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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Programa de Pós-Graduação em Veterinária

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Academic year: 2021

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Dissertação

Avaliação metabólica de Cavalos Crioulos Submetidos a

Provas Funcionais

Lorena Alvariza Amaral

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LORENA ALVARIZA AMARAL

Avaliação metabólica de Cavalos Crioulos Submetidos a Provas Funcionais

Orientador: Dr. Carlos Eduardo Wayne Nogueira Co-Orientadores: Dr. Charles Ferreira Martins Dr. Marcio Nunes Corrêa

Pelotas, 2012

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Veterinária da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências veterinárias.

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Dados de catalogação na fonte:

( Marlene Cravo Castillo – CRB-10/744 )

A485a Amaral, Lorena Alvariza

Avaliação metabólica de cavalos crioulos submetidos a provas funcionais / Lorena Alvariza Amaral ; orientador Carlos Eduardo Wayne Nogueira; co-orientadores Charles Ferreira Martins e Marcio Nunes Corrêa. - Pelotas,2012.-71f. ; il..- Dissertação ( Mestrado ) –Programa de Pós-Graduação em Veterinária. Faculdade de Veterinária . Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, 2012.

1.Cavalo atleta 2.Metabolismo 3.Perfil muscular I.Nogueira, Carlos Eduardo Wayne(orientador) II .Título.

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Banca examinadora:

Prof. Dr. Carlos Eduardo Wayne Nogueira (Orientador) Prof. Dr. Francisco Del Pino

Dr. Augusto Schneider

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Aos cavalos.

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Agradecimentos

À Deus, pela vida, pela saúde, pela paciência e perseverança. Por me fazer cair quando me senti suficiente e me fazer levantar quando perdi a confiança.

À minha família, pela educação e por não poupar esforços para ajudar a realizar meus sonhos, pela confiança e incentivo.

Aos amigos, Anibal, Rodrigo, Jana, Ilusca, Lê, Douglas, Marcela, Lorena, pela ajuda em todos os projetos e rotina clinica durante os mais de dois anos no Hospital de Clinicas Veterinárias – UFPel

A Millie, pela paciência, amizade e companheirismo durante todos esses anos, espero poder retribuir.

Ao meu orientador, Carlos Eduardo Wayne Nogueira, por confiar e acreditar em minha capacidade técnica durante esses cinco anos de pós-graduação. Hoje agradeço por todos os “puxões de orelha” pois me fizeram mais forte e sensata. À todo o ClinEq, ao Prof. Charles e Profa. Bruna por estarem sempre a disposição para agregar tanto em força de trabalho quanto em conhecimento técnico, formando uma verdadeira equipe.

Ao Carlos por me fazer uma pessoa melhor, pela amizade, carinho, alegria, pela simplicidade.

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Resumo

AMARAL, Lorena Alvariza. Avaliação metabólica de Cavalos Crioulos

Submetidos a Provas Funcionais. 2012. 71f. Dissertação (Mestrado) - Programa

de Pós-Graduação em Veterinária. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.

A criação de equinos da raça Crioula vem crescendo em todo Brasil nos últimos anos, porém ainda há uma escassez de informações sobre esta raça. Para caracterizar o condicionamento físico de cavalos Crioulos em treinamento para o Freio de ouro, assim como a resposta metabólica quando submetidos a Marcha de Resistência, foram realizados experimentos que estão apresentados em dois artigos. O primeiro experimento teve como objetivo determinar o limiar anaeróbico (V4) de cavalos Crioulos em treinamento para prova Freio de ouro. Foram avaliados 23 animais submetidos a testes de desempenho composto por três etapas de velocidade progressiva de 6m/s, 8m/s e 10m/s com duração de cinco minutos cada etapa até que fosse atingida a concentração de 4mmol/dL de lactato sanguíneo. As concentrações de lactato sanguíneo elevam-se a partir da velocidade de exercício de 6,0m/s sendo que 90% (n=20) dos animais atingiram 4 mmol/L de lactato em uma velocidade entre 6 – 8m/s com uma média de frequência cardíaca que variou de 121 a 140bpm nessas velocidades. Concluiu-se que a V4 do cavalo Crioulo está entre as velocidades de 6 – 8m/s e frequência cardíaca entre 121 e 140bpm. O segundo experimento teve como objetivo caracterizar as respostas metabólicas ocorridas durante a Marcha de Resistência na qual são percorridos 750km em 15 dias de competição. Foram avaliados 11 animais, sendo dois machos e nove fêmeas da raça Crioula. Foram efetuadas coletas de sangue 24h antes da prova e no 4º, 9º, 11º, 14º e 15º dias de competição. Foram avaliados CK, AST, LDH, glicose, lactato, uréia, creatinina, sódio, potássio, cloreto, magnésio, cálcio total, cálcio iônico, proteínas totais, hematócrito e leucograma. Ao final da competição os valores médios de AST sérica foram de 1151±358 UI/L, os valores médios de LDH foram de 7418±1695 UI/L e de CK foi de 13867±3998UI/L. Houve aumento significativo nos valores de uréia, creatinina e lactato (p<0,0001). E uma diminuição nos valores médios de cloreto, sódio, potássio, cálcio total e iônico (p≤0,0002). Quanto a avaliação hematológica foi constatada elevação nos valores de leucócitos totais e segmentados (p≤0,0002) e diminuição nos valores de hematocrito, proteína plasmática total e linfócitos (p≤0,0003) .Os valores de glicose, em média mantiveram-se constantes. Com base nesses dados conclui-se que a competição “Marcha de Resistência” determinou elevada exigência muscular, com depleção energética e eletrolítica, além de sugerir um processo inflamatório nos animais avaliados.

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Abstract

AMARAL, Lorena Alvariza. Metabolic evaluation of Crioulo Horses Undergoing

equestrian competitions. 2012. 71f. Dissertação (Mestrado) - Programa de

Pós-Graduação em Veterinária. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.

The Crioulos breeding horses of Brazil has been growing in recent years, however there is still a dearth of information about this breed. To characterize the physical conditioning of Crioulo horses in training for the “Freio de Ouro”, as well as the metabolic response of Crioulo horses subjected to “Marcha de Resistencia”. We written The first study aimed to determine the anaerobic threshold or limiar (V4) of Crioulo horses during training, for this 22 healthy horses were evaluated. The selected animals were submitted to a performance test on track. It consisted of three stages with increasing speed of 6m/s, 8m/s and 10m/s with five minutes duration for each step, until blood lactate concentration reached 4mmol/dL. Blood lactate concentrations increased from the exercise speed of 6,0 m/s and 90% (n=20) of the animals reached 4mmol/dL of lactate at 6-8 m/s with an average heart rate ranging from 121 to 140 bpm. Our results demonstrate that the V4 of Crioulo horse is between the speeds of 6 - 8m/s and heart rate between 121 and 140bpm.The second study aimed to characterize the metabolic responses occurring during the “Marcha de Resistencia” in which are traversed or running 750km in 15 days of competition. We evaluated 11 Crioulo horses, two males and nine females . Blood samples were performed 24 hours before the test and at 4, 9, 11, 14 and 15 days of competition. Were evaluated CK, AST, LDH, glucose, lactate, urea, creatinine, sodium, potassium, chloride, magnesium, total calcium, ionized calcium, total protein, hematocrit and leukocyte count. At the end of the competition mean values of serum AST were 1151 ± 358 IU/ L,the mean LDH values were 7418 ± 1695 IU/L and CK wa s 13,867 ± 3998UI /L. There was significant increase in urea, creatinine and lactate (p <0.0001).Was observed decrease in the mean values of chloride, sodium, potassium, total and ionized calcium (p ≤ 0.0002). The evaluation of the hematologic values found indicate increased total leukocytes and segmented (p ≤ 0.0002) and decreased values of hematocrit, plasma protein and total lymphocytes (p ≤0.0003). The values of glucose, on average remained constant. Based on these data we conclude that the competition "Marcha de Resistencia" determined high muscular demand, energy and electrolyte depletion, and suggests an inflammatory process in the animals evaluated.

