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A escravidão e suas implicações a partir de uma análise do samba-enredo / Slavery and its implications from Samba-enredo analysis

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Academic year: 2020

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A escravidão e suas implicações a partir de uma

análise do samba-enredo

Slavery and its implications from

Samba-enredo analysis

DOI:10.34117/bjdv5n12-151

Recebimento dos originais: 07/10/2019 Aceitação para publicação: 11/12/2019

Débora Aladim Salles

Graduanda em História pela Universidade Federal de Minas Gerais Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais

Endereço: Avenida Presidente Antonio Carlos, 6627 – Pampulha, Belo Horizonte, Minas Gerais E-mail: deboraaladims@gmail.com

Beatriz Pereira Oliveira

Graduanda em História pela Universidade Federal de Minas Gerais Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais

Endereço: Avenida Presidente Antonio Carlos, 6627 – Pampulha, Belo Horizonte, Minas Gerais E-mail: beatrizoliveira475@gmail.com

Isadora Nébias Carvalho

Graduanda em História pela Universidade Federal de Minas Gerais Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais

Endereço: Avenida Presidente Antonio Carlos, 6627 – Pampulha, Belo Horizonte, Minas Gerais E-mail: isadoranebias@gmail.com

RESUMO

O seguinte trabalho é um material didático desenvolvido para ser trabalhado em sala de aula com alunos de ensino médio. O objetivo de aprendizado é compreender uma das faces mais reveladoras do Brasil atual por meio de análise de textos, imagens e músicas. Trabalharemos conceitos como

democracia racial, camarotização e a questão negra no Brasil, pela perspectiva do samba, seu

ritmo e letra, que carregam raízes históricas profundas e ainda visíveis na nossa sociedade. O trabalho conta também com Manual do Professor, para guiar a atividade docente.

Palavras-chave: material didático, metodologias ativas de aprendizado, racismo, educação,

pedagogia, mito da democracia racial, camarotização, samba enredo, história

ABCTRACT

The following work is a teaching material designed to be worked in the classroom with high school students. The objective of learning is to understand one of the most revealing faces of Brazil today through the analysis of texts, images and music. We will work on concepts such as racial democracy, stewardship and the black issue in Brazil, from the perspective of samba, its rhythm and lyrics, which carry deep and still visible historical roots in our society. The work also has a Teacher's Manual to guide the teaching activity.

Key words: didactic material, active learning methodologies, racism, education, pedagogy, myth of

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1 INTRODUÇÃO

1.1 ESCRAVIDÃO X MITO DA DEMOCRACIA RACIAL AS CONSEQUÊNCIAS DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL: a pobreza e sua dimensão racial

A escravidão no Brasil tem raízes profundas e suas consequências perduram até os dias atuais. As estatísticas e indicadores mais alarmantes tem cor e condição socioeconômica.

A pobreza nunca foi somente uma questão econômica, ela surge principalmente como o resultado da falta de políticas públicas para a integração social, econômica e política dos escravos recém libertos, nos primeiros momentos pós-abolição, em 1888.

Segundo o censo do IBGE em 2014, os negros no Brasil compunham 53,6% do total da população. No entanto, não é essa a representatividade que conseguimos observar nas grandes mídias, em que os estereótipos são reforçados e explorados de maneira negativa. Além disso, de acordo com o relatório especial da Organização das Nações Unidas, 70,8% dos mais de 16 milhões de brasileiros vivendo em situação de pobreza extrema, são negros.

Segundo a economista Miriam Leitão, “a ausência dos negros nos eventos onde está a elite,

de qualquer área, não incomoda os brasileiros. E porque tantos não veem essa ausência, podem continuar dizendo com conforto que o racismo brasileiro não existe. São os que dizem que nós apenas discriminamos os pobres.”

2 ATIVIDADE PARA REFLEXÃO: ESTEREÓTIPOS

1. Cite no mínimo quatro pessoas negras de grande influência no Brasil. 2. Quais são os meios em que elas estão inseridas?

Em geral, os estereótipos atuais acerca da pobreza, da violência e da falta de escolaridade estão associados aos negros, e entre a população jovem esse tipo de preconceito é percebido com ainda mais força (e fatalidade). A cada 23 minutos, um jovem negro, entre 15 e 19 anos, é morto

no Brasil. São 63 por dia e 23.100 por ano. Diariamente, nas favelas em todo o Brasil, onde 70%

da população é negra, ocorrem assassinatos de jovens e a solução do Estado é sempre a mesma: aumentar ainda mais a força policial nesses ambientes. Outro dado importante de ser analisado é a população carcerária: 67% dos presidiários no Brasil são negros, e 53% dessas pessoas não completaram o ensino fundamental.

Podemos perceber por meio de dados simples, o quanto o racismo no Brasil é

institucionalizado desde a época da escravidão. Ao contrário do que estudos mais antigos sobre o

tema dizem, ela não se passava somente nas lavouras, na verdade era uma instituição social que se

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significativos. Após a abolição, em 1888, os negros que ascenderam socialmente eram exceção. E

hoje em dia?

Recomendação de vídeo: “Brasil: um país profundamente racista” Leandro Karnal

Trabalhando com Números

Observe os gráficos e responda às questões propostas:

1. Como se alteram as quantidades de negros e brancos na população brasileira e dentro dos presídios? A porcentagem se mantém entre os dois gráficos?

