• Nenhum resultado encontrado

45º Encontro Anual da Anpocs; SPG05. Comportamento político empresarial e a crise da democracia

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "45º Encontro Anual da Anpocs; SPG05. Comportamento político empresarial e a crise da democracia"

Copied!
22
0
0

Texto

(1)

45º Encontro Anual da Anpocs;

SPG05. Comportamento político empresarial e a crise da democracia

FIESP e médio capital: análise sobre a participação do médio capital industrial paulista na crise política do governo de Dilma Rousseff

Felipe Queiroz

Doutorando em Ciência Política pela UNICAMP

2021

(2)

FIESP e médio capital: análise sobre a participação do médio capital industrial paulista na crise política do governo de Dilma Rousseff

Felipe Queiroz1

Introdução

Este artigo busca analisar as razões que levaram as bases da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, doravante FIESP e CIESP, respectivamente, a apoiarem o processo de impeachment da presidente da República Dilma Rousseff. A FIESP é a principal federação industrial estadual do país, e possui 131 sindicatos filiados, divididos em 23 setores produtivos, e representa em torno de 150 mil empresas de pequeno, médio e grande portes. O CIESP, representa os interesses econômicos e políticos de mais de 8 mil empresas espalhadas por 42 diretorias regionais no Estado de São Paulo. Ambas as entidades, apesar de possuírem estatutos e estrutura organizacional distintas, são presididas em conjunto por uma única e mesma presidência desde 2007 (CIESP, 2018;

FIESP, 2018). Na maior parte das vezes, a FIESP representa a face política nas esferas estadual e nacional das duas entidades patronais siamesas. Ademais, a FIESP, além de exercer influência sobre a CNI, em demandas de comum interesse a todas as federações estaduais, atua como uma das principais porta-vozes da indústria de transformação brasileira. No contexto da crise política do governo Dilma, não ocorreu de forma diferente:

a FIESP se apresentou como vocalizadora dos interesses da burguesia industrial e tomou a dianteira no processo político (BRAGA; MONTROSE, 2017a; JIMÉNEZ, 2016;

QUEIROZ, 2018, 2019).

A FIESP não apenas rompeu com o governo de Dilma Rousseff como também aderiu à frente deposicionista desde a sua formação (IANONI, 2018, p. 165) tornando-se um dos principais símbolos desse período da história brasileira. Essa não foi a primeira vez que a FIESP esteve na dianteira do processo político e se apresentou como representante

1 Doutorando em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador do grupo Neoliberalismo e relações de classe no Brasil, vinculado ao CeMarx. Bolsista Capes. Contato:

felipequeiroz_braga@hotmail.com

(3)

dos interesses da indústria brasileira. Em todas as crises políticas brasileiras das três últimas décadas, a federação das indústrias paulista assumiu a posição de liderança do setor produtivo. Os trabalhos de Boito Jr. (1999, 2012, 2018), Saes (2001), Martuscelli (2015), Boschi e Diniz (2007), entre outros, mostram como a FIESP liderou o setor industrial interno nas crises do governo Collor de Mello, FHC e na crise do mensalão durante o governo Lula em 2005.

No caso específico da crise política do governo Dilma Rousseff, apesar de a FIESP se apresentar como porta-voz e liderança da indústria, não foram todas as associações industriais estaduais e grupos de industriais que seguiram seus passos (ARAGÃO, 2015; MACIEL, 2016; ROLLI; AGOSTINI, 2015). Na realidade, nem dentro da própria FIESP (e do CIESP) houve unanimidade em favor do impeachment, uma vez que importantes sindicatos, como os ligados à indústria de alimentos e máquinas e equipamentos posicionaram-se contra o ativismo político da FIESP (ARAGÃO, 2015). No entanto, apesar das posições contrárias e das dissidências, a maior parte da base industrial apoiou a decisão da Federação e do Centro das indústrias paulistas de romper com o governo Dilma e apoiar o impeachment. A questão que objetivamos refletir neste artigo é a seguinte: O que levou a base industrial paulista a apoiar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff?

Como a FIESP e o CIESP possuem bases amplas e heterogêneas, é bem provável que as razões que levaram seus filiados, isto é, o industrial paulista e os sindicatos patronais, a apoiarem o rompimento com o governo Dilma tenham variado de acordo com o porte de capital (pequeno, médio e grande), o setor industrial e a influência política que possuem tanto sobre a direção das duas instituições quanto sobre o governo. Por isso, entendemos que investigar as razões e motivações que levaram o industrial paulista a apoiar a decisão da cúpula da FIESP/CIESP de não apenas romper com o governo Dilma durante a crise política, mas atuar ativamente pela sua deposição trará importantes contribuições ao entendimento desse complexo período da história brasileira.

Este trabalho apresentará alguns dos resultados parciais de nossa tese de doutorado em andamento no Departamento de Ciência Política da UNICAMP que investiga a participação da FIESP na crise política do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Nossa investigação se baseia numa pesquisa qualitativa e utiliza técnicas de pesquisa: (i) pesquisa bibliográfica; (ii) pesquisa documental; e (iii) pesquisa de campo.

(4)

Em nossa pesquisa de campo entrevistamos representantes da direção da FIESP e industriais de diferentes portes e setores do estado de São Paulo. Ao todo realizamos vinte e três entrevistas com roteiro semiestruturados.

Os dados e informações coletadas em nossa pesquisa de campo são cotejados com a bibliografia sobre o tema e os relatórios, dados e informações disponíveis pela FIESP.

O trabalho está dividido em três partes. Na primeira parte fazemos uma breve análise sobre a participação da FIESP na crise política do governo de Dilma Rousseff. Na segunda parte, refletimos sobre as razões que levaram parte significativa da base industrial da FIESP a apoiar o processo de impeachment. Na terceira e última parte, refletimos sobre a situação financeira das indústrias paulistas no contexto específico da crise política.

