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Guião interpretativo da geologia do Caminho de Santiago : (Caminho Central Português : Porto - Santiago de Compostela)

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Academic year: 2020

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Universidade do Minho Escola de Ciências

Guião Interpretativo da Geologia do Caminho de Santiago

(Caminho Central Português: Porto – Santiago de Compostela)

Sérgio Amaro Ferreira de Castro Bastos

Orientação: Professor Doutor Diamantino Pereira; Coorientação: Professor Doutor Paulo Pereira Mestrado em Património Geológico e Geoconservação

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AGRADECIMENTOS

Sem a colaboração e o incentivo de algumas pessoas este trabalho não teria sido levado a bom termo. Por isso, agradeço a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram e colaboraram para a realização deste trabalho, em particular:

À Natália pela compreensão, paciência e incentivo demonstrado mesmo nos momentos mais difíceis do trabalho.

Ao Professor Doutor Diamantino Pereira, sob cuja orientação realizei este trabalho, manifesto o meu profundo reconhecimento pelo seu imprescindível contributo. Pelo acompanhamento constante, disponibilidade no esclarecimento de dúvidas (quer no campo quer no gabinete), pelas críticas, sugestões e estímulos que permitiram a execução deste trabalho. O meu profundo obrigado.

Ao Professor Doutor Paulo Pereira, também sob sua orientação desenvolvi este estudo, agradeço o apoio, disponibilidade, acompanhamento e as sugestões de forma a enriquecer o trabalho.

Ao professor Doutor José Brilha, pela disponibilidade e por todo o apoio prestado.

Ao Nuno Ribeiro pela dedicação na “assessoria” informática e pela colaboração no grafismo de mapas e perfis.

Ao albergue de São Pedro de Rates pelo contacto com os peregrinos de Santiago, pelos dados estatísticos disponibilizados e pelo incentivo dos hospitaleiros na concretização deste trabalho.

À Dores Sendão pela experiência na geoconservação e por todo apoio e disponibilidade revelada ao longo do trabalho.

Ao Nuno Fumega pela disponibilidade na execução de grafismos de fotos e cartoon. À Clara Gomes pela colaboração na tradução do resumo.

À minha família pela compreensão, paciência e apoio demonstrado.

Aos colegas de mestrado pelos momentos de boa disposição, partilha de conhecimentos e experiências.

Aos companheiros peregrinos de Santiago, em especial com Manuel Soares, José Luis e Jardim, pelo respeito que eles merecem e pela fé que lhes move, sempre em busca de um objetivo.

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Guião Interpretativo da Geologia do Caminho de Santiago (Caminho Central Português: Porto – Santiago de Compostela)

Sérgio Amaro Ferreira de Castro Bastos

2012, Dissertação de mestrado, Universidade do Minho.

RESUMO

Os caminhos de Santiago, são reconhecidos como Património Cultural da Humanidade, e têm tido uma procura crescente de peregrinos e caminheiros. Os relatos e registos destes, destacam os valores naturais das paisagens, do qual se inserem elementos e/ou processos geológicos. Neste sentido é proposto a valorização do património geológico do Caminho Central Português (CCP), entre Porto e Santiago de Compostela. O estudo criterioso e fundamentado da geodiversidade deste caminho, pretende ser um contributo para a comunidade em geral e para os seus utilizadores em particular. Como produto final elaborou-se um guia como recurso informativo e interpretativo da geologia relevante no caminho, dividido por 10 etapas. A metodologia de trabalho incluiu várias fases, entre elas, a seleção e inventariação de 22 locais de interesse geológico (LIG). Para alguns dos LIGs apresentam-se algumas estratégias de conservação e valorização, tendo em conta o seu potencial geoturístico.

Após um primeiro capítulo de introdução, o segundo capítulo faz o enquadramento dos Caminhos de Santiago, enquanto património cultural e valor natural, e enquanto evolução do fenómeno religioso e social. Apresenta-se a caracterização e enquadramento geográfico e geológico da área em estudo e destaca-se a análise da importância que a geomorfologia teve na definição dos caminhos medievais de Santiago.

O terceiro capítulo aborda a geodiversidade que o peregrino / caminheiro poderá encontrar no CCP, sendo de destacar os locais de interesse geológico (LIG), com formações ou processos merecedores de uma interpretação simplificada. Ao longo do caminho entre Porto e Santiago de Compostela, são evidenciadas as faixas metassedimentares da Antiforma de Valongo, os acidentes tectónicos fundamentais na modelação do relevo e da rede fluvial, os terraços fluviais cenozóicos do vale do Minho, as geoformas graníticas em Porriño/Mós, Pontevedra e Caldas de Reis, as geoformas costeiras – Ria de Vigo, Ria de Pontevedra e Ria de Arousa, as fontes hidrotermais em Caldas de Reis e a importância da toponímia geológica e geomorfológica no CCP. Procede-se também à seleção e inventariação dos LIGs. A seleção é feita de acordo com as características do público-alvo e com os critérios específicos, tendo em conta uma metodologia de inventariação - fichas de identificação/avaliação de potenciais geossítios.

O quarto capítulo é constituído pelo guião interpretativo da geologia do CCP. Este guião considera 10 setores correspondentes às etapas que o peregrino normalmente percorre desde o Porto até Santiago de Compostela. Faz-se a caracterização e interpretação dos LIGs do CCP em formato de fichas, onde constam a localização, descrição e valor, bem como esquemas gráficos, cartoons e fotografias.

O capítulo cinco, é dedicado às estratégias de geoconservação de alguns dos geossítios no Caminho, pelo que são propostas medidas de conservação, valorização e monitorização.

O sexto capítulo apresenta algumas considerações finais.

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Guidebook “Geology of the Santiago Way”

(Portuguese Central Way: Porto – Santiago de Compostela) Sérgio Amaro Ferreira de Castro Bastos

2012, master dissertation, Minho University.

ABSTRACT

The paths to Santiago are acknowledged as Mankind’s Cultural Patrimony, and they have been having a growing search of pilgrims and foot-travellers. Their reports and records highlight the natural values of the landscapes, from which the elements and/or geological processes are added. In this way, it is suggested the geological heritage valuation in a certain Portuguese Central Way (CCP – Caminho Central Português), between Oporto and Santiago. The thorough and justified study of this path’s geodiversity, intends to be a contribution for the community in general and for its users in particular.

The final product will be a guide book as an informative and explanatory resource of the path’s relevant geology, divided into ten stages. The work methodology includes several phases, among which the selection and inventorying of twenty-two geosites (according to specific criteria). For some of the geosites, some conservation and valuation strategies are presented, having in mind their geotouristic potential.

After a first introductory chapter, the second one frames the ways to Santiago, while cultural patrimony, natural value, social and religious phenomenon evolvement. It is presented the characterization and the geographical and geological frame of the study area and it is highlighted the importance that geomorphology had in the definition of the medieval paths to Santiago.

The third chapter approaches the geodiversity that the pilgrim/foot-traveller can find in the Portuguese Central Way, pointing out the geological highlights, with formation or processes worthy a simplified interpretation. Along the way between Oporto and Santiago de Compostela, are clearly shown the metasedimentary stripes of Antiforma de Valongo, the fundamental tectonic accidents on the modelling of the relief and the fluvial network, the cenozoic fluvial terraces of Minho´s valley, the granitic geoforms – Ria de Vigo, Ria de Pontevedra and Ria de Arousa, the hidrotermal fountains of Caldas de Reis and the importance of the geological and geomorphical toponymy in the Portuguese Central Way. It is also issued the selection and inventory of the geological sites (LIGs – Locais de Interesse Geológico). The selection is done in accordance to the characteristics of the target public and the specific criteria, having in mind an inventory methodology – identification/evaluation files of potencial geosites.

The fourth chapter is constituted by the explanatory guidon of the Portuguese Central Way. This guidon considers ten sectors corresponding to the stages that the pilgrim covers from Oporto to Santiago de Compostela. It is also outwarded the characterization and interpretation of the geological sites in the form of files containing the localization, description and value, as well as graphic schemes, cartoons and photos.

Chapter five is dedicated to the geoconservation strategies of some of the Path’s geosites. Therefore some monitoring, valorization and conservation measures are proposed.

The sixth chapter presents some final considerations.

