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Significações em relações de bebês com seus pares de idade

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Academic year: 2017

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

CAROLINA ALEXANDRE COSTA

Significações em relações de bebês com seus pares de idade.

Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da USP, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Ciências. Área: Psicologia.

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CAROLINA ALEXANDRE COSTA

Significações em relações de bebês com seus pares de idade.

Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da USP, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Ciências. Área: Psicologia.

Orientador: Profa. Dra. Katia de Souza Amorim

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Costa, Carolina Alexandre

Significações em relações de bebês com seus pares de idade. Ribeirão Preto, 2012-01-12

161p. : il., 30 cm

Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Ciências. Área: Psicologia.

Orientador: Katia de Souza Amorim

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Carolina Alexandre Costa

Significações em relações de bebês com seus pares de idade.

Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da USP, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Ciências. Área: Psicologia.

Aprovado em :

BANCA EXAMINADORA

Profa Dra Instituição Assinatura:

Profa Dra Instituição Assinatura:

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Aula de vôo

Mauro Luis Iasi

O conhecimento caminha lento feito lagarta. Primeiro não sabe que sabe

e voraz contenta-se com o cotidiano orvalho deixado nas folhas vívidas das manhãs.

Depois pensa que sabe e se fecha em si mesmo:

faz muralhas, cava trincheiras, ergue barricadas.

Defendendo o que pensa saber, levanta certezas na forma de muro,

orgulhando-se de seu casulo. Até que maduro explode em vôos

rindo do tempo que imaginava saber ou guardava preso o que sabia.

Voa alto sua ousadia reconhecendo o suor dos séculos

no orvalho de cada dia. Mesmo o vôo mais belo descobre um dia não ser eterno.

É tempo de acasalar: voltar a terra com seus ovos à espera de novas e prosaicas lagartas.

O conhecimento é assim: ri de si mesmo e de suas certezas.

É meta da forma metamorfose

movimento fluir do tempo que tanto cria como arrasa a nos mostrar que para o vôo

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AGRADECIMENTOS

À minha família: Álvaro, Mara, Natalia, Henrique e Elisson, eternos parceiros e companheiros de todos os momentos! Pessoas muito amadas e queridas, que tanto contribuíram para este percurso! Meu eterno agradecimento pela grande oportunidade de estarmos juntos!

À Katia de Souza Amorim, querida orientadora e grande parceira! Obrigada pelos anos valiosos de convivência que têm me ensinado tanto sobre ética, amizade, respeito e dedicação à vida acadêmica!

Aos meus amigos: Ana Idalina, Lucas, Fernanda, Fabiana, Beatriz, Ana Carolina, Vani, Viviane e Lázara, Lúcia, Vanessa, Teresa, Tatiane e Alex, sempre sinceros e companheiros! Aos quais me entrelaço pelo carinho, companheirismo e ótimos momentos juntos!

À Clotilde pelo carinho, atenção e ensinamentos valiosos de vida e pesquisadora! À Banca de Qualificação que tanto contribuiu para o percurso desta pesquisa!

Aos Cindedianos: Carla Morelli, Claudia Yazlle, Cristina Almeida, Cristiane Campos, Flávia Pádua, Gabriela Aranha, Gabriela Moura, Fernanda Lacerda, Ivy Almeida, Jaqueline Crempe, Juliana Bezzon, Kátia Collus, Letícia Fonseca, Larissa Elmôr, Lúcia Tinós, Luciana Martins, Luciana Pereira, Luciana Rodrigues, Ludmilla Ferreira, Luíza Menezes, Mara Isís, Manuela Manaia, Natália Rosin, Natália Santos, Patricia de Souza, Regiane Sbroion, Rosária Saullo, Scheila Silveira, Ticiana Roriz e Victor Oliveira,

À Alda querida pela ajuda e disponibilidade! Ao Ronie pelo auxilio com materiais de pesquisa.

À FAPESP e ao CNPq pelo financiamento e apoio desta pesquisa. À FFCLRP pelo apoio acadêmico.

À creche, direção e educadoras que me acolheram, me ensinaram e permitiram que a pesquisa acontecesse!

Aos bebês participantes e suas famílias, imprescindíveis para o desenvolvimento dessa pesquisa, que confiaram momentos importantes de suas vidas!

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RESUMO

COSTA, C. A. Significações em relações de bebês com seus pares de idade. 2012. Tese (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto –SP, 2012.

As interações dos bebês e seus pares de idade, por muito tempo, não foram reconhecidas no campo da Psicologia do Desenvolvimento. No entanto, nas últimas três décadas, este panorama tem sofrido grandes alterações, particularmente pelos avanços no campo que têm reconhecido as capacidades e habilidades comunicativas dos bebês. Desse modo, ele vem sendo entendido como um ser ativo nas interações com outros sociais, comunicando-se por meio dos recursos disponíveis e específicos. Porém, interrogou-se se, nessas relações, a criança pequena e seu parceiro poderiam atribuir e/ ou construir / apreender / expressar significações às suas próprias ações, às dos outros e às situações? Desse modo, a partir de um estudo de caso múltiplo, objetivou-se investigar se ocorre o processo de significações ao longo do primeiro ano de vida, em relações de bebês com seus pares de idade. E, no caso de ocorrerem, investigar como se dá tal processo. Os registros utilizados foram gravações em DVD realizadas em uma creche de um município do interior do Estado de São Paulo.Quatro bebês pivôs foram aleatoriamente selecionados e são: Catarina (5 meses), Priscila (7 meses), Daiane (10 meses) e Marcos (11 meses). Do Banco de Imagens, foram selecionadas todas as cenas em que os sujeitos apareceram, compondo, assim, um bloco de imagens editadas seguindo o tempo cronológico dos acontecimentos. O corpus foi construído a partir da transcrição microgenética de três episódios interativos selecionados de cada sujeito. A análise das cenas realizada foi microgenética, tendo a Rede de Significações como base. A análise dos dados indicou a ocorrência de significações no primeiro ano de vida, mesmo em bebês pequenos (quatro meses), as quais se concretizam de maneira diversa, quando se considera a idade cronológica dos bebês e as características dos próprios bebês. Estas foram reconhecidas como singulares e possuindo uma curta, mas uma concreta história de vida, de relações estabelecidas com os vários outros e consigo mesmo, em diferentes contextos. Nos primeiros meses, a significação mostrou-se construída dentro da concretude das ações e situações (bater os pés atrai o parceiro), assim como das vivências sobre si e o meio (olhar o mundo através da garrafa plástica). Com o avançar dos meses, as significações passaram a ter um cunho já marcado por significados culturais do grupo, através dos gestos, das expressões, do tom dos balbucios, da antecipação da intencionalidade apreendida pelo olhar. Em tais processos, as significações de si, do outro e das situações foram sendo (re)(des)(co)construídas através de uma série de negociações, que colocava os bebês em papéis sociais diversos, o que permitia apreender novas significações constituídas no entorno.Ressalta-se o grande interesse do bebê por outro bebê, mobilizando, (re)agindo e experimentando novas e antigas ações com seu coetâneo. A pesquisa também ressalta que a linguagem pode ser entendida para além do sentido verbal, abrangendo a comunicação, a interação, o corpo, a expressividade e ações realizadas pelo bebê reconhecendo-o como ator, autor e sujeito nas relações com os outros parceiros sociais.

Palavras-chave: processos significações, bebês, primeiro ano de vida, interação entre bebês, creche.

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ABSTRACT

COSTA, C. A. Meanings in babies relationships with their peers. 2012. Tese (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto –SP, 2012.