1. A burguesia industrial na crise política

A crise que resultou no impeachment de Dilma Rousseff foi a conjunção de três diferentes crises: uma crise econômica, que se desenvolveu desde o primeiro mandato da governante petista (BASTOS, 2017a; CARNEIRO, 2018; CARVALHO, 2018); uma crise ideológica, que eclodiu em junho de 2013 (QUEIROZ, 2016); e uma crise política, que teve seu início ainda em 2014 (ALMEIDA, 2016; BOITO JR., 2018; CARVALHO, 2018;

IANONI, 2018; QUEIROZ, 2016, 2019; SINGER, 2018). O fechamento das urnas e a contagem dos votos do segundo turno das eleições de 2014 marcaram o início da crise política do governo de Dilma Rousseff. O candidato de oposição, que não soube perder a disputa eleitoral, tentou se valer de todos os meios possíveis, desde recursos judiciais e levantamento de suspeitas sobre a lisura do processo até a formação de uma aliança no Congresso Nacional, para conquistar a cadeira presidencial num suposto “terceiro turno”

(LIMA; DIAS, 2014; OLIVEIRA, 2014; PASSARINHO, 2014; RAMALHO; MATOSO, 2014).

Concomitantemente às investidas do PSDB, o governo Dilma enfrentou ataques por diferentes e variadas frentes: desde os protestos nas ruas e nas redes sociais da alta classe média, passando pelo cerco da Operação Lava Jato aos integrantes da base política de apoio do governo no Congresso Nacional e no bloco no poder e os “vazamentos”

seletivos e bem calculados para desestabilizar o governo e desmoralizar empresas integrantes da fração hegemônica no bloco no poder, com a Petrobras e as grandes

(5)

empreiteiras, até os ataques especulativos e o terrorismo econômico do grande capital financeiro internacional e da fração da burguesia brasileira a ele associado (BOITO JR., 2018) contra o governo e a economia brasileira.

A crise política que se iniciou ainda em 2014 teve seu momento mais agudo a partir de dezembro de 2015, quando o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), aceitou a denúncia de crime de responsabilidade contra a chefe do Poder Executivo feita pelo consultor jurídico do PSDB, Hélio Bicudo, e pelos advogados Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal (FERNANDES, 2015; LIMONGI, 2017).

Braga e Montrose (2017b, p. 132–134) dividem a conjuntura da crise em quatro fases distintas: a primeira, entre o resultado do segundo turno das eleições de 2014 e a vitória de Eduardo Cunha, do PMDB, sobre o candidato apoiado pelo governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), para a presidência da Câmara dos Deputados; a segunda, entre a eleição de Eduardo Cunha à presidência da Câmara até o seu rompimento com o governo;

a terceira inicia-se com o aceite da denúncia de crime de responsabilidade contra a presidente e as manifestações de março de 2016; a quarta e última, entre as manifestações de março e o resultado do processo de impeachment no Senado Federal, em agosto de 2016.

Os trabalhos de Bastos (2017a, 2017b), Boito Jr. (2016, 2018), Ianoni (2018), Singer (2015, 2018), Saad-Filho e Morais (2018) entre outros, mostram que os conflitos entre as diferentes frações burguesas avançavam desde o primeiro mandato da presidente Dilma, e com a eclosão da crise política, eles aprofundaram ainda mais. A grande burguesia interna, fração hegemônica no bloco no poder (BOITO JR., 2018), em diferentes momentos da crise, saiu em defesa do governo e tentou recompor a base de apoio do governo no interior do bloco no poder. Rodrigo Almeida (2016), que na ocasião da crise era assessor de imprensa da Presidência da República, mostra que algumas lideranças ligadas à grande burguesia interna não apenas manifestaram publicamente apoio à presidente da República, mas também apresentaram ao governo propostas e alternavas combater a crise. Valle (2019) mostra que na conjuntura da crise política ocorreu uma divisão no seio da fração financeira do capital, entre bancos comerciais internos, em defesa do governo, e grande capital financeiro internacional, contra o governo. Del Passo (2019), em sua pesquisa sobre a participação da construção civil na conjuntura da crise política, aponta que esse setor também se dividiu em posições distintas. No seio da burguesia

(6)

industrial interna não ocorreu de forma diferente: uma parte defendeu o governo enquanto outra aderiu à coalizão deposicionista.

A FIESP e o CIESPforam as primeiras entidades de classe da indústria brasileira a romperem com o governo Dilma e a apoiarem formalmente o processo de impeachment.

No início de agosto de 2015, o vice-presidente Michel Temer (PMDB), que ocupava a posição de articulador político do Palácio do Planalto, deu os primeiros sinais de que já não estava ocupando a referida posição em favor dos interesses do governo que ele participava, mas do governo que objetivava montar. Após reunião com líderes da Câmara e do Senado, Michel Temer declarou à imprensa que a situação do país era “grave” e que a nação precisava de “alguém” que tivesse “capacidade de reunificar a todos” (apud ALEGRETTI, 2015). A declaração de Temer foi interpretada como um gesto de conspiração à luz do dia tanto por Dilma quanto por sua equipe ministerial (ALMEIDA, 2016). Após a declaração de Temer, o presidente da FIESP, Paulo Skaf, que também era afilhado político de Temer, juntamente com o presidente da FIRJAN, emitiram uma nota conjunta em defesa do Vice-Presidente (FIESP; FIRJAN, 2015).

Após a manifestação pública de apoio da FIESP e da FIRJAN, o Vice-Presidente da República organizou diversos encontros com empresários de diferentes ramos na capital paulista, sempre intermediado por Paulo Skaf e o economista Delfim Netto, que passou a assessorar informalmente Temer. Esse fato é importante de ser observado porque, enquanto Temer negociava os termos da coalizão do impeachment com partidos e parlamentares tanto da oposição quanto da base do governo, Skaf buscava apoiadores à aliança do impeachment no seio do empresariado, mais especificamente da burguesia interna.

Assim que o governo anunciou o projeto de criar um tributo nos moldes da antiga CPMF, a FIESP deu início a campanha “Não Vou Pagar o Pato”. A campanha, para além de seu objetivo direto – impedir a criação do novo tributo – marcava o afastamento da Federação da base de apoio do governo. O rompimento oficial da instituição com o governo ocorreu somente após o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, aceitar a denúncia de impeachment, no início de dezembro de 2015.

O fato de a maior e mais representativa federação industrial do país romper com o governo, não significou que as demais federações e sindicatos patronais ligados à indústria de transformação adotaram a mesma posição. A análise das notas e manifestações públicas das lideranças industriais do país indica que houve ao menos três posições distintas.