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ÍNDICE GERAL

RESUMO ... v

ABSTRACT ... vii

Índice de figuras ... xi

Índice de quadros ... xiv

Capítulo 1 - Introdução ... 1

1.1 Apresentação do tema ... 1

1.2 Objetivos ... 2

1.3 Metodologia de trabalho ... 3

Capítulo 2 – Caminho Central Português nos caminhos de Santiago ... 4

2.1 - Enquadramento cultural... 4

2.1.1 Enquadramento histórico e religioso ... 4

2.1.2 História dos Caminhos ... 5

2.1.3 Identificação dos caminhos ... 6

2.1.4 Classificação e redefinição do Caminho ... 8

2.1.4.1 Sinalização do Caminho – setas amarelas ... 9

2.1.5 Perfil do peregrino no Caminho de Santiago ... 10

2.1.6 Valores do Caminho... 11

2.1.7 Recursos bibliográficos ... 11

2.2 - Enquadramento geográfico do NW português e da Galiza ocidental ... 12

2.3 - Enquadramento geológico ... 13

2.4 - Evolução geomorfológica ... 16

2.5 - A importância da Geomorfologia na definição dos caminhos medievais de Santiago ... 19

Capítulo 3 – Património geológico do Caminho Central Português ... 21

3.1 - Valores de Geodiversidade do Caminho Central Português (CCP) ... 21

3.1.1 - Antiforma de Valongo, relevo do tipo Apalachiano ... 23

3.1.2 – Os acidentes tectónicos na modelação do relevo e da rede fluvial ... 23

3.1.3 - Terraços fluviais Cenozóicos do Minho ... 25

3.1.4 - Geoformas graníticas em Porrinõ/Mós, Pontevedra e Caldas de Reis ... 26

3.1.5 - Geoformas costeiras e Rias da Galiza ... 30

3.1.6 - Fontes hidrotermais em Caldas de Reis ... 33

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3.2 -Avaliação dos Locais de Interesse Geológico (LIG) ... 35

Capítulo 4 - Guião interpretativo do património geológico do Caminho Central Português (Porto - Santiago Compostela) – Localização e interpretação dos LIG. ... 41

Descrição do setor Porto – Rates... 45

Descrição do setor Rates – Barcelos (Tamel) ... 54

Descrição do setor Portela de Tamel – Ponte de Lima ... 60

Descrição do setor Ponte de Lima – Paredes de Coura (Rubiães) ... 67

Descrição do setor Rubiães – Tui ... 71

Descrição do setor Tui – Redondela ... 77

Descrição do setor Redondela – Pontevedra ... 86

Descrição do setor Pontevedra – Caldas de Reis ... 90

Descrição do setor Caldas de Reis – Padrón ... 99

Descrição do setor Padrón – Santiago ... 109

Capitulo 5 – Estratégias de geoconservação dos geossítios do Caminho ... 115

5.1 Conservação ... 115

5.1.1 - Ameaças ... 115

5.1.2 - Medidas gerais de conservação ... 115

5.1.3 - Medidas concretas de conservação ... 116

5.2 Valorização ... 117 5.2.1 - Metodologia de interpretação ... 117 5.3 Monitorização ... 117 Capítulo 6 – Conclusões ... 119 Capítulo 7 - Bibliografia ... 123 Anexos ... 131

Anexo 1 - 22 fichas de inventariação ... 131

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Índice de figuras

Fig. 1 Enquadramento geográfico do Caminho Central Português (Porto – Santiago) ... 2

Fig. 2 Rede de caminhos medievais utilizados pelos peregrinos portugueses a Santiago. ... 6

Fig. 3 Rede de caminhos medievais utilizadas pelos peregrinos europeus a Santiago. ... 7

Fig. 4 Localização do troço interpretativo do Caminho Central Português. Fonte: Associação Galega do Amigos do Caminho de Santiago e Associação do Caminho de Santiago Lusitanea ... 8

Fig. 5 Localização da região do Minho e Galiza ocidental na divisão morfoestrutural da Península Ibérica (Julivert et al., 1974; modificado Pereira, 2001) ... 14

Fig. 6 Enquadramento geológico do Caminho Central Português no NW da Península Ibérica. Adaptado de Martinez-Catalán et al. (2004). Fonte (Pereira, 2006). ... 16

Fig. 7 Representação esquemática de um “passo de montanha” ou portela ... 20

Fig. 8 Geoforma da Portela de Piães e o trajeto do Caminho de Santiago no nível culminante côncavo ... 20

Fig. 9 Caminho de Santiago com panorâmica da geoforma do vale do Minho na vertente sul – Gontumil (Valença) ... 24

Fig. 10 Caminho de Santiago no Vale de Chain a sul de Caldas ... 24

Fig. 11 Caminho de Santiago no vale de Bermaña a norte de Caldas ... 24

Fig. 12 Panorâmica da cascata de Barosa no setor a montante. ... 25

Fig. 13 Esquema evolutivo de maciços antigos. Adaptado de figura original produzida no âmbito do projeto PNAT/CTE/15008/99: Geologia dos Parques Naturais de Montesinho e do Douro Internacional (NE Portugal): Caracterização do Património Geológico. ... 27

Fig. 14 Geoforma granítica (“bola”) em Canicouva no interflívio Verdugo-Lerez ... 28

Fig. 15 Panorâmica do maciço granítico do monte Xiabre e de Caldas de Reis / vale do Umia ... 28

Fig. 16 Localização dos maciços graníticos da Galiza, enquadradas nas principais unidades geológicas do NW do Maciço Ibérico (simplificado do Mapa Geológico da Península Ibérica, Baleares y Canarias a escala 1:1.000.000, IGME, 1994). Fonte: Gumiel et al. (2006) ... 29

Fig. 17 Teoria de evolução das rias segundo a disposição em escadaria dos blocos dúrico-minhoto-galaico na zona de deformação marginal (Teixeira, 1944; Breuil & Zbyszewski, 1945) ... 30

Fig. 18 Panorâmica da ria de Vigo a partir de Chã de Pipas (CCP entre Mós e Redondela) com representação dos principais acidentes tectónicos. ... 32

Fig. 19 - Localização Geográfica da Etapa 1 do CCP ... 44

Fig. 20 - Perfil altimétrico e substrato geológico da etapa Porto - Rates ... 44

Fig. 21 – Localização geográfica do LIG 1 no CCP ... 47

Fig. 22 - Plataforma litoral observada a partir da capela São Mamede ... 47

Fig. 23 - Coluna estratigráfica e evolução do LIG1 ... 48

Fig. 24 - Localização geográfica do LIG 2 no CCP ... 49

Fig. 25 - Afloramento de quartzitos no caminho de Santiago na localidade de Arcos ... 49

Fig. 26 - Representação do alvéolo dos Arcos (rio Este) e Antiforma de Valongo em segundo plano ... 50

Fig. 27 - Localização dos LIGG´s na Antiforma de Valongo ... 50

Fig. 28 - Coluna estratigráfica e evolução do LIG2 ... 50

Fig. 29 - Localização geográfica do LIG 3 no CCP ... 51

Fig. 30 - Talude de terraços fluviais na Antiforma de Valongo no CCP em Rio Mau ... 51

Fig. 31 - Perfil da Antiforma de Valongo entre Arcos e Rates ... 52

Fig. 32 Coluna estratigráfica e evolução do LIG3 ... 52

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Fig. 34 - Perfil altimétrico e substrato geológico da etapa Rates - Tamel ... 53

Fig. 35 - Localização geográfica do LIG 4 no CCP ... 55

Fig. 36 - Miradouro interpretativo da serra de Rates ... 55

Fig. 37 - Afloramento de xistos sob uma estrutura antrópica de xisto na localidade de Rates... 56

Fig. 38 - Toponímia geomineira em São Pedro de Rates ... 56

Fig. 39 - Coluna estratigráfica e evolução do LIG4 ... 56

Fig. 40 – Localização geográfica do LIG 5 no CCP ... 57

Fig. 41 - Miradouro interpretativo do vale do Cávado em Pontegãos ... 57

Fig. 42 - – Reconstituição esquemática da evolução dos rios do NW ... 58

Fig. 43 - Coluna estratigráfica e evolução do LIG5 ... 58

Fig. 44 - Localização Geográfica da Etapa 3 do CCP ... 59

Fig. 45 - Perfil altimétrico e substrato geológico da etapa Tamel – Ponte de Lima ... 59

Fig. 46 - Localização geográfica do LIG 6 no CCP ... 62

Fig. 47 - Foto interpretativa do miradouro do alvéolo do Neiva em Aborim ... 62

Fig. 48 - Reconstituição gráfica do alvéolo do Neiva ... 63

Fig. 49 - Coluna estratigráfica e evolução do LIG6 ... 63

Fig. 50 - Localização geográfica do LIG7 no CCP ... 64

Fig. 51 - Esquema interpretativo da geomorfologia a partir da localidade de Facha ... 65

Fig. 52 - Representação esquemática da morfologia da serra de Arga e vale de Estorãos ... 65

Fig. 53 - Coluna estratigráfica e evolução do LIG7 ... 65

Fig. 54 - Localização Geográfica da Etapa 4 do CCP ... 66

Fig. 55 - Perfil altimétrico e substrato geológico da etapa Ponte de Lima – Rubiães ... 66

