Gestão: Tempo de resistir: nenhum direito a menos! CRESS-PR 2017-2020
Movimento
eemm
CRESS PR
Querem acabar com a Previdência Social!
É preciso resistir!
Os resultados do “pacto nacional” revelado com a divulgação da conversa entre o senador Romero Jucá (PMDB/RR) e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, se mostram cada vez mais aterradores para a classe trabalhadora. O golpe parlamentar, planejado na calada da noite e também em plena luz do dia, não foi somente contra uma presidenta legitimamente eleita ou um partido polı́tico: foi contra as trabalhadoras e os trabalhadores.
No mês de julho, o Congresso Nacional operou um verdadeiro desmonte da CLT ao aprovar a “reforma trabalhista” imposta pelo governo golpista de Michel Temer, atendendo aos interesses dos empresários. Agora, avançam sobre a Previdência Social com uma proposta de “reforma” que irá penalizar o povo brasileiro. Além disso, outras ameaças seguem em curso, como aquelas que afetam os programas sociais.
Este CRESS-PR em Movimento é um alerta às/aos Assistentes Sociais e a toda a sociedade para os impactos que a PEC 287/2016 irá trazer, caso seja aprovada, e um chamado para a luta coletiva contra mais esta ameaça aos direitos, em cada local de trabalho, nas cidades, num grande rede de resistência.
“O que vemos é uma voracidade do capital, num ambiente favorável de golpe, diante dos recursos importantes que estão vinculados à
previdência social pública, na direção de novos investimentos do setor privado em fundos de previdência. O cenário atual aponta uma tendência real de transformação de um direito, estruturado sob o princı́pio da solidariedade de classe, em mercadoria.”
Um dos argumentos utilizados para justificar a reforma da previdência em votação é o financiamento alegada- mente deficitário. Entretanto, o que está em curso é um ajuste fiscal que sacrifica as/os trabalhadoras/es e a população mais pobres, com desmonte dos sistemas públicos estatais, dos direitos conquistados socialmente, num cenário de avanço da agenda conservadora, da programática neoliberal que reduz o papel do Estado, ocupado por interesses privados em detrimento do interesse da maioria da população brasileira.
A reforma da previdência desconsidera o risco de despro- teção, especialmente à velhice, já que segundo dados do IPE relativos ao Indice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), estamos vivendo mais 9 anos na média em comparação aos últimos 20 anos. A proposta de 49 anos de contribuição para poder ter acesso à aposenta- doria integral transforma a aposentadoria numa ilusão, considerando inclusive a realidade social da população brasileira, principalmente nas regiões mais afetadas pela desigualdade. Basta analisar a expectativa de vida na maioria dos estados do paı́s, que fica entre 65 e 69 anos, especialmente para os homens. Muitos terão anos de contribuição e entre 3 anos de benefı́cio. A regra surgiu para reduzir drasticamente a proteção contributiva.
Dificilmente algum trabalhador conseguirá aposentar-se aos 65 anos, com valores médios integrais, seja pela incapacidade de contribuir, seja devido aos elevados ı́ndices de desemprego e rotatividade no emprego. Seria necessário contribuir initerruptamente desde os 16 anos de idade.
O que vemos é uma voracidade do capital, num ambiente favorável de golpe, diante dos recursos importantes que estão vinculados à previdência social pública, na direção de novos investimentos do setor privado em fundos de previdência. O cenário atual aponta uma tendência real de transformação de um direito, estruturado sob o princı́pio da solidariedade de classe, em mercadoria.
E preciso considerar, também, que estamos falando de uma realidade em que o trabalho é, de modo geral, precarizado para absoluta maioria da população, além dos efeitos da reestruturação produtiva que exige maior produtividade do trabalhador, contexto agravado pela flexibilização dos direitos. O aumento da expectativa de vida é uma conquista do trabalho, pelo conjunto de direitos “arrancados” do capital. A melhoria na qualidade de vida está associada ao avanço tecnológico, fruto do trabalho vivo, e das polı́ticas públicas implantadas nos territórios. Ter tempo de lazer e acesso a bens e serviços possibilita qualidade de vida. Como manter produtivida- de numa sociedade que produz incertezas quanto ao futuro e retira direitos?