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Lista de Figuras

ARTIGO 1 Lactato sanguíneo como marcador metabólico na determinação do limiar anaeróbico (V4) de cavalos Crioulos condicionados para prova funcional

Figura 1 Teste de regressão polinomial demonstrando efeito quadrático nos níveis de lactato nos distintos momentos (M)...42

Figura 2 Teste de regressão polinomial demonstrando efeito quadrático nos níveis de frequência cardíaca nos distintos momentos (M)...42

ARTIGO 2 Resposta metabólica de cavalos crioulos submetidos a uma competição de resistência de 750km

Figura 1 Níveis séricos de AST nos distintos dias de competição. P= 0,0008...53 Figura 2 Níveis séricos de LDH nos distintos dias de competição. P=

0,0003...53 Figura 3 Níveis séricos de Uréia (mg/dL) nos distintos dias de competição.

P<0,0001...54 Figura 4 Níveis séricos de Lactato (mmol/L) nos distintos dias de competição. P<0,0001...55 Figura 5 Percentagem de Hematócrito nos distintos dias de competição. P<0,0001...56 Figura 6 Níveis séricos de PPT nos distintos dias de competição. P=0,0003....56

Figura 7 Médias de Neutrófilos Segmentados nos distintos dias de competição. P<0,0001...57

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Lista de Tabelas

ARTIGO 1 Lactato sanguíneo como marcador metabólico na determinação do limiar anaeróbico (V4) de cavalos Crioulos condicionados para prova funcional

Tabela 1 Valores médios (± erro padrão da média) de frequência cardíaca e lactato equinos em diferente velocidades...41

ARTIGO 2 Resposta metabólica de cavalos crioulos submetidos a uma competição de resistência de 750km

Tabela 1 Cronograma da distância e velocidade percorrida pelos animais em cada dia de coleta efetuada durante a Marcha de resistência…...51 Tabela 2 Média dos valores de cada variável bioquímica avaliada nas coletas

efetuadas durante a marcha de resistência...55

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Lista de Abreviaturas

ABCCC – Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos ADP – Adenosina difosfato

AGL - ácidos graxos livres

AST - Aspartato aminotransferase ATP - Adenosina trifosfato

bpm - Batimentos por minuto Ca - cálcio total

Cai - cálcio iônico CK - creatina kinase Cl - cloro

CO2- gás carbônico CR - creatinina

EDTA - Ácido etilenodiaminotetracético FC - Freqüência cardíaca

FCAV/UNESP – Faculdade de veterinária/Universidade Estadual de São Paulo g/dL - Grama por decilitro

H+ - Íon hidrogênio H2O - água Hb – Hemoglobina Htc- Hematócrito K - potássio Km- quilômetros

Km- quilômetros por hora LDH – lactato desidrogenase m – metros

m/min – Metros por minuto m/s - Metros por segundo

M1 - Momento de colheita ao repouso, antes do exercício M2- velocidade de 6m/s

M3- velocidade de 8m/s M4- velocidade de 10m/s

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Mg - magnésio

mg/dL - Miligramas por decilitro mmol/L - Milimol por litro

mpm - Movimentos por minuto Na - sódio

NADH - Nicotinamida adenina dinucleotídeo reduzida

NADPH - Nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato reduzida O2 - Oxigênio molecular

PaCO2 - Pressão parcial de gás carbônico PaO2 - Pressão parcial de oxigênio

pH - Potencial hidrogeniônico PPT - Proteína plasmática total PSI – Puro Sangue Inglês

UFPEL- Universidade Federal de Pelotas UI/L - Unidade internacional por litro UR- uréia

V200 - Velocidade na qual a freqüência cardíaca atinge 200 batimentos por minuto V4 - Velocidade na qual o lactato atinge 4mmol/L

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Sumário

RESUMO... 6

Abstract... 7

Lista de Figuras... 8

Lista de Tabelas... 8

Lista de abreviaturas e siglas... 9

INTRODUÇÃO...13 Objetivos ...15 Revisão bibliográfica ...16 1.Cavalo Crioulo.. ...16 2. Fisiologia muscular ...17 2.1 Perfil Energético...18 2.2 Lactato...20 3. Adaptações ao exercício...22 4. V4... 25 5. Frequência cardíaca ... 26 6. Enzimas musculares... 27 6.1 Creatinina quinase (CK) ... 27 6.2 Aspartato aminotransferase... 28 6.3 Lactato desidrogenase... 29 7. Perfil Renal...29 7.1 Creatinina... 29 7.2 Uréia... 30 8. Perfil Hematológico...31 9. Eletrólitos...32 Artigo 1...36 Artigo 2...48 CONCLUSÕES...64 1.Considerações Finais...64 2. Conclusão...64 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...65

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Introdução

A equinocultura no país está em uma fase de exponencial crescimento e valorização. A raça Crioula é responsável por grande parte dessa situação, juntamente com o Mangalarga Marchador, foram as raças que mais difundiram criações no Brasil e America do Sul nos últimos anos.

O cavalo Crioulo é considerada uma raça ideal para o serviço de campo, principalmente por apresentar rusticidade aliada à baixa necessidade nutricional. Em consequência do crescimento em sua criação foram detectadas inúmeras aptidões atléticas nesses animais. Competições de velocidade e funcionalidade como o Freio de Ouro e provas de longa duração como o enduro e a Marcha de Resistência são exemplos da diversidade de atividades desempenhadas pela raça.

A competição Freio de Ouro é uma prova direcionada a equinos da raça Crioula na qual é avaliada a morfologia, verificando o enquadramento do animal nos padrões da raça, e a funcionalidade, avaliando o desempenho nos serviços de campo. Essa competição é promovida há mais de 25 anos pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC) e é responsável por impulsionar exponencialmente o mercado da raça no país e no exterior.

Dentre as modalidades eqüestres da raça Crioula, a Marcha de Resistência é considerada a prova equestre de maior exigência física. É uma competição cujo objetivo maior é demonstrar e difundir a capacidade de resistência do cavalo Crioulo. A prova é composta por um percurso de 750km, com pontos de descanso e controle veterinário. A competição é realizada no interior de propriedades rurais, onde os animais são expostos a condições climáticas adversas, a pisos irregulares e obstáculos naturais. A prova é disputada por um período de 15 dias e é proibida a utilização de suplementação alimentar ou medicações.

Apesar da prova do Freio de Ouro e da Marcha de Resistência terem grande importância dentro da raça, poucos são os estudos direcionados a compreensão das exigências impostas por essas provas, assim como, a resposta metabólica dos animais durante a execução. Tão pouco se conhece como os animais são condicionados para as competições.

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Informações sobre o metabolismo da raça Crioula ainda tem sua base em dados empíricos com insuficiência de conhecimento técnico e heterogeneidade de conceitos. Um dos desafios a se enfrentar, é a transformação de variáveis qualitativas, avaliadas de forma subjetiva na seleção de animais, em variáveis quantitativas, avaliadas de forma objetiva por meio de procedimentos técnicos e embasamento cientifico.

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Objetivo Geral

Este estudo tem como objetivo caracterizar as duas principais provas na raça Crioula, o Freio de Ouro e a Marcha de Resistência, através de parâmetros clínicos metabólicos avaliados antes e durante as competições, respectivamente.

Objetivo Específico

- determinar a V4 de cavalos Crioulos em treinamento para a competição Freio de Ouro, relacionando este valor com a frequência cardíaca alcançada em diferentes velocidades;

- caracterizar as respostas metabólicas em cavalos Crioulos submetidos a um percurso de 750 km na competição Marcha de Resistência.

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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1. Cavalo Crioulo

O cavalo Crioulo da América Latina é descendente direto dos cavalos importados do Novo Mundo, desde Cristóvão Colombo, pelos conquistadores espanhóis durante o século XVI, mais particularmente por Don Pedro de Mendoza, fundador da Vila de Buenos Aires em 1535 (BARRÉ, 2009).