(7)

Uma posição foi a adotada pelas federações de industriais dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, FIESP e FIRJAN, que apoiaram o impeachment desde o primeiro momento. Paulo Skaf se apoiou na insatisfação do médio capital industrial paulista para acionar toda a estrutura da instituição em favor da derrubada da presidente. Além da FIRJAN, as federações industriais de Santa Catarina (FIESC), Paraná (FIESC) e Goiás (FIESC) integraram a frente industrial em favor do impeachment liderada pela FIESP.

Essas federações estaduais participaram da cruzada organizada pela FIESP aos gabinetes de Deputados e Senadores do Congresso Nacional para pressioná-los a votarem favoravelmente ao processo de impeachment (MACIEL, 2016).

As federações industriais da Bahia (FIEB), do Espírito Santo (FINDES), de Minas Gerais (FIEMG), do Pernambuco (FIEP) e do Rio Grande do Sul (FIERGS) não manifestaram posição nem a favor e nem contra, optaram pela neutralidade. A abstenção dessas federações no processo político decorreu de divergências internas em relação ao impeachment.

A CNI, por sua vez, não aderiu a nenhuma posição nesse processo político antes que um dos lados houvesse conquistado maioria parlamentar. A posição oficial da CNI em relação ao impeachment foi manifestada apenas em 17 de março de 2016, em seu Comunicado à nação (CNI, 2016), às vésperas da votação do processo de cassação na Câmara dos Deputados, quando esta acenou positivamente à coalizão do impeachment.

Outra posição a ser observada nessa conjuntura é a da grande burguesia industrial interna. Apesar de seus integrantes serem associados a federações industriais estaduais, na maior parte das vezes, em decorrência de seu poderio econômico e político, atuam na cena política diretamente. No contexto específico da crise política, a grande burguesia interna se colocou contra o processo de cassação da presidente Dilma, tanto por seus efeitos políticos quanto econômicos. No entanto, com o (i) avanço da crise econômica, (ii) o cerco da Operação Lava Jato, tanto aos políticos da base aliada do governo quanto aos principais representantes da grande burguesia interna, (iii) e a perda de apoio do governo no Congresso Nacional a grande burguesia interna, sobretudo entre os representantes da indústria de transformação e da construção civil, se dividiu entre o grupo que se manteve

“neutro” e o grupo que não pôde sair em defesa do governo Dilma. Como bem observou o cientista político Armando Boito Jr.,

(8)

a burguesia interna não fez esse movimento em bloco. Parte dela foi perseguida judicialmente, graças ao fato de as forças articuladas do imperialismo, da burguesia associada e da alta classe média terem utilizado a corrupção como arma para isolar e mesmo destruir as empresas nacionais de construção e engenharia pesada; parte aderiu ativamente ao golpe […]. A indústria de transformação encontrava-se, desde 2011, em trajetória declinante devido à penetração dos manufaturados chineses; parte da burguesia interna, ainda, ficou neutra na crise – foi o caso da indústria de construção naval que, tendo crescido a taxas de 19% ao ano, relutou em aderir ao golpe do impeachment e hoje está em campanha contra o desmonte da política de conteúdo local pelo governo Temer (BOITO JR., 2017a).

A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) é exemplo claro de associação representativa da burguesia interna que adotou uma posição

“neutra”, apesar de se colocar contra o processo de impeachment. O próprio presidente ABIMAQ não deixou de externar o seu descontentamento com o posicionamento político da FIESP e teceu críticas diretas à Skaf (ROLLI; AGOSTINI, 2015). Outra instituição que optou por manter a neutralidade, foi o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).

Conforme vimos até aqui, não foram todas as federações, sindicatos e institutos ligados à indústria de transformação que que adotaram o mesmo caminho da FIESP na conjuntura da crise política, algumas instituições adotaram uma posição “neutra”, enquanto outras até cogitaram aderir à campanha pela deposição da presidente, porém, por não conseguirem obter o apoio total de suas bases, não se manifestaram institucionalmente.

Além disso, houve a posição da grande burguesia industrial interna que, juntamente com outros representantes da grande burguesia interna, tentou encontrar soluções para a crise e evitar o golpe contra o governo. Diante das diferentes posições da indústria de transformação doméstica em relação à crise, podemos questionar se no interior da própria FIESP também não houve posições contrárias ao impeachment? Outra questão importante diz respeito aos fatores que levaram a base da FIESP e o CIESP a apoiar a decisão da direção das duas casas de romper com o governo e aderir à coalizão deposicionista.

2. O apoio da base da FIESP ao processo de impeachment

Cerca de duas semanas após o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, aceitar o pedido de impeachment da Presidente da República e dar início ao

(9)

processo político, em 02 de dezembro de 2015, a FIESP e o CIESP convocaram uma assembleia com seus filiados para deliberar sobre a crise política e o apoio ao processo de impeachment. Nos dias que antecederam a decisão oficial das duas entidades patronais, elas consultaram 1.113 empresas filiadas – ou seja, menos de 1% do total de filiados – sobre o apoio ao processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff. A base amostral de empresas de consultadas pela FIESP/CIESP foi composta da seguinte forma: 73%, pequenas; 22%, médias; e, 5% grandes empresas. A pesquisa continha apenas três questões: A primeira sobre o posicionamento pessoal do entrevistado em relação ao processo de impedimento: 91% dos entrevistados responderam que apoiavam o processo;

A segunda questão era sobre a posição da empresa, e85% responderam que suas empresas haviam se posicionado favoravelmente ao processo de deposição, enquanto 5% disseram que institucionalmente não haviam manifestado nenhuma posição nem a favor nem contra o processo político em questão e 10% não souberam responder. A terceira questão, em relação ao posicionamento oficial da FIESP, apontou que mais de 90% dos consultados entendiam que a Federação deveria se posicionar a respeito do processo de impeachment, enquanto 8% entendia que a instituição deveria adotar uma posição neutra e imparcial (FIESP, 2015).

A pesquisa foi apenas consultiva, ou seja, uma sondagem sobre a percepção da indústria paulista sobre a conjuntura do período. Após a pesquisa, a FIESP convocou uma reunião para deliberar sobre (ou mais precisamente, oficializar) o apoio ao processo de impeachment.

