CURRÍCULOS, PROPOSTAS E PARÂMETROS
CURRICULARES
Profª Drª Virgínia Cardia Cardoso UFABC – CMCC
Licenciatura em Matemática
1. O QUE É CURRÍCULO
É um plano institucional, pedagógico,
para sistematizar a aprendizagem dos alunos. Um currículo deve levar em
conta:
Valores do ensino – objetivos: por que e para que ensinar;
Metodologia, implicando no material a ser utilizado: como ensinar;
Conteúdos (programas): o que
ensinar.
2. O CURRÍCULO DO ENSINO TRADICIONAL
Baseado numa metodologia de transmissão de informações;
Conhecimento = informações acumuladas e transmitidas;
Aprender = adquirir informações (modelo do balde);
Teoria vem antes da prática: o
conhecimento científico precede e prevalece sobre o aplicado.
As disciplinas são divididas e
compartimentadas por séries diferentes
(estrutura vertical) e por conteúdos dentro de uma mesma série (estrutura horizontal):
estrutura de grade curricular
O currículo tradicional é:
Formal – exclusivo da instituição escolar, numa linguagem própria, independente das pessoas envolvidas e do contexto sócio-cultural.
Convencional – os conteúdos, metodologias e objetivos são estabelecidos por convenção.
Rígido – não há mudanças estruturais de importância ao longo do tempo ou no contexto;
Teórico-dedutivo – parte-se de premissas teóricas e gerais da ciência para o particular concreto e aplicativo. A ênfase é dada na teoria e generalização, que não é construída, mas sim,
postulada.
Modelo de escada: um conteúdo é apoiado em outro (pré- requisito);
Modelo de corrente: um conteúdo é ligado a outro de forma unidimensional. Se um dos elos da corrente quebra, a
corrente inteira fica comprometida.
Metodologia: resolver exercícios de aplicação de fórmulas, repetitivos e mnemônicos; leitura e memorização de fatos matemáticos.
3. CURRÍCULO POR ASSUNTOS OU INTERDISCIPLINAR
Interdisciplinaridade: movimento de colaboração entre disciplinas diferentes, dentro da mesma série.
Os conteúdos em cada disciplina são desenvolvidos a partir de um problema real que atinge a comunidade envolvida, por exemplo,
eleições, saneamento básico, etc. Elaboram-se unidades de ensino / aprendizagem em torno destes assuntos.
Estrutura teórico – indutiva: seleção e ordenação de conteúdos que, a princípio, são extraídos da realidade. A partir daí, procuram-se dados, teorias e componentes científicos e técnicos que resolvam o problema.
Epistemologia subjacente: o conhecimento é uma construção
mental feita a partir do meio ambiente, com participação ativa do aluno.Aprender = interagir com o meio.
Metodologia: baseada no construtivismo e no social-construtivismo, usa-se a metodologia da resolução de problemas.
Problemas: a escolha do problema real a ser estudado implica numa seleção de conteúdos disciplinares que:
Nem todos os conteúdos serão ensinados;
Não se garante a correlação entre os conteúdos estudados dentro da mesma disciplina.
O professor tem dificuldade de organizar seus conteúdos mais complexos, sem ter ensinado os mais simples, antes.
4. CURRÍCULO EM ESPIRAL
Modelo mais favorável à educação que não pretende ser tão tradicional, nem tão revolucionária. Concilia as propostas de interdisciplinaridade e as de transmissão de conteúdo com a construção do conhecimento a partir da interação com o meio ambiente.
Epistemologia subjacente: o conhecimento é construído na interação do aluno com o meio ambiente (contexto social, cultural, econômico, político), respeitando-se os níveis de maturidade cognitiva do
sujeito.
Modelo espiral: os mesmos conteúdos são vistos em épocas
diferentes, séries diferentes, em níveis cada vez mais profundos.
Desta forma é possível trabalhar com conteúdos diferentes, interligados, modificando apenas o nível de aprofundamento.
Modelo de rede: o conhecimento é organizado como uma rede. Cada conteúdo é um nó na rede. Para ir de um nó a outro podemos
estabelecer vários caminhos diferentes.