Um grande número destes cavalos de guerra fugiu ou foram abandonados para se tornarem, rapidamente, em cavalos selvagens, num ambiente ideal para o seu desenvolvimento. São os cavalos espanhóis (particularmente os Andaluses), portugueses e árabes que transmitiram seu sangue e suas principais características morfológicas da raça Crioula (BARRÉ, 2009).

Durante quatro séculos, a raça Crioula se adaptou ao meio ambiente das grandes planícies sul americanas para sofrer uma severa seleção natural. Esta adaptação às condições de vida do meio ambiente permitiu o desenvolvimento de sua grande qualidade, a resistência às enfermidades, adaptação alimentar ou nutricional e a sobrevivência (AFFONSO & CORREA, 1992).

Segundo Beck (1989), é um cavalo capaz de suportar duras provas, com qualidades de caráter eminentemente prático e econômico. Apresenta qualidades como boa fertilidade, prepotência genotípica, facilidade de adaptação, habilidade para apartação e lida com o gado e docilidade, concluindo que a principal razão para a sua criação reside na sua resistência, sobriedade e rusticidade.

A criação de cavalos Crioulos é crescente no país. Trata-se de uma raça nacional rústica, empregada tanto no trabalho rural como em competições (AFFONSO & CORREA, 1992).

Há alguns anos, duas provas físicas e de habilidade tem grande valorização dentro da raça, a competição Freio de Ouro e a prova denominada de Marcha de Resistência. As duas competições são distintas quanto a exigência dos animais. Apesar de poucos estudos relativos ao metabolismo dos animais durante essas provas, sabe-se que o Freio de Ouro trata-se de uma competição de três dias de duração onde os cavalos desenvolvem etapas de velocidade associada a habilidade funcional. No entanto, na Marcha de Resistência os animais desenvolvem baixa velocidade, porem por 15 dias totalizando 750 km de percurso.

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Em estudo conduzido por Castro (2001) onde foram avaliados os tipos de fibras musculares de cavalos Crioulos de distintas linhagens determinou-se que os de sangue chileno possuem mais aptidão para provas de velocidade, como a do Freio de Ouro e os com linhagem Rio Grandense, Argentina e Uruguaia possuem uma maior aptidão para provas de resistência, como a Marcha de Resistência e Enduro.

2. Fisiologia muscular

Os equinos há muitos anos tem sido selecionados para realizar diversas atividades de alto rendimento. No entanto, para as distintas disciplinas que praticam, necessitam de um trabalho muscular de variada intensidade e duração, sendo necessário contar com adequado treinamento (DíAZ, 2000)

Para que o cavalo atleta consiga alcançar e manter um alto potencial de rendimento, não necessita apenas contar com sistema cardiovascular e respiratório em excelentes condições, mas também é necessário, um desenvolvimento muscular adequado capaz de adaptar-se as exigências físicas impostas durante o treinamento e as provas de desempenho as quais participa. (DÍAZ, 2000).

Segundo Valberg & Macleay (1997), o músculo esquelético é formado principalmente por células multinucleadas, denominadas fibras musculares. A capacidade contrátil do músculo é atribuída ao arranjo entre os filamentos de actina e miosina e, a contração muscular ocorre por um deslizamento destas fibras umas sobre as outras e uma alteração no tamanho ou na tonicidade muscular. Para que tal processo seja possível, é necessário gasto energético na forma de ATP.

As fibras musculares diferem de acordo com suas características funcionais e metabólicas. Fibras do tipo I apresentam contração lenta, são especializadas em manter a contração muscular sem fadiga e tetania por longos períodos. Esta resistência à fadiga é atribuída à maior densidade de mitocôndrias do tecido, o que confere uma maior capacidade aeróbica ou oxidativa. Este tipo de fibra apresenta também uma maior reserva lipídica, maior irrigação capilar, menor reserva de glicogênio e menor atividade de enzimas glicolíticas. Fibras do tipo II contem isoformas que ciclos de contração-relaxamento rápido, portanto geram força rapidamente. Dentro do grupo tipo II, as fibras tipo IIX tem uma velocidade de contração máxima que é 3 vezes superior a das fibras tipo IIA que possuem uma velocidade de contração 4 vezes superior a das fibras tipo I. Por isso as fibras IIX

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estão adaptadas para gerar uma alta potencia em um curto período de tempo, já que possuem pouca capacidade oxidativa e baixa disponibilidade de oxigênio. Por outro lado, as fibras tipo IIA possuem um considerável numero de capilares e de mitocôndrias que lhe permite realizar um metabolismo tanto glicolítico quanto oxidativo, sendo assim capazes de gerar uma alta potencia e manter a mesma por um maior período de tempo que as fibras do tipo IIX. As fibras híbridas tipo IIAX tem propriedades intermediarias as descritas anteriormente. A maioria dos músculos apresenta uma mistura dos dois tipos de fibras. A proporção entre as fibras não é constante, e o treinamento pode alterar a composição e o tamanho da fibra no mesmo músculo (VALBERG & MACLEAY, 1997). O tamanho da fibra de vários músculos locomotores varia significativamente entre raças de cavalos, de acordo com tipo de trabalho para qual essa raça foi selecionada e esse fator poderá determinar a habilidade atlética do cavalo individualmente (VALBERG & MACLEAY, 1997).

2.1 Perfil energético

O aporte energético durante o exercício não deriva de uma única via metabólica, ao contrario, há uma interação do metabolismo aeróbico, anaeróbico e os substratos energéticos metabolizados. O grau de interação metabólica vai depender do tipo de exercício que esta sendo submetido o animal. Os cavalos que não correm distâncias superiores a 1000 m utilizam aproximadamente 60% de energia produzida anaerobicamente e 40% produzida de forma aeróbica, no entanto à medida que a distancia aumenta (superiores a 1600 m), aproximadamente 80% da energia utilizada é gerada pela via aeróbica e apenas 20% provem do metabolismo anaeróbico. Sendo assim, quanto maior a distancia de carreira, maior o consumo de energia produzido pela via oxidativa, em detrimento da via glicolítica. Essas porcentagens indicam que em exercícios de máxima intensidade a fibra muscular pode tardar ate 1 minuto para alcançar a máxima produção de energia pela via aeróbica. Para cavalos que competem em carreiras de enduro, com distâncias de até 160km em um dia em uma velocidade media de 16-18km/h , a energia utilizada é gerada aerobicamente em um porcentagem superior a 94%. Em outras palavras pode-se dizer que os exercícios que não gerem FC superiores a 150-160 bpm, usam a via aeróbica como geradora de energia. Isso porque, a via oxidativa pode gerar energia suficiente por unidade/tempo para satisfazer a demanda energética da fibra muscular (BOFFI, 2006).

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Durante os primeiros 10s do exercício de máxima intensidade, a energia utilizada provem da degradação de ATP livre e Fofocreatina (PCr). À medida que o exercício continua, o aporte energético se realiza majoritariamente a partir da degradação do glicogênio pela via anaeróbica, e se o exercício segue, o metabolismo aeróbico toma maior importância. Em exercícios de resistência é utilizado como substrato energético principalmente o glicogênio, a glicose e os ácidos graxos livres (AGL). A glicose e os AGL aumentam no sangue em poucos minutos após ter iniciado o exercício, porem após ter degradado 20-30% do glicogênio armazenado no músculo, a B oxidação é ativada (BOFFI, 2006).