2. Qual é o nível de escolaridade predominante nos presídios do Brasil?

3. O que podemos concluir da comparação entre esses dois gráficos? Explique sua resposta.

4. A que fatores históricos podemos relacionar a menor escolaridade de negros com relação aos brancos? Explique.

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3 OS DISCURSOS DE UMA SOCIEDADE QUE VIVE O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL

Pensando nisso, é necessário entender como e porquê as consequências de mais de 300 anos de escravidão passam despercebidas para grande parte da sociedade brasileira. O novo projeto republicano de nação, iniciado em 1930 com Getúlio Vargas, é responsável por reforçar e construir novas formas de dominação que eram baseadas em uma noção de raça única, brasileira. Nesse contexto, o sociólogo brasileiro Gilberto Freyre e seu livro “Casa-Grande e Senzala”, publicado em 1933, são muito importantes devido à sua ampla utilização para reafirmar esse projeto.

GILBERTO FREYRE (1900-1987)

Gilberto de Mello Freyre nasceu no ano de 1900, em Recife. Filho de professores, Freyre começou a estudar ainda muito novo e aprendeu diversas línguas, entre elas, o latim e o inglês. Aos 17 anos de idade foi para os Estados Unidos para estudar Artes Liberais, na Universidade de Baylor, com especialização em Ciências Políticas e Sociais. Pós-graduado na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, sua tese de mestrado teve como título: "Vida Social no Brasil em Meados do século XIX". Recebe grande influência de seu orientador, Franz

Boas; e depois parte para a Europa para terminar seus estudos.

Muito importante para a história do Brasil, Gilberto Freyre é um

dos autores mais premiados do país, reconhecido internacionalmente. Escreveu para diversos jornais durante toda sua vida e foi professor de sociologia. Em 1933 escreveu seu mais importante trabalho:

Casa Grande e Senzala.

Seu livro de maior sucesso, “Casa-Grande e Senzala”, trata da miscigenação racial durante o período colonial brasileiro, e procura explicar a formação da sociedade romantizando em diversos aspectos, a vida nos engenhos e nas fazendas. De acordo com o autor, portugueses, escravizados

negros e indígenas, foram responsáveis, cada um com sua contribuição específica, por criar uma miscigenação harmoniosa e favorável, que teria gerado a nação brasileira. Essa mistura teria

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Um exemplo dessa harmonia seriam os meninos brancos da Casa Grande, criados por mulheres negras, conhecidas como amas de leite1, e assim foram incorporados, através desse

convívio, aspectos culturais africanos na cultura branca, o que supostamente contribuiu para a diminuição da distância entre a casa grande e a senzala.

Outro ponto tratado no livro, é a violência; apesar de ela existir dentro dessas relações, o que nunca foi negado por Freyre, podemos perceber um caráter terno e cuidador dos portugueses para com os escravos, principalmente os domésticos. Assim, a intervenção portuguesa no Brasil, juntamente com os negros e indígenas, teria impedido o surgimento de critérios raciais muito

rígidos. Gilberto Freyre foi revolucionário ao atribuir ao futuro do Brasil uma visão otimista, e

voltada para o nordeste, ao contrário de muitos outros autores da época, favoráveis ao

branqueamento2 da população.

1 Ama de leite: mulher que amamenta a criança alheia quando a mãe natural está impossibilitada de fazê-lo. Geralmente esse encargo era dado às escravizadas que já tinham filhos.

2 Branqueamento: uma ideologia que era amplamente aceita no Brasil entre 1889 e 1914, como a "solução" para o excesso de negros.

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Mas, porquê usar Gilberto Freyre para falar de “Democracia Racial”?

Mesmo que Freyre não tenha utilizado esse termo no livro “Casa Grande e Senzala”, essa obra abre o caminho e fornece base teórica para que esse conceito seja amplamente adotado por muitos estudiosos no século XIX.

A chamada Democracia Racial é uma idealização das relações coloniais, uma visão romantizada. Esse conceito trata a miscigenação acontecida no Brasil colonial, como um processo

espontâneo e natural que deixou marcas positivas naquele momento e também na atualidade. Assim,

de acordo com essa ideia, não seria possível a existência de racismo no Brasil atual, ao afirmar que os brasileiros não veem uns aos outros por meio da “lente” racial. Um exemplo disso é o Carnaval, considerado por muitos um momento de exaltação do negro, de união, de democracia racial plena. Veremos no decorrer da unidade, como não é bem assim.

4 ATIVIDADE PARA REFLEXÃO: MISCIGENAÇÃO HARMONIOSA

Leia atentamente os dois trechos do livro de Gilberto Freyre, Casa-grande e Senzala, e responda as questões a seguir:

TEXTO I

“Nenhuma casa-grande do tempo da escravidão quis para si a glória de conservar filhos maricas ou donzelões. O folclore da nossa antiga zona de engenhos de cana e de fazendas de café, quando se refere a rapaz donzelo, é sempre em tom de debique3: para levar a maricas ao ridículo. O que sempre

se apreciou foi o menino que cedo estivesse metido com raparigas. Raparigueiro, como ainda hoje se diz. Femeeiro4. Deflorador de mocinhas. E que não tardasse a emprenhar negras, aumentando o

rebanho e o capital paternos (...)”

FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: a formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 21.

Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1981. p. 356

TEXTO II

“Desde logo salientamos a doçura nas relações de senhores com domésticos, talvez maior no Brasil do que em qualquer outra parte da América. A casa-grande fazia subir da senzala para o serviço mais íntimo e delicado dos senhores uma série de indivíduos - amas de criar, mucamas, irmãos de criação

3 Debique (s.m.): zombaria sutil; ironia, motejo, troça

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dos meninos brancos. Indivíduos cujo lugar na família ficava sendo não o de escravos, mas o de pessoas da casa.”

FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: a formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 21. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1981. p. 396

1. Sobre quais temas tratam os dois textos?

2. Pensando no que você aprendeu sobre democracia racial, qual dos dois textos corrobora essa ideia? Explique sua resposta.

