II
REPÚBLICA, CLlENTELlSMO
E AUTONOMIA LOCAL:
O CASO DE GARIBALDI
SIRLEI TERESINHA GEDOZ·
o
presente estudo visa a uma exploração inicial, no período daRepública Velha, das relações do município de Garibaldi com o poder central do Estado do Rio Grande do Sul.
Nosso estudo baseia-se na análise da correspondência dirigida por
autoridades e comunidade garibaldense a Borges de Medeiros. Outras fontes
utilizadas são entrevistas com moradores 1 locais que viveram o período ou
ouviram "histórias" e "proezas" de parentes e amigos para conseguir ganhos
pessoais, familiares e comunitários. Esses "ganhos" compreendiam a
chegada da estrada, da escola e da própria igreja.
Sempre destacando que este estudo precisa ser aprofundado, os
dados apontam para a existência de relações de clientelismo político
interlocal e local/ autoridades centrais do Estado.
Garibaldi está localizado na região nordeste do Rio Grande do Sul.
Sua colonização foi predominantemente de imigrantes ltalianos"; outras
correntes imigratórias nessa localidade foram de suíços, alemães, poloneses e franceses.
Inicialmente denominada de Conde D'Eu3
, passou a denominar-se
• Mestranda em História na Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos. 1Arthur Denicol. Falecido em 1980, com 80 anos, em Carlos Barbosa. Líder COmunitário e político, ocupou a vereança no início da década de 1960.
Clemente Southier, 95 anos, líder comunitário, Carlos Barbosa. Idalina Baldasso, 76 anos, Carlos Barbosa.
Jacob Benedet. Falecido em 1992, com 92 anos, em Carlos Barbosa.
N José Félix Gedoz. Faleceu em 1978, com 84 anos. Líder comunitário e político. Unca exerceu cargos ou funções públicas.
2,,( ... ) italianos do ponto de vista cultural eram também aqueles provenientes de =~Incias já integradas no Estado italiano unificado quanto os austríacos de regiões vizinhas a
Ia (...) Tirol (...)" (Azevedo, 1975: 92).
3por Ato n." 474, de 11 de outubro de 1890, o governo do Estado desmembrara ambas as colõnias - Conde D'Eu e Dona Isabel, do município de São João de Montenegro, Passando as mesmas a constituírem o município de Bento Gonçalves. Em 1894 foi elevada a
Garibaldi a partir da emancipação, em
1900.
O período exato de sua colonização é controverso, como podemos verificar em Thales de Azevedo:'O
aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
p r e s id e n t e d a p r o v í n c ia , C o n s e lh e ir o F r a n c is c o X a v ie r P in t o d e L im a , n a f a laà
A s s e m b lé ia L e g is la t iv a , a f ir m a v a em m a r ç o d e 71, q u e n a c o lô n ia C o n d e D 'E u ( ... ) ,h a v ia m s id o m e d id o s
80
lo t e s c o lo n ia is d o s q u a is já s e a c h a v a m o c u p a d o s a lg u n s p o r 3 7 c o lo n o s ( . . . ) (Azevedo,1975:90).
Embora a imprecisão de dados, o mesmo Azevedo considera
"praticamente certa a ocupação" de Conde D'Eu por imigrantes, antes de
1875.
O relacionamento dos imigrantes com o poder central da Província
até a República e, após, com as autoridades estaduais, mostra-se bastante
conflituoso desde o início, embora desenhando-se também prematuramente
um quadro de clientelismo entre as partes.
