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O SETOR CERAMISTA E AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA REGIÃO DE RUSSAS, NO VALE DO JAGUARIBE – CE

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O SETOR CERAMISTA E AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA REGIÃO DE RUSSAS, NO VALE DO JAGUARIBE – CE

Effenson Cayro Mendes Deodato

1

, Prof. Dr. Marcelo Tavares Gurgel

2

Resumo: O setor de cerâmica vermelha do município de Russas – CE vem experimentando nos últimos 5 anos o aparecimento de um novo modelo produtivo, mais moderno, mas automático, mas tecnológico. O emprego de estufas na secagem de telhas traz um novo aspecto para o processo produtivo que a 30 anos se consolidou e praticamente não sofreu progressos desde então. Este trabalho tem o objetivo de avaliar e comparar os níveis de tecnologia empregados no sistema produtivo da telha colonial no setor ceramista da região de Russas - CE e verificar se o investimento tecnológico poderia trazer melhores resultados sob os aspectos de capacidade produtiva e retorno financeiro para o negócio, também buscar identificar os principais problemas que podem estar prejudicando o desenvolvimento do setor e ainda criar uma literatura, que seja fonte de informações e estudos úteis ao empresariado e ao segmento produtivo, auxiliando na tomada de decisões sobre a adoção do melhor modelo de produção. O estudo foi realizado no ano de 2019, buscando informações na literatura sobre o setor estudado, assim como o emprego de um questionário com perguntas que levassem ao entendimento dos gestores e empresários sobre seus sistemas produtivos e a situação atual do mercado de telhas do tipo colonial.

Com os resultados obtidos, constatou-se que o método de secagem em estufa mostra-se superior e encontra níveis ótimos de satisfação diante dos resultados que obtém. Necessita de um alto investimento para sua implementação, entretanto foi comprovado que além das inúmeras vantagens que traz consigo, este se paga em curto ou médio prazo, mesmo com o momento atual bem desfavorável ao setor.

Palavras-chave: Telha colonial; Estufa; Flores; Tecnologia; Investimento.

1. INTRODUÇÃO

A região de Russas situada no Vale do Jaguaribe é um importante polo industrial produtor de telhas cerâmicas do tipo colonial no estado do Ceará, ela é a segunda mais produzida e utilizada em telhados nas habitações no país, segundo dados de 2017

3

, apenas não mais utilizada que a telha de fibrocimento. A telha colonial da região de Russas é regionalmente reconhecida em termos de qualidade e preço competitivo.

O polo ceramista local é o maior do estado e tem expressiva atuação na região Norte-Nordeste. Apesar de toda essa notoriedade verifica-se que a sua cadeia produtiva é constituída ainda majoritariamente por parques tecnológicos comuns e pouco inovadores, isto demonstra visivelmente como a classe empresarial desse meio é acomodada com o modelo produtivo pouco tecnológico, o que ocasiona limitações de produção e redução de custos.

Um intenso avanço tecnológico vem sendo observado em vários setores da economia mundial, com isso há um grande leque de possibilidades e oportunidades que se abrem diante de todos os processos produtivos de modo a torná-los mais eficientes, produtivos e baratos.

“A indústria está em transformação a uma velocidade nunca antes vista, impulsionada pelo desenvolvimento e utilização de tecnologias facilitadoras, cada vez mais evoluídas e ágeis” [1]. Por que então o setor ceramista não se moderniza e acompanha a tendência de modernização tecnológica de outros setores produtivos? O que poderia explicar isso?

Um eventual motivo para isso pode ser a falta de informação. Há uma grande escassez de estudos sobre o setor, o mercado local é pouco estudado e com isso não existem muitas propostas de aperfeiçoamento. O setor carece de estudos, literatura que aponte opções de modelos produtivos superiores e comparações que mostrem que benefícios eles podem trazer.

Este trabalho tem o objetivo de avaliar e comparar os níveis de tecnologia empregados no sistema produtivo

1

Autor: Discente de graduação do curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia da Universidade Federal Rural do Semi-Árido – Ufersa. e-mail: effersoncayro@gmail.com.

2

Orientador: Professor lotado no Departamento de Ciências Agronômicas e Florestais – DCAF da Universidade Federal Rural do Semi-Árido – Ufersa. e-mail: marcelo.tavares@ufersa.edu.br

3

Coberturas leves, 6 principais tipos de telhas de cerâmica para não errar no telhado. Disponível em:

https://www.coberturasleves.com.br/6-principais-tipos-de-telhas-de-ceramica-para-nao-errar-no-telhado/. Acesso em 25.06.2019.

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - UFERSA

CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Trabalho de Conclusão de Curso (2019).

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da telha colonial no setor ceramista da região de Russas - CE e verificar se o investimento tecnológico poderia trazer melhores resultados sob os aspectos de capacidade produtiva e retorno financeiro para o negócio, também buscar identificar os principais problemas que podem estar prejudicando o desenvolvimento do setor e ainda criar uma literatura, que seja fonte de informações e estudos úteis ao empresariado e ao segmento produtivo, auxiliando na tomada de decisões sobre a adoção do melhor modelo de produção.

2. DESENVOLVIMENTO 2.1 Fundamentação Teórica 2.1.1 – A matéria-prima

“Dá-se o nome de cerâmica à pedra artificial obtida por meio de moldagem, secagem e cozedura de argila ou mistura contendo argila.” [2].

Desde antes da era cristã vem-se produzindo objetos e artefatos domésticos através de processos de beneficiamento da argila. Tijolos de argila cozidos, são citados na bíblia como elementos construtivos da torre de Babel e também há indícios de usos mais antigos de tijolos em construções por outros povos antes da era cristã.

Isso ocorria onde havia abundância de argila e escassez de pedras naturais. Isso levava a necessidade de construção de tijolos como unidades fundamentais a serem usadas nas construções.

“O surgimento dos primeiros utensílios de cerâmica remonta ao período PréNeolítico, possivelmente por volta do ano 25 mil a.C., na Mesopotâmia. Já os primeiros materiais de construção de cerâmica (tijolos, telhas e blocos) foram feitos provavelmente entre 5 mil e 6 mil a.C.” [3].

Uma quantidade muito abundante de argilas pode ser encontrada na crosta terrestre, o que permite a produção de uma grande variedade de produtos e materiais cerâmicos com as mais diversas características físicas, químicas e para diferentes usos e aplicações tecnológicas.

