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A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO DO AMAZONAS ACERCA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

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http://dx.doi.org/10.35265/2236-6717-215-9510

FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021.

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

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Graziella Alencar Silva ¹ Larissa Silva Sodré Almeida ² Isadora Margarete Guimarães da Silva ³ RESUMO

O presente artigo tem como objetivo identificar as medidas protetivas que o estado do Amazonas tem aplicado para a preservação e conservação das florestas presentes em seu território e analisar a responsabilidade civil do Estado frente ao desmatamento ambiental.

Para tanto, a respeito do tema, os argumentos de alguns doutrinadores especializados no direito ambiental foram ponderados, e leis, códigos e decretos foram apreciados. Finalmente, compreende-se que a proteção do meio ambiente, por conseguinte, não é uma atividade tão somente Estatal, posto que cada cidadão deve zelar e ser igualmente responsabilizado, quando permite ou possibilita o desequilíbrio ambiental. Apesar disso, o Estado do Amazonas atua incansavelmente na proteção do meio ambiente.

Palavras-chave: Responsabilidade. Dano. Estado. Preservação. Amazônia.

LA RESPONSABILIDAD CIVIL DEL ESTADO DE AMAZONAS SOBRE LAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA LA PRESERVACIÓN DEL MEDIO AMBIENTE

RESUMEN

Este artículo tiene como objetivo identificar las medidas de protección que ha aplicado el Estado de Amazonas para la preservación y conservación de los bosques presentes en su territorio y analizar la responsabilidad civil del estado frente a la deforestación ambiental. Para eso, sobre el tema, se consideraron los argumentos de algunos académicos especializados en derecho ambiental, y se consideraron leyes, códigos y decretos. Se concluye que la protección del medio ambiente, por tanto, no es solo una actividad del Estado, ya que cada ciudadano debe velar y ser igualmente responsable, cuando permite o posibilita el desequilibrio ambiental. A pesar de esto, el Estado de Amazonas trabaja incansablemente para proteger el medio ambiente.

Palabras clave: Responsabilidad. Daño. Estado. Preservación. Amazonas.

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 2 INTRODUÇÃO

O presente escrito visa dissertar a respeito da responsabilidade civil do estado do Amazonas acerca das políticas públicas para a preservação do meio ambiente, tal como analisar a viabilidade prática dessa vertente no que tange a fauna e flora dessa região. Para o desenvolvimento da pesquisa foram consultados, sites oficiais do estado, sites de ONGS com foco em preservação ambiental e doutrinas voltadas ao direito ambiental. Este trabalho tem como principal objetivo analisar e apontar os esforços que o estado do Amazonas tem empenhado na luta contra o desmatamento e degradação do seu meio ambiente natural, além de investigar quais são as responsabilidades, sejam elas diretas ou indiretas, atribuídas ao Estado.

Serão abordados o conceito de meio ambiente, a descrição de dano ambiental, princípios que regem o direito ambiental e os mecanismos utilizados pelo estado do Amazonas para a proteção, conservação e restauração de suas florestas. Ainda será pontuado a responsabilidade civil do estado do Amazonas e os seus mecanismos de proteção ambiental.

No Amazonas, 13.235 quilômetros quadrados de floresta desapareceram, entre o início de agosto de 2020 e final de julho de 2021, de acordo com pesquisas feitas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, (INPE), a ultima vez em que a floresta amazônica foi tão devastada ocorreu em 2006 quando as pesquisas apontaram 14.286 quilômetros quadrados de áreas destruídas. Além disso, o Inpe divulgou dados de que o desmatamento nas florestas amazônicas teve um aumento de 21,97% em 2021.

É inegável a responsabilidade estatal pela preservação, onde cada unidade federativa deve apresentar compromisso com a conservação e, se necessário, restauração do meio ambiente natural pertencente ao seu território. O estado do Amazonas, possui em suas grandes áreas, uma biodiversidade composta por uma flora e fauna únicas, além de ser um importante reservatório de água, abrigando o Rio

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 3 Amazonas e o Aquífero Grande Amazônia. Desta forma, buscamos identificar quais as medidas tomadas pelo Estado do Amazonas para conservar as florestas presentes em seu território, e qual a sua responsabilidade frente a tanta degradação ambiental.

Ressalta-se que a responsabilidade por danos ambientais é ampla e os infratores podem ser pessoas físicas ou jurídicas, que poderão ser responsabilizados na esfera civil, penal e administrativa. Entretanto, este artigo busca abordar somente a responsabilização na esfera cível, que se destaca como uma responsabilidade objetiva, ou seja, independente de culpa, como será bem explanado adiante.

Por fim, o propósito deste trabalho é identificar as medidas de proteção ambiental implantadas pelo estado do Amazonas, e a responsabilização civil do estado pela grande destruição ambiental que tem ocorrido nas regiões, assim como verificar se as medidas implementadas estão suprindo as necessidades da região frente a conservação e restauração ambiental.

1 - A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE

O conceito de meio ambiente foi inserido no universo jurídico através da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei federal nº 6.938/1981). Essa lei estabeleceu em seu artigo 3º, inciso I que meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

Dessa maneira, percebe-se que o conceito de meio ambiente possui diferentes conotações e pode ser analisado sob diferentes prismas, como: meio ambiente natural, que é rico em diversidade de plantas, animais, árvores, rios, mares e lagos, ou seja recursos naturais; meio ambiente de trabalho, que seria o local onde as pessoas exercem suas atividades laborais e interagem com outros; e meio ambiente cultural que é constituído pelos patrimônios culturais, que podem ser paisagísticos, históricos, turísticos entre outros.

