• Nenhum resultado encontrado

A CIÊNCIA NA CIBERCULTURA O discurso híbrido da divulgação científica na era da comunicação virtual DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "A CIÊNCIA NA CIBERCULTURA O discurso híbrido da divulgação científica na era da comunicação virtual DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA"

Copied!
193
0
0

Texto

(1)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Caroline Petian Pimenta Bono Rosa

A CIÊNCIA NA CIBERCULTURA

O discurso híbrido da divulgação científica

na era da comunicação virtual

DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Caroline Petian Pimenta Bono Rosa

A CIÊNCIA NA CIBERCULTURA

O discurso híbrido da divulgação científica

na era da comunicação virtual

DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

Tese apresentada à Banca Examinadora em cumprimento à exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Comunicação e Semiótica pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PEPGCOS/PUC-SP).

Área de concentração: Signo e significação nas Mídias

Linha de pesquisa: Cultura e ambientes midiáticos Orientador: Prof. Dr. Eugênio Rondini Trivinho.

(3)

Ref.: Tese de Doutorado: “A ciência na cibercultura: o discurso híbrido da divulgação científica na era da comunicação virtual”

Autora: Caroline Petian Pimenta Bono Rosa Orientador: Prof. Dr. Eugênio Rondini Trivinho Data da defesa: 26/6/2014

ERRATA

1. Na página 84, em substituição ao gráfico 3.1, considere-se este:

Fonte: União Internacional de Telecomunicações (UIT) e da Divisão de População das Nações Unidas, 2014. Disponível em:< http://www.internetlivestats.com/internet-users/#byregion>. Acesso em: 27 jun. 2014.

2. Na página 85, em lugar do gráfico 3.2, deve prevalecer este:

(4)
(5)

Rosa, Caroline Petian Pimenta Bono. A ciência na cibercultura: o discurso híbrido da divulgação científica na era da comunicação virtual. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2014.

Banca Examinadora

___________________________________

Profa. Dra. Giselle Beiguelman

___________________________________

Prof. Dr. Sérgio Bairon

___________________________________

Profa. Dra. Cecilia Almeida Salles

___________________________________

Profa. Dra. Lucia Isaltina Clemente Leão

___________________________________

(6)
(7)

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

A Deus, por iluminar minha jornada.

Ao meu esposo Adriano, que se manteve presente e paciente ao apoiar mais esta minha escolha. Por sustentar minhas forças quando elas estavam chegando ao fim.

À minha mãe, exemplo de pessoa, de força espiritual, que confiou o tempo todo que este esforço valeria a pena.

Ao meu orientador Eugênio Trivinho, inigualável profissional, de admirável capacidade e inteligência. Sinto-me honrada por ter recebido suas orientações e agradeço pela confiança.

Às professoras Lucia Leão e Cecília Salles, pelas ricas contribuições indicadas na qualificação.

(8)

O homem científico não pretende alcançar um resultado imediato. Ele não espera que suas ideias avançadas sejam imediatamente aceitas. Seus trabalhos são como sementes para o futuro. Seu dever é lançar as bases para aqueles que estão por vir e apontar o caminho.

(9)

Rosa, Caroline Petian Pimenta Bono. A ciência na cibercultura: o discurso híbrido da divulgação científica na era da comunicação virtual. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2014.

Resumo

Esta pesquisa examina o discurso hipermidiático da ciência em blogs. A atenção volta-se

para a divulgação de pesquisas brasileiras das grandes áreas do conhecimento estabelecidas pelo CNPq. O objeto de estudo é constituído pelos tipos de discurso que envolvem os conteúdos distribuídos no ciberespaço com navegação hipermidiática. Buscamos examinara operacionalidade dos recursos que a cibercultura traz para a divulgação científica perpetrada por blogs. O corpus de análise são os blogs dos portais Anel de Blogs

Científico e Science Blogs Brasil, que têm o selo Research Blogging de pesquisa. A análise envolve postagens entre 2009 e 2013. Como métodos de observação e levantamento de dados, o projeto adota o uso de metodologia qualitativa que inclui as bases teóricas da Análise do Discurso. Utiliza-se também a Entrevista em Profundidade com um grupo de blogueiros e de leitores de blogs para analisar a produção e a recepção da informação

científica. O problema de pesquisa assim se coloca: com quais discursos se constrói a ciência nos diários virtuais e de que forma os recursos hipermidiáticos compõem a ciência levada à sociedade? Diante de tal problemática, apresentam-se as hipóteses: (1) o discurso disseminado pelos diários virtuais traduz a ciência de fato para um público possivelmente leigo que busca informações acerca do assunto; (2) dependendo de como o discurso articulado entre texto e recursos hipermidiáticos é interpretado, pode prejudicar a aproximação entre o leitor internauta e a ciência; (3) mesmo estando em diários virtuais, locais com conteúdos informais, o que se divulga visa atender aos próprios pares blogueiros da ciência e não ao grande público. A fundamentação teórica inclui as bases da sociodromologia, da visibilidade mediática, da dromocracia cibercultural e dos estudos sobre o glocal. Os resultados mostram que a ciência circulante nos diários virtuais é constituída prioritariamente pelo discurso da divulgação científica para ser levada aos públicos, às vezes pares, às vezes leigos interessados. Nesses diários predomina o discurso informativo-descritivo, democratizando as informações publicadas, discurso construído para a expansão da ciência, mediante uso de texto, imagem e som – um discurso híbrido.

(10)

Rosa, Caroline Petian Pimenta Bono. Science in cyberculture: the hybrid discourse of scientific dissemination in the age of virtual communication. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2014.

Abstract

This research examines the hypermedia discourse of science in blogs. The focus is on the dissemination of Brazilian studies of major knowledge areas established by CNPq. The object of study consists of the types of discourse in the contents delivered in cyberspace by means of hypermedia navigation. An analysis is made of the operationality of cyberculture resources in science communications disseminated through blogs. The corpus of this analysis comprises the blogs of the Scientific Blog Ring portals of Science Blogs Brazil, known as Research Blogging. The analysis involves postings between 2009 and 2013. The methods of observation and data collection used in the project are based on a qualitative methodology that includes the theoretical foundations of Discourse Analysis. In-depth interviews are also conducted with a group of bloggers and blog readers to analyze the production of and response to the scientific information. The research problem can be formulated as follows: With what discourses is science built in virtual newspapers and how do hypermedia resources make up the science disseminated to society? Faced with this problem, we put forward the following hypotheses: (1) the discourse disseminated through virtual newspapers translates de facto science to a possibly layperson audience that seeks

information about the subject; (2) depending on how the discourse articulated between text and hypermedia resources is interpreted, it can hamper the approximation between the reader and science; (3) albeit on virtual sites with informal content, what is published is aimed at the bloggers’ own science peers rather than a wider public. The theoretical rationale includes the foundations of social dromology, media exposure, cybercultural dromocracy and glocal studies. The results indicate that the science circulating in virtual newspapers consists primarily of the discourse of science dissemination for audiences that are sometimes peers and at other times interested laypeople. The predominating discourse is informative and descriptive, democratizing the published information, with the discourse built for the expansion of science, consisting of text, image and sound, which results in a hybrid discourse.