Fig. 56 - Localização geográfica do LIG8 no CCP ... 68

Fig. 57 - Esquema interpretativo do vale da Labruja ... 68

Fig. 58 - Miradouro interpretativo do Alto da Portela (Labruja) ... 69

Fig. 59 - Coluna estratigráfica e evolução do LIG8 ... 69

Fig. 60 - Localização Geográfica da Etapa 5 do CCP ... 70

Fig. 61 - Perfil altimétrico e substrato geológico da etapa Rubiães - Tui ... 70

Fig. 62 - Localização geográfica do LIG9 no CCP ... 72

Fig. 63 - Alvéolo do rio Coura entre Rubiães e Cossourado ... 72

Fig. 64 - Reconstituição esquemática do alvéolo do Coura em Rubiães ... 73

Fig. 65 - Coluna estratigráfica e evolução do LIG9 ... 73

Fig. 66 - Localização geográfica do LIG 10 no CCP ... 74

Fig. 67 - Vertente da margem esquerda da ribeira do Cerdal com afloramento de sedimentos rolados do terraço junto ao CCP ... 74

Fig. 68 - Afloramento de sedimentos no terraço fluvial do lugar da Pedreira ... 74

Fig. 69 - Representação esquemática da evolução dos terraços do rio Minho no Cerdal ... 75

Fig. 70 - Coluna estratigráfica e evolução do LIG 10 ... 75

Fig. 71 - Localização Geográfica da Etapa 6 do CCP ... 76

Fig. 72 - Perfil altimétrico e substrato geológico da etapa Tui - Redondela... 76

Fig. 73 – Localização Geográfica do LIG 11 no CCP ... 79

Fig. 74 - Terraços na ribeira de Simón - Ribadelouro ... 80

Fig. 75 - Turfeira da Gândara de Budiño - Ribadelouro ... 80

Fig. 76 - Representação gráfica da evolução geomorfológica da Gândara de Budiño ... 80

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Fig. 78 - Localização geográfica do LIG 12 no CCP ... 81

Fig. 79 - Panorâmica do domo rochoso granítico do Faro de Budiño, a partir de Orbenlle (CCP) ... 82

Fig. 80 - Representação gráfica da evolução das geoformas no Maciço de Porriño ... 82

Fig. 81 - Coluna estratigráfica e evolução do LIGG 12 ... 82

Fig. 82 - Localização geográfica do LIG 13 no CCP ... 83

Fig. 83 - Interpretação geomorfológica do vale retilíneo do Alto Louro, a partir da igreja de Mós ... 83

Fig. 84 - Coluna estratigráfica e evolução do LIGG 13 ... 84

Fig. 85 - Localização Geográfica da Etapa 7 do CCP ... 85

Fig. 86 - Perfil altimétrico e substrato geológico da etapa Redondela - Pontevedra ... 85

Fig. 87 - Localização geográfica do LIG 14 no CCP ... 87

Fig. 88 - Miradouro interpretativo da Ria de Vigo no Alto da Lomba ... 88

Fig. 89 - Representação gráfica da evolução geomorfológica das rias... 88

Fig. 90 - Coluna estratigráfica e evolução do LIG 14 ... 88

Fig. 91 - Localização Geográfica da Etapa 8 do CCP ... 89

Fig. 92 - Perfil altimétrico e substrato geológico da etapa Pontevedra – Caldas de Reis ... 89

Fig. 93 – Localização geográfica do LIG 15 no CCP... 92

Fig. 94 - Sapal de Pontevedra na localidade de Gândara ... 92

Fig. 95 - Representação gráfica da evolução do sapal de Pontevedra ... 93

Fig. 96 - Coluna estratigráfica e evolução do LIG 15 ... 93

Fig. 97 - Localização geográfica do LIG 16 no CCP ... 94

Fig. 98 - Vale retilíneo do rio Gândara (à esquerda do CCP) no setor a norte de Reiriz ... 94

Fig. 99 - Coluna estratigráfica e evolução do LIG 16 ... 95

Fig. 100 - Localização geográfica do LIG 17 no CCP ... 96

Fig. 101 - Descontinuidade topográfica na cascata de Barosa - rio Agra (perspetiva a juzante)... 96

Fig. 101 - Representação gráfica da evolução da cascata da Barosa ... 97

Fig. 102 - Coluna estratigráfica e evolução do LIG 17 ... 97

Fig. 103 - Localização Geográfica da Etapa 9 do CCP ... 98

Fig. 104 - Perfil altimétrico e substrato geológico da etapa Caldas de Reis - Padrón ... 98

Fig. 105 - Localização geográfica do LIG 18 no CCP ... 100

Fig. 106 - Fonte hidrotermal de Caldas de Reis ... 100

Fig. 107 - Modelo simplificado de sistema geotérmico associado à fonte hidrotermal (Adaptado: White, 1973) ... 101

Fig. 108 - Coluna estratigráfica e evolução do LIG 18 ... 101

Fig. 109 - Localização geográfica do LIG 19 no CCP ... 102

Fig. 110 - Vale de fratura do Bermaña, observável 500 metros antes do miradouro de Carracedo/Gorgullón ... 103

Fig. 111 - Coluna estratigráfica e evolução do LIGG 19 ... 103

Fig. 112 - Localização geográfica do LIG 20 no CCP ... 104

Fig. 113 - Vale do Valga a montante ... 104

Fig. 114 - Vale do Valga a juzante com encaixe a montante ... 104

Fig. 115 - Representação gráfica da evolução do vale de Valga ... 105

Fig. 116 - Coluna estratigráfica e evolução do LIGG 20 ... 105

Fig. 117 - Localização geográfica do LIG 21 no CCP ... 106

Fig. 118 - Rio Ulla (E-W) com um setor em Pontecesures, controlado pela tectónica da Depressão Meridiana (N-S) ... 106

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Fig. 119 - Coluna estratigráfica e evolução do LIG 21 ... 107

Fig. 120 - Localização Geográfica da Etapa 10 do CCP ... 108

Fig. 121 - Perfil altimétrico e substrato geológico da etapa Padrón – Santiago de Compostela ... 108

Fig. 122 - Localização geográfica do LIG 22 no CCP ... 111

Fig. 123 - Interpretação geomorfológica da unidade de Santiago ... 112

Fig. 124 - Representação gráfica da evolução da unidade metassedimentar de Santiago ... 112

Fig. 125 - Coluna estratigráfica e evolução do LIGG 22 ... 112

Índice de quadros

Quadro I Representação esquemática dos fatores de definição dos Caminhos de Santiago ... 20

Quadro II - Toponímia geológica ou geomorfológica do Caminho Central Português, dividido por etapas. .... 34

Quadro III - AVALIAÇÃO do tipo de valor dos LIG´s do CCP ... 35

Quadro IV – Tipo de valor dos Locais de Interesse Geológico (LIG) no CCP ... 38

Quadro V– Síntese descritiva dos LIG´s do CCP ... 41

Quadro VI- Enquadramento da Evolução Geológica no NW Peninsular (Caminho Central Português) ... 113

Quadro VII- Síntese do estado de conservação e a aplicação de medidas concretas ... 116

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Capítulo 1 - Introdução

1.1 Apresentação do tema

Este primeiro capítulo visa contextualizar o tema, apresentar os objetivos e a metodologia seguida no desenvolvimento deste trabalho, bem como apresentar o plano geral desta dissertação. A importância crescente dos caminhos de Santiago como fenómeno cultural, tendo cada vez mais peregrinos e caminheiros nesses mesmos trilhos. O elevado valor natural com que se apresenta no Caminho Central Português (CCP), particularmente no âmbito da geodiversidade, merece o estudo científico nesta matéria e que seja disponibilizado aos utilizadores do caminho. O geoturismo é um segmento particular cada vez mais valorizado e a elaboração de um guião geológico do Caminho entre Porto e Santiago de Compostela. Esta ferramenta visa ser uma aplicação prática do pedestrianismo – atividade física de lazer - no Caminho de Santiago.

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1.2 Objetivos

Este trabalho, realizado no âmbito do mestrado em Património Geológico e Geoconservação da Universidade do Minho, propõe a criação de um guião de interpretação geológica do Caminho de Santiago, no troço desde o Porto até Santiago de Compostela (Caminho Central Português – CCP) (Fig. 1).

Fig. 1 Enquadramento geográfico do Caminho Central Português (Porto – Santiago)

Fonte: Associação do Caminho de Santiago Lusitanea

O guião pretende ser um contributo científico e de apoio ao peregrino ou pedestrianista que ao longo do caminho português de Santiago se interessam por aspetos naturais, em especial pela interpretação da geodiversidade. Os trabalhos existentes acerca do caminho português de Santiago focam apenas aspetos históricos, arqueológicos, culturais, etnográficos e algumas generalidades da biodiversidade. Pensamos que um estudo criterioso e fundamentado dos principais aspetos geológicos do Caminho, representa um contributo para a comunidade e para os peregrinos em particular. O produto final será um guia como recurso informativo e interpretativo da geologia relevante deste caminho.