A PEC 287 ataca a totalidade da classe trabalhadora, o que também possibilita a unificação das lutas, embora o cenário institucional e polı́tico, ainda que em crise, esteja absolutamente dominado pelos interesses do capital. O Estado está priorizando as contrarreformas para avançar no favorecimento do capital no acesso aos fundos públicos, num momento de desregulamentação e fragilização de polı́ticas sociais, incluindo polı́ticas sindicais, trabalhistas, que são os mecanismos que materializam direitos. O fato é que não existem medidas de austeridade que afetem o capital. As medidas afetam a classe trabalhadora.
A reforma da previdência expressa um retrocesso, considerando o pacto social construı́do na Constituição Federal de 1988. Faz parte de um conjunto de medidas de austeridade que revelam a face do Estado a serviço do mercado, realidade que desafia as/os próprias/os trabalhadoras/es a resistirem, com fortalecimento de forças e ações conjuntas, pela recuperação do que conquistamos e ampliação dos direitos sociais, na direção de uma sociedade efetivamente justa e democrática.
Os impactos sociais da reforma da previdência
Jucimeri Isolda Silveira Conselheira do CRESS-PR e professora da PUCPR
Importante destacar que as mudanças no tempo de contribuição trarão como resultado o aumento da desigual- dade social, já que a maioria das/os trabalhadoras/es mais pobres se aposentam por idade, pela instabilidade no emprego. Além disso, haverá aumento da desigualdade de gênero: segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a mulher tem 7,8 anos a mais de trabalho efetivo. Com o trabalho doméstico e a função social atribuı́- da de reprodução pela maternidade, as mulheres traba- lham mais que o dobro da jornada de trabalho masculina.
A proposta rompe com o princı́pio de equidade na partici- pação do custeio, que garante, atualmente, a cobertura a mais de 6,5 milhões de segurados/as especiais. Também reduz possibilidades de diminuir desigualdade regional.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatı́stica (IBGE), a estimativa de longevidade para os homens nordestinos ao nascer é, em média, 70,2 anos, o que é
inferior à média nacional, sendo que a estimativa para Alagoas, Maranhão e Piauı́ é 66 anos. Portanto, muitos trabalhadores não terão direito à aposentadoria, nem tampouco ao BPC, simplesmente porque não alcançarão a idade mı́nima.
A PEC também tira a expectativa de mais de 70% dos trabalhadores rurais de alcançar a aposentadoria. De acordo com estudo da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), trabalhadores e trabalhadoras do campo começam sua atividade mais cedo. O número de pessoas que começa a trabalhar antes dos 14 anos alcança até
78% dos homens e 70% das mulheres. Uma realidade cruel dos territórios brasileiros. Além de, em geral, não haver
formalização, são pessoas que envelhecem precocemente, justamente pelas condições degradantes de trabalho.
Outro impacto é na economia local, já que os benefı́cios sociais contribuem diretamente para o desenvolvimento do comér- cio, e dependo dos arranjos produtivos, para a geração de trabalho e renda, especialmente na capacidade de consumo nos municı́pios. Em muitas cidades, o volume de transferênci- as é maior do que o fundo de participação.
Os impactos são diversos, gigantescos e cruéis. O cenário é de perplexidade pela rapidez na destruição dos direitos e pela fragilização da democracia, completamente abalada pelo golpe do executivo, do judiciário e da mı́dia, orquestrado pelo grande capital. Trata-se de um momento histórico que requer análise profunda das consequências da reforma da providên- cia aliada à reforma trabalhista, ao congelamento de recursos pelos próximos 20 anos, ao desmonte dos sistemas estatais públicos e do sistema em direitos humanos. Neste contexto conservador, sobram “Bolsonaros”, neoliberais, conservado- res que propagam o Estado penal do ponto de vista social e gerencial para atender aos interesses do mercado.
O Serviço Social possui uma aliança histórica com as forças sociais, com a classe trabalhadora, com os movimentos sociais. E preciso articular forças de resistência e potenciali- zar as insurgências locais, as resistências, as pressões em cada local de trabalho, em cada cidade e região. Nossa relação histórica com a defesa dos direitos na direção de uma sociedade emancipada nos coloca diante do desafio de nos fortalecer coletivamente na luta incansável por uma socieda- de justa e igualitária, com direitos e democracia.
