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Contratos de Crédito Rural e suas abusividades / Rural Credit Agreements and their abuse

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.4,p.21529-21542 apr. 2020. ISSN 2525-8761

Contratos de Crédito Rural e suas abusividades

Rural Credit Agreements and their abuse

DOI:10.34117/bjdv6n4-356

Recebimento dos originais: 28/03/2020 Aceitação para publicação: 28/04/2020

Thiago Novaes Sahib

Pós-Graduação em Direito Civil e Processo Civil pela Escola Paulista de Direito. Professor de Direito da Faculdade Estácio de Sá Campo Grande – MS.

Instituição: Graduação em Direito na Universidade para Desenvolvimento da Região do Pantanal (UNIDERP)

Endereço: Rita Vieira de Andrade, 658, apto 162, torre 01, Bairro Parque Residencial Rita Vieira, CEP 79.052-420, Campo Grande – MS, Brasil.

E-mail: thiago@psv.adv.br

Paula Haib Teixeira De Paiva Sahib

Engenheira Civil, Pós-Graduada em Engenharia de Segurança do Trabalho e MBA de Gerenciamento de Obras, Tecnologia e Qualidade da Construção.

Instituição: Graduada – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Endereço: Rita Vieira de Andrade, 658, apto 162, torre 01, Bairro Parque Residencial Rita

Vieira, CEP 79.052-420, Campo Grande – MS, Brasil. E-mail: paulahaib@hotmail.com

RESUMO

No presente trabalho abordaremos os aspectos legais dos créditos rurais, iniciando com as formas legais existentes, com suas tipificações no Decreto Lei 167/67. Após estabelecer quais as formas de obtenção de crédito rural, com suas distinções, serão analisadas aplicação do Código de Defesa do Consumidor, bem como, as ilegalidades e abusividades existentes nos contratos, os quais possibilitam a revisão por meio de processos judiciais pertinentes.

Palavras chaves: Direito agrário; Crédito Rural; Cédulas Rurais; Cédula Rural Pignoratícia; Cédula Rural Hipotecária; Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária; Nota de Crédito; Juros remuneratórios; Juros Moratórios; Comissão de Permanência; Correção Contratual.

ABSTRACT

In the present work we will discuss the legal aspects of rural credits, starting with the existing legal forms, with their typifications in Decree Law 167/67. After establishing which forms of obtaining rural credit, with their distinctions, will be analyzed the application of the Consumer

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.4,p.21529-21542 apr. 2020. ISSN 2525-8761 Protection Code, as well as the illegalities and abusiveness in the contracts, which make it possible to review them through relevant judicial processes.

Key words: Agrarian law; Rural credit; Rural Bank Notes; Rural Pignoratícia Bank Note; Rural Mortgage Note; Rural Pignoratícia and Mortgage Note; Credit note; Remuneration interest; Interest on arrears; Permanence Committee; Contractual Correction.

1 INTRODUÇÃO

O trabalho utilizou-se de pesquisas em leis, doutrinas e especialmente jurisprudências, para assim delimitar quais são os créditos rurais existentes, estabelecendo suas distinções e aplicações legais no Decreto Lei n. 167/67.

Após distinguir quais cabimentos legais, constatou-se aplicação do Código de Defesa do Consumidor, porque as financeiras, cooperativas e até mesmo os bancos se enquadram no conceito legal de fornecedor. Ao passo que os contratos celebrados entre os envolvidos caracterizam por contratos de adesão, os quais são pré-estabelecidas pelos fornecedores sem qualquer possibilidade de alteração pelos consumidores, ficando a estes a limitação de revisão judicial de qualquer cláusula.

Por fim, apresentou-se algumas abusividades, as quais são matérias amplamente debatidas junto aos tribunais estaduais e até mesmos pelo Superior Tribunal de Justiça.

2 O QUE É CRÉDITO RURAL

Inicialmente previsto pelo Decreto Lei número 167 de 14 de fevereiro de 1967, onde regulamenta em seu artigo primeiro que o financiamento rural concedido pelos órgãos integrantes do sistema nacional de crédito rural e pessoa física ou jurídica poderá efetivar-se por meio das células de crédito rural previstas neste Decreto-lei.