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 4 Na Constituição Federal de 1988 o meio ambiente ganhou um capítulo próprio, destaca Antunes que a fruição do meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado foi erigida em direito fundamental (2020, p.57). A proteção do meio ambiente possui tamanha importância para o desenvolvimento saudável e ecológico da sociedade que foi inserido na CF/88, para que sua proteção estivesse sempre resguardada e preservada. Sobre o meio ambiente a Constituição Federal em seu art.

225 esclarece que:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo- se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

Entende-se com essa disposição que todos os seres vivos, dentro do território nacional do Brasil, estão inseridos em um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Além de ter direito ao meio ambiente, terceiros possuem a obrigação de preservar e recuperar caso causem algum dano.

Quando se trata de meio ambiente natural, o Brasil se destaca por possuir grandes áreas ricas em diversidade de fauna e flora. O acúmulo de riquezas disponíveis historicamente no território brasileiro contribuiu para a prática do extrativismo deliberado e em grande escala, resultando na negligência ecológica e transformando o país em referência no desmatamento e destruição ambiental, para Luís Paulo Servinskas (2018, p. 70):

O Brasil está sempre na vanguarda das discussões ambientais. Há muitos juristas e ambientalistas preocupados com o meio ambiente. Essa questão não é uma preocupação apenas de um país, mas do mundo. Não há que falar em soberania nacional quando a questão em foco é a vida ou a saúde de um povo.

Ressalta-se que a interação de tudo que em um determinado espaço possa contribuir para uma qualidade de vida em todas as suas formas é o que equivale

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 5 a meio ambiente, portanto, a sua proteção é compreendida pela defesa de todos os seres vivos e não vivos, porque a proteção é resultante dessa interação que existe entre as diversas formas (RODRIGUES, 2020, p. 61)

Portanto, a proteção do meio ambiente, bem como a sua preservação é requisito essencial para um bom desenvolvimento humano, pois o meio ambiente natural é demasiadamente necessário para que os cidadãos possam usufruir do seu direito à qualidade de vida. Desta forma, deve o homem preservar as formas de vida existentes na natureza, como flora e fauna, para que possa ele também, desfrutar de um ambiente saudável e natural.

2 - O MEIO AMBIENTE E A INTERAÇÃO DO HOMEM

Inicialmente, faz-se necessário destacar que o Direito Ambiental é um dos ramos mais recentes do Direito e um dos que têm sofrido as mais relevantes modificações, crescendo de importância na ordem jurídica internacional e nacional. A implementação em tal cenário não se faz sem dificuldades das mais variadas origens, indo desde as conceituais até as operacionais. No entanto, uma verdade pode ser proclamada, a preocupação do Direito com o meio ambiente é de extrema necessidade.

Basilarmente, tem como objetivo a garantia do direito ao meio ambiente, devendo ser observadas as interações da natureza com o homem e para fins de exploração dos mecanismos de interação, aspirando sempre as gerações futuras. Não obstante, apesar das boas interações esperadas, o homem segue com papel crucial como causador de danos ambientais através de queimadas na Amazônia, quais são, destruição da vegetação, solo improdutivo, perda de fauna e flora, agravamento do efeito estufa, agravamento do aquecimento global e problemas respiratórios.

Igualmente, Granziera discorre que o objeto de tal disciplina jurídica, é o equilíbrio entre os meios físico e biótico, suas relações e os processos ecológicos envolvidos (2014, p. 5-6).

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 6 Em consonância a isto, Élida Séguin (2006) desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, diz:

O objeto do Direito Ambiental é a harmonização da natureza, garantida pela manutenção dos ecossistemas e da sadia qualidade de vida para que o homem possa se desenvolver plenamente. Restaurar, conservar e preservar são metas a serem alcançadas através deste ramo do Direito, com a participação popular.

Diante do exposto, temos o Direito Ambiental considerado como um direito humano fundamental, autônomo, que se relaciona com todos os demais ramos do direito, e por conter matéria de ordem pública, é considerado ramo de Direito Público, constituindo um conjunto de regras jurídicas que norteiam as atividades humanas diante do meio ambiente.

Assim, afirma ainda Granziera (2014, p. 6) sobre Direito Ambiental:

O Direito Ambiental, assim, constitui o conjunto de regras jurídicas de direito público que norteiam as atividades humanas, ora impondo limites, ora induzindo comportamentos por meio de instrumentos econômicos, com o objetivo de garantir que essas atividades não causem danos ao meio ambiente, impondo-se a responsabilização e as consequentes sanções aos transgressores dessas normas.

Diante do exposto, pode-se concluir que temos o Direito Ambiental considerado como um direito humano fundamental, autônomo, que se relaciona com todos os demais ramos do direito, e por conter matéria de ordem pública, é considerado ramo de Direito Público, constituindo um conjunto de regras jurídicas que norteiam as atividades humanas diante do meio ambiente.

3 - PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO AMBIENTAL

3.1 PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO E PRECAUÇÃO

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 7 Inicialmente, faz-se necessário mencionar a estreita relação de tais princípios com a responsabilidade civil por dano ao meio ambiente, os princípios da prevenção e da precaução atuam e interferem em suas funções. Esses princípios informam a responsabilidade pelo dano ao ambiente, proporcionando a alteração da atividade que causa a degradação, conduzindo a uma responsabilidade ex ante, viabilizada pela avaliação do impacto ambiental e da concessão ou permissão para instalação do empreendimento que envolve a atividade potencialmente degradadora do ambiente, conforme o instrumento legalmente estabelecido em cada país.