Se utilizarmos apenas a pesquisa da FIESP para refletir sobre as razões que levaram a maior parte da indústria de transformação paulista a apoiar o processo de deposição da presidente Dilma poderemos obter uma interpretação tanto superficial, como se os industriais tivessem agido em bloco, movidos pelas mesmas razões e com os mesmos objetivos, quanto equivocada sobre o apoio do heterogêneo e fragmentado empresariado paulista à participação da FIESP e do CIESP na crise política, como se a decisão das cúpulas de ambas as entidades – que resultam nas mesmas pessoas – fosse apenas, e exclusivamente, a expressão da vontade da base do empresariado. Para não incorrermos nesses possíveis erros analíticos, analisamos os resultados da pesquisa da FIESP amparados outros dados e informações, desde indicadores e índices econômicos e financeiros até a pesquisa de campo, com entrevistas com roteiro semiestruturado com

(10)

representantes industriais de diferentes setores e portes de capital. Para tanto, apresentaremos a seguir alguns dos resultados parciais de nossa pesquisa de doutorado.

Nossa pesquisa de campo com industriais de diferentes setores econômicos e distintos portes de capital indicou que a ausência de base de apoio político do governo e a crise econômica foram fatores de grande influência sobre a decisão do industrial paulista de apoiar a campanha pelo impeachment. No entanto, cada uma dessas variáveis, apesar de serem apresentadas em conjunto, possuía maior ou menor importância conforme o setor, o porte do capital e a influência política do entrevistado. Nos casos em que os entrevistados faziam parte ou da grande burguesia industrial, ou presidiam algum sindicato ou eram membros da cúpula FIESP ou do CIESP, o fator determinante ao apoio do impeachment foi o político. O próprio presidente da FIESP, Paulo Skaf, logo após a formalização do rompimento com o governo e o início da campanha em favor do impeachment declarou à imprensa que o governo não possuía mais “sustentabilidade política” (PORTAL G1, 2015) e, por isso mesmo, estavam abandonando a base de apoio do governo e aderindo à coalizão golpista. No caso específico de Paulo Skaf, seu apoio ao processo de impeachment de Dilma Rousseff foi claramente motivado por interesses político-partidários individuais.

Seu mandato à frente da FIESP tinha data e hora para terminar e ele precisava de um trampolim para um cargo no Executivo, e colocar-se contra um governo em crise e com baixa popularidade era uma estratégia eleitoralmente plausível. Não por acaso, a adesão de Skaf à coalizão do impeachment ocorreu bem antes de o processo de impeachment ter início na Câmara dos Deputados.

Por sua vez, nos casos em que o entrevistado era proprietário de uma indústria de pequeno ou médio porte e não possuía nenhum cargo diretoria no sindicato de sua categoria ou no CIESP ou na FIESP, o que determinou o apoio à coalizão do impeachment foram as condições econômica e financeira do período. Esse grupo não apoiou a derrubada do governo Dilma movido, necessariamente, por afinidades “programáticas” com o governo de Michel Temer – na realidade, o programa econômico apresentado pelo peemedebista, Uma ponte para o futuro (FUNDAÇÃO ULYSSES GUIMARÃES, 2015), era um programa que atendia prioritariamente os interesses do grande capital, sobretudo o grande capital financeiro internacional (PAULANI, 2016) – mas por uma visão “pragmática”

sobre os resultados da política econômica do segundo governo Dilma e os seus efeitos diretos sobre a indústria doméstica. Não podemos deixar de lembrar que a burguesia industrial desde 2014 amargava duras perdas. Em 2014, o PIB brasileiro registrou

(11)

crescimento de 0,5%, impulsionado pelo agronegócio e o setor de serviços, enquanto a indústria de transformação registrou queda de 4,7%. Em 2015, enquanto o PIB brasileiro caiu 3,2%, e a indústria de transformação retraiu 8,5%. Por isso, quando questionamos as razões que levaram os industriais que enquadravam nessa classificação a apoiarem o impeachment, eles respondiam que não viam outra alternativa, ou apoiavam a deposição de Dilma e seu governo e confiavam que o futuro governo apresentasse alguma solução quase milagrosa para as crises econômica e política ou, invariavelmente, estariam fadados a verem seus negócios irem à bancarrota dentro de pouco tempo. Por isso, eles indicavam os fatores econômicos como determinantes ao apoio à coalizão do impeachment.

3. Situação financeira das indústrias paulistas

Quando a direção da FIESP/ CIESP decidiu consultar sua base sobre o processo de impeachment, o resultado, se já não era conhecido, ao menos era esperado. Os industriais paulistas, principalmente de pequeno e médio portes, vinham sofrendo com a crise econômica, com piora na situação financeira e redução drástica do crédito, sobretudo do BNDES. Nas reuniões regionais do CIESP e nas comissões setoriais da FIESP, eles externavam continuamente o descontentamento com a situação econômica e política do país. O crédito tanto para capital de giro quanto para investimentos era um tema que suscitava muitas críticas entre os industriais.

Conforme dados do Banco Central, o saldo total das operações de crédito com recursos livres e direcionados do Sistema Financeiro Nacional apresentou expressivo crescimento durante os governos petistas, passando de 26,1% para 53,9% do PIB, entre 2002 e 2015, respectivamente. No entanto, de dezembro de 2015 em diante as operações de crédito no mercado começaram a diminuir, de modo que em 2016 o volume total das operações de crédito em relação ao PIB caiu de mais de 4,0 pontos percentuais (p.p.), impulsionada pela redução das carteiras de crédito destinadas às pessoas jurídicas (empresas). Em 2016 a carteira de crédito com recursos livres destinado às empresas caiu 10% em comparação com 2015, com redução de 17% do crédito rotativo e -10% do não rotativo. Em sentido análogo, a carteira total de crédito direcionado destinado às empresas caiu 9% no período, sendo que o financiamento total com recursos do BNDES reduziu mais de 13%. No caso específico do desembolso do BNDES, veremos mais adiante que ele começou a diminuir bem antes, já na transição do primeiro para o segundo mandato de

(12)

Dilma Rousseff, e a indústria de transformação paulista foi a que sentiu o maior impacto do contingenciamento dos empréstimos do banco.

Isto significa que as empresas passaram a encontrar maiores dificuldades tanto para investirem quanto para se financiarem durante o período mais agudo da crise política do governo Dilma. O reflexo sobre a indústria de transformação foi direto, a carteira de crédito da indústria em relação ao PIB, reduziu de 8,9% para 7,3%, entre 2015 e 2016, respectivamente.