For a long time, interactions between babies and their peers were not acknowledged in the Developmental Psychology field. However, during the last three decades, this scenario has undergone major changes, particularly by the advances in the field that have recognized infants’ capabilities and communication skills. Thus, the baby has been understood as active in social interactions with others, communicating by means of their specific and available resources. However, it was interrogated whether, in these relations, the infant and his/her baby partner could assign and/ or build / apprehend / express meanings regarding their own actions, of the other and the situations. Thus, from a multiple case study it was aimed to investigate whether the process of meanings occurs during the first year of life, within babies’ relationships with their peers. Yet, if we positively identify its occurrence, the goal was to investigate how this meanings process happens. Empirical data was constructed through DVD recordings, related to a three months follow up of babies’ attendance at a daycare center in a municipality of the state of São Paulo. Four infants were randomly selected as pivots and they are: Catarina (5 months), Priscila (7 months), Daiane (10 months) and Marcos (11 months), the ages corresponding to the beginning of the recordings. From the Image Bank, every scene in which the subjects appeared was selected, making four blocks of edited images, preserving the chronological order of events. The corpus was built through the microgenetic transcription of three interactive episodes selected from each subjects. Analysis of the scenes was microgenetic, based on the Network of Meanings perspective. Data analysis indicates positively the occurrence of meanings during the first year of life, even in the very young babies (four months). Such occurrence, however, expressed though diferente ways when considering the chronological age of the babies and the babies' own characteristics. These were regarding to the children’ life history (even though, beng short), established relationships with several others and himself / herself, in different contexts. During the first months, it was verified that meaning were present within concrete actions and situations (stomping attracts the partner attention), as well as the experiences of the babies’ self related to the environment (look at the world through the plastic bottle). In later months, meanings were already marked by cultural meanings of the social group, expressed / apprehended through gestures, expressions, tone of babbling, anticipation of intentionality apprehended by the eye. In such cases, the meanings of self, others and situations have been (re)(de)(co)constructed through a series of negotiations that put the babies in different social roles, which allowed them to grasp new meanings which were appropriated. It should be noted that there is a great interest of the baby for the another baby, mobilizing, (re)acting and experiencing new and old actions with peers. The survey also points out that language can be understood beyond the verbal sense, covering communication, interaction, body, expressivity and actions taken by the baby, recognizing him / her as an actor, author and subject in relations with other social partners.

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SUMÁRIO

1. Introdução... 17

1.1. Estudos sobre relações e desenvolvimentos de bebês ... 18

1.2. O campo interativo ... 33

1.3. Comunicação, linguagem e significação nos primeiros anos de vida ... 35

2. Objetivo... 43

3. Procedimentos Metodológicos... 45

3.1. A perspectiva teórico-metodológica... 45

3.2. O Estudo de caso ... 47

3.3. Aspectos éticos ... 51

3.4. A situação investigada... 51

3.5. Sujeitos do Estudo ... 53

3.6. Construção do corpus ... 55

3.7. Transcrição e Análise Microgenética dos dados ... 56

4. Resultados... 61

4.1. Apresentação do episódio de Catarina... 61

4.1.1. Transcrição do episódio de Catarina: Teus pés e os meus, teu olhar e o meu... 61

4.1.2. Discussão do episódio de Catarina: Teus pés e os meus, teu olhar e o meu... 65

4.1.3. Transcrição do episódio de Catarina: Eu e você no espelho... 67

4.1.4. Discussão do episódio de Catarina: Eu e você no espelho... 69

4.1.5. Transcrição do episódio de Catarina: Um carro diferente...... 71

4.1.6. Discussão do episódio de Catarina: Um carro diferente...... 73

4.2. Apresentação dos episódios de Priscila... 75

4.2.1. Transcrição do episódio de Priscila: Uma garrafa transparente... 75

4.2.2. Discussão do episódio de Priscila: Uma garrafa transparente... 78

4.2.3. Transcrição do episódio de Priscila: Você quer isto?... 80

4.2.4. Discussão do episódio de Priscila: Você quer isto? ... 84

4.2.5. Transcrição do episódio de Priscila: Hei, esses carros são meus!... 87

4.2.6. Discussão do episódio de Priscila: Hei, esses carros são meus!... 89

4.3. Apresentação do episódio de Daiane... 93

4.3.1. Transcrição do episódio de Daiane: Duplinha explosiva... 93

4.3.2. Discussão do episódio de Daiane: Duplinha explosiva... 97

4.3.3. Transcrição do episódio de Daiane: Olha ali! Tá vendo?!... 100

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4.3.5. Transcrição do episódio de Daiane: Ai, que raiva!...104

4.3.6. Discussão do episódio de Daiane: Ai, que raiva!...106

4.4. Apresentação do episódio de Marcos...109

4.4.1. Transcrição do episódio de Marcos: Quem é que está aí atrás?...109

4.4.2. Discussão do episódio de Marcos: Quem é que está aí atrás?...112

4.4.3. Transcrição do episódio de Marcos: Música de puxar cabelo...114

4.4.4. Discussão do episódio de Marcos: Música de puxar cabelo...117

4.4.5. Transcrição do episódio de Marcos: Para onde foram os brinquedos?...119

4.4.6. Discussão do episódio de Marcos: Para onde foram os brinquedos?...121

5. Considerações finais...123

Referências Bibliográficas...131

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1. INTRODUÇÃO

Um dos acontecimentos fundamentais do ciclo de vida humana é o nascimento. E o bebê humano, dentre todos os mamíferos, é o que requer maior proteção dos membros da sua espécie para a garantia da sua sobrevivência. O papel social de cuidador ou mesmo de provedor sempre existiu assim na história humana. No entanto, as funções, práticas sociais e culturais destinadas ao bebê e ao seu cuidador variaram de acordo com o momento histórico e cultural observado (ROSSETTI-FERREIRA et al., 2000; CARVALHO et al., 2006).

Na sociedade brasileira atual, as formas de conceber e atuar junto ao bebê são diversificadas. Estas têm como base diferentes discursos e focos, oriundos de práticas e concepções historicamente construídas, em períodos sociais diversos. Revisão bibliográfica acerca de concepções sobre bebê (derivadas das áreas da saúde, educação e assistência social) e seus cuidados, evidenciou que, de forma dominante, as necessidades do bebê que recebem destaque são derivadas dos aspectos orgânicos. Fala-se do bebê considerando seus aspectos biológicos, não o considerando enquanto um ser em sua integralidade e nem enquanto um ser ativo (COSTA, 2008).

No âmbito da psicologia e, particularmente, da psicologia do desenvolvimento, existem também várias linhas de compreensão a respeito de como ocorre o processo de desenvolvimento do bebê humano. Algumas delas destacam como central, neste processo, o papel do “outro social” e a interação do bebê com esse outro social. Nesse sentido, por exemplo, Rossetti-Ferreira, Amorim e Silva (2004), baseando-se em Vygotsky (2005) e Wallon (1959, in WEREBE; NADEL-BRULFERT, 1986), referem que a sobrevida do bebê só é garantida na relação com o outro, sendo ainda este outro que insere a criança em contextos ou posições sociais, aquele agindo como seu mediador; ou seja, interpretando o mundo para a criança e a criança para o mundo.

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Assim, ainda que a criança possua uma imaturidade motora, vulnerabilidade e incompetência para sobreviver sem a ajuda de outro humano, nas relações, o bebê mobiliza o e (re)age ao outro social. Simultaneamente, os comportamentos da criança passam a ser, dialógica e dialeticamente, recortados e interpretados pelos outros segundo as concepções construídas naquela cultura. Nesta perspectiva, apesar de depender de outro social, o bebê exerce um papel ativo nas relações que estabelece em seu mundo.

Entendendo a importância dessas relações no processo de desenvolvimento, vários são os autores que o vêm investigando. Outros ainda, como Gottlieb (2009), reivindicam e incentivam o espaço acadêmico da “antropologia de bebês”. Essa autora instiga um olhar diferente para o bebê e, para ela, há necessidade de que os pesquisadores, antropólogos e psicólogos considerem o bebê enquanto sujeito merecedor de seus estudos, apesar da dependência do bebê de outros cuidadores, principalmente das mulheres; ainda, ela destaca a necessidade de estudos em função da sua suposta limitação comunicativa, além da imaturidade biológica e seu aparente baixo grau de racionalidade. Gottlieb (ibid) propõe finalmente, que essas investigações se projetem para além dos aspectos imediatos da vida do bebê, buscando relacioná-los aos panoramas cultural, social, econômico e religioso nos quais o bebê se insere.

1.1.Estudos sobre relações e desenvolvimento de bebês

De modo a conhecer como vêm sendo estudados processos ligados ao desenvolvimento de bebês, considerando suas interações, foi conduzida revisão bibliográfica, cujos dados gerais de sua realização estão indicados na nota de rodapé1 e no Apêndice R.