(11)

LISTA DE GRÁFICOS

 

Gráfico 1.1 - Pesquisa CNPq (2006) ...29

Gráfico 1.2 - Pesquisa CNPq (2006) ...30

Gráfico 1.3 - Pesquisa CNPq (2006) ...33

Gráfico 3.1 - A distribuição da audiência global de Internet ...84

Gráfico 3.2 - Gráfico sobre total de visitantes da Internet ...85

Gráfico 3.3 - Gráfico sobre distribuição regional da população da Internet ...86

Gráfico 3.4 - Divisão de Blogs por Temáticas ...96

Gráfico 3.5 - Categoria de blog ...97

Gráfico 4.1 - Quantidade de postagens indexadas ...123

Gráfico 4.2 - Padrão de postagens ...124

Gráfico 4.3 - Perfil da evolução de postagens ...125

Gráfico 4.4 - Perfil da evolução de postagens ...125

Gráfico 4.5 - Blogs ativos e inativos ...126

 

(12)

LISTA DE TABELAS

 

Tabela 1.1 - Fluxo da Informação através das pesquisas...35

Tabela 2.1 - Categoria de Blogs ...73

Tabela 3.1 - Subcategorias dos blogs profissionais...95

Tabela 4.1 - Blogs comuns aos dois sites ...117

Tabela 4.2 - Relação de Blogs e links do Anel de Blogs Científicos – ABC ...127

Tabela 5.1 - Lista de Blogs analisados ...145

(13)

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1- Blog Ciência e Ideias ...58

Figura 2.2 - Página da Revista Science...59

Figura 2.3 - Página do Jornal The Guardian...60

Figura 2.4 - Postagem do Science Blogs Brasil no Facebook...66

Figura 2.5 - Imagens digitalizadas do Blog Massa Crítica...68

Figura 2.6 - Postagem sobre cérebro e matemática, do Blog Cognando...71

Figura 3.1 - Tipos de blogs de acordo com o modelo de Krishnamurthy (2002)...94

Figura 3.2 - Página do Blog Ciência à Bessa...99

Figura 3.3 - Homepage da Red-POP...106

Figura 3.4 - Homepage da SBPC...107

Figura 3.5 - Página do Science Blogs Brasil ...109

Figura 3.6 - Concurso “Explique sua tese para a vovó”...110

Figura 4.1 - Página principal do Anel de Blogs Científicos ...115

Figura 4.2 - Página principal do Science Blogs Brasil ...115

Figura 4.3 - Página do blog Bala Mágica ...118

Figura 5.1 - Blog Bala Mágica ...148

Figura 5.2- Blog Chapéu, Chicote e Carbono-14 ...150

Figura 5.3 - Blog Ciência à Bessa ...151

Figura 5.4 - Blog Ciência ao Natural ...154

Figura 5.5 - Blog Ciência e Ideias ...155

Figura 5.6 - Blog Cognando ...157

Figura 5.7 - Blog Discutindo Ecologia ...158

Figura 5.8 - Blog Ecce Medicus ...159

Figura 5.9 - Postagem do Blog Massa Crítica ...161

Figura 5.10 - Postagem do Blog Meio de Cultura ...162

Figura 5.11 - Blog Psicológico ...163

Figura 5.12 - Postagem do Blog Química Viva ...164

Figura 5.13 - Blog Rainha Vermelha ...167

Figura 5.14 - Blog RNAm ...168

(14)

Figura 5.16 - Postagem do Blog SynbioBrasil ...171 Figura 5.17 - Blog 100nexos ...172

 

(15)

       

SUMÁRIO

 

INTRODUÇÃO ... 14

CAPÍTULO I - O eixo ciência e sociedade ... 22

1.1. A relevância da ciência para a vida humana ... 22

1.2. As especificidades da linguagem científica ... 34

1.3. A velocidade da informação online ... 41

CAPÍTULO II - Linguagens da ciência: pluralidade e dialogismo ... 52

2.1. Tipos de discurso: do traço científico ao grande público ... 67

2.2. As classificações dos blogs e sua importância para a ciência independente ... 68

2.3. Divulgação científica e mídia ... 79

CAPÍTULO III - A divulgação científica no público ciberespaço ... 83

3.1. Blogs como difusores da ciência ... 92

3.2. Ciência Glocalizada ... 100

CAPÍTULO IV - A visibilidade mediática da ciência no ciberespaço ... 112

4.1. Visibilidade mediática na blogosfera ... 119

4.2. A tele-existência da ciência através dos discursos ... 136

CAPÍTULO V - O híbrido percurso discursivo da ciência ... 143

5.1. Discursos híbridos na blogosfera ... 172

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 179

(16)

INTRODUÇÃO

Com a infinidade de tecnologias voltadas para a comunicação, que surgem a cada momento, em ritmo ininterrupto e irreversível, o cidadão é forçado a se adaptar às mudanças de comportamento e práticas sociais a fim de se estabelecer no reino da velocidade, na dromocracia cibercultural – lógica exponencial da cibercultura que “equivale ao processo civilizatório longitudinal fundado na e articulado pelo usufruto diuturno da velocidade digital em todos os setores da experiência humana” (TRIVINHO, 2007, p. 23). Não apenas os indivíduos, mas também as organizações e instituições acabam por se adequar às novas exigências propostas pelo mundo tecnológico contemporâneo. Tais mudanças se intensificam a partir da premissa de que linguagens mais próximas da realidade social na qual o público se insere passam a ser mais aceitas, inclusive em ambientes de convergência comunicacional.

Os conceitos e práticas das novas tecnologias da informação e comunicação, surgidas em especial após as evoluções da web (criada por Tim Berners-Lee, no início da

década de 1990), são incorporados por empresas públicas e privadas e isso causa impacto também para o processo de produção e distribuição de inovações, bem como na vida cotidiana. A ciência não está de fora dessa realidade. Como expõe Castells (2004), a comunidade acadêmica foi uma das primeiras a adotar as potencialidades da Internet e, na atualidade, as instituições de ensino e pesquisa ainda estão entre as que mais investem em ciência e também em tecnologias.

Dentre as novas práticas de comunicação advindas da Internet para fins de interação e interatividade, está a construção colaborativa do conhecimento, realizada mediante mecanismos provenientes da evolução digital da web 2.0, ou seja, a web como

plataforma, um ambiente participativo e com novos conceitos e práticas. Nesses ambientes, que podem ser considerados espaços públicos, o compartilhamento de informações, discussões, debates, comentários, fóruns, blogs, redes sociais, ajudam a fortalecer a grande

esfera pública que é a Internet. Na era da democratização da comunicação, os blogs

(17)

Desde que foi popularizada e direcionada para fins comerciais, no início da década de 1990, (no Brasil), a World Wide Web – www – se tornou indispensável e é hoje

palco de inúmeras publicações de diferentes áreas do conhecimento, estando entre elas as que divulgam pesquisas científicas. A emaranhada estrutura de redes, servidores e canais de comunicação que lhe dá sustentação trata de assuntos e interesses diversos, porém verifica-se um crescente investimento tecnológico para a divulgação científica via rede mundial de computadores.

Souza e Alvarenga (2004) explicam que a Internet surgiu como proposta de um sistema distribuído de comunicação entre computadores para possibilitar a troca de informações na época da Guerra Fria, como uma estratégia de defesa continental americana no caso de um eventual ataque atômico soviético. A implantação do conceito de hipertexto,1 proposto por Ted Nelson e Douglas Engelbart, em 1962, buscava oferecer interfaces mais amigáveis e intuitivas para a organização e o acesso ao crescente repositório de documentos que se tornava a Internet. Entretanto, a rapidez, o enorme crescimento – além das expectativas – do alcance e tamanho dessa rede e da ampliação das possibilidades de utilização, faz com que seja necessária uma nova filosofia, com suas tecnologias subjacentes, além da ampliação da infraestrutura tecnológica de comunicação.

A comunicação mantém diferentes infraestruturas para auxiliar o conhecimento e estas interferem na percepção do usuário. Barreto (1994), em suas pesquisas sobre a percepção e assimilação da informação, em documentos em formato lineares impressos e documentos digitais intertextuais, constatou a existência de consideráveis diferenças na relação dessas narrativas com a argúcia do usuário na geração do conhecimento. Segundo o pesquisador, a mediação da informação para geração do conhecimento se relaciona qualitativamente com o formato em que a informação está inscrita; a percepção da informação difere de acordo com a estrutura linear ou digital do documento. Para Barreto (1994), a percepção de informação digital gera conhecimento diferenciado e mais elaborado; a escrita digital induz a um aumento na possibilidade para avaliar informações complexas e engendrar configurações de memória e cognição com mais criatividade e

      

1 O hipertexto constitui documento digital composto por diferentes blocos de informações interconectadas.

Essas informações são amarradas por meio de elos associativos, os links. Estes permitem que o usuário

(18)

qualidade quando se usa os textos cruzados. Podemos, portanto, considerar que depende de como é produzida e disseminada a informação no ciberespaço, para que o leitor virtual assimile o conhecimento sobre o que leu.

Esse ciberleitor percorre o ciberespaço2 diariamente, um local de conexão que dispensa a presença física, ambiente eletrônico artificial e há que se buscar uma posição de análise para a contextualização do receptor na Internet. Os receptores virtuais também são produtores de sentido e não atuam de forma passiva. Os interagentes desse espaço, captando os conteúdos, não podem ser considerados como passivos, mas sim receptores-sujeitos ativos e seletivos atuantes no ciberespaço. Morin (2000) ressalta que a interatividade traz à tona uma nova maneira de consumo dos conteúdos comunicacionais e, ao mesmo tempo, surge como uma nova forma de laços entre indivíduos, numa noção de tecnossocialidade.