A partir do Decreto Lei, foi estabelecida quatro formas de cédulas rurais, as quais estão previstas no artigo 9º, como, Cédula Rural Pignoratícia, Cédula Rural Hipotecária, Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária e Nota de Crédito Rural.

A Cédula Rural Pignoratícia, refere-se as operações que possuem como garantia bens móveis, ao passo que os bens apenhados continuam na posse imediata do emitente ou do terceiro prestante da garantia real, que responde por sua guarda e conservação como fiel depositário, seja pessoa física ou jurídica. Cuidando-se do penhor constituído por terceiro, o

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.4,p.21529-21542 apr. 2020. ISSN 2525-8761 emitente da cédula responderá solidariamente com o empenhador pela guarda e conservação dos bens apenhados1.

Já a Cédula Rural Hipotecária, consiste em uma operação que tem como garantia bens imóveis rurais ou urbanos, incluindo as construções, respectivos terrenos, maquinismos, instalações e benfeitorias2.

Além disso, incorporam-se na hipoteca constituída as máquinas, aparelhos, instalações e construções, adquiridos ou executados com o crédito, assim como quaisquer outras benfeitorias acrescidas aos imóveis na vigência da cédula, as quais, uma vez realizadas, não poderão ser retiradas, alteradas ou destruídas, sem o consentimento do credor, por escrito.3

A Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária, tem como garantia bens móveis e imóveis em um só tempo em penhor e hipoteca na própria cédula. Nesta cédula, deve-se conter todos os requisitos do artigo 25 do Decreto 167/67, sendo:

I - Denominação "Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária".

II - Data e condições de pagamento havendo prestações periódicas ou prorrogações de vencimento, acrescentar: "nos têrmos da cláusula Forma de Pagamento abaixo" ou "nos têrmos da cláusula Ajuste de Prorrogação abaixo".

Ill - Nome do credor e a cláusula à ordem.

IV - Valor do crédito deferido, lançado em algarismos e por extenso, com indicação da finalidade ruralista a que se destina o financiamento concedido e a forma de sua utilização.

V - Descrição dos bens vinculados em penhor, os quais se indicarão pela espécie, qualidade, quantidade, marca ou período de produção se for o caso, além do local ou depósito dos mesmos bens. (grifo nosso)

VI - Descrição do imóvel hipotecado com indicação do nome, se houver, dimensões, confrontações, benfeitorias, título e data de aquisição e anotações (número, livro e folha) do registro imobiliário. (grifo nosso)

VII - Taxa dos juros a pagar e da comissão de fiscalização, se houver, e tempo de seu pagamento.

VIII - Praça do pagamento.

1 Art. 17 do Decreto 167/67 2 Art. 21 do Decreto 167/67 3 Art. 22 do Decreto 167/67

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.4,p.21529-21542 apr. 2020. ISSN 2525-8761 IX - Data e lugar da emissão.

X - Assinatura do próprio punho do emitente ou de representante com poderes especiais.

Por fim, a última forma é a Nota de Crédito, “o devedor não apresenta garantias reais, sendo a sua emissão e utilização baseada apenas no seu crédito pessoal, levando em consideração a sua confiança, idoneidade e lealdade do devedor4

Ao passo que com inadimplência dos Contratos acima trazidos, é possível o credor ajuizar as ações executivas correspondentes, podendo, inclusive a qualquer tempo realizar as vendas dos bens dados como garantias, seja ele imóvel ou móveis, desde que mediante caução idônea.

Contudo, os problemas dos devedores, geralmente iniciam na inadimplência e se agravam nas execuções, posto que, muitas vezes os títulos de créditos possuem abusividades e ilegalidades.

Para melhor demonstrar as situações, passamos a analisar cada excesso que geralmente apresentam os contratos firmados com as financeiras, cooperativas ou bancos.

3 APLICAÇÃO DO CDC.

O contrato celebrado com as financeiras, cooperativas ou bancos são usualmente de adesão, que são contratos onde as cláusulas são preestabelecidas e fixadas exclusivamente pelo fornecedor, não cabendo ao contratante modificar, ficando sujeito ao estipulado.

