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A LEI MARIA DA PENHA E A PRISÃO PREVENTIVA COMO MEDIDA PROTETIVA À MULHER

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Academic year: 2022

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A LEI MARIA DA PENHA E A PRISÃO PREVENTIVA COMO MEDIDA PROTETIVA À MULHER

THE MARIA DA PENHA LAW AND PREVENTIVE DETENTION AS A PROTECTIVE MEASURE FOR WOMEN.

Nonia Barbosa Neves;

Acadêmica do 9° Período de Direito, da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Teófilo Otoni, Brasil.

E-mail: noniabarbosasjd@gmail.com

Erica Oliveira Santos Gonçalves.

Professora de Direito Penal e Processual Penal, da

Faculdade Presidente Antônio Carlos de Teófilo Otoni, Brasil.

E-mail: erica.almenara@gmail.com

RESUMO

O presente artigo tem por escopo apresentar ao leitor uma visão clara da temática relativa à violência contra a mulher. Sabe-se que no Brasil, grandes são os índices de violência contra a mulher, seja de caráter físico ou psicológico. Com isso, ascende uma necessidade de o poder público aplicar medidas mais efetivas para se evitar a prática de tais agressões. Assim sendo, no presente tratado é abordada a Lei de n° 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha. Narrou-se acerca da vida de Maria da Penha, mulher que, sofrendo tentativa de feminicídio por duas vezes, fomentou a criação da referida lei. Ademais, é explorada parte do Código Processual Penal que se dedica a cuidar-se de medidas cautelares, estas pertinentes para evitar-se a prática de abusividades em face das mulheres. Ainda, a proposta final é apresentar a prisão preventiva como método mais eficaz de se alcançar tais direitos.

Palavras-chave: Lei Maria da Penha; Prisão Preventiva; Agressões contra a mulher.

ABSTRACT

(2)

The purpose of this article is to present the reader with a clear view of the theme related to violence against women. It is known that in Brazil, there are high rates of violence against women, whether physical or psychological. As a result, there is a need for the public authorities to apply more effective measures to avoid the practice of such aggressions. Therefore, in the present treaty, Law No. 11.340 / 06, known as the Maria da Penha Law, is addressed. It was narrated about the life of Maria da Penha, a woman who, having tried feminicide twice, encouraged the creation of the aforementioned law. In addition, part of the Penal Procedural Code is explored, which is dedicated to taking precautionary measures, which are pertinent to avoid the practice of abuse in the face of women. Still, the final proposal is to present pre-trial detention as the most effective method of achieving such rights.

Keywords: Maria da Penha Law; Preventive imprisonment; Aggressions against women.

1. Introdução

Viver em sociedade, como se sabe, vai muito além da complexidade jurídica, social e política de se estabelecer equilíbrio entre iguais. Na verdade, a maioria dos problemas enfrentados pelo ser humano membro de uma sociedade deriva da própria natureza humana.

Isto se dá devido ao instinto amortizado e interiorizado no caráter do homem, haja vista que é absolutamente volátil. Seja para tomar decisões, seja para portar-se diante de dada situação fática, o ser humano possui em si uma ambivalência e, portanto, insegurança de si mesmo.

Com isso, é gerado um desequilíbrio intrapessoal, e consequentemente, interpessoal. Assim, os conflitos antes deflagrados nas fronteiras do indivíduo em si, se dispersa diante dos conflitos interpessoais, gerando litígios e guerras e, por conseguinte, um estado de violência desenfreada.

E é esta violência, gerada por um senso de imoralidade e insubordinação às

leis, alcança todas as classes, seja de etnia, raça, orientação sexual, religião ou

gênero: a violência persegue todos os membros de uma sociedade.

(3)

Aqui, a tratativa se restringe relativamente à violência deferida contra as mulheres, vítimas de crimes horrendos, sendo que alguns deles não são narrados pela mídia, ou constados nas Delegacias de Polícia, visto que o sistema de justiça acaba que por se omitir em relação a isto, seja pela falta de incentivo à conscientização, seja pela falibilidade dos mecanismos usados para repressão desta violência.

Com um objetivo mais específico, buscou-se explorar a relevância das medidas cautelares ofertadas pelo Código Processual Penal, e ainda, da prisão preventiva como medida protetiva à mulher.