Essas características permitem a obtenção desde produtos rústicos como telhas e tijolos até produtos bem- acabados como porcelanas. Como também produtos de boa permeabilidade como velas de filtros até produtos totalmente impermeáveis como louças sanitárias. Produtos de baixa resistência ao fogo como também materiais refratários, resistentes a várias centenas ou milhares de graus Célsius. Além de componentes que podem ir desde isolantes elétricos até os supercondutores. Assim, pode-se constatar a imensa versatilidade de uso dessa matéria prima pelo homem nas mais diversas áreas e atividades.

A argila é caracterizada granulometricamente por possuir partículas de tamanho microscópico, menores que 0,002 mm, impossíveis de serem visualizados individualmente a olho nu. O solo argiloso possui acentuadas características de plasticidade, permitindo que quando misturado com a água seja moldado na forma desejada e que é mantida após sua secagem e cozimento, adquirindo comumente acentuadas características de dureza e resistência.

O solo para fabricação de produtos cerâmicos deve conter frações determinadas de argila, silte e areia para que sejam adquiridas as propriedades desejadas no processo de conformação da matéria prima, em especial os índices de plasticidade e também que sejam evitadas a ocorrência de fenômenos indesejados como retrações e trincas no processo de vitrificação.

Geologicamente as argilas são solos residuais ou sedimentares que se formam em consequência de ação do intemperismo físico e/ou químico sobre rochas cristalinas ou sedimentares. Dada a grande quantidade de rochas que podem originar as argilas, assim como os processos de sua formação e seus graus de pureza, dispõe-se de materiais argilosos dotados das mais diversas características [2].

Da enorme quantidade de produtos que é possível se obter do beneficiamento da argila podemos destacar três grandes grupos:

 Materiais cerâmicos comuns

 Materiais cerâmicos de alta vitrificação (materiais de louça e materiais de grés cerâmico)

 Materiais de cerâmicos refratários.

Os materiais cerâmicos comuns são os mais conhecidos produtos da argila e são comumente chamados de produtos de cerâmica vermelha devido a sua cor avermelhada ou amarelada, característica proveniente do óxido de ferro contido em sua matéria prima. Seus componentes mais representativos são as telhas e os tijolos cerâmicos.

As telhas são os principais elementos de composição dos telhados. Elas têm a função de proteger a edificação

da luz do sol, da chuva, dos ventos e das demais intempéries do clima, além de garantir o conforto térmico e

acústico da residência. Embora possam ser constituídas de outras unidades construtivas fundamentais, as telhas

(3)

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cerâmicas são produtos largamente utilizados nos telhados. Isso se deve ao seu baixo custo e satisfatórios resultados que obtém diante dos propósitos a que se destina.

Existe uma imensa quantidade de tipos de telhas cerâmicas, cada uma delas com suas particularidades e detalhes construtivos que proporcionam a si e as edificações características desejáveis a todos os gostos.

Resistencia, impermeabilidade, boa inclinação, estética, são alguns exemplos disso.

As telhas cerâmicas podem ser de 2 tipos: chatas ou curvas. As telhas chatas possuem rebordos de fixação entre si e são conhecidas como do tipo marselha ou francesa. O tipo que se apresenta em forma de meia cana chama-se telhas de canal, telha colonial ou telha paulista, recebem este nome pelo formato de canal que constituem quando dispostas voltadas para cima, parecendo um canal para o escoamento da água. As telhas que ficam dispostas voltadas para baixo são chamadas capas.

As telhas coloniais, segundo tipo mais utilizado no Brasil (atrás apenas das telhas de fibrocimento), são amplamente empregadas nos mais diversos tipos de construções pelas suas características de economia, durabilidade e estética. As telhas coloniais têm dimensões especificadas pela NBR-15310 que determina 14 a 18 cm de largura de boca e 50 cm de comprimento, costumam pesar em média 1,8 Kg e são necessárias 28 telhas para 1 m² de cobertura [4].

Segundo o professor Antonio Anderson Segantini, do curso de Engenharia Civil da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo), campus de Ilha Solteira: “as unidades cerâmicas são uma boa opção para cobrir casas, devido à compactação e consequente impermeabilidade do material, além de serem mais leves se comparadas às de concreto e proporcionarem mais conforto térmico.”

4

A telha colonial é um dos tipos de telhas de cerâmica mais utilizados em projetos residenciais. Com um formato arredondado, essa é uma telha bem tradicional e presente em boa parte dos telhados. O rendimento desse tipo de telha costuma ser de 25 peças por m² e a inclinação exigida é de, pelo menos, 25%. É possível encontrá-la em diversas cores, além de opções esmaltadas.

5

Um dos grandes polos produtores de telhas coloniais no país situa-se na cidade de Russas, município cearense de 1590 Km² e 76.884 habitantes, segundo estimativas do IBGE

6

. Localizada a 165 km da capital do estado e situada às margens da BR-116. Possui a 15ª maior população e o 16º maior PIB do estado.

7

Segundo o site da própria cidade, a mesma constitui um dos maiores e mais importantes centros populacionais e econômicos da região e é conhecida como “A capital do Vale do Jaguaribe”, “Terra da Laranja Doce” e “Terra das Telhas cerâmicas”.

8

Esse último título é conferido a cidade devido a sua grande abundância de argila de excelente qualidade que constitui a matéria prima para a indústria da cerâmica vermelha.

2.1.2 – A economia e o setor ceramista

No período de 2008 a 2010 a produção de cerâmica vermelha vivia um excelente momento, a economia do país estava em níveis muito otimistas, o setor de construção civil seguia em franco desenvolvimento, inclusive o setor de construção habitacional que é um grande demandador de telhas cerâmicas como uma de suas matérias primas. Programas do governo federal alavancavam mais ainda esse mercado, estimulando a produção de habitações com financiamento facilitado para a população de baixa renda. Diante desse cenário o setor se desenvolveu bastante e o número de cerâmicas ampliou-se muito em Russas. No entanto, pouco tempo depois veio a crise econômica nacional que desestabilizou a economia, levou a construção civil a uma intensa recessão e na ponta da cadeia produtiva os danos chegaram também às empresas produtoras de cerâmica vermelha, que observando suas vendas diminuindo e os estoques avolumando-se em seus pátios foram obrigados a baixar os preços de seus produtos e buscar meios de não fecharem suas portas. Essa medida passou a ser repetida várias e várias vezes ao longo dos anos e como resultado disso, as margens de lucro caíram a patamares nunca experimentados antes por esses empresários.