Apresentam-se sob o instrumento do licenciamento ambiental. A aplicação dos princípios da precaução e da prevenção, em sede de responsabilidade civil por dano ambiental leva à sociedade o entendimento de risco e do desenvolvi- mento das formas de percepção dos mesmos de acordo com a evolução histórica, social e política, num caminho que leva desde a consideração dos danos, ao desenvolvimento dos institutos da prevenção, da responsabilidade e dos seguros como sinais fortes de uma modernidade que se funda numa análise científica da causa dos danos.

Esses princípios, embora pareçam semelhantes, guardam especificidades que os diferenciam, porém devem atuar conjuntamente e de acordo com os fins para os quais está, cada um, natural e originalmente mais vocacionado. Ambos integram a ideia de proteção ambiental de forma mais abrangente, e conferem à responsabilidade civil por dano ambiental uma configuração mais apta a compor o aparato legal de proteção ao meio ambiente. Para Derani, o princípio da precaução diz respeito aos conceitos de afastamento do perigo, segurança das gerações futuras e sustentabilidade ambiental das atividades humanas.

Faz-se necessário considerar que, por mais que sejam realizadas tentativas de prever futuros riscos que virão de uma atividade, a ciência e a compreensão humana ainda não são capazes de mensurar. O princípio da precaução foi criado por instrumentos internacionais e, após, inserido nos ordenamentos internos, com a finalidade de proteger o meio ambiente do resultado danoso que algumas atividades possam causar, sobre as quais não haja demonstrado, cientificamente, a segurança

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 8 ou a extensão dos seus efeitos sobre a saúde humana ou sobre meio ambiente.

Este princípio constitui um dos pilares do direito ambiental e sua aplicação expressa uma opção social em favor do meio ambiente como um valor tão importante que não pode sujeitar-se à espera de que existem provas de causalidade entre o dano e a atividade para que sejam tomadas medidas de precaução, sendo melhor não emitir, por exemplo, substâncias cujos malefícios e sua extensão ainda são nebulosos para a ciência, e assumir custos calculáveis de diminuição de produção ou produção de similares, que arcar com os custos incalculáveis relativos aos danos que possam ocorrer.

Diante do exposto, importante observar a definição de risco dada por Gutierrez, segundo o qual trata-se do evento que decorre de um processo de decisão social pela escolha entre o exercício ou não de determinada atividade como produtora de benefícios com os quais lucrará, supostamente, toda a sociedade e não apenas o agente.

À medida que o princípio da precaução diz respeito ao risco e ao perigo de dano ainda desconhecido pela ciência, o princípio da prevenção relaciona-se ao perigo concreto, pois supõe risos já conhecidos. Assim, com sua aplicação busca-se prevenir a ocorrência desses danos. Esse princípio atua, portanto, para inibir o resultado danoso que a atividade pode produzir, objetivando coibir o risco do dano ao meio ambiente. Esse princípio, assim como o da precaução, informa a responsabilidade civil pelo dano ambiental, proporcionando a mudança nos processos da atividade que gerou a degradação, conduzindo para uma responsabilidade ex ante, viabilizada pelos processos de licenciamento ambiental.

Os princípios da precaução e da prevenção foram incorporados à legislação brasileira e estão expressos no art. 225, § 1º, IV e V da constituição Federal de 1988 e na Lei 6.938 de 1981, art. 9º, III, IV e V. O Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA), previsto no art. 9º, III, da Lei 6.938/1981, e no art.

225§ 1º, IV, da constituição política é o principal instrumento precaucional no

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 9 país, através do qual devem ser mensurados todos os riscos que determinada atividade pode produzir, a fim de que se viabilize o licenciamento ambiental.

Este deverá impor medidas de prevenção, mitigação e compensação dos danos causados pela atividade potencialmente poluidora, que se pretende instalar.

3.2 SOLIDARIEDADE INTERGERACIONAL

Preliminarmente o princípio da solidariedade intergeracional é conhecido também como princípio do desenvolvimento sustentável e da equidade intergeracional.

Identificado há quase 50 anos no âmbito do direito internacional, no meio jurídico encontra esteio no preâmbulo e nos artigos 225 e 170 da Constituição Cidadã. Tal dignidade, importante referir, foi já expressamente reconhecida, em histórico julgamento, pelo egrégio Supremo Tribunal Federal, não dando azo mais a qualquer debate sério, concernente à sua existência, no país.

Vale ressaltar que a Declaração de Estocolmo¹ de 1972 trouxe uma noção internacionalmente conhecida de desenvolvimento sustentável ao estabelecer a importância de se proteger a “vida digna e o bem-estar” com o resguardo dos recursos naturais para as gerações presentes e futuras.

No ano de 1987, o Relatório Brundtland², formulado no âmbito da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas, mediante documento intitulado “Nosso Futuro Comum”, representou um grande passo para a definição do desenvolvimento sustentável, ao concebê-lo como aquele que atende às gerações presentes sem comprometer a possibilidade de as futuras atenderem às suas próprias necessidades.

Posteriormente, o Princípio da Declaração do Rio de 1992³ estatui: “A fim de alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção do ambiente deverá constituir-se como parte integrante do processo de desenvolvimento e não poderá ser considerada de forma isolada”.

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 10 O Relatório Brundtland, de inegável relevância, foi criticado como sendo excessivamente antropocêntrico e, atualmente, para além desta crítica, pode-se observar que seus autores pecaram gravemente, também, ao não inserir a boa governança como um dos seus alicerces.