A partir disso, não há dúvida da aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor aos contratos de crédito rural, uma vez que traduzem uma relação de consumo. Primeiro porque as financeiras, cooperativas e até mesmo bancos, são considerados Fornecedores, conforme artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor. Vejamos:

“Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

4 Borges Antonio Moura, Curso Completo de Direito Agrário / Antonio Moura Borges, 5ª Edição Campo Grande,

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.4,p.21529-21542 apr. 2020. ISSN 2525-8761 § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.”

E a partir da aplicação do Código de Defesa do Consumidor, temos que em seu art. 6º, inc. V, adotou expressamente a teoria da imprevisão (rebus sic stantibus), possibilitando a revisão dos contratos, estabelecendo que são direitos básicos do consumidor, verbis:

Art. 6º. V. A modificação de cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas

Assim, havendo desequilíbrio entre as partes contratantes, impõe-se a revisão do contrato pela parte hipossuficiente, excluindo-se as cláusulas desfavoráveis, restabelecendo o equilíbrio contratual. No dizer de Sílvio de Salvo Venosa:

“No contrato de nossa época, a lei prende-se mais à contratação coletiva, visando impedir que as cláusulas contratuais sejam injustas para uma das partes. Assim, a lei procurou dar aos mais fracos a superioridade jurídica para compensar a inferioridade econômica”5

Porém, a revisão contratual, só se dá com ajuizamento de ação revisional ou até mesmo com a chamada “reconvenção6” a qual é apresentada como forma de defesa nas ações de cobrança ajuizadas pelas fornecedoras.

Determinado a possibilidade legal dos devedores contratantes de crédito rural buscar revisão das cláusulas abusivas, imperioso estudarmos algumas ilegalidades, dentre as quais são usuais nos contratos celebrados entre fornecedores e consumidores.

4 ILEGALIDADES COBRADAS POR BANCOS OU COOPERATIVAS

4.1 JUROS REMUNERATÓRIOS - LIMITADOS EM 12% AO ANO - JUROS MORATÓRIOS - 1% AO ANO NAS CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL.

Primeiramente devemos definir e distinguir os juros remuneratórios dos juros moratórios, o primeiro tem objetivo a lucratividade, o resultado que a financeira/cooperativa

5 Direito Civil, Teoria Geral das Obrigações es e Teoria Geral dos Contratos, Ed. Atlas, 4ª edição, p. 389 /390 6 Artigo 43 do Código de Processo Civil: Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.4,p.21529-21542 apr. 2020. ISSN 2525-8761 ou banco ganha durante o tempo em que o consumidor usufrui do crédito. Traduzindo, equivale ao lucro de quem empresta o crédito, lembrando que o objetivo de todo operador de crédito é a lucratividade.

Por sua vez, os juros moratórios são aqueles pagos pelo consumidor em decorrência do seu inadimplemento, possui uma função punitiva pela inadimplência dos prazos estabelecidos em contrato.

Sobre os juros remuneratórios encontra-se pacificado nos tribunais o entendimento de que a taxa aplicada nos contratos de Cédulas de Crédito Rural deve ser de 1% ao mês, haja vista que o Conselho Monetário Nacional7 não autorizou as instituições financeiras à cobrança de percentual superior.

Isto porque, o art. 5º do Decreto-Lei n. 167/1967, estabelece que as taxas de juros devem ser fixadas pelo Conselho Monetário Nacional. Assim, não tendo sido fixadas as taxas de juros, permanece válida a norma prevista no Decreto 22.626/33, Lei da Usura, que dispõe sobre os juros nos contratos.

Nesse sentido:

E M E N T A - APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO CONSTITUTIVA NEGATIVA DE NULIDADE DE CLÁUSULAS DE CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL C/C DECLARATÓRIA E MANDAMENTAL DE PRORROGAÇÃO DE DÍVIDA EM DECORRÊNCIA DE FRUSTAÇÃO DE SAFRAS - JUROS REMUNERATÓRIOS - CÉDULA RURAL - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA - CUSTAS PROCESSUAIS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - ARTIGO 21 DO CPC - RECURSO DESPROVIDO. 1. Nas cédulas de crédito rural, até que venha a regulamentação do Conselho Monetário Nacional, incide a limitação dos juros remuneratórios em 12% (doze por cento) ano, por aplicação do Decreto 22.626/33. 2. A comissão de permanência não deve ser aplicada às cédulas de crédito rural, tendo em vista possuir regramento próprio. 3. Se cada litigante for em parte vencedor e vencido, serão recíproca e proporcionalmente distribuídos e compensados entre eles os honorários e as despesas, conforme artigo 21 do CPC. (TJMS . Apelação n. 0000091-45.2008.8.12.0020, Rio Brilhante, 3ª Câmara Cível, Relator (a): Des. Fernando Mauro Moreira Marinho, j: 16/06/2015, p: 30/06/2015)