O guião prático dirigido essencialmente para um público não especializado, pretende ser objetivo e atrativo, de modo a despertar o interesse pelos aspetos naturais no que respeita à geologia do Caminho.

(17)

1.3 Metodologia de trabalho

O estudo tem como metodologia a análise geológica e geomorfológica prévia através da cartografia geológica e do Google Earth©, pesquisa bibliográfica, na manipulação de dados cartográficos em ambiente SIG - Canvas© e em trabalho de campo. Foram registados e interpretados os pontos de potencial interesse geológico, com auxílio de um recetor GPS. No trabalho em campo, a cartografia convencional foi um suporte fundamental para o enquadramento estratigráfico e caracterização litológica. Dessa cartografia, salienta-se a carta geológica de Portugal - carta 1 da região Noroeste (1:200 000), e as cartas 1-A, 1-B, 1-C, 1-D, 5-A, 5-B, 5-C, 9-A e 9 C (1:50 000), importantes para algumas situações de pormenor. Para o território espanhol do CCP, foram consultados o mapa geológico de Espanha na escala 1:200 000, o mapa geológico da Ibéria na escala 1:1 000 000, e as folhas 95, 120, 121, 152, 185, 223 e 261, do mapa geológica na escala 1:50 000, publicadas pelo IGME (Instituto Geológico e Mineiro de España).

Os locais de interesse geológico (LIG) foram identificados e caracterizados em fichas específicas e, selecionados de acordo com critérios como a representatividade, a raridade, a utilidade como modelo para ilustrar processos geológicos, a diversidade de elementos geológicos, a integridade e a associação com outros elementos (Lima, 2008), tendo em conta o seu valor científico e estético.

A análise e interpretação dos LIGs são feitas em sentido único do Caminho Central Português (CCP) que liga desde a cidade do Porto até Santiago Compostela, via Barcelos.

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Capítulo 2 – Caminho Central Português nos caminhos de Santiago

2.1 - Enquadramento cultural

2.1.1 Enquadramento histórico e religioso

Todo o fenómeno espiritual à volta dos caminhos sagrados se deve a Santiago Maior, também chamado Santiago de Compostela, um dos doze apóstolos de Jesus Cristo. Este discípulo, antigo pescador, foi consagrado a santo e chamado Santiago Maior para diferenciar de outros santos de nome Tiago, como o apóstolo Santiago Menor, e ainda Santiago, o Justo (Moreno, 1992). Tiago, Pedro e João seriam os primeiros a abandonar a sua atividade profissional para seguirem Jesus como seus discípulos. Acompanharam-no durante os três anos da sua vida pública, e partiram como apóstolos por todo o mundo a anunciar o Evangelho, tendo Santiago pregado a doutrina cristã pela província romana da Hispânia. Os locais por onde terá passado incluem, agora, Braga, Guimarães, S. Pedro de Rates e a Galiza, na Espanha (Almada, 2000).

Quando Santiago voltou à Palestina, no ano 44, foi preso e decapitado, a mando de Herodes Agrippa I. Foi o primeiro apóstolo a derramar o sangue para mostrar ao Senhor quanto era séria a sua fidelidade.

Após estes acontecimentos, tem lugar a lenda católica relacionada com Santiago, sucintamente descrita em seguida. O corpo do santo, juntamente com a cabeça, foi levado para fora da cidade para que fosse devorado pelos animais. No entanto, dois dos seus discípulos, Teodoro e Atanásio, transportaram-no até o mar e, foram guiados por um anjo numa barca, transladando-o de volta para a Hispânia. Chegados a Iria Flávia (proximidade de Padrón), amarraram a barca a uma coluna de pedra. Procuraram então a proprietária das terras, Lupa, a solicitar autorização para sepultarem o santo nessas terras, pedido não atendido. Numa segunda tentativa de convencer Lupa à boa vontade, esta voltou a ser hóstil, presenteando-os com touros selvagens para transporte do apóstolo de Padrón até Santiago. Perante o sinal da cruz feito pelos cristãos, os touros logo se tornaram mansos e a dama converteu-se. Finalmente os restos mortais chegaram ao monte Libredón (atual zona de Santiago), onde foi doado um espaço para o monumento funerário.

Em 814, um eremita de Libredón, de nome Pelágio, observou uma “chuva de estrelas” sobre um monte do bosque. Sabendo do fenómeno, o bispo de Iria Flávia, Teodomiro, ordenou escavações e encontrou uma arca de mármore com os ossos do santo e dos seus discípulos.

O Rei Alfonso II, tendo conhecimento do sucedido, teria mandado construir uma pequena igreja, que deixou sob custódia de monges beneditinos. Antes de terminar o século IX, Alfonso III mandou ampliar o santuário com uma basílica maior, respondendo à grande afluência de peregrinos.

No contexto político o santuário serviu para a consolidação do reino astúrico-galaico, dado que decorria a reconquista cristã e expulsão das tropas muçulmanas do norte de Espanha, e era necessário repovoar o território e alargar ao resto da Europa uma sólida rede para a circulação de

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pessoas, mercadorias e ideologias (Almada, 2000). O valor estratégico de um centro religioso da magnitude de Roma ou de Jerusalém, que de alguma maneira “independizava” espiritualmente o reino nascente do amplamente entendido império de Carlos Magno.

No “Campus Stellae” – provável origem da palavra Compostela – foi construída uma capela para proteger o túmulo do apóstolo que se tornou um símbolo da resistência cristã aos ataques dos mouros. A partir do ano 1000 as peregrinações a Santiago popularizam-se, tornando-se a cidade num dos principais centros de peregrinação cristã; é também nesta altura que surgem os primeiros registos de peregrinos que viajaram a Compostela (Almada, 2000). No século XII é publicado o primeiro guia do peregrino (do Caminho Francês) – o Códice Calixtino (ou Liber Sancti Jacobi) atribuído ao Papa Calixto II.

Ainda hoje, dezenas de milhares de peregrinos se dirigem anualmente a Santiago de Compostela, considerada a terceira cidade mais sagrada no cristianismo depois de Jerusalém e Roma. A Igreja, que desde os primeiros tempos promove o culto dos lugares santos, fomenta também as Peregrinações. Jerusalém, Roma e Santiago foram os grandes centros da cristandade que mobilizaram inúmeras gerações de peregrinos, como ainda hoje acontece com Lourdes, Fátima ou Czestochowa.

2.1.2 História dos Caminhos

Para os povos do sudoeste da Peninsula Ibérica, o itinerário, hoje reconhecido por Caminho Central Português – CCP, foi escolhido pela maior parte dos peregrinos, pelo menos a partir do início do séc. XIV, segundo inúmeros relatos existentes nos arquivos compostelanos. Também as referências conhecidas aos seus peregrinos mais ilustres a Rainha Santa Isabel, Leão de Rotzmithal, Jerónmo Münzer, el-Rei D. Manuel, Confalonieri, Albani, e provavelmente também S. Francisco de Assis, o Beato Francisco Pacheco (Almada, 2000; Mendes, 2009), são testemunhos importantes dos caminhos medievais até Santiago. Com efeito, com a conclusão da ponte de Barcelos em 1325 e a remodelação da ponte de Ponte de Lima na mesma época, foi possível criar um percurso retilíneo que evitava a inflexão por Braga e a travessia em barca dos rios mais caudalosos. São Pedro de Rates, Barcelos, Ponte de Lima, Valença, Tui, Redondela, Pontevedra e Caldas de Reis definiram o novo itinerário medieval do Porto a Santiago (Fig. 2), tendo apenas em comum com a velha via militar romana – via XIX um ou outro troço urbano e as pontes ainda em uso para vencer as ribeiras mais buliçosas.

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Foi também este percurso utilizado pela população que se movimentava de sul a norte na província de Entre Douro e Minho e que não descurava a rapidez, a segurança e a comodidade da via (Moreno, 1992). Por aqui também passaram multidões de gente anónima, caminheiros, viajantes, almocreves, mercadores, feirantes e romeiros. Foi também percorrido pelas forças regulares, tropas de exércitos, aventureiros, bandidos e contrabandistas, muitas vezes palco de escaramuças, de assaltos e de emboscadas. Digamos que o Caminho Central Português está repleto de histórias, para além dos valores naturais que tem para oferecer.

Fig. 2 Rede de caminhos medievais utilizados pelos peregrinos portugueses a Santiago.

Fonte: http://www.caminhoportuguesdesantiago.com/PT/

2.1.3 Identificação dos caminhos

Os Caminhos de Santiago são um elemento comum da cultura europeia. Nesses itinerários, qualquer caminheiro tem a oportunidade de perspetivar as suas convicções num sentido ecuménico de abertura e de tolerância.