A análise das produções sobre o bebê levou à identificação de que várias e, mesmo, contraditórias são as perspectivas teórico-metodológicas e os enfoques dos estudos ligados a

1As bases de dados trabalhadas foram Scielo, BVS, APA e ERIC a partir de um conjunto de palavras

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essa faixa etária. Dentro desse panorama, verificamos que um eixo de estudos tem como meta fazer uma exploração e discussão teórica mais ampla, de modo a se considerar o desenvolvimento dos seres humanos e, dentre estes, de crianças pequenas. Assim, com base em pressupostos histórico-culturais, Zanela (2004) discute o processo de constituição psicológica do sujeito. A autora utiliza conceitos de Vigotski para propor uma unidade entre psiquismo e fisiologia, ao invés de identidade. Baseada nesse aporte teórico, ela ressalta que a constituição e o desenvolvimento do sujeito ocorrem através de relações mediadas com os outros. Estas relações são mutuamente constitutivas e, assim, propulsoras do desenvolvimento humano. As relações mediadas, segundo a autora, seriam orientadas para um objetivo, utilizando instrumentos e signos, produzindo um elemento reconhecidamente cultural. Para ela, quando o ser humano utiliza signos, ele objetiva suas ações e subjetiva a si próprio.

Também com base em Vigotski, mas agora buscando explorar suas proposições de modo a construir instrumentos de análise, Barros et al.(2009) resgatam o conceito de “sentido” como recurso analítico nas investigações psicológicas. Para tanto, os autores situam a produção vigotskiana e as psicologias com que ele dialogou (Psicologia reflexiva ou behaviorista, a gestalt, a psicologia idealista). Para os autores, essas aproximações e afastamentos de Vigotski proporcionaram o delineamento de suas idéias, levando-os a centrarem-se na concepção de como as relações sociais e os significados estariam na base das relações humanas. Os autores concluem que a utilização do ‘sentido’ estaria situado no âmbito do particular, constituído nas relações sociais.

Ainda num campo mais teórico, outro conjunto de artigos trata de bebês, mas seu enfoque está na análise dos mesmos de modo a apresentar e desenvolver uma discussão sobre uma perspectiva teórico-metodológica – especificamente da Rede de Significações ou RedSig (AMORIM; VITÓRIA; ROSSETTI-FERREIRA, 2000; ROSSETTI-FERREIRA; AMORIM; SILVA, 2000; ROSSETTI-FERREIRA et al., 2008; ROSSETTI-FERREIRA; AMORIM, OLIVEIRA, 2009; VASCONCELOS; ROSSETTI-FERREIRA, 2002;). Através destes artigos, os autores abordam pressupostos teórico-metodológicos, além das implicações e possibilidades de sua utilização no estudo de bebês. Apesar de esses trabalhos focarem mais em bebês, é importante ressaltar que a RedSig tem sido utilizada em diversas pesquisas enquanto uma ferramenta capaz de apreender os diferentes aspectos de processos de desenvolvimento, não só dos primeiros anos de vida.

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aspectos focais para o desenvolvimento, como, por exemplo, o processo de adaptação de bebês à creche (AMORIM; VITÓRIA; ROSSETTI-FERREIRA, 2000). Essa proposta busca também garantir que este recorte/ foco (como a adaptação de bebês, por exemplo) não se perca na complexidade do cotidiano em que os bebês estão inseridos. Isto é, a proposta é de que as relações dos bebês sejam analisadas como situadas histórica, social e culturalmente por meio de elementos como a matriz sócio-histórica, o contexto em que as interações ocorrem, as pessoas com que se relacionam, considerando o tempo, dentre outros. Esses elementos, ainda, são analisados não de modo separado ou descolado do outro. Ao contrário, busca-se apreendê-los em sua complexa interação, considerando-se a dinamicidade com que se entrelaçam no cotidiano da vida. Destaca-se aí o papel fundamental de olhar para o desenvolvimento como processo e não como dado exclusivamente por aspectos puramente biológicos ou sociais, mas sim relacionais.

Dentro dessa abordagem, Vasconcelos e Rossetti-Ferreira (2002) revelam como o olhar do pesquisador pode capturar diferentes perspectivas da situação investigada envolvendo o bebê. Os autores discutem inclusive que tais perspectivas possam, por vezes, mostrar-se divergentes. No artigo, eles utilizam como exemplo o olhar a crianças brincando em uma creche e passam a exercitar o olhar pelas diferentes perspectivas: do pesquisador, das educadoras e das próprias crianças. Eles discutem, assim, que os dados de uma pesquisa não são ‘dados’ ao pesquisador, mas (co)construídos por este e pela complexa rede de relações (composta por fatores físicos, sociais, culturais, ideológicos, simbólicos, entre outros) ao fazer pesquisa. O exercício de atribuir diferentes significados a um mesmo evento, como bebês brincando, apreende a diversidade de possibilidade de acordo(s) e desacordo(s) das pessoas envolvidas, nas situações.

No geral, quando os artigos tratam diretamente do bebê enquanto foco, essa abordagem se dá de diferentes maneiras, fazendo-se tanto de forma direta (observação dos bebês), como indireta (falas de adultos sobre os bebês). Ainda, a perspectiva é tanto ontogenética, como evolutiva ou filogenética.

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cuidados dos bebês sofrem das práticas culturais e relações sociais nas diferentes sociedades, as características infantis típicas teriam desempenhado uma função adaptativa na espécie humana, garantindo uma predisposição humana ao cuidado ao bebê.

Ainda, quando os bebês são investigados, variados aspectos são pontuados. Os bebês são estudados considerando-se, por um lado, aspectos específicos dos seus comportamentos e competências. Por outro lado, são destacados os processos em diferentes relações (mães, educadoras, outros bebês e crianças) e contextos (casa, creche).

As reações do bebê diante de um brinquedo novo são analisadas por Costa e Jardim (2001). Neste estudo, dois bebês de 12 e de 22 meses de idade foram expostos a três brinquedos não familiares e distintos em cores, formas e tamanhos. Os comportamentos dos bebês foram analisados por meio de categorias comportamentais, em relação às suas mães, como: atividade motora com o brinquedo, vocalizações e o oferecimento do brinquedo. Os resultados apontaram que as crianças exerceram determinados comportamentos para com os brinquedos e as mães e que estes comportamentos se apresentaram de formas diferentes de interação.

Outros estudos buscaram investigar o comportamento do bebê através da articulação de dados oriundos tanto de contextos domiciliares, como de creche. Assim, Lordelo (2002) avalia o ambiente de desenvolvimento do bebê, comparando a responsividade ao adulto em ambiente doméstico e na creche. Foram realizadas entrevistas com as mães, observações das díades mãe-bebê em casa e bebê-educadora na creche. Os resultados apresentaram diferenças em relação às interações corporais, sendo consideradas como maiores no contexto familiar. Em relação às interações verbais na creche, a autora não verificou diferença significativa entre os diferentes contextos.

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aquisição do controle motor delicado. As autoras salientam que o desenvolvimento das crianças em creche pode ter sido comprometido pelos cuidados coletivos. Bernardino e Kamers (ibid) propõem, assim, cuidados mais individualizados e afetivos para a educação no primeiro ano de vida, salientando, ainda, a importância das experiências lúdicas com os bebês. Os estudos internacionais apresentaram o diferencial de realizarem experimentos com os bebês. Franco e Gagliano (2001) investigaram a capacidade de bebês (32 bebês com idade entre 18 a 36 meses) em se colocar na linha de visão do parceiro social no processo de atenção conjunta. Os autores indicam que, conforme a idade dos bebês aumenta, maior é a utilização da linguagem e do gesto de apontar.

Carpenter et al.(1998) estudaram o desenvolvimento da atenção conjunta em 24 crianças com idade entre nove e 15 meses e suas mães. Aqueles concluem que o surgimento das habilidades cognitivas sociais estão diretamente relacionadas ao outro social, neste estudo a mãe sendo apontada com parceiro principal. Além disso, os pesquisadores propõem que as teorias da linguagem abarquem a condição de que as crianças são membros participantes das atividades culturais, desde que nascem.

O estudo de Parker-Rees (2007) realiza uma revisão da literatura acerca da imitação nos primeiros anos de vida. A autora realiza alguns apontamentos, o primeiro deles de que os bebês, desde muito cedo, participam da construção de uma cultura compartilhada com os adultos. De modo que, a percepção dos adultos sobre as possibilidades e limites de ações dos bebês atua no sentido de favorecer o desenvolvimento destes, por meio de suas ações. O segundo apontamento recai sobre a condição de cuidados em ambientes profissionais e não familiares_ como as creches_ nos quais os bebês poderiam estar sendo privados de muitas oportunidades de trocas interativas.

