2013. Quantidade de folhas: 166 f. Tese de Doutorado (Economia). Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2013.

Esta tese de doutorado tem por objetivo analisar o coeficiente de repasse (também chamado pass-through) das tarifas de importação sobre a economia brasileira e encontra-se dividida em dois estudos. O primeiro estudo, intitula-se “Uma análise do pass-through de tarifas de importação no setor siderúrgico brasileiro”. Em setores imperfeitamente concorrentes, utiliza-se a redução da tarifa de importação como medida para estimular as importações, aumentar a concorrência e, assim, controlar aumentos de preços. Testa-se também a hipótese de simetria, quando os coeficientes de repasse da tarifa e do câmbio são idênticos. Aplicou-se uma análise de dados em painel ao modelo proposto por Feenstra (1989) no período de 1995:1 a 2010:2. Os resultados indicam que, além dos insumos produtivos, alterações do imposto de importação e do câmbio afetam o preço do produto nacional no curto prazo. A hipótese de simetria do pass-through não pode ser rejeitada, sugerindo que a resposta dos preços a variações cambiais serve para prever o efeito de alterações da tarifa de importação. O segundo estudo, intitulado “Transmissão de tarifa de importação em pequena economia aberta”, apresenta uma versão de modelo DSGE de pequena economia aberta, com relativa rigidez de preços internos e externos, baseado em Monacelli (2005), o qual considera pass-though incompleto do câmbio. Este modelo foi estendido de forma a incluir a tarifa de importação como mais uma variável, além da taxa de câmbio, com efeitos sobre a Lei do Preço Único. Foram então analisadas as respostas de variáveis macroeconômicas aos efeitos do choque na tarifa de importação, a partir de parâmetros do Brasil. Concluiu-se que este choque, ao elevar o preço dos bens importados, torna maior o desvio na Lei do Preço Único. A inflação ao consumidor se eleva, levando à subida da taxa de juros para contê-la. O efeito no longo prazo é de deterioração dos termos de troca, pois a valorização do câmbio que se segue ao choque estimula importações, anulando o efeito inicial do aumento da tarifa.

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ABSTRACT

This doctoral thesis examines the effects of changes in import tariffs on the Brazilian prices - the so called pass-through of tariff – and it is divided into two studies. The first study is entitled “A pass-through analysis of import tariffs on the Brazilian steel sector”. In imperfectly competitive sectors, the reduction of import tariffs is used as a measure to stimulate imports, increase competition and control price increases. The hypothesis of symmetry, when the pass-through of tariffs and exchange rate are identical, is also tested. We applied a panel data analysis to the model proposed by Feenstra (1989) during the period of 1995:1 to 2010:2. The results indicate that, in addition to inputs, changes in import tariffs and exchange rate affect the price of the domestic product in the short run. The hypothesis of symmetry of the pass-through cannot be rejected, suggesting that the response of prices to exchange rate variations can be used to predict the effect of changes in import tariffs. The second study is entitled “Transmission of import tariff on small open economy” and presents a small open economy DSGE model with internal and external sticky prices, based on Monacelli (2005), which considers an incomplete exchange rate pass-through. On the top of this framework, import tariff was included as another variable, besides the exchange rate, to affect the Law of One Price. The responses of key macroeconomic variables to an import tariff shock have been analyzed, considering the parameters for the Brazilian economy. The conclusion was that the import-tariffs shock entails deviations on the Law of One Price since import prices become higher. There is an increase on the total inflation, which leads to a raise on the interest rates. The long run effect is a worsening on the terms of trade, since the exchange rate appreciation which follows the shock cancels the initial effect of the increase of import tariffs.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Efeitos do choque da tarifa de importação (20%) ...123

Figura 2: Efeitos do choque de oferta ...125

Figura 3: Efeitos do choque da taxa de juros doméstica ...126

Figura 4: Efeito do choque da taxa de juros internacional ...127

LISTA DE QUADROS Quadro 1: Resumo dos estudos que tratam do efeito de tarifas de importação sobre a economia (1960-2010)...41

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Estatística descritiva das variáveis nominais sem transformação ... 63

Tabela 2: Estatística descritiva das variáveis nominais sem transformação antes e após 200564 Tabela 3: Resultados dos testes de raiz unitária para dados em painel ... 65

Tabela 4: Testes MADFGLS e MPPGLS para a variável lnpreço por indivíduo ... 67

Tabela 5: Teste de raiz unitária com quebra endógena para a variável lnpreço (SAIKKONEN e LÜKTEPOHL, 2002) ... 68

Tabela 6: Teste de raiz unitária com quebra exógena da variável lnpreço ... 68

Tabela 7: Testes de raiz unitária da variável lnpreço em primeira diferença (dlnpreço) por indivíduo ... 69

Tabela 8: Testes de raiz unitária para dados em painel para dlnpreco ... 69

Tabela 9: Testes de raiz unitária das séries temporais ... 70

Tabela 10: Testes de raiz unitária das séries temporais com quebra estrutural ... 71

Tabela 11: Testes de raiz unitária para a variável dlnfator ... 71

Tabela 12: Estimação de painel de efeito aleatório do modelo original em nível ... 74

Tabela 13: Estimação de painel de efeito fixo para o novo modelo em primeira diferença com inclusão de minério de ferro, consumo de energia elétrica e dummy temporal ... 76

Tabela 14: Resultados do painel dinâmico em primeira diferença ... 79

Tabela 15: Resultados do Painel Dinâmico com o Estimador Blundell e Bond (1998) - System GMM one step ... 80

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

2 UMA ANÁLISE DO PASS-THROUGH DE TARIFAS DE IMPORTAÇÃO NO SETOR SIDERÚRGICO BRASILEIRO ... 14

2.1 INTRODUÇÃO ... 14

2.2 REVISÃO DA LITERATURA ... 19

2.2.1 Literatura internacional ... 19

2.2.2 Literatura nacional ... 34

2.3 METODOLOGIA ... 43

2.3.1 Modelo teórico... 43

2.3.2 Modelo econométrico ... 46

2.3.3 Dados ... 49

2.3.4 Testes de raiz unitária ... 52

2.3.4.1 Testes para séries temporais ... 52

2.3.4.2 Testes para dados em painel ... 55

2.3.5 ANÁLISE DE DADOS EM PAINEL ... 57

2.3.5.1 Modelo estático ... 57

2.3.5.2 Modelo dinâmico ... 59

2.4 RESULTADOS E ANÁLISES ... 62

2.4.1 Testes de raiz unitária ... 65

2.4.1.1 Testes para dados em painel ... 65

2.4.1.2 Testes para séries temporais ... 70

2.4.2 Estimação do modelo ... 72

2.4.2.1 Painel estático ... 72

2.4.2.2 Painel dinâmico ... 77

2.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 80

3 TRANSMISSÃO DE TARIFA DE IMPORTAÇÃO EM PEQUENA ECONOMIA ABERTA ... 83

3.1 INTRODUÇÃO ... 83

3.2 REVISÃO DE LITERATURA SOBRE OS MODELOS DSGE DE ECONOMIA ABERTA ... 87

3.2.1 Literatura internacional ... 87

3.2.2 Literatura nacional ... 94

3.3 MODELO ... 97

3.3.1 Famílias ... 98

3.3.2 Firmas ... 101

3.3.2.1 Firmas domésticas ... 101

(11)