2. A Lei Maria da Penha

A história de criação da Lei de n° 11.340/2006 é famigerada na sociedade brasileira, e possui um pano de fundo de extrema relevância social. Trata-se de uma lei emergida diante de medida extrema tomada pelo Estado, após a constatação inevitável de fragilidade que a mulher, enquanto cidadã dotada de direitos, experimentou, e ainda continua a experimentar.

2.1 A História

Um relacionamento que parecia ser perfeito se transformou no maior tormento vivenciado por Maria da Penha Maia Fernandes (nascida em Fortaleza/CE, em 1º de Fevereiro de 1.945).

A supracitada mulher se trata da causa subjetiva que ensejou a criação da Lei Maria da Penha, de preponderância inegavelmente relevante no Brasil, que busca

“criar mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos

termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a

Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da

Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a

Mulher” (Preâmbulo da Lei n° 11.340/06).

(4)

As informações neste capítulo esposadas são de origem e narrativa absolutamente advinda da própria Maria da Penha, disponíveis em um portal de sua autoria

1

, onde ela narra a sua trajetória.

De acordo com a narrativa de Maria da Penha, tudo começou no ano de 1976, quando as agressões deferidas por seu então marido, Marco Antônio, passaram a fazer parte de sua rotina. De nacionalidade colombiana, Marco Antônio, ao conseguir a cidadania brasileira, conseguiu estabilidade profissional e econômica.

De acordo com o que discorre Maria da Penha, Marco passou a agir com exaltação, irritabilidade, além de comportar-se de modo explosivo com a esposa e filhas.

Nas palavras de M

a

, “formou-se, assim, o ciclo da violência: aumento da tensão, ato de violência, arrependimento e comportamento carinhoso”

2

.

Em 1983, Maria da Penha se torna vítima de um dos mais conhecidos crimes de violência contra a mulher no Brasil: dupla tentativa de feminicídio por seu próprio marido.

De acordo com a exposição, o marido de Maria teria dado um tiro em suas costas enquanto ela dormia. Por consequência disto, ficou paraplégica e impossibilitada, portanto, de andar. Como se não bastasse, após quatro meses de internações constantes, tratamentos e cirurgias, ao retornar para casa, Maria foi mantida em cárcere privado durante 15 dias, onde sofreu tentativa de feminicídio pela segunda vez, quando seu marido tentou eletrocutá-la.

Lançando o livro Sobrevivi... posso contar (publicado em 1994), Maria da Penha relata sua história e o andamento dos processos contra Marco, reeditando a obra por diversas vezes.

Após escapar de dois procedimentos processuais sem cumprir qualquer dia de pena, Maria da Penha, o Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM) e o Centro para a Justiça e o Direito Internacional

1 Disponível em: https://www.institutomariadapenha.org.br/quem-e-maria-da-penha.html . Acesso em:

19/05/2021.

2 Ibidem, item 1.

(5)

(CEJIL) apresentaram o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA).

Ante a contumaz omissão do Estado Brasileiro, a CIDH/OEA oficiou o Brasil para que procedesse medidas urgentes para assegurar a segurança da mulher, vez que a situação vivenciada por Maria não mais poderia ocorrer.

Após a luta incessante de grupos ativistas, e ante a pressão sofrida pelos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, surge a Lei Maria da Penha, sancionada pelo então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

2.2 A Lei

Conforme mencionado acima, a Lei Maria da Penha foi criada com o fito de coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, a fim de lhe ser garantidos todos os direitos inerentes a qualquer cidadão, inclusive à vida e à liberdade, conforme disposição da Carta Constitucional de 1.988.

A referida Lei corrobora a previsão constitucional de direitos e garantias fundamentais, de modo específico à mulher. Seu art. 2° e 3° assim expõe:

Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

Com isso, percebe-se o intuito da Lei, que se resguarda em proteger a

mulher, é lembrar à sociedade de que histórias, como a de Maria da Penha acima

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narrada, não poderiam mais ocorrer, tendo em vista que o Estado mantém sobre todas as mulheres um cuidado especial, expressado na legislação.