Entre as opções de ferramentas comunicacionais virtuais estão, entre outras, portais interativos, blogs, wikis, podcasts, redes sociais online, que são atualmente um fator

chave para a compreensão da lógica da ação coletiva e de sua evolução. Contudo, autores como Howard Rheingold, por exemplo, vêm comprovando que a sinergia entre as pessoas via web, dependendo do projeto em que estejam envolvidas, pode ser multiplicada com

enorme sucesso. As diversas formas de comunidades virtuais, Blogs, Orkut, Ttwitter, Facebook etc., são prova de que o ciberespaço constitui um fator crucial no incremento do

capital social, intelectual e cultural disponível. Kerckhove (1997, p. 252) destaca que na Internet o que parece é que as pessoas estão todas juntas, sendo um novo tipo de pessoas em um novo tipo de espaço. Para ele, esse espaço é vivo como uma presença vibrante, humana e coletiva.

É com base nesses dados que se adentra nesta proposta de pesquisa. Fundamentada na visibilidade mediática, na hipermídia e na divulgação científica buscamos investigar blogs mantidos por pesquisadores e divulgadores de pesquisas

científicas voltadas para as grandes áreas do conhecimento, e identificar em que medida a

      

2Conforme Trivinho (2001, p.180), “ciberespaço é uma estrutura infoeletrônica transnacional de

(19)

navegabilidade dos recursos virtuais corresponde à confiabilidade necessária à divulgação científica.

A questão parte do pressuposto de que o que se encontra em ambientes hipermidiáticos é uma grande base de dados oferecidos de diversas formas e condições de acessibilidade. Isso transforma essa estrutura em uma complexa base com dados selecionados e organizados pelo usuário através da interface. A mediação da informação para a geração do conhecimento se relaciona qualitativamente com o formato em que a informação está inscrita e com a aptidão do usuário. O digital possibilita trabalhar a informação científica de forma diagramática e a escrita digital induz a um aumento na possibilidade para avaliar informações complexas e engendrar configurações de memória e cognição com mais criatividade e qualidade quando usando os textos cruzados.

O objetivo deste estudo é pesquisar a linguagem híbrida da ciência no (ciber)espaço hipermidiático. As hipóteses sinalizadas são: (1) o discurso disseminado pelos diários virtuais traduz a ciência de fato para um público possivelmente leigo que busca informações acerca do assunto; (2) dependendo de como o discurso articulado entre texto e recursos hipermidiáticos é interpretado, pode prejudicar a aproximação entre o leitor internauta e a ciência; (3) mesmo estando em diários virtuais, locais com conteúdos informais, o que se divulga visa atender aos próprios pares blogueiros da ciência e não ao grande público.

Delineamos o corpus da pesquisa restringindo-o aos blogs que possuem o selo Research Blogging, uma certificação conferida às postagens relacionadas à pesquisa

científica submetida à revisão por pares. A pesquisa científica objetiva, fundamentalmente, contribuir para a evolução do conhecimento humano em todas as áreas, portanto, não se faz restrição por área do conhecimento.

(20)

partir para um campo maior de investigação dentro do ciberespaço.

Esta Tese teve início em nossa Dissertação de Mestrado, intitulada “C&T no meio rural: a divulgação de Ciência e Tecnologia no programa televisivo Caminhos da Roça”, que tratou especificamente da linguagem científica veiculada na televisão regional. O trabalho observou como o discurso científico era veiculado para o público da TV, especialmente para o homem do campo. Posteriormente, motivados pela cultura da conectividade, afunilamos nossa pesquisa e nos propusemos a analisar um dos elementos exponenciais da cibercultura, os blogs, com foco nos que têm temática específica, isto é, os blogs de divulgação científica.

A escolha dos blogs se justifica pelo fato de eles divulgarem pesquisas científicas

e de terem o selo Research Blogging. Além desse critério, foram selecionados os que

utilizam recursos hipermidiáticos para divulgar o conteúdo.

Verificação anterior realizada por esta pesquisadora, nos anos 2006 e 2007, sobre divulgação de ciência brasileira, com foco na revista especializada Scientific American

Brasil, demonstrou que a quase totalidade das pesquisas divulgadas em âmbito nacional é proveniente do Estado de São Paulo, em especial da Universidade de São Paulo (USP), uma das mais citadas na publicação.

Ainda nessa pesquisa empírica, observamos que Clima, História, Medicina e Meio Ambiente (ou seja, predominantemente ciências naturais) são as principais temáticas divulgadas. Foram contadas 138 matérias brasileiras (opinativas, informativas e interpretativas) dentre as 382 matérias pesquisadas. Dessas, 21 estiveram na capa, a maioria somente apresentando pequenas chamadas. Os 50 autores identificados eram sempre pesquisadores brasileiros. Entre os países que mais apareceram nas edições investigadas, os que mais se destacaram foram os Estados Unidos e, em seguida, o Brasil. Além da USP, outras universidades dos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro são fontes de pesquisa. Não se verificou divulgação científica proveniente de outras regiões do país e tampouco de universidades privadas, salvo o caso que teve a PUC-RJ como fonte.

(21)

presente pesquisa adentra os laços do ciberespaço para investigar o desempenho da divulgação científica explorada pelos blogs dos portais Anel de Blogs Científicos e Science Blogs Brasil, espaços que reúnem diários virtuais com predominância de linguagem

informal e frequência, não raro, indeterminada.

A eleição por blogs está baseada na onda de expansão desses diários virtuais. Em

seus estudos sobre o estado da blogosfera, Sifry (2006) destacou que o número de blogs

dobrava a cada seis meses e meio. Esses fatos chamam atenção para a Internet, configurada como novo espaço de socialização e ambientação de informações de toda natureza. Até os dias de hoje, os blogs se mantêm ativos, mesmo com a vasta gama de novidades em termos

de redes comunicacionais.

Para alcançar os objetivos propostos e caminhar para a resolução do problema de pesquisa, esta Tese se debruça sobre os alicerces da Análise do Discurso e da Entrevista em Profundidade. Dados quantitativos são apresentados para descrever o objeto e complementar as análises, porém o foco é o estudo qualitativo.

(22)

Ainda sobre a análise do discurso, Orlandi aduz que:

Do ponto de vista da análise do discurso, o que importa é destacar o modo de funcionamento da linguagem, sem esquecer que esse funcionamento não é integralmente linguístico, uma vez que dele fazem parte as condições de produção que representam o mecanismo de situar os protagonistas e o objeto do discurso. (ORLANDI, 1987, p. 107).

A Entrevista em Profundidade será aplicada aos blogueiros e a leitores de blogs.

Trata-se de uma técnica qualitativa que explora um assunto a partir da busca de informações, percepções e experiências de informantes para analisá-las e apresentá-las de forma estruturada. A entrevista tornou-se técnica clássica de obtenção de informações nas ciências sociais, com larga adoção em áreas como sociologia, comunicação, antropologia, administração, educação e psicologia. É um recurso metodológico que busca, com base em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações que se deseja conhecer. Com as entrevistas direcionadas aos leitores/internautas que acessam blogs será

possível compreender como estes recebem a informação, quais são os seus assuntos de interesse e o que é apreendido da informação científica.

Este estudo observa também a operacionalidade dos recursos que a cibercultura traz para a divulgação científica, além de verificar os conteúdos científicos presentes nos textos dos blogs que divulgam ciência, com base em categorias predefinidas para permitir a

comparação entre eles.

A divisão da temática compreende cinco capítulos. O primeiro concentra um panorama sobre a história da ciência e da divulgação científica, passando pelos caminhos pelos quais percorre a linguagem científica que é veiculada no ciberespaço. Apontamos a relevância social que tem a ciência para o ser humano e para a sociedade. As bases da visibilidade mediática e da dromocracia ciberculturais podem ser vistas neste item, uma vez que se discorre também sobre a velocidade da informação online. O segundo capítulo

(23)

conteúdos científicos propriamente distribuídos no ciberspaço. São descritas as características da linguagem no ambiente virtual, seus contextos e origens. Buscamos traçar um caminho pelo qual passa o texto científico até chegar ao grande público. O capítulo quatro é dedicado aos estudos sobre a visibilidade mediática e sobre a blogosfera. O objetivo é investigar quais características carrega a visibilidade mediática via blogs.

