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Ligações de hidrogénio : estudo de alguns aspectos energéticos, electrónicos e dinâmicos por primeiros príncipios

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Academic year: 2021

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Faculdade de Ciˆ

encias

Departamento de Qu´ımica e Bioqu´ımica

Liga¸

oes de hidrog´

enio: estudo de alguns aspectos

energ´

eticos, electr´

onicos e dinˆ

amicos por

primeiros princ´ıpios

S´ılvia da Concei¸

ao Gomes Est´

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DOUTORAMENTO EM QU´IMICA

(Qu´ımica-F´ısica)

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Faculdade de Ciˆ

encias

Departamento de Qu´ımica e Bioqu´ımica

Liga¸

oes de hidrog´

enio: estudo de alguns aspectos

energ´

eticos, electr´

onicos e dinˆ

amicos por

primeiros princ´ıpios

S´ılvia da Concei¸

ao Gomes Est´

acio

Tese orientada pelos Professores

Benedito Jos´

e Costa Cabral

Jos´

e Artur Martinho Sim˜

oes

DOUTORAMENTO EM QU´IMICA

(Qu´ımica-F´ısica)

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Hydrogen bonding is considered a diverse type of interaction difficult to define and, moreover, not susceptible to experimental measurement. However, the search for an unambiguous definition is usually surpassed by the study of the structural, dynami-cal and electronic characteristics inherent to the hydrogen bond network.

From a theoretical point of view, the energetic characterization of an intramolecular hydrogen bond is not as immediate as in the case of its intermolecular counterpart for which one usually considers a supermolecular approach. In this thesis it is given a detailed comparison of the performance of some theoretical procedures proposed for the calculation of intramolecular hydrogen bonds enthalpies and it is introduced an alternative method proved to be more reliable.

Despite the importance of hydrogen bonding, there are still many unanswered ques-tions such as the process by which hydrogen bonding affects the electronic structure of water. The relationship between the local structure of the hydrogen bond network and water electronic properties was analysed in this thesis and it was noticed that the water dipole moment and electron binding energies exhibit some dependence on the local hydrogen bonding pattern.

The role of hydrogen bonding in the solvation process within polar solvents is unde-niable. In particular, the hydration of molecules with biochemical interest usually involves competition between hydrophilic interactions, namely hydrogen bonding, and hydrophobic interactions, these ones due to the presence of aromatic rings. Phenol is the perfect prototype for this type of study given its dual behavior as both hydrophobic and hydrophilic species. Within this thesis it is presented a first principles molecular dynamics study of phenol in a cluster of water molecules and it is given some emphasis to the analysis of structural, dynamical and vibrational characteristics of the water-water and phenol-water hydrogen bonding.

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A liga¸c˜ao de hidrog´enio afigura-se como um tipo de interac¸c˜ao d´ıspar, dif´ıcil de de-finir e aceder experimentalmente. Contudo, a busca de uma defini¸c˜ao inequ´ıvoca ´e, muitas vezes, relegada para segundo plano em prol do estudo das caracter´ısticas es-truturais, dinˆamicas e electr´onicas ´unicas inerentes `a rede de liga¸c˜oes de hidrog´enio. De um ponto de vista te´orico, a caracteriza¸c˜ao energ´etica da liga¸c˜ao de hidrog´enio intramolecular n˜ao ´e imediata como no caso intermolecular para o qual se considera uma aproxima¸c˜ao supermolecular. Nesta tese apresenta-se um estudo comparativo do comportamento de alguns procedimentos para aceder `as entalpias de liga¸c˜oes in-tramoleculares e prop˜oe-se uma alternativa considerada mais fi´avel.

Apesar da importˆancia da liga¸c˜ao de hidrog´enio continuam a existir muitas quest˜oes sem resposta tais como o processo pelo qual a liga¸c˜ao de hidrog´enio condiciona a estrutura electr´onica da ´agua. A rela¸c˜ao entre a estrutura local da rede de liga¸c˜oes de hidrog´enio e as propriedades electr´onicas da ´agua ´e objecto de an´alise nesta tese tendo-se observado alguma dependˆencia de propriedades tais como o momento de dipolo da ´agua ou as energias de liga¸c˜ao dos electr˜oes do padr˜ao local de liga¸c˜oes de hidrog´enio.