A fosforilação oxidativa satisfaz as necessidades energéticas, sobretudo das fibras tipo I e IIA, permitindo que mantenham a sua atividade por um longo período de tempo. Numa primeira fase, a glicose é transformada em piruvato, este é transportado para o interior da mitocôndria e pela ação da enzima piruvato desidrogenase é transformado em acetil-coA. Este por sua vez participa na via dos ácidos tricarboxicílicos, em que é oxidado até CO2 e H20. O oxigênio funciona como

aceptor final de elétrons na cadeia de oxidações/reduções mitocondrial em que são sucessivamente oxidados o NADH+ H+, o NAPH + H+ e os citocromos. A energia dessas reações é usada para criar um gradiente eletroquímico através da membrana interna da mitocôndria, que por sua vez fornece a energia para produzir ATP. Por esta razão, se designa esta via por aeróbia. À medida que a glicose é consumida no citoplasma, a célula recorre ao glicogênio intracelular e à glicose plasmática. Com a diminuição destes pools o fígado reage a suba de glucagon (estimulada no pâncreas pela queda da glicemia) disponibilizando o glicogênio armazenado nesse órgão. Simultaneamente, em nível periférico ocorre mobilização dos ácidos graxos armazenados em nível dos adipócitos, com a sua liberação para a circulação. Os ácidos graxos são uma fonte a longo prazo de energia sob a forma de acetil-coA para as células musculares, especialmente para as do tipo I (CARNEIRO & LOPES, 2002).

A intensidade de exercício a qual a produção de energia se faz critica, varia. Esta variação se deve a vários fatores, entre eles a disponibilidade de O2 na fibra

muscular, a concentração enzimática intracelular, a densidade mitocondrial, se houve ou não pré-aquecimento e a velocidade do exercício (BOFFI, 2006).

A disponibilidade de O2 em nível muscular é geralmente suficiente, contrario

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se dá quando o metabolismo aeróbico esta funcionando ao máximo de sua capacidade e a necessidade energética segue aumentando. Desta forma dentro do mesmo músculo há fibras musculares que, independente da disponibilidade de O2,

não podem gerar energia por via oxidativa devido à ausência de mitocôndrias e de mioglobina, ambas vitais para o funcionamento do metabolismo aeróbico (BOFFI, 2006).

Conforme se aumenta a intensidade do exercício, atinge um ponto máximo de funcionamento do metabolismo aeróbico a molécula de glicose é quebrada à piruvato e através da enzima lactato desidrogenase formando acido láctico, ATP e CO2 . À medida que a intensidade do exercício aumenta, uma maior quantidade de

acido láctico é produzida e uma maior proporção de energia é suprida pelas vias anaeróbicas. Para ser eliminado pela célula, o acido láctico é convertido em lactato + H+ (MARTINS et al., 2005).

Quando a velocidade de remoção do lactato é inferior à velocidade de produção, ocorrem acúmulo e elevação de maneira exponencial (WILMORE & COSTILL, 2001 in MACHADO, 2006). O eventual acúmulo sanguíneo de lactato produzido no músculo em exercício e transportado até o sangue pode ser distribuído para outros músculos que estejam sendo menos utilizados, e poderá ser totalmente metabolizado (oxidado), caso haja quantidade suficiente de oxigênio. Se o organismo se encontrar em uma condição de débito de oxigênio, o lactato se acumulará (PEIXOTO, 2004).Mesmo durante o exercício, em trechos onde ocorre diminuição da intensidade de esforço, o lactato é utilizado como combustível e seus valores sanguíneos caem (PEIXOTO, 2004).

2.2 Lactato

O acúmulo de lactato no músculo, e consequente acidose intracelular, podem prejudicar a glicólise, a capacidade respiratória da mitocôndria (COUROUCÉ, 1998) e estar relacionado a uma falha em manter a homeostase ADP/ATP no sítio de ligação miosina-actina. O aumento de ADP local pode causar perda de desempenho por fadiga muscular, sendo o principal impedimento para a continuidade do trabalho (HARRIS et al., 1998). Um dos efeitos do treinamento é aumentar a intensidade do exercício na qual o lactato começa a se acumular (limiar anaeróbico), além de melhorar a capacidade cardiorrespiratória do animal (EATON et al., 1999; COUROUCÉ, 1998).

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A avaliação ou medida da concentração de lactato sanguíneo ou sérico vem sendo utilizada com tanta frequência quanto os parâmetros clínicos e fornece informações adicionais sobre o condicionamento atual do atleta (LINDNER, 2000). Segundo MARLIN & NANKERVIS (2002), testes de performance a campo são mais específicos e realistas, principalmente se forem similares às condições de competição. A concentração de lactato sanguíneo é uma variável de fácil aferição, mesmo em condições de campo (COUROUCÉ, 1998) e está relacionada à intensidade do exercício, possibilitando avaliar o sistema de produção energético mais utilizado (DESMECHT et al., 1996). A concentração de lactato é a variável que apresenta melhor correlação com a performance competitiva do animal (LINDNER, 2000).

Os cavalos estão adaptados a suportar níveis da lactato até 35mmol/L. As concentrações de lactato que desenvolve um cavalo em um exercício dependerá da intensidade, da disponibilidade em nível muscular e da quantidade de fibras de contração rápida (IIX) que possui o músculo. O lactato em si não é nocivo para o organismo, mas os hidrogênios associados a ele produzem a queda do pH intracelular. Por isso, o conceito de que acidose láctica produz fadiga não é correto em termos absolutos. O lactato gerado pelas fibras musculares é constantemente removido, mas em elevada intensidade de exercício o sistema de remoção é saturado e o lactato começa a se acumular dentro da célula. A velocidade de remoção desde o interior da fibra muscular varia de acordo com intensidade de exercício, o nível de angiogênese muscular e o tipo de recuperação pós-esforço que realiza o animal. Contudo em carreiras de velocidade o pico de lactato no sangue ocorre entre 5 – 10 minutos pós-esforço, e este pico de lactato é o equilíbrio entre as concentrações intra e extracelulares no animal (BAYLY & KLINE, 2006).

Em estudo conduzido por KOWAL et al. (2006) avaliando cavalos Puro Sangue de Carreira foi demonstrado que o aumento da concentração de lactato (V4), indicando maior utilização do metabolismo anaeróbico para produção de energia, ocorreu nas velocidades de 5 a 6 m/s, com as maiores concentrações imediatamente após o término do exercício para a maioria dos animais.

Os exercícios de baixa intensidade de longa duração são desenvolvidos principalmente na forma oxidativa, ou seja, quase toda energia consumida deriva da degradação aeróbica de carboidratos e AGL. Este tipo de exercício raras vezes superam o limiar anaeróbico de 4mmol/L e por tanto não acumula lactato e

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hidrogênios com consequente diminuição do pH. Nesses casos, a fadiga ocorre basicamente como conseqüência da depleção de substratos energéticos (glicogênio), perda de líquidos e eletrólitos (desidratação) e aumento da temperatura corporal (BOFFI, 2006).

A fadiga durante o exercício intenso em esteira de alta velocidade está associada ao aumento da concentração de hidrogênio consequente da dissociação do ácido lático em H+ e lactato. O acúmulo dos íons hidrogênio induz a acidose muscular, esta afeta a produção de energia e a contração muscular, reduzindo a força contráctil do músculo (MACHADO, 2006).

A redução do pH muscular é o principal fator limitante do desempenho durante o exercício de alta velocidade e curta duração (WILMORE & COSTILL, 2001 in MACHADO, 2006). A queda do pH associado ao incremento de lactato e decréscimo das concentrações de bicarbonato após o exercício indicam acidose metabólica (AGUILERA-TEJERO et al., 2000, in MACHADO, 2006).

3. Adaptações ao exercício

As adaptações fisiológicas e bioquímicas que ocorrem no sistema musculoesquelético do equino como resposta aos diferentes programas de treinamento, dependendo do tipo de exercício, aumentam a capacidade aeróbica e diminuem o metabolismo anaeróbico para obtenção de energia (DELDAR et al., 1982). Dessa forma, permitem ao cavalo competir com êxito nas diversas competições equestres e minimizam os riscos de lesões físicas (JONES, 1984).

Um bom desempenho atlético requer adaptações metabólicas compatíveis com a disciplina praticada. As adaptações bioquímicas que são desejáveis em um atleta, apresentam características geneticamente configuradas, ou induzidas pela prática desportiva (RIVERO & BOFFI, 2006).