3. Após observar os dados estatísticos nos textos da unidade, o Texto II corresponde à realidade das pessoas negras no Brasil atual? Explique sua resposta.

4. Qual é o seu entendimento da frase “emprenhar negras, aumentando o rebanho e o capital paternos”?

Nesse sentido, existem inúmeros intelectuais que criticam fortemente essa obra de Gilberto Freyre e suas ideias sobre a miscigenação harmoniosa, usando a expressão “Mito da Democracia Racial”. O sociólogo Florestan Fernandes, por exemplo, ressalta que esse conceito é utilizado como uma tentativa de ofuscar a realidade do racismo institucional5 presente no Brasil.

O historiador Charles R. Boxer, um dos maiores críticos da democracia racial de Freyre, procura explicitar as relações de poder6 marcadas pela violência entre os colonizadores e os

colonizados, desmistificando a ideia de uma miscigenação desejada e romantizada. Para isso, ele analisa a violência e a discriminação dos portugueses em relação aos povos colonizados, algo que acontecia com frequência em todas as colônias do Império e até mesmo nas instituições internas portuguesas. Segundo o autor, a miscigenação existiu, mas acontece por meio de um processo violento, estimulado pela ausência de mulheres brancas nas colônias. Contrariando Gilberto Freyre, Boxer afirma que a experiência brasileira com a miscigenação foi fruto de um contexto histórico, e não de uma essência cultural dos portugueses.

5 Racismo Institucional: é qualquer sistema de desigualdade que se baseia em raça que pode ocorrer em instituições como órgãos públicos governamentais, corporações empresariais privadas e universidades (públicas ou privadas). Costuma ser velado e sutil.

6 Relações de Poder: presentes em todas as relações de dependência, aparece em diversas dimensões da vida social e tendem a ser desiguais entre determinados indivíduos.

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O próprio Antigo Regime europeu tinha a ideia de que o sangue de outros povos era impuro e sujo, contrariamente ao deles, puro. A sociedade de classes7 é organizada a partir da noção de que

alguns homens nasceram para servir, e outros para serem servidos. Assim, a ascensão social de alguns grupos era impedida por preconceitos raciais de sangue. O segredo da permanência de Portugal na América está no conjunto de leis extremamente repressivas e de uma enorme burocracia8.

4 ANÁLISE DE IMAGEM: VERIFICANDO O QUE FOI APRENDIDO

Observe a imagem do artista Paul Harro-Harring, que tem como título: “inspeção de negras recentemente chegadas da África” (c.1840), e responda as questões a seguir:

1. Explique a diferença existente entre as expressões faciais e corporais de negros e brancos no quadro.

a. Pensando no conceito de “relações de poder”, quais figuras da imagem estão em posição mais favorável? Explique.

2. Essa obra corrobora com a ideia de miscigenação harmoniosa, trazida por Gilberto Freyre? Justifique sua resposta.

7 Sociedade de Classes: refere-se a uma sociedade com divisões muito claras entre as classes sociais, frequentemente também existe grande dificuldade de ascensão social.

8 Burocracia (s.f.): sistema de execução da atividade pública, da administração, por funcionários com cargos bem definidos, e que se pautam por um regulamento fixo, determinada rotina e hierarquia com linhas de autoridade e responsabilidade bem demarcadas.

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5 LEITURA SOCIAL DO SAMBA: CARNAVAL E ESCRAVIDÃO DESVENDANDO O SAMBA NO BRASIL

Para pensarmos juntos:

Você sabia que, antes de ser consagrado como música nacional, o samba já foi considerado um “ritmo maldito”? Como se deu esse processo de mudança de perspectiva?

O samba9 como conhecemos hoje, de uma maneira geral, se manifesta e é entendido como

expressão autêntica de uma identidade nacional: mundialmente, esse gênero musical é tido como um dos maiores símbolos, junto ao futebol, daquilo que representaria a cultura brasileira. Sua tamanha visibilidade lhe confere até um dia nacional para sua celebração - 02 de dezembro. Entretanto, a princípio, o samba foi alvo de preconceito e tido como algo marginalizado e até mesmo criminalizado, por ter sua origem relacionada a religiosidades de matrizes africanas.

No final do século XIX, uma grande quantidade de baianos foi morar no Rio de Janeiro, que à época era a capital do Império. Junto com eles, levaram o costume de fazer o batuque de candomblé e sambar. Desse modo, no início do século XX já havia se consolidado a tradição de realizar aglomerados na região central da cidade, especialmente em torno da Praça Onze, onde mães de santo e pais de santo realizavam rodas animadas, que incluíam a festa do orixá, o descanso, a refeição e o

samba de roda - estilo baiano que ganhou fama no Rio de Janeiro, apresenta-se coletivamente em

uma roda, entoando cantos e palmas. Foi precisamente por meio do culto religioso que o samba conseguiu se infiltrar na sociedade, e Tia Ciata foi uma das protagonistas desse processo.

9 Samba: Tem origem na palavra “semba”, da língua quimbundo (falada em Angola) e significa “umbigada”, uma manifestação cultural africana hoje mais conhecida como samba de roda.

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Tia Ciata, nascida em 1854, foi uma mãe de santo e quituteira, considerada

umas das figuras mais influentes para o surgimento do samba carioca.

6 HISTÓRIA DO RIO DE JANEIRO E A PRAÇA ONZE

Praça Onze em 1939, berço do samba carioca. Construída a partir da chegada da Família Real em 1808, a praça recebeu esse nome após a vitória do Brasil na Guerra da Tríplice Aliança, remetendo ao confronto de onze de junho. A partir da década de 1940, com as modernizações na região, a praça foi perdendo espaço e hoje ela não existe mais fisicamente, mas sua história continua sendo fundamental para o samba.