Entre as várias rotas (Fig. 3), delineadas desde a Idade Média, destacam-se:

Caminho Francês - Que recebe entre outros a Via Podiensis e antes a Via Gebennensis, a partir de Saint-Jean-Pied-de-Port, entra na Espanha por Roncesvalles, no sopé dos Pirenéus, e de lá segue por cerca de 800 quilómetros até Compostela. A este liga-se o Caminho Aragonês ("Tramo Aragonés") com saída em Somport, com cerca de 980 quilómetros.

Caminho da Prata ("Via de la Plata") - com saída em Sevilha (Espanha), passando por Sanabria e Ourense, é o mais longo e segue uma antiga estrada romana a que os árabes chamaram algo que foneticamente soava a 'plata'.

Caminho Primitivo - com saída em Oviedo.

Caminho do Norte - sai de Ribadeo e segue por cerca de 220 quilómetros. Caminho da Ria de Arousa, de Padron.

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Fig. 3 Rede de caminhos medievais utilizadas pelos peregrinos europeus a Santiago.

Fonte: http://www.caminhodesantiago.com/mapas/mapa_1.htm (Associação dos Caminhos de Santiago)

Caminho Inglês - parte de Ferrol ou da Corunha, estendendo-se por aproximadamente 120 quilómetros. Surgiu a partir dos peregrinos das ilhas britânicas que, devido à Guerra dos Cem Anos, não podiam atravessar a França com segurança e assim viajavam de barco até à Galiza e daí a pé até Compostela.

Caminho de Finisterra (finis terrae) - um prolongamento, especialmente desenhado para que os peregrinos vindos de longe tivessem a ideia de alcançarem o 'fim da terra' (Almada, 2000).

Caminho Português, com várias alternativas (Fig. 2).

A maior parte dos caminhos portugueses entroncam em Valença do Minho, onde se fazia (e faz) a travessia da fronteira para Tui e daí estende-se por

117

quilómetros.

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Do lado português, os percursos mais frequentados são a partir de Fátima, do Porto, de Barcelos ou de Braga. Entre todos assume particular relevo a estrada real Porto – Rates - Barcelos – Ponte de Lima – Valença (Fig. 4), onde confluem quase todos os demais, reforçando este percurso como a espinha dorsal dos caminhos portugueses de Santiago. Dos 241,1 quilómetros do itinerário em estudo, Porto - Santiago de Compostela, tentaremos relatar as ocorrências geológicas mais relevantes e interessantes para os peregrinos. A estrutura é feita segundo as etapas que o peregrino percorre a pé:

1. Porto → São Pedro de Rates = 37,4 km

2. São Pedro de Rates → Tamel (Barcelos) = 25,9 km 3. Tamel (Barcelos) → Ponte de Lima = 23,6 km 4. Ponte de Lima → Rubiães = 18 km

5. Rubiães → Tui = 21,1 km 6. Tui → Redondela = 30,7 km

7. Redondela → Pontevedra = 18,2 km 8. Pontevedra → Caldas de Reis = 23,1 km 9. Caldas de Reis → Padrón = 19,2 km

10. Padrón → Santiago de Compostela = 23,9 km

Fig. 4 Localização do troço interpretativo do Caminho Central Português. Fonte: Associação Galega do Amigos do Caminho de

Santiago e Associação do Caminho de Santiago Lusitanea

2.1.4 Classificação e redefinição do Caminho

Em rigor não podemos apontar apenas um Caminho Português. No início dos anos 90, fez-se a marcação do Caminho pelas várias associações e entidades competentes. A partir de vários relatos de peregrinos que viajaram para Santiago do sul do nosso país, foi feito o levantamento dos percursos.

Na época medieval, os caminhos mais comuns e mais frequentados eram escolhidos para evitar encontros indesejados com bandidos e salteadores, bem como evitar as dificuldades físicas do relevo ou dos cursos fluviais. Em rigor, os documentos históricos de relatos de peregrinos medievais, divergiam no traçado pelo que não podemos apontar apenas um Caminho Português.

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Historicamente, a partir de Lisboa, podemos falar de dois grandes caminhos que atravessam o país de Sul a Norte, um na costa e um no interior.

O processo de marcação do Caminho Português iniciou-se em 1992, pela “Asociación Gallega de Amigos del Camiño de Santiago”, apenas no troço da Galiza, partindo de Tui. Em 1995, em colaboração com as autarquias de Valença e Ponte de Lima e com a “Associação dos Amigos do Caminho de Santiago” (sedeada em Valença) foi marcado o troço Ponte de Lima – Tui. A “Associação dos Amigos do Caminho Português” (sedeada em Ponte de Lima) sinalizou o troço entre Porto, Barcelos e Ponte de Lima nos anos seguintes (Mendes, 2009).

A sinalização a sul do Porto demorou cerca de 10 anos, após debates entre as várias associações, curiosos e historiadores, sobre qual seria o verdadeiro Caminho Português. O facto de não existir uma entidade oficial responsável pela gestão do Caminho de Santiago em Portugal e que coordenasse todas as associações, o debate nem sempre foi pacífico.

O Caminho Central no troço Porto - Lisboa, foi marcado em 2006, numa colaboração entre várias entidades: “Asociación Galega Amigos do Camiño de Santiago”, “Associação de Amigos do Caminho de Santiago do Norte de Portugal” e a “Associação dos Amigos do Caminho de Santiago” e coordenação do “Centro Nacional de Cultura”. A marcação teve como base documental, os relatos históricos de peregrinos de Santiago como: Giovanni Battista Confalonieri (1594), Jerónimo Muenzer (1495), Dom Edme de Saulieu, Dom abade de Claraval da Ordem de Cister (1531-1533), Erich Lassota de Steblovo (1581) e Cosme III de Médicis (1669) (Mendes, 2009).

Como foi dito anteriormente, podemos falar de dois grandes caminhos, a partir de Lisboa (Fig. 2), que atravessam o país de sul a norte, um na costa e um no interior. De Lisboa seguem em direção a Coimbra (existem duas variantes por Tomar – que corresponde, até Santarém ao Caminho do Tejo - ou por Leiria). Em Coimbra existem também duas alternativas, pelo interior (por Viseu e Chaves que atravessa a fronteira em Feces de Abaixo e se junta à Via da Prata em Verin), ou pela costa (em direção ao Porto). No Porto temos a opção mais utilizada por Barcelos (Caminho Central Português), a possibilidade da via pela costa (Viana-Caminha-Valença) ou ainda a alternativa por Braga. Em Braga segue para Ponte de Lima ou para a Portela do Homem, em Barcelos segue para Caminha ou para Ponte de Lima (alternativa mais utilizada pelos peregrinos por ser mais curto e menos acidentado). De Ponte de Lima segue para Ponte da Barca e Vilarinho das Furnas ou para Valença (alternativa mais utilizada pelos peregrinos por ser mais curto).

Apesar da via da Prata passar também por Portugal no nordeste português (Bragança-Vinhais), não podemos considerar o Caminho Leonês como um Caminho Português. Contudo, era também utilizado por peregrinos portugueses que moravam nas imediações do Caminho.

2.1.4.1 Sinalização do Caminho – setas amarelas

De modo geral os caminhos hoje encontram-se sinalizados por setas de cor amarela, no chão, muros, pedras, postes, árvores, estradas, marcos de granito ou concreto, e outros. Como regra, passam sempre em frente à igreja/santuário mais importante da cidade ou da localidade.

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Tal como acontece em todos os Caminhos de Santiago, também o Caminho Português está sinalizado desde Lisboa com setas amarelas e placas de identificação. Nalguns pontos do CCP, em território espanhol, são utilizados azulejos na marcação do Caminho com a representação de uma vieira, cuja parte aberta indica a direção do Caminho. Para além da sinalização oficial, encontramos por vezes marcações provisórias, feitas pelos peregrinos, quando há problemas com a sinalização existente provocados pela meteorização, furto de placas sinaléticas (azulejos) ou obstrução da vegetação.

2.1.5 Perfil do peregrino no Caminho de Santiago

Após o declínio das peregrinações, sentido a partir do século XIV, primeiro devido às pestes, depois devido às guerras religiosas do século XVI, hoje em dia podemos falar de um verdadeiro ressurgimento do fenómeno. O Ano Santo de 1993 trouxe a Santiago de Compostela mais de 100.000 peregrinos a pé, em bicicleta ou a cavalo, número que se elevou a 150.000 no Ano Santo de 1999 e a 180.000 em 2004 (Mendes, 2009). O número dos últimos anos não jubilares continuou a subir em relação a anos precedentes, sendo que no Jubileu de 2010 tenha ultrapassado 250.000 peregrinos (a pé, bicicleta ou

cavalo)

.