7 O Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão superior do Sistema Financeiro Nacional e tem a

responsabilidade de formular a política da moeda e do crédito, objetivando a estabilidade da moeda e o desenvolvimento econômico e social do País. (http://www.fazenda.gov.br/assuntos/cmn)

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.4,p.21529-21542 apr. 2020. ISSN 2525-8761 No mesmo sentido é entendimento do STJ:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO (ART. 1.042 DO CPC/15)-AÇÃO CONSTITUTIVA NEGATIVA DE NULIDADE DE CLÁUSULAS C/C DECLARATÓRIA E MANDAMENTAL DE PRORROGAÇÃO DE DÍVIDA - CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL - LIMITAÇÃO DE JUROS REMUNERATÓRIOS - DECISÃO MONOCRÁTICA DA PRESIDÊNCIA DO STJ QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO - INSURGÊNCIA RECURSAL DO RÉU. 1. As questões postas à discussão foram dirimidas pelo Tribunal de origem de forma suficientemente ampla, fundamentada e sem omissões. Consoante entendimento desta Corte, não importa negativa de prestação jurisdicional o acórdão que adota para a resolução da causa fundamentação suficiente, porém diversa da pretendida pelo recorrente, decidindo de modo integral a controvérsia posta. 2. As cédulas de crédito rural, comercial e industrial acham-se submetidas a regramento próprio (Lei nº 6.840/80 e Decreto-Lei nº 413/69) que confere ao Conselho Monetário Nacional o dever de fixar os juros a serem praticados e que, diante da omissão desse órgão governamental, incide a limitação de 12% ao ano, prevista no Decreto nº 22.626/33 (Lei da Usura). Precedentes. 3. O posicionamento adotado na decisão recorrida coincide com a orientação desta Corte Superior, portanto é inafastável a aplicação do óbice inserto na Súmula 83 do STJ. 4. Agravo interno desprovido. (AgInt no AREsp 1052751/PR, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 17/04/2018, DJe 26/04/2018)

PROCESSUAL CIVIL. JULGAMENTO MONOCRÁTICO PELO RELATOR. POSSIBILIDADE. SÚMULA 568/STJ. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS E CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. JULGADO EM HARMONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. SÚMULA 83/STJ. 1. Nos termos da Súmula 568 do STJ, editada sob a égide do novo CPC, "o relator, monocraticamente e no Superior Tribunal de Justiça, poderá dar ou negar provimento ao recurso quando houver entendimento dominante acerca do tema". Ciente disso, a decisão ora hostilizada foi amplamente fundamentada na atual e dominante jurisprudência deste Tribunal, não havendo falar, portanto, em violação do princípio da colegialidade. 2. Ademais, no tocante à suposta afronta ao art. 932, IV, do CPC/2015, o STJ entende que eventual violação do mencionado dispositivo legal será suprida com a ratificação da decisão pelo órgão colegiado com a interposição de Agravo Interno. 3. A jurisprudência desta Corte Superior entende que as cédulas de crédito rural, industrial e comercial submetem-se a regramento próprio, que confere ao Conselho Monetário Nacional o dever de fixar os juros a serem praticados. Não havendo

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atuação do referido órgão, adota-se a limitação de 12% ao ano prevista no Decreto n. 22.626/1933. 4. No mais, a jurisprudência do STJ, firmada por ocasião do julgamento do Recurso Especial 1.061.530/RS, submetido ao rito dos recursos repetitivos, fixou entendimento de que "o reconhecimento da abusividade nos encargos exigidos no período da normalidade contratual (juros remuneratórios e capitalização) descaracteriza a mora". 5. Agravo Interno não provido. (AgInt nos EDcl no REsp 1268982/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/03/2017, DJe 19/04/2017)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS E CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. JULGADO EM HARMONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Não há que se falar em violação do art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido aprecia todos os argumentos suscitados pelo recorrente, sendo certo que o mero descontentamento da parte com o resultado do julgamento não configura negativa de prestação jurisdicional. 2. As cédulas de crédito rural, industrial e comercial submetem-se a regramento próprio, que confere ao Conselho Monetário Nacional o dever de fixar os juros a serem praticados. Não havendo atuação do referido órgão, adota-se a limitação de 12% ao ano prevista no Decreto n. 22.626/1933. Precedentes. (...) 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1313569/MS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/10/2015, DJe 19/10/2015)