Abordamos a tele-existência da ciência através de discursos proferidos pelos divulgadores. Ainda nesse item, discutimos sobre os discursos e recursos hipermidiáticos traçados para divulgar ciência. No quinto e último capítulo, é realizada a análise do objeto através da crítica aos resultados obtidos.

Ao longo desta pesquisa, objetivamos dar um enfoque qualitativo aos dados, o que é mais coerente e adequado aos objetivos propostos. No entanto, são apresentados também dados quantitativos como frequência e quantidade de postagens, tipos de blogs, quantidade

(24)

CAPÍTULO I

O EIXO CIÊNCIA E SOCIEDADE

1.1 A relevância da ciência para a vida humana

A sociedade se professa em constante evolução e a ciência tem sido importante para os grandes feitos da humanidade. Os progressos científicos avançam de tal forma que a sociedade apresenta dificuldades para acompanhá-los e, muitas vezes, compreendê-los. Por isso, torna-se ainda mais necessário promover a conscientização das populações sobre os resultados desses avanços científicos e tecnológicos. Este é o primeiro passo para proporcionar uma postura crítica com relação a mudanças que afetam diretamente a vida.

Conforme Pinheiro e Oliveira (2012, p. 10), “os marcos dos registros da ciência e de sua institucionalização epistêmica e social são principalmente os primeiros periódicos e sociedades científicas, numa Europa em ebulição”. No período da Inquisição, os cientistas recorriam a anagramas para a comunicação de suas invenções na tentativa de fugirem da fogueira. Com as cartas e os primeiros periódicos nas sociedades científicas da Europa, a ciência caminha acumulando conhecimentos. Cientistas como Galileu, Newton, Lavoisier, Darwin, Pasteur, Marie Curie, Einstein e tantos outros marcaram a história científica e suas heranças atravessaram os tempos.

(25)

Afonso (2008) afirma ainda que o destaque da ciência já havia sido observado anteriormente na condução da Primeira Revolução Industrial, no século XVIII. Goergen (1998) argumenta que foi a partir da modernidade que a ciência começou a ser vista como o motor do desenvolvimento, símbolo do progresso; e foi quando se estabeleceu uma relação indissociável entre ciência e desenvolvimento humano e social. A ciência precisa ser caminho de acesso à realidade e uma das principais preocupações do homem é fazer ciência. Nesse sentido, Goergen elucida que: 

Aos poucos, esta ciência passou a ser avaliada segundo seu maior ou menor sentido prático. Homens geniais e abnegados fizeram disso o sentido de sua vida. Instituições foram criadas e organizadas com o objetivo precípuo de produzir ciência e traduzir seus resultados para a prática. A universidade foi paulatinamente incorporando este sentido prático do saber. Dela se espera, cada vez mais, que produza conhecimentos úteis e também forme pessoas capazes de atender aos quesitos de um mundo laboral moldado pelas mesmas ciência e tecnologia. (GOERGEN, 1998).

No século XVI, nas palavras de Amador (2009, p. 19), as universidades já não ocupavam, exclusivamente, sua posição de centros de desenvolvimento do conhecimento, e esta condição facilitou o aparecimento de uma cultura exterior, além da criação de novos meios de troca de informação, mediante contatos pessoais e redes de correspondentes. Gonzales (2012, p. 20) explica que os locais para discussões científicas multiplicaram-se e uma situação nova foi criada, as reuniões passaram a ser fora da residência familiar, em tabernas e casas de café.

No século XVII, na Inglaterra, o prestígio da ciência proporcionava a ideia de que esta era atividade útil e nobre. “Para a ética puritana daquele tempo, a ciência, ou a filosofia natural, era instrumental, primeiro, para as provas práticas do estado de graça do cientista; segundo, para aumentar o controle dos homens sobre a natureza; e terceiro, para glorificar a Deus” (SCHWARTZMAN, 2008, p. 20).

(26)

a órbita da emoção e da paixão” (SCHWARTZMAN, 2008, p. 7). Esperava-se que a ciência desse fim à pobreza, trazendo felicidade e paz, que ensinasse as pessoas a pensar racionalmente, levando ao comportamento racional em todas as esferas de atividade; e que, então, as questões sociais e políticas poderiam ser tratadas de maneira científica, diminuindo as disputas. Todo esse conjunto de fatores levaria a sociedade a um aperfeiçoamento.

Na realidade, a ciência não eliminou, nem sequer reduziu a presença da política na vida social. Mas eliminou sua base de legitimidade, fazendo-a ser desdenhada como desprezível, irracional e indigna. Afastada a política do caminho, está aberta a via pela qual a ciência e a tecnologia podem transformar-se em tecnocracia. (SCHWARTZMAN, 2008, p. 7).

A tecnocracia, portanto, seria o modo mais eficiente de governo. Os cientistas, devido às suas habilidades, tomariam todas as decisões. Porém, Schwartzman (2008) conclui que a política é uma atividade essencialmente humana e, por isso, a ciência e a tecnologia não podem excluí-la.

(27)

Nos canais de comunicação formal, a informação é balizada por regras, procedimentos e avaliações mais rigorosos, para transmissão por meios de comunicação especializados, como periódicos - o mais utilizado e valorizado -, livros, monografias e obras de referência. Nos canais de comunicação informal, a informação, enquanto proposta de pesquisa, é apresentada intrapares pelo cientista/pesquisador e vai gradualmente obedecendo a procedimentos de formalização, integração e avaliação. Destinada à audiência restrita, é por meio da comunicação informal que o cientista/pesquisador busca entre seus pares, críticas, sugestões e apoio iniciais para o seu empreendimento científico. (LOUREIRO, 2003, p. 90).

Ainda conforme Loureiro (2003), já nas décadas de 1970 e 1980, esse modelo foi reformulado por Christovão e Braga (1997, p. 41). Eles propuseram um sistema não-linear de comunicação que diferenciava os processos de geração e transferência da informação questionando a universalidade e neutralidade do processo de comunicação científica. Esse novo modelo reedificou a comunicação científica, pois passou a incorporar os processos de divulgação científica e a contemplar os aspectos de difusão da informação.

(28)

A divulgação científica pode estar orientada para diferentes objetivos, aduz Albagli (1996, p. 397). Para fins educacionais, na ampliação do conhecimento e da compreensão pública a respeito do processo científico e sua lógica. Neste caso pode-se transmitir a informação com um caráter prático visando ao esclarecimento de indivíduos quanto ao desvendamento e a solução de problemas cientificamente estudados, e com um caráter cultural visando ao estímulo da curiosidade científica como atributo humano, com objetivo cívico, visando ao desenvolvimento de uma opinião pública informada sobre os impactos do desenvolvimento científico e tecnológico sobre a sociedade, principalmente em áreas do processo de tomada de decisões. Neste caso, destaca a autora, trata-se de transmitir a informação científica objetivando a ampliação da consciência do cidadão a respeito de questões sociais, econômicas e ambientais que estejam relacionadas ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Por fim, a divulgação científica pode estar orientada com o intuito da mobilização popular para ampliar a participação da sociedade na formulação de políticas públicas. Neste caso, trata-se de fazer com que os indivíduos intervenham nos processos decisórios.

Considerando que a ciência é um bem social e deve estar ao alcance da população, tem-se exigido mais transparência da comunidade científica e uma atenção maior de comunicar-se com o grande público. Rondelli (2004, p. 19) relembra que a própria definição dos cientistas acerca do que é ciência é paradoxal e cita Burkett (1990, p. 6-7) ao mencionar um estudo de 1972, realizado por Dietrich Schoroeer, o qual expõe pelo menos cinco definições de ciência: “A ciência é o controle da natureza; a ciência estuda o mundo material; a ciência é o conhecimento público; a ciência é método experimental. A ciência consiste em deduções lógicas de muitas observações”. Todavia, sequer todas essas definições reunidas abarcam a abrangência desse conceito.