As diferentes variantes do Caminho Português são percorridas pelos peregrinos, sendo que o troço Porto – Santiago de Compostela (variante Barcelos, conhecida por Caminho Central Português – CCP) seja o mais utilizado. Considerados todos os Caminhos de Santiago nas estatísticas oficiais da Oficina de Acolhia de Peregrinos, 125.141 peregrinos solicitaram o comprovativo de conclusão do caminho - Compostela (dados relativos ao ano de 2008). Destes, 9.770 percorreram o Caminho Português, representando cerca de 8% do total de peregrinos (Mendes, 2009). Estes registos oficiais conferem ao Caminho Português como o segundo percurso mais percorrido (depois do Caminho Francês).

A partir dos registos de entrada e pernoita no albergue de São Pedro de Rates, o perfil do peregrino de Santiago que percorre o CCP é muito heterogéneo. Em termos de estrutura etária os peregrinos são predominantemente de uma faixa superior a 50 anos na época baixa, e de uma faixa mais jovem no período de verão (essencialmente entre 25 e 50 anos). A sua origem também varia consoante a época, sendo que na época baixa são essencialmente estrangeiros do norte da Europa (Alemanha, Holanda), enquanto que nos meses entre julho e setembro são maioritariamente de origem nacional, espanhóis e italianos. Ao nível social, o peregrino varia entre pensionistas (na época baixa), e adultos com profissões ligadas aos serviços ou estudantes universitários (na época alta). No geral são peregrinos com uma formação académica de nível secundário ou superior, interessados pelos valores culturais, naturais e históricos que o Caminho tem para oferecer. A forma de se apresentar ao Caminho também depende da origem e costumes dos peregrinos, sendo que o nórdico anda sobretudo sozinho ou a par de companheiro sem laços familiares. Por seu lado, o peregrino latino faz normalmente o caminho em grupos de dois ou quatro companheiros, movidos por laços familiares ou de amizade.

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2.1.6 Valores do Caminho

Ao longo dos caminhos, são reconhecidos diferentes, paisagens, monumentos, costumes e que lhe confere uma riqueza inegável do património cultural material (sagrado, civil…) / imaterial (religiosidade, gastronomia, vivências locais…), património natural (biodiversidade e geodiversidade).

O Caminho de Santiago teve grande procura por peregrinos nos séculos século XI e XII, e depois após a contrarreforma no início do século XVII. Nas últimas décadas voltou a ganhar grande interesse, sendo convertido num itinerário espiritual e cultural de primeira ordem. Segundo o Parlamento Europeu, o Caminho de Santiago foi declarado Primeiro Itinerário Cultural Europeu (1987), e declarado pela UNESCO como Património da Humanidade na Espanha (1993) e em França (1998). A peregrinação a Santiago transformou-se assim, desde muito cedo, no acontecimento religioso e cultural mais destacável e mais profundamente vivido da Idade Média, feito reconhecido pelas referidas entidades da União Europeia e da ONU.

O reconhecimento patrimonial do Caminho de Santiago, deve-se à riqueza de valores naturais, culturais, históricos e sagrados a oferecer e que atrai e apaixona o peregrino/caminheiro atual.

2.1.7 Recursos bibliográficos

Atualmente, o peregrino ou simples caminheiro de Santiago não dispõe de qualquer guia com informação do património geológico do “Caminho Português”. Apenas existe uma publicação espanhola dedicada ao património geológico do Caminho de Santiago, neste caso particular, o “Caminho Francês” (Sáenz Ridruejo, 1999). O autor fez o inventário e catalogação de singularidades geológicas no “Caminho Francês” desde Aragão, Navarra, Rioja, Castela e Leão até à Galiza. Para além da inventariação e catalogação, o autor define uma estratégia de conservação / proteção, divulgação, e propõe um uso e administração desse mesmo património geológico (Sáenz Ridruejo, 1999).

Neste contexto torna-se importante a criação de um recurso bibliográfico de apoio ao Caminho com informação que não seja apenas dirigida aos valores históricos, sagrados e da biodiversidade desse trajeto. O guião interpretativo da geologia do CCP, será assim uma mais-valia dos valores naturais da geodiversidade, preenchendo uma lacuna nesta temática bibliográfica dos Caminhos de Santiago.

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2.2 - Enquadramento geográfico do NW português e da Galiza ocidental

Ao longo do Caminho Português Central, desde o Porto até Santiago de Compostela, a paisagem é marcada por relevos medianamente elevados, culminados em planaltos ou superfícies descontínuas. Em contraste surgem os vales com vertentes abruptas e fundo largo e aplanado (Ferreira, 1983; Pereira, 1992). No setor da Galiza ocidental, esses vales têm a particularidade de estarem parcialmente submersos na desembocadura dos rios Atlânticos, formando as rias.

Administrativamente, a área de estudo abrange duas regiões de países diferentes: Noroeste de Portugal (Daveau et al., 2004) e a região espanhola da Galiza. A posição geográfica desta área, enquadra-se num setor nor-ocidental da Península Ibérica, o que confere uma frente litoral do Atlântico. A sua exposição à influência dos ventos húmidos oceânicos, das superfícies frontais e reforçadas por uma orografia montanhosa, determinam a frequência de chuvas frontais e orográficas. A região tem um clima temperado mediterrânico de influência marítima, que “alimenta” bacias com rios pequenos, mas caudalosos. Este clima também favorece a diversidade e densidade de vegetação arbórea, bem como à prática de uma agricultura intensiva.

A morfologia do CCP é caracterizada pelos relevos montanhosos com cotas de média ou baixa altitude. No trajeto entre Porto e Santiago de Compostela, o Caminho passa próximo de algumas unidades montanhosas como a Monte da Cividade – Bagunte (378 m), Serra de Rates (202 m), Monte da Franqueira (296 m), Serra da Nora (574 m), vertente oriental da Serra do Formigoso (574 m), vertente oriental da serra do Galinheiro (709 m), vertente ocidental do Monte de Xiabre (641 m). A partir do CCP, avistam-se alguns maciços montanhosos que se destacam na paisagem como a Serra da Padela - Balugães (485 m), Serra de Arga (823 m), Serra de São Paio (638 m), Monte Castrove (613 m) e Monte Pedroso (461 m).

Ao longo do CCP, a altimetria varia entre 3 metros em Pontevedra e Pontecesures/Padrón, e 405 metros de cota máxima na Portela da Labruja. De referir que o Caminho não passa por nenhum dos relevos culminantes referidos no parágrafo anterior.

A rede fluvial tem uma drenagem exorreica para ocidente, aproveitando a posição geográfica do Atlântico. Como foi dito anteriormente, os rios do NW peninsular têm extensão e bacias pequenas, pois são controladas pelos interflúvios das Serras Orientais (sistema Ancares-Courel-Queixa), da Dorsal Galega (sistema Faro-Farelo-Faro de Avión) (Masiá, 1997) e das montanhas interiores do Minho (sistema Gerês-Larouco-Cabreira). Assim sendo, rios principais raramente ultrapassam os 100 quilómetros, exceto os rios Minho, Lima, Cávado e Ulla. Ao longo do Caminho é feita a travessia dos rios Leça (45 km), Ave (85 km), Cávado (135 km), Neiva (45 km), Lima (135 km), Coura (tributário do Minho com 50 km), Minho (300 km), Verdugo (41 km), Lérez (60 km), Umia (70 km) e Ulla (132 km). Ao longo do seu trajeto, estes rios aproveitam a rede de fraturação tardi-varisca (glossário) para efetuarem o seu encaixe com direções NNE-SSW, ENE-WSW, NE-SW e N-S. Outro aspeto importante na hidrografia, são os rios/ribeiros tributários, essencialmente de orientação N-S ou S-N, também controlados pela tectónica e que dão origem a interessantes vales

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retilíneos associados a fraturas (Ferreira, 1983). O Caminho Central Português acompanha algumas dessas depressões meridianas como o rio Louro (tributário do Minho com 30 km), rio Sar (tributário do Ulla), rio Gândara (tributário do Lérez), Bermaña, Chain/Agra (tributários do Umia). O Caminho faz-se também ao longo de outros rios tributários (N-S ou S-N) como o Labruja (afluente do Lima), e Valga (Ria de Arosa).

O CCP (sentido N-S) atravessa unidades morfológicas diferenciadas desde pequenas plataformas litorais, pequenos relevos montanhosos até 800 metros de altitude, vales fluviais alargados e fundo plano (preenchidos por sedimentos antigos e/ou modernos) entre vertentes abruptas e pela morfologia costeira de vales submersos – rias. O coberto vegetal é essencialmente arbóreo de espécies exóticas como o eucalipto (eucaliptus globulus) e resinosas como o pinheiro bravo (pinus pinaster). Existem também alguns povoamentos mistos com endémicas de ambientes temperados e húmidos como o carvalho-comum (quercus robur) e castanheiros (castanea sativa) (Moreira & Neto, 2005). O povoamento vegetal também tem pequenas manchas de vidoeiros (bétula celtibérica), sobreiros (quercus suber) e oliveiras (olea europaea). Por outro lado, o abandono das áreas agrícolas tem contribuído para a proliferação de espécies invasoras arbustivas – giesta (cytisus scoparius), enquanto que os incêndios florestais nos relevos rochosos e montanhosos, têm facilitado a expansão das acácias-mimosas (acacia dealbata).

