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OFICINAS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE: UMA EXPERIÊNCIA DE ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

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Academic year: 2022

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OFICINAS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE: UMA EXPERIÊNCIA DE ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Maria Aparecida Vieira1 Orlene Veloso Dias2 Maisa Tavares de Souza Leite3 Cássio de Almeida Lima4 Patrícia Alves Paiva5

INTRODUÇÃO

A educação como prática de liberdade, ao contrário das antigas práticas de dominação, envolve a negação do homem abstrato, isolado, assim como a negação do mundo como uma realidade ausente dos homens. As mudanças que se propõe, por serem necessárias, são sobre as verdadeiras realidades e contextos dos seres humanos em suas vivências cotidianas. Vivências em que consciência e transformação ocorrem simultaneamente, uma vez que não há consciência desligada do mundo real (FREIRE, 2005).

A Educação em Saúde pode ser vista como um universo de processos capazes de desencadear mudanças e ajudar as pessoas que utilizam os serviços de saúde a promoverem sua qualidade de vida, além de transformá-las em sujeitos saudáveis, críticos e autônomos, com potencial para guiar os aspectos do seu cotidiano. A Educação em Saúde é uma prática social, devendo ser centrada na problematização do cotidiano, na valorização da experiência de indivíduos e grupos sociais e na leitura das diferentes realidades. Vista como prática social, a Educação em Saúde passa a ser repensada como um processo capaz de desenvolver a reflexão e a consciência crítica das pessoas sobre as causas de seus problemas de saúde, priorizando o desencadeamento do diálogo, de modo que se passe a trabalhar com as pessoas e não somente para as pessoas (ALVES;

AERTS, 2011).

Com o auge do paradigma cartesiano e da medicina científica no início do século XX, as ações de Educação em Saúde eram de responsabilidade dos trabalhadores da saúde e da educação.

1 Enfermeira. Professora Doutoranda do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES.

2 Enfermeira. Professora Doutoranda do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES.

3 Enfermeira. Professora Doutora do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES.

4 Acadêmico do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES.

5 Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES.

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Aos primeiros, competia a responsabilidade de desenvolver os conhecimentos científicos para intervir nas patologias e tratá-las. Quanto ao educador, incumbia desenvolver ações capazes de transformar comportamentos. No entanto, essa forma de trabalho não incluía os problemas cotidianos da população. Sendo assim, em 1996, o tema da X Conferência Nacional de Saúde incluiu a formulação de propostas que ressaltassem a importância de atender as necessidades sociais em saúde e mudar o vínculo entre profissionais e usuários, de maneira que houvesse um diálogo permanente incluindo todas as formas de conhecimento, em especial, com a cultura popular (ALVES; AERTS, 2011).

Nesse panorama, este relato torna-se relevante, considerando que as ações educativas podem contribuir tanto para formação dos acadêmicos, quanto para o fortalecimento da cidadania das mulheres, capacitando-as para serem agentes de difusão de uma cultura de paz. Dessa forma, este estudo objetivou relatar a experiência de docentes e acadêmicos dos Cursos de Graduação em Enfermagem, Odontologia e Serviço Social da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), durante Oficinas Educativas, com abordagem do tema Violência contra a Mulher, desenvolvidas em uma equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF), em Montes Claros – Minas Gerais – Brasil, em 2013.

RELATO DA EXPERIÊNCIA

Este estudo consiste em um Relato de Experiência acerca da execução de estratégias de Educação em Saúde, focadas na realização de Oficinas Educativas sobre o tema Violência contra a Mulher e a instalação de uma Cultura da Paz. A metodologia utilizada teve como eixo a educação popular que parte do pressuposto que os educandos são sujeitos construtores de seus conhecimentos e que essa construção parte, necessariamente, de suas vidas e da realidade em que estão inseridos (FREIRE, 1994). As Oficinas são vinculadas ao Projeto “Diagnóstico e Análise da Violência Contra a Mulher no Município de Montes Claros – MG: pesquisa-ação”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unimontes por meio do Parecer Consubstanciado nº. 185/2010.

As oficinas contaram com a efetiva participação de estudantes dos Cursos de Graduação em Enfermagem, Odontologia e Serviço Social da Unimontes e foram desenvolvidas em uma equipe da ESF, em Montes Claros – Minas Gerais – Brasil, em 2013, sob a coordenação de docentes do Departamento de Enfermagem dessa instituição. A população alvo foram mulheres cadastradas na Estratégia Saúde da Família, previamente convidadas a participar das atividades pelos agentes comunitários de saúde e universitários. Realizou-se 10 oficinas educativas no período de março a junho de 2013, que aconteciam semanalmente, com a participação de uma média de 10 mulheres de

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AS OFICINAS EDUCATIVAS NO ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

As Oficinas Educativas realizadas com as mulheres na ESF tinham como princípio utilizar uma metodologia participativa, valorizando a experiência do grupo, permitindo seu envolvimento nas discussões e na busca de soluções, através da escuta qualificada.