A divulgação científica vem evoluindo e acompanhando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Kumar (1997) explica que há uma crise de confiança entre os próprios cientistas e que eles não só questionam a aplicação em massa da ciência ao mundo, mas postulam também perguntas inquietantes sobre o próprio status da ciência

(29)

entendimento de um público leigo, sem se tornar simplista. Discorremos sobre transformação, porém, não em detrimento da informação, mas sim em uma mudança estrutural que possa privilegiar a estrutura básica da informação científica, contudo de um modo mais compreensível por parte do grande público.

É evidente que existe um enorme potencial de ação para a divulgação científica na Internet. Entretanto, pouco se tem articulado para que se divulgue, de forma ampla e eficiente, a ciência na rede. Até algumas décadas atrás, a ciência estava preferencialmente em meios de comunicação impresso, como revistas e jornais. Posteriormente, a televisão abriu espaço em seus canais e em sua programação para a ciência caminhar. No entanto, o potencial da Internet para a divulgação e popularização da ciência é ainda utilizado de forma modesta.

Para Martín Barbeiro (2007), a sociedade necessita da ciência assim como a ciência necessita da sociedade. A popularização da ciência deve-se, em primeiro lugar, à influência que muitas descobertas científicas tiveram sobre a sociedade. Como consequência, esses temas ganharam um espaço nos meios de comunicação, transformando termos científicos em palavras de uso comum. Na sociedade crescentemente vinculada aos avanços científico-tecnológicos, a superação dessa lacuna entre ciência e seu acesso pela população torna-se uma exigência urgente, e a democratização desses conhecimentos torna-se fundamental. A divulgação da ciência deve ser vista como objetivo social, um fator essencial para o desenvolvimento das pessoas e dos povos, como uma forma eficiente e democrática de provocar a apropriação, por parte da sociedade, da cultura científica, com sua linguagem, normas e princípios próprios, por meio dos quais a ciência pode ser apresentada como uma forma de entender e se relacionar com o mundo.

(30)

De acordo com Afonso (2008, p. 4), o nascimento da divulgação científica situa-se entre os séculos XVII e XVIII, e grandes personalidades da história, desde muito cedo, notaram a importância da divulgação do conhecimento. Leonardo da Vinci, considerado um divulgador, mesmo antes de ser pintor, escultor, engenheiro e inventor, realçou que só é ciência, a ciência que é transmissível.

O impacto da ciência e da tecnologia na sociedade é fato inconteste. Entretanto, por ausência de uma divulgação científica que aproxime a ciência e a tecnologia do cidadão comum e o transforme num agente participante das decisões dos investimentos e dos rumos da C&T, as pessoas vão aos poucos afastando-se do pensamento científico, na medida em que não encontram respostas para suas perguntas. (CALDAS, 1998, p. 213).

O eixo ciência e sociedade dilata-se na medida em que as pesquisas científicas, em sua maioria, por exemplo, não chegam à população. Mesmo com tantas tecnologias para sua divulgação, a predominância é dirigir-se aos pares, como no caso de revistas científicas de divulgação, que são, em geral, publicadas em inglês. Além do idioma, há uma linguagem diferenciada, com termos técnicos que não cabem no entendimento do grande público. Ademais, tampouco tudo que se pesquisa sai dos laboratórios em condições de ser compreendido e de se aproximar do interesse da população.

No Brasil, por exemplo, embora existam pesquisas que comprovem o interesse do brasileiro por Ciência e Tecnologia (C&T), nota-se ainda um módico interesse em buscar informações a respeito de ciência nas mídias tradicionais. Em 2006, o CNPq3 realizou uma pesquisa intitulada Percepção Pública da Ciência e Tecnologia que evidenciou, entre

outros aspectos, a preferência por assuntos relacionados à medicina e à saúde, seguido de meio ambiente, religião, economia e esportes, somente depois desses temas despontam a ciência e a tecnologia. Por outro lado, aqueles que demonstraram interesse em ciência e tecnologia declararam que a prioridade está direcionada para informática e computação. Com a pesquisa, percebeu-se também que a TV é o meio de comunicação mais utilizado pelas pessoas para se informarem sobre C&T, seguido por revistas, jornais e Internet. Os gráficos que seguem, exibem os dados da pesquisa do CNPq.

      

3 Pesquisa disponível em:

(31)

Gráfico 1.1 - Pesquisa CNPq (2006)4

      

4Fonte: Disponível em: <http://www.cnpq.br/documents/10157/c52098dc-9364-4661-a8a9-d99c0b2bb9ef>

(32)

Gráfico 1.2 - Pesquisa CNPq (2006)5

Os meios de comunicação mantêm em sua programação parte do conteúdo para a divulgação científica. Nesse sentido, o que se vê, acerca desse tema, com maior frequência, é divulgado pela TV. Por estar em 99,9% dos domicílios, a televisão ainda é o veículo de comunicação pelo qual os indivíduos mais se informam, mesmo que seja involuntariamente. A TV ainda está em primeiro lugar, seguida de revista, jornais e, por fim, Internet, diz a pesquisa do CNPq (2010)6. Comparando as pesquisas de 2006 e 2010

também realizadas pelo CNPq, a TV ainda é a principal fonte de informação para a C&T. Ela transmite um conteúdo que pode ser absorvido involuntariamente, por exemplo, no meio da programação de um jornal. Já as revistas e os jornais precisam contar com o interesse do leitor para terem seu conteúdo consumido. Assim também ocorre com a

      

5Fonte: Disponível em:

<http://www.cnpq.br/documents/10157/c52098dc-9364-4661-a8a9-d99c0b2bb9ef>Acesso em: 11 abr. 2013, p. 35.

(33)

Internet que, mais que todos os demais meios, deve contar com o interesse e a afinidade do leitor com o tema.

No Brasil, vemos iniciativas televisivas, impressas e via Internet para promover a divulgação da ciência. Investimento da Editora Abril, por exemplo, a revista

Superinteressante foi criada em 1987 e é uma das mais populares revistas que abordam

ciência. Em 1991, a Editora Globo inseriu no mercado a Globo Ciência (atual Galileu). Em

2002, surgiu a Scientific American Brasil, nos moldes da revista original norte-americana,

mas contendo também artigos de cientistas e jornalistas brasileiros. Surgiram, ainda, programas de TV voltados à ciência. O primeiro deles foi Nossa Ciência, transmitido pelo

canal governamental de educação do Rio de Janeiro em 1979, e apresentando apenas dez emissões. Já o programa de divulgação científica Globo Ciência, transmitido atualmente

pela Rede Globo e pelo Canal Futura, está no ar desde 1984. Diferentes iniciativas, com

suas peculiaridades de linguagem e de abordagem, buscam divulgar a ciência para o grande público e não apenas para os pares.

A partir dos anos 1980, novas atividades de divulgação científica começaram a aparecer nas páginas dos jornais diários do país, com a criação, em vários desses periódicos, de seções de ciência, que passam por constantes processos de redução e aumento de espaço, conforme diversos fatores. Os jornais de maior tiragem, como O Globo, a Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, possuem espaço para temas de

ciência e tecnologia (que igualmente pode variar) e jornalistas especializados na cobertura da área. Todavia, no cenário nacional, o espaço dedicado especificamente à cobertura de ciência nos jornais continua, em geral, limitado, e há ainda poucos jornalistas especializados em ciência. Além de serem escassos os profissionais que se especializam nessa área, os jornalistas têm perdido espaço para agências de notícias e assessoria de imprensa. Andy Williams, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, conduziu uma pesquisa sobre a crise do jornalismo. Seu resultado indicou que o jornalismo está passivo, pois os profissionais têm pouco tempo para buscar pautas originais e os repórteres se apoiam cada vez mais em releases. Assim, segundo Williams, o papel do jornalismo

(34)

A fonte científica é um dos profissionais com mais credibilidade no Brasil. De acordo com o relatório7 do CNPq de 2010, os médicos e os jornalistas lideram a lista dos profissionais com maior credibilidade para informações sobre ciência e tecnologia, ao passo que políticos e religiosos se mantêm como os menos confiáveis. Na primeira pesquisa realizada pelo CNPq, em 2006, no que diz respeito ao profissional que mais inspira confiança como fonte de informação ao divulgar ciência e tecnologia, os que tiveram mais menções foram os jornalistas e, em seguida, os médicos. A imagem que se tem de ambos é consolidada em um pilar de credibilidade independente do canal que esteja sendo utilizado para a condução das informações. A credibilidade é uma das características mais importantes da ciência e da fonte, pois a distingue do conhecimento popular.