“Há 10 anos atrás eu vendia telhas com preços melhores que hoje. Imaginamos que com o tempo o preço vá subir como todas as outras coisas, mas veja só, não só não aumentou como ainda diminuiu. Vive um momento

4

Informações extraídas do site: UNIVERSA, Conheça modelos de telhas e diferenças de material. Disponível em: https://universa.uol.com.br/album/2014/07/12/tipos-de-telhas.htm?mode=list&foto=1. Acesso em: 25 jun.

2019.

5

Informações extraídas do site: Coberturas leves, 6 principais tipos de telhas de cerâmica para não errar no telhado. Disponível em: https://www.coberturasleves.com.br/6-principais-tipos-de-telhas-de-ceramica-para- nao-errar-no-telhado/. Acesso em 25 jun. 2019.

6

Informações extraídas do site: IBGE, Brasil / Ceará / Russas. Disponível em:

https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ce/russas/panorama. Acesso em: 26 jul. 2019.

7

Informações extraídas do site: Governo municipal de Russas. Disponível em:

https://russas.ce.gov.br/destaque/capital-do-vale-populacao-de-russas-cresce-63-chegando-a-mais-de-74-mil- habitantes/. Acesso em: 26 jul. 2019

8

Informações extraídas do site: Governo municipal de Russas, Sobre russas. Disponível em:

https://russas.ce.gov.br/sobre-russas/. Acesso em: 25 jul. 2019.

(4)

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muito dramático o setor [ceramista]” diz um dos empresários entrevistados (informação verbal)

9

. E muitos outros relatos assim se repetem, a medida que vamos conhecendo os empresários do setor ceramista local. “Outro dia um caminhoneiro insistiu muito para que eu diminuísse o preço da telha que ele iria comprar. Mesmo despois de eu explicar todos os motivos de eu não poder fazer isso, então eu lhe disse: Então me diga algum produto que está com o mesmo preço de 2010, que não tenha subido um centavo, se você me disser eu baixo o preço” é o que conta o proprietário de uma das cerâmicas estudadas (informação verbal)

10

, complementando que o caminhoneiro levou a telha ao preço que ele estipulara no início.

Como resultado disso, depois de algum tempo algumas dessas fábricas buscaram processos de modernização para reduzir custos de produção e também obter maior independência do clima no período invernoso, quando devido às chuvas a produção costuma cair consideravelmente dependendo dos índices pluviométricos e as cerâmicas encontram dificuldades em conseguir comprar lenha devido aos acessos. Além disso a secagem da telha ao Sol naturalmente é comprometida e pode até causar prejuízo de perda total dos produtos caso a chuva ocorra repentinamente durante esta etapa do processo.

O aumento da produção, uma medida comumente tomada para uma melhor diluição de custos, acabou sendo causadora de outro empecilho de proporcional natureza, o acúmulo de grandes estoques. Fato que acabou por levar as fábricas a passarem a produzir por demanda estimada, pois esse excedente implicava em maiores custos de insumos produtivos que não poderiam ser pagos com um capital de giro já demasiadamente reduzido. Essa é uma prática que se observa hoje em todas as cerâmicas, sem exceção.

Hoje só produzimos o que imaginamos que vamos vender nos próximos 15 dias, não compensa produzir mais. Maior produção demanda maior quantidade de recursos como energia, lenha e custos com mão de obra e não temos capital de giro bastante para cobrir isso, não compensa. Além disso a telha estocada começa a acumular poeira e a perder o seu aspecto de nova o que desvaloriza seu preço. Relato do gerente de uma das cerâmicas (informação verbal)

11

.

Outra consequência disso foi o fechamento de muitas fábricas. Russas é a principal cidade de um dos maiores polos produtivos de telhas cerâmicas do país (Figura 01). Detentora do maior parque produtivo de telhas do estado, chegou a ter 120 cerâmicas em 2012, hoje esse número é estimado em 77 pela secretaria de tributos do município.

O Sebrae define APLs - Arranjos Produtivos Locais - como aglomerados de empresas localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais como: governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa [5].

Figura 1- Principais arranjos produtivos mínero-cerâmicos brasileiros [5] (Adaptada).

Tabela 1 - Os 10 maiores municípios produtores de telhas cerâmicas no Ceará em 2002 [6]

(com adaptação do autor).

Como podemos ver na Tabela 1 acima, a cidade de Russas já era responsável em 2002, portanto 17 anos atrás, por 35% da produção do estado e por 26% das empresas produtoras de peças cerâmicas, em sua absoluta maioria telhas do tipo colonial (todavia a amplitude desses valores leva em conta também tijolos cerâmicos e o conjunto

9

Informação fornecida através de entrevista, em Flores, junho de 2019.

10

Informação fornecida através de entrevista, em Flores, julho de 2019.

11

Informação fornecida através de entrevista, em Flores, maio de 2019.

(5)

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de peças menos comuns como cerâmicas refratárias e loucas cerâmicas com uma pequena contribuição) e segundo os ceramistas essas marcas consolidaram-se ainda mais durante algum tempo mas entraram em declínio nos últimos 10 anos. Como é possível observar na Figura 2, que trata dos arranjos produtivos mínero-cerâmicos do Brasil em 2009, Russas tem uma posição de destaque no país ocupando uma das 50 melhores posições.

De acordo com o relato de vários empresários nos últimos anos, principalmente nos 2 últimos, mais de 50 cerâmicas foram fechadas no município de Russas. Essa informação é consonante com os esclarecimentos dados pela secretaria de tributos do município que complementa que de acordo com seu banco de dados estima que no momento 77 delas estejam em funcionamento atualmente.

O município já chegou a possuir mais de 120 dessas empresas em 2012, segundo um ceramista

12

e ex-presidente da extinta AsteRussas, Associação que inicialmente representava os fabricantes de telhas da cidade de Russas e posteriormente se expandiu para outras cidades do Vale do Jaguaribe, mas acabou por ser descontinuada em 2017.

Esse impressionante número de empresas de um mesmo setor fechadas em uma única cidade, foi bastante encolhido devido a intensa e prolongada recessão da economia, desaceleração do setor de construção civil e declínio do programa minha casa minha vida, que por determinado tempo foi grande demandador de telhas cerâmicas para seus empreendimentos.

2.1.3 – Processo de fabricação

O processo produtivo da telha cerâmica constitui-se de fundamentalmente de 5 etapas (extração, preparação da matéria prima, conformação, secagem e processamento térmico ou cozimento). Essas etapas podem ser divididas em vários sub-processos como ilustrado no fluxograma da figura 02. É na etapa de secagem das telhas onde se aplica o processo de secagem em estufa analisado neste trabalho.