Ao nível do povoamento humano, o CCP passa por aglomerados urbanos importantes como Porto, Pontevedra e Santiago de Compostela, e outros de menor dimensão como Barcelos, Ponte de Lima, Valença, Tui, Porriño, Redondela, Caldas de Reis e Padrón. A paisagem humana mais comum no CCP são os aglomerados rurais de povoamento mais ou menos dispersos. Além disso a paisagem agrária é essencialmente composta por minifúndios com sistemas policulturais de vinhas, cultivo do milho, batata e pastagens, traduzindo o caráter tradicional da agricultura.

2.3 - Enquadramento geológico

O Noroeste Peninsular caracteriza-se pelo predomínio de rochas graníticas e é marcado por relevos montanhosos entre vales largos de rios principais e alguns tributários com orientação predominante ENE-WSW e N-S (Ferreira, 2005; Pereira, 2010). Os contrastes morfológicos são evidentes na região do Minho e Galiza ocidental, com depressões alargadas, entre vertentes com grande declive. Apesar da predominância das rochas graníticas podemos encontrar regiões com maior diversidade litológica, com rochas sedimentares (depósitos continentais e marinhos) e rochas metamórficas (evidente na bacia do Este entre Arcos e Rates, Ponte de Lima e Milladoiro – Santiago de Compostela). A diversidade destas formações traduz-se também numa complexidade e “originalidade” geomorfológica, onde a tectónica foi determinante na estrutura regional.

O Noroeste Peninsular enquadra-se numa unidade morfotectónica designada Maciço Ibérico, também designada Maciço Antigo ou Soco Hercínico (Pagés Valcarlos & Romani, 1998; Ferreira,

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2005). Esta unidade morfoestrutural ocupa a região central e ocidental da Península Ibérica e foi dividida de acordo com características geológicas, litológicas e estruturais (Julivert et al., 1972). A região atravessada pelo CCP, desde o Porto até Santiago de Compostela, enquadra-se maioritariamente na Zona Centro Ibérica (Fig. 6) do Maciço Ibérico, e inclui um subsetor da Zona da Galiza Média – Trás-os-Montes (Pagés Valcarlos & Romani, 1998; Ribeiro, 1979; Ferreira, 2005).

Fig. 5 Localização da região do Minho e Galiza ocidental na divisão morfoestrutural da Península Ibérica (Julivert et al., 1974; modificado Pereira, 2001)

No entanto, na região do Minho e das Rias Baixas da Galiza as rochas graníticas, muitas vezes dispostos em afloramentos e maciços segundo arcos com direção preferencial NW -SE, são as litologias predominantes (Pagés Valcarlos & Romani, 1998). As intrusões de granitóides, estão relacionadas com as três fases compressivas da deformação varisca e com um período distensivo, entre a fase 2 e 3 (Dias, 2001). Os granitóides, bem como as unidades metassedimentares afloram na sequência do arrasamento da cordilheira varisca, iniciada no final do Paleozoico (Ferreira, 2005).

A intrusão dos granitóides foi fortemente condicionada por fraturas cizalhantes profundas da crusta com a referida direção (NW-SE), como por exemplo as falhas (glossário) Vigo - Régua e Fão – Valongo (Dias et al, 1997). Na região minhota, as rochas graníticas que afloram são muito diversificadas, quer do ponto de vista textural, mineralógico, químico, e também no que respeita à sua idade de intrusão.

Em termos paleogeográficos, durante o Paleozóico Inferior esta região pode ser entendida como situada numa bacia inicialmente marinha que evoluiu posteriormente para um oceano. As

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formações metamórficas hoje observadas no NW Peninsular derivam essencialmente de sedimentos e de rochas vulcânicas depositadas nessa bacia durante esse intervalo temporal. Posteriormente, a partir do Devónico Médio, ocorreu uma intensa atividade orogénica (hercínica ou varisca) de que resultaram a forte deformação das sequências de rochas metamórficas e a atividade plutónica. Na fase final do ciclo a crusta foi cortada por fraturas, aproveitados para a instalação de filões de quartzo (glossário) e de rochas básicas (Pereira, 1988; Dallmeyer, R. & Martínez-García, E., 1990; Pereira et al.,1992).

As formações metamórficas, essencialmente metassedimentares, que afloram na região minhota estão divididas em três grandes domínios estruturais:

Os terrenos autóctones da Zona Centro Ibérica que não sofreram movimentação durante a orogenia (glossário) varisca e que afloram nos locais onde estão enraizados.

Os terrenos parautóctones da Zona Galiza - Trás-os-Montes que sofreram pequena movimentação (da ordem de dezenas de quilómetros) da origem geográfica até ao local onde afloram, durante a atuação da orogenia varisca.

Os terrenos alóctones da Zona Galiza - Trás-os-Montes que se formaram pelo empilhamento de unidades litológicas cuja zona de raiz está muito distante do local onde ocorrem (superior a 100 km) e que sofreram movimentação durante os processos da orogenia hercínica (Dias, 2001). Em função da distância percorrida e origem consideram-se as unidades Alóctone Inferior, Alóctone Médio e Alóctone Superior.

No CCP, encontramos terrenos autóctones na região de Rates e parautóctones na sub-região de Ponte de Lima e de Vilaboa - Pontevedra (Fig. 6). Na sub-região de Mós e Redondela, encontramos formações do alóctone superior, mais evidente na Serra do Galinheiro. Os últimos 5 km do CCP, na periferia de Santiago (entre Milladoiro e a cidade), são percorridos na transição de terrenos do parautóctone e do alóctone inferior, no entanto, difíceis de observar devido à forte ação antrópica (urbanismo).

O Maciço Ibérico é hoje constituído por superfícies de erosão fraturadas ou balanceadas e levantadas a cotas variadas, com alguns relevos residuais (devidos a uma maior resistência ou à posição). Ao mesmo tempo que se davam as movimentações alpinas, todo o bloco do Maciço Ibérico se inclinou para Oeste, e definiu a orientação dos principais rios do NW peninsular, entre eles o Minho, Lima, Cávado, Ave, Lerez, Umia, Ulla (Araújo & Pérez Alberti, 1999; Ferreira, 2005; Martin-Serrano, 1994; Nonn, 1966; Pagés Valcarlos, 2000; Pagés Valcarlos & Romani, 1998; Pereira et al, 1992; Romani,1989).

A morfologia acidentada do setor ocidental do Maciço Ibérico sofreu uma maior fragmentação tectónica e a um maior soerguimento tectónico relativamente a outros sectores (Ferreira, 2005.. O

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Minho ocidental apresenta uma grande originalidade no conjunto do relevo de Portugal, com uma série de vales largos e vertentes abruptas, com orientação ENE-WSW (Ferreira, 1983).

Fig. 6 Enquadramento geológico do Caminho Central Português no NW da Península Ibérica. Adaptado de Martinez-Catalán et al. (2004). Fonte (Pereira, 2006).

2.4 - Evolução geomorfológica

A partir do fim do Cretácico, e em resposta à inversão tectónica sentida na Península Ibérica, os blocos essencialmente graníticos do norte de Portugal, foram levantados, em conformidade com o esforço compressivo (Pereira, 2010). A tectónica atuou a diferentes ritmos, logo ocorreram fases muito ativas (levantamento) e fases menos ativas (arrasamento). As superfícies de aplanamento evoluem através de um recuo paralelo das vertentes. A origem e evolução das superfícies de aplanamento, segundo a teoria de Budel (1957), resultam de uma dupla superfície de erosão. A superfície topográfica onde ocorre a erosão física por escoamento superficial e, a superfície basal

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de alteração, correspondente ao contacto rególito e rocha origem, evoluindo por alteração química. Nas superfícies escalonadas do Minho e Galiza ocidental é possível identificar diferentes níveis de aplanamento embutidos (Ferreira, 2005; Pagés Valcarlos & Romani, 1998). As deformações tectónicas atingiram maior intensidade sobre a região durante o Cenozóico, levando a que se definissem blocos com diferentes taxas de levantamento, separados por uma rede de fraturas que foi aproveitada pela atuação dos agentes de meteorização externos e pela drenagem fluvial. Os níveis culminantes das serras do NW português e montanhas Galaico-Leonesas ultrapassam os 1000 metros, sendo que uns se encontram em afloramentos (Courel, Ancares, Laboreiro, Gerês) e outros em superfícies aplanadas (Amarela) têm uma importância na estrutura regional, ainda que o CCP não atravesse a referida área. Deve ser tido em conta o contexto regional quanto à erosão diferencial, composição do substrato litológico e atividade tectónica que determinam a diversidade dos níveis culminantes.