A imagem dos cientistas perante a sociedade não passou por grandes transformações desde os anos 1980. Em 1987, a concepção que se tinha de cientistas era a de que são “pessoas cultas que fazem coisas úteis para a humanidade”. Naquele ano, esse foi o apontamento de 58% dos entrevistados e em 2006, 60% deram a mesma resposta. Entretanto, 84% dos entrevistados não conhecem nenhuma instituição que invista em pesquisa científica no Brasil. O inquietante é o dado de 37% dos 2.004 entrevistados afirmarem que não se interessam por esse tema, pois não entendem o conteúdo científico, conforme se observa no gráfico que segue.

      

(35)

Gráfico 1.3 - Pesquisa CNPq (2006)8

Quais são os motivos para que não se compreenda tais assuntos? Podemos inferir que os assuntos relacionados à ciência não estão próximos da realidade do brasileiro? Um dos pontos principais para consumir um conteúdo é o fato de este ter alguma proximidade com sua realidade ou com seus interesses pessoais. Além disso, a linguagem usada para transferir a ciência ao público em geral também deve ser levada em consideração.

Ao tratar-se de divulgação científica, é preciso contextualizar a linguagem científica e, portanto, recordar que a palavra sempre procede de alguém e se dirige a outro alguém. Ao dirigir a palavra a outrem, constituímos um ato de reconhecimento e esse procedimento é realizado por sinais, por elementos fonográficos, por um conjunto de instrumentos que resultam em sentidos sociais. O enunciado verbal não é simples reflexo

      

8Fonte: Disponível em: <http://www.cnpq.br/documents/10157/c52098dc-9364-4661-a8a9-d99c0b2bb9ef>

(36)

ou expressão de algo que lhe preexiste, que está fora dele, dado e pronto. “Cada texto pressupõe um sistema compreensível para todos – uma língua. Se por trás do texto não há uma língua, já não se trata de um texto, mas de um fenômeno natural” (BAKHTIN, 1997, p. 331). Todo discurso nasce em outro (sua matéria-prima) e aponta para outro (seu futuro discursivo). Cada fala ou texto sintoniza um ou vários discursos e é incompleto e cheio de intervalos porque nasce de um discurso, reformula-se e remete a um novo discurso. Charaudeau aduz que:

O discurso não é a língua, embora seja com ela que se fabrique discurso, e que este, num efeito de retorno, a modifique. A língua é voltada para sua própria organização, em diversos sistemas que registram os tipos de relação que se instauram entre as formas (morfologia), suas combinações (sintaxe) e o sentido, mais ou menos estável e prototípico de que essas formas são portadoras segundo suas redes de relações (semântica). Descrever a língua é, de um modo ou de outro, descrever regras de conformidade, a serem repertoriadas em gramáticas e dicionários. (CHARAUDEAU, 2010, p. 40).

O discurso é resultado da combinação das circunstâncias em que se fala ou se escreve, com a maneira pela qual se fala. Charaudeau (2010) manifesta que o sentido é constituído pela ação linguageira do homem durante a troca social.

1.2 As especificidades da linguagem científica

(37)

geralmente publicações em periódicos científicos e livros. E a segunda utiliza os chamados canais informais e inclui comunicações de caráter mais pessoal ou que se referem à pesquisa ainda não concluída (MUELLER, 2000, p. 22-23). Na comunicação informal ocorre a interação entre os pesquisadores para a construção do conhecimento (reuniões científicas, participação em associações profissionais e colégios invisíveis) (SCHWEITZER, RODRIGUES; RADOS, 2011).

Abaixo está o esquema que demonstra o fluxo da informação científica de Garvey e Griffith (1979), direcionado ao meio impresso:

Tabela 1.1 - Fluxo da Informação através das pesquisas.

Fonte: (adaptado de Garvey e Griffith apud Campelo, 2000)

Com as novas tecnologias da informação e da comunicação, o fluxo foi modificado. O computador foi utilizado para o processamento de informações a partir da década de 1960 e sua evolução fez com que se tornasse ferramenta eficaz para a comunicação científica. Para Schweitzer, Rodrigues e Rados (2011), as TICs são ferramentas auxiliares bastante eficazes para as atividades da comunicação científica, variando a intensidade de uso e os tipos de ferramentas conforme a área do conhecimento.

Cientistas produzem a informação Informação é estruturada!

Inserem esta informação em um ou mais canais de comunicação (que podem ser os canais formais e informais)

Recuperação da informação!

(38)

[...] na década de 1980, o desenvolvimento da tecnologia da informação e comunicação alcançara a etapa em que podia começar a competir com a impressão em papel como meio universal para difundir informações científicas. Nos últimos anos, portanto, passou a ser razoável examinar a possibilidade de se transferir informações científicas do meio impresso para o meio eletrônico. (MEADOWS, 1999, p. 35).

O texto científico apresenta suas características próprias que o distinguem dos demais: são textos que servem para transmitir conhecimentos, expor conteúdos ou relatar um estudo ou pesquisa, incluindo a descrição dos métodos, a apresentação dos resultados e uma discussão sobre eles. Empregam definições precisas de termos científicos, comumente restringem-se a assuntos muito específicos, ou quando tratam de assuntos genéricos, os separam claramente.

Ao abarcar a linguagem, Morris (2003, p. 155) explica que a linguagem comum especializou-se de diversas maneiras e essas especializações são os tipos de discurso. Segundo Charaudeau (2006), discursos são formas de construção da língua em que os sujeitos se colocam em relação, se fazem entender, se fazem perceber e estabelecem vínculos. Discurso não é a língua, embora seja por intermédio dela que se constitua o discurso e que este, num efeito de retorno, modifique-a. A língua está ligada à gramática, à sintaxe e à semântica, enquanto o discurso adquire um sentido que ultrapassa as fundamentações linguísticas da manifestação verbal.

(39)

Além do discurso científico, há o discurso tecnológico que prescreve ações com o propósito de informar aos intérpretes como alcançar certos objetivos. Este é um discurso prescritivo-informativo. Objetiva fornecer as informações e as técnicas de como realizar um determinado procedimento. Há um tipo de discurso tecnológico para a ciência, para a moral, para a matemática e para todas as áreas.

A divulgação científica e o jornalismo científico são diferentes dos discursos científico e tecnológico. Ambos devem destinar-se ao chamado público leigo, com a intenção de democratizar as informações (pesquisas, inovações, conceitos de ciência, tecnologia etc.), porém, a primeira forma não é jornalismo. O jornalismo científico é um caso particular de divulgação científica: é uma forma de divulgação endereçada ao público leigo, mas que obedece ao padrão de produção jornalística (BUENO, 2006). De acordo com Alberguini (2007, p. 53), o jornalismo científico é a divulgação de assuntos ligados à Ciência, à Tecnologia e à Inovação para o público não especializado, nos veículos de comunicação, mediante notícias, reportagens, entrevistas ou artigos. Burke e Porter explicam que:

Desde o século XVII desenvolveu-se um estilo direto de relato científico delineado para ser translúcido, sem ambiguidades, direto e isento de toda a confusa subjetividade da reportagem pessoal. Em sua melhor forma, a prosa científica é um instrumento de comunicação muito eficaz: entretanto, ela não se relaciona com qualquer tipo de fala [...]. (BURKE; PORTER, 1993, p. 22).

A intenção do jornalista e a do cientista no que se refere à produção mantém uma larga distância entre si. Enquanto o jornalista e o divulgador trabalham para o grande público, o cientista dirige-se a um público específico e especializado. Não obstante, cientistas podem ser divulgadores e assumir ambos os papéis. Algumas diferenças entre esses discursos são apontadas por Fabíola de Oliveira:

(40)

Leibruder (2002, p. 236) define o texto da divulgação científica como sendo a intersecção dos gêneros científico e jornalístico, reunindo dois níveis de linguagem expressos simultaneamente. O primeiro deles está focado na objetividade e busca da neutralidade - características típicas da ciência - e o segundo é voltado para um registro mais coloquial, deixando à mostra a subjetividade. No discurso da divulgação científica, os termos técnicos do discurso científico são explicitados na busca de uma linguagem mais acessível ao grande público.