Foram desenvolvidas 10 oficinas, abordando o tema Violência Contra a Mulher:

1ª oficina: “A História de Maria da Penha”. Nessa oficina, foi dramatizada a história de Maria da Penha, e foram discutidas situações semelhantes na cidade de Montes Claros e como tratar e, sobretudo, enfrentar esse tema junto à família e comunidade.

2ª oficina: “Conceito e Tipos de Violência”. Abordou-se a violência doméstica e os tipos de violência por meio da dinâmica “Painel Integrado”.

3ª oficina: “História de Maria da Cruz”. Foi discutida a violência virtual por meio de um Estudo de Caso verídico, ocorrido em Montes Claros e noticiado na imprensa local. Dessa forma, o tema foi debatido na busca de estratégias de como evitar casos como o apresentado e o papel da família e amigos nesse evento.

4ª oficina: “História de Maria das Dores”. Apresentou-se um caso fictício de violência contra a mulher e os participantes dialogaram sobre os fatores determinantes da continuidade do ciclo de violência na situação apresentada.

5ª oficina: “História de Maria do Socorro”. O tema discutido foi o bullying por meio da exibição de um vídeo. Abordou-se com as mulheres participantes da oficina – “Como os pais podem perceber se o seu filho sofre este tipo de violência?” “Como podemos prevenir esse tipo de violência em nossa comunidade?”

6ª oficina: “História de Maria Defensora”. A oficina foi ministrada por uma palestrante convidada, Promotora da Vara de Famílias de Montes Claros. Discutiu-se, em uma roda de conversa, “a rede de enfrentamento da violência contra a mulher”, bem como o conhecimento das participantes acerca da atuação dos serviços de enfrentamento da violência no estímulo da postura ativa da mulher na quebra do ciclo da violência. Também se discutiu outras formas de enfrentamento da violência e como os serviços de saúde poderiam atuar no estímulo ao combate dos atos violentos contra a mulher.

7ª oficina: “História de Maria da Piedade”. Nesse encontro, apresentou-se o tema violência contra a mulher idosa. Foram exibidos vídeos ilustrativos e debateu-se como a família pode agir diante dessa situação e qual o papel da comunidade, bem como prevenir esse tipo de violência.

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8ª oficina: “Violência Contra a Criança”. Foram apresentados vídeos acerca da temática e discutidas estratégias para o enfrentamento dessa situação.

9ª oficina: “Instituição de Cultura de Paz”. Foi declamado e dramatizado um poema que instigava a cultura de paz. A seguir, foi debatido o significado de ser um agente da cultura de paz.

10ª oficina: “Cultura de Paz”. Foi apresentado um videoclipe abordando as oficinas anteriores e logo após foi realizada uma dinâmica sobre a autoestima, incentivando o autocuidado e a ampliação do cuidar de si para o cuidar do outro e para o cuidar entre si, essenciais na cultura de paz. Para concluir, todos os envolvidos nas Oficinas Educativas participaram de um delicioso “Café com Prosa”, organizado pelas mulheres participantes, profissionais do serviço, docentes e discentes da Unimontes.

DISCUSSÃO

As oficinas possibilitaram encontros dinâmicos, pois foram utilizadas metodologias participativas, nas quais os facilitadores construíram juntos com as participantes o processo educativo, oportunizando a inclusão das mulheres nas discussões e na busca de soluções para os problemas abordados.

O primeiro encontro foi o momento em que os facilitadores identificaram os principais problemas que afligiam as usuárias, percebendo que a violência é o assunto que mais desequilibra a harmonia pessoal e familiar na vida das mulheres participantes da oficina. As condições de vida influenciam a qualidade de vida das mulheres, sendo necessária intervenção voltada para suas demandas e necessidades, com enfoque na prevenção da violência e a promoção da cultura de paz.

Dessa forma, nas Oficinas Educativas de Violência contra a Mulher, buscou-se a construção do conceito de violência e essa estratégia tornou-se eficaz por ter promovido a reflexão sobre a vida, o tempo e a forma que se dedicam a si mesmas, e também, convencendo-as de que precisam cuidar mais de si para poderem cuidar melhor dos outros.

A oficina que contou com a participação da Promotora de Justiça trouxe como tema a rede de enfrentamento da violência contra a mulher. O conhecimento dessa rede possibilitou às mulheres maior conhecimento do seu papel e a oportunidade de relatarem e esclarecerem suas dúvidas, entendendo melhor a funcionalidade de cada serviço integrante da rede para estimular o conhecimento, favorecendo o empoderamento das participantes para a quebra do ciclo de violência.