A evolução geomorfológica do NW peninsular, onde se insere a área de estudo do CCP, que engloba a Galiza ocidental e o NW de Portugal, deve ser entendida numa perspetiva mais vasta. Considerando a localização geográfica da região, o modelo de evolução é marcado por várias etapas evolutivas, e por fatores intervenientes do relevo e drenagem (Pereira, 2010). Entre eles, reconheceu-se que as particularidades do relevo do NW peninsular, estão associadas à neotectónica (Cabral, 1995; Batista, 1998), à sedimentologia e estratigrafia dos depósitos cenozóicos (Pereira, 1989, 1991, 1997, 1998, 1999a), à geomorfologia de setores específicos (Pereira, 2006), à evolução cenozóica do setor costeiro (Araújo, 1991), à evolução terciária na região (Pereira, 2004, 2006) e à própria evolução durante o quaternário (Ferreira, 1983).

Para descrever e compreender as formas de relevo e a própria evolução da rede de drenagem no NW peninsular, tem como referência a Superfície Fundamental de Aplanamento (Martin-Serrano, 1994). O Maciço Ibérico foi sujeito a um processo de erosão, contribuindo para a colmatação de bacias como na depressão tectónica de Bierzo (Léon) e na Bacia Terciária do Douro (BTD), durante o Cenozóico. No mesmo período, o Maciço Ibérico no NW peninsular sofreu uma evolução com a elevação montanhosa de eixo curvo e transversal relativamente á estrutura regional varisca (Pereira, 2010).

Este eixo montanhoso marcado pela cordilheira Cantábrica de orientação E-W e montanhas Galaico-Leonesas com prolongamento para até às montanhas ocidentais do Minho, resultaram do levantamento associado à subducção da placa Europeia sobre a Ibéria (Santanach, 1994; Andeweg, 2002; Pereira, 2010).

As etapas de levantamento da Cordilheira Cantábrica ocorreram desde o Paleogénico até ao fim do Neogénico, comprovados pelos sedimentos correlativos na depressão de Bierzo e na BTD (Martin-Serrano, 1994; Pereira, 2010). Por outro lado, os acidentes tectónicos NNE-SSW resultantes da compressão máxima NW-SE, ocorrida sobretudo no Miocénico superior (Cunha et al., 2004), foram aproveitados por uma drenagem de rios tributários no Norte de Portugal e Galiza.

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As depressões tectónicas são formas de relevo regional pouco expressivas no NW peninsular, no entanto existem algumas pequenas áreas que marcam a paisagem. A depressão Valença-Tui (Minho-Louro), Xinzo (atual Lima Superior), As Pontes e Meirama, Sarria (Galiza N), Monterrei (Galiza SE), são depressões tectónicas com falhas inversas que colocam o soco sobre sedimentos cenozóicos (Pereira, 1991, 1997; Pagés Valcarlos et al., 1998).

A evolução da rede de drenagem para a Orla Atlântica é outro elemento da paisagem marcante no NW peninsular, ainda que seja diferenciado entre o setor N (Galiza) e S (região do Minho).

A rede de drenagem do NW peninsular evoluiu segundo a conjugação de vários fatores (Pereira, 2010):

a) Concordância com a evolução das principais estruturas e formas de relevo, geralmente orientadas E-W.

b) Localização geográfica do Atlântico a Oeste.

c) Herança varisca, nomeadamente na tectónica, formações rochosas e disposição do relevo, levando por exemplo à captura de cursos de água no setor NE de Portugal.

d) Influência de rede de fraturas tardi-variscas no entalhe dos cursos fluviais, nomeadamente nos rios Cávado, Lima, Minho inferior, Lerez, Umia, Ulla, entre outros.

Os interflúvios dos principais rios do Minho e rias da Galiza ocidental, são marcados por relevos residuais da superfície aplanada e sujeitos a profunda erosão e recuo das vertentes. Os vales fluviais destas regiões com uma orientação geral ENE-WSW, são abertos e resultam da prolongada erosão, permitindo uma grande fragmentação até ao limite das montanhas ocidentais - Minho, e das serras centrais/superfície de Chantada - Galiza, sensivelmente até 60 km da costa (Pagés Valcarlos, 1998; Pereira, 2010).

Os vales desta região foram alargados por rios que encaixaram em fraturas, capturando algumas depressões tectónicas. Na Galiza ocidental, o processo de evolução do relevo e da drenagem é ainda mais complexo, atendendo aos vales fluviais que foram sujeitos a uma ocupação marinha Quaternária, formando as atuais rias. Segundo Pagés Valcarlos (1998), o modelo de formação das rias, deve ser primeiramente entendida num contexto de levantamento do soco que levou a uma adaptação das redes fluviais ao sistema de fraturas NE-SW, através de processo de capturas. A “inundação” marinha do vale fluvial no Quaternário, até ao último estádio da Superfície Fundamental, foi evoluindo por encaixe e retrocesso das vertentes, condicionado pelas linhas de fratura frágil e pela diferenciação litológica (Pagés Valcarlos, 1998). Contudo, a interpretação destas formas não está ainda concluída, nomeadamente quanto à diferenciação dos vales ocidentais da Galiza e do Minho, havendo a hipótese de diferença altimétrica por levantamento / abatimento dos blocos entre setores, por ação tectónica.

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No que respeita às particularidades dos vales fluviais do Minho, também existem aspetos relevantes como os alvéolos (glossário) de erosão no seu interior, entretanto esvaziados através de corredores de erosão e cursos fluviais (Pereira, 2010). Deste modo, compreende-se que a superfície litoral fosse extensível pelo interior desses vales largos e profundos, nomeadamente durante as oscilações glacio-eustáticas no Pliocénico (Ferreira, 1983; Cabral, 1992; Pagés Valcarlos, 1998).

A depressão de Prado no vale do Cávado e o paleovale abandonado de Alvarães (atual bacia do Neiva), apresentam características sedimentológicas com alimentação apenas da proximidade da orla Atlântica. Pelo contrário, os terraços existentes no vale do Minho em São Pedro da Torre – Valença, são de origem fluvial/coluvial, nomeadamente com clastos de leitos conglomeráticos transportados desde as unidades metassedimentares (glossário) paleozoicas do interior da bacia Minho-Sil (Pereira, 2010). Estas formações são visíveis num troço específico do CCP.

A intercalação de níveis sedimentares diferenciados entre materiais finos ou grosseiros, estão associados a processos de drenagem com maior ou menor energia para o Atlântico. Por outro lado, a sobreposição de sedimentos de conglomerados, arenitos e lutitos, traduzem a revitalização da drenagem no vale do Minho (Pereira e Alves, 2004). Os terraços preservados nesse setor, testemunham registos quaternários de quatro ciclos principais de encaixe fluvial e aluvionamento, associados ao último período glaciário de Wurm (Alves e Pereira, 2000).

Depois de abordar a plataforma litoral da Galiza ocidental e do setor do Minho até à bacia do Cávado, interessa também analisar o setor mais meridional da área de estudo – Douro litoral entre o Porto e a bacia do Ave. Esta plataforma litoral é mais larga e mais elevada que o setor Cávado-Minho, estando fortemente condicionada pelo flanco ocidental da estrutura Antiforma de Valongo (Pereira, 2010). Nesta plataforma existem depósitos marinhos e duas gerações de sedimentos continentais (Araújo, 1991), no entanto a sua continuidade é limitada pelo relevo diferencial do “tipo apalachiano”, muito próximo da orla Atlântica até à região do Porto (Gondomar). Neste setor, a plataforma litoral tem uma extensão média de apenas 15 quilómetros, dificultando o desenvolvimento de vales largos e profundos, ao contrário do que acontece no setor Cávado-Minho onde esses vales estendem-se cerca de 45 quilómetros para interior, até aos flancos das montanhas ocidentais (Pereira, 2010).

2.5 - A importância da Geomorfologia na definição dos caminhos medievais de

Santiago

A definição dos caminhos medievais de Santiago teve em conta diversos fatores. Desde a Idade Média, a acessibilidade tem sido fundamental para o peregrino chegar ao destino sagrado pelo trajeto mais curto e menos difícil. Na época medieval os caminhos tinham em conta os obstáculos naturais como os cursos de água e as barreiras montanhosas e, por outro lado,

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Fig. 2 Rede de caminhos medievais utilizados pelos peregrinos  portugueses a Santiago
Fig. 3 Rede de caminhos medievais utilizadas pelos peregrinos europeus a Santiago.
Fig. 4 Localização do troço interpretativo do Caminho Central  Português. Fonte: Associação Galega do Amigos do Caminho de
Fig. 5 Localização da região do Minho e Galiza ocidental na divisão morfoestrutural da Península Ibérica (Julivert et al., 1974;
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Referências

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