Com um escopo de educar a sociedade, a Lei Maria da Penha busca conscientizar a comunidade acerca da reprovabilidade legislativa em face da violência doméstica. Neste sentido, CAVALCANTTI pontua:

Trata-se de uma lei que tem mais o cunho educacional e de promoção de políticas públicas de assistência às vitimas que a intenção de punir mais severamente os agressores dos delitos domésticos, pois prevê em vários dispositivos medidas de proteção à mulher em situação de violência doméstica e familiar, possibilitando uma assistência mais eficiente e a salvaguarda dos direitos humanos das vítimas (CAVALCANTTI, 2007, p.175).

Portanto, a Lei Maria da Penha elucida orientações básicas para efetivar os direitos inerentes à mulher delimitados pela lei, levando-se em conta a finalidade para a qual se destina, os termos que pretende tornar eficazes, qualificando o sujeito beneficiário destes direitos e determinando quais os métodos utilizados pelo poder público para os assegurar.

Em relação aos métodos a se buscar segurança às mulheres, a Lei Maria da Penha prevê medidas protetivas de urgência, a serem usadas como meio de se evitar a reincidência da violência contra elas direcionada, com a tomada dos seguintes atos:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 ;

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;

III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

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a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;

c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; e

VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em grupo de apoio.

Com tais medidas, a Lei busca evitar-se prejuízos derivados do perigo da demora, uma vez que serão tomadas em caráter urgente, quando pode não ser possível o aguardo de métodos processuais.

3. Das Medidas Cautelares previstas no Código Processual Penal

No Brasil, como em qualquer Estado organizado, existem meios de se alcançar a segurança pública, prometida pela Constituição pátria, os quais se executam de forma preventiva ou repressiva.

Os métodos preventivos se manifestam, como o próprio nome indica, com o fito de evitar-se a incidência da criminalidade. Não se tratam de métodos processuais, uma vez que acontecem antes mesmo de se iniciar uma relação jurídica criada pelo processo.

É o que ocorre, por exemplo, na atuação da polícia militar, quando deflagra

um homicídio que acaba de se consumar. Aguardar-se a abertura de um processo

contra o infrator seria admitir que o Estado se faz inerte ante as urgências públicas.

(8)

De acordo com o Código de Processo Penal, “qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito” (art. 301, CPP). Com isso, a segurança pública torna-se mais efetiva, uma vez que se fosse aguardado o procedimento processual, diversas falhas estariam propensas a acontecerem.

Os métodos preventivos, a assegurarem a segurança coletiva, são consubstanciados nas medidas cautelares, previstas pelo Código Processual Penal Brasileiro.

De acordo com o art. 282, do CPP, antes de serem aplicadas as medidas cautelares, necessária é a observância de alguns requisitos: I) estas medidas serão aplicadas para assegurar a aplicação da lei penal, a manutenção da investigação criminal, bem como para se evitar a prática de infração penal; II) adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.

De acordo com o pensamento de Fernando Capez (2015), a tomada das medidas cautelares previstas no Código Processual demanda a análise de dois fatores: necessidade e adequação.

A necessidade se relaciona como um fator que determina que, não aplicada a medida cautelar, existiria um perigo pela espera jurisdicional. Ou seja, para Capez (2015), a medida cautelar deve ser necessária para assegurar a pretensão do Estado, que não pode derivar da mera gravidade delitiva.

Em relação à adequação, Capez (2015) afirma que se trata da imprescindibilidade da proporcionalidade a ser analisada no caso concreto, uma vez que nenhuma medida cautelar gravosa deverá ser aplicada quando o caso não a exigir.

Por consequência, a restrição da liberdade do infrator é a ultima ratio, ou seja, apenas em última instância haverá o recolhimento da liberdade do indivíduo que comete crime,

3.1 Das medidas alternativas

(9)

Conforme já elucidado, a prisão preventiva só será aplicada como medida cautelar, diante da impossibilidade ou ineficiência de outras medidas que não sejam a prisão.

O Código Processual Penal lista um rol de medidas cautelares diversas da prisão:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:

I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;

II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;

III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;

IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;

V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixosVI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;

VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;

VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;

IX - monitoração eletrônica.

Todas as medidas acima expostas poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente (art. 282, § 1°, CPP).

Embora haja autorização legal da cumulação das medidas cautelares

alternativas, importante se faz ressaltar que assim não poderá ocorrer em casos em

que o crime tenha previsão de pena privativa de liberdade, seja isolada, cumulativa

ou alternativamente (art. 283, § 1°, CPP).