Podemos utilizar como exemplo do conflito entre os colonos, a
administração da colônia e autoridades provinciais a seguinte
correspondência do inspetor de imigração, dirigida ao Presidente da
Província, em
1887:
t e n h o r e c la m a d o v á r ia s v e z e s u m a p o lí c ia
q u e g a r a n t a
a
s e g u r a n ç a in d iv id u a l d o s e m p r e g a d o s d o g o v e r n o n e s t a c o lô n iae
n ã o t e m s id o a t e n d id a t ã o ju s t a r e c la m a ç ã o .V. Sa. q u e s a b e q u e t e n h o t r ê s m il e t a n t o s c o lo n o s , s a í d o s d a s p r is õ e s d a E u r o p a ( ... )
e
q u e n ã o p o u c a s v e z e s t ê m p o s t o e m b a r a ç o a e s t a in s p e t o r ia ( . . . ) . Os c o lo n o Sa
q u e mo
g o v e r n o c o n c e d e u s u b s í d io e x t r a o r d in á r io em d in h e ir o a t é d e z e m b r o e n t e n d e m q u e t ê m d ir e it o d e r e c e b e re t e r n a m e n t e e s s e s u b s í d io
e
a lg u n s d e le s q u is e r a m r e c e b e ra
f o r ç ao
m ê s d e ja n e ir o :e, n ã o I h e s p o d e n d o d a r , p o r q u e n ã o r e c e b i, p r o m e t e r a m v ir a m a n h ã f o r ç a r - m e
a
e s s ep a g a m e n t o (AHGRS, Códice 28).
freguesia. Emancipou-se em 31 de outubro de 1900, com a denominação de Garibaldi ( J o r n a l
d o C o m é r c io ) . Garibaldi, 16/06/1980: 2).
O quadro de insatisfação dos colonos e da inspetoria de imigração
com relação ao governo é ratificado por outras correspondências
subseqüentes dos inspetores, com o mesmo teor da citada.
Já ao entrarmos no período republicano, que contempla em torno de 20 anos de colonização da área, há dois fatos a destacar: a reclamação direta dos colonos ao Presidente do Estado e a conseqüente demonstração
de engajamento político destes.
Entre os dados que nos permitem essa constatação estão os
encontrados na documentação A r r o la m e n t o s d a s r e c la m a ç õ e s d e d iv e r s o s m u n ic í p io s n o p e r í o d o d a R e v o lu ç ã o F e d e r a lis t a (AHGRG, Códice 28, s/data).
A
queixa básica é a "requisição" e o posterior "extravio" de cavalos, mulas e carretas, além da exigência de fornecimento de víveres. Entre as forças querequisitaram tais recursos encontram-se arroladas as do Cel. Firmino de
Paula, do Gal. Arthur Oscar, do Cel. Jacobsen, do Gal. Mena Barreto, do Capo Miguel Pereira, "das forças legais". O maior número de queixas envolve as forças do Cel. Arthur Oscar.
Os dados acima apresentados nos permitem alguns
questionamentos: as reclamações dos colonos sobre "empréstimos" e
posterior "extravio" de animais e outros, por forças predominantemente
legalistas, constituem-se num protesto de quem quer apenas "ficar de fora"
dos conflitos? Manifestação de simpatia pelas forças federalistas? O que se
mostra mais evidente é que estes discordam das medidas
político-ádministrativas tomadas por Júlio de Castilhos.
Segundo o depoimento de Clemente Southier,
95
anos, sempremorador de Santa t.uíza", interior de Carlos Barbosa", o envolvimento dos
moradores do local na Revolução de
1893
visava apenas a "manter a paz".Segundo ele, o "colono só quer a paz". Isso porque a Revolução patrocinou
a
"formação de grupos de bandidos que se aproveitavam da situação".Aqui cabem outras interrogações: quem eram esses "bandidos"?
apenas criminosos comuns? ou seriam uma construção ideológica que tanto federalistas como legalistas impuseram ao seu inimigo para descaracterizá-Io como adversário político?
4Santa Luíza, conjuntamente com uma área de 43 quilômetros quadrados, denominada Santa Clara, pertenceu a Montenegro até 1940, quando a mobilização comunitária obteve a anexação ao município de Garibaldi, hoje pertence ao município de Carlos Barbosa. 5Carlos Barbosa foi terceiro distrito de Garibaldi, e emancipou-se em25de setembro de 1959. Em 1915 já reivindicara a emancipação, alegando valores morais e econômicos SUperiores a Garibaldi. Em 1910 Carlos Barbosa possuía estação férrea;
Garibaldi só obteve em 1918.