3.4 LINEARIZAÇÃO LOGARÍTMICA DO MODELO ... 105

3.4.1 Equações derivadas do problema do consumidor ... 106

3.4.2 Equações derivadas do problema das firmas ... 107

3.4.3 Curva de Phillips ... 108

3.5 OUTRAS IDENTIDADES ... 109

3.6 EQUILÍBRIO ... 112

3.6.1 Equilíbrio no mercado de bens ... 112

3.6.2 Equilíbrio sob preços flexíveis ... 113

3.6.3 Demanda: a curva IS ... 114

3.6.4 Oferta: a curva de Phillips ... 115

3.6.5 Política monetária na pequena economia doméstica ... 116

3.7 AVALIAÇÃO COMPUTACIONAL DO MODELO ... 117

3.7.1 Especificação do modelo ... 118

3.7.2 Calibração do modelo e fonte dos parâmetros ... 120

3.7.3 Funções impulso-resposta ... 123

3.8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 128

4. CONCLUSÃO... 130

REFERÊNCIAS ... 132

ANEXO A: TESTES DE RAIZ UNITÁRIA ... 145

ANEXO B: DERIVAÇÃO DAS EQUAÇÕES APRESENTADAS NO MODELO ... 151

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1 INTRODUÇÃO

A tarifa de importação, sobretudo para os países emergentes, mostrou-se ao longo dos anos um importante instrumento de política pública, utilizada para diversos fins: em alguns casos, eleva-se a alíquota para restringir importações e proteger a indústria nacional; em outros, reduz-se a tarifa para fomentar a concorrência, controlar preços ou evitar problemas de abastecimento interno. No Brasil, por exemplo, em 2005, o governo reduziu a alíquota do imposto de importação de 15 produtos siderúrgicos de 12% ou 14% para 0%, na tentativa de conter elevações de preços. Já em 2012, foi anunciada a elevação tarifária de 100 itens de diferentes setores com o objetivo de proteger a indústria nacional de importações consideradas de alguma forma prejudiciais. Todavia, embora tais medidas tenham sido utilizadas, a ausência de pesquisas empíricas não nos permite mensurar seus verdadeiros efeitos. Tende-se, geralmente, a avaliar o efeito da alteração de tarifas de importação apenas a partir da variação do volume importado.

Diversos estudos nacionais e internacionais analisam os efeitos de variações da taxa de câmbio sobre preços, o chamado pass-through. Alterações de tarifas de importação possuem, igualmente, o condão de afetar preços (DORNBUSCH, 1987). Entretanto, poucos estudos se debruçam sobre a tarefa de estimar tais efeitos. Neste sentido, o objetivo desse trabalho consiste em analisar o efeito de alterações tarifárias sobre os preços da economia doméstica.

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pass-through não pode ser rejeitada, sugerindo que a resposta dos preços a variações cambiais

serve para prever o efeito de alterações da tarifa de importação no curto prazo.

O segundo estudo apresenta uma versão de modelo DSGE de pequena economia aberta, com relativa rigidez de preços internos e externos, baseado em Monacelli (2005), o qual considera pass-through incompleto do câmbio. Este modelo foi estendido de forma a incluir a tarifa de importação como mais uma variável, além da taxa de câmbio, com efeitos sobre a Lei do Preço Único. Foram então analisadas as respostas de variáveis macroeconômicas aos efeitos do choque na tarifa de importação, a partir de parâmetros do Brasil. Concluiu-se que este choque, ao elevar o preço dos bens importados, torna maior o desvio na Lei do Preço Único. Aumenta a inflação total do país, levando à subida da taxa de juros para contê-la. O efeito no longo prazo é de deterioração dos termos de troca, pois a valorização do câmbio que se segue ao choque estimula importações, anulando o efeito inicial do aumento da tarifa.

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2 UMA ANÁLISE DO PASS-THROUGH DE TARIFAS DE IMPORTAÇÃO NO SETOR SIDERÚRGICO BRASILEIRO

2.1 INTRODUÇÃO

Existe uma ampla literatura que busca analisar os efeitos de variações da taxa de câmbio sobre preços, buscando estimar seu grau de pass-through (repasse) sobre a economia. Alterações de tarifas de importação possuem, igualmente, o condão de afetar preços, conforme assinala Dornbusch (1987) que, ao tratar do efeito do câmbio, menciona a análise de pass-through também caberia para tarifas de importação. Todavia poucos estudam se debruçam sobre a tarefa de estimar seu coeficiente de repasse e por este motivo evidências empíricas são mais escassas.

Apesar da carência de pesquisas, governos de praticamente todos os países, incluindo o Brasil, enxergam na tarifa de importação um importante instrumento de política pública, utilizando-a para fins diversos: em alguns casos, eleva-se a alíquota para restringir importações e proteger a indústria nacional; em outros, reduz-se a tarifa para fomentar a concorrência, controlar preços ou evitar problemas de abastecimento interno.

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Neste sentido, este capítulo tem por objetivo geral analisar o pass-through de alterações tarifárias e câmbio sobre os preços da economia doméstica. Como desdobramento do objetivo geral, apresentam-se os seguintes objetivos específicos:

I. Aplicar o modelo proposto Feenstra (1989) no Brasil, a fim de verificar efeitos das variações de taxa de câmbio e de tarifas ad valorem sobre o preço de produtos siderúrgicos nacionais;

II. Medir o coeficiente de pass-through de tarifas e do câmbio para os preços de produtos siderúrgicos do Brasil;

III. Verificar a equivalência do coeficiente de pass-through de tarifas e câmbio no setor siderúrgico brasileiro.

Convém mencionar aspectos que justificam este estudo. Primeiro, aborda-se um assunto de importância nacional, buscando variáveis que permitam melhor compreender o impacto de medidas adotadas para um setor e fornecendo elementos para a busca de soluções em nível governamental. Segundo, pretende-se contribuir para suprimir a carência de pesquisas nacionais recentes sobre o tema. Terceiro, pretende-se buscar evidências adicionais para um assunto sobre o qual inexiste consenso na literatura.

Optou-se por setores de concorrência imperfeita porque estudos mostram que as hipóteses de rendimentos constantes de escala e concorrência perfeita não conseguiam explicar os padrões de comércio após a Segunda Guerra Mundial (DIXIT; STIGLITZ, 1977; KRUGMAN, 1979, 1980, 1981). Desta forma, a hipótese de diferenciação de produtos para assegurar o “monopólio” da empresa e dar maior utilidade ao consumidor, presente em modelos de concorrência imperfeita, seria mais adequada à realidade. Justifica-se a escolha da siderurgia por ser um setor concentrado1, com poucas empresas em cada país (caracterizando a concorrência imperfeita), pela quantidade de itens transacionados internacionalmente, pela frequente utilização de tarifas de importação pelos países, ora para proteger o produtor nacional, ora para fomentar a concorrência e pela relevância de seus produtos, que servem de insumo para diversas cadeias produtivas.

As primeiras discussões sobre poder de mercado e tarifa encontradas na literatura datam do final do século XIX e início do século XX. Carver (1902), ao discutir o repasse das tarifas aos preços pagos pelo consumidor final, afirma que aquele dependerá da elasticidade da demanda do bem e das condições de oferta no país; todavia, se o produto objeto da tarifa

1 Ressalte-se que além do alto grau de concentração do setor siderúrgico no Brasil, alguns mercados forem

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for produzido nacionalmente por um monopolista, certamente seu poder de mercado será aumentado e será dada a ele a oportunidade de aplicar um preço superior ao aplicado em situações em que não há tarifa de importação. Em 1906, no 19º Encontro Anual da Associação Americana de Economia, debateu-se a questão das tarifas e os “trusts”2. Na verdade, a principal frase objeto da discussão era “The mother of all trusts is the custom tariff bill”, atribuída ao Sr. Havemeyer, presidente do Sugar Trust em 1899 (HOLT, 1906). Embora um grupo defendesse o uso de tarifas como instrumento necessário de proteção e fortalecimento da indústria nacional face aos competidores internacionais (HOLT, 1906; CLARKE, 1906), havia certo consenso de que a tarifa aumentava o poder de mercado dos “trusts” e, consequentemente, levava ao aumento de preços (FLUX, 1906; GARDNER et al., 1906). Emery (1915) ressalta que a diferença entre o preço do produtor e o preço pago pelo consumidor nem sempre era considerada nas discussões relativas aos efeitos da tarifa sobre a economia doméstica e concluiu que, de modo geral, o sistema protecionista de tarifas tendia a manter o preço do produtor superior ao preço do livre comércio, o que levava, no longo prazo, à elevação de preços para os consumidores finais, sobretudo em mercados caracterizados pela concorrência imperfeita. A partir de então, consolidou-se uma corrente teórica segundo a qual o comércio internacional aumenta a concorrência e a proteção cria monopólios, o que Helpman e Krugman (1989) chamaram de “oldest insight in the área” (a mais antiga percepção na área de comércio internacional).