Figura 2 - Fluxograma do processo de fabricação de telhas cerâmicas [7].

2.1.4 – A secagem nos 2 modelos produtivos

O método tradicional de secagem de telhas ocorre pela disposição horizontal das peças que foram empilhadas no galpão no dia anterior, em um grande espaço aberto para secagem. Toda a produção, armazenada em pilhas de até 15 grades de madeira, são nas primeiras horas da manhã levadas para secar ao sol, onde passam algumas horas enquanto perdem umidade até estarem completamente secas e prontas para ir ao forno para a etapa de cozimento.

Em condições normais de um dia de verão, com sol forte e sem muitas nuvens, por volta de 5 horas são o bastante para a liberação de toda a umidade necessária, mas dependendo das condições do tempo pode demorar até 8 horas, ou em condições mais desfavoráveis a telha até mesmo pode ter que ser trazida de volta para o galpão e ser colocada de novo ao sol no dia seguinte para conclusão do processo.

No método produtivo de secagem de telhas em estufa não importa se o tempo está nublado e não irá secar a telha adequadamente. Não importa se está chovendo, pois onde toda a produção que está secando ao sol seria perdida no modelo tradicional de secagem, para o modelo em estufa não faz nenhuma diferença, já que a secagem ocorre dentro de um galpão coberto e as condições climáticas em volta não têm qualquer efeito sobre a produção.

Assim, mesmo no período invernoso, onde as fábricas costumam parar de produzir certos períodos pela incapacidade de pôr a telha ao sol para secar, a secagem em estufa continua produzindo normalmente, continuamente em qualquer época do ano. E tudo isso com mais uma imensa vantagem, um tempo de secagem

12

Informação fornecida através de entrevista por telefonema, Russas, julho de 2019.

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bem menor: 70 minutos em uma estufa de secagem rápida, que utiliza o calor de combustão da lenha em uma fornalha para o processo de secagem da telha que passa em uma esteira automática percorrendo seus 110 metros de extensão, e algumas horas na estufa de secagem lenta que utiliza o calor que vem dos próprios fornos através de dutos subterrâneos até o interior da estufa e é espalhado em seu interior por grandes ventiladores que se movem sobre trilhos automaticamente.

2.2 Metodologia

O distrito de Flores, localizado a 18 km de Russas, no estado do Ceará, situa-se nas coordenadas geográficas (603.620 mE e 9.440.314 mS), é o maior distrito do município e também abriga a maior quantidade de fábricas de telhas cerâmicas, com exceção da própria sede, propiciando assim um ótimo laboratório de estudo sobre o setor produtivo de cerâmica vermelha de telhas coloniais no município.

O estudo foi realizado no ano de 2019, em cerâmicas situadas em volta do distrito de Flores. Tendo como critério a localização geográfica, foram analisadas 16 cerâmicas que situam-se em um círculo imaginário de raio de 4 km, a partir do centro de Flores, e assim estudadas de modo a fornecer um perfil geral das empresas produtoras de telhas de cerâmica vermelha do tipo colonial.

Figura 3 - Disposição geográfica das cerâmicas (Autoria própria).

O método de desenvolvimento do estudo constitui-se de quatro etapas: revisão bibliográfica do assunto em questão, visitas aos locais de estudo e aplicação de questionários (Apêndice I), consolidação e processamento dos dados e por fim, análise e discussão dos resultados.

Figura 4 - Fluxograma da pesquisa (Autoria própria)

O trabalho iniciou-se com uma revisão bibliográfica, objetivando buscar mais informações e melhor compreensão da dinâmica de funcionamento do setor, o ponto de partida desta pesquisa. A revisão bibliográfica levou a uma compreensão geral de diversos aspectos inerentes a indústria ceramista e uma visão mais ampla sobre o assunto tratado. Esta se constituiu especialmente de uma etapa difícil pela escassez de informações publicadas detalhando os processos produtivos mais modernos e especialmente sobre as novas tecnologias no setor.

Na segunda etapa foram realizadas visitas in loco nas 16 fábricas (em um conjunto de 77 que compõe a quantidade de cerâmicas produtoras de telhas coloniais em funcionamento atualmente em Russas) para melhor conhecer os objetos de estudo e para a aplicação de um questionário com a finalidade de compreender o setor ceramista, os problemas que vivencia, seus pilares de sustentação e as principais adversidades que constituem o seu cotidiano e o modo de pensar que determina a adoção do seu modelo produtivo.

O tamanho da amostra foi determinado pela distribuição normal Z

13

, como mostra a equação 1 a seguir:

𝑛 = 𝑧 . 𝑝. (1 − 𝑝)

. .( )

.

(1)

13

Informações extraídas do site Netquest, Tamanho da amostra. Disponível em:

https://www.netquest.com/blog/br/blog/br/qual-e-o-tamanho-de-amostra-que-preciso. Acesso em: 25 jul. 2019.

(7)

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Onde: n = tamanho da amostra a ser estudada.

N = tamanho da população (número de cerâmicas do tipo colonial e atualmente em funcionamento).

z = valor tabelado para um índice de confiança de 80% (1,28).

p = percentual de sucesso esperado.

e = margem de erro admissível (15%).

Dessa forma a partir de uma população (N) de 77 cerâmicas produtoras de telhas cerâmicas do tipo colonial e atualmente em funcionamento, para um nível de confiança de 80% (z = 1,28) e uma margem de erro (e) de 15%, obtemos que o tamanho da amostra a ser estudada (n) é igual a 13,59. Ou seja, 14 cerâmicas.

Isto é o valor mínimo de fábricas que deveriam ser analisadas de modo fornecer um concreto resultado, com suporte para fazer uma correta análise de conjunto de cerâmicas da região. Contudo, 16 cerâmicas foram visitadas e estudadas, um número maior que o necessário, com isso adquiriu-se uma maior quantidade de informações e uma análise e síntese de resultados ainda mais sólida.

Com todas as informações obtidas as cerâmicas foram identificadas numericamente (1 a 16), segundo a ordem de visitação e foram confeccionados tabelas e gráficos no software Microsoft Excel para uma melhor análise dos resultados.

2.3 Resultados e discussão

2.3.1 – Tempo de existência das cerâmicas e seus modelos produtivos

Observou-se que o tempo médio de existência e funcionamento das cerâmicas estudadas é 17 anos (Gráfico 1).