(10)

Em relação às medidas cautelares diversas da prisão, Guilherme Nucci identifica:

[...] trata-se do cerne da reforma processual introduzida pela Lei 12.403/2011, buscando evitar os males da segregação provisória, por meio do encarceramento de acusados, que, ao final da instrução, podem ser absolvidos ou condenados a penas ínfimas. Porém, como já mencionamos nas notas ao art. 282, não se cuida de medida automática, a ser padronizada e aplicada aos réus em geral. Elas dependem dos requisitos de necessariedade e adequabilidade. Além disso, se não forem cumpridas, pode o magistrado decretar a prisão preventiva como ultima ratio. A mudança, em princípio, é bem-vinda, restando ao Estado implementá-la na prática (NUCCI, p. 599, 2016).

Portanto, o que se nota é que as medidas cautelares diversas da prisão servem como meios assecuratórios da investigação criminal, aplicabilidade da lei processual e penal, garantia da harmonia pública, entre outros objetivos.

3.2 Da Prisão Preventiva

De acordo com Capez (2015), a prisão preventiva se trata de uma espécie de prisão processual de natureza cautelar, a qual pode ser determinada pelo juiz em qualquer fase da investigação policial ou do processo criminal, antes do trânsito em julgado da sentença, sempre que estiverem preenchidos os requisitos legais e ocorrerem os motivos autorizadores.

Com consectário nos arts. 311 e ss. do CPP, “em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial”.

Em primeiro lugar, cabe ressaltar que a prisão preventiva se dará diante de

uma irrefutável prova de existência do crime, bem como indícios de autoria. Ou seja,

(11)

para que a prisão preventiva seja decretada, necessário é que haja a mínima certeza de que o crime ocorreu, e que a pessoa a padecer da prisão preventiva se trata do indivíduo que cometeu a prática delitiva.

Em consonância ao que dispõe o Código Processual Penal, a prisão preventiva há de ser decretada para fins de se garantir a ordem pública, a ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado (art. 312, CPP).

Pela natureza de excepcionalidade da prisão preventiva, a Lei processual é clara em determinar a indispensável fundamentação e motivação de sua decretação, quando houver receio de risco ou existência concreta de novos fatos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada (art. 312, § 2°, CPP).

Neste sentido, Pacelli (2017) idealiza que a prisão preventiva é medida que visa não a simples proteção subjetiva da vítima da prática delitiva, ou o mero encarceramento do praticante do ato criminoso, mas objetiva o interesse público, no que diz respeito tanto à seara relativa à comunidade, quanto à seguridade processual.

Em relação aos pressupostos objetivos de incidência da prisão preventiva, o CPP dispõe:

313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva:

I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;

II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;

III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência.

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Em primeiro lugar, nota-se que a preventiva só será possível quando praticado em crime exclusivamente doloso, em que a pena cominada máxima seja superior a quatro anos. Com isso, de acordo com pensamento de Nucci (2016), evita-se uma vulgarização da prisão preventiva, quando voltada a delitos de menor gravidade.

Assim sendo, não há que se falar em prisão preventiva quando ocorrer furto simples (art. 155, CP), receptação simples (art. 180, CP), autoaborto (124, CP), entre outros, por exemplo.

Ademais, nota-se que o inc. II, do art. 312 do CPP, indica a necessidade da decretação da prisão preventiva quando o infrator tiver sido condenado por outro crime doloso, já transitado em julgado. Aqui, necessária se faz a exceção cabível, quando o infrator já houver auferido os benefícios da reabilitação (art. 64, I c/c 93 e ss. do CP).

