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Relig. soc. vol.33 número2

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Academic year: 2018

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Texto

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H

Patricia Birman

Professora de Antropologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – Brasil

Este pequeno texto reproduz grosso modo o que disse na despedida de Clara que nós, amigos, familiares e colegas fizemos para ela em 30 de agosto de 2013, na capela ecumênica da UERJ. A escolha da UERJ para fazer esta homenagem deveu-se ao fato de Clara ter feito da Universidade um lugar seu, no sentido pleno do termo: lugar de pesquisa, de relações de amizade e também institucionais, de ensino e de formação de estudantes – o trabalho universitário foi uma dimensão fundamental da sua vida. Sem dúvida a UERJ muito se beneficiou desta dedicação cotidiana, particularmente as Ciências Sociais que nucleamos, e expandimos como publicações, congressos, colóquios, bancas, revistas que contribuem para divulgar nossas pesquisas para um público mais amplo.

Mas eu queria mencionar um pequeno canto nesta imensa UERJ relacionado à disposição de Clara e ao seu trabalho: a “nossa sala” – a sala ocupada por um pequeno grupo, em parte confundido com a linha de Religião e Movimentos Sociais, incluindo estudos de antropologia do cristianismo, da cidade e do meio ambiente: Sandra Car-neiro, Cecília Mariz, Márcia Contins, Márcia Leite, Rosane Prado, Lia Rocha, e eu, Patricia Birman, partilhamos com Clara durante mais de 10 anos este mesmo lugar (Lia é mais recente, eu sei). Pequeno canto, apertado, desorganizado, sempre com gente entrando e saindo – a Clara bem que tentou arrumar –, sabendo que, no final das contas todas nós, mulheres amigas e colegas tínhamos uma vontade não muito explicitada de ficar ali mesmo, juntas, apesar de possíveis facilidades em alguns outros espaços. O espírito desta sala – de amigas e companheiras, capazes de falar de tudo um pouco e de abrir a porta para estudantes e colegas – para discutir projetos e formas de viver a vida – Clara especialmente cultivou.

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200 Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, 33(2): 199-206, 2013

Há uma outra casa que partilhei com Clara e também com Regina Novaes, Emerson Giumbelli, Pedro Strozenberg, Helena Mendonça, Paola Lins e Cecília Mariz: o ISER e a revista Religião e Sociedade. Não é preciso dizer o quanto foram e são importantes para nós estes vínculos.

Mulher de muitos instrumentos, capaz de fazer contas, de administrar projetos, de construir equipes e uma fina intelectual como sabemos. Buscou sempre ajeitar para todos um lugarcomum e nos ajudou a manter também uma conduta empreendedora, nutrida pela amizade e solidariedade. Na Universidade como no Iser e na Revista Re-ligião e Sociedade, Clara fez nascer projetos importantes que ela mesma se dispunha a levar adiante com todo o desgaste que isto pode significar.

Falar das casas de Clara me lembra o quanto o habitar foi um dos seus temas prediletos – associado ao conforto da intimidade, à delicadeza e o tecido fino das re-lações pessoais – sempre quis captá-los como antropóloga e vivê-los com seus próximos.

Clara sempre se ateve à tradição antropológica da etnografia com a preocupação de encontrar o bom ângulo, aquele capaz de revelar em materiais desprezados pela sua insignificância aparente o argumento que pode deslocar linhas estabelecidas. Nos seus textos não são os profetas e suas trombetas, gritos e performances que ocupam o centro da cena. Fugir do consenso seria também, no seu caso, escapar do barulho ensurdecedor que a agenda pública volta e meia nos impõe. Daí o seu esforço de valo- rizar o contraponto e a dissonância. É nos detalhes quase invisíveis ou inaudíveis que encontramos a marca maior do seu rigor e a originalidade do seu trabalho.

Estes detalhes foram tratados em dados biográficos de seus interlocutores, em sentimentos que estes exprimiram, em percursos que seguiram. Mas também no trabalho da imaginação, nas relações entretidas com o entorno, na corporalidade que revela as dimensões vividas em discrepância com os discursos oficiosos. Diríamos que a atenção voltada aos detalhes faz parte de um projeto minimalista do fazer antropológico desejado por todos, ou quase todos, mas nem sempre alcançado. A originalidade através das pequenas dissonâncias, inscritas no rigor e no respeito sempre me impressionaram no que podemos considerar como o viés antropológico e pessoal de Clara Mafra.

Luiz Fernando Duarte, há muito tempo atrás, referindo-se à Myrian Lins e Bar-ros falou que ela, ao escrever, bordava. Eu nunca esqueci isto.

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