As taxas de juros vinham aumentando desde abril de 2013. Entre novembro de 2012, quando a taxa média de juros às empresas registrou o menor patamar histórico, com média de 18,6% a.a., e o pico do governo Dilma, em fevereiro de 2016, quando alcançou 31,7% a.a, o custo do crédito aumentou mais de 13 pontos percentuais2. O contingenciamento das fontes oficiais de financiamento, o aumento do custo do crédito no mercado livre, juntamente com a recessão econômica produziram um cenário adverso à indústria doméstica, e alguns dos resultados diretos foram o aumento dos atrasos e da inadimplência.

No caso específico dos atrasos nas operações de crédito até 90 dias, eles passaram a crescer a partir do início do segundo governo Dilma, e a inadimplência as micro, pequenas e médias empresas quase dobrou de tamanho entre dezembro de 2014 e agosto de 2016, passando de 3,5% para 6,3%, respectivamente. Esse dado corrobora os resultados da nossa investigação de campo, pois os empresários de pequeno e médio porte entrevistados relataram que tanto a economia quanto as condições de crédito e financiamento pioraram durante o segundo mandato de Dilma Rousseff, resultado em atrasos e, também, inadimplência com bancos. Entre as empresas de grande porte, a inadimplência aumentou principalmente durante o governo de Michel Temer, quando alcançou a marca de 2,0% – maior patamar desde 2012.

O indicador de acesso ao crédito da indústria de transformação paulista, publicado pela pesquisa de Sondagem Industrial da FIESP, apontou na mesma direção. O indicador criado pela FIESP possui a marca de 50,0 pontos como referência, e acusa o nível de dificuldade ou facilidade que as indústrias têm de acesso ao crédito. Acima da marca de 50 pontos, indica facilidade; abaixo de 50 pontos, dificuldade. Durante os governos de Dilma Rousseff, o indicador registrou expressiva piora, sobretudo para as

2 Esses dados referem-se à média simples das taxas de juros cobradas pelas instituições financeiras. Elas podem variar de acordo com o tipo de crédito demandado, o prazo, as garantias e o riscos.

(13)

micro, pequenas e médias empresas. Entre o início do primeiro governo Dilma e o término abrupto do segundo mandato com o golpe parlamentar, as pequenas e médias empresas registraram queda de 25 e 22 pontos no indicador, e encerraram o ano de 2015 em 21,2 e 26,5 pontos, respectivamente. No mesmo período, as grandes empresas, apesar de também encontrarem dificuldade e pessimismo, encerraram o ano de 2015 com melhores resultados no indicador do que as demais: 34,6 pontos.

A pesquisa de sondagem da FIESP igualmente apontou piora no otimismo do industrial paulista no período. O indicador de sondagem industrial da FIESP até o primeiro trimestre de 2011 indicavam resultados positivos e percepção otimista sobre os negócios.

Nesse período, tanto as pequenas quanto as grandes indústrias registraram os melhores índices da série histórica do indicador medido pela FIESP: 52,0 e 60,3 pontos, respectivamente. As empresas de médio porte, apesar de aferirem resultados menores, também indicavam boas condições no período, com índice de 51,2 pontos.

No entanto, os indicadores de sondagem industrial pioraram junto com as conjunturas econômicas e políticas do período. Os entrevistados em nossa pesquisa de campo relataram dificuldades de encontrar tanto fontes de financiamento quanto piora na situação financeira de suas empresas. Conforme os indicadores da FIESP pequenas e médias empresas encerraram o ano de 2015 com indicadores de situação financeira e margem de lucro operacional em seus piores patamares históricos. No caso específico do indicador de situação financeira, as pequenas e médias encerraram o último ano completo de governo Dilma com índices de 32,8 e 36,5 pontos. Já as grandes empresas registraram 42,3 pontos. No que se refere ao indicador de margem de lucro operacional, as pequenas e médias indústrias paulistas registraram índices abaixo de 30 pontos, enquanto as grandes indústrias aferiram 33,4 pontos. A evolução desse conjunto de indicadores foi acompanhada com bastante atenção pela direção da FIESP e do CIESP e não havia dúvida quanto a situação econômica e financeira das indústrias paulistas: a crise econômica estava acabando com a produção local e a crise política estava a desgastar ainda mais relação entre Executivo e Legislativo e entre estes e as diferentes frações do capital. Por isso, quando a direção da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, que já trabalhava ativamente em favor da construção de uma base de apoio do (até então, possível) governo Temer, questionou sua base de filiados sobre o apoio ao processo de impeachment, eles já sabiam que o apoio seria expressivo.

(14)

3.1.O BNDES e a disputa entre grande e médio capital

O desembolso do BNDES à indústria de transformação registrou acentuada queda entre o primeiro e o segundo mandato de Dilma Rousseff, especialmente para as pequenas e médias indústrias. Durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff, com a criação do Plano Brasil Maior (PBM), a extensão do PSI e o PAC, o desembolso do banco aumentou substancialmente. A carteira de crédito do banco cresceu para todos os portes de capital durante o primeiro governo Dilma, em especial para as micro, pequenas e médias empresas, que registraram a maior participação histórica no desembolso do banco, em torno de 33%. Apesar de estes segmentos registrarem crescimento no desembolso total do banco, o crescimento não foi uniforme. Conforme se pode observar no gráfico 1, a carteira dessas categorias registrou maior crescimento em 2011 e 2013, enquanto em 2012 e 2014 registraram ou crescimento inferior ao do grande capital ou queda.

Apesar do crescimento no volume de operações e no total do desembolso não podemos deixar de pontuar as dificuldades relatadas pelos industriais (especialmente de pequeno e médio porte) em conseguir financiamento com o banco. O próprio vice- presidente da FIESP já havia advertido sobre esse ponto em 2012: “apesar da ampliação de linha e de recursos disponíveis do BNDES, [...] os financiamentos ainda não chegam às pequenas e médias empresas” (apud MACHADO; GIFFONI; WATANABE, 2012). Esta mesma crítica foi repetidas vezes relatada em nossa pesquisa de campo. Para os entrevistados, o banco atuava em benefício do grande capital – isto é, de grandes grupos econômico-financeiros, especialmente as “campeãs nacionais” – em detrimento do pequeno e médio capital. O descontentamento era maior entre os empresários de médio porte, que se sentiam espremidos, não se enquadravam nem na condição de micro e pequeno empreendedor que tinha o acesso facilitado ao “cartão BNDES” e nem possuíam capital e projetos grandes o suficiente para captar recursos diretamente com a instituição.