Relativamente ao inc. III, percebe-se a evidência da figura da mulher, crianças e adolescentes, enfermos e deficientes, além de idosos, como beneficiários diretos da prisão preventiva do infrator, vez que se trata de parcela frágil da sociedade. Nas palavras de Guilherme de Souza Nucci:

[...] na anterior redação do art. 313, previa-se apenas a violência contra a mulher; agora, ampliou-se, com justiça, para outras potenciais vítimas:

criança, adolescente, idoso, enfermo e pessoa com deficiência. Entretanto, é crucial destacar o objetivo dessa prisão preventiva: garantir a execução das medidas protetivas de urgência. Não se deve decretar a preventiva enfocando todo o trâmite processual, pois muitos delitos de violência doméstica e familiar possuem penas de pouca monta, incompatíveis com a extensa duração da segregação cautelar. Ilustrando, a lesão corporal simples atinge o máximo de um ano de detenção, o que é inconciliável com a prisão preventiva perdurando até o trânsito em julgado de decisão condenatória, sob pena de cumprir o réu mais que o devido em regime fechado. Diante disso, a proposta de decretação da prisão preventiva tem por finalidade assegurar o cumprimento de qualquer medida urgente decretada pelo magistrado, como, por exemplo, a separação de corpos.

Finda esta, revoga-se a prisão cautelar (NUCCI, Guilherme de Souza, 2016, p. 596).

Ante o exposto, nota-se que ainda que seja expressamente decretável a

prisão preventiva nos crimes contra a mulher, derivados de violência doméstica, tal

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medida cautelar é cabível tão somente quando alcançado o requisito constante no inc. I, do art. 312, qual seja a pena máxima cominada superior a 4 (quatro) anos.

Com a ausência de tal requisito, nota-se um risco à segurança da mulher, bem como de outros vulneráveis, quando contra eles for operado o crime de ameaça, por exemplo, que tem cominada uma pena de detenção, de um a seis meses, ou multa (art. 147, CP).

4. A Prisão Preventiva como Medida de Proteção à Mulher

Conforme salientado anteriormente, a prisão preventiva tem um caráter protetivo, tanto à ordem pública e econômica, quanto à segurança a ser garantida para a vítima e para a sociedade.

Relativamente aos crimes contra a mulher, a prisão preventiva se faz importantíssima, vez que cerca de 14% das mulheres que sofreram agressões no Brasil não denunciam, conforme pesquisa feita pelo instituto Datafolha

3

. Assim sendo, pelo fato de haver um extremo receio das mulheres em trazer ao Poder Público a notícia das agressões por elas sofridas, conta-se apenas com este poder, para que sejam garantidos todos os direitos a elas inerentes.

A Lei Maria da Penha, em seu art. 20, identifica que “em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial”.

Há de se lembrar que tal determinação deve sempre se coadunar com os requisitos elencados no art. 313, do CPP, já anteriormente citados. Salienta-se que o requisito da necessidade da pena máxima cominada ser superior a 4 anos pode, e muito, prejudicar a segurança da mulher. Neste sentido, NUCCI (2006, p. 877) expressa:

3 Disponível em: https://veja.abril.com.br/brasil/datafolha-274-das-mulheres-relatam-agressoes-metade-nao- denuncia/ . Acesso em: 19/05/2021.

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Há delitos incompatíveis com a decretação de prisão preventiva. Ilustrando:

a lesão corporal possui pena de detenção de três meses a três anos; a ameaça, de detenção de um a seis meses, ou multa. São infrações penais que não comportam preventiva, pois a pena a ser aplicada, no futuro, seria insuficiente para 'cobrir" o tempo de prisão cautelar (aplicando- se,naturalmente, a detração, conforme art. 42 do CP). Leve-se em conta,inclusive, para essa ponderação, que vigora no Brasil a chamada

"política da pena mínima", vale dizer, os juízes, raramente, aplicam pena acima do piso e, quando o fazem, é uma elevação ínfima, bem distante do máximo.

Assim sendo, conforme justa crítica de CUNHA (2007), o perigo habita no fato de se utilizar a prisão preventiva (mecanismo penal) para se assegurar a aplicabilidade de medidas de urgência (mecanismos essencialmente civis). Assim, CUNHA (2007, p. 82) salienta:

Outro dado nos parece fundamental. O art. 41 da lei, que ampliou a redação do art. 313 do CPP, permitiu a prisão preventiva 'para garantir a execução das medidas protetivas de urgência". Tais medidas protetivas estão previstas nos arts. 18 usque 24 da lei. Ocorre que várias dessas medidas possuem, inequivocadamente, caráter civil. Ora, se decretar a prisão preventiva do agressor, como forma de garantir a execução de uma medida protetiva de urgência, de índole civil, parece provimento que incorrerá na inevitável pecha de inconstitucionalidade.