“A praça Onze era um local de acolhimento e o epicentro de um sistema complexo de relações, que envolvia grupos de distintas religiões, condições financeiras, nacionalidades e etnias. O samba surge como produto de engajamento e entrosamento entre eles”

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Mas o samba não conquistou de imediato a simpatia geral. Sua caracterização como entediante e triste pela elite nos mostra como esse grupo ainda estava preso às noções ocidentais de música - à época (por volta da década de 1910), estavam mais habituados às influências do Jazz insurgente nos Estados Unidos, das músicas da portuguesa naturalizada brasileira Carmen Miranda e do cantor e violinista brasileiro Mário Pinheiro, que figurava suas músicas nas mais ouvidas da rádio. Considerado hoje como canção popular, o samba é responsável por criar um imaginário social a respeito da cultura popular10 brasileira.

Nesse contexto surge o primeiro samba registrado em uma gravadora - e na Biblioteca Nacional: “Pelo telefone”, em 1917. Composição de Ernesto dos Santos (conhecido como Donga) e Mauro de Almeida, ele foi concebido em 1916 no quintal da casa de Tia Ciata, nos arredores da Praça Onze. A partir daí, o samba começa a ganhar cada vez mais espaço dentro da indústria fonográfica, se popularizando por meio de artistas como Noel Rosa, Almirante, Cartola e Nelson Cavaquinho. Além dos vocalistas, o samba também dispunha de instrumentos que o davam corpo, dentre os mais usados a viola, violão, cavaquinho e, na percussão, atabaque, chocalho e pandeiro.

7 VERIFICANDO O QUE FOI APRENDIDO

O escritor Hildegardes Vianna afirmou que “o samba nasceu na Bahia, mas se criou no Rio de Janeiro”. Com base no texto e em seus conhecimentos, comente a frase de Vianna e o que podemos inferir a partir dela.

8 UM TIPO DIFERENTE: O SAMBA-ENREDO E O CARNAVAL Para pensarmos juntos:

Como o samba se inseriu no carnaval? O que é o samba-enredo e quais suas particularidades?

Como vimos no texto anterior, a raiz religiosa do samba foi motivo de rotulá-lo de marginal, mas o samba também foi deslegitimado por provocar uma inversão nos comportamentos usuais, durante muito tempo controlados rigorosamente pela Igreja Católica e pelo Estado: nos desfiles das escolas de samba, a extravagância dos carros alegóricos, a festa de rua, as mulheres quase despidas

10 Cultura Popular: é importante nos atentarmos aos usos que fazemos da palavra “popular”, para não cairmos na armadilha de entendê-la como oposta ao erudito, ao culto. A cultura popular não está isolada, mas inserida num contexto mais amplo de sociedade que dialoga com os outros âmbitos, inclusive com a elite. A noção de cultura popular pretende, na verdade, resgatar e dar visibilidade aos valores e ideias de uma porção silenciada da sociedade, que quer se fazer ouvir.

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desfilando, e a visibilidade dada às camadas mais pobres eram tidos como elementos profanos e instauradores do caos. E como surgiram essas escolas de samba e seus desfiles no carnaval?

Antes das escolas de samba, grupos carnavalescos já se reuniam para desfilar no Rio de Janeiro. Mas foi a partir da junção desses grupos com os ranchos11 que as primeiras escolas se

originaram. E, apesar de serem criticados como caóticos, os desfiles dessas escolas na verdade obedeciam a um regulamento rígido, avaliados pela banca julgadora: controle do tempo, vestimenta dos integrantes, harmonia da bateria e enredo do samba.

É nesse quesito que o samba-enredo12 se apresenta como elemento primordial no carnaval

brasileiro na década de 1930, pois sua sonoridade, e principalmente sua letra, são recebidos não apenas pela banca julgadora que fará a avaliação, mas pela população brasileira - sendo um evento de amplo alcance e divulgação, o carnaval expõe, portanto, a mensagem dessas escolas de samba para todo o país. O objetivo maior do samba-enredo é incorporar em sua letra temas e personagens da história do Brasil, levando em consideração as representações dos discursos dos próprios sambistas. Ou seja, tendo o tema brasileiro como elemento necessário, o samba-enredo veicula uma imagem do Brasil ou de algum aspecto sobre o Brasil (pessoas, lugares, etc) em cada uma de suas letras, apresentando aspectos sociais, culturais, históricos, políticos - e é esse tipo de construção que analisaremos neste capítulo.

Outros tipos de Samba: samba-canção, samba-exaltação, samba de gafieira

9 OS DIVERSOS CARNAVAIS BRASILEIROS Pernambuco

O carnaval de Recife se destaca pelo Frevo, um ritmo musical que mistura elementos como a marcha, o maxixe e a polca com uma dança influenciada pela capoeira. Também são famosos os bonecos gigantes e coloridos da cidade de Olinda, que se misturam à população pelas ruas e ladeiras da cidade, encarnando tipos populares e personagens inspirados em artistas e lendas locais. Um dos mais conhecidos é o “Homem da Meia-Noite”, que está nas ruas desde 1932 e é responsável por dar início à folia, à meia-noite de sábado.

11O QUE SÃO OS RANCHOS? Rancho é uma manifestação cultural nordestina que têm influências do rancho folclórico, uma dança portuguesa. Podemos relacionar o rancho a outras manifestações brasileiras, principalmente à Folia de Reis, um festejo de origem portuguesa ligado às comemorações do culto católico do Natal.

12Enredo: a palavra enredo tem origem na palavra "rede", o que sugere entrelaçamento, emaranhado, envolvimento. Enredo é o conjunto das ações executadas pelas personagens numa narrativa, a fim de criar sentido ou emoção no espectador. É usado para designar os eventos de uma história.