As características atléticas intrínsecas ou herdadas devem ser observadas no momento em que se escolhem os cavalos para a prática de competições de resistência ou de velocidade, pois a influência genética é determinante (FINK et al., 1977). Indivíduos com características metabólicas de resistência, quando utilizados na prática desportiva onde a velocidade é fator preponderante, obviamente terão seus desempenhos comprometidos. Uma idêntica inadequação atlética pode ser observada quando um indivíduo com características de velocista for treinado para provas de resistência (LINDNER & BOFFI, 2006).

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Rotineiramente a escolha da distância em que um cavalo vai competir e consequentemente o seu treinamento, é baseado em critérios subjetivos como fenótipo e genealogia (RIVERO & BOFFI, 2006).

O músculo esquelético é um tecido extremamente heterogêneo (PETTE & STARON, 1997 e 2001) e possui a capacidade de adaptar-se quando estimulado por diferentes fatores como, variações na atividade contrátil, fornecimento de substrato energético e alterações em fatores ambientais (FLΫCK & HOPPELER, 2003). A interconversão entre os diferentes tipos de fibras é, aparentemente, a indicação desta capacidade de resposta adaptativa (PETTE & STARON, 1997).

Geralmente o treinamento de resistência induz adaptações oxidativas no músculo esquelético de várias espécies de mamíferos, tais como, aumentos na densidade capilar, número de mitocôndrias e acúmulo de glicogênio, provocados por um aumento na distribuição relativa das fibras oxidativas dos tipos I e oxidativas e glicolíticas do tipo IIA, enquanto diminui a de fibras glicolíticas do tipo IIX. Também ocorre uma hipertrofia muscular provocada pelo aumento na expressão de proteínas filamentares que resulta em um aumento no número de sarcômeros (PETTE & STARON, 1997).

As adaptações musculares induzidas pela prática de competições de longas distâncias (enduro) envolvem três aspectos essenciais. A mais marcante adaptação metabólica ocorre no metabolismo oxidativo, onde concomitantemente ao aumento no número e tamanho das mitocôndrias, ocorre também um aumento na expressão e na atividade de enzimas do metabolismo energético de vias bioquímicas como glicólise, glicogenólise, ciclo de Krebs, ciclo de Lynen (β-oxidação de ácidos graxos) (FLΫCK & HOPPELER, 2003). Todos os mecanismos fisiológicos e bioquímicos envolvidos na captação, transporte e utilização do oxigênio, como concentração de hemácias e hemoglobina, neovascularização, também são estimulados no exercício. Outra adaptação essencial é a capacidade de armazenamento de substratos energéticos. Um grande acúmulo intracelular de glicogênio é um dos aspectos envolvidos na hipertrofia muscular induzida por exercício (PETTE & STARON, 2001)

Em cavalos especializados na disciplina de enduro, LOPEZ-RIVERO et al. (1991), demonstraram uma composição de aproximadamente 30% de fibras tipo I, e 40 a 50% de fibras tipo IIA. Nestes mesmos cavalos um período de seis meses de treinamento foi suficiente para alterar significativamente a proporção de fibras IIA em relação às IIX. Em cavalos adultos de corrida um treinamento intenso durante duas

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semanas foi suficiente para provocar alteração na proporção das fibras musculares e na área de secção transversal das fibras. A proporção de fibras tipo IIA aumenta e a de fibras IIX diminui, enquanto as fibras tipo I permanecem inalteradas após o treinamento de duas semanas (GOTTLIEB-VEDI, 1988). Todas as modificações estruturais são acompanhadas de aumento nas atividades de enzima das vias metabólicas aeróbias. Segundo RIVEIRO & BOFFI (2006), uma fibra de contração rápida, através do treinamento adequado, é capaz de se transformar de forma completa em fibra de contração lenta (tipo I). Esse processo pode ocorrer de forma inversa e em etapas, como por exemplo, IIX IIAX IIA I.

O consumo de oxigênio é semelhante em animais treinados e não treinados para o desempenho da atividade física, mas há uma menor produção de CO2 e, portanto o quociente respiratório é menor em animais treinados. A utilização de gordura rende quocientes respiratórios menores que a utilização de carboidratos (SANTOS, 2002).

Utilizam-se vários parâmetros bioquímicos para monitorar adaptações provocadas pelo treinamento. Os parâmetros dinâmicos mais comumente utilizados são, a utilização de índices de recuperação cardíaca, o consumo máximo de oxigênio (VO2 max.), e a determinação do limiar metabólico aero/anaeróbio de

lactato (GONDIM et al. 2007).

O treinamento provoca uma redução nos níveis de lactato sanguíneos e na relação lactato/piruvato, devido a uma menor produção de lactato ou uma metabolização mais rápida deste. A redução da produção indica uma grande capacidade de exercício aeróbico com menor dependência das rotas glicolíticas anaeróbicas, como resultado de uma maior eficiência do sistema cardiovascular em suprir oxigênio aos tecidos (SANTOS, 2002).

A análise da cinética de acumulo e remoção do lactato produzido durante o exercício facilita a interpretação das respostas fornecidas pelos cavalos estimulados pelo treinamento. Este mecanismo de estimulo e resposta, é a essência do trabalho de condicionamento físico (GONDIM et al. 2007).

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4. V4

Mediante a medição dos constituintes sanguíneos, é possível determinar as modificações fisiológicas e bioquímicas que ocorrem como resposta ao exercício e treinamento ao qual são submetidos os cavalos. Estudos sobre as adaptações hematológicas e bioquímicas em cavalos Puro Sangue de Carreira durante e depois do exercício, tem demonstrado que a frequência cardíaca e o lactato sanguíneo podem ser indicadores confiáveis para avaliar a aptidão física e o nível de treinamento que apresenta um cavalo para realizar um determinado exercício (EVANS et al. 1993).

O limiar anaeróbio (SIMÕES et al., 1999), é o ponto estacionário entre a produção e remoção de lactato, teste incremental precedido de um exercício intenso para indução de hiperlactacidemia (GONDIM et al., 2007) são protocolos que são usados para avaliar a capacidade aeróbia.

Na espécie humana, embora haja controvérsias, a velocidade que produz esta concentração é reconhecida quando o ponto estacionário dinâmico entre a produção e a remoção do lactato se rompe. Entretanto, essa metodologia vem sofrendo críticas, pois ela desconsidera diferenças individuais, estado de treinamento e disponibilidade de glicogênio (GONDIM et al., 2007).

O termo V4 representa a velocidade em m/s, na qual a concentração de

lactato no sangue atinge 4mmol/L, e é considerado um valor com repetibilidade e confiabilidade para a determinação do nível de condicionamento. Portanto, pode-se afirmar que a velocidade na qual a concentração de lactato alcança o valor de 4 mmol/L de sangue (V4) é utilizada para se determinar a aptidão atlética de um

cavalo. Vários estudos indicaram que cavalos com alta capacidade aeróbica, normalmente têm baixas concentrações de lactato frente às intensidades de exercício submáximo. (THOMASSIAN et al., 2005).

Segundo Evans et al. (1995), a velocidade na qual resulta da concentração de 4 mmol/l (V4) é um bom indicador da capacidade de performance de cavalos Puro Sangue Inglês. Nesta pesquisa o V4 foi obtido na velocidade de 8,0 m/s, resultado semelhante ao obtido em pesquisa realizada por Prince et al. (2002), na qual compararam as respostas metabólicas de cavalos da raça Árabe e Puro-Sangue–Inglês (PSI) submetidos a três tipos de testes, dentre eles o teste de exercício progressivo. Prince et al. (2002) relatam um V4 para os 5 cavalos da raça Árabe de 8,27± 0,46 m/s, sem diferença estatística para os PSI. Demonstrando que,

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mesmo com as diferenças metabólicas entre as raças , quando submetidos ao mesmo teste, os animais não apresentaram diferenças significativas nas concentrações de lactato plasmático após o exercício.