· Aposentadoria aos 65 anos para homens e 62 para mulheres e aumento do tempo mı́nimo de contribuição de 15 para 25 anos;
·A posentadoria aos 60 anos para os homens e 57 para mulheres e contribuição obrigatória mı́nima de 15 anos (para trabalhadoras/es rurais);
·4 0 anos de contribuição para obtenção de aposentadoria integral;
·B enefı́cio de Prestação Continuada (BPC) passa a ser concebido como “transferência de renda”; idade mı́nima de 65, subindo gradativamente até atingir 68 anos em 2020;
·P ensão por morte passa a ser de 50% do valor do benefı́cio recebido pelo contribuinte que morreu, com um adicional de 10%
para cada dependente do casal; não será mais vinculada ao salário mı́nimo, mas num valor a ser definido por lei; só receberá
100% da pensão aquela pessoa que tiver cinco filhos; acúmulo de pensão poderá ocorrer até o limite de 2 salários mı́nimos, sendo possı́vel optar pelo benefı́cio de maior valor;
·F uncionários públicos que ingressaram após 2003 se aposentam conforme a regra geral;
·P oliciais federais e legislativos terão idade mı́nima de 55 anos para aposentadoria;
·P rofessores poderão se aposentar aos 60 anos, mas deverão contribuir por 25 anos;
·A posentadoria especial destinada a trabalhadores/as que exercem atividades em condições que prejudiquem a saúde ou integridade fı́sica, estabelecendo idade mı́nima e a redução máxima da contribuição passa de 20 anos para 5 anos;
·A ltera a aposentadoria por tempo de contribuição da pessoa com deficiência, a redução máxima do tempo de contribuição passa de 10 para 5 anos.
O que a PEC 287 propõe
Serviço Social na Previdência Social:
uma história de lutas e defesa dos direitos
Joziane Cirilo Viviane Peres Ana Cristina Moreira Conselheiras do CRESS-PR e assistentes sociais do INSS
regiões do paı́s e; isolamento do Serviço Social nos processos decisórios no interior do INSS, dificultando sua participação inclusive em atividades que exigem posicionamento e decisões especı́ficas da área técnica do Serviço Social.
No entanto, as/os trabalhadoras/es assistentes sociais do INSS têm travado uma intensa luta, juntamente com movi- mentos sociais e demais trabalhadoras/es brasileiras/os para a defesa da permanência desse serviço na Polı́tica Previdenciária.
Os atendimentos técnicos do Serviço Social são realizados nas Agências da Previdência Social e, no âmbito externo da Instituição, sociedade civil e entidades públicas e privadas.
Estão divididos em três linhas de ações: Ampliação e Consolidação do Acesso à Previdência Social, Segurança e Saúde do Trabalhador e Direitos das Pessoas com Deficiência e Pessoas Idosas.
Uma das principais ações desenvolvidas pelo Serviço Social é a socialização das informações previdenciárias e assistenciais.
Consiste em um processo democrático e pedagógico que se desenvolve entre o assistente social e os cidadãos usuários da Previdência Social. Essa ação possibilita uma informação de qualidade e diferenciada, pois é desenvolvida sob a ótica do acesso ao direito e da ampliação do exercı́cio da cidadania.
Dentre as atribuições da/o assistente social no INSS está
também a avaliação social da pessoa com deficiência para acesso ao Benefı́cio de Prestação Continuada da Assistência Social e da Aposentadoria para Pessoa com Deficiência.
A avaliação da deficiência no INSS é realizada conjuntamente com a perı́cia médica e serviço social e tem como base os princı́pios da Classificação Internacional de Funcionalidades, Incapacidade e Saúde – CIF, que se pauta no conceito biopsi- cossocial da deficiência. Esse modelo social da avaliação da deficiência tem sido alvo de ameaças. Neste sentido, a categoria reafirma a defesa da permanência da avaliação
“As/os trabalhadoras/es assistentes sociais do INSS têm travado uma intensa luta, juntamente com movimentos sociais e demais trabalhadoras/es brasileiras/os para a defesa da permanência desse serviço na Polı́tica Previdenciária”.
No ano em que completa 73 anos, o Serviço Social no campo previdenciário é um dos primeiros espaços de atuação profissional, implantado em 1944 como um dos serviços da polı́tica da Previdência Social, regulamentado pela Lei 8.213/91, em seu artigo 88 que dispõe: “Compete ao Serviço Social esclarecer junto aos beneficiários seus direitos sociais e os meios de exercê-los e estabelecer conjuntamente com eles o processo de solução dos problemas que emergirem da sua relação com a Previdência Social, tanto no âmbito interno da instituição como na dinâmica da sociedade”.