Além disso, a metade delas já tem mais de 10 anos. As 3 cerâmicas mais recentemente criadas possuem processos produtivos mais modernos e apenas 1 cerâmica entre todas as outras, a número 3, com 25 anos de idade, funcionava com o modelo de produção tradicional e modernizou-se recentemente. As outras 3 cerâmicas mais tecnológicas já nasceram com modelos de produção mais modernos. Este fato pode indicar uma tendência de modernização do setor a partir de novas empresas que surgirem e um indicativo de que empresas já existentes possuem forte tendência a não se modernizar.

Gráfico 1 - Tempo de existência das cerâmicas (Autoria própria).

2.3.2 – Experiencia dos gestores

Os gestores informaram possuir de 2 a 25 anos de experiencia no ramo ceramista, sua média de experiência é 13 anos e a grande maioria possui mais de 10 anos no ramo. Esse resultado demostra maturidade e experiencia dos profissionais, o que os habilita a tomar decisões de maneira segura quanto ao seu processo produtivo.

2.3.3 – Mercado consumidor e preço

Quanto ao questionamento acerca do mercado consumidor, constatou-se que os empresários e gestores do setor ceramista local o classificam como muito ruim. Esta resposta foi dada unanimemente por todos os entrevistados das 16 empresas. Resultado expressivo obtido novamente duas vezes: quanto a satisfação com o preço do produto, todos novamente sem exceção relataram descontentamento e relataram profunda preocupação com o futuro de seus negócios e falta de otimismo com o cenário atual do setor. E por último em sua análise sobre o julgamento de valor que os clientes fazem sobre preço e qualidade.

2.3.4 – Preço vs qualidade

O estudo verificou-se que 100% dos entrevistados afirmam que seus clientes atualmente dão prioridade ao menor preço em detrimento à qualidade e alguns são muito enfáticos ao afirmar isso. Um dos entrevistados afirmou, que no geral, o cliente deixa de comprar uma boa telha em um depósito de materiais de construção, para comprar uma de qualidade inferior, por exemplo, se houver R$ 10,00 de diferença entre os seus preços

14

.

Segundo o renomado autor J. M. COELHO, a competitividade do mundo globalizado tem influência sobre todos os setores da economia, incluindo-se o setor de cerâmica vermelha, onde a exigência por produtos de

14

Informação fornecida através de entrevista, em Flores, maio de 2019.

3 30

25 1822

4 1620

25

7 4 8 8 30

23 30

0 5 10 15 20 25 30 35

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

ANOS

CERÂMICAS ESTUDADAS

(8)

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qualidade é um requisito essencial para a competitividade da empresa no mercado [5]. Diante dos resultados obtidos é possível perceber que ele está completamente certo em sua primeira afirmação, mas bastante equivocado quanto a segunda. Ou seja, a competitividade tem um importante papel no setor, mas o preço e não a qualidade tem maior influência nisto.

Talvez o autor nem tenha se equivocado em afirmar que a exigência por produtos com qualidade é requisito essencial para as fábricas, ele apenas não ponderou o que comumente ocorre em momentos como o que se observa atualmente. Deve-se levar em conta que ele relata isto em um momento diferente da história e da economia do país. Embora apenas há 10 anos atrás, comportamentos de mercados completamente diferentes se desenham na realidade de crise econômica que vive o Brasil em comparando-se ao momento em que o país sustentava uma economia saldável e experimentava um crescimento acentuado em diversas áreas, entre elas a construção civil.

Como é de conhecimento geral, a economia e os mercados são dispositivos que de certa maneira se autorregulam quando não há intervenção sobre eles. Então, diante dessa realidade o setor ceramista passa a deixar de priorizar a melhor qualidade em detrimento a reduções de custos que os levem a ter produtos mais baratos, mas com índices aceitáveis de qualidade.

2.3.5 – Satisfação com o modelo produtivo

Quando perguntados sobre a satisfação com seu processo produtivo, todos os 4 gestores de cerâmicas com estufa mostraram-se satisfeitos, reiterando que este é um modelo bastante superior a alternativa padrão. No modelo tradicional as opiniões ficaram bem equilibradas, 7 deles disseram-se insatisfeitos e os outros 5 satisfeitos.

Quanto a intensão de melhorar seu processo produtivo, 87% deles responderam ter intenção de melhorá-los e apontaram várias possibilidades para tal, com diferentes níveis de empregos tecnológicos ou ampliação de suas fábricas. Esse é um percentual muito significativo e fundamenta a constatação de que há um certo otimismo na categoria. No geral, essa intenção deixa bem claro que os ceramistas aqui entrevistados estão aguardando acenos de melhora do mercado para poderem voltar a produzir mais e com isso aperfeiçoarem seus meios de produção.

2.3.6 – Otimismo para investimento

Comparando-se as opiniões a respeito da possibilidade de investimento em processos produtivos mais modernos poder ser compensado, os resultados obtidos com eles foram que 69% dos gestores responderam positivamente, que acreditam nisso. Eles apontam como benefícios a menor necessidade de mão de obra, a independência do clima, a estabilidade de poder produzir o ano inteiro como principais benefícios desse processo produtivo. No entanto 31% deles, o que representa uma fração bem considerável, não acredita que vale a pena investir em outro método de produção. Essa opinião é justificada pelo preço de implementação da tecnologia, pela impossibilidade de produzir a todo potencial, pelo maior controle e acompanhamento necessários ao processo e sobretudo o enorme tempo que imaginam ser necessário para que se obtenha retorno do investimento ou que esse retorno possa não ser obtido diante da presente realidade, fator justificado pelo baixo preço dos produtos e a falta de indicativos de melhoras para o setor.

2.3.7 – Financiamento

Em momentos difíceis muitas vezes as oportunidades são perdidas por falta de dinheiro para aproveitá-las.

Imaginando que a falta de financiamento possa ser um entrave para a modernização dos parques cerâmicos, seus gestores foram questionados se eles teriam a possibilidade de fazer financiamentos para aperfeiçoar seus negócios.

Como resultado obteve-se que 62% deles consideram que o financiamento poderia ser realizado, 25% acham que essa não é uma possibilidade real e 13% não souberam responder.

Assim, percebe-se que a grande maioria considera possuir acessibilidade a formas de financiamento, porém isto não quer dizer que eles desejem isso, uma vez que endividamento e juros altos não são atrativos aos empresários que estão em uma fase bem difícil de seus negócios. No entanto, com esse dado se evidencia que o problema que explicaria a falta de modernização no processo produtivo na maioria das cerâmicas não é o financiamento, uma vez que a maioria delas considera esta uma opção acessível.