Convém ressaltar que, na literatura, os principais estudos relacionados a tarifas não são aqueles que buscam verificar seus efeitos em mercados de concorrência imperfeita, mas sim os que tentam explicar sua existência, podendo ser resumidos em três grandes teorias: a Teoria da Tarifa Ótima, a Teoria da Proteção Endógena e a Teoria da Indústria Nascente. A primeira3 afirma que, se por um lado a imposição de uma tarifa leva a distorções na produção e no consumo, por outro pode fazer com que os demais países diminuam seus preços a fim de manter seu mercado, levando a ganhos de bem-estar para o país importador. Se os ganhos forem maiores do que as perdas então o país poderia ganhar com a adoção de proteção. A segunda4 acredita que a tarifa é adotada para que certos grupos da sociedade consigam auferir rendas maiores e por isso busca modelar a relação entre políticos (interessados em apoio político) e produtores domésticos (interessados na proteção de seus setores contra produtos

2Por “trust” entende-se uma organização industrial ou comercial que tem por objetivo controlar a produção ou

venda de determinado(s) bem (ns), seus preços e que atua no sentido de eliminar ou reduzir o número de produtores independentes. Cf. FLUX (1906) e GARDNER et al. (1906).

3 Para uma boa revisão bibliográfica da Teoria da Tarifa Ótima e sua aplicação ao Brasil, ver Miranda (2011). 4 A contribuição mais importante no campo da Teoria da Proteção Endógena tem sido o modelo de Grossman e

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importados). Por fim, o argumento da indústria nascente5 é geralmente utilizado para justificar medidas protecionistas e se baseia em uma proteção temporária necessária para que uma firma se estabeleça e seja capaz de competir nas mesmas condições das indústrias estrangeiras no mercado nacional e internacional. Apesar de sua relevância econômica, tais estudos não serão abordados neste trabalho.

Na década de 60, surgem os primeiros estudos que tentam de alguma forma quantificar os efeitos das tarifas sobre a economia. Entretanto, a econometria ainda não era utilizada, dificultando não apenas as avaliações de impacto da tarifa sobre a economia, mas também a comparação dos estudos. Somente no final da década de 60 e início de 70 a literatura estabelece uma ligação mais concreta entre as teorias de comércio internacional e a organização industrial. Duas linhas de pesquisa se desenvolveram: a) uma com foco na modelagem do papel das economias de escala como causa do comércio internacional, sem muita preocupação com a estrutura de mercado, a qual geralmente é tratada como concorrência monopolística; b) a outra que considera a concorrência imperfeita como centro de análise e estuda temas como a relação entre comércio internacional e o poder de mercado das empresas (KRUGMAN, 1986). O presente capítulo se enquadra na segunda linha de pesquisa.

Os trabalhos internacionais que abordam os efeitos das tarifas de importação sobre a economia possuem os mais variados objetivos e resultados. Jondrow et al. (1982) mostram que a diferença de preços entre produtos siderúrgicos nos Estados Unidos e os internacionais se deve à insegurança quanto a oferta do produto importado, não havendo relação com a tarifa de importação. Grossman (1986) ao estudar o setor siderúrgico norte-americano no período de 1976-85, observou que a concorrência das importações pode ser separada em três componentes: oferta internacional, tarifa e taxa de câmbio, sendo que apenas o câmbio teria algum efeito no aumento do volume importado. Contrariamente, Irwin (2000), ao analisar o efeito da tarifa sobre a indústria de ferro-gusa nos EUA no período 1869-1889, concluiu que a ausência de tarifas teria resultado em maior participação das importações no consumo e a produção total norte-americana teria sido prejudicada. Na mesma linha, Dixit (1988) havia concluído que quanto maior a tarifa, maior a venda de bens domésticos e menor a penetração das importações; todavia, a tarifa tem efeito nulo na presença de subsídios. No que concerne aos estudos sobre efeitos de abertura comercial, Levinsohn (1993), ao analisar a Turquia, verifica que houve redução de mark-ups. Por outro lado, Harrison (1994), ao realizar estudo

5 Para um modelo de maximização de bem-estar com proteção à indústria nascente, ver Melitz (2005). Para uma

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sobre as firmas da Costa do Marfim, conclui que nem todos os setores tiveram mark-ups reduzidos, sendo que o poder de mercado seria maior nos setores de tarifas mais elevadas e menor penetração das importações. Da mesma forma, Badinger (2007) observa que não houve evidência estatística de redução de mark-up na consolidação do mercado único europeu, no qual houve uma redução generalizada de tarifas, no período 1981-1999.

No que se refere aos estudos nacionais, não foram encontrados trabalhos que tratam do

pass-through de tarifas sobre setores específicos. De modo geral, os autores buscam analisar o

impacto da abertura comercial brasileira na década de 90. Hay (2001) observa que, a partir de 1994, tanto o market share quanto o lucro das firmas se reduzem no Brasil após 1994. Ferreira e Guillén (2004), por sua vez, concluem que não há evidência estatística de redução de mark-up, apesar do aumento de produtividade das firmas brasileiras. Finalmente, Lisboa et al (2010) mostram que o impacto da redução de tarifas depende da magnitude desta redução e do setor. Se a redução tarifária se concentrar em produtos intermediários, pode-se ter aumentos de mark-up devido ao uso mais eficiente de insumos; por outro lado, se a abertura se der na indústria de bens finais, espera-se uma redução nas margens de lucros.

Verifica-se que os estudos que relacionam tarifas e preços não abordam especificamente o pass-through, mas sim analisam efeitos de tarifas sobre importações ou reduções tarifárias generalizadas de determinado país ou região e seu impacto sobre mark-up,

market share ou produtividade. Há evidências, porém, que o efeito de alterações tarifárias

dependerá do tipo de bem (intermediário ou final) e de suas características (elasticidade-preço da demanda, condições de oferta, estrutura de mercado etc), fazendo sentido analisar o repasse de tarifas por setor. O único trabalho encontrado sobre pass-through de tarifas foi o de Feenstra (1989), o qual tem por objetivo testar a hipótese de que uma alteração permanente na taxa de câmbio ou na tarifa ad valorem tem efeitos idênticos no preço pago pelos consumidores da mercadoria importada quando a indústria do fornecedor estrangeiro tiver características de oligopólio; o modelo foi estimado para as importações norte-americanas de carros japoneses, caminhões compactos e motocicletas pesadas (acima de 700 cilindradas).

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independentemente da variação no volume de importações. Finalmente, mostrar que há um

pass-through de tarifas e câmbio na economia brasileira.