O atual município de Barão emancipou-se de Carlos Barbosa.
214
Quanto à afirmação de Southier de que o colono "apenas quer
a
paz", e conseqüentemente não teria interesse político maior, o mesmo autor
se contradiz ao admitir que havia uma certa "simpatia" pelos federalistas e
que Gaspar Silveira Martins era um homem .de "grande sabedoria" e de
"ideais".
Não nos parece ser casualidade o fato de Southier ter um cunhado
com .0 nome de .Gaspar e o outro de Martin, e um sobrinho com a granja
denominada "Maragata".
No mesmo depoimento, Southier fala da formação de patrulhas
locais, .encarregadas de vigiar a entrada das estradas durante a noite. Afirma
ainda que os colonos receberam armas de fogo para se defenderem. Não
especificou a origem delas.
O envolvimento de imigrantes e seus descendentes na Revolução
Federalista pode ainda ser confirmado por outros episódios, conforme o teor
da
correspondência do Intenden.te enviada a Júlio de Castilhos:aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
1 9 d e a b r il. d e 1 8 9 5
Ao E x c e le n t í s s im o S r . P r e s id e n t e d o E s t a d o . E m c u m p r im e n t o ao c o n t id o em o f í c io d e
V.
E x c e lê n c ia ( . . . ) , d e24
d e ja n e ir o d o c o r r e n t e a n o , c a b e - n o s in f o r m a ro
s e g u in t e :E m f e v e r e ir o d o a n o p r ó x im o f in d o f o i c o m
e f e it o assassinado n a s p r o x im id a d e s d a
s e d e d a e x - c o lô n ia C o n d e D E u ,
o
in d iv í d u od e n o m e F a n in i G io v a n n i, n ã o p o r f o r ç a s
f e d e r a is , mas p o r q u a t r o o u c in c o
r e v o lu c io n á r io s c a p it a n e a d o s p o r u m c é le b r e L o r e n z o n i, a lc u n h a d o ,
o
G o m e r c in d o , p o r t e rp e r t e n c id o às f o r ç a s d e s t e , o q u a l e s t a n d o
n a s d e P a lm e ir a em A lf r e d o C h a v e s , d a li
d e s e r t o u p a r a ir ju n t a r - s e
a
A lt e n h o f e r n . F o in a q u e la o c a s iã o q u e
o
d it o L o r e n z o n i e m c o m p a n h ia d e o u t r o s c a m a r a d a s n a m a io r iad e o r ig e m it a lia n a , c o m e t e u
o
in f a m e a s s a s s in a t o ( . . . ) . F a n in i G io v a n n i f o i p r a ç ad a g u a r d a m u n ic ip a l, d e ix a n d o - o d e s e r p o r
o c a s iã o d a e n t r a d a d e f o r ç a s m a r a ga t a s n e s t a V ila em n o v e m b r o d e
1893 (...)
(AHGRS., maço 347, lata 119 vertical).
A correspondência acima referida denota o engajamento direto de
colonos entre forças beligerantes, ao mesmo tempo que confirma oficialmente
216 BIBlOS. Rio Grande. 213-221. 199
5 .
a mcursão de forças rnaraqatas. também na citada região. Fatos que
. contradizem ainda todo o "esforço" por parte' das autoridades estaduais de manter os colonos fora do "processo" político.
Por outro lado, confrontando o documento acima com a entrevista
de Clemente Southier, surge uma nova interrogação: seria diferenciado o
grau de participação do imigrante e seus descendentes conforme o espaço?