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Maranhão

Apesar de também ter os desfiles de escolas de samba, o carnaval no Maranhão tem como um dos personagens mais emblemáticos o Fofão, figura que assusta e diverte ao mesmo tempo. Os foliões ocupam as ruas com brincadeiras, batuques, grupos de cultura afro e charangas.

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COLOCANDO EM PRÁTICA I

Leia com atenção a letra da música abaixo, da escola de samba carioca Paraíso do Tuiuti: Meu deus,

meu deus, está extinta a escravidão? • Paraíso do Tuiuti, 2018

Será que já raiou a liberdade Ou se foi tudo ilusão

Será, oh, será

Que a lei áurea tão sonhada Há tanto tempo assinada Não foi o fim da escravidão

Hoje dentro da realidade Onde está a liberdade Onde está que ninguém viu

Moço

Não se esqueça que o negro também construiu As riquezas do nosso Brasil

Pergunte ao criador

Quem pintou esta aquarela Livre do açoite da senzala Preso na miséria da favela

(15)

Sonhei que zumbi dos palmares voltou, ôô A tristeza do negro acabou

Foi uma nova redenção

Senhor, oh, Senhor!

Eis a luta do bem contra o mal (contra o mal) Que tanto sangue derramou

Contra o preconceito racial

O negro samba

O negro joga a capoeira

Ele é o rei na verde e rosa da Mangueira

TUIUTI, Paraíso. “Meu deus, meu deus, está extinta a escravidão”. Composição de Cláudio Russo, Moacyr Luz, Zezé, Jurandir, Aníbal. Rio de Janeiro, 2018. Disponível em https://www.youtube.com/watch? v=cBeBqwEqHjU acesso em 11/12/2018.

Sobre a letra:

1. A música acima pode ser considerada samba-enredo? Por quê? 2. Quais elementos na letra da música remetem à escravidão?

3. Como ela constrói uma imagem do Brasil e qual sua narrativa sobre a escravidão?

Sobre o desfile:

Assista os trechos mostrados pelo(a) professor(a) e responda junto a seus colegas de sala, oralmente, as questões abaixo:

1. Analise as vestimentas dos integrantes que aparecem no trecho e o que elas representam. Como se dá, visualmente, a relação da escravidão com temas contemporâneos no desfile?

2. Observe os personagens vestidos de vampiro e de pato. A que personagens ou eventos contemporâneos eles fazem referência? E porque isso se relaciona com o passado da escravidão? 3. Identifique os principais temas presentes nos carros alegóricos e nas alas e relacione-os com a letra;

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4. Escute atentamente e tente identificar quais são os principais instrumentos utilizados na música. O que é uma bateria de samba e como ela se constitui?

10 ALGUMAS ETNIAS AFRICANAS

Mandingas: São um dos maiores grupos étnicos da África Ocidental, descendentes do Império do

Mali: fazem parte do grupo etnolinguístico Mandè, com cerca de 20 milhões de pessoas. Hoje, 99% das mandingas são muçulmanos. Tiveram forte presença no Brasil durante o período colonial e eram identificados por possuírem o hábito de carregar junto ao peito, pendurado em um cordão, um pequeno pedaço de couro com inscrições de trechos do Alcorão

Fonte: Site Cultura Guiné

Cambinda: Nome que se refere à história de Vovó Cambinda Ela é uma das figuras mais conhecidas

da história da Umbanda. Cambinda era uma menina ainda quando fora tirada da Guiné, sua terra natal. Foi trazida para o Brasil nos meados do século XVI em navios negreiros. Sua mãe a ensinava clamar a Zambi (Deus), a Oxalá e a todos os Orixás, pedindo sempre força e fé para que assim pudesse ajudar os irmãos negros adoentados na dura jornada de luta pela sobrevivência. Cambinda, escondida da tripulação do navio negreiro, fazia suas benzeduras nos negros doentes, se utilizava de tudo que podia para acalentar as dores de seus irmãos, e com isso se tornou uma referência dentro da comunidade da Umbanda, de modo que em diversos Terreiros pode-se encontrar uma velha com o mesmo nome, pois como a Velha Cambinda fora reconhecida e respeitada por várias gerações de negros pelos seus atos de caridade, muitos desses negros colocavam o nome de Cambinda em seus filhos para homenagear a amada Vovó Cambinda

Fonte: Site Centro Pai João de Angola

Haussá: A civilização dos haussá ou hauça começou a ser construída por volta de século XI, no

Sudão central. Os haussa eram, na verdade, diversos povos que falavam uma língua semelhante. Eles viviam em cidades-estados localizadas no centro e noroeste de onde hoje está a Nigéria. Alguns haussá eram seguidores do islamismo. Eles não tinham tradição de guerreiros; sua principal força estava nos frutos do trabalho: o artesanato era de alta qualidade, vendido no Norte da África para ser exportado. Eles também chegaram ao Brasil por meio do tráfico transatlântico.

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COLOCANDO EM PRÁTICA II

Leia agora a letra deste outro samba-enredo, desfilado pela escola de samba carioca Mangueira:

100 anos de liberdade, realidade ou ilusão

• Mangueira, 1998 Será que já raiou a liberdade Ou se foi tudo ilusão

Será, oh, será

Que a lei áurea tão sonhada Há tanto tempo assinada Não foi o fim da escravidão

Hoje dentro da realidade Onde está a liberdade Onde está que ninguém viu

Moço

Não se esqueça que o negro também construiu As riquezas do nosso Brasil

Pergunte ao criador

Quem pintou esta aquarela Livre do açoite da senzala Preso na miséria da favela

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Sonhei que zumbi dos palmares voltou, ôô A tristeza do negro acabou

Foi uma nova redenção

Senhor, oh, Senhor!