Os dados da pesquisa são trimestrais e compreendem ao período de 1995 a 2010. Trata-se de um painel balanceado, no qual todos os produtos siderúrgicos possuem o mesmo número de observações temporais. A variável dependente é o preço nacional de cada um dos produtos da siderurgia e as variáveis exógenas são produção, importações, preço internacional dos produtos siderúrgicos, custo da mão de obra, preço do minério de ferro, taxa de câmbio, preço da energia elétrica e tarifa. Tendo em vista a natureza dos dados, procedeu-se a uma série de testes de raiz unitária, os quais não permitiram concluir pela estacionariedade das séries de preço nacional e de custo da mão de obra, optando-se por estimar o modelo em primeira diferença. No modelo estático, a estimação em primeira diferença elimina o efeito individual e por este motivo utilizou-se um estimador de efeitos fixos. A estimação do modelo estático permitiu confirmar a hipótese de que, no setor siderúrgico, variações da taxa de câmbio e do imposto de importação (tarifa) afetam o preço do produto nacional, independentemente da variação no volume de importações (vale que dizer que a mera expectativa de importações teria o condão de afetar preços). Este resultado vai ao encontro de outros trabalhos que apontam para uma relação inversa entre poder de mercado e abertura comercial, mostrando que a política comercial pode ser utilizada como política antitruste. Quanto ao modelo dinâmico, os resultados mostraram a inércia de preços do setor siderúrgico, a qual se explica principalmente pela existência de contratos de médio prazo, que não permite um ajuste de preços instantaneamente em resposta a um choque econômico ou política pública. Foi possível observar que há um coeficiente de repasse de tarifa e câmbio para preços, embora menor que no modelo estático. Por fim, verificou-se em ambos os modelos a equivalência de pass-through entre tarifa e câmbio.

2.2 REVISÃO DA LITERATURA

2.2.1 Literatura internacional

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das últimas rodadas de negociação do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (General

Agreement on Tariffs and Trade – GATT). A comparação de dados entre um grupo de

produtos que foi objeto de redução tarifária e outro grupo de bens substitutos que manteve a tarifa mostrou que para apenas 1/3 dos produtos houve redução no preço do importado; o restante teria sido apropriado pelo exportador estrangeiro. Portanto, o uso da tarifa como instrumento de combate à inflação seria limitado6. Segundo o autor, os estudos até então simplesmente assumiam pass-through completo de tarifas, ou seja, que os preços dos produtos importados refletiam totalmente as variações de tarifas, alterando consequentemente o volume das importações de deslocando a produção do país importador. Ademais, havia uma suposição implícita de que os preços dos produtos nacionais, que não eram importados e, portanto, para os quais não se aplicava imposto de importação, não tinham seus preços afetados por alterações tarifárias. O autor lembra que os ganhos do consumidor doméstico frente a alterações tarifárias dependerão da elasticidade da demanda, que por sua vez depende, dentre outros: a) do tipo de bem; b) da participação das importações no consumo doméstico daquele bem; c) da estrutura de mercado da produção nacional (grau de monopólio).

Belassa (1966), por sua vez, testa o chamando “argumento de Krause”, segundo o qual a criação da Comunidade Econômica Européia (CEE)7, em 1957, que estabeleceu reduções tarifárias entre os membros, seria prejudicial às importações de terceiros países porque provocaria desvio de comércio. Segundo este autor, o argumento acima seria falho, pois a redução tarifária expõe os produtores “de alto custo” à concorrência internacional, não sendo possível ampliar a produção a custos constantes. A comparação dos dados de 91 indústrias analisadas corrobora a hipótese do autor: os maiores produtores de manufaturados contavam, em 1958, com uma participação de 51% do comércio intrabloco e, em 1963, esta participação caiu para 39,5% (BELASSA, 1966, p. 467-468). Portanto, embora o autor não analise impactos sobre preços, seu estudo apresenta evidências de que reduções tarifárias estimulam a concorrência.

Lewis (1968) examina os efeitos de diversas políticas econômicas sobre o diferencial de preços domésticos do Paquistão e internacionais, a partir de dados que abrangem o período 1951-64. A teoria preconiza que, na ausência de monopólio e sem restrições ao comércio de bens, a estrutura de preços dos bens transacionáveis tende a se igualar entre os países; logo, as

6 Conforme A. Rees (1958, p. 660 apud Kreinin, 1961, p.320): “The contribution

of tariff cuts to preventing inflation would be that they would increase the possibility of using imports to break bottlenecks in our economy and to check excessive prices increases, so that prices of particular goods in short supply would be slower to rise when the economy as a whole was not operating at capacity”.

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tarifas seriam um obstáculo a este movimento. O autor conclui que, no longo prazo, em uma economia aberta, na qual o comércio é restringido de alguma forma e a taxa de câmbio se mantém valorizada, a política tarifária tem pequena relevância sobre a estrutura de preços do país.

Até meados da década de 60 a relação entre tarifa e preços não era óbvia. A econometria ainda não era utilizada, dificultando não apenas as avaliações de impacto da tarifa sobre a economia, mas também a comparação dos estudos. A concorrência imperfeita foi introduzida na teoria do comércio internacional a partir da chamada “concorrência monopolística”. Observou-se, após a Segunda Guerra Mundial, que o padrão de comércio não estava de acordo com o que preconizava a tradicional teoria de Hecksher-Ohlin, segundo a qual o comércio deveria refletir as características dos países e suas tecnologias de produção. Especificamente, os países exportariam bens que utilizassem seu fator de produção mais abundante. Portanto, era esperado que: i) o comércio se daria entre países “complementares”, ou seja, um intensivo em mão de obra e outro em capital; ii) a composição do comércio refletiria as vantagens comparativas; ii) houvesse efeitos sobre a distribuição de renda. Todavia, o comércio acontecia entre países de mesmo nível de desenvolvimento econômico, intraindústria e os efeitos distributivos se mostraram inferiores ao esperado (KRUGMAN, 1986, p.4). Tais efeitos eram observados principalmente na Comunidade Econômica Européia (formada em 1957) e no Acordo de Comércio de Produtos Automotivos Canadá - Estados Unidos (assinado em 1965).

Alguns teóricos propuseram uma explicação simples: o comércio entre países desenvolvidos não se explica pelas vantagens comparativas, mas sim pelas economias de escala (KEMP, 1964 apud BAUMANN et al., 2004; MELVIN, 1969). Todavia, a construção de um modelo com esta característica não era simples, pois a existência de economias de escala levava a uma estrutura de mercado diferente da concorrência perfeita, pressuposto básico do modelo das vantagens comparativas. A solução veio apenas em fins de 1970, quando a introdução da concorrência monopolística por Dixit e Stiglitz (1977) permitiu formalizar um modelo na presença de retornos crescentes de escala. Os modelos de

concorrência monopolística são baseados na idéia de

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não produzida. Enfoque alternativo foi proposto por Lancaster (1980), o qual sugeriu que o consumidor não demanda variedades propriamente ditas, mas sim atributos das variedades; os consumidores diferem, portanto, em seu conjunto de atributos.