Já Liszkowski et al. (2004) investigaram os motivos pelos quais os bebês apontam. E para isso, estudaram crianças de 12 meses de idade em relação com seus parceiros sociais adultos_ pai e pesquisador no laboratório. O estudo indica que os bebês tendem a apontar quando a ação da díade se torna declarativa, ou seja, quando compartilham a ação e o interesse. Assim, bebês no primeiro ano de vida entenderiam sobre alguns aspectos de atenção do outro social quando estes compartilham atenção e interesse.

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expectativas dos adultos que acompanharam as diferentes salas influenciaram nos comportamentos e relações estabelecidas ao longo do tempo.

Outros estudos focaram atenção nos comportamentos, desenvolvimento e relações dos bebês em ambientes de educação coletiva do tipo creche. Nesse sentido, Amorim, Yazlle e Rossetti-Ferreira (2000) discutem os aspectos mais comumente atrelados à creche como binômio saúde-doença. As autoras apresentam um panorama histórico da função social da creche e relacionam a esta instituição muitos discursos depreciativos dirigidos a ela. Apesar das autoras afirmarem que houve uma melhora nas condições e na adequação deste como um local propício ao desenvolvimento humano, as mesmas apontam para possibilidades de melhoria, como a maior convivência e participação das famílias nestes contextos, maior formação e profissionalização das educadoras e maior participação das crianças em suas rotinas, pois aquelas são entendidas como coconstrutoras de seu próprio desenvolvimento.

Em outro artigo, Rossetti-Ferreira, Amorim e Oliveira (2009) analisam as contribuições de suas pesquisas para as práticas sociais na infância. Uma interessante perspectiva das pesquisas realizadas pelas autoras mostra a alteração do foco da pesquisa, partindo da díade adulto-criança para a díade bebê-bebê, movimento este acompanhado pela busca da apreensão da complexidade destas relações.

As práticas sócio-culturais para com o bebê são objeto de estudo de Rapoport e Piccinini (2001). Estes discutem a adaptação de crianças pequenas à creche e a consequência da separação entre mãe-bebê. Os autores pontuam que não há um consenso na literatura de que idade seria mais adequada para a entrada do bebê na creche. Referem, portanto, que há grande demanda por estudos que investiguem como aprimorar a adaptação do bebê a esse tipo de instituição, havendo indicações que apontem a necessidade de melhor formação dos educadores, gradação de horas da freqüência do bebê à creche, presença de familiar ou cuidador, número reduzido de crianças na proporção para cada educador, entre outros aspectos.

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alternativo são, de maneira geral, a idade da criança, o tamanho da família, a disponibilidade do marido ou a proximidade de parentes.

A pesquisa de Vitta e Emmel (2004), por meio de documentos sobre educação infantil, entrevistas e observações de educadoras de um berçário buscou investigar os conceitos de educar e cuidar. As autoras discutem que os documentos são pouco precisos quanto à conceituação da primeira infância e das práticas para com estas. Discutem também que as educadoras apresentam imprecisão conceitual e prática, acrescido do fato de atribuírem grande semelhança de sua profissão com seus papéis de mães, realizando mais ações disciplinadoras do que educativas.

Vários autores, por outro lado, tratam de características da criança dentro do contexto da creche, sendo essas características usualmente analisadas a partir da perspectiva do adulto (familiar ou educadora). Assim, dois estudos tratam do temperamento daqueles bebês. Nesse sentido, Melchiori e Alves-Biasoli (2001) investigaram o julgamento de educadoras de creche sobre os fatores que influenciam no temperamento de bebês. Realizaram entrevistas com educadoras de um berçário a respeito dos 90 bebês que integram o mesmo. A pesquisa identificou que as educadoras acreditam que o ambiente influencia o temperamento e desempenho dos bebês; contudo, subestimam a sua própria influência no desenvolvimento dos bebês que cuidam. Em outra publicação, Melchiori et al. (2007) investigaram a apreciação de mães e educadoras a respeito dos fatores que influenciam ou causam o desempenho e temperamento dos bebês. Foram entrevistadas mães que possuíam bebês em creche e educadoras da mesma instituição. De acordo com as autoras, os resultados indicam uma grande semelhança entre as crenças das mães e educadoras, em que ambos os grupos consideram fatores do ambiente físico, pais e irmãos como influenciadores do temperamento e desempenho dos bebês.

Em outra pesquisa, Melchiori e Biasoli-Alves (2002) buscaram verificar como se dava o comportamento dos bebês na rotina diária de uma creche. Para isso, foram entrevistadas educadoras a respeito das atividades e comportamentos dos bebês. A partir da análise dessas entrevistas, as autoras referem que os bebês parecem estar adaptados ao ambiente e à rotina proposta pela creche.

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As autoras apontam ainda para a busca por melhor qualidade nos serviços da creche, de modo a que adulto e criança lidem com os outros de forma articulada e dinâmica.

Além da análise dos bebês com os adultos (mães e educadoras), alguns trabalhos tratam do estudo da ocorrência de interações entre os pares de bebês. Assim, Vasconcelos et al. (2003) investigaram características dos processos interativos no primeiro ano de vida, em bebês de sete a 14 meses de idade. A situação investigada aconteceu em um ambiente de creche, no qual os bebês estavam em adaptação. Essa pesquisa discute que, apesar de que estes episódios de interação nesta faixa etária ocorrem de forma desordenada e rapidamente, em virtude da incompletude motora dos próprios bebês, contraditoriamente, a própria incompletude pode atuar não só restringindo, mas também possibilitando ou mesmo promovendo ou prolongando os episódios interativos.

Já a investigação realizada por Anjos et al. (2004) apresenta estudo empírico analisando processos de interação em bebês no primeiro ano de vida. Os autores analisam microgeneticamente dois episódios interativos, apontando para a extensão da definição de interação. Esta definição passa a ser mais do que fazer algo junto, o comportamento sendo regulado pelo bebê, mesmo à distância ou mesmo que um dos parceiros não saiba que seu comportamento está regulando o do outro bebê, criando um campo interativo (CARVALHO; IMPÉRIO-HAMBURGER; PEDROSA,1996).

Do que se depreende de alguns dos textos acima é o reconhecimento implícito dos autores da capacidade interativa do bebê, desde muito precocemente. Isso foi especificamente investigado enquanto objeto de estudo em alguns trabalhos. Assim, Hatzinikolaou (2006) investigou o padrão temporal e expressivo da capacidade de empatia de bebês, de oito a 18 semanas de vida, nas interações face-face com suas mães. Essa pesquisa é vista como possível pela autora em bebês de tão tenra idade, já que ela entende que o bebê pode ser considerado como um agente ativo no processo de interação com o outro. Os resultados apontaram diferenças nos comportamentos infantis para empatia com emoções negativas e positivas comunicadas pela mãe. Os rápidos tempos de resposta apresentados pelos bebês às diferentes faces positivas e negativas da mãe representam, para a autora, a probabilidade de alguns comportamentos comporem um padrão expressivo.

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implicaria na coparticipação, num ajustamento mútuo e sintonizado entre os parceiros, no qual estes sintonizam expressões e estados afetivos. Implicaria também no estabelecimento da atenção conjunta e nos domínios de conversação compartilhadas. Além disso, este conceito implicaria na compreensão da comunicação mediada por representações. As autoras afirmam que Trevarthen encontrou, em recém nascidos e suas mães, comportamentos coerentes em sintonia com a fala materna, permitindo que o autor propusesse a existência de uma ritmicidade intrínseca essencial na intercoordenação das protoconversações.

As autoras afirmam ainda que, para Trevarthen, o bebê já nasce com uma capacidade sócio-emocional primária para participar de engajamentos sociais recíprocos e de aprender através deles. Assim, o bebê seria capaz de exprimir, mesmo que rudimentarmente, sua consciência e intencionalidade, envolvendo também a capacidade de adaptar ou ajustar suas subjetividades às dos outros parceiros sociais. Para as autoras, independentemente de a intersubjetividade ser inata ou não, a criança se desenvolve e se complexifica no contexto de troca com o outro. Há, assim, uma interfundamentação da intersubjetividade e do contato social.