Eis a luta do bem contra o mal (contra o mal) Que tanto sangue derramou

Contra o preconceito racial

O negro samba

O negro joga a capoeira

Ele é o rei na verde e rosa da Mangueira

A partir das duas músicas apresentadas, responda como essas leituras sobre a escravidão se aproximam e se distanciam, comparando-as a partir do quadro a ser reproduzido em seu caderno:

Critérios de Comparação Tuiuti Mangueira

Relação com o contexto em que foram escritas Tema das alas e das

alegorias

Elementos que remetem à escravidão

FAÇA VOCÊ MESMO!

Agora que você teve uma base sobre as características do samba-enredo e estudou sobre alguns exemplos, é sua vez de produzir seu próprio samba-enredo! Pode ser criada uma melodia nova ou

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ser feita uma paródia de um samba-enredo já existente. Escolha um dos temas abaixo para compor seu samba:

A. Racismo no Brasil

B. Mercantilização do negro no Brasil

11O NEGRO DENTRO (OU FORA?) DO CARNAVAL BRASILEIRO Para pensarmos juntos:

Você sabia que o mito da democracia racial também se manifesta no carnaval? Em que locais da festa vemos mais pessoas negras? O que isso significa?

Em uma sociedade marcada pela desigualdade, a diferenciação e a aparência são muito importantes. Um conceito muito discutido para tratar disso é o fenômeno da “camarotização”: criar categorias privilegiadas dentro de festas, classes executivas em aeroportos e camarotes nos desfiles de carnaval.

Há festas em que se paga caro para não ficar no meio da multidão, popularmente chamada de “pipocada”, mas em um local seleto com outras pessoas que pagaram por aquele conforto e exclusividade. Essa é uma forma sutil de segregação, pois o que está por trás da “camarotização” é um desejo de distinção em uma sociedade colonizada como o Brasil e marcada por forte estratificação social.

A começar pelo Rio de Janeiro, e posteriormente expandido para outros estados, o carnaval se tornou um mercado bilionário, que envolve empresas de turismo, redes hoteleiras, escolas de samba, canais de televisão, o comércio de bebidas, a prostituição, o tráfico de drogas. Ora, os blocos e os camarotes são lucrativos empreendimentos que vendem não só serviços de recreação pré-fabricada, mas, sobretudo, status, sensação de superioridade social. Cada qual buscando ocupar o máximo de espaço sonoro e visual possível tanto nas ruas quanto nas mídias.

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E onde está a população negra nisso tudo? Um dos maiores “produtos” do carnaval

brasileiro são as mulatas, que aparecem hiper-sexualizadas na mídia e nos desfiles. Essa visão começou a ser construída como uma estratégia para atrair turistas estrangeiros para o país, criando uma imagem internacional do Brasil como um país de maravilhas e do carnaval como uma festa excêntrica e cheia de belas mulheres à disposição de todos.

Entretanto, a beleza das mulatas não representa realmente as mulheres negras, pois as mulatas possuem traços europeus (nariz fino, cabelo liso, etc) e a pele mais clara. Dessa forma, a beleza das mulheres exploradas pela mídia e as principais sambistas do desfile se encaixam no padrão de beleza

eurocêntrico com a falsa impressão de carregarem a cultura mestiça e miscigenada brasileira, sendo

uma manifestação do mito da democracia racial.

Além disso, em tempos de camarotização, a população pobre acaba sendo marginalizada do carnaval, aparecendo nos blocos como vendedores ambulantes ou nos desfiles como seguranças de celebridades. Convoca-se um exército de trabalhadores para servir os foliões que pagaram por um tratamento diferenciado, e aí entra a população negra.

12 AS “MULATAS DO SARGENTELLI” E A GLOBELEZA

Osvaldo Sargentelli (1924-2002) foi um famoso radialista e apresentador brasileiro. Quando a ditadura militar proibiu seu programa de televisão em 1964, decidiu mudar sua carreira para o samba, onde se dedicou até o fim da vida. Abriu várias boates e casas de samba, onde trazia mulatas para dançar em espetáculos. Sargentelli se definia como “Mulatólogo”, pois descobria talentos e muitas de suas mulatas acabaram se tornando celebridades, como a atriz Solange Couto, da novela “O Clone”. No dia de sua morte é comemorado o Dia da Mulata, e desde então várias emissoras começaram a usar as mulatas como dançarinas na televisão, como a Globeleza, mulata que dança na

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vinheta da cobertura do carnaval da Rede Globo. Tal personagem surgiu no início dos anos 1990, sempre sambando seminua ou totalmente nua e com pinturas no corpo. Após várias críticas a essa estereotipação, a mulata Globeleza de 2017 apareceu vestida pela primeira vez desde a criação da personagem.

COLOCANDO EM PRÁTICA “A Carne”

• Elza Soares, 2002

A carne mais barata do mercado é a carne negra A carne mais barata do mercado é a carne negra A carne mais barata do mercado é a carne negra A carne mais barata do mercado é a carne negra A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que vai de graça pro presídio E para debaixo do plástico

Que vai de graça pro subemprego E pros hospitais psiquiátricos

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A carne mais barata do mercado é a carne negra Que fez e faz história

Segurando esse país no braço O cabra aqui não se sente revoltado Porque o revólver já está engatilhado E o vingador é lento

Mas muito bem-intencionado E esse país

Vai deixando todo mundo preto E o cabelo esticado

Mas mesmo assim Ainda guardo o direito De algum antepassado da cor Brigar sutilmente por respeito Brigar bravamente por respeito Brigar por justiça e por respeito De algum antepassado da cor Brigar, brigar, brigar

A carne mais barata do mercado é a carne negra A carne mais barata do mercado é a carne negra A carne mais barata do mercado é a carne negra A carne mais barata do mercado é a carne negra A carne mais barata do mercado é a carne negra

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SOARES, Elza. A Carne. Compositores: Seu Jorge, Marcelo Yuca E Wilson Capellette:

Do Cóccix Até O Pescoço, 2002.