Para a teoria internacional, não há muita diferença nos dois enfoques. A importância de ambos está no fato de o modelo permitir atingir um equilíbrio no qual a quantidade de bens diferenciados é produzida por empresas com poder de monopólio, mas que não recebem os lucros do monopólio (KRUGMAN, 1979). Posteriormente, o modelo apresentou extensões, com a inclusão de bens não-comercializáveis, bens intermediários, empresas multinacionais e custos de transporte (KRUGMAN, 1980, 1981; ETHIER, 1982; HELPMAN, 1981). Ressalte-se que a relevância do modelo de concorrência monopolística não está no Ressalte-seu realismo, mas sim na sua simplicidade. Afastando-se um pouco da discussão de “padrão de comércio” e adotando-se determinadas suposições, os modelos de concorrência monopolística permitem algumas conclusões interessantes. Subordinada à aplicação de tais modelos está a idéia de que o comércio aumenta o tamanho do mercado. Nas indústrias em que existem economias de escala, tanto a variedade de bens que um país pode produzir como a escala de sua produção são limitados pelo tamanho do mercado. Comercializando entre si e formando um mercado mundial integrado, os países livram-se de tais restrições (KRUGMAN e OBSTFELD, 2001). Dado que a concorrência imperfeita levava a uma situação “second best”8, abria-se espaço para intervenções de governos (POMFRET, 1992). Alguns autores já haviam observado que o comércio internacional poderia reduzir o poder de mercado das empresas domésticas, enquanto proteção nacional teria efeito oposto. Uma das linhas de pesquisa se desenvolveu em torno das formas que podem tomar as medidas de proteção, especificamente cotas e tarifas, e seus efeitos sobre o poder de mercado das firmas. Bhagwati (1965 apud KRUGMAN, 1986) desenvolveu um modelo no qual um monopolista doméstico compete com firmas estrangeiras tomadoras de preço. O efeito de aplicação de uma tarifa pelo governo será o aumento de preço das importações. Se a tarifa não for proibitiva a ponta de coibi-las, a firma doméstica age como tomadora de preço, definindo o nível de produção no ponto onde o preço se iguala ao custo marginal. No caso de uma tarifa proibitiva, a empresa monopolista elevará seu preço no mesmo patamar dos bens importados e reduzirá sua produção. Todavia, a simples ameaça de importações impede que o monopolista exerça seu poder de mercado completamente. Em mercados de concorrência imperfeita, cotas (restrições à quantidade

8“Second best” é o termo usado para se referir a situações que não são ótimos de Pareto (first best). Na área

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importada) teriam efeitos semelhantes às tarifas. Entretanto, haja vista que a imposição de cota afasta a ameaça de importações, o monopolista poderia exercer o poder de mercado em sua plenitude. Esta é a chamada “não-equivalência de tarifas e cotas” (BHAGWATI, 1968; SHIBATA, 1968). A simplicidade e clareza do modelo de Bhagwati (1965 apud Krugman, 1986) permitiu sua aplicação nas políticas públicas:

“And perceptions of the impact of trade policy on market power seem to be playing a role in antitrust decisions: in the steel industry, for example, it appears that the Justice Department appreciates that foreign competition is a less effective discipline than import penetration would suggest thanks to import quotas and voluntary export restraints” (KRUGMAN,1986, p.24)9.

Nesta linha de pesquisa, surgiram modelos mais sofisticados. Melvin e Warne (1973), utilizando um modelo de dois bens e dois países, investigaram as implicações de haver monopólio em ambos, derivando as condições necessárias e suficientes para a existência de equilíbrio. Os autores concluíram que, comparativamente à situação de autarquia ou concorrência perfeita, apenas um dos países obterá ganhos do comércio internacional. O país

“perdedor” será aquele que possuir a vantagem comparativa no bem de maior elasticidade da

demanda em relação a preço. Este seria o caso em que uma tarifa proibitiva se justificaria. Aprofundando o modelo, Markusen (1981) assume que o monopolista em cada um dos dois países segue um comportamento Cournot-Nash. Se ambos os países forem idênticos, então haverá ganhos para os dois, pois o comércio internacional dobra o tamanho do mercado em relação à situação de autarquia, dobrando, conseqüentemente, o número de produtores. Todavia, se os retornos de escala forem constantes e os países diferirem em termos de tamanho, o equilíbrio de Cournot-Nash10 leva à importação do bem pelo país maior, podendo fazer com que haja redução de produção nesse país e, possivelmente, trazendo resultados negativos em termos comerciais. Além disso, o preço do fator de produção utilizado mais intensamente no bem objeto do monopólio será maior no país menor. No caso de haver retornos crescentes de escala, o país maior terá vantagem na produção do bem do monopólio,

9“E percepções do impacto da política comercial sobre o poder de mercado parecem ter relevância nas decisões

antitruste: no setor siderúrgico, por exemplo, o Departamento de Justiça entende que a competição externa tem tido um efeito menor que o esperado pela penetração de importações devido às cotas de importação e restrições voluntárias de exportações” (tradução nossa).

10 Em Teoria dos Jogos diz-se que o equilíbrio de Nash é atingido quando cada estratégia representa a melhor

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podendo exportá-lo. Portanto, a depender do tamanho do país e dos retornos de escala, os ganhos de comércio são incertos.

Dixit e Norman (1980) mostram que, com comportamento do tipo Cournot, sem barreiras à entrada, o aumento de mercado proporcionado pelo comércio internacional leva a um aumento menos que proporcional do número de firmas e a uma queda no custo médio de produção. Por outro lado, medidas de proteção levam à fragmentação dos mercados, ao aumento do número de firmas e ao aumento de custos. Os autores modelam, portanto, a proposição de que rendas de monopólio geram entrada excessiva de empresas, levando a uma escala de produção pequena e ineficiente.

Brander e Spencer (1981, 1984) analisaram a possibilidade de se utilizar tarifas para extrair rendas da firma estrangeira monopolista em mercados de concorrência imperfeita. Em 1981, os autores analisam o efeito da tarifa no caso em que produtores nacionais potenciais não entram no mercado devido à presença do monopolista estrangeiro. O país que importa o bem produzido por um monopolista no exterior transfere renda para esta firma. Supondo um modelo em que a entrada de firmas siga um comportamento do tipo Stackelberg e que o produtor doméstico somente produzirá para o mercado nacional, a tarifa poderá ser aplicada para extrair renda do monopolista estrangeiro, sem necessidade de redução do nível de importações ou do consumo, apesar dos custos de transporte. Todavia, se a tarifa for suficientemente elevada, a firma estrangeira poderá desistir de exportar e o país que a aplica somente terá aumento de bem-estar se a firma nacional puder produzir, exportar e auferir renda desta exportação. Este argumento, conhecido por rent-shifting passou a ser muito utilizado para explicar como as tarifas podem permitir ganhos de bem-estar em países pequenos. Em 1984, os autores fazem esta mesma análise para casos de duopólio de Cournot, com uma firma estrangeira e uma nacional produzindo o mesmo bem em condições de monopólio. A possibilidade de transferência de renda por meio da imposição da tarifa permanece. Todavia, neste caso, um subsídio à exportação pode ser superior à tarifa, por aumentar o excedente do consumidor.

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rivais como dado, ou seja, um comportamento do tipo Bertrand, a política ótima não seria nem a tarifa nem o subsídio à exportação, mas sim um imposto de exportação. Ressalte-se que as hipóteses de Cournot e Bertrand se referem a modelos que tratam de um único “movimento” entre as firmas, sem colusão. Na realidade, as firmas interagem repetidamente e é possível que os jogadores aprendam com as ações passadas dos rivais. Uma alternativa seria considerar que cada firma age de maneira estratégica, utilizando toda informação disponível para antecipara a reação do rival.

Markusen (1989, 1990) foca em insumos intermediários diferenciados e levanta a possibilidade de complementaridade entre os insumos domésticos e importados. Isto lança por terra o argumento de que, no caso de produção nacional insuficiente, a proteção traria aumento de bem-estar à economia. Lopez-de-Silanes et al. (1992) buscam mostrar que o tradicional argumento de que determinado nível de proteção pode melhorar o bem-estar do país não se aplica aos casos nos quais: i) as importações são bens intermediários utilizados na indústria doméstica, com retornos crescentes de escala; ii) os bens intermediários são complementares à produção doméstica. Estes autores utilizaram um modelo de equilíbrio geral aplicado à indústria de autopeças do México, que estabeleceu proteção contra as importações dos Estados Unidos, e reforçaram o argumento contra a proteção.