Consigne-se que o que aqui se defende não é a decretação da prisão preventiva como forma exclusiva de se garantir a segurança da mulher. O cerne da discussão é trazer a ideia de que, em casos em que não é aplicada a preventiva, surge uma potencialidade de reincidência das agressões. É o que especialistas apontam

4

, quando mulheres em condições de subserviência aos seus companheiros mantêm um relacionamento abusivo e, por consequência, um grau de abusividade quase que intermitente.

Ocorre que, quando as somente as medidas protetivas são aplicadas, ainda em crimes de gravidade que merece atenção – embora não tenham pena máxima cominada em mais de 4 anos – opera-se uma iminência de incidência dos crimes contra as mulheres. Por tal razão, as medidas protetivas, que podem ser

4 Informação disponível em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/06/24/mulheres-que-

denunciam-parceiros-violentos-e-reatam-correm-risco-de-sofrer-mais-violencia.ghtml Acesso em: 20/05/2021.

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descumpridas pelo infrator quando este não estiver sob a tutela do Estado, não são suficientes para evitar-se as agressões sofridas pelas mulheres, que pode até resultar na perda do bem jurídico mais precioso: a vida.

5. Considerações Finais

Em suma, diante de todos os dados e informações aqui expostos, o objetivo do presente artigo foi trazer ao leitor, em primeiro momento, a importância da Lei Maria da Penha na sociedade brasileira.

Trata-se de Lei que visa assegurar às mulheres a igualdade prometida no art.

5° da Constituição Federal, bem como evitar com que resquícios de uma sociedade patriarcal retire os seus direitos tão importantes quantos os de qualquer outro cidadão brasileiro.

Ademais, buscou-se explorar sobre a história da mulher que fomentou a criação da Lei de n° 11.340/06, a qual sofreu com o desamparo público, que até aquele momento, não estipulava uma Lei Especial para estabelecer suas garantias.

Posteriormente, elucidou-se acerca do Código Processual Penal, mostrando- se o que ele prevê em relação às medidas cautelares, sendo que estas possuem um fito fundamental na segurança das mulheres, já que buscariam especificamente evitar a reincidência de agressões contra elas deferidas.

Ainda, apresentou-se sobre a possibilidade de se aplicar a prisão preventiva, em casos excepcionais, por óbvio, para que esta seguridade seja ainda mais sedimentada, uma vez que não é possível aplicá-la em casos que, embora os crimes tenham uma cominação de pena considerada pequena, a gravidade social de tais é significativa.

Por fim, trata-se de um artigo embasado em uma temática de relevância não

apenas jurídica, mas de extrema importância social, com o fim de ser efetivado a

promessa constitucional de igualdade entre homens e mulheres (art. 5°, caput).

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Referências

BRASIL. Decreto-Lei n° 2.858, de 7 de Dezembro de 1.940. Institui o Código Penal.

Rio de Janeiro: 1940.

BRASIL. Decreto-Lei n° 3.689, de 3 de Outubro de 1.941. Institui o Código de Processo Penal. Rio de Janeiro: 1940.

BRASIL. Lei de n° 11.340, de 7 de Agosto de 2006. Institui a Lei Maria da Penha.

Brasília: 2006.

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CUNHA, Rogério Sanches. PINTO, Ronaldo Batista. Violência Doméstica (Lei Maria da Penha): Lei 11.340/2006. Comentada artigo por artigo. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2007.

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https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/06/24/mulheres-que-denunciam- parceiros-violentos-e-reatam-correm-risco-de-sofrer-mais-violencia.ghtml . Acesso em: 20/05/2021.

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(17)

PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

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https://veja.abril.com.br/brasil/datafolha-274-das-mulheres-relatam-agressoes-

metade-nao-denuncia/ . Acesso em: 20/05/2021.

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Observação: conforme orientação dada pelo portal Nice, quando a porcentagem de plágio excedesse 3%, necessária seria a justificativa.

Conforme prints anexos, as correspondências de maior incidência são aquelas

relativas à citações de dispositivos legais, o que é comum. Contudo, aponto

(20)

que todos os artigos que incidem no relatório de plágio estão devidamente

referenciados, o que não ilide a legitimidade do texto.

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