1. Analise a canção “A Carne” e sua interpretação por Elza Soares:

A. Como a cantora mantém o tom de voz durante a música? O que isso nos mostra?

B. É possível compreender o tom questionador da música apenas com o tom de voz e instrumentos? C. O que os compositores quiseram transmitir com o refrão “a carne mais barata do mercado é a carne negra”?

2. Compare a canção de Elza Soares com a seguinte imagem e explique como se manifesta o mito da democracia racial na festa do carnaval

Compare as imagens apresentadas no capítulo.

Que conclusões podemos tirar das formas que a população negra aparece no carnaval: personagens principais (mulatas e sambistas) ou personagens marginalizados (funcionários e “pipoca”)?

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MANUAL DO PROFESSOR Escravidão x Mito da Democracia Racial

Atividade para Reflexão I: Estereótipos

● Atividade em grupo, para refletir com toda a turma.

● O objetivo dessa atividade é demonstrar e explorar a existência de estereótipos para negros muito bem definidos na sociedade brasileira e no mundo, principalmente o artista e o esportista.

○ Em um primeiro momento, é interessante instigar os alunos a responder as questões em grupo, nessa atividade não existem respostas corretas.

● Desmistificar a ideia de que o negro é naturalmente propício aos esportes, por sua condição física favorecida.

○ Demonstrar como o esporte e a arte são possibilidades de ascensão social na sociedade brasileira; em muitos casos, são opções para as pessoas negras visto que elas possuem possibilidades e oportunidades limitadas em outras áreas na sociedade.

● Perceber o capital cultural dos alunos e apresentar outras pessoas negras de destaque na sociedade, preferencialmente em campos que não envolvam as artes ou os esportes.

Atividade para Reflexão II: Gilberto Freyre

● Essa atividade tem como objetivo principal demonstrar como existem momentos incoerentes dentro do próprio livro de Gilberto Freyre, além de trabalhar com a leitura crítica dos alunos, reconhecendo os problemas presentes nos trechos.

○ Procurar não demonizar Gilberto Freyre como o único culpado pelo termo “democracia racial”.

● Primeiro texto: trata dos meninos “defloradores de mocinhas” da casa-grande. Tem um tom agressivo, de dominação masculina dentro daquela sociedade. Uma possibilidade é trabalhar a noção de masculinidade presente numa sociedade patriarcal, principalmente naquele momento. Tratar a ideia de que o homem deveria ser visto como viril, ao mesmo tempo em que as mulheres tinham sua sexualidade como um grande tabu.

○ Instigar os alunos:

■ Quais mulheres dentro dessa sociedade teriam relações com esses homens? Muito provavelmente, as negras escravizadas. Elas tinham escolha dentro

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desse contexto? (lembrar do trecho “E que não tardasse a emprenhar negras, aumentando o rebanho e o capital paternos.”)

■ Trabalhar rapidamente a ideia da violência sexual tão legitimada contra as escravas nessa sociedade. Trazer para a realidade dos alunos, pensar como a gravidez na adolescência esta mais presente em classes socioeconômicas mais desfavorecidas.

● Segundo texto: típico exemplo da romantização entre casa-grande e senzala. É interessante trabalhar aqui, as relações de força presentes dentro daquela sociedade escravocrata.

○ Desmistificar a ideia do escravizado como passivo. Ressaltar a noção de “oprimido”, mas que lutava e resistia da maneira que era possível a ele.

○ Um dos tipos de violência impostos ao escravo era inclusive a tentativa de repressão de suas manifestações culturais, ou seja, a negação de tudo que o fizesse humano. Isso contribui para o alto índice de mortalidade e a baixa expectativa de vida entre os cativos. - O suicídio era, muitas vezes, uma forma de resistência.

○ Trabalhar como o escravo, mesmo trabalhando dentro da casa do senhor, era uma possessão e servia a ele, sendo esse lugar muito bem definido.

Leitura Social do Samba: Carnaval x Escravidão

● Apresente o título do capítulo e instigue os alunos com algumas perguntas: gostam de samba? Quais eles conhecem? Quais assuntos eles identificam sendo abordados nos sambas mais famosos?

● A partir do texto “Desvendando o samba no Brasil “, pretende-se problematizar duas noções a serem debatidas com os alunos. A primeira, de ser o samba algo puramente e essencialmente brasileiro, e a segunda, de ser um produto de uma cultura popular não erudita.

● Apresentar aos alunos a noção de “canção popular”, termo presente no texto, e compará-la com a de “música popular brasileira”.

● Discutir com os alunos que tipo de “imaginário social” o samba cria a respeito do Brasil (exuberância, alegria, festa, exotismo, sensualidade, etc).

● Indicações de leitura:

○ História por música: aplicações de um projeto de música popular e ensino de história - Carlos Eduardo Freitas Lima

○ O canto de Clara: possibilidades de ensino-aprendizagem da história afro brasileira - Luciano Roza

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● O texto “Um tipo diferente: samba-enredo e carnaval” pretendem mostrar que samba e carnaval não são a mesma coisa – por meio do panorama histórico do surgimento do carnaval. Além disso, objetiva familiarizar os alunos a outros tipos de samba para desconstruir a ideia de um samba único e homogêneo. Perguntar a eles se conhecem os outros tipos de samba trazidos no box e falar um pouco a respeito deles.