Não se pretende aqui fazer uma exposição exaustiva de todos os modelos desenvolvidos à época. A literatura apresentada tem por objetivo mostrar como o tema da concorrência imperfeita, que teve o seu auge na década de 80, foi tratado. Por este motivo apenas os modelos considerados mais importantes e que possuem alguma relação com o objetivo geral desta pesquisa foram abordados. Outros modelos tratam, por exemplo, da possibilidade de colusão entre as empresas de dois países (ROTHEMBERG e SALONER, 1986), ou dos efeitos das restrições voluntárias às exportações (KRISHNA, 1989); todavia estes temas fogem ao escopo deste capítulo.

Cabe mencionar que a principal hipótese por trás dos modelos apresentados está correta: os mercados nem sempre são perfeitamente competitivos e os retornos de escala nem sempre são constantes. Entretanto, os modelos acima tratam de casos específicos, cujas premissas, uma vez alteradas, podem trazer conclusões opostas às encontradas pelos autores. De toda forma, a introdução da concorrência imperfeita teve impactos sobre aspectos positivos e normativos da economia11, bem como sobre a economia política (POMFRET,

11 A economia positiva trata da análise de diversos efeitos derivados das barreiras às importações ou da

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1992). No que concerne aos aspectos positivos, aceitou-se que o comércio internacional se deve às economias de escala, embora o tema não seja tratado na teoria clássica. O padrão de comércio é, portanto, indeterminado e existem múltiplos equilíbrios. Ademais, fica evidente que na presença de economias de escala os benefícios da especialização internacional se potencializam. No caso da concorrência monopolística, há ainda ganhos advindos do aumento de variedades de bens disponíveis aos consumidores.

Em termos normativos, a teoria tradicional preconiza que, sob concorrência perfeita, o livre comércio maximiza o bem-estar mundial. Porém, se um país é monopolista na produção de algum bem, seu governo pode aumentar o bem-estar nacional impondo barreiras ao comércio internacional. Além disso, em indústrias com poucas firmas e restrições à entrada, podem existir rendas de monopólio; os governos podem aumentar esta renda impondo tarifas ou adotando subsídios às exportações. A tarifa também pode ser utilizada para transferir o consumo de bens importados para bens domésticos. Outra possibilidade seria o uso da política comercial para trazer os preços a níveis próximos do custo marginal, o que exigiria um conjunto de informações das firmas, nem sempre disponíveis (por exemplo, as curvas de custo). Embora exista uma lista de distorções domésticas na presença das quais a política comercial pode trazer ganhos nacionais, a conclusão geral é a de que esta intervenção nunca será uma solução “first best”, pois existe sempre a possibilidade de retaliação por parte dos demais países. Ademais, a aplicação de uma medida comercial pode alterar estruturas de mercado, levando à necessidade de adoção de outras políticas comerciais. Vale dizer que as implicações normativas da nova teoria de comércio são limitadas.

Quanto à economia política, é verdade que qualquer argumento a favor de barreiras à importação ou subsídios à exportação encontra terreno fértil, pois de alguma forma beneficiam algum setor produtor. Deve-se acrescentar que diante das imperfeições dos mercados e na ausência de um órgão antitruste mundial, a questão de monopólios/duopólios/oligopólios internacionais sempre encontrará soluções à luz de políticas nacionais.

Apesar do impacto da nova teoria do comércio para a economia, verifica-se que nenhum dos estudos anteriores confrontava o modelo teórico com evidências empíricas. Segundo Krugman (1986): ”Until very recently, there was essentially no quantification of the new ideas in trade theory”. A existência de economias de escala e concorrência imperfeita fortalece os ganhos globais do comércio, embora possa aumentar os ganhos de um país com a

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imposição de barreiras. Todavia, na literatura empírica praticamente não há evidências de que barreiras comerciais aumentam o bem-estar. Alguns estudos apresentados à época são modelos calibrados, e não estimados, acerca de determinado setor12.

Baldwin e Krugman (1988), por exemplo, realizaram exercício de simulação com a indústria de semicondutores (chips 16K RAM), cuja tecnologia era dominada pelos Estados Unidos desde fins da década de 70, mas passou ao controle do Japão em seguida. Os autores concluíram que, sob livre comércio, haveria sete empresas norte-americanas e nenhuma japonesa; portanto, a proteção tarifária do Japão foi a responsável pela vantagem comparativa deste país. Sem a proteção, as empresas japonesas teriam produção menor, custos marginais maiores e seriam forçadas a sair do mercado. Em termos de bem-estar, os efeitos foram negativos para os EUA (que “perdeu” empresas), para o Japão (pois as perdas dos consumidores foram maiores que os ganhos dos produtores) e para o mundo (que teve custos de produção maiores com nove produtores ao invés de sete). Todavia, os autores apresentam uma série se limitações do modelo e reconhecem sua fragilidade enquanto trabalho empírico. Moore (1990) utilizou dados trimestrais de 1970 a 1985 e testou econometricamente a hipótese de que o preço de três fabricantes de semicondutores nos EUA foi afetado negativamente pelos subsídios em pesquisa e desenvolvimento dado pelos japoneses. Este autor tenta diversas especificações e defasagens, mas não consegue rejeitar a hipótese nula de que as medidas japonesas não trouxeram impactos aos EUA.

Promfret (1992) menciona diversos estudos empíricos sobre a indústria aeronáutica, especificamente o caso Boeing-Airbus. De modo geral, são estudos estilizados, com matrizes de pay-offs e estruturas de mercado hipotéticas. O grande problema era identificar os subsídios e todos os estímulos de governo para as empresas Boeing e Airbus, bem como definir as curvas de custos. Tratou-se o caso como duopólio de Cournot e foram ressaltados os efeitos pró-competitivos da existência de dois competidores ao invés de um, haja vista que o mundo se beneficia de preços menores das aeronaves.

Outra indústria objeto de estudos empíricos à época foi a automobilística, devido à rivalidade EUA-Japão, ao pequeno número de firmas (que traz suspeitas de oligopólio) e à importância na cesta do consumidor. Dixit (1988) analisa o efeito das tarifas e dos subsídios à produção doméstica nos EUA, sem considerar problemas de retaliação, possíveis sanções do GATT ou outro tipo de repercussão internacional. O autor conclui que quando não há subsídios, a tarifa tem a função de reduzir a distorção doméstica, ou seja, quanto maior a

12 Não serão apresentados aqui estudos internacionais de equilíbrio geral que mostram os efeitos do

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tarifa, maiores as vendas de carros norte-americanos. Apesar da distorção de comércio, há ganhos porque os preços excedem os custos marginais. O estudo também mostrou que o efeito de tarifas depende em grande parte dos custos. Outras pesquisas (POMFRET, 1992) mostram que o acordo de restrição voluntária de exportação entre Japão e EUA e Europa levou à perda de bem-estar nos países importadores e criou uma quantidade bastante reduzida de empregos, apesar do aumento de lucros domésticos das firmas.

A siderurgia norte-americana também foi objeto de diversos estudos, vez que foi praticamente objeto de todas as formas de proteção comercial desde a década de 60, época em que os EUA se tornaram importadores líquidos. A história de proteção do setor pode ser dividida em três períodos: i) 1969 -74, com os acordos de restrição voluntária de exportações (Voluntary Export Restraints - VER); ii)1978-82, com o gatilho de preços (Trigger Price

Mechanism - TPM); iii) 1982 em diante, com os mecanismos de defesa comercial (medidas

antidumping, salvaguardas e medidas compensatórias) (CHUNG, 1998). No período de 1960

a 2000, houve redução no número de empregos, que passou de 600 mil para menos de 100 mil nos Estados Unidos, sendo que cerca de 1/3 das firmas havia falido em 2000 (BLONIGEN et al., 2007). Tais dados explicam o fato de a indústria siderúrgica ter sido uma das maiores beneficiárias de medidas protecionistas nos EUA, o que, por sua vez, justifica a quantidade de estudos sobre este setor.