Dentro do conjunto de trabalhos, outro eixo de investigação envolve o estudo das capacidades e dos processos relacionados à apreensão/ construção da cultura pelo bebê. Dessa maneira, no contexto de alimentação da creche, Seabra e Moura (2005) investigaram a díade educador-bebê, suas atividades e as interações nos dois primeiros anos de vida. A partir da análise do material das entrevistas com as educadoras e mães, e das observações realizadas na creche, as autoras discutiram a ocorrência de trocas interativas importantes ao desenvolvimento do bebê, pelo qual ele apreende a cultura. Essas trocas também abarcaram limites e possibilidades, acrescentando ou restringindo os elementos negociados e apreendidos.

Em outro artigo, Rutanen (2009) investigou a coconstrução da cultura num grupo de crianças de dois anos, numa creche na Finlândia. A autora observou o quanto o grupo de crianças se estruturou a partir de quatro encontros; e de como, a partir de gestos e verbalizações, surgiram movimentos que passaram a se estruturar e elaborar os significados e as funções destes, modificando-se com as próprias ações das crianças. Rutanen também observou como a estrutura da escola, das famílias e educadoras contribuíram para a circunscrição destas ações e significados.

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e o grupo de brinquedo como espaço no qual esse processo ocorre. O conceito de cultura é entendido pelas autoras como conjunto de atividades e rotinas, valores, artefatos e interesses compartilhados. As autoras investigam esse processo partindo da análise de três episódios interativos de crianças com idade entre dez a 60 meses, observadas em situação de brincadeira livre. Carvalho e Pedrosa(ibid) apóiam-se na concepção de que o ser humano é um ser biologicamente sócio-cultural e que é capaz de se adaptar rapidamente. Retomam outros trabalhos em que discutem como a transformação de normas, formas de criação e maneiras de brincar têm exemplificado essa micro-cultura. E, finalmente, as autoras explicitam que as crianças recuperam elementos da cultura do ambiente social e redefinem as possibilidades de uso destes, criando novas ações lúdicas que podem se tornar parte da microcultura.

Um pouco interligada a essa discussão sobre cultura, importante foco de investigação é o estudo de como se dão processos de expressão, comunicação e linguagem. Nesse sentido, Fernández-Abascal, Sánchez e Montañés (2009) apresentam uma revisão teórica sobre a comunicação facial e prosódica do bebê, objetivando realizar uma adaptação no sistema de avaliação da expressão facial de emoções. Os autores ressaltam que o bebê é capaz de expressar reações emocionais por meio de recursos como prazer, nojo, raiva, medo e dor, acrescida da avaliação do choro do bebê. Os autores discutem que tais análises podem contribuir com outros estudos e com avaliações médicas e neurológicas do bebê. Eles salientam ainda, que os seres humanos comunicam-se de uma forma mais complexa que os animais, mesmo para o processo de comunicação não verbal. O rosto torna a manifestação mais evidente, sendo um dos principais sistemas de comunicação emocional. E quando estes passam a serem acrescidos de sons, facilitam a comunicação da experiência afetiva.

Em relação à comunicação, os artigos de Lyra (2007, 2006) apresentam um modelo teórico-metodológico denominado de Estabelecimento-Extensão-Abreviação (EEA), o qual é amparado pela noção de dialogismo e pela teoria dos Sistemas Dinâmicos. Com o modelo, a autora tem a meta de apreender e discutir o desenvolvimento da comunicação mãe-bebê e a emergência do self do bebê. De acordo com a autora, esse modelo integra um padrão de organização do sistema de comunicação estabelecido entre o bebê e sua mãe, a interação da díade sendo minuciosamente analisada. Nesta, o bebê recebe destaque, sendo apresentado como capaz de negociar e compartilhar com a mãe aspectos comunicativos como olhares, objetos e gestos, dentre outros.

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qual os padrões de trocas comunicativas se sucediam, dando origem a um outro padrão, considerando a história particular de cada díade. O segundo artigo, de Lyra e Roazzi (2008), aborda a concepção que as mães apresentam a respeito do desenvolvimento da comunicação entre mãe-bebê. Neste artigo, dois grupos de mães analisaram os três períodos de comunicação do modelo (Estabelecimento, Extensão e Abreviação), os resultados apontando para uma convergência entre a classificação e, principalmente, entre as trocas comunicativas mediadas por um objeto ou face-a-face.

Em relação à linguagem, Tristão e Feitosa (2003) apresentam uma breve revisão da literatura sobre as principais aquisições e o desenvolvimento da linguagem no primeiro ano de vida de bebês com desenvolvimento normal. O enfoque é dado na percepção da fala humana. Eles discutem particularmente a percepção da fala por bebês, desde o reconhecimento e a formação de fonemas, até a produção de sons complexos. As autoras discutem a correspondência ainda entre distúrbios auditivos e possíveis dificuldades na percepção da fala, particularmente em bebês com síndrome de Down. Os principais aspectos do bebê discutidos nesta pesquisa são embasados em aspectos biológicos do desenvolvimento da fala no bebê; ainda, as ações deste são descritas como respostas limitadas no sentido de discriminar os diferentes estímulos do meio.

Ao tratar da aquisição da linguagem, baseadas na Teoria da interação social, Borges e Salomão (2003) explicitam que os fatores sociais influenciam na aquisição da linguagem, aspectos biológicos e sociais atuando conjuntamente. Na perspectiva das autoras, a linguagem é entendida como comunicação, sendo, portanto, anterior ao surgimento das palavras. O papel do adulto, mesmo no período precedente à aquisição da linguagem verbal, seria assim fundamental. As autoras também consideram que o bebê, mesmo em idade muito precoce, possui intenções comunicativas. Essas são comunicadas por meio de gestos, expressões faciais, olhar, dentre outros. Progressivamente, essas comunicações são aliadas a vocalizações, com entonações marcadas que facilitam a compreensão do adulto acerca das intenções da criança pequena.

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brincadeira, complexificaram e estenderam a duração da brincadeira, apontando para a influência materna no desenvolvimento dessa habilidade.

Alguns trabalhos abordam a linguagem por meio da abordagem da Psicologia cognitiva e da Fonoaudiologia. Bühler (2008), por exemplo, centra-se na descrição do desempenho de bebês pré-termo em seus desenvolvimentos cognitivos e de linguagem expressiva. A autora utiliza como fundamentação teórica os pressupostos de Piaget, investigando o período sensório motor e o início do pré-operatório. A autora realiza observações mensais, até os bebês atingirem 18 meses de idade, em bebês a termo e pré-termo. A autora afirma que os resultados apontam para um atraso no desenvolvimento cognitivo e da linguagem expressiva em bebês pré-termo e sugere o acompanhamento fonoaudiológico de bebês pré-termo.

Aquino e Salomão (2009), por exemplo, discutem a importância da atenção conjunta na cognição social infantil. Segundo as autoras, a cognição social infantil estaria relacionada à habilidade para compreender outras pessoas, que é entendido como ligado à atenção conjunta. Essa compreensão seria respaldada pelas habilidades perceptivas que o bebê utiliza para discriminar pessoas de objetos e, até, para perceber pistas sociais. Aquino e Salomão(ibid), respaldadas em Vigotski, ressaltam que a atenção é uma das grandes funções da estrutura psicológica humana e embasa o uso de instrumentos no contexto social. Segundo as autoras, ainda, a atenção conjunta aliada à fala possibilitaria o desenvolvimento de um sistema que engloba elementos do passado, presente e futuro, permitindo a emergência de duas novas funções psicológicas - as intenções e as representações simbólicas das ações intencionais.

Já, Mascareños (2008) utiliza as teorias cognitivas como ferramenta descritiva do social. O autor propõe que seja utilizada a teoria sociológica dos sistemas auto-referenciais para descrever e compreender o surgimento da comunicação social e dos impactos destes nos fenômenos cognitivos. Dentro disso, o significado é entendido como uma unidade entre a realidade e a possibilidade do mundo. E a comunicação é entendida como um sistema no qual os significados são compartilhados. Com a evolução dos sistemas sociais, estes permitiriam a coordenação de expectativas entre as pessoas.

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interação com a educadora, ressaltando a importância do outro mais experiente nesse processo.