A partir da Lei 22.626/33, temos que no parágrafo 3º do artigo 1º, estabelece que a taxa de juros deve ser estipulada em escritura pública ou escrito particular, e não o sendo, entender-se-á que as partes acordaram nos juros de 6% ao ano.

Já quanto aos juros moratórios nas cédulas de crédito rural somente poderão ser eleváveis de 1% ao ano conforme o estipulado no art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei 167/67.

A título de exemplo temos um contrato rural onde os juros são absurdos, de 6,892321% ao mês, o que dá 125 % ao ano:

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Aqui temos um excesso de juros em astronômicos 124% ao ANO !!!!

Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, a Lei n.º 4.595/1964 está revogada na parte que outorga poderes ao Conselho Monetário Nacional para tratar de juros, de forma que o Decreto n.º 22.626/1933, que era norma geral inaplicável com relação às instituições bancárias por haver norma especial, voltou a subsistir em sua integralidade, ou seja, atingindo até as operações bancárias, inclusive as cédulas de crédito rural, para limitar os juros remuneratórios ao patamar de 12% ao ano.

A propósito, já decidiu o STJ: ” Por fim, no que tange aos juros moratórios, a jurisprudência desta Corte já sedimentou-se no sentido de que nas cédulas de crédito rural, regidas por legislação específica, a cobrança a dos juros de inadimplência somente poderá ser elevável de 1 % ao ano, conforme o estipulado no art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei 167/67.“ (AgRg no REsp 557438/MG ; AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2003/0121276-2 - Ministro JORGE SCARTEZZINI - DJ 15.08.2005 p. 320).

Portanto, diante do apresentado, temos que os juros moratórios se limitam à 12% ao ano conforme o estipulado no art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei 167/67.

4.2 ILEGALIDADE DE CAPITALIZAÇÃO DE JUROS DIÁRIOS

Outro aspecto existente nos contratos de crédito rural a capitalização dos juros pactuada em periodicidade diária, modalidade que se reputa abusiva e exagerada, devendo no caso, incidir a capitalizados de forma anual.

A ilegalidade está prevista no artigo 4º do Decreto 22.626/33, que estipula:

Art. 4º. E proibido contar juros dos juros: esta proibição não compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.4,p.21529-21542 apr. 2020. ISSN 2525-8761 Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL (2). EMBARGOS À EXECUÇÃO. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL PIGNORATÍCIA. 1. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. INAPLICABILIDADE. 2. EMBARGOS À EXECUÇÃO. REVISÃO DOS CONTRATOS ORIGINÁRIOS. 3. CAPITALIZAÇÃO DIÁRIA. SÚMULA 93 DO STJ. 1. Em que pese os mutuários figurem como consumidores intermediários, impossível a aplicação do Código de Defesa do Consumidor ao caso sub judice, uma vez que os créditos derivados da cédula rural pignoratícia foram utilizados para investir em sua atividade profissional e em momento algum eles obtiveram êxito em demonstrar sua vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica 2. É vedada a cobrança de capitalização diária dos juros nas cédulas de crédito rural, mesmo que contratada. RECURSO CONHECIDO EM PARTE E PARCIALMENTE PROVIDO. APELAÇÃO CÍVEL (1). 1. MORA CARACTERIZADA. 2. JUROS DE MORA. TERMO INICIAL. 3. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA 4. PREQUESTIONAMENTO. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA MODIFICADOS. 1.A mora somente é descaracterizada quando ocorre cobrança de encargos remuneratórios ilegais. Estando ela evidenciada, legitima a pretensão do credor em inscrever os devedores nos cadastros restritivos ao crédito. o cálculo da dívida estavam avençados no contrato, os juros de mora devem, com efeito, incidir desde o vencimento das parcelas, conforme prescrição do art. 397 do Código Civil. 3. Sendo ilegal a contratação de comissão de permanência em cédulas rurais segundo inteligência do art. 5º, § único, do Dec. Lei 167/67, ainda que não se contemple, em princípio, a sua cobrança, deve ser mantido o reconhecimento de nulidade da estipulação. 3. Sobre os artigos prequestionados, há tese explícita na decisão, sendo desnecessário que ela contenha referência expressa aos dispositivos legais invocados. 4. Havendo decaimento recíproco e em proporção igual, impõe-se a redistribuição dos ônus da sucumbência. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.(TJ-PR - AC: 6179053 PR 0617905-3, Relator: Hayton Lee Swain Filho, Data de Julgamento: 21/10/2009, 15ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 265)