● Indicação de leitura:

○ O Brasil do samba-enredo - Monique Augras

● Antes de ler a letras da música “Meu deus, meu deus, está extinta a escravidão?” pergunte aos alunos se eles sabem o que significa Tuiuti (palavra indígena, Morro do Tuiuti onde se originou a escola) e se eles conhecem essa escola de samba ou se assistiram ao desfile dela em 2018.

○ Depois de lerem a letra e fazerem a atividade, mostre trechos em vídeo da apresentação da escola em que aparecem o personagem vampiro paródia de Michel Temer e os patos de borracha, em referência às manifestações pró-impeachment e peça para os alunos responderem às demais perguntas em sala junto a você.

● Coloque para tocar a música 100 anos de liberdade, realidade ou ilusão para que os alunos possam ler a letra acompanhada do áudio e perceber o ritmo e sonoridade.

○ Discuta os elementos relativos à escravidão presentes na música (senzala, zumbi, lei áurea, capoeira).

○ Abra o site da Mangueira na aba “História da Mangueira” e leia juntamente com os alunos o texto (ele trata de questões que retomam o que foi abordado no texto: origem nos ancestrais africanos, reunião dos grupos na Praça do Onze, preconceito inicial e marginalização, nomes do samba)

● A atividade do faça você mesmo pretende sintetizar os conhecimentos dos alunos sobre o assunto e dar agência a eles na produção de novos formatos e textos. Oriente para que eles façam a atividade em casa em folha separada e te entregue posteriormente.

● O foco dessa unidade é, uma vez compreendido o mito da democracia racial, observar como ele pode ser sentido durante o carnaval.

O Negro dentro (ou fora?) do Carnaval brasileiro

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● O objetivo da introdução é apresentar aos alunos o processo de camarotização e como ele mostra uma necessidade de se manter uma desigualdade social numa sociedade tão marcada pela escravidão.

○ Para trabalhar o conceito de camarotização é importante que as fotos sejam analisadas em conjunto com os alunos, para que percebam o grande contraste e desigualdade presente nos camarotes dos grandes desfiles de carnaval. É importante apontar como essas imagens são comuns, mas muitas vezes não prestamos atenção em quem está no fundo da foto, longe dos holofotes.

Questão das mulatas e a beleza “negra” do carnaval

● É importante questionar aos alunos se eles já viram a cobertura da Globo no carnaval, e o que acham da mulata Globeleza. Provavelmente essa figura já será familiar aos estudantes, porém poucas vezes paramos para analisar e refletir qual a função daquela personagem. Comparar os traços das mulatas aos traços de mulheres negras é uma das formas de trazer esse contraste, que é uma manifestação mito da democracia racial no Brasil.

Canção “A Carne”

● Ao ouvir a canção “a carne”, o professor irá perguntar aos alunos o que eles compreendem pelo refrão, “a carne negra é a mais barata do mercado”. Como Elza Soares transmite em sua voz a indignação que a letra carrega? É possível compreender o sentido questionador da música apenas pelo tom de voz e instrumentos?

Atividades

● O objetivo das atividades é comparar visões sobre o carnaval e os locais da festa em que a população negra se encontra ou é excluída. Para começar, a análise da canção interpretada por Elza Soares já deve preparar os alunos para pensar no racismo atual e como ele se manifesta. ● O propósito da segunda atividade é aplicar o que foi trabalhado na análise da música. Por que

todos os garis da foto são negros? Como isso se justifica em nossa sociedade?

● Já o terceiro exercício busca fechar o capítulo com a recapitulação do mito da democracia racial e do conceito de camarotização. Os alunos deverão explanar como a população negra se encontra marginalizada ou estereotipada no carnaval, aparecendo como mulatas ou invisíveis no meio da pipoca

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REFERÊNCIAS

Figura 1: BROCOS, M. A Redenção de Cam. 1895. Óleo sobre Lona, 199 x 166cm. (Museu Nacional de Belas Artes)

Figura 2: Foto de Augusto Gomes Leal e da ama-de-leite Mônica, do estúdio de João Ferreira Villela, Recife, c. 1860. Cartão-de-visita, 6,5 x 10cm. (Coleção Francisco Rodrigues, CRF 1795, Fundação Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais)

Figura 3: HARO-HARRING, P. Inspection de négresses nouvellement debarquées de l’Afrique. 1840. Gravura. Coleção Particular.

Figura 4: Samba de Roda do Recôncavo baiano Foto: Iphan/Luiz Santos

Figura 5: Divulgação do Acervo da Organização Cultural Remanescentes de Tia Ciata – ORCT Figura 6: Edmar Melo

Figura 7: O Imparcial (Reprodução

Valéria Vanessa como Globeleza em 2001 (portal Globo News) e as mulatas do Sargentelli em 1970 (foto de Luiz Fernando Reis)

TUIUTI, Paraíso. “Meu deus, meu deus, está extinta a escravidão”. Composição de Cláudio Russo, Moacyr Luz, Zezé, Jurandir, Aníbal. Rio de Janeiro, 2018. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=cBeBqwEqHjU acesso em 11/12/2018.

MANGUEIRA. “100 Anos de liberdade, realidade ou ilusão”. Composição de Helio Turco, Alvinho e Jurandir. Rio de Janeiro, 1988.

Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=WySBEVaxP1M acesso em 11/12/2018

SOARES, Elza. A Carne. Compositores: Seu Jorge, Marcelo Yuca E Wilson Capellette: Do Cóccix Até O Pescoço, 2002.

FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: a formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 21. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1981.

O Brasil do samba-enredo - Monique Augras

História por música: aplicações de um projeto de música popular e ensino de história - Carlos Eduardo Freitas Lima

Referências

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