.,. . Nesse contexto, Arthur Ferreira Filho faz uma extensa citação de
passagem de tropas maragatas na região, cita "Estrela, Venâncio Aires,
,Alfredo Chaves (. ..),"(Ferreir~ FUno, 197~: 169-172). O que permite apontar
para diférentesg-raus de envolvirnento direto ou não de determinados locais.
Outro fator a destacar, e que também se opõe ao discurso oficial do
PRR de não visar à obtenção de votos, encontra-se na mesma
correspondência das queixas .dos colonos. Entre os dados encontram-se
, especificados o número de testemunhas que o reclamante possui, bem como
a
condição do reclamante de eleitor. Que interesse poderia ser,' senão opolítico, o fato de ser ou não eleitor? Destaque-se que
num
universo de vinte. e uma queixas, cinco receberama.observação "é eleitor".
. Pelo exposto acima, podemos demonstrar a inserção do colohato
de Garibaldi na política estadual, na República Velha.
E
cremos-que essainserção se caracteriza pelo clientelismo.
Definimos clientelisrno como uma forma de dominação e exploração
onde se destaca como fator importante do processo
a.
"intermediação",ouseja:
a
'parcela da população excluída do acesso às decisões políticas"recorre" ao "intermediário" para "expor" as suas necessidades, recorre ao "grande chefe", aquele que pode "resolver", que pode "dar".
No clientelismo há uma relação de reciprocidade entre o provedor e o cliente; aqui a reciprocidade contém o "suprimento" das "necessidades"
'do clienteeo cliente retribui com o voto.
Destaque-se que as "necessidades" dos clientes, no caso do nosso
estudo, raramente manifestam desejo de mudanças estruturais,
predominando' amplamente aspirações por benefícios pessoais.
Eli Diniz, no estudo que
fáz
sobr; o Chaguismo no Rio de Janeiro,assim define o clientelismo político:
( . . .) f o r ç a I n t e g r a n t e d a s e n g r e n a g e n s d e u m
s is t e m a g lo b a l d e e x p lo r a ç ã o
e
d o m in a ç ã o( . . . ) t r a t a - s e d e u m in s t r u m e n t o d e in c o r p o
-r a ç ã o d a s massas ao q u a l os g r u p o s e
desses
d o m in a n t e s t e n d e ma
r e c o r r e r emd e t e r m in a d a s c ir c u n s t â n c ia s (Diniz, 1982: 19).
Portanto, o clientelismo floresce à sombra das desigualdades sociais
e politicas e engloba ainda elementos patriarcais e autoritários, não se
restringindo exclusivamente às sociedades agrárias.' '.
Vejamos correspondência que exemplifica relações de clientelisrno:
aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
E x c e lê n c ia , p e r m it a q u e
a
í n f im a d o sseus
s ú d it o s le v a n t ea
v o z a t é V a . E x a . p a r a p e d ir a ju á a n u m a im e n s a n e c e s s id a d e ( .. .)s e i q u e q u a n d o
se
t r a t a d e ju s t iç a , V a . E x a . d iq n e - s ea
o u v ir ao p o b r e c o m oao
r ic o ( . . .) . A h u m ild e c r ia d a . (ABM, IHGRS., 2192).(grifas nossos)
A suplicante pede pela devolução do dinheiro que emprestara
à
comissão encarregada de constituir um convento em Lajeado;
para
tantoapela para a "justiça inabalável" e . os sentimentos "humanitários" que
considera característica de Borges de Medeiros.
É possível destacar na correspondência aspectos da idealagia
positivista que norteava a política rio-grandense, cama a expressão "justiça
inabalável", mas justiça de quem? Aqui se ressaltam matizes clientelísticos, do "grande pai", do "provedor'.
Outras correspandências ratificam a quadro de clientelisma político
relativo ao. local e período. de nosso estuda, cama os que seguem:.