Junto com a determinação do V4 é importante estudar as variações da frequência cardíaca durante e depois do exercício, existindo relação linear entre frequência cardíaca e velocidade; sendo importante a relação entre o V4 e a freqüência cardíaca correspondente a velocidade (COUROUCÉ et al., 1997).

A frequência cardíaca (FC) é facilmente aferida durante o exercício, fornecendo um índice indireto da capacidade e função cardiovasculares. Esta avaliação pode ser realizada durante a prática de exercício, por meio da utilização de um freqüencímetro digital específico para cavalos. A relação entre a velocidade e a FC costuma ser utilizada na avaliação do potencial atlético. Respectivamente, a V160, V180 e V200 representam as velocidades em que a FC atinge 160, 180 e 200 bpm (FERRAZ et al . 2007).

Segundo Physick-sheard (1985) a frequência cardíaca máxima para eqüinos compreende valores entre 240-250bpm e segundo Jones (1989), este aumento geralmente atinge um valor máximo que não se eleva mesmo com o aumento da intensidade de trabalho.

O limite anaeróbico para cavalos PSI é usualmente descrito como aproximadamente 10 a 12 m/s com frequências cardíacas de 160 a 200 bpm e concentrações de 4mmol/L de lactato no plasma (FOREMAN et al., 1990).

Perez et al. (1997) em estudo analisando lactato sanguíneo em cavalos Crioulos chilenos, conclui que o treinamento desses cavalos constitui um esforço físico de intensidade moderada, produto das baixas velocidades desenvolvidas e da curta duração dos exercícios, não conferindo condicionamento físico ideal para provas funcionais.

5. Frequência cardíaca

No eqüino, a maior contribuição para aumentar o aporte de oxigênio aos tecidos ocorre através do aumento da frequência cardíaca (ASHEIM et al., 1970; ENGELHARDT, 1977). No entanto, esta diretamente relacionada com a intensidade e velocidade a qual se realiza o exercício (HINCHCLIFF et al., 2002).

Sendo assim, o aumento da frequência cardíaca parece ser um dos principias indicadores do nível de esforço que realiza um cavalo durante o exercício,

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contudo foi possível estabelecer uma relação direta entre aumento da velocidade e incremento de frequência cardíaca (ENGELHARDT, 1977). Dessa forma, vários autores sinalizaram este parâmetro como um dos principais indicadores para medir o grau de adaptação do equino ao exercício (ASHEIM et al., 1970).

A resposta cardiovascular tem grande importância no exercício e esta relacionada com duas variáveis: frequência cardíaca e volume sistólico, que em forma independente ou em conjunto, são capazes de aumentar o volume cardíaco por minuto e, portanto, o aporte de oxigênio aos tecidos (ASHEIM et al., 1970; ENGELHARDT, 1977).

A freqüência cardíaca basal de um equino em repouso varia entre 28-45bpm podendo aumentar rapidamente acima de 100bpm por excitação, medo, dor e exercício, no entanto valores ao redor dos limites inferiores são indicativos de vagotonia. É comum cavalos vagotônicos apresentarem freqüência cardíaca entre 22-25bpm se forem avaliados na primeira hora da manhã (BABUSCI & LÓPEZ, 2006).

Freqüências cardíacas acima de 100-120bpm apresentam uma relação positiva com a velocidade e com VO2, ate alcançar a FCmax, onde apesar de

aumentar a velocidade não ocorre aumento da FC (BABUSCI & LÓPEZ, 2006). Na recuperação pós-exercicio, a curva de descenso da FC consta de uma primeira etapa com duração de aproximadamente 1 minuto, onde o descenso é bem pronunciado já que a FC pode cair até valores ao redor de 50% dos alcançados durante o exercício. Após começa a segunda etapa, que se caracteriza por descenso lento que alcança os valores basais em 25-30min em condições normais. Por outra parte estes valores estão condicionados a nível de treinamento, fatores ambientais (umidade, temperatura), mudança decrescente de marcha e adaptação termorregulatoria (BABUSCI & LÓPEZ, 2006).

6. Enzimas musculares

6.1 Creatina quinase (CK)

É uma enzima músculo esquelética específica de grande importância na avaliação da função muscular. De acordo com BAPTISTELLA (2009), a CK é denominada de enzima de extravasamento, por ser liberada das células musculares em caso de lesão. Trata-se de uma enzima citoplasmática, sujeita a uma rápida

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liberação na circulação como resultado de uma pequena lesão (SOARES, 2004). Os valores de CK podem ser alterados em várias condições clínicas associadas a lesão muscular aguda ou a esforço muscular intenso. Segundo Silva et al. (2007) o aumento da atividade sérica de CK indica se a necrose muscular é ativa ou se ocorreu recentemente; já o persistente aumento de CK indica que a necrose muscular continua ativa.

Da Cás et al. (2000), mediante a analise de 60 amostras de soro de equinos da raça Crioula, foi possivel verificar que a CK e a AST são mais informativas e elucidativas quando da avaliação da função muscular comparativamente a LDH. Embora a CK seja mais especifica como indicativo de necrose muscular do que a AST, a determinação simultânea de AST e CK em equinos representa valioso potencial diagnóstico e prognóstico, em razão das diferentes taxas de retorno a níveis basais de suas atividades no soro ou no plasma.

Segundo Santos (2002) podem ocorrer mudanças na atividade sérica das enzimas musculares por diversas razões como: alteração de permeabilidade na membrana celular, depuração diminuída, síntese reduzida ou aumentada e por necrose celular.

Em geral elevações discretas de CK e AST após o exercício não esta relacionada com lesão de miócito, mas sim com aumento da permeabilidade da membrana dessa célula. Porem caso haja lesão em nível ultraestrutural durante o exercício, um aumento marcante nas concentrações dessas enzimas será observado (SANTOS, 2002)

6.2 Aspartato aminotransferase (AST)

A aspartato aminotransferase (AST) é uma enzima que se encontra em altas concentrações nas células hepáticas, no músculo cardíaco e esquelético. Em geral seus níveis são altos quando comparados a humanos e cães. Os níveis AST encontram-se de 5 a 100 vezes maiores em equinos com dano muscular (BAYLY & KLINE, 2006).

A AST está presente como duas isoformas, no citosol e na mitocôndria, dessa forma necessita uma grande lesão para ser liberada na corrente sanguínea. No entanto, as enzimas CK e LDH, por serem citosólicas e de tamanho pequeno, conseguem ultrapassar a membrana celular, mesmo que não exista um dano tecidual grande. Sendo assim, no caso de lesão muscular, o aumento da AST ocorre

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de maneira mais lenta quando comparada a CK, sendo que os valores máximos desta enzima são encontrados no sangue 24 a 36 horas após a ocorrência da lesão (GONZÁLEZ & SILVA, 2006).

Para compreender se o aumento da AST é devido ao aumento na permeabilidade hepatocelular ou devido à lesão muscular, deve-se associar a dosagem de CK, a qual é músculo-específica, deste modo, o aumento em conjunto de CK e AST, indicam lesão muscular, enquanto que os níveis elevados juntamente com CK normal, indicam um provável distúrbio hepatocelular (SOARES, 2004).

6.3 Lactato desidrogenase (LDH)

É uma enzima presente em vários tecidos, em particular no músculo esquelético, músculo cardíaco, fígado e eritrócitos, mas também nos rins, osso e pulmões. A concentração de LDH nos eritrócitos é 150 vezes maior do que no plasma, sendo assim, uma hemólise leve é detectada por aumento nos níveis desta enzima no soro (GONZÁLEZ e SILVA, 2006).