2.3.8 – A possibilidade de deixar o ramo ceramista

Com relação ao questionamento de deixarem o ramo ceramista e procurar outro meio de vida, apenas 3 dos 16 afirmaram que não pensam sobre isso, e que ainda acreditam na recuperação do setor, como houve na década passada. No entanto a maioria deles, 81%, afirmam que já pensaram ou pensam sobre isso com frequência.

Nenhum deles diz querer fazer isso de fato, mas sentem-se sem opções e lhes falta perspectiva de melhora no setor.

Houve comentários como: “Penso em deixar a cerâmica todos os dias, mas não posso fazer isso”. E ainda: “Investi um bom dinheiro aqui, e hoje tenho dinheiro para receber e dívidas a pagar, então simplesmente não posso fazer isso”

15

. Existe ainda, da parte de alguns deles, a preocupação com seus funcionários que perderiam seus empregos.

2.3.9 – Benefícios do processo em estufa

Foi possível verificar que vários são os benefícios do sistema de secagem em estufa e de um maior emprego

15

Informação fornecida através de entrevista, em Flores, julho de 2019.

(9)

___________________________________________________________________________

de tecnologia na linha produtiva. Todos eles com seus impactos na capacidade de ampliação e na estabilidade da produção independentemente do clima ou da estação do ano. Mas sobretudo, o maior benefício apontado pela ampliação do uso tecnológico foi a redução de funcionários. Observou-se que 63% apontaram essa como a mais importante vantagem, enquanto 37% dividiram-se entre os outros benefícios. Isso se deve, segundo os entrevistados, principalmente pela redução do custo da folha de pagamentos, que em geral constitui um dos maiores custos de produção e também pela redução dos problemas relacionados com o capital humano: faltas ao trabalho por motivos de doença ou outros, problemas trabalhistas e dependência de aptidão e condições de trabalho de cada pessoa, além de menos defeitos estruturais no produto, pois na estufa pode-se dispensar vários postos de trabalho onde as pessoas manuseiam as telhas e com isso eventualmente causam problemas de torção ou flexão das peças. O que não ocorre de secagem em estufa, onde uma sequência de esteiras levam automaticamente a telha desde a extrusora até o ponto de coleta da telha já seca, com baixo índice de umidade e pronta para ir para o forno.

2.3.10 – Análise quantitativa da produção

Uma grande surpresa ao realizar o estudo, foi verificar que o modelo de produção em estufa não é quantitativamente muito superior ao modelo tradicional avaliando-se os índices de produção atuais. Verificou-se por exemplo, que a cerâmica 11 (Tabela 2), que possui os maiores valores de produção diária e mensal, obtém esses resultados devido ao seu funcionamento em 2 turnos. Evidentemente isto implica em uma grande vantagem, poder produzir e secar as telhas no período noturno, sem a dependência do sol e do clima, o que sem dúvida constitui uma limitação para as fábricas tradicionais. Mas como se pode verificar, as médias produtivas não são muito diferentes quantitativamente.

O recorde de produção vem da cerâmica 11, com 1,5 milhão de telhas/mês, contudo considerando a sua produção em um só turno, embora 750.000 seja um número bem expressivo, ele chega a ser menor que as cerâmicas 12 e 15 que produzem 800 e 900 mil peças/mês respectivamente. Em todo caso a média produtiva das fabricas com estufa é 674.000 peças/turno/mês enquanto para as cerâmicas tradicionais esse número é 507.000.

É importante salientar que este é um indicador particularmente instável pois, como já foi dito, todas as empresas estão produzindo quantidades aquém de sua capacidade devido a retração do mercado, por isso os resultados não são de fato os máximos potenciais produtivos individuais. Isto ocorre já que as empresas estão produzindo apenas o que conseguem vender e não a real quantidade que de fato poderiam produzir.

Pelos resultados aqui apresentados na Tabela 2, observa-se a diferença no número de funcionários em uma empresa com estufa e uma tradicional. Enquanto a média da cerâmica tradicional é de 39 funcionários, no modelo em estufa a média é reduzida para apenas 26 empregados. E ao considerar a metade da mão de obra da cerâmica 11 para igualar os parâmetros de comparação, esse número reduz-se para 21funcionários. Ou seja, é possível afirmar que em uma cerâmica com modelo de produção em estufa necessita de aproximadamente apenas a metade de trabalhadores que compõe o quadro de funcionários da cerâmica tradicional.

Tabela 2 – Quantitativos de produção e número de funcionários (Autoria própria).

Nota: * indica produção em dois turnos.

2.3.11 – Potencial produtivo não utilizado

Uma infeliz constatação a que se pode chegar diante das informações obtidas com este estudo é que em nenhuma das empresas pesquisadas está utilizando todo o seu potencial produtivo. Mesmo os parques produtivos tradicionais estão com níveis bem abaixo do que poderiam produzir e chegam a dramáticos casos como das cerâmicas 14 e 15 que produzem apenas a metade do que poderiam (Gráfico 3). É uma lamentável condição para empresas de qualquer ramo e leva inevitavelmente a difíceis condições de diluição de custos fixos, manutenção de capital de giro, gerenciamento de pagamentos e maiores problemas de governança.

O grupo de cerâmicas estudado possui em média um potencial produtivo não utilizado de 44%. Analisando-se

CERÂMICA MODELO PRODUTIVO

NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS

PRODUCÃO DIÁRIA MÉDIA

PRODUÇÃO MENSAL MÉDIA

11* TECNOLÓGICO 40 70.000 1.500.000

1 TECNOLÓGICO 15 36.000 650.000

6 TECNOLÓGICO 26 40.000 720.000

3 TECNOLÓGICO 23 32.000 576.000

15 TRADICIONAL 70 45.000 900.000

12 TRADICIONAL 45 40.000 800.000

7 TRADICIONAL 50 30.000 540.000

8 TRADICIONAL 40 30.000 540.000

9 TRADICIONAL 28 30.000 500.000

10 TRADICIONAL 32 20.000 480.000

4 TRADICIONAL 35 33.000 433.300

13 TRADICIONAL 42 35.000 400.000

14 TRADICIONAL 33 25.000 400.000

5 TRADICIONAL 40 34.000 380.000

2 TRADICIONAL 25 20.000 360.000

16 TRADICIONAL 27 20.000 350.000

(10)

___________________________________________________________________________

individualmente os 2 grupos, observa-se que esse índice é de 28% nas cerâmicas com estufa e exatamente 50%

nas cerâmicas tradicionais. Ou seja, apenas as 16 cerâmicas acompanhadas poderiam produzir em conjunto quase 4,2 milhões de telhas a mais todos os meses se tivessem oportunidade de utilizar todo o seu potencial produtivo atual, mesmo sem qualquer aperfeiçoamento.