Carece o conceito do princípio de aperfeiçoamento, uma vez que a sustentabilidade não se resume ao suprimento das necessidades materiais, mas também inclui valores imateriais, como a liberdade, a segurança, a educação, a justiça e o próprio meio ambiente saudável.

3.3 POLUIDOR PAGADOR

O princípio do poluidor-pagador tem caráter econômico, tendo em vista que imputa ao poluidor os custos relacionados a uma atividade poluente. De acordo com o art. 3°, inciso IV, da Lei 6.938/81 POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

“poluidor é a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável direta ou indiretamente por atividades causadoras de degradação ambiental”.

Ademais, Fiorillo (2012) nos traz de forma clara a conceituação de tal princípio:

As pessoas naturais ou jurídicas, sejam regidas pelo direito público ou pelo direito privado, devem pagar os custos das medidas que sejam necessárias para eliminar a contaminação ou para reduzi-la ao limite fixado pelos padrões ou medidas equivalentes que assegurem a qualidade de vida, inclusive os fixados pelo Poder Público competente.

Consiste, portanto, na obrigação do poluidor em arcar com os custos da reparação do dano causado ao meio ambiente por ele. No entanto, há ocasiões em que existem mais de uma fonte de agentes poluidores, dificultando a que os responsáveis sejam alcançados. Mas sendo estes identificados, pela lei, deverão eles pagar pelos danos ambientais causados.

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 11 Usando como parâmetro o princípio do poluidor-pagador, é estipulado quais são os custos a serem pagos, assim o responsável, suporta com os custos necessários para a prevenção de novos danos ambientais, e com o dever de corrigir, recuperar e eliminar os efeitos negativos já produzidos para o meio ambiente.

Completa o entendimento acima exposto, Paulo de Bessa Antunes, ao ensinar que:

O princípio do poluidor-pagador é, indiscutivelmente, um dos alicerces da solidariedade, pois, por seu intermédio, busca-se evitar que a apropriação individual de recursos ambientais onere toda a sociedade e que as externalidades causadas por esta apropriação sejam suportadas coletivamente. Assim, aquele que se apropria dos recursos passa a contribuir para amenizar os malefícios que a sua atividade possa causar.

O princípio do poluidor-pagador atua sob os âmbitos preventivo e repressivo.

Num primeiro momento, intenta-se obter a ocorrência de danos ecológicos, no entanto, havendo a materialização do dano, o mencionado princípio passa a pretender sua reparação.

As obrigações decorrentes das medidas preventivas tocantes às atividades poluidoras não eximem a responsabilidade do poluidor por eventuais danos ambientais, a qual deve ser integral, abrangendo as esferas cível, penal e administrativa, com o intuito de proporcionar a maior recuperação possível do dano.

Cabe destacar, ainda, que o princípio do poluidor-pagador não se confunde com o princípio do utilizador-pagador, vez que perante este não se identifica a figura do poluidor, mas tão somente do consumidor/usuário que usufrui licitamente de certo bem ambiental e paga para consumi-lo. Diante disso, “o usuário que paga, naturalmente por um direito que lhe é outorgado pelo Poder Público competente, como decorrência de um ato administrativo legal”. Logo, o citado pagamento não implica, via de regra, qualquer conotação punitiva.

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 12 4 - DANO AMBIENTAL

Ao extrair do meio ambiente os meios que acha necessários para seu sustento, o homem acaba destruindo a natureza. Além da destruição causada pela busca incessante de matérias primas para o desenvolvimento humano, os danos ambientais também são causados pela poluição, esclarece Marcelo Abelha Rodrigues (2020, p.

366) “a poluição é uma alteração adversa do meio ambiente causada por um poluidor, responsável por um desequilíbrio ecológico. Inversamente, o equilíbrio ecológico é o bem juridicamente tutelado pelo direito ambiental (art. 225 da CF/88).”

Tratando-se o equilíbrio ecológico do bem juridicamente tutelado, todo dano causado a ele, de forma direta ou indireta deverá ser protegido pela legislação, e os responsáveis deverão ser juridicamente responsabilizados. Antunes (2020, p. 481) estabelece que:

O dano é o prejuízo injusto causado a terceiro, gerando obrigação de ressarcimento. A ação ou omissão de um terceiro é essencial. Desnecessário dizer que, no conceito, somente se incluem as alterações negativas, pois não há dano se as condições forem alteradas para melhor, sem prejuízo.

Conceituando-se, especificamente, dano ambiental, seria a ação ou omissão que de alguma maneira causam prejuízos ao ambiente em geral composto por leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, onde haja vida em qualquer de suas formas (ANTUNES, 2020, p. 482).

Como o dano é uma lesão a um bem jurídico, quando há lesão ao equilíbrio ecológico (bem jurídico ambiental) estamos diante de um dano ambiental, que decorre da degradação que o homem causa há diversos componentes ambientais, e sendo assim fica ele obrigado a ressarcir os danos causados. O bem jurídico ambiental é a soma de todos os componentes que isoladamente são identificados na natureza, como as florestas, os animais, as águas e etc.

Sobre os danos causados, Antunes sustenta que “aquele que causa um dano a terceiro deve arcar com os custos do malefício causado, de forma proporcional ao sofrimento ou prejuízo imposto ao terceiro” (2020, p. 421). Soma-se a esse

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 13 entendimento o exposto no art. 927 do Código Civil que prevê que “aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.” Portanto, aquele que causa danos ambientais, tem a obrigação de repará-lo, conforme os dizeres impostos pela Lei de Crimes Ambientais (9.605/1998).