A trajetória histórica do Serviço Social na Previdência Social é de luta e resistência. Na década de 1990, o Serviço Social passou por duros ataques, sendo extinto por medida provisória em 1998, momento em que as/os profissionais se mobilizaram e reafirmaram o compromisso da categoria em defesa de uma polı́tica previdenciária pública, universal e redistributiva. Neste perı́odo, elaborou-se a Matriz Teórico Metodológica, com fundamentação teórico-metodológica na perspectiva histórico dialética, tendo como documento referencial o Código de Etica Profissional de 1993.
Na estrutura organizacional do INSS, o Serviço Social integra a Diretoria de Saúde do Trabalhador - DIRSAT, em conjunto com a Perı́cia Médica e a Reabilitação Profissional. Organiza-se tendo a Divisão de Serviço Social em nı́vel nacional, as Representantes Técnicas na Superintendência , as Responsáveis Técnicas nas Gerências Executivas e as assistentes sociais nas Agências da Previdência Social. Essa estruturação administrativa é de suma importância para o Serviço Social, contribuindo com o direcionamento e a efetivação das ações da área.
Com o objetivo de fragilizar esse importante serviço para a classe trabalhadora, essa estrutura vem sendo alvo de desmonte, com diversas ações de esvaziamento.
Exemplos dessas ações são: exoneração consecutiva, em intervalos curtos de tempo, das chefias da Divisão de Serviço Social; exoneração em massa dos cargos de representantes técnicas do Serviço Social das cinco
social, expressando quebra do paradigma do modelo biomédi- co pelo modelo biopsicossocial que busca uma avaliação totalizante do indivı́duo. Nessa direção, o Serviço Social tem realizado articulação junto aos movimentos em defesa das pessoas com deficiência, conselhos de direitos, entidades, órgãos de defesa de direitos.
Na atual conjuntura sociopolı́tica e econômica, novamente as/os assistentes sociais que atuam na Previdência Social passam por severos ataques, sendo necessário se posicionar na defesa de uma polı́tica previdenciária pública e de qualidade, bem como em defesa da autonomia profissional, condições técnicas e éticas de trabalho compatı́veis com as atribuições e competências técnicas conforme previsto no art. 88 da lei nº 8.213/91.
Nesse viés, se acirra o desmonte dos direitos sociais e ataques à classe trabalhadora, a partir da proposta de reforma da previdência e, tendo em vista os últimos acontecimentos relacionados à Previdência Social, visando a privatização dessa polı́tica e o fim da proteção social, o projeto do Serviço Social na perspectiva de garantia e ampliação de direitos não interessa ao programa do atual Governo e em continuidade aos ataques está a extin- ção/desmonte do Serviço Social.
Somam-se a esse cenário as novas diretrizes de atendimento do INSS, na direção da “era digital”, que desafiam as/os profissionais a buscarem estratégias de intervenção e a
reafirmar seu compromisso com a classe trabalhadora no acesso à informação previdenciária, seus direitos e os meios de exercê-los.
Num cenário de polı́tica econômica de recessão, de minimi- zação do Estado, de redução dos direitos sociais e de desregulamentação das polı́ticas públicas, o Serviço Social amplia as ações coletivas de socialização das informações e de fortalecimento das/os trabalhadores/es. Mantém a defesa da Previdência Social como parte da seguridade social, expressão de um pacto coletivo e solidário que deve resistir à privatização e ao fortalecimento do papel do Estado democrático de direito. Fortalecemos a inclusão das pessoas com deficiência na materialização da Lei Brasileira de Inclusão/LBI e fortalecemos a saúde do trabalhador na concepção ampla e intersetorial ante aos desafios do precário mundo do trabalho que se aguça com a terceiriza- ção como regra e com a força do negociado sobre o legislado.
Lutar pelo Serviço Social na Previdência Social representa a busca pela garantia de um espaço de trabalho profissional comprometido com a defesa dos direitos sociais, com a efetivação da seguridade social pública e de qualidade, consonante com a direção do projeto ético-polı́tico do Serviço Social brasileiro.
Devemos nos mobilizar e resistir unindo forças nessa luta!!!
Comissão de Comunicação:
Jucimeri Silveira, Tamires Oliveira, Daniel Soares da Silva e Sintática Comunicação.