Os professores, estudantes e as usuárias participantes concluíram as oficinas fomentando a consciência da necessidade de viver e disseminar a cultura de paz. Por isso, é imprescindível que haja conhecimento para que as mulheres possam prevenir ou buscar ajuda, bem como entender seus

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As oficinas possibilitaram reflexões sobre as relações intra e intergrupais que foram estabelecidas, e que propiciaram um processo transformador de visões de mundo ao possibilitar uma releitura do mesmo por meio de vivências compartilhadas pela ação das próprias participantes do grupo. A dinâmica de grupo é, portanto, o movimento que o grupo faz ao se constituir enquanto tal (AFONSO, 2006). Dessa forma, a estratégia grupal subsidiou a aproximação entre profissionais e usuárias, proporcionando a concretização de práticas baseada na promoção da saúde, na humanização e na integralidade do cuidado. Nesse sentindo, promover atividades de educação em saúde direcionadas a esse público é imprescindível para se compreender a dinâmica da violência e fortalecer as políticas públicas de prevenção e a garantia dos direitos humanos.

Para Alves e Aerts (2011), os trabalhadores devem refletir sobre as diferenças culturais e atuar na construção de uma educação humanizadora, crítico-reflexiva e voltada para a formação de um homem integral e autônomo. Dessa forma, o profissional de saúde deve superar visões e concepções lineares, parciais e alienantes. Também deve considerar a realidade contextualizada, compreender a saúde e a educação em suas múltiplas dimensões, assumindo uma postura que atenderá às necessidades de saúde da população. No cotidiano das ações de Educação em Saúde transformadora, os envolvidos almejam a promoção da saúde, a qual pode contribuir para a construção de uma sociedade civil organizada e participativa, em que se estabeleçam relações horizontais, com posteriores atitudes de inclusão social em saúde (BACKES et al., 2008).

Bordenave e Pereira (1991) esclarecem que a primeira fase do processo de mudança é o descongelamento do sistema presente de ideias, valores e hábitos. As pessoas da comunidade já se convenceram de que existe um problema e de que a solução proposta pelo grupo inovador é possível. Nesse momento, o grupo inovador deve canalizar esse descongelamento na direção de uma reestruturação. Para isso o melhor caminho é conseguir a participação ativa das pessoas na execução da solução.

Nesse contexto, vale ressaltar que o empoderamento comunitário almeja a formação crítica- cidadã das pessoas, de modo que se tornem aptas a intervir de forma autônoma na realidade social.

Para tanto, a constante reflexão crítica do profissional acerca de sua prática educativa cotidiana, a fim de torná-la aplicável ao contexto dinâmico no qual está inserido, faz-se necessária. O profissional pode levar seus clientes a intervirem nos ambientes que o cercam de forma reflexiva e transformadora (SILVA; DIAS; RODRIGUES, 2009). As classes populares têm dinâmica própria inserida no seu cotidiano e na influência deste sobre a cura das doenças. Essa dinâmica e esse cotidiano devem ser considerados pelos profissionais de saúde de tal forma que ocorra relação horizontal entre tais profissionais e a comunidade, consolidada no diálogo educativo não-

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condutivista, no fortalecimento comunitário e na busca de relações sociais mais justas (SILVA;

MENEGHIM; PEREIRA, 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização das Oficinas Educativas na Estratégia Saúde da Família, com intervenção para a promoção da saúde em mulheres, a partir do incentivo ao autocuidado e à prevenção da saúde mostrou a potencialidade das Oficinas Educativas, enquanto instrumento importante para o fortalecimento das mulheres enquanto sujeito das suas vidas e protagonistas de sua história.

Essa estratégia grupal possibilitou a aproximação entre profissionais da saúde, discentes e docentes da Unimontes e usuárias, proporcionando a concretização de práticas baseadas na humanização e na integralidade do cuidado. Aos acadêmicos, as oficinas contribuíram para a sua formação profissional, e principalmente, para o fortalecimento da cidadania entre todos os sujeitos participantes, capacitando-os para serem agentes de difusão de uma cultura de paz.

REFERÊNCIAS

AFONSO, M. L. M. Oficinas em dinâmica de grupo: um método de intervenção psicossocial.

São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.

ALVES, G. G.; AERTS, D. As práticas educativas em saúde e a Estratégia Saúde da Família.

Ciência e Saúde Coletiva: Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 319-325, jan. 2011.

BACKES, V. M. S; LINO, M. M.; PRADO, M. L.; REIBNITZ, K.; CANAVER, B. P.

Competência dos enfermeiros na atuação como educador em saúde. Revista Brasileira de Enfermagem: Brasília, v. 61, n. 6, p. 858-865, nov-dez 2008.

BORDENAVE, J. D.; PEREIRA, A. M. Estratégias de ensino-aprendizagem. 4. edição.

Petrópolis: Vozes, 1991. 312 p.

FREIRE, P. Educação e mudança. 20. edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 45. edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

SILVA, C. M. C.; MENEGHIM, M. C.; PEREIRA, A. C. Educação em saúde: uma reflexão histórica de suas práticas. Ciência e Saúde Coletiva: Rio de Janeiro, v. 15, n. 5, p. 2539-2550, 2010.

SILVA, C. P.; DIAS, M. S. A.; RODRIGUES, A. B. Práxis educativa em saúde dos enfermeiros da Estratégia Saúde da Família. Ciência e Saúde Coletiva: Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 1453- 1462, set./out. 2009.

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