Ademais, para eles, o BNDES era uma instituição que privilegiava as “campeãs nacionais”.

Durante o segundo mandato de Dilma Rousseff o desembolso do BNDES apresentou expressiva queda: -28%, em 2015, e -35%, em 2016. Como se observa no gráfico 1, a queda em 2015 foi maior entre o pequeno e o médio capital. Esses dados juntamente os dados analisados anteriormente, apontam que a crise econômica teve efeitos mais deletérios sobre as empresas de até médio porte.

(15)

Gráfico 1 - Desembolso do sistema BNDES por porte de empresa (Var.% Anual)

Fonte: BNDES. Disponível em: <https://www.bndes.gov.br/>.

O forte contingenciamento no desembolso do BNDES durante o segundo mandato de Dilma Rousseff afetou toda a indústria de transformação brasileira, e aumentou ainda mais a insatisfação do industrial paulista com o Governo Federal. Entre 2014 e 2015, o desembolso do BNDES à indústria de transformação geral registrou redução nominal de 26% – já em relação à indústria paulista, a diminuição foi de 34%. Quanto às pequenas e médias indústrias de São Paulo, no período, o desembolso do BNDES recuou 40% e 46%, respectivamente. Os industriais paulistas não culpavam nem a crise econômica nem o conteúdo da política econômica (o arrocho fiscal proposto pelo Ministro da Fazenda do segundo governo Dilma, Joaquim Levy) pela redução dos empréstimos do banco de desenvolvimento, mas o próprio governo e as “campeãs nacionais”, como se todos os recursos fossem deliberadamente destinados à grande burguesia interna.

-50%

-40%

-30%

-20%

-10%

0%

10%

20%

30%

40%

2011 2012 2013 2014 2015 2016

Pequena Média Grande Total

(16)

Gráfico 2 - Desembolso do BNDES à Indústria de transformação (Var.% nominal)

Fonte: BNDES. Disponível em: <https://www.bndes.gov.br/>.

Como analisamos anteriormente, a maior parte dos entrevistados que se enquadravam no grupo de industriais de médio capital queixavam-se de encontrar dificuldades em obter empréstimos com o banco de fomento, e tinham como principais rivais o grande capital interno, mais especificamente, “as campeãs nacionais”. Para esses entrevistados, as campeãs nacionais obtinham “benesses” do BNDES, enquanto o médio tinha o caminho dificultado. Mesmo nas situações em que eram intermediados por um banco comercial ou de investimento, eles queixavam-se de serem tolhidos por inúmeros protocolos e procedimentos que ou atrasavam ou impediam a efetivação da operação. Não há nenhum indicador que mede o tempo médio de análise de uma operação do banco, ao ponto de averiguar se a relatada “morosidade” se limitava aos industriais de pequeno e médio capital ou não. Porém, não podemos deixar de considerar que as queixas dos entrevistados encontravam o seu contraponto nos noticiários e nas inúmeras suspeitas que a grande imprensa colocava sobre os financiamentos do banco. Esse ponto é tão verdadeiro que o banco foi um dos palcos da crise política. Na realidade, o BNDES durante a crise do governo Dilma foi tanto arma quanto alvo na luta política e ideológica contra o

9%

22%

-14%

-26%

-18%

-3%

21%

-11%

-34%

21%

2012 2013 2014 2015 2016

Brasil São Paulo

(17)

neodesenvolvimentismo e os efeitos dessa luta foi o “enxugamento” do banco após o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República.

Após o afastamento de Dilma Rousseff, o desembolso do BNDES apresentou queda substancial. Entre 2014, último do primeiro mandato de Dilma Rousseff, e 2016, ano que concretizou o processo de cassação de Dilma e iniciou o governo Temer, o desembolso (nominal) total anual do BNDES recuou aproximadamente R$ 100 bilhões.

Entre 2016 e 2018, o desembolso do banco passou de R$ 88,3 bilhões para R$ 69,3 bilhões.

Considerando valores constantes de dezembro de 2020, o desembolso do BNDES do último ano de governo Temer foi o menor desde 2000.

Considerações Finais

A análise do posicionamento político de diferentes grupos, associações e federações industriais evidenciou que não houve uma posição única da burguesia industrial interna na crise política do impeachment de Dilma Rousseff. A FIESP, apesar de se colocar na dianteira do processo político e se apresentar como porta-voz de uma indústria que já não aceitava mais conviver com duas crises que vinham se avolumando desde 2014, não respondeu por toda a classe, ou mais precisamente, por toda a fração de classe na conjuntura específica da crise. Nossa investigação mostrou que:

(i) Na conjuntura da crise política, a burguesia industrial interna se dividiu em pelo menos três posições distintas: a primeira foi de apoio ativo ao processo de impeachment desde o início. O presidente da FIESP, Paulo Skaf, mobilizou toda a estrutura da instituição em favor do golpe do impeachment. A segunda posição foi “neutralidade institucional” não assumindo nenhuma posição durante a luta política. No entanto, à medida que o governo perdia o controle sobre o Congresso Nacional e já não dispunha de poder político para frear a crise, algumas instituições que optaram por uma posição “neutra” penderam em favor da frente política deposicionista. Já a terceira posição foi tomada por aqueles que se colocaram contra o impeachment, formada principalmente pela grande burguesia industrial interna. Esse grupo manifestou apoio ao governo e buscou contribuir com a reunificação da burguesia interna contra o golpe.

(18)

Porém, apesar de se posicionar contra o processo de impedimento do governo de Dilma Rousseff, não saiu publicamente em defesa do governo em decorrência da conjuntura política do período ou por adotarem uma posição institucional neutra;

(ii) As razões que levaram as bases da FIESP e do CIESP a apoiarem o processo de impeachment da presidente da República Dilma Rousseff, variou de acordo com o setor industrial e o porte de capital e a influência política do sindicato. Conforme apuramos, nos casos em que os entrevistados eram donos ou presidentes de empresas de grande porte; integrantes de uma grande cadeia produtiva; presidentes de sindicatos; ou possuíam cargos de diretoria na FIESP ou no CIESP o fator determinante ao apoio do impeachment foi o político. Em contrapartida, para as pequenas e médias indústrias, a crise econômica foi o fator determinante ao apoio à campanha pela deposição da presidente Dilma.