Jondrow et al. (1982) analisam as características que tornam o preço do aço produzido nos EUA diferente do importado, esse geralmente inferior. Primeiramente, os autores questionam se, de fato, há diferenças de preços entre o produto nacional e o importado, pois os preços internacionais são geralmente oriundos de publicações internacionais (por exemplo,

Metal Bulletin) ou da razão valor por tonelada, e concluem que a diferença existe, a partir de

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As políticas antidumping13 do setor siderúrgico nos EUA foram analisadas por Eichengreen e Ven (1983). Os autores desenvolveram um modelo de concorrência imperfeita em indústrias oligopolistas rivais e mercados segmentados. O modelo foi calibrado com dados de 1979, ano em que o chamado Trigger Price Mechanism esteve em vigor. Além de apresentar um histórico das várias medidas de defesa comercial sobre o setor, os autores buscaram identificar as principais variáveis econômicas que afetavam a imposição de uma medida antidumping. As variáveis encontradas foram: número de firmas produzindo no mercado doméstico, seus custos, suas participações de mercado e a interdependência entre elas (vale dizer, o quanto as firmas reconhecem e exploram sua interdependência). Os autores ressaltam a dificuldade de comparação entre os dados dos EUA e os internacionais e alertam para o uso correto do câmbio, tendo em vista seu efeito significativo sobre a variável custo.

GROSSMAN (1986) verificou se o volume importado foi a causa dos prejuízos da indústria siderúrgica norte-americana, no período 1976-1983. A equação proposta incluía, além da variáveis “preço na indústria siderúrgica norte-americana”, preço de energia, índice de preços nacionais, salários, preço do minério de ferro, preços internacionais de produtos siderúrgicos, taxa de câmbio, tarifa de importação e nível de produção industrial. A análise mostrou que as importações não foram a principal causa de desemprego na indústria dos EUA no período em questão. A queda de empregados no setor poderia ser explicada pela mobilidade da mão-de-obra para os setores de serviços e/ou de alta tecnologia e pela queda da demanda doméstica (esta, por sua vez, explicada pelos preços relativos ou movimentos na renda real). O autor ressalta que o efeito da concorrência das importações pode ser separado em três componentes: i) oferta internacional; ii) taxa de câmbio; iii) tarifa de importação dos EUA. Destes, apenas o câmbio poderia ter tido algum efeito.

Melo e Tarr (1990) quantificam os efeitos da possível retirada das cotas de importação aplicadas aos setores de têxteis, automóveis e aço sobre o bem-estar da economia. Os autores utilizam um modelo de equilíbrio geral computável (CGE) aplicável a dez setores, calibrado para o ano de 1984, quando as cotas de têxteis e automóveis estavam em vigor e a do aço, em negociação. O modelo segue os pressupostos de uma análise neoclássica de equilíbrio parcial, em concorrência perfeita: existe um consumidor representativo que maximiza utilidade, sujeito a restrições orçamentárias; produtores (atomizados) minimizam custos e o governo

13 O

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distribui os impostos lump sum da política comercial. A economia possui uma dotação fixa de capital e trabalho e enfrenta uma restrição exógena da balança comercial expressa em preços internacionais. Os componentes da demanda incluem apenas consumo e demanda intermediária. Cria-se um índice para medir a variação de bem-estar devida a alterações da política comercial. Os autores concluem que os custos das tarifas sobre o bem-estar representam de 2% (em casos de baixa elasticidade da demanda) a 4% (nos casos de elevada elasticidade) dos custos das cotas. O custo estimado das cotas nos três setores foi de US$ 20 bilhões (valores de 1984)14.

Chung (1998) explora a efetividade das medidas de defesa comercial contra a importação de produtos siderúrgicos no período 1983-1992. O modelo desenvolvido explica a penetração das importações de aço nos Estados Unidos em termos da política comercial e do volume importado esperado, inserindo a incerteza. O autor utiliza a hipótese das expectativas racionais e o método de vetores auto-regressivos e conclui que as medidas antidumping e compensatórias tiveram um impacto modesto sobre as importações.

Irwin (2000) analisa o impacto da tarifa de importação sobre a indústria de ferro gusa dos Estados Unidos. Os dados são anuais do período 1869-1889. Define-se um modelo de equilíbrio parcial, no qual se supõe que a demanda pode ser atendida por produtos nacionais e importados. Caso haja redução de tarifa, os preços dos importados se reduzem na mesma magnitude da tarifa e das elasticidades de substituição; a produção nacional cai, reduzindo o excedente do produtor, mas aumentando o excedente do consumidor. O modelo é calibrado com dados de 1869. Os resultados sugerem que, caso a tarifa tivesse sido eliminada em 1869 a produção doméstica seria 15% inferior e a participação das importações no consumo seria de 7% a 30% superior; portanto, a proteção à indústria doméstica de ferro gusa não seria necessária, pois os efeitos podem ser considerados modestos. Segundo o autor, os resultados do modelo são consistentes com estudos anteriores.

Blonigen et al. (2007) estimam o impacto de diversas medidas comerciais sobre o poder de mercado do setor siderúrgico através de um modelo econométrico que inclui equações representativas da demanda, da oferta de importações e dos preços dos EUA e permite controlar custo e inovações tecnológicas. Empiricamente, o autor utiliza uma análise

14 A idéia de calcular efeitos de tarifas de importação sobre o bem estar vem de Tullock (1967). Este autor afirma

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de painel com os 20 principais produtos siderúrgicos, a partir de dados anuais do período 1980-2006. Variáveis exógenas na equação de demanda dos EUA incluem o preço real do alumínio, um substituto do aço, bem como um índice da produção industrial (pois o aço é um bem intermediário). A equação de oferta das importações inclui a taxa de câmbio, o produto interno bruto real do resto do mundo, preços reais internacionais de insumos (minério, petróleo e carvão) e medidas de políticas comerciais, além das variáveis exógenas salários, minério de ferro, sucata, eletricidade e carvão. Os resultados mostram que as medidas de política comercial têm como efeito reduzir o volume importado (exceto as medidas compensatórias). Ademais, somente as restrições voluntárias à exportação aumentam o poder da indústria de estabelecer preços superiores ao custo marginal, o que vai ao encontro da literatura anterior segundo a qual cotas podem levar a um aumento de poder de mercado da firma superior às tarifas. Os autores observaram também que o efeito das cotas sobre o poder de mercado somente ocorreu para as firmas maiores, que produzem de forma integrada.

A já mencionada “não-equivalência de tarifas e cotas” foi testada para o setor siderúrgico dos Estados Unidos por Bloningen et al. (2010) a partir de um painel com dados detalhados de plantas siderúrgicas e um grupo de controle de plantas de metais não-ferrosos, no período de 1967 a 2002. Os autores estimaram uma equação cuja produção seria explicada por fatores de produção (capital, trabalho e insumos), importações, políticas comerciais, demanda, concentração de mercado, investimentos e mark-up. Os resultados econométricos sugerem a não-equivalência de tarifas e cotas. As várias formas de proteção baseadas em tarifas (ad valorem, medidas compensatórias, salvaguardas) não apresentam evidências de efeitos positivos sobre o poder de mercado, enquanto as restrições quantitativas estão associadas a aumento de poder de mercado, com significância estatística e econômica. Os efeitos das medidas antidumping foram inconclusivos.