O aumento de LDH pode estar relacionado com lesões musculares de etiologias variadas e deficiência de vitamina E e selênio e mioglobinúria. A LDH pode ser utilizada para avaliar cardiomiopatias diversas. Normalmente, a LDH aumenta menos rapidamente do que a CK, porém mantém seus valores elevados por mais tempo. É uma enzima que se apresenta como um bom indicador de lesão muscular, entretanto usa-se em conjunto com CK e AST para monitorar a intensidade de exercícios (BOFFI et al. 2006)

7. Perfil renal

7.1 Creatinina

A creatinina plasmática é derivada, praticamente em sua totalidade, do catabolismo da creatina presente no tecido muscular. Na forma de fosfocreatina, o metabólito creatina é utilizado para armazenar energia no músculo, e sua degradação para creatinina ocorre de maneira constante, ao redor de 2% do total de creatina diariamente (SANTOS, 2006).

Sua excreção só ocorre por via renal, uma vez que não é reabsorvida nem reaproveitada pelo organismo. Por este motivo os níveis de creatinina plasmática

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refletem a taxa de filtração renal, de forma que níveis altos de creatinina indicam uma deficiência na funcionalidade renal.

Segundo González & Scheffer (2002), as causas de aumento plasmático da creatinina são: fluxo renal reduzido, hipotensão, desidratação, doenças renais, obstrução urinária, síndrome hepato-renal, dano muscular e exercício intenso. Já entre as causas de diminuição nos níveis de creatinina no plasma são: insuficiência hepática, hidratação excessiva e doenças musculares.

Snow et al. (1982) trabalharam com quatro equinos que competiram em prova de Enduro de 80km, com velocidade de 16 a 18km/h, determinando glicose, uréia, creatinina, sódio e potássio séricos. Observaram que a uréia e a creatinina aumentavam, gradativamente, durante o exercício e iniciavam período de declínio logo após o final da prova, no caso da creatinina e depois de quatro horas de descanso, no caso da uréia. De acordo com esses autores, essa alteração se deve, principalmente, ao aumento do metabolismo protéico e não à alteração da função renal.

7.2 Uréia

A uréia é sintetizada no fígado a partir da amônia proveniente do catabolismo de aminoácidos. Os níveis de uréia são analisados em relação ao nível de proteína na dieta e ao funcionamento renal. Na insuficiência renal pode ser observada azotemia (aumento nos níveis de uréia e creatinina sanguínea). Também pode ocorrer azotemia pré-renal em situações que incluem desidratação, choque hipovolêmico e hipotensão (SANTOS, 2006). O jejum prolongado pode causar o aumento da proteólise endógena para utilizar aminoácidos como fonte energética, o que causa aumento na concentração de uréia (GONZÁLES & SILVA, 2006).

Em exercícios moderados a intenso de curta duração, os níveis de uréia frequentemente não apresentam alteração. No entanto em exercícios prolongados seus níveis podem aumentar em 50% ou mais em conseqüência do menor fluxo sanguíneo renal e do catabolismo protéico (SNOW et al., 1982).

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8. Perfil hematológico

A resposta hematológica frente ao exercício físico é conseqüência dos níveis de cortisol plasmáticos aumentados, decorrente do estresse, estando correlacionado com a concentração de adrenalina, velocidade no exercício e frequência cardíaca do animal. O exercício provoca aumento transitório da concentração plasmática de catecolaminas, ACTH e cortisol em resposta ao estimulo do eixo hipotálamo-hipofise-adrenal. As catecolaminas promovem mobilização de eritrócitos e linfócitos provenientes do baço enquanto o ACTH e cortisol estimulam a produção de neutrófilos e migração de granulócitos para os tecidos (SANTOS, 2006).

O estresse fisiológico se deve principalmente a desidratação e dor demonstrando como alteração principal a linfopenia, os esteróides podem induzir a morte programada de linfócitos e alterar seu padrão de recirculação. Alem disso, a duplicação da população de neutrófilos circulantes não havendo desvio a esquerda, é considerada a segunda alteração, a menos que haja uma doença inflamatória simultânea (SALLES, 2011).

Os eritrócitos são essenciais para transportar oxigênio aos tecidos através do sistema vascular. O hematócrito aumenta como conseqüência da mobilização esplênica e em menor proporção devido a perdas de líquidos através da sudorese durante exercícios prolongados. A hemoconcentração significativa causa hiperviscosidade sanguínea e diminuição da perfusão muscular. Os cavalos nessa situação sofrem de transtornos de rendimento como fadiga precoce e elevação da freqüência cardíaca durante o exercício (BAYLY & KLINE, 2006).

O leucograma algumas vezes apresenta alterações transitórias durante o exercício em resposta do tono simpático, já que os leucócitos armazenam-se no baço juntamente com os eritrócitos. Portanto, após o exercício máximo, o número total de leucócitos pode apresentar um moderado aumento (até 30%). Também pode observar-se linfocitose e uma variação na relação neutrófilos e linfócitos. É raro observar-se linfopenia nessa situação (BAYLY & KLINE, 2006).

Como conseqüência de um exercício de resistência prolongado, o animal pode apresentar neutrofilia, linfopenia e leucocitose evidente. Essas condições podem persistir por até 24h após o exercício. Quando a relação neutrófilos/linfócitos alcança um valor de 10/1 se produz um desvio a esquerda e este é indicador de esgotamento e estresse. Contudo, foi demonstrado que o exercício moderado tem

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um efeito estimulante sobre o sistema imune, no entanto o impacto negativo do exercício extenuante pode durar vários dias. Em cavalos sem treinamento e condicionamento físico adequado, uma simples rotina de exercício afeta negativamente a função fagocítica dos macrófagos alveolares e a função neutrofílica até um dia após a atividade física. Sugere-se que a causa desse efeito é a elevada concentração de cortisol produzida em reposta ao exercício (BAYLY & KLINE, 2006).

Nesse et al. (2002) e Robson et al. (2003) investigaram o efeito da corrida sobre a resposta leucocitária de equinos PSC, observando neutrofilia, monocitose e linfopenia significativas de 12 a 16h após a corrida, caracterizando um quadro de estresse. Concluiram que o exercício de longa duração provoca um impacto negativo na imunidade inata, o qual dura vários dias após a corrida. Por outro lado, Barton et al. (2003) avaliaram a influência de corridas de diferentes distâncias em algumas características metabólicas de equinos, incluindo contagem leucocitária, não observando efeito nas variáveis examinadas.

Duncan et al. (1994) descrevem a hipoproteinemia como sendo causada por perda ou catabolismo excessivo e produção diminuída, enquanto que a desidratação é causa de valores protéicos altos, isto é, uma hiperproteinemia relativa. Segundo Flaminio & Rush (1998) o aumento na concentração de proteína plasmática é um indicador preciso da desidratação sendo mais seguro que o hematócrito, pois o mesmo pode estar afetado pela contração esplênica que acontece durante o exercício. Assim, modificações nas concentrações especialmente de albuminas, globulinas e fibrinogênio, podem ocorrer em conseqüência do exercício (BAYLY e KLINE, 2006).

9. Eletrólitos

As funções dos eletrólitos no organismo animal são múltiplas, não existindo nenhum processo metabólico que seja independente ou se mantenha inalterado diante deles. A principal função dos eletrólitos está na manutenção das forças osmóticas possibilitando o equilíbrio de líquidos entre os compartimentos intra e extracelulares. Estes, ainda, estão envolvidos na condução nervosa e despolarização de fibras musculares possibilitando a contração muscular (SILVA, 2008).

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Os efeitos do exercício nos eletrólitos séricos (sódio, potássio, cloro e cálcio ionizado) dependem diretamente da intensidade e duração do exercício e da quantidade de perdas de fluídos pelo suor (SILVA, 2008). As maiores perdas estão, geralmente, relacionadas com exercício de longa duração, principalmente quando associado a elevadas temperaturas e umidade relativa do ar. Quando as perdas hidroeletrolíticas estão associadas a déficits energéticos e termorregulatórios, existe a possibilidade do desenvolvimento de quadros de exaustão os quais podem evoluir para o óbito do animal (LACERDA-NETO et al, 2003).

O sódio (Na+) é o cátion mais importante do líquido extracelular e se encontra no suor equino em concentrações semelhantes ou superiores às do plasma. Seus valores basais se encontram entre 134 e 144 mmol/L. Sua regulação se dá, principalmente, pela ação da aldosterona nos túbulos renais distais, a qual promove sua reabsorção e excreção de potássio (ROSE, 1981).