O presidente da FIESP, Paulo Skaf, que desde agosto de 2015 já articulava a formação de uma aliança no interior da burguesia interna contra o governo Dilma Rousseff, teve apoio maciço do médio capital paulista. Para sermos mais específico, Skaf se apoiou na insatisfação sobretudo do médio capital industrial que lutava para sobreviver às duas crises que o país enfrentava no período, econômica e política. A piora no cenário econômico, as sucessivas denúncias contra o governo e seus aliados diretos, o cerco da Operação Lava Jato ao governo e à grande burguesia interna aumentaram ainda mais a insatisfação do médio capital contra o governo, de modo que eles aceitaram de imediato a convocação de Skaf em favor da aliança deposicionista. O médio capital industrial apoiou a cruzada da FIESP contra o governo na esperança de que com o impeachment e a troca de governo a situação econômico-financeira da indústria doméstica fosse melhorar.

Referências bibliográficas

ALEGRETTI, Laís. Temer diz que situação do país é “grave” e faz apelo por união.

[S. l.], 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/08/temer-diz-que- situacao-do-pais-e-grave-e-faz-apelo-por-uniao.html. Acesso em: 15 jan. 2021.

(19)

ALMEIDA, Rodrigo de. À sombra do poder: bastidores da crise que derrubou Dilma Rousseff. São Paulo: Leya, 2016.

ARAGÃO, Alexandre. Diretor critica viés pró-impeachment da Fiesp. Folha de S. Paulo,

São Paulo, 19 dez. 2015. Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/12/1721038-diretor-critica-vies-pro- impeachment-da-fiesp.shtml. Acesso em: 13 dez. 2020.

BASTOS, Pedro P. Z. Ascensão e crise do governo Dilma Rousseff e o golpe de 2016:

poder estrutural, contradição e ideologia. Revista de Economia Contemporânea, [s. l.], n. Especial, p. 1–63, 2017a.

BASTOS, Pedro P. Z. Que horas ela volta? – Economia política e política econômica de Lula e Dilma. In: MARINGONI, Gilberto; MEDEIROS, Juliano (org.). Cinco mil dias: o Brasil na era do lulismo. São Paulo: Boitempo/Fundação Lauro de Campos, 2017b. p.

77–90.

BOITO JR., Armando. Governos Lula: a nova burguesia nacional no poder. In: BOITO JR., Armando; GALVÃO, Andréia (org.). Política e classes sociais no Brasil dos anos 2000. São Paulo: Alameda, 2012.

BOITO JR., Armando. Os atores e o enredo da crise política. In: SINGER, André et al.

(org.). Por que gritamos golpe? : para entender o impeachment e a crise política no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2016. p. 23–29.

BOITO JR., Armando. Política neoliberal e sindicalismo no Brasil. São Paulo: Xamã, 1999.

BOITO JR., Armando. Reforma e crise política no Brasil: os conflitos de classe nos governos do PT. Campinas, SP: Editora da Unicamp / São Paulo, SP: Editora da Unesp, 2018.

BRAGA, Sérgio; MONTROSE, Edilson. Do questionamento da política econômica do governo Dilma à campanha pelo “Impeachment Já”: a ação política das frações empresariais brasileiras nas mídias sociais na conjuntura recente. In: NAPOLITANO, Carlo José; VICENTE, Maximiliano Martín; SOARES, Murilo César (org.).

Comunicação e cidadania política. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2017a. p. 127–160.

BRAGA, Sérgio; MONTROSE, Edilson. Do questionamento da política econômica do governo Dilma à campanha pelo “Impeachment Já”: a ação política das frações empresariais brasileiras nas mídias sociais na conjuntura recente. In: NAPOLITANO, Carlo José; VICENTE, Maximiliano Martín; SOARES, Murilo César (org.).

Comunicação e cidadania política. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2017b. p. 127–160.

CARNEIRO, Ricardo. Navegando a contravento: Uma reflexão sobre o experimento desenvolvimentista do governo Dilma Rousseff. In: CARNEIRO, Ricardo; BALTAR, Paulo; SARTI, Fernando (org.). Para além da política econômica. São Paulo: Editora Unesp Digital, 2018. p. 11–54.

(20)

CARVALHO, Laura. Valsa brasileira: do boom ao caos econômico. São Paulo: Todavia, 2018.

CIESP. Centro das Indústrias do Estado de São Paulo: Estatuto Social. 15 maio 2018.

Disponível em: http://www.ciesp.com.br/wp-content/uploads/2018/05/Estatuto-CIESP- 2018.pdf. Acesso em: 11 mar. 2018.

DEL PASSO, Octávio Fonseca. Indústria da construção civil e bloco no poder (2011- 2016). REVES - Revista Relações Sociais, [s. l.], v. 2, n. 3, p. 433–446, 2019.

DINIZ, Eliz; BOSCHI, Renato R. A difícil rota do desenvolvimento: Empresários e a agenda pós-neoliberal. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.

FERNANDES, Talita. Líder do PSDB se encontra com Bicudo para novo pedido de impeachment. Época, São Paulo, 13 out. 2015. Disponível em:

https://epoca.globo.com/tempo/expresso/noticia/2015/10/lider-do-psdb-se-encontra-com- bicudo-para-novo-pedido-de-impeachment.html. Acesso em: 13 out. 2020.

FIESP. Federação das Indústrias do Estado de São Paulo: Estatuto. 21 maio 2018.

Disponível em: http://www.fiesp.com.br/. Acesso em: 11 mar. 2018.

FIESP. Processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff. Departamento de Pesquisa e estudos econômicos - DEPECON/FIESP, [s. l.], n. Especial, Rumos da Indústria Paulista, 2015. Disponível em: http://www.ciesp.com.br/wp- content/uploads/2015/12/Resultados_RUMOS_Impeachment.pdf. Acesso em: 29 set.

2019.

FIESP; FIRJAN. Nota oficial – FIRJAN e FIESP em prol da governabilidade do país.

[S. l.], 2015. Disponível em: https://www.fiesp.com.br/noticias/nota-oficial-firjan-e-fiesp- em-prol-da-governabilidade-do-pais/. Acesso em: 7 abr. 2021.

FUNDAÇÃO ULYSSES GUIMARÃES. Uma ponte para o futuro. Brasília: Fundação Ulysses Guimarães/PMDB, 2015. E-book. Disponível em:

https://www.fundacaoulysses.org.br/wp-content/uploads/2016/11/UMA-PONTE-PARA- O-FUTURO.pdf. Acesso em: 20 abr. 2021.