Ressalta-se que a responsabilidade pelo dano ambiental é objetiva, desta forma, não precisa estar demonstrada a culpa do autor da ação, basta que seja demonstrado a degradação ambiental que ocorreu. Demonstrado o dano ambiental, caracteriza-se a obrigação de indenizar. Conforme dispõe a Lei de Política Nacional de meio ambiente, n° 6938/1981 em seu artigo 14, §1°:

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, assinada em 1992, em seu princípio nº 13 estabelece que:

Os Estados irão desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e à indenização das vítimas de poluição e de outros danos ambientais. Os Estados irão também cooperar, de maneira expedita e mais determinada, no desenvolvimento do Direito Internacional no que se refere à responsabilidade e à indenização por efeitos adversos dos danos ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle.

No Amazonas o desmatamento ocorre constantemente, e uma das principais causas é a pecuária extensiva. A grande destruição ambiental que ocorre nesse estado favorece a extinção de várias espécies raras, que em todo o mundo só podem ser encontradas nessa região, além disso os desmatamentos poluem solos, e leitos fluviais e contribuem para que a cada ano a temperatura global aumente, colaborando

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 14 para o aumento da temperatura global anualmente. Dificilmente os causadores de danos ambientais são identificados e devidamente punidos, sendo assim, o estado fica vulnerável e inoperante diante a destruição do meio ambiente, uma vez que as medidas corretivas não podem ser aplicadas corretamente enquanto a identidade dos infratores for desconhecida.

Os danos causados ao meio ambiente podem decorrer de diversos fatores, como as queimadas, o derrubamento ilegal de arvores, a poluição, a caça ilegal a animais silvestres, entre outros. Portanto, é preciso que cada Estado esteja preparado para punir quem destruir o meio ambiente, além de preservar e conservar a natureza local, de acordo com as necessidades da biodiversidade presente.

O Estado do Amazonas, visando a preservação de suas florestas, sancionou a lei nº 605, de 24 de julho de 2001 (Código ambiental do município de Manaus), que estabelece em seu art. 1º:

Este Código, fundamentado no interesse local, regula a ação do Poder Público Municipal e sua relação com os cidadãos e instituições públicas e privadas, na preservação, conservação, defesa, melhoria, recuperação e controle do meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de natureza difusa e essencial à sadia qualidade de vida.

Seguindo-se, nesse sentido, a lógica do princípio número 13 da Declaração do Rio, que esclarece que cada Estado deve desenvolver legislação nacional, relativas à responsabilização e preservação dos seus territórios. O Código Ambiental do Município de Manaus possui diversos objetivos, que são elencados no art. 3º:

Art. 3º São objetivos da Política Municipal de Meio Ambiente:

I - compatibilizar o desenvolvimento econômico-social com a proteção da qualidade do meio ambiente e o equilíbrio ecológico;

II - articular e integrar as ações e atividades ambientais desenvolvidas pelos diferentes órgãos e entidades do Município, com aquelas dos órgãos federais e estaduais, quando necessário;

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III - articular e integrar ações e atividades ambientais intermunicipais, favorecendo consórcios e outros instrumentos de cooperação;

IV - identificar e caracterizar os ecossistemas do município, definindo as funções específicas de seus componentes, as fragilidades, as ameaças, os riscos e os usos compatíveis, consultando as instituições públicas de pesquisa da área ambiental;

V - preservar e conservar as áreas protegidas, bem como o conjunto do patrimônio ambiental local;

VI - adotar todas as medidas necessárias no sentido de garantir o cumprimento das diretrizes ambientais estabelecidas no plano Diretor da Cidade, instrumento básico da política de pleno desenvolvimento das funções sociais, de expansão urbana e de garantia do bem estar dos habitantes;

VII - estimular o desenvolvimento de pesquisas e uso adequado dos recursos ambientais, naturais ou não;

VIII - garantir a participação popular, a prestação de Informações relativas ao meio ambiente e o envolvimento da comunidade;

IX - melhorar continuamente a qualidade do meio ambiente e prevenir a poluição em todas as suas formas;

X - cuidar dos bens de interesse comum a todos: os parques municipais, as áreas de proteção ambiental, as zonas ambientais, os espaços territoriais especialmente protegidos, as áreas de preservação permanente e as demais unidades de conservação de domínio público e privado;

XI - definir as áreas prioritárias da ação municipal, relativas à questão ambiental, atendendo aos interesses da coletividade;

XII - garantir a preservação da biodiversidade do patrimônio natural do município e contribuir para o seu conhecimento científico;

XIII - propugnar pela regeneração de áreas degradadas e pela recuperação dos mananciais hídricos do município;

XIV - estabelecer normas que visam coibir a ocupação humana de áreas verdes ou de proteção ambiental, exceto quando sustentado por plano de manejo.

Destaca-se que são vários os objetivos desta lei municipal, não somente a preservação ambiental direta, mas também a estimulação ao desenvolvimento de pesquisas e uso adequado dos recursos ambientais, garantir que a população tenha informações relativas ao meio ambiente, definir quais são as áreas prioritárias da ação municipal, identificar e caracterizar os novos ecossistemas do município, entre outros.

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 16 Além desse Código Ambiental do Município de Manaus, o Amazonas possui várias outras leis e decretos direcionadas a preservação, responsabilização, conservação e restauração do meio ambiente natural. A preocupação em preservar a floresta amazônica e responsabilizar os terceiros causadores de danos ambientais é tanta que em 2017 a Procuradoria Geral do Estado do Amazonas lançou um vade mecum com legislações ambientais do estado, repleto de normas da legislação ambiental estadual, e diversas leis e decretos, como o Código Florestal, Lei de Proteção à Fauna, Lei de improbidade, Medida Provisória 2166, Lei dos Recursos hídricos, entre diversos outros decretos federais e decretos e portarias ambientais do Estado do Amazonas.