Em exercícios de longa duração, ocorre uma grande perda de sódio, pois acompanha os níveis de água perdida no suor; no entanto, os níveis plasmáticos permanecem relativamente normais, pois as perdas de sódio e água são equivalentes (FLAMINIO et al., 1996). Por essa razão, mudanças na concentração do sódio plasmático raramente são detectadas em cavalos de enduro. A perda de sódio e fluidos após o suor prolongado resulta em desidratação hipotônica, levando a falta de vontade de beber água devido ao estímulo osmótico insuficiente (hiponatremia). A ingestão de água sem reposição de eletrólitos exacerba a diluição de sódio no fluido extracelular, contribuindo para a hiponatremia.

O potássio (K+) é o principal cátion do líquido intracelular, pois 98% do seu conteúdo corporal total está no interior das células com a finalidade de preservar a condutividade neuromuscular e a função cardíaca (SILVA, 2008). Seus valores plasmáticos normais variam entre 2,4 e 4,9 mmol/L e, geralmente, há aumento nas suas concentrações relativas à intensidade do esforço devido à sua saída da célula muscular (ROSE & HODGSON, 1994).

A concentração de potássio no suor é 8-20 vezes maior que sua concentração no plasma, por isso os níveis de potássio diminuem durante o exercício. O potássio está presente em baixas concentrações no fluido extracelular, mas sua concentração é alta nos eritrócitos e fibras musculares. Durante o exercício, o potássio passa da musculatura para o plasma, e durante o exercício intenso pode alcançar altos níveis no plasma, embora os valores sejam menores no exercício de

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baixa intensidade e longa duração. Quando cessa o exercício, o potássio volta para as células musculares. Portanto, a concentração plasmática de potássio varia de acordo com a fase do exercício e recuperação, baixos valores não necessariamente indicam perda líquida de potássio. A concentração plasmática de potássio geralmente diminui como resultado da alcalose metabólica, que direciona potássio para dentro das células, e da nova-entrada do íon no compartimento intracelular após o exercício. A desidratação aumenta a reabsorção de sódio à custa da excreção de potássio e hidrogênio, contribuindo para a hipocalemia e alcalose metabólica (FLAMINIO & RUSH, 1998).

O cálcio sérico total é a soma de três componentes (cálcio ionizado - Ca++, cálcio ligado a proteínas plasmáticas e o cálcio complexado com ânions como citrato, fosfato, bicarbonato e lactato) sendo o quinto elemento mais abundante no organismo. De modo geral, todo cálcio se encontra no meio extracelular e 99% está armazenado como cristais de apatita nos ossos e dentes. Sua fração ionizada é a forma biologicamente ativa e compõe aproximadamente 50% do total de cálcio presente no sangue, enquanto que, o restante se encontra ligado à albumina e a outras proteínas plasmáticas (SILVA, 2006).

Diminuição na concentração de albumina acarreta diminuição na concentração de cálcio total, mas não de sua fração ionizada, portanto, somente a quantificação do cálcio ionizado reflete verdadeiramente a concentração do cálcio no organismo animal. A principal função do cálcio durante o exercício é sua fundamental participação na contração muscular. Ao ser liberado pelo retículo sarcoplasmático, entra em contato com as miofibrilas desbloqueando os sítios de ligação da actina e permitindo que esta se ligue à miosina, iniciando desta forma a contração muscular (SILVA, 2006). A concentração de cálcio plasmático diminui no exercício devido às perdas pelo suor e a transferência para as células musculares (FLAMINIO & RUSH, 1998).

Um importante íon na manutenção da eletroneutralidade é o cloro (Cl-). Alterações nas concentrações de cloro plasmático durante o exercício constituem evidências da perda de cloro por meio da sudorese (SILVA, 2006). O suor prolongado resulta em perda e redução significativas de sua concentração no plasma. Quando ocorre perda excessiva de cloreto, há aumento na absorção de bicarbonato pelos rins a fim de se manter a neutralidade elétrica. A absorção renal de bicarbonato devido à hipocloremia promove o desenvolvimento da alcalose

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metabólica em cavalos de enduro. (FLAMINIO & RUSH, 1998) A alcalose metabólica se torna mais profunda em condições de alta temperatura e umidade (FLAMINIO et al., 1996).

Conforme Cardoso (2006), o magnésio é um mineral importante em varias reações celulares, participando de quase todas as ações anabólicas e catabólicas. Em adição, o íon está envolvido em numerosos processos que afetam a função muscular incluindo o consumo de oxigênio, a produção de energia e o balanço eletrolítico.

Segundo Sales (2011), durante a atividade física o magnésio é redistribuído no organismo. O tipo de exercício e o seu estado nutricional influenciam a natureza dessa redistribuição. O mesmo autor afirma que em exercícios de alta intensidade e curto prazo, a concentração sérica de magnésio aumenta temporariamente em 5 a 15%, retornando ao normal dentro de 24 horas, sendo este aumento associado ainda com a diminuição no volume plasmático.

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ARTIGO 1 - Manuscrito submetido à revista Arquivo Brasileiro de Medicina

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Artigo 1

Lactato sanguíneo como marcador metabólico na determinação do limiar anaeróbico (V4) de cavalos Crioulos condicionados para prova funcional Blood lactate as a metabolic marker in determining the anaerobic threshold (V4) of Crioulo horses

conditioned for competition functional

Resumo

A versatilidade e funcionalidade impulsionaram a criação e o mercado de cavalos Crioulos nos últimos anos. Os métodos utilizados para condicionar fisicamente esses animais ainda são efetuados de forma empírica e com pouco conhecimento sobre sua fisiologia durante o exercício físico. A determinação do limiar anaeróbico (V4) em pista é utilizado como método de avaliação de condicionamento físico e para prescrição de treinamento dentro de muitas raças. Na raça Crioula esses dados não são conhecidos. Com objetivo de determinar o limiar anaeróbico (V4) de cavalos Crioulos em treinamento foram avaliados 23 equinos hígidos. Os animais selecionados foram submetidos a testes de desempenho composto por três etapas de velocidade progressiva de 6m/s, 8m/s e 10m/s com duração de cinco minutos cada etapa até que fosse atingida a concentração de 4mmol/dL de lactato sanguíneo. As concentrações de lactato sanguíneo elevam-se a partir da velocidade de exercício de 6,0m/s sendo que 90% (n=20) dos animais atingiram 4 mmol/L de lactato em uma velocidade entre 6 – 8m/s com uma média de frequência cardíaca que variou de 121 a 140bpm nessas velocidades. Concluiu-se que a V4 do cavalo Crioulo está entre as velocidades de 6 – 8m/s e frequência cardíaca entre 121 e 140bpm.

PALAVRA-CHAVE: Limiar anaeróbico, cavalo Crioulo, exercício, lactato.

ABSTRAT

The breed´s versatility and functionality stimulated the breeding and market of Crioulo horses in recent years. The methods of physical conditioning of these animals are still performed empirically and little is known about their physiology during physical exercise. The determination of anaerobic threshold (V4) on track is used as an evaluation method of physical conditioning and for determination of training in many breeds. In Crioulo breed these data are not known. With the aim of determining the anaerobic threshold (V4) of Crioulo horses in training, 23 healthy horses were evaluated. The selected animals were submitted to a performance test on track. It consisted of three stages with increasing speed 6m/s, 8m/s and 10m/s with five minutes of duration in each step, until blood lactate concentration reached 4mmol/dL. Blood lactate concentrations increased from the exercise speed of 6,0 m/s and 90% (n=20) of the animals reached 4mmol/dL of lactate at a speed between 6-8 m/s with an average heart rate ranging from 121 to 140 bpm for these speeds. Our results demonstrate that the V4 of Crioulo horse is between the speeds of 6 - 8m/s and heart rate between 121 and 140bpm.

Referências

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