4.3 ILEGALIDADE DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA

A Comissão de Permanência, tem como objetivo corrigir o valor do dinheiro emprestado, ou seja, as financeiras, bancos ou cooperativas buscam a correção monetária do crédito concedido, bem como, compreende os juros moratórios, remuneratórios e compensatórios.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.4,p.21529-21542 apr. 2020. ISSN 2525-8761 E no que tange à comissão de permanência, é indevida a sua incidência nas cédulas de crédito rural, posto que o parágrafo único do art. 5º do Decreto-Lei nº 167/07 reza que nos casos de mora o credor poderá cobrar os juros moratórios pactuados, com a elevação de sua taxa em 1% (um por cento) ao ano.

Este é o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça:

EMBARGOS À EXECUÇAO. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. TÍTULO EXECUTIVO. CORREÇAO MONETÁRIA. TR. CAPITALIZAÇAO. MULTA. COMISSAO DE PERMANÊNCIA.- Indevida é a comissão de permanência nas cédulas de crédito rural.(REsp 299435/MT; Rel. Min. BARROS MONTEIRO; Órgão Julgador: QUARTA TURMA; Data do Julgamento 28/09/2004, publicado em 13.12.2004)

Na ocasião, o eminente Ministro-Relator assim se manifestou:

“Contudo, nos termos da jurisprudência desta Corte, não é possível incidência de comissão de permanência nas cédulas de crédito rural, visto que o Decreto-Lei 167/67 prevê a incidência de juros moratórios à taxa de - no máximo - 1% ao ano, sendo ilegal a previsão de aplicação de qualquer outra taxa ou encargo tendente a burlar o referido diploma legal. Confiram-se, nesse sentido, os REsps ns. 332.994/DF e 207.231/MG, ambos de relatoria do em. Ministro Cesar Asfor Rocha, e AgRg no REsp n. 494.235-MS, Relator Ministro Humberto Gomes de Barros”

Portanto, inviável estabelecer “comissão de permanência” em contratos de crédito rural, por existir um limitador legal para inadimplência, previsto no Decreto-Lei 167/67.

4.4 ILEGALIDADE DA CORREÇÃO MONETÁRIA PELA CDI – CERTIFICADOS DE DEPÓSITO INTERBANCÁRIO.

Nos contratos de crédito rural, possuem índices de atualização financeira, e muitas vezes utilizam os chamados de “Certificados de Depósitos Interbancário”, e são os títulos que lastreiam as operações de transferência de recursos de uma instituição financeira para outra, motivo pelo qual sua negociação é restrita ao mercado interbancário.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.4,p.21529-21542 apr. 2020. ISSN 2525-8761 Assim, o índice de Depósito Interfinanceiro, criado pela CETIP - Câmara de Custódia e Liquidação, é uma média calculada com base nas operações do mercado interbancário prefixadas e pactuadas por um dia útil.

Ocorre que, é nula a cláusula que sujeita o devedor à taxa de juros divulgada pela ANDIB/CETIP, nos termos da Súmula n. 176 do STJ.

“É nula a cláusula contratual que sujeita o devedor à taxa de juros divulgada pela ANBID/CETIP.”