Tratar de divulgação científica no ciberespaço é ainda mais complexo e não abarca apenas a linguagem. Diante da nova web, a web 2.0, que permite o uso de ferramentas

colaborativas e tantas outras possibilidades, todas as áreas do conhecimento têm se modificado. A comunicação, a educação, a medicina, a ciência e outras áreas adentram na “sociedade em rede” (CASTELLS, 1999), que pode ser configurada como uma sociodromocracia cibercultural (TRIVINHO, 2007).

Na verdade o computador é um meio artificial de pensamento, criado que foi para ser o apêndice mais veloz da mente humana. Ele não está limitado a apenas calcular, mas raciocina também [...]. Contudo, todos os ciberneticistas são unânimes em afirmar que não se deve admitir a ingenuidade de se supor a máquina de pensar feita para substituir o homem. (MORAIS, 1988, p. 143).

Este século, desde seu início, está marcado pela presença das tecnologias da informática. Objetos infotecnológicos estão em todos os ambientes pelos quais percorre a vida humana. Baudelaire (2007, p.26) defende que “a modernidade é o transitório, o efêmero, o contingente, é a metade da arte, sendo a outra metade o eterno e o imutável [...]. Não temos o direito de desprezar ou de prescindir desse elemento transitório, fugido, cujas metamorfoses são tão frequentes”. Entre os objetivos da web 2,0 estão: a informação

controlada pelo usuário; a web como a própria plataforma; ferramentas no formato de

serviços web ao invés de softwares proprietário; arquitetura participativa; nenhum custo

para o usuário, permissões de livre distribuição ou modificação; aplicações não limitadas a um determinado sistema operacional ou hardware; inteligência coletiva9.

      

(41)

Nas palavras de Vilches:

No computador, a interface permite que a máquina se apresente ao usuário de modo que ele possa compreendê-la. Aqui começa a ação interativa. O modo humano de aproximar-se da máquina permite uma experiência de gestão, por meio de uma série de objetos visualizáveis, preparados para interagir. A interface não é um complemento do ato de ver, como o controle remoto; é o centro da interação a verdadeira zona de produção das novas relações sociais que regeram o uso da comunicação digital. Desse modo, a interatividade permite aos usuários usarem as mídias para organizar seu espaço e seu tempo, e não o inverso, como acontecia com os meios tradicionais baseados na manipulação das imagens e dos sons, a partir de um centro emissor. (VILCHES, 2003, p. 23-24).

No que diz respeito à interatividade, Monteiro (2006, p. 13) vai à contramão de Vilches e não compartilha das mesmas ideais sobre interatividade. Para o autor, ela não consegue atender aos ideais emancipacionistas e libertários atribuídos a ela, como maior comunhão social, liberdade de expressão, autonomia, transparência social e participação democrática, por exemplo. Isso porque ao tentar realizar algum desses ideais, acaba por criar situações conflitantes. Ele expõe que a falácia da interatividade pode ser identificada em algumas utopias de que os media interativos oferecem total liberdade em função do

modelo descentralizado da Internet. O que se nota é que a democracia e a liberdade de expressão precisam ser mais bem analisadas, pois não caminhamos para uma humanidade unida. De fato, os interagentes na Internet podem emitir e receber mensagens, porém, não irrestrita e igualitariamente. A proposta de democracia acaba sendo uma pseudo

democracia.

(42)

Em 2003, a versão do projeto How much information? concluiu que o mundo produziu

cinco exabytes de informação, aproximadamente 800 megabytes para cada indivíduo do

planeta, indicando o altíssimo crescimento de novas informações. Contudo, Castells (1999) não compartilha do pensamento de sobrecarga informacional e acredita que quanto mais dados estiverem disponíveis, maiores são as possibilidades de selecioná-los e usá-los.

A tecnologia é algo transformador, diferente e que serve para substituir ou aliviar determinada tarefa antes executada pelos seres humanos de forma rudimentar. A tecnologia funciona como se substituísse o corpo humano ou fosse relacionada a ele. Como descreve Wiener (1956, p. 33), “[...] são máquinas para realizar alguma tarefa ou tarefas específicas, e, portanto, devem possuir órgãos motores (análogos aos braços e pernas dos seres humanos) com os quais possam realizar essas tarefas”.

Os processos comunicacionais, desde o advento da eletrônica, acrescentam novas possibilidades à comunicação. Tais processos ocorreram em diversos momentos da história da comunicação, desde meados do século XV, com a invenção da prensa, quando Gutenberg provocou uma revolução no conhecimento da época (BRIGGS; BURKE, 2004). Posteriormente, em um tempo de tecnologias mais evoluídas e com o desenvolvimento da transmissão de dados de forma binária, novas mudanças ocorreram. A Internet trouxe uma proximidade maior entre as extremidades do processo comunicacional, e com ela, mudanças de produção e distribuição de informações surgiram em diversos ambientes, dentre eles, o científico.

A linguagem comunicacional nos ambientes interativos é fragmentada, livre e participativa. É preciso estar disposto a “sair do labirinto”, como ressalta Leão (2005), para vencer os desafios propostos pela interface. Isso ocorre na leitura hipertextual ou no ambiente hipermidiático, proporcionando ao usuário/leitor os anseios da liberdade criativa.

(43)

Cabe-nos expor o questionamento de Martins e Silva (2003): Navegar é preciso? Os autores destacam que navegar, no sentido stricto da palavra, era preciso há mais de 500

anos e que a descoberta de novos mundos exigia riscos e sacrifícios humanos. Porém, a navegação era orientada por instrumentos, era calculada, científica e exata. Com essa navegação é que Cabral descobriu o Brasil há mais de 500 anos, empurrado não por muitos cálculos, mas pela ausência de ventos – segundo uma das teorias. Entre tecnossauros e tecnorosas, o século XXI chega com o mesmo sonho de navegações. Hoje, cinco séculos depois, o mundo navega mais do que nunca, porém, agora é com um computador. “Os discursos ditos científicos costumam afirmar tudo e o seu contrário em nome da mesma verdade submersa. E então, na Internet, os ventos sopram para o bem ou para o mal? Antes de qualquer resposta, teríamos que saber filtrá-los” (MARTINS; SILVA, 2003, p. 7).

1.3 A velocidade da informação online

A comunicação não é realizada como sugeria o modelo tradicional, do emissor em direção ao receptor. Nessa nova lógica, expressam Cardoso et al. (2010, p. 6) que se sobressai a interatividade “como modalidade comunicacional emergente” e verifica-se um diálogo entre emissor e destinatário da mensagem. Essa característica híbrida é parte do que se conhece por web 2.0, ou web participativa, uma Internet que não é de mão única,

mas um espaço que possibilita a qualquer um a oportunidade de interagir.

O ciberespaço é um local de conexão que dispensa a presença física, um ambiente eletrônico artificial. Seu surgimento deu origem a uma nova fase vivida pela sociedade: a pós-modernidade, descrita por Bauman (2001) como a fase da modernidade líquida ou fluida. “Tanto no estágio fluido da modernidade quanto no sólido a individualização é uma fatalidade, não uma escolha. Na terra da liberdade individual de escolher, a opção de escapar à individualização e de se recusar a participar do jogo da individualização está decididamente fora da jogada”. (BAUMAN, 2001, p. 43).

(44)

inteligente fica restrita a uma íntima parcela da população planetária e, assim, encerram a ideia de que ali exista a formação de laços sociais consistentes. Isso porque existe a hipótese, adverte o autor (2006, p. 39), “de que o desconhecimento mútuo e a distância não favorecem, em absoluto, a vínculos coesos, ao contrário, representam uma ameaça à coesão social e/ou política”.

[...] um mundo virtual, no sentido amplo, é um universo de possíveis, calculáveis a partir de um modelo digital. Ao interagir com o mundo virtual, os usuários o exploram e o atualizam simultaneamente. Quando as interações podem enriquecer ou modificar o modelo, o mundo virtual torna-se um vetor de inteligência e criação coletiva. (LÉVY, 1999, p. 75).

Por outro lado, Gorz acredita que “a informatização revalorizou as formas de saber que não são substituíveis, que não são formalizáveis: o saber da experiência, o discernimento, a capacidade de coordenação, de auto-organização” (GORZ, 2005, p. 9). Estamos, portanto, diante de um saber vivo que é edificado no cotidiano e que pertence à cultura do cotidiano, e que a utilização proveitosa do conhecimento em forma de capital é tão antiga quanto o capitalismo industrial, no entanto, hoje, a capitalização do conhecimento se detém em uma nova fronteira, que não apenas em máquinas, instalações e processos.