Outros estudos empíricos, embora nem sempre analisem diretamente a relação entre concorrência imperfeita e comércio internacional ou não tratem especificamente de um setor, são relevantes por apresentarem novos métodos ou por tentarem explicar os efeitos da tarifa sobre a economia, ainda que tais efeitos sejam o resultado da criação de um bloco econômico ou de uma abertura econômica generalizada.

Levinsohn (1993) investiga a idéia de que o comércio internacional aumenta a concorrência e, conseqüentemente, reduz mark ups; especificamente o autor testa a chamada “hipótese das importações como disciplinadoras do mercado” ( import-as-market-discipline-hypothesis). Trata-se de um estudo que visa analisar o impacto da abertura comercial da

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período de 1983 a 1986. Estima-se, para cada indústria, uma equação na qual a produção depende de capital, custo de capital, trabalho, preço do trabalho, choques de produtividade e mudanças na razão preço-custo marginal (devido à abertura comercial). Antes da abertura comercial, seis indústrias tinham preços iguais ao custo marginal, três acima e uma abaixo. Os resultados mostraram que as três empresas cujos preços estavam acima do custo marginal tiveram seus mark ups reduzidos após a abertura comercial, confirmando a “

import-as-market-discipline-hypothesis

Na mesma linha, Harrison (1994) analisa as mudanças no poder de mercado e produtividade das firmas na Costa do Marfim após a abertura comercial de 1985. Foram selecionadas 246 empresas em funcionamento no período 1979-1987. Os resultados sugerem que as firmas dos setores mais protegidos – sobretudo alimentos para consumo doméstico – possuíam os maiores mark ups, com fracas evidências de redução entre 85 e 87. No caso de têxteis, a redução de mark ups sugere que o aumento de competição das importações reduziu o poder de mercado das firmas. No caso de setores processadores de alimentos, a única redução significativa se deu nas firmas exportadoras, afetadas pela valorização cambial. De modo geral, verificou-se que o poder de mercado é maior em setores com menor participação de importações e maiores tarifas.

Chang e Winters (2002), por sua vez, tratam dos efeitos da integração regional sobre terceiros países e postulam que empresas exportadoras de países que não pertencem ao Mercosul têm seus preços influenciados não apenas pelas tarifas impostas, mas também pelas tarifas aplicadas aos países membros do bloco. Os autores estimam uma equação, utilizando Two-step Feasible Generalized Least Squares (FGLS), na qual o preço do país exportador não-membro do bloco seria afetado pelo custo de produção, taxa de câmbio, tarifa, renda nominal, índices de preços agregado nacionais e por uma variável que mede sua percepção em relação aos custos dos países membros do bloco. Apesar de os resultados serem apenas intuitivos, haja vista os problemas de estimação, observou-se diferentes níveis de

pass-through de tarifas para os países (Chile, Japão, Alemanha, Korea, EUA), mas, de modo geral,

verificou-se redução de preços dos exportadores não-membros do Mercosul.

Coutts e Norman (2006) analisaram os determinantes domésticos e internacionais dos preços da economia do Reino Unido por meio da estimação de uma equação na qual o preço ao produtor depende dos custos de produção, da produtividade, dos preços de matérias-primas e combustíveis e dos preços do produto importado. Os dados abrangem o período de 1970 a 1996, totalizando 104 observações. A metodologia utilizada foi Autoregressive Distributed

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efeito de preços internacionais, ou seja, de bens importados, nos mercados domésticos normalmente não é dominante para explicar variações de preços internas. Além disso, os efeitos de transmissão de preços variam de acordo com o setor.

Badinger (2007) busca verificar o efeito pró-competitivo do mercado único europeu (o qual inclui a redução generalizada de tarifas entre os membros do bloco), a partir de um estudo de 10 países e 18 setores, no período 1981-1999. Os resultados mostraram que a abertura comercial resultante da integração reduziu os mark ups da indústria de manufaturados de 1,38 para 1,28. Observou-se que em alguns segmentos específicos da manufatura houve um aumento de mark ups nos fins dos anos 80, o que pode ser explicado pela aumento da concentração e do tamanho das firmas européias nesta época; todavia, após 1990, os mark ups voltam a cair. No caso da indústria de construção, os resultados também apontam para uma queda de mark ups de 1,51 para 1,31 a partir de 1986 . Todavia, para o segmento de serviços, observou-se um aumento de mark ups a partir dos anos 90, de 1,30 para 1,37. A explicação seria que o mercado único europeu e a globalização induziram as firmas a estratégias anticompetitivas (por exemplo, conluios), reduzindo a concorrência em determinados segmentos.

Quanto ao pass-through do câmbio, tendo em vista a vasta literatura sobre o assunto, não se fará uma exposição exaustiva, mencionando apenas aqueles com viés microeconômico e considerados mais diretamente relacionados ao tema desta tese. Um dos primeiros trabalhos a tratar do tema foi Dornbusch (1987), o qual, a partir de uma abordagem de equilíbrio parcial com diferentes modelos da organização industrial de curto prazo, conclui que o ajuste dos preços internos decorrentes de movimentos da taxa de câmbio (considerada exógena) dependerá da substituibilidade do produto, do número de empresas nacionais e internacionais e da estrutura de mercado, implicando pass-through incompleto. Na mesma linha, Menon (1995) salienta que em concorrência imperfeita as firmas têm condições de fixar preços acima do custo marginal, definindo um mark up. A variação deste mark up em resposta a variações cambiais dependerá da substituibilidade do produto em relação ao importado e do grau de abertura da economia.

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desenvolvimento, no período 1980 a 2003, e conclui que os diferentes graus de pass-through se devem ao tipo de regime cambial, às barreiras comerciais e ao regime de inflação vigente em cada país. A relação entre poder de mercado e pass-through incompleto do câmbio é tratada por Brissimis e Kosma (2007) com um modelo de Cournot. Estes autores mostraram, através de uma análise de painel para empresas japonesas situadas nos Estados Unidos, que o repasse incompleto das variações do câmbio para os preços depende, além de outros fatores, do poder de mercado das firmas. Bhattacharya et al.(2008) investigam o pass-through do câmbio para preços domésticos, em nível de indústria, nos Estados Unidos, Reino Unido e Japão e concluem que existem diferentes canais de pass-through, sendo os principais o preço do produto importado e os ajustes de mark up das empresas nacionais e estrangeiras.

A literatura internacional mostra, portanto, que uma vez considerada a hipótese de concorrência imperfeita, a política comercial pode funcionar como política antitruste em uma economia aberta. Alterações tarifárias afetam a economia nacional, mas seus efeitos dependerão do tipo de bem, da participação das importações no consumo doméstico e da estrutura de mercado da produção nacional. Por outro lado, restrições ao comércio e movimentos da taxa de câmbio podem afetar os resultados da política tarifária. De toda forma, há evidências de que alterações tarifárias e cambiais afetam preços nacionais. Além disso, o setor siderúrgico, por suas características, merece atenção em questões relativas ao comércio internacional e a depender do que se pretende estudar, a metodologia de dados em painel pode ser utilizada. Neste sentido, o objetivo da pesquisa ora proposta, de verificar o

pass-through de tarifas e câmbio sobre o setor siderúrgico, com a utilização da técnica de

dados em painel está alinhado com a literatura internacional.

2.2.2 Literatura nacional

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Tabela 1: Estatística descritiva das variáveis nominais sem transformação
Tabela 2: Estatística descritiva das variáveis nominais sem transformação antes e após 2005
Tabela 3: Resultados dos testes de raiz unitária para dados em painel
Tabela 4: Testes MADF GLS  e MPP GLS  para a variável lnpreço por indivíduo
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Referências

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