Nesse sentido, é a jurisprudência do STJ:

COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL. ACÓRDÃO ESTADUAL. NULIDADE NÃO CONFIGURADA. ARRENDAMENTO MERCANTIL. PRESTAÇÕES. REAJUSTE. PLANO VERÃO. LEI N. 7.730/1989. INCIDÊNCIA. SUBSTITUIÇÃO DO ÍNDICE POR ESCOLHA EXCLUSIVA DA CREDORA ARRENDATÁRIA (TAXA DO CDI). POTESTATIVIDADE RECONHECIDA. NULIDADE. CC, ART. 115. II. O Superior Tribunal de Justiça já firmou, em definitivo, o entendimento de que no cálculo da correção monetária dos contratos de arrendamento mercantil após a extinção da OTN, devem ser observados os preceitos da Lei n. 7.730/1989, de sorte que descabida a substituição do índice contratual desaparecido por outro da escolha da credora arrendatária, por configurar condição potestativa, vedada pelo art. 115 do Código Civil pretérito. III. Recurso especial conhecido em parte e provido. (REsp 145.078/SP, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 13/12/2005, DJ 13/03/2006, p. 323).

Assim, deve ser afastada a remuneração pela variação do CDI divulgado pela CETIP, adotando índice mais benéfico ao consumidor, por exemplo o IGP-M/FGV, como índice de correção monetária.

5 CONCLUSÃO

Por todo exposto, vimos que para os contratos de crédito estão disciplinados pelo Decreto Lei n. 167/67 e especialmente no que tange seus juros pelo Decreto n. 22.626/33, possuindo quatro grandes modalidades como a Cédula Rural Pignoratícia, Cédula Rural

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.4,p.21529-21542 apr. 2020. ISSN 2525-8761 Hipotecária, Cédula Rural Mista Pignoratícia e Hipotecária, bem como, Nota de Crédito Rural.

Que os contratos celebrados entre consumidores e as financeiras, cooperativas ou bancos, são de adesão, os quais já são preestabelecidos pelos fornecedores, e só resta ao consumidor devedor revisar através de ação pertinente as cláusulas ilegais e abusivas.

Dentre as principais abusividades e ilegalidades, destacamos os juros remuneratórios e moratórios, assim como a correção monetária do contrato e a clausula que estipula a comissão de permanência, que é ilegal a sua previsibilidade em contrato rural.

Importante, aqui destacar os direitos dos produtores rurais que usualmente necessitam tomar empréstimos para investir e fomentar sua atividade no agronegócio e que por diversas situações acabam encontrando problemas financeiros que impossibilitam arcar pontualmente com o contrato.

A partir disso, necessário estabelecer regras equilibradas para todos os envolvidos e principalmente conferir proteção ao hipossuficiente na relação, o produtor rural, que possui ainda em seu favor os princípios do “equilíbrio de forças nas relações jurídicas contratuais”, “vedação do enriquecimento sem causa” e “isonomia das partes ou do equilíbrio”.

REFERÊNCIAS

Decreto Lei n. 167/67;

Decreto n. 22.626/33;

Código de Defesa do Consumidor;

Borges Antonio Moura, Curso Completo de Direito Agrário / Antonio Moura Borges, 5ª Edição Campo Grande, Contemplar, 2016;

Direito Civil, Teoria Geral das Obrigações es e Teoria Geral dos Contratos, Ed. Atlas, 4ª edição, p. 389 /390;

Artigo 43 do Código de Processo Civil: Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa;

Jurisprudência: TJMS . Apelação n. 0000091-45.2008.8.12.0020, Rio Brilhante, 3ª Câmara Cível, Relator (a): Des. Fernando Mauro Moreira Marinho, j: 16/06/2015, p: 30/06/2015;

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.4,p.21529-21542 apr. 2020. ISSN 2525-8761 Jurisprudência: AgInt no AREsp 1052751/PR, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 17/04/2018, DJe 26/04/2018;

Jurisprudência: AgInt nos EDcl no REsp 1268982/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/03/2017, DJe 19/04/2017;

Jurisprudência: AgRg no REsp 1313569/MS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/10/2015, DJe 19/10/2015;

Jurisprudência: TJ-PR - AC: 6179053 PR 0617905-3, Relator: Hayton Lee Swain Filho, Data de Julgamento: 21/10/2009, 15ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 265;

Jurisprudência: REsp 299435/MT; Rel. Min. BARROS MONTEIRO; Órgão Julgador: QUARTA TURMA; Data do Julgamento 28/09/2004, publicado em 13.12.2004;

Jurisprudência: REsp 145.078/SP, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 13/12/2005, DJ 13/03/2006, p. 323.

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