Em um artigo teórico, Correia (2009) discute como ocorre o processo de construção de significados, baseada em pressupostos das correntes sócio-interacionista e culturalista. Segundo a autora, este processo estaria relacionado à linguagem e o signo mediador utilizado na linguagem possibilitaria a produção de significados e esta produção seria a responsável pelo desenvolvimento psicológico do ser humano. A autora recorre a vários autores da área e explicita que a linguagem, por si, não é capaz de explicar como o processo de construção de significados ocorre. A linguagem seria, então, uma manifestação ou expressão desta produção, visto que até o não dito possui significados. Contudo a linguagem não é apenas o produto final. A linguagem desempenha ainda importante papel, pois se relaciona diretamente com a produção cultural e social humana.

Correia (2009) ressalta ainda que a linguagem gera confusões, equívocos, ilusões, sendo polissêmica e que, por isso mesmo, a direção que a construção de significados assume depende da interação entre os parceiros. Segundo a autora, a linguagem assume características relacionais e contextualizadas, devendo envolver um objeto, no qual as pessoas se orientam por meio de ações que colocam em funcionamento e requeiram a atenção do outro, envolvendo uma intencionalidade. A autora, ao definir agentes intencionais como seres animados, que possuem objetivos e que fazem escolhas ativas entre diferentes meios para atingir determinados objetivos, mesmo que estas escolhas recaiam sobre o que prestar atenção para alcançá-los, permite que seus leitores se questionem se bebês poderiam ser entendidos como atores intencionais.

Outra questão apontada por Correia (2009) é a respeito do signo. Ela o define como um produto social que tem como função gerar e organizar processos psicológicos, mediando a ação humana entre os outros e a si mesmo. O processo de construção de significados poderia assim assumir, segundo a autora, posições culturais, interacionais e individuais. Portanto, a origem do processo de construção de significados, segundo a autora, pode ser biológica, cultural ou ambas.

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esta vertente teve, segundo a autora, suas descobertas limitadas, pois a produção de significados passou a ser tratada por outros autores como processamento de informações. E a informação não considera o significado, ela apresenta possibilidades limitadas e codificadas. Segundo ela, distanciou-se assim da produção do saber do bebê, que já é confusa, tortuosa e repleta de ambigüidades.

A proposta de Bruner, segundo a Correia (ibid), seria trabalhar a mente como constituída pelo uso da cultura humana e realizada nela. E a mente seria representada pelo simbolismo compartilhado, que tem como função organizar e interpretar a vida. Relacionado aos processos mentais, estariam os processos de linguagem. Esta seria uma grande ferramenta para o aprendizado da cultura e de como expressar as intenções de forma congruente à cultura.

A autora afirma finalmente que os significados têm origem na cultura que são criados, apesar de estarem na mente. E que o significado está presente na vida humana por meio da narrativa e das normas sociais. Correia (2003), a partir das pressuposições de Bruner, afirma que, visto que é provida da linguagem não verbal, já após o nascimento, a criança é capaz de construir significados, ainda que não possua a linguagem verbal. A aquisição da linguagem verbal enriqueceria e estruturaria as intenções comunicativas, já presentes no bebê.

Essas análises permitem traçar um perfil da publicação na área. A maior parte das publicações selecionadas aborda aspectos teóricos dos processos interativos e de comunicação, linguagem e cognição. De forma geral, a grande produção teórica pode ser interpretada como uma busca por respaldo teórico/ metodológico para as investigações e discussões no primeiro ano de vida, vistas as particularidades deste sujeito, assim como a(s) concepção (ões) de bebê(s) e da linguagem falada como recurso majoritário de subjetividade, comunicação, entre outros. Ainda assim, nem todas contemplam foco no primeiro ano de vida.

Por outro lado, algumas publicações trazem o bebê como fundo da discussão, atrelado a discussões teórico-metodológicas sobre desenvolvimento, como em Rossetti-Ferreira, Amorim e Oliveira (2009); Rapoport e Piccinini (2004), Lyra (2007), Amorim, Yazlle e Rossetti-Ferreira (2000) dentre outros.

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Ostermann (2010), Vitta e Emmel (2004), Bernardino e Kamers (2003) e Melchiori, Alves-Biasoli, Souza e Bugliani (2007).

Outras pesquisas tratam diretamente dos bebês. Elas analisam processos tanto a partir de aspectos evolutivos, como biológicos ou fisiológicos, como em Leitão e Castelo-Branco (2010), além de Tristão e Feitosa (2003).

Porém, nessa linha de investigação direta, há uma diferenciação importante já que alguns dos artigos recortam para o estudo apenas o bebê, como em Bühler (2008), e Costa e Jardim (2001); e há aqueles que investigam o bebê em interação com outros sociais. As relações são discutidas a partir de textos exclusivamente teóricos (tais como: NOGUEIRA; MOURA, 2007; TRISTÃO; FEITOSA, 2003; ZANELA, 2004; BARROS et al., 2009; CORREIA, 2009, 2003; BORGES; SALOMÃO, 2003; entre outros) enquanto outros a partir de estudos empíricos, em que variam os parceiros de interação. Há por um lado, trabalhos que buscam apreender o bebê nas relações com o adulto (envolvendo as díades mãe-bebê, bebê-educadora), alguns dos quais consideram a participação do bebê enquanto ativo, como em Zanella e Andrada (2002), Seabra e Moura (2005), Mendes e Moura (2004), Lyra (2000), Lordelo e Carvalho (1999) e Hatzinikolaou (2006). Por outro lado, outros artigos destacam as interações dos bebês com seus pares de idade, como em Carvalho e Pedrosa (2002), Vasconcelos et al. (2003) e Anjos et al. (2004). Os apontamentos da revisão indicam uma escassa produção a respeito das interações de bebês e seus pares de idade, sendo válido o questionamento de qual é o significado de tal ausência de produção bibliográfica.

Grande parte dos estudos utiliza ou concentra suas investigações em sujeitos falantes, fundamentando-se em educadoras e mães para falar do bebê, de suas características, de seu desenvolvimento psicológico, motor, social, afetivo, etc. Proporcionalmente, são menos frequentes os estudos que tratam do bebê pelo bebê. Essas considerações apontam para a importância deste tipo de pesquisa e de publicação de suas discussões.

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1.2.O campo interativo

A relação entre bebê e outras crianças pode ser identificada em qualquer sociedade humana, variando na forma e intensidade, de acordo com grupo social e cultural em que se encontra como discutem Carvalho e Beraldo (1989). Mais ainda, esse tipo de interação não se delimita a apenas um ambiente, ao contrário se expande perpassando a vida de qualquer indivíduo humano.

Nas últimas décadas, na sociedade ocidental capitalista, em função da dominância da estrutura da família nuclear, com poucos filhos e cujas relações do núcleo familiar se distanciaram de alguma maneira das famílias extensas, ocorreu uma progressiva centralização da relação do bebê com os adultos (particularmente a mãe), havendo uma relação mais restrita do bebê com seus pares de idade e outras crianças. No entanto, novas mudanças sociais acabaram por impulsionar o contato com pares, mesmo entre bebês. Esse processo se deveu, como discutem Amorim e Rossetti-Ferreira (1999) e Carvalho e Beraldo (1989), a mudanças ocorridas no último século, tais como a migração e aglomeração das famílias em torno dos grandes e médios centros urbanos, a entrada da mulher no mercado de trabalho e as leis e parâmetros de educação, particularmente, da educação infantil. Isso promoveu a necessidade de se buscar e instituir cuidados alternativos não exclusivamente parentais para a criança pequena, aqueles cuidados passando a ser uma opção e, até mesmo, uma necessidade para muitas famílias.

Porém, tais cuidados foram (e, muitas vezes, ainda são) criticados por diferentes setores sociais, dadas as concepções que se têm sobre bebê, infância, cuidados de bebês, educação, dentre outros. Nesse sentido, uma série de pesquisas dessa área contribuiu para desfazer algumas das polêmicas, já que ajudaram a ampliar a conceituação sobre o bebê. A partir desse(s) conceito(s), muitas ações se desdobraram ora a nível teórico e legal (leis, normativas, políticas públicas, estatutos, etc), ora a nível prático (programas, práticas educativas, políticas públicas, etc).