Todo conhecimento passível de formalização pode ser abstraído de seu suporte material e humano, multiplicado quase sem custos na forma de software e utilizado ilimitadamente em máquinas que seguem um padrão universal. Quanto mais se propaga, mais útil ele é à sociedade. (GORZ, 2005, p. 10).

Em sua obra intitulada O Imaterial, Gorz enfatiza o valor mercantil do

conhecimento científico e disserta sobre o quanto este diminui com sua própria propagação para tornar-se um bem comum acessível a todos. “Se a sociedade, graças à redefinição do conceito de riqueza, tem de ser redefinida cultural e economicamente, também o espírito da ciência deve ser redefinido. A ciência, desde sempre esteve tão intimamente ligada ao capital” (GORZ, 2005, p. 12).

(45)

mudança é a ciência divulgada via blogs. Os conteúdos disponíveis oferecem, usualmente,

linguagem direcionada ao grande público, relação com a atualidade e recursos audiovisuais para a sua compreensão.

A comunicação ganhou um novo aporte com a web 2.0, em especial com os blogs.

Os ciberdiários, páginas pessoais, weblogs, ou simplesmente blogs, conforme definição de

Oliveira (2004), se constituem ferramenta digital que propicia um espaço na Internet para que seus usuários a utilizem como forma de expressão aberta, de temática livre e de atualização frequente. A autora explica que estes se tornaram um espaço garantido de expressão pública, podendo servir tanto como álbum de fotos, agenda, exposição de ideias, jornal online, caderno de divulgação de serviços, entre outras utilidades.

A interação e o contato são as máximas do mundo globalizado. Quem ou o que não está na rede são excluídos do mundo digital, ou seja, ficam à margem da sociedade. A ciência precisa estar no ciberespaço, pois seu público também está nele. A visibilidade midiática é critério fundamental para que se possa “existir”. Ao fazer referência a indivíduos ou informações, sabemos que àquilo que os media garantem status é ‘real’ e,

muitas vezes, é considerado verdadeiro. É o que Trivinho (2004, p. 32-33) destaca como morte simbólica:

A existência eletrônica espectral em tempo real, especialmente o seu braço mais sofisticado e doravante hegemônico, a tele-existência no universo virtual, processa-se à sombra de um cenário funéreo – sombra cuja representação conceitual mais apropriada radica no recurso à metáfora, por timbrada que seja –: a tele-existência não se positiva sem, ao mesmo tempo, estruturar, irrecorrivelmente, de outro lado, o cemitério da materialidade do mundo, assim como, de resto, de todos os elementos que lhe constituem a forma herdada. Assim é a cibercultura em sua integralidade: produção ampliada da morte espectral.

(46)

serve como um lugar onde o sujeito, pela escrita (posts/comentários), procura inserir-se

nessa representação de pós-modernidade.

As novas tecnologias são tecnologias da cibernética (VIRILIO, 2000), que são tecnologias do estabelecimento de redes das relações e da informação e, enquanto tais veiculam a perspectiva de uma humanidade unida, mas reduzida a uma uniformidade. Para o autor, “a questão da velocidade é uma questão central que faz parte da questão da economia. A velocidade é simultaneamente uma ameaça, na medida em que é capitalizada, tirana e, ao mesmo tempo, ela é a própria vida” (VIRILIO, 2000, p. 14). Assim, estamos diante de uma sociedade dromocrática, de uma sociedade veloz.

A Idade Média conheceu os pombos-correios, a sociedade colonial conheceu o poder marítimo, a sociedade do pós-guerra conheceu o poder aéreo e hoje a sociedade mundial está em gestação e não pode ser compreendida sem a velocidade da luz. Para Virilio (2000), a velocidade é o próprio poder e destaca que poder é simultaneamente retenção, freio, sabedoria e aceleração. Desse modo, consoante esse autor, no século XIX, poderia existir uma ingenuidade em relação ao progresso técnico e mesmo ao progresso social que hoje não pode existir.

A aceleração tecnológica dos séculos XX e XXI alterou a concepção materialista do espaço a partir de uma quase aniquilação do espaço físico e da experiência de um tempo em intensificação. A utilização de tecnologias digitais com dispositivos móveis e as possibilidades de acesso a qualquer hora, em qualquer lugar, viabilizam uma sociedade conectada. Pode-se comunicar por áudio, vídeo, imagem, texto, e essa conexão caracteriza a chamada cultura digital, ágil e constantemente em aperfeiçoamento.

A velocidade dos media eletrônicos instaura uma nova forma de experienciar o

tempo, substituindo a noção de tempo-duração por tempo-velocidade e também a instantaneidade das relações sociais. O tempo advindo das novas tecnologias eletrônico-comunicacionais é marcado pela interatividade online, fato constatado nas tecnologias de

telepresença, em tempo real, que alteram nosso sentido cultural de tempo e espaço.

(47)

interação e interatividade, está a construção colaborativa do conhecimento, realizada por meio de mecanismos provenientes da evolução digital da web 2.0, ou seja, a web como

plataforma, um ambiente participativo e com novos conceitos e práticas. Nesses ambientes públicos, o compartilhamento de ideias, discussões, debates, comentários, fóruns, blogs,

redes sociais, fortalecem a grande esfera pública que é a Internet.

Na era da democratização da comunicação, os blogs refletem de forma exemplar

essa prática. A Internet é um espaço aberto a opiniões, críticas, desabafos e questionamentos. Há, pois, com tantas fontes e perspectivas, uma maior visibilidade do mundo. Os blogs já chegaram a ameaçar a profissão do jornalista, mas atualmente, essa

ferramenta serve muito mais para somar à comunicação (PERRAZA, 2010).

O mundo da visibilidade mediática pode ser comparado ao mundo da corte real, onde o grau de importância dos cortesãos era aferido pela proximidade ou pela distância ao rei. Quanto mais perto do rei, quanto mais tempo perto do rei, tanto mais alta a posição social. Não era apenas ver o rei, mas, sobretudo, ser visto pelo rei, e ter o ouvido e a atenção do rei. Agora é ter a atenção do público. Quanto mais público se tiver, quanto maiores forem as audiências, quanto mais tempo se dispuser face às audiências, tanto maior a importância mediática de um personagem. (FIDALGO, 2007, p. 8).

Em uma imensidão de opções em termos de comunicação online às quais estamos

expostos diariamente, os blogs aparecem como espaços abertos à autoria e à coautoria, e

apresentam, por meio de seus hipertextos, caminhos diversos para que o usuário escolha por qual labirinto ciberespacial ele quer adentrar. Esses mundos virtuais proporcionam novas formas de experiência e de entendimento.

A palavra blog resulta da contração do termo Weblog, diário da Web. Trata-se de

um site cuja estrutura permite a atualização rápida a partir de acréscimos das postagens.

Geralmente, organizam-se de forma cronológica inversa, tendo como foco a temática proposta do blog, podendo ser escritos por um número variável de pessoas, de acordo com

a política do blog.

Recuero (2003) distingue os blogs em três categorias: os primeiros são diários

Imagem

Gráfico 1.1 - Pesquisa CNPq (2006) 4
Figura 2.1- Blog Ciência e Ideias
Figura 2.2 - Página da Revista Science 12 .
Figura 2.4 - Postagem do Science Blogs Brasil no Facebook 14
+7

Referências

Documentos relacionados

Para preparar a pimenta branca, as espigas são colhidas quando os frutos apresentam a coloração amarelada ou vermelha. As espigas são colocadas em sacos de plástico trançado sem

Siguiendo esta línea de reflexión, en este estudio se encontró que el grupo de brasileñas y colombianas quienes cuentan con mejores ni- veles educativos que las peruanas tienen

Para entender o supermercado como possível espaço de exercício cidadão, ainda, é importante retomar alguns pontos tratados anteriormente: (a) as compras entendidas como

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

Data allowed to retrieve information on humor definition; its applicability as a nursing intervention; humor as a tool to improve nurse-patient communication and relationship;

autor, as manifestações populares carnavalescas como os cordões, ranchos e blocos eram estratégias e artimanhas utilizadas pelos populares como meio de resistência,

A proporçáo de indivíduos que declaram considerar a hipótese de vir a trabalhar no estrangeiro no futuro é maior entle os jovens e jovens adultos do que

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o