Nesse contexto, é possível afirmar podemos perceber a manutenção da situação atual é bastante delicada e necessita urgentemente de uma melhora do mercado para dar algum fôlego ao setor cerâmico que a curto prazo não tem muitas alternativas senão demitir mais ainda sua mão de obra e ficar com o mínimo possível de funcionários e consigam manter a linha produtiva, esta é a opinião geral dos gestores estudados. E a longo prazo, uma boa parte considera seriamente a possibilidade de fecharem suas portas como muitos de seus vizinhos.

Os números citados são bastante impactantes, e tornam-se ainda mais se consideradas todas as empresas do município (77). Ao se adotar 44% como o potencial produtivo não utilizado de todas elas, estimando que sua produção mensal média seja a média da amostra que foi analisada (595581 telhas/mês) estima-se algo em torno de 20,2 milhões de telhas deixam de ser produzidas e comercializadas todos os meses. Esse resultado leva a pensar sobre como a indústria cerâmica está sendo subutilizada, em quantos empregos já foram perdidos, mas poderiam ser recuperados em uma eventual mudança para um bom cenário econômico. E ainda em quanta renda deixa de ser gerada para as pessoas, para as empresas, para o município e para a economia local e regional.

Gráfico 2 - Potencial produtivo não utilizado (Autoria própria).

2.3.12 – Tempo de retorno do investimento

Tendo em vista estimar em quanto tempo uma estufa poderia obter o retorno do seu investimento, ao se considerar o custo de implementação do processo produtivo, quantos milheiros de telha cada cerâmica vende por mês e a que preços médios (Tabela 3). Levando-se em conta também os valores das principais despesas do processo produtivo: argila, energia, lenha, funcionários e outros gastos ocasionais que tivessem (manutenção, aluguel de máquinas, refeições dos funcionários etc.). Vale ressaltar que foram deixados de fora os gastos com impostos, já que nem todas as empresas estão legalizadas, com isso, resolveu-se não entrar nesse mérito e assim desprezar propositalmente esse dado, para tratar todos os objetos de análise sob parâmetros equivalentes. Assim foi possível estimar (de maneira aproximada) quanto de lucro a cerâmica tinha a cada mês e em quanto tempo sua estufa traria o retorno do investimento.

Tabela 3 - Levantamento de custos e produção (Autoria própria).

Nota: Cerâmicas com percentual zero em produção de terceira categoria queimam tijolos no lastro do forno, sob a telha para evitá-la em sua produção.

Deve-se deixar claro que existem outros custos decorrentes da produção, contudo a intenção deste trabalho é encontrar a relação da produção com seus custos principais e obter resultados em sua ordem de grandeza e não seus valores exatos. É importante ter em mente que os custos de insumos podem variar de acordo com o tempo e com os fornecedores, então todos apontaram seus valores médios ou aproximados. Podemos observar na Tabela 4 que a estufa de secagem rápida custa um milhão de reais e uma de secagem lenta custa R$ 500 a 600 mil. Esse é o investimento que um empresário deve fazer para implementar esses processos produtivos em sua fábrica. De

0%

25%

50%

75%

100%

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

CERÂMICAS ESTUDADAS

Lenha Energia Funcionários Outros Total Primeira Intermediária Terceira Total Primeira Int. Terceira Primeira Int. Terceira Total Por mês: Por peça:

1 15.000 16.000 23.000 1.500 60.900 40 40 20 100 265 230 190 68.900 59.800 24.700 153.400 R$ 92.500,00 R$ 0,14 2 11.200 6.000 18.000 - 39.200 60 30 10 100 270 240 180 58.320 25.920 6.480 90.720 R$ 51.520,00 R$ 0,14 3 30.000 13.500 40.000 30.000 123.100 50 40 10 100 260 220 160 74.880 50.688 9.216 134.784 R$ 11.684,00 R$ 0,02 4 12.000 8.000 52.000 20.000 95.000 58 32 10 100 270 230 170 68.040 31.740 7.361 107.141 R$ 12.141,00 R$ 0,03 5 30.000 8.000 50.000 12.000 105.000 79 21 0 100 280 240 84.000 19.200 - 103.200 -R$ 1.800,00 -R$ 0,00 6 26.000 14.000 45.000 8.000 100.200 40 20 40 100 270 240 180 77.760 34.560 51.840 164.160 R$ 63.960,00 R$ 0,09 7 14.400 15.000 40.000 11.600 94.200 50 30 20 100 260 230 180 70.200 37.260 19.440 126.900 R$ 32.700,00 R$ 0,06 8 40.000 10.000 60.000 9.000 129.000 65 25 10 100 250 220 180 87.750 29.700 9.720 127.170 -R$ 1.830,00 -R$ 0,00 9 35.000 7.000 30.000 8.000 86.000 55 25 20 100 250 210 150 68.750 26.250 15.000 110.000 R$ 24.000,00 R$ 0,05 10 28.000 10.000 30.000 10.000 81.000 35 30 35 100 260 230 160 43.680 33.120 26.880 103.680 R$ 22.680,00 R$ 0,05 11 66.089 34.530 72.401 52.253 251.288 55 35 10 100 260 230 170 214.500 120.750 25.500 360.750 R$ 109.461,67 R$ 0,07 12 29.600 10.000 60.000 13.000 120.600 70 20 10 100 280 250 190 156.800 40.000 15.200 212.000 R$ 91.400,00 R$ 0,11 13 35.000 10.000 45.000 5.000 100.000 50 13 38 100 260 230 180 52.000 11.500 27.000 90.500 -R$ 9.500,00 -R$ 0,02 14 14.000 5.500 30.000 7.000 60.250 62 23 15 100 260 230 120 64.000 21.231 7.385 92.615 R$ 32.365,38 R$ 0,08 15 60.000 12.000 70.000 8.000 159.000 60 30 10 100 260 230 180 140.400 62.100 16.200 218.700 R$ 59.700,00 R$ 0,07 16 37.500 8.000 20.000 9.000 77.500 67 33 0 100 260 230 60.970 26.565 - 87.535 R$ 10.035,00 R$ 0,03 Média: 30.237 11.721 42.838 12.772 105.140 56 28 16 100 263 231 171 86.934 39.399 16.370 142.703 R$ 37.563,57 R$ 0,06

Preços unitários Percetual (%)

Cerâmica Custos (R$) Ganho em vendas (mês)

Produção (R$)

Lucro estimado

(11)

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acordo com o modelo matemático criado a partir dos dados levantados, estima-se que na estufa tipo secagem rápida o possa dar o retorno de seu investimento em um período médio de 10 meses. Este resultado mostra-se bastante preciso visto que o custo informado da estufa foi o mesmo para este tipo e os valores de tempo de retorno de investimento encontrados foram muito próximos.