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pelo olhar do outro, reação diferencial para os sinais interacionais dos adultos, compartilhamento emocional, entre outros. Tais concepções vieram assim contradizer o antigo2 pressuposto teórico desenvolvimental de que crianças pequenas seriam incapazes de estabelecer interações complexas e douradoras com parceiros da mesma idade (ROSSETTI-FERREIRA; OLIVEIRA, 1993).

Deste modo, o conceito de que o bebê é um ser social e está apto a interagir socialmente com qualquer outro ser humano abre novas possibilidades de entendimento e ação. O bebê passa a ser visto assim como um ser biológico, social, histórico e cultural. E é sobre o processo interativo desse bebê revisto pela literatura, que se discorrerá a seguir.

De acordo com Carvalho, Império-Hamburger e Pedrosa (1996), o termo interação pode ser concebido como englobando mais do que o fazer algo juntos, contemplando a regulação recíproca, implícita e não necessariamente intencional entre parceiros. A interação é assim entendida enquanto potencial de regulação entre os componentes de um sistema.

Dessa maneira, os movimentos ou as transformações de comportamentos de um dos componentes (no caso, os bebês), não podem ser compreendidos sem que se considere a existência, os movimentos ou o comportamento de outros componentes (por exemplo, os adultos, outras crianças ou outros bebês), mesmo que entre eles não haja uma troca explícita ou mesmo que eles não façam algo conjuntamente.

Ainda, segundo Carvalho, Império-Hamburger e Pedrosa (1996), nesse processo, o corpo todo da criança participa dos episódios interativos, expressando-se através de seu direcionamento, dos movimentos da cabeça, da direção do olhar, do balanço dos braços e das vocalizações. O fato dos bebês não permanecerem o tempo todo fazendo algo juntos, não implica que eles não tenham seus comportamentos guiados pelo foco de atenção da/ em relação à outra pessoa.

O comportamento é regulado, ainda que um dos parceiros não saiba que está regulando o comportamento do outro. Além disso, é através da capacidade de regular e de ter o seu comportamento regulado pelo outro que se define o campo de interações como social.

De acordo com Carvalho, Império-Hamburger e Pedrosa (1996), no campo interativo, há interesses pelo outro, orientação de comportamentos dirigidos a e derivados pelo outro, além da regulação de suas ações pela própria ação e pela do outro. O campo de interação também apresenta características dialógicas, na medida em que é definido pela natureza de seus

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componentes que interagem ao mesmo tempo em que os constitui. Além disso, a ação de regular pode assumir a forma de regulação recíproca ou a coregulação, no qual as ações individuais ajustam-se de forma a comporem atividades compartilhadas ou conjuntas.

Em relação à descrição das interações envolvendo crianças pequenas, as autoras Carvalho et al. (2002) propõem caracterizar descritivamente as interações, captando o fluxo temporal das mesmas. As categorias apresentadas pelas autoras se basearam nos princípios estabelecidos anteriormente para a definição de interação, isto é, a orientação da atenção e o tipo de regulação envolvido.

Nesse sentido, as autoras acima, ao considerarem a díade como unidade mínima a ser analisada, estabelecem quatro categorias interacionais interindividuais. A primeira é denominada de interação, no qual a orientação da atenção é mútua e há regulação recíproca. Na segunda categoria, chamada de movimento interativo, a orientação mútua de atenção e regulação recíproca ocorre, porém de forma restrita. A terceira, participação periférica, é dita quando há orientação de atenção de uma criança, porém a regulação do comportamento é unilateral (uma pessoa alvo é quem regula o comportamento da outra criança, sem ser, no entanto regulada por esta). E a última categoria, atividade individual ocorre quando há orientação de atenção, mas não se detecta regulação de comportamento.

Essas categorias são entendidas como propiciando uma descrição que apreenda a multiplicidade, fluxo e concomitância dos eventos interativos, uma mesma criança podendo se enquadrar em mais de uma categoria, a depender do parceiro interativo a ser analisado. Propiciam também maior estruturação na descrição das interações (CARVALHO et al., 2002). Alguns autores, no entanto, vêm interrogando como se dão esses processos interativos, no caso de bebês e como ele se transforma ao longo do tempo.

1.3.Comunicação, linguagem e significação no primeiro ano de vida

Os processos interacionais são possíveis no ser humano já que ele tem, na sua história filogenética, uma disposição própria para a comunicação, como afirmam Carvalho e Pedrosa (2003). A comunicação é assim entendida dentro do processo de negociação, ou seja, dentro do processo interativo.

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revezamento, a troca mútua, dentre outras. Estão presentes, também, algumas intenções comunicativas como indicar, rotular, solicitar e enganar.

Segundo Rossetti-Ferreira, Amorim e Silva (2004) e Amorim e Rossetti-Ferreira (2008a), a comunicação nos primeiros anos de vida ocorre por meio de gestos, posicionamentos físicos, sorrisos, choro, entre outros, nas relações que os bebês estabelecem com os outros, as ações sendo modificadas e diversificadas pela presença de diferentes parceiros e estratégias de comunicação. Na discussão desse processo, Carvalho e Pedrosa (2003) propõem que a comunicação de expressões (emoções, disposições comportamentais e/ ou emocionais) se transforma na comunicação de referências (a aspectos ambientais, físicos e/ ou sociais), sendo que todas essas postulações reforçam o papel ativo do bebê.

Esse processo de comunicação, como discutido acima, tem sido visto como se transformando ao longo do tempo e dos processos interativos. Nesse sentido, a partir de uma abordagem sistêmico-dinâmica, Lyra (2000) e Lyra e Rossetti-Ferreira (1995) discutem os padrões de organização do sistema de comunicação, ao tratar das trocas comunicativas de bebês, nos seus primeiros anos de vida.

Nessa proposta, as autoras desenvolveram um modelo com base em pressupostos dos sistemas dinâmicos e do dialogismo (este, particularmente baseado em Bakhtin). Segundo Lyra (2000), a noção de dialogismo possibilita tratar o processo de emergência do sujeito psicológico ocorrendo no sistema de relações sociais, desde o início da vida.

A partir dessa perspectiva, a autora elabora o modelo de estabelecimento - extensão - abreviação (EEA), já apresentado anteriormente. Como proposto por Lyra (2007), este modelo trata de períodos de quase estabilidade, os quais podem ser considerados como atratores, atuando no sistema de comunicação mãe-bebê. De acordo com ela, os padrões de estabelecimento, extensão e abreviação definem, respectivamente: 1) estabelecimento: a partilha de um elemento pela díade (por exemplo, o olhar dos parceiros para o objeto); 2) extensão: o elemento anteriormente partilhado passa a ser fundo e novos outros elementos são estabelecidos como figuras, de maneira mais extensa; e, finalmente, 3) Abreviação: as trocas da díade passam por um ajustamento mútuo rápido e fácil, nas quais os elementos anteriormente trabalhados pela díade de forma mais extensa aparecem de modo abreviado ou condensado.

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pesquisadora propõe que a díade escolhe uma ação para que se torne figura em relação ao fluxo constante e complexo de outras ações dos parceiros.

Como referido, tais trocas comunicativas têm sido estudadas fundamentalmente, na relação da díade mãe-bebê. No entanto, a pesquisa de Anjos (2006), que investigou processos interativos bebê-bebê em creche, evidenciou indícios do processo de abreviação, particularmente, na relação entre dois irmãos gêmeos, cuja proximidade e intensidade de convivência era bastante grande. Interrogou-se, com isso, se esse processo de abreviação, como proposto por Lyra, poderia ser observado nas interações de bebês, mesmo daqueles com menor familiaridade, quando acompanhados ao longo de sua convivência.

Ao entender que esse questionamento era plausível, já que a própria Lyra (2007) define possíveis aplicações na utilização deste modelo, inclusive para investigar outros tipos de parceiros. A monografia de Costa (2008) explorou essa possibilidade e, neste trabalho, essa autora verificou, ao longo de três meses e no desenrolar da construção das relações entre os bebês, à ocorrência de abreviação nos comportamentos e comunicação entre as cinco crianças investigadas. Isto é, verificou-se que passaram a ocorrer trocas de curta duração, com ajustamento mútuo e fácil entre eles.