De Jacab Ely, Intendente de Garibaldi, a Borges de Medeiros, em 11 de maio de 1905:
( . . . ) t r a t a n d o - s e c o m o se t r a t a d e f u n c io n á r io
h o n e s t o , in t e lig e n t e , t r a b a lh a d o r
e
e x c e le n t e c o m p a n h e ir o p o lí t ic o , ju lg o - m e o b r ig a d o a p e d ir a Va. E x a . c a s o s e ja
p o s s í v e l, r e in t e g r á - I a n o r e f e r id o c a r g o d e p r o f e s s o r ( . . .) d o c o r r e lig io n á r io
e
a m ig od e d ic a d o (ABM, IHGRS, 2201). (grifos
nossos)
Em 19 de dezembro de 1907:
( . . .) t e n h o a s u b id a h o n r a em a p r e s e n t a r a
Va. E x a . o p o r t a d o r d e s t a , n o s s o c o r r e lig io n á r io p o lí t ic o ( . . . ) q u e v a i f a z e r
c o n c u r s o p a r a u m a e s c o la p ú b lic a . R o g o
a
Va. E x a . f a c ilit a r o q u e f o i p o s s í v e l a n o s s o c o m p a n h e ir o (ABM, IHGRS, 2219). (grifOS
nossos)
218 BIBlOS. Rio Grande, 213·221, 1995.
Do intendente Aurélio. Parta a Barges de Medeiros, em 26 de
fevereiro de 1913:
( . . . ) t e m e s t e p o r f im p e d ir a Va. E x a . c o m
m u it o e m p e n h o
a
o b t e n ç ã o n a E s c o la d eA g r o n o m ia
e
V e t e r in á r ia d e d u a s m a t r í c u la sp a r a os m e n o r e s L e o p o r li
e
A c h y le sM in c a r o n i f ilh o s d o n o s s o a r d o r o s o
c o m p a n h e ir o D o m in g o s M in c a r o n i (ABM,
IHGRS, 2222).
A grande maioria da carrespandência das intendentes de Garibaldi
a Barges de Medeiros referia-se a pedidas de emprega e nameação para
cargos públicas (professares, juízes, chefes de polícia, intendentes) de
amigas, parentes, carreligianárias e até pedidos pessoais, senda sempre
dada muita ênfase ao fato. de a pedida ser para um "correligianária", o que
para nós caracteriza um quadro de clientelisma.
Outro fato. que se caracteriza na carrespandência das intendentes
para Barges de Medeiros é uma preocupação com a obtenção de votos", fato.
que geralmente vai contra a própria política de Júlio. de Castilhas. Para
Castãhos,
6De Jacob Nicolau Ely, em 29 de novembro de 1906:
"( ... ) Venho bastante acanhado e convencido de tornar-me fastidioso em lembrar a Va. Exa. a questão do entroncamento da via férrea, devido à qual não poderei, como anteriormente, garantir resultados eleitorais quase unânimes, esta declaração julgo salutar para minha pessoa (...)"(ABM, INGRS, 2211).
Garibaldi: 21 de abril de 1915 Remetente: Aurélio Porto (intendente) Destino: Borges de Medeiros
"( ...) Volto a importunar Va. Exa. sobre assuntos desagradáveis que se prendem à pe~sca de Domingos Mincarone. De conformidade com as ordens de Va. Exa. lancei um empréstimo de 150.000$000rs para atender às despesas com o ramal férreo, e cujos estudos está se processando ...).
Anteontem, porém, chegou ao meu conhecimento que Mincarone, Antônio Michelon, ~Oão Osvaldo Ely (irmão do Coronel Jacob e em cujas terras passa o ramal férreo) e outro Indivíduo de origem alemã, residentes em Carlos Barbosa, andaram percorrendo os núcleos COloniais italianos e alemão em propaganda contra esse empréstimo, cuja realização, com a COnstrução do ramal férreo, irá, segundo sua curta visão interesseira, prejudicar Carlos Barbosa.