Tabela 04 - Retorno do investimento na estufa (Autoria própria).

Nota: Todos os valores foram estimados segundo informações dos ceramistas.

Já os valores individuais encontrados para a estufa de secagem semi-contínua obtiveram uma diferença bem mais elástica. A estufa implantada na cerâmica 6 possui os melhores resultados entre todas as outras, enquanto a cerâmica número 3 obteve um valor bem destoante das demais. A princípio podemos atribuir a diferença ao preço superior de investimento. Contudo, analisando mais substancialmente os dados obtidos é possível perceber na Tabela 03 que esta cerâmica tem custos maiores com insumos de produção, comparada à cerâmica 6, e ainda que embora possua melhores percentuais de telhas de melhor qualidade o seus preços médios de mercado são inferiores aos de sua concorrente, o que implica em menor faturamento como se pode observar. Um outro fator que explica essa diferença é a quantidade de telhas produzidas (Tabela 2), como ela está vendendo quantidades inferiores, também devido a isso está obtendo um lucro menor.

A análise da Tabela 3 evidencia que a capacidade de retorno do investimento com a implantação do processo tecnológico estudado é inferior a 1 ano em 75% da amostra estudada, o que evidencia um resultado inesperadamente favorável apesar do grande montante investido. É necessário ponderar também todas as vantagens que o este processo produtivo traz consigo, como citado anteriormente neste estudo e uma última consideração que pode ser feita é que terminado esse período, o empresário passa então a ter sobre os demais concorrentes a vantagem de poder reduzir um pouco seus preços ou aumentar sua margem de lucro com os valores atuais.

3. CONCLUSÕES

 O setor ceramista está tomado por uma grande falta de otimismo, fundamentada na sequência de vários anos seguidos de dificuldade de venda e de preços baixos e estagnados de seus produtos.

 Um grande número de ceramistas de modelo tradicional mostrou-se insatisfeitos com seu sistema produtivo atual e externaram desejo de aprimorá-lo, contudo não se sentem seguros em fazer investimentos em um momento tão delicado para seus negócios.

 A estufa comprovou ser um modo de produção bem robusto, com um potencial de produzir continuamente em 2 turnos, aproveitando o potencial produtivo das instalações, utilizando quase a metade de funcionários apenas e com total independência das condições climáticas.

 O método de secagem em estufa mostra-se superior e encontra níveis ótimos de satisfação diante dos resultados que obtém. Necessita de um alto investimento para sua implementação, embora tenha-se comprovado que além das inúmeras vantagens que traz consigo, ela se paga em curto ou médio prazo, mesmo com o momento atual bem desfavorável ao setor.

 O potencial produtivo não utilizado mostrou-se estar em níveis alarmantes e grandes prejuízos são causados com isso para vários agentes do mercado, incluindo as empresas, as pessoas e o próprio estado.

Recomenda-se para trabalhos futuros sobre o tema avaliar em maiores escalas (regional ou nacional) os impactos positivos do processo produtivo de secagem de telhas cerâmicas em estufa, e também quanto se perde pelo potencial produtivo não utilizado. Além disso, em que escalas um cenário mais favorável poderia favorecer o desenvolvimento da economia local e até mesmo como isso afetaria positivamente o otimismo dos empresários do setor para um maior investimento de tecnologia em seus processos produtivos, como estipulado nesse trabalho.

4. REFERÊNCIAS

[1] COELHO, Pedro Miguel Nogueira. Rumo à Indústria 4.0. 2016. 33 f. Tese (Mestrado em Engenharia e Gestão Industrial) - Departamento de Engenharia Mecânica, Universidade de Coimbra, Coimbra, 2016. Cap. 1.

Disponível em:

https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/36992/1/Tese%20Pedro%20Coelho%20Rumo%20à%20Industria%

204.0.pdf. Acesso em: 26 abr. 2019.

Cerâmica Tipo Preço da estufa Lucro mensal Tempo de

retorno (meses)

1 Secagem rápida R$ 1.000.000,00 R$ 92.500,00 11

3 Secagem semi contínua R$ 600.000,00 R$ 11.684,00 51

6 Secagem semi contínua R$ 500.000,00 R$ 63.960,00 8

11 Secagem rápida R$ 1.000.000,00 R$ 109.461,67 9

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[2] ARAUJO, R. C. L.; RODRIGUES, E. H. V.; FREITAS, E. G. A. Materiais de construção. 1. Ed. Seropédica, RJ. Universidade Rural,2000. (coleção construções rurais, v.1. (p. 149-151).

[3] NASCIMENTO, Waldécio Sávio dos Anjos do. Avaliação dos impactos gerados por uma indústria cerâmica típica da região do Seridó/RN. 2007. 184 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Mecânica, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2007.

[4] PIANCA, João Baptista. Manual do construtor. 4. ed. Porto Alegre: Globo, 1976. 169 p. (v. 1, p. 89).

[5] COELHO, J. M. Projeto de assistência técnica ao setor de energia: perfil de argilas para cerâmica vermelha.

2009. Relatório Técnico - Ministério de Minas e Energia. Brasília, 2009. (P. 32). Disponível em:

http://www.mme.gov.br/documents/1138775/1256650/P23_RT32_Perfil_da_Argila.pdf/b6fc71dc-3c0a-4eb1- b2a5-df62b2c3bec0

[6] PESSOA, J. M. A. de P. Tecnologias e técnicas apropriadas para o desenvolvimento sustentável: o caso da indústria cerâmica de Russas-CE. 2014. Tese (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2004.

[7] CABRAL JUNIOR, M.; MOTTA, J. F. M.; ALMEIDA, A. dos S.; TANNO, L. C. Argilas para Cerâmica Vermelha. In: LUZ, A. B.; FREITAS; Lins, F. A. F. (Org.) Rochas & Minerais Industriais: usos e especificações.

Rio de Janeiro: CETEM/MCT, 2009, v. 1, p. 747-770.

5. APÊNDICES

Apêndice I – Questionário utilizado na pesquisa (Autoria própria).

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