No caso dos gêmeos3 entre si, no entanto, essas trocas já podiam ser observadas desde o início da freqüência à creche, sendo bem mais freqüentes e ocorrendo com maior velocidade, sem tantas negociações entre o par de crianças. Os dados também indicaram que diferentes recursos comunicativos eram utilizados pelos bebês no decorrer das negociações, nas interações. Concluiu-se que a abreviação ocorreu, dando-se de forma diferente em cada díade, a depender do parceiro, do tempo e das formas de relações estabelecidas entre eles, demonstrando a complexidade deste processo.

Ainda no trabalho de Costa (2008), despontaram indícios de situações interativas e comunicativas em que não só o foco de atenção / comunicação dos bebês era abreviado, como também parecia ocorrer a abreviação de significações.

As autoras Carvalho, Império-Hamburger e Pedrosa (1996), ainda, investigaram crianças pequenas e discutem a abreviação de significações. O significado não é definido a priori, como afirmam as autoras, ele estando diretamente relacionado ao campo social interativo, não se restringindo aos aspectos físicos do ambiente. O campo social, segundo as autoras, pode ser definido de forma geral como a condição na qual uma pessoa pode regular e ser regulado por

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um outro social da mesma espécie. Aliás, indicam as autoras, é a presença deste outro social que permite que significados possam ser atribuídos às muitas informações presentes no campo interacional.

Visto que é na interação que a informação adquire significado dentro daquele campo social constituído, sendo composto por aquela configuração de pessoas, espaço e tempo, a informação é, assim, selecionada dentre outras e um significado é atribuído a ela no decorrer do processo interativo pelos integrantes, sendo imprevisível determinar a priori sua configuração final. É possível, aos integrantes sociais, interpretar o significado através de pistas sociais, dicas do contexto entre outros elementos presentes no momento (CARVALHO; IMPÉRIO-HAMBURGER; PEDROSA 1996).

As autoras explicam que o processo no qual uma informação adquire um significado ocorre quando um movimento/ ação é selecionado/ recortado do campo interacional. A esta informação é atrelado um aspecto particular, ou seja, não usual ou canônica. As ações dos integrantes passam a serem coordenadas/ ajustadas e, por meio da regulação recíproca, entram em acordo entre os significados a serem atribuídos à informação selecionada. Criam a possibilidade de comunicar ao outro social (pode ser mais de um) esse significado e também de regular a ação daquele(s). Dessa forma, um novo código passa a vigorar com significado particular. A duração ou vigência deste código também é determinada no processo interativo.

Nesse sentido, a abreviação de significados é compreendida dentro dos processos de interação e de regulação (discutidos anteriormente nessa dissertação), a abreviação adquirindo o potencial de significar algo, significado já compartilhado anteriormente pelos componentes do campo interacional. Tal abreviação possibilitaria saltos qualitativos na transformação do espaço de informação, criando a possibilidade de persistência de um significado ao longo do tempo_ tal como a abreviação (CARVALHO; IMPÉRIO-HAMBURGER; PEDROSA, 1996).

Porém, os trabalhos dessas autoras evidenciam a abreviação de significação em interações entre crianças de 2-4 anos. Dada a observação dos indícios desse processo já em crianças no primeiro ano de vida (COSTA, 2008) e dada à novidade e às contradições de se pensar a significação nesse período (AMORIM; ROSSETTI-FERREIRA, 2008a), entendeu-se como de relevância estudar mais profundamente esse processo. No entanto, seria possível falar de significação antes da aquisição da linguagem verbal? Como considerar a relação entre significação e linguagem? Vamos então levantar alguns pontos em relação a isso.

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habilidades, dentre elas a linguagem. No entanto, essa afirmação merece ser mais cuidadosamente discutida, pois a noção de linguagem se apresenta vaga e nebulosa quando relacionada aos primeiros anos de vida. Para explorar isso, algumas concepções e discussões no campo, dentro de um referencial histórico-cultural, serão apresentadas a seguir.

Segundo Vygotsky (2005), as manifestações pré-verbais da criança são relacionadas a comportamentos emocionais, ressaltando que a preferência do bebê pela voz humana, em alguns experimentos, poderia indicar a presença da função social da linguagem já no primeiro ano de vida. Ainda, que alguns comportamentos como gargalhadas, sons inarticulados, movimentos, entre outros, poderiam atuar como meio de contato social nessa faixa etária. Porém, quando a comunicação ocorre através de movimentos expressivos, ela se aproximaria de um sistema de difusão de afeto, própria dos sentidos fisiológicos. No entanto, o autor enfatiza que, sem a utilização de um sistema de signos, a comunicação se torna limitada.

Esse posicionamento se deve ao fato de que, para ele, a linguagem e o pensamento são funções mentais superiores, se originam por meio dos processos sociais, sendo entendidos como se dando através da mediação de instrumentos e signos. A linguagem se faz por meio de signos, estes sendo de natureza interna e controlando o comportamento humano. (FREITAS, 1994)

No caso de crianças menores de dois anos, Vygotsky (2005) afirma que elas estariam numa fase pré-linguistica. Para ele, tal definição se dá pelo fato das crianças não apresentarem ainda o desenvolvimento e uso da função simbólica das palavras, o qual ocorreria por volta dos dois anos de idade, quando processos de desenvolvimento do pensamento e da linguagem confluem.

Para o autor, o desenvolvimento da linguagem é fundamental, pois ela atua como um instrumento que, não só controlaria o meio externo, mas também o próprio comportamento. Nesse sentido, Smolka (1995) discute que, para Vigotski, a linguagem apresenta mais do que um caráter simplesmente instrumental, sendo dialeticamente produto e produtor, constituindo a própria ação. Como afirma Smolka (ibid), a linguagem para atuar como tal deve se instaurar numa condição material e simbólica, estabelecendo uma dimensão histórica e cultural. O ser humano se constitui, assim, como sujeito capaz de significar, ou seja, de criar e utilizar um sistema de signos.

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pequenas aprendem a falar e, também, como elas aprendem os modos da cultura, esses dois processos estando interligados.

Segundo Bruner (2007), a linguagem é designada como habilidade verbal, capaz de produzir enunciação, referir/ significar e utilizar a função comunicativa, com efeito. A linguagem, para ele, modifica a ação do homem e o próprio homem, de modo que há uma competência da própria espécie que é biológica e que encontra meios culturais de expressão. Essa capacidade parece circunscrever o desenvolvimento da linguagem, na medida em que explicita a relação simultânea entre níveis individuais e sociais, ressaltando ainda, as variações no desenvolvimento da linguagem por meio da modificação cultural e de contextos.

Apesar disso, Bruner (2007) defende a tese de que a aquisição da linguagem ocorre antes da criança possuir a estrutura léxico-gramatical. Aquela se dá na interação com o outro social, no qual realidades são partilhadas, fornecendo indícios para que o bebê apreenda recursos lingüísticos antes da aquisição da fala.

Em sua proposição, Bruner (2007) trata do papel ativo que o bebê exerce no seu mundo, buscando e apreendendo as regularidades, consistências e uniformidades deste/ neste. O autor refere que essa pró-ação é expressa por recursos típicos da espécie humana e estão à disposição do bebê. Tais recursos indicam que os bebês são extremamente sociais, buscando interações, sendo mesmo, auto-impulsionados e auto-recompensados nestas, favorecendo o desenvolvimento de um sistema antecipatório nas interações, demarcando potenciais papéis. O autor postula que, nesse processo, a criança apresenta um elevado grau de sistematicidade em seus comportamentos, realizando-os preferencialmente em ambientes familiares ou conhecidos.

Desse modo, duas considerações decorrem desta conclusão. A primeira é de que a criança está pronta para realizar uma imensa gama de combinações a partir de poucos elementos, generalizando este comportamento para atividades motoras e lingüísticas/ orais. Ainda, de que aquisição da linguagem ocorre em ambientes circunscritos, no qual a ordem é o caos; e que, em meio a isto, muita regularidade é encontrada pelo bebê, inclusive nos parceiros interativos que propiciam a abreviação de recursos comunicativos e a negociação de novos elementos interacionais. Por fim, Bruner destaca a capacidade de abstração presente no bebê para lidar com o tempo, espaço e causalidade.

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Tabela 02 - Composição de educadoras e turmas dos sujeitos focais no ano de 2010  Sala Educadoras  Faixa etária dos
Figura 6- Cena 01
Figura 10- Cena 05
Figura 14- Cena 09
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Referências

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