Metodologia: o aluno deve realizar descobertas, modelos de
situações reais, problematizar as situações vividas, etc. As atividades escolares propostas devem explorar um conteúdo em diferentes
situações. A teoria e a prática se complementam. As atividades didáticas privilegiadas usam jogos, trabalho em grupo, uso de calculadoras.
Ênfase em geometria, estatística, análise combinatória.
A avaliação deve ser contínua. A recuperação deve ser paralela.
5. PROPOSTAS CURRICULARES
Guias curriculares: documentos oficiais (municipais,
estaduais ou federais) com listas de conteúdos, métodos, prazos, organizações em grade curricular. Foram editados até a década de 1980. Os guias deviam ser seguidos
obrigatoriamente, por todas as escolas e por todos os professores de uma certa jurisdição.
Propostas curriculares: a partir da década de 1980
começam a ser editadas sugestões de trabalho para o professor, sem que ele deva seguir, obrigatoriamente. O professor e a escola elaboram seu planejamento, de
acordo com os conteúdos que constam nas propostas ou nos livros didáticos adotados.
Propostas do Estado de São Paulo: CENP (1990)
Organizadas de acordo com o modelo em espiral, contém em cada série, os mesmos conteúdos do currículo tradicional, porém com distribuição diferente. É baseada na epistemologia construtivista.
6. PARÂMETROS CURRICULARES
Documentos federais para auxiliar o trabalho do professor, na reformulação da Educação Básica, proposta pela LDB/96 e
normatizada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino Fundamental e para o ensino Médio.
Autonomia da escola e do professor para elaboração do currículo (seleção de conteúdos, métodos e objetivos), sujeitando-se ao objetivo máximo da educação que é a
formação para a cidadania e para o trabalho (de modo geral e não técnico).
PCN/98, PCNEM/99.
Organização curricular a partir de competências e habilidades, dentro dos eixos de interdisciplinaridade e contextualização;
ênfase no uso da tecnologia.
A interdisciplinaridade fica a cargo do trabalho com os temas transversais: Ética, Meio Ambiente, Orientação Sexual, Pluralidade Cultural, Saúde.
Metodologia: resolução de situações-problema, modelagem, trabalhos em grupo, uso da história da matemática, uso de recursos tecnológicos (calculadora, computador, mídias, etc.), jogos.
Competências: os objetivos gerais do ensino da
matemática no nível fundamental são - levar o aluno a:
Identificar a matemática como um meio de compreender e
transformar o mundo à sua volta, perceber seu caráter de jogo intelectual (estimular seu interesse, curiosidade, espírito
investigativo, resolução de problemas);
Fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos do conhecimento e fazer relações entre eles, selecionar, organizar, produzir, interpretar e avaliar
informações relevantes.
Resolver situações-problema, avaliar estratégias e resultados, desenvolver raciocínios de dedução indução, intuição,
analogias, estimativa.
Comunicar-se matematicamente: descrever, representar e apresentar resultados, argumentar sobre conjecturas.
Estabelecer conexões entre diferentes temas matemáticos e entre diferentes campos com a matemática.
Desenvolver a auto-estima e a segurança em si próprio de construir conhecimento matemático.
Desenvolver o trabalho cooperativo: respeito pelas opiniões de outros, busca coletiva de soluções.
Blocos de conteúdos que devem ser tratados em todas as séries:
Números e Operações: números, operações,
proporcionalidade, conjuntos numéricos, reta numérica.
Espaço e Forma: geometria plana e espacial, desenho geométrico, coordenadas, mapas, plantas, croquis,
maquetes.
Grandezas e medidas: grandezas físicas e unidades de medida, uso de instrumentos de medida, cálculo de
medidas.
Tratamento da Informação: leitura, interpretação e construção de gráficos, tabelas, funções, dados estatísticos, situações com contagem e dados combinatórios.
Os conteúdos não devem ser tratados separadamente, nem de forma estanque. Devem ser organizados do concreto para o abstrato, do particular para o geral, aplicado a um problema real ou situação vivida pelo aluno.