5 - RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL

No que tange à definição de responsabilidade civil, refere-se àquele que causa dano a outrem se obriga a restituir o bem danificado ao estado que estava anteriormente ao dano ou indenizar a vítima, assim, a vocação eminentemente reparadora resta evidenciada, inerente ao sistema de responsabilidade jurídica. No entanto, ao se tratar do meio ambiente, isso se dá em decorrência do intuito presente no direito ambiental sobre a conciliação da conservação ambiental e desenvolvimento econômico.

De acordo com Derani, o direito ambiental e o direito econômico possuem uma relação estreita e “não só se interceptam, como comportam, essencialmente, as mesmas preocupações, quais sejam: buscar a melhoria do bem-estar das pessoas e a estabilidade do processo produtivo. O que os distingue é uma diferença de perspectiva”.

Dessa forma, existe uma estreita relação entre o direito ambiental e as expectativas socioeconômicas, pode-se afirmar que as necessidades humanas estão cada vez mais crescentes e variadas buscando uma padronização na qualidade de vida, este um conceito carregado de subjetividade e no qual o extenso sentido está

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 17 ligado ao fato de que meio ambiente não diz respeito à natureza isolada, parada, muito pelo contrário, faz parte da vida do homem social no que se refere à produção, ao trabalho como também no alcance ao lazer.

Além disso, conclui-se que não se dirige apenas a reparar, mas também incorpora uma função tendente a tornar possível o ajuste das atividades potencialmente poluidoras, mediante sua aplicação como mecanismo de internalização dos custos da degradação no processo de produção, e seu posterior reflexo no preço final do produto, atuando como um novo instrumento econômico, utilizado para facilitar a fixação correta dos preços e gerar incentivos baseados no mercado, que contribuam para um comportamento de respeito ao meio ambiente.

Em consequência a isso, a aplicação da responsabilidade fortifica a adoção de medidas de precaução e de prevenção no desenvolvimento das atividades econômicas. Junto a isso, a responsabilidade civil ambiental funciona como mecanismo tanto de reparação quanto de ajuste de atividades que possuam um potencial de degradação do meio ambiente.

Já no que se refere à responsabilidade civil relacionada ao meio ambiente, Morato Leite nos traz que esta traz uma maior segurança jurídica ao bem tutelado pelo Estado. José Sendim, por sua vez, denota como seus principais atributos a prevenção do dano e a busca pela reintegração dos bens ambientais lesados.

Nesse sentido, além da função reparatória, a responsabilidade civil ambiental possui uma função precaucional e preventiva, de modo a possibilitar uma atuação no momento anterior a produção dos riscos ambientais, permitindo-se, então, a imposição de obrigações de fazer e de não fazer capazes de gerenciar estes riscos, internalizando-os no processo produtivo, e de compensar os futuros impactos negativos decorrentes da atividade.

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 18 5.1 - TEORIA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA

Pode-se afirmar que sem preceitos estabelecidos pela responsabilidade civil objetiva seria presente uma imensa dificuldade em comprovar a culpa do autor da degradação ambiental.

Através de tal instituto, a vontade do agente não é examinada, mas apenas a conexão entre o dano e a causalidade. Assim, a responsabilidade objetiva está fundamentada no princípio da equidade, pelo qual aufere lucros com determinada situação deve igualmente responder pelo risco e/ou pelo ônus dela resultantes. No Brasil, adotou-se, referente a seara ambiental, a teoria da responsabilidade objetiva pelo risco criado e pela reparação integral.

Ocorre quando o poluidor, que pode ser pessoa física ou jurídica, utiliza-se de instrumentos, mecanismos ou meios que avultam o perigo de dano. Anate ao exposto, aqueles que de alguma forma diminuem a qualidade do meio ambiente, responderão por isso, em decorrência da criação de risco ou perigo.

Atrelado a isso, Annelise Steigleder defende que teoria do risco integral é mais abrangente teoria do risco integral, pois ocasiona ao poluidor o dever de internalizar completamente todo e qualquer risco conexo à sua conduta, e não apenas aqueles que lhe são responsabilizados. Após isso, na teoria da equivalência das condições, toda condição que disputa para o resultado constitui causa, sendo que existente mais uma provável causa de dano, reputam-se todas como suficientes para produzi-lo.

Além disso, com um intuito de ratificar o que foi dito acima, faz-se necessário citar a prescrição de Sérgio Cavalieri Filho, que evidencia que mesmo que um dano não seja causado por uma atividade, caso seu exercício seja a ocasião para que ele ocorra, cabe a aplicação da teoria do risco integral. Neste sentido:

Um navio transportando petróleo, por exemplo, sofre avarias em decorrência de forte tempestade e faz derramamento de óleo no mar; terremoto, seguido de ondas gigantes (tsunami), que invadem usina nuclear e causam dano nuclear ambiental. Embora a causa direta desses eventos tenha sido a força maior (fenômeno irresistível da natureza), o navio transportando petróleo foi

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a ocasião, porque sem ele a tempestade não teria causado nenhum dano. De igual modo, se não existisse a usina nuclear, o terremoto e o tsunami não teriam causado um acidente nuclear. Nesses e em outros casos, a força maior, isoladamente considerada, não seria suficiente para causar o resultado lesivo, o que evidencia que o exercício da atividade de risco foi pelo menos a ocasião.