A fim de satisfazer ambições quase adormecidas das extintas facções políticas, que aqui se digladiaram, como são todos eles antigos elementos do Coronel Júlio Azambuja (... ), aliciam colonos para irem, segundo estou informado, por estes dias, àpresença de Va. Exa. pedir a minha retirada dessa vila (...)" (ABM, IHGRS, 2238).
818LOS, Rio Grande, 7:213-221, 1995.
1111111,
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
(...) o
aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
v o t o n ã oé
e n e m p o d e s e r ov e r d a d e ir o in s t r u m e n t o c a p a z d e d e t e r m in a r
p r e c is a m e n t e
o
p r o f u n d o t r a b a lh o d af o r m a ç ã o d e o p in iõ e s , o p e r a d o f o r a d ~
p r e o c u p a ç ã o e le it o r a l, q u e se d e s liz a nas c o r r e n t e s s u p e r f ic ia is . 7
Segundo Loiva Otero Félix, "não há contradição, por parte de
castilhismo nem pelo borgismo", no fato de que "desconsideram" as urnas
mas ao mesmo tempo mantêm um sistema eleitoral, ainda que de fachada.
No caso da correspondência por nós analisada, há preocupação explícita
com o voto do PRR. Para Félix, o voto, mesmo que sendo um "dado vazio de significado para a filosofia positivista castilhista, ( ...) (é) indispensável para a a p a r ê n c ia le g a l, necessária à continuidade do sistema" (Félix, 1987:69).
Se até o momento podemos constatar a inserção do colonato de.'
Garibaldi na política estadual, também através da correspondência é possível
identificar uma aspiração de autonomia local, ainda que a busca de
autonomia seja representada pelo envio de abaixo-assinado das diversas
linhas e distritos, sugerindo nomes ao cargo de intendente, argumentando,
para tanto, que o "indicado é conhecedor dos problemas do município",
possui boa "índole", boa "moral"."
Podemos também apontar para uma relação política com matizes
clientelísticos cujo intermédio principal entre o colono e o governo central
gaúcho é o intendente, "liderança" nem sempre vista com bons olhos pelos colonos.
Não podemos desconhecer que a nomeação privilegiava nomes que
favorecessem o controle do governo central rio-grandense sobre o colono.
7Castilhos, Júlio de, apud Loiva Otero Félix, op. cit., p.74 8Garibaldi - 25de junho de 1904
Rem.: abaixo assinado Dest.: Dr. Borges de Medeiros
Abaixo-assinado dos eleitores, comerciantes e colonos estabelecidos na 2." secção da linha Boa Vista do município de Garibaldi, que reforçam o abaixo-assinado dos moradores da 1." secção em favor da eleição do cidadão João Carlos Rodrigues da Cunha pelos motivoS citados no outro abaixo-assinado.
Assinado por 87 pessoas, sendo que 24 são eleitores
53 são colonos 2 são negociantes 1 é sapateiro 1 é capitalista
6 não identificados (ABM, IHGRS, 2197).
BIBLOS, Rio Grande, 213-221, 1995
Salientamos a necessidade de divulgação de estudo amplo e
aprofundado ,sobre as relações de pooer local nessa área, e
conseqüentemente o seu grau de eXClusão/participação na conjuntura política
estadual.
Registramos que Loiva Otero Félix, 8enito 8isso Schimidt e Haike
Klebo da Silva têm-se dedicado ao tema e estão com um livro para ser
lançado. No entanto, enquanto não temos tais dados, esperamos ter
contribuído com a nossa comunicação para o c o n h e c im e n t o das relações de
poder no m u n ic í p io de Garibaldi e dos municípios que dele se
desmembraram.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAs
1. AZEVEDO, Thales. I t a lia n o s e g a ú c h o s : os anos pioneiros da colonização italiana no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: A NaçãO/Instituto Estadual do Livro, 1975.
2. DINIZ, EIi. V o t o e m á q u in a p o lí t ic a : patronagem e clientelismo no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
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Prefeitura de Carlos Barbosa, 1979.