IANONI, Marcus. Estado e coalizões no Brasil (2003-2016): social- desenvolvimentismo e neoliberalismo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2018.

JIMÉNEZ, Carla. Empresários pedem “impeachment já” em dia de alta recorde da Bolsa.

El país, [s. l.], n. Online, 2016. Disponível em:

https://brasil.elpais.com/brasil/2016/03/18/politica/1458258396_570381.html. Acesso em: 20 jun. 2017.

LIMA, Daniela; DIAS, Marina. Aécio divulga vídeo e se coloca como líder da oposição - Poder - Folha de S.Paulo. Folha de S. Paulo, São Paulo, 30 out. 2014. Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/193223-aecio-divulga-video-e-se-coloca-como- lider-da-oposicao.shtml. Acesso em: 14 dez. 2020.

(21)

LIMONGI, Fernando. Impedindo Dilma. Novos estudos Cebrap, [s. l.], v. Especial, Cebrap, p. 5–13, 2017.

MACHADO, Tainara; GIFFONI, Carlos; WATANABE, Marta. Governo já adotou pelo menos 16 medidas setoriais. Valor Econômico, São Paulo, 9 mar. 2012. Disponível em:

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2012/03/09/governo-ja-adotou-pelo-menos-16- medidas-setoriais.ghtml. Acesso em: 21 nov. 2019.

MACIEL, Alice. Como as federações empresariais se articularam pelo impeachment.

Pública, [s. l.], n. Online, 2016. Disponível em: https://apublica.org/2016/08/como-as- federacoes-empresariais-se-articularam-pelo-impeachment/. Acesso em: 20 jul. 2017.

MARTUSCELLI, Danilo. Crises políticas e capitalismo neoliberal no Brasil. Curitiba:

CRV, 2015.

OLIVEIRA, Guilherme. Aécio Neves promete oposição “incansável e intransigente”.

[S. l.], 2014. Disponível em:

https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2014/11/05/aecio-neves-promete- oposicao-201cincansavel-e-intransigente201d. Acesso em: 14 dez. 2020.

PASSARINHO, Nathalia. PSDB pede a TSE cassação de Dilma e posse de Aécio como

presidente. [S. l.], 2014. Disponível em:

http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/12/psdb-pede-tse-cassacao-de-dilma-e-posse- de-aecio-como-presidente.html. Acesso em: 14 dez. 2020.

PAULANI, Leda. Uma ponte para o abismo. In: SINGER, André et al. (org.). Por que gritamos golpe? : para entender o impeachment e a crise política no Brasil. São Paulo:

Boitempo, 2016. p. 69–76.

PORTAL G1. Fiesp declara apoio ao processo de impeachment da presidente Dilma.

[S. l.], 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/hora1/noticia/2015/12/fiesp-declara- apoio-ao-processo-de-impeachment-da-presidente-dilma.html. Acesso em: 15 jan. 2021.

QUEIROZ, Felipe. A burguesia brasileira na crise política do impeachment de Dilma Rousseff: um balanço da literatura. In: SILVESTRE, Luciana P. F. (org.). As ciências humanas e sociais aplicadas e a cometência no desenvolvimetn humano. Ponta Grossa, PR.: Atena Editora, 2019. v. 1.

QUEIROZ, Felipe. Crise política no governo Dilma Rousseff: uma análise a partir do conflito de classes. CSOnline – Revista Eletrônica de Ciências Sociais, [s. l.], v. 27, 2018.

QUEIROZ, Felipe. O rasgar do véu: as manifestações de junho de 2013 e as contradições históricas. 2016. 208 f. Dissertação de mestrado - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP, São Paulo, 2016. Disponível em:

https://tede2.pucsp.br/handle/handle/19352. Acesso em: 30 set. 2016.

RAMALHO, Renan; MATOSO, Filipe. Não haverá “terceiro turno”, diz Toffoli; para Dilma, “eleição não é guerra”. [S. l.], 2014. Disponível em:

(22)

http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/12/nao-havera-terceiro-turno-diz-toffoli-para- dilma-eleicao-nao-e-guerra.html. Acesso em: 14 dez. 2020.

ROLLI, Claudia; AGOSTINI, Renata. Pontapé no impeachment divide empresários e sindicalistas. Folha de S. Paulo, São Paulo, 2 dez. 2015. Disponível em:

`https://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/12/1714248-pontape-no-impeachment- divide-empresarios-e-sindicalistas.shtml. Acesso em: 11 dez. 2020.

SAAD-FILHO, Alfredo; MORAIS, Lécio. Brasil: neoliberalismo versus democracia.

São Paulo: Boitempo, 2018.

SAES, Décio. Estado capitalista e classe dominante. Crítica Marxista, [s. l.], v. 1, n. 12, p. 156–164, 2001.

SINGER, André. Cutucando onças com varas curtas: O ensaio desenvolvimentista no primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2014). Novos estudos Cebrap, [s. l.], v. 102, Cebrap, p. 39–67, 2015.

SINGER, André. O lulismo em crise: Um quebra-cabeça do período Dilma (2011- 2016). São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

VALLE, André Flores Penha. Divisão e Reunificação do Capital Financeiro: do Impeachment ao Governo Temer. 2019. 302 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas, SP, 2019.

Referências

Documentos relacionados

segunda guerra, que ficou marcada pela exigência de um posicionamento político e social diante de dois contextos: a permanência de regimes totalitários, no mundo, e o

b) Execução dos serviços em período a ser combinado com equipe técnica. c) Orientação para alocação do equipamento no local de instalação. d) Serviço de ligação das

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

patula inibe a multiplicação do DENV-3 nas células, (Figura 4), além disso, nas análises microscópicas não foi observado efeito citotóxico do extrato sobre as

Em função de leis ambientais mais restritivas e da busca por máquinas mais eficientes, a indústria global de fluidos frigoríficos tem pesquisado e desenvolvido novas soluções para

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

conseqüências de suas atitudes , jogando com a indefinição sempre.. acontecimentos são indefinidos apenas para o lado masculino pois elas se mantém absolutamente cientes de

Portanto, mesmo percebendo a presença da música em diferentes situações no ambiente de educação infantil, percebe-se que as atividades relacionadas ao fazer musical ainda são