Em suma, pela teoria do risco integral todos os riscos, diretos e indiretos, que tenham relação com a atividade de risco, mesmo que não lhes sejam próprios, estarão sob a responsabilidade do agente e, portanto, quando materializados em dano gerarão o dever de indenizar.

Neste sentido, a decisão proferida pela Segunda Câmara Cível, do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas (TJAM), de relatoria do Desembargador Wellington José de Araújo, ratifica entendimento consoante o qual o novo proprietário, ainda que não tenha contribuído para a lesão ambiental, tem o ônus de promover a sua reparação:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DIREITO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PRELIMINAR DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. NÃO ACOLHIMENTO. INSURGÊNCIA CONTRA OS FUNDAMENTOS DA SENTENÇA. CONSTRUÇÃO IRREGULAR EM APP. DANO AMBIENTAL IN RE IPSA. PREEXISTÊNCIA DO DANO. FATO IRRELEVANTE. OBRIGAÇÃO PROPTER REM.

CUMULAÇÃO DE PEDIDO DE REPARAÇÃO DE ÁREA DEGRADADA COM O PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS AMBIENTAIS TECNICAMENTE IRREPARÁVEIS. POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA TEORIA DO FATO CONSUMADO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 613 DO STJ. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA. EM CONSONÂNCIA COM O PARQUET. [...]IV – O novo proprietário titulariza o ônus de manter a plenitude do ecossistema protegido, sendo responsável pela recuperação, ainda que não tenha contribuído para o desmatamento ou destruição, tendo em vista se tratar de obrigação propter rem; [...]VII – A transgressão de muitos não apaga o ilícito, nem libera todo o resto para a prática de novas infrações. Trata-se de contrassenso imoral pregar a existência de direito adquirido à ilegalidade em favor de um, ou de uns, e em prejuízo da coletividade presente e futura;

Destaca-se ainda, o entendimento trazido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em Repercussão Geral, que faz o reconhecimento do caráter imprescritível das ações civis voltadas à reparação de danos ambientais, conforme se vê:

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Ementa: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. TEMA 999. CONSTITUCIONAL. DANO AMBIENTAL. REPARAÇÃO.

IMPRESCRITIBILIDADE. 1. Debate-se nestes autos se deve prevalecer o princípio da segurança jurídica, que beneficia o autor do dano ambiental diante da inércia do Poder Público; ou se devem prevalecer os princípios constitucionais de proteção, preservação e reparação do meio ambiente, que beneficiam toda a coletividade. [...] 4. O meio ambiente deve ser considerado patrimônio comum de toda humanidade, para a garantia de sua integral proteção, especialmente em relação às gerações futuras. Todas as condutas do Poder Público estatal devem ser direcionadas no sentido de integral proteção legislativa interna e de adesão aos pactos e tratados internacionais protetivos desse direito humano fundamental de 3ª geração, para evitar prejuízo da coletividade em face de uma afetação de certo bem (recurso natural) a uma finalidade individual. 5. A reparação do dano ao meio ambiente é direito fundamental indisponível, sendo imperativo o reconhecimento da imprescritibilidade no que toca à recomposição dos danos ambientais.[...]

Afirmação de tese segundo a qual é imprescritível a pretensão de reparação civil de dano ambiental.

Com isso, vale ressaltar que o meio ambiente tem caráter imprescritível quanto a sua reparação, em decorrência da tutela constitucional a este estabelecida, e sua titularidade difusa. A consequência da degradação ambiental não onera apenas uma geração, mas também as subsequentes, ensejando a recomposição dos bens naturais tão logo que o Poder Público tenha ciência da lesão ocorrida, não podendo atrelar-se ao decurso temporal, em virtude de sua singularidade. Nesse contexto, cabe a seguir entender quais são os principais mecanismos processuais dispostos à tutela dos bens ambientais.

6 - MECANISMOS DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE

Em razão do caráter difuso dos bens ambientais, sua tutela pode ocorrer por meio da ação civil pública, ou de outros instrumentos processuais adequados tais como o mandado de segurança. AO Ministério Público da União e dos Estados, em razão da importância dos bens a serem protegidos e da difusão das vítimas, cumpre precipuamente a propositura das medidas processuais voltadas à garantia da prevenção e/ou reparação do dano ambiental coletivo.

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 21 No que tange a ação civil pública, a Lei n. 7.347/85, Lei da Ação Civil Pública representa um marco para a tutela ambiental, por disciplinar o procedimento dirigido à proteção dos direitos transindividuais, enquanto direitos de terceira dimensão.

Dessa forma, elenca como legitimidade ativa e concorrentemente para a propositura da ação em comento: (i) Ministério Público; (ii) Defensoria Pública; (iii) União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; (iv) autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; e, (v) associação que atenda aos critérios de estar constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil, e inclua, dentre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente.

Os órgãos públicos legitimados para a ação em exame podem, igualmente, celebrar compromisso de ajustamento de conduta com o causador do prejuízo ambiental, para que este repare os danos causados e/ou paralise sua conduta ou atividade lesiva - em prazo determinado - tendo o acordo eficácia de título executivo extrajudicial. Nessa linha, Hugo Mazzilli elenca as características mais expressivas do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em questão:

a) é tomado por termo por um dos órgãos públicos legitimados à ação civil pública: b) nele não há concessões de direito material por parte do órgão público legitimado. O causador do dano assume a obrigação de fazer ou não fazer (ajustamento de conduta às obrigações legais); c) dispensam-se testemunhas instrumentárias; d) dispensa-se a participação de advogados; e) não é colhido nem homologado em juízo. Se for colhido em juízo, passa a ser título executivo judicial [...]; f) o órgão público legitimado pode tomar o compromisso de qualquer causador do dano, mesmo que este seja outro ente público (só não pode tomar compromisso de si mesmo); g) é preciso prever no próprio título as cominações cabíveis, embora não necessariamente a imposição de multa; h) o título deve conter obrigação certa, quanto à sua existência, e determinada, quanto ao seu objeto, e ainda deve conter obrigação exigível. O compromisso obtido constitui título executivo extrajudicial.

Dessa forma, cabe salientar que qualquer cidadão pode utilizar-se da ação popular para, de igual modo, postular a anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio ambiental, na percepção de que “o sistema positivo brasileiro instituiu uma democracia social ambiental, concedendo ao cidadão legitimidade, a

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 22 título individual, de exercer a tutela jurisdicional ambiental”. À vista disso, um mesmo fato ambiental pode justificar pretensão difusa, coletiva, individual homogênea e individual pública ou privada, cabendo ao legitimado ativo especificar os seus contornos, quando da formulação de sua pretensão jurisdicional.

Cabe ressaltar ainda que o Estado do Amazonas, sem dúvida alguma, é para o Brasil um Estado de vanguarda, porque foi o primeiro Estado a aprovar uma lei específica sobre mudanças climáticas, inclusive com compensações para as comunidades locais. Firmando ainda mais o compromisso com a população e o meio ambiente.

Atrelado a isso, o estado do Amazonas desenvolve juntamente com a população mecanismos próprios de proteção ao meio ambiente, entre eles pode-se citar a Operação Tamoiotatá, responsável articulação de novas medidas de combate ao desmatamento e queimadas no Amazonas, que teve uma diminuição considerável no número de ocorrências, bem como o projeto Floresta Viva, que coordena as ações de comando e controle inseridas no Programa Amazonas Mais Verde e tantos outros projetos detalhados no site da Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Amazonas.

No que se refere à gestão ambiental enquanto concretizadora da tutela administrativa do meio ambiente, a PNMA atua como marco legal para todas as demais políticas públicas ambientais cabendo a cada estado concretizar ações governamentais próprias, a partir de suas Políticas Administrativas de Meio Ambiente, para consecução de uma tutela ambiental adequada, e de efetivos parâmetros de recomposição. Observa-se que a ação federal deve ser normativa e coordenadora, competindo aos demais entes, precipuamente os Estados, tarefas executivas.

Perante a Lei n. 1.463/81, foi prevista a responsabilidade exclusiva das empresas que causem prejuízos às condições ambientais na área territorial do Estado, devendo estas observar o rito estabelecido em lei para a recomposição dos bens lesados. A Lei n. 2.416/96, a seu turno, condiciona a renovação anual da licença dos empreendimentos infratores à assinatura de compromisso com imposições voltadas à reparação do ambiente afetado.

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 23 A Política Estadual de Recursos Hídricos (PERH) estabelece a reparação do dano aos bens ambientais como um dever que ultrapassa as possíveis cominações civis, penais e administrativas. Logo, a obrigação de recuperar o ambiente não se encontra vinculada à uma esfera de responsabilidade, podendo tal incumbência ser dirigida ao infrator em âmbito administrativo, enquanto mais tecnicamente apto para delinear os contornos de como deve ser realizado o retorno da qualidade ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao decorrer da presente pesquisa, pode-se perceber que o meio ambiente é um bem difuso e inerente à toda coletividade. No entanto, o Poder Público e os particulares possuem autorização para utilizar de forma arbitrária os bens ambientais, tendo em vista que demandam a tutela do Direito enquanto interesses jurídicos em si mesmos. Assim, a proteção do meio ambiente, por conseguinte, não é uma atividade tão somente Estatal, posto que cada cidadão deve zelar e ser igualmente responsabilizado, quando permite ou possibilita o desequilíbrio ambiental.

Pode-se afirmar que a percepção correta acerca da temática ambiental reivindica as balizas dos princípios do direito do ambiente, dentre os quais se evidencia o princípio do poluidor-pagador, da prevenção, da precaução e da solidariedade intergeracional, todos objetivando um fim, a diminuição do dano ambiental.

No que tange à responsabilidade civil ambiental do Estado do Amazonas, pode- se perceber e até realizar uma tentativa de mensurar sua importância nessa seara, tendo em vista que lá se concentra a maior faixa de conservação presente no Brasil.

Pode-se perceber que o Estado atua incansavelmente em parcerias com ONGS, Governo Federal, municípios e pessoas físicas, para a manutenção do meio ambiente, comprovadas por diversas ações já realizadas.

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REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021. 24 Foi possível observar, ainda, que a instituição de um Código Ambiental no âmbito do Estado do Amazonas é uma alternativa as recentes leis esparsas, no sentido reunir em um só́ documento os principais desenvolvimentos relativos à proteção do meio ambiente, as sanções administrativas aplicáveis as infrações constatadas, e à adequada condução do processo administrativo ambiental, para assim realizar maior aplicação de tais mecanismos.

Cabe ressaltar, ainda, a importância do estabelecimento de princípios para redução do impacto dos danos ambientais causados e a prevenção destes. Em especial, o princípio da precaução diz respeito aos conceitos de afastamento do perigo, segurança das gerações futuras e sustentabilidade ambiental das atividades humanas.

Dessa forma, faz-se necessário um olhar de reflexão acerca do motivo da falha da aplicação de tais projetos ou até mesmo da demora em alguns casos, isso se dá pela falta de fiscalização maciça para identificação de infratores como também da falta de conscientização.

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