O papel desempenhado pela rede de liga¸c˜oes de hidrog´enio na solvata¸c˜ao em sol-ventes polares ´e ineg´avel. Em particular, a hidrata¸c˜ao de v´arias mol´eculas com interesse bioqu´ımico geralmente envolve competi¸c˜ao entre interac¸c˜oes hidrof´ılicas, por liga¸c˜oes de hidrog´enio, e interac¸c˜oes hidrof´obicas normalmente associadas `a pre-sen¸ca de an´eis arom´aticos. O fenol ´e o modelo ideal para este tipo de estudo dado o seu papel dual enquanto esp´ecie hidrof´obica e hidrof´ılica. Nesta tese apresenta-se um estudo por dinˆamica molecular por primeiros princ´ıpios do fenol num agregado de mol´eculas de ´agua e analisam-se v´arios aspectos desse sistema dando algum ˆ en-fase a caracter´ısticas estruturais, dinˆamicas e vibracionais das liga¸c˜oes de hidrog´enio ´

agua-´agua e fenol-´agua.

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Agradecer ´e-me muito dif´ıcil, sobretudo por ter a no¸c˜ao do qu˜ao banais e sup´erfluas podem parecer as palavras quando equiparadas ao muito que recebi nestes anos de doutoramento.

Antes de mais, devo agradecer `a Funda¸c˜ao para a Ciˆencia e a Tecnologia a bolsa de doutoramento que me foi concedida (SFRH/BD/10200/2002).

Aos meus orientadores agrade¸co os conhecimentos, a inspira¸c˜ao, o apoio e a dis-ponibilidade sem limites que me colocaram no rumo certo at´e ser chegado este mo-mento.

Aos meus colegas de grupo - Rita Guedes, Paulo Couto, Sofia Godinho, Filipe Agapito, Nuno Galamba, Margarida Mateus, Hugo Martiniano e Ricardo Mata -agrade¸co a partilha de conhecimentos, a amizade, o conv´ıvio e o apoio di´arios que me encorajaram a continuar.

Aos meus amigos de sempre - Rita Guedes, Paulo Couto, Ros´ario Ramos, Sofia Godinho, Pamela Pacciani, Margarida Mateus, Maria Jo˜ao Oliveira, Joana Afonso, Andreia Correia, Rita Sampaio, Paula Alves, Rita Figueira, MJ, Fernanda Matias, Anders Borg, Nuno Miranda, Daniel Santos, Sofia Franco, Daniel Brito e S´ılvia Dias - agrade¸co tudo o que me deram e continuam a dar. Gra¸cas a eles tornei-me uma pessoa melhor, e incomparavelmente mais feliz.

Ao Miguel agrade¸co o amor, a compreens˜ao, a for¸ca, a presen¸ca constante e a felicidade deste ´ultimo ano.

Para finalizar, quero agradecer aos meus pais e irm˜aos, sobretudo aos meus pais, por acreditarem em mim e serem os alicerces de toda a minha vida.

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A tese agora apresentada tem por base dois artigos j´a publicados e parte do cap´ıtulo de um livro a ser publicado em breve. Todos os trabalhos tˆem como tema subjacente v´arios aspectos da liga¸c˜ao de hidrog´enio. Esta tese est´a estruturada do seguinte modo:

• No Cap´ıtulo 1 apresenta-se uma breve referˆencia, tendo por base o conheci-mento actual, `a natureza da liga¸c˜ao de hidrog´enio e a v´arias caracter´ısticas estruturais, dinˆamicas e electr´onicas da rede de liga¸c˜oes de hidrog´enio. Tam-b´em se faz men¸c˜ao ao efeito hidrof´obico em solutos dissolvidos e `a competi¸c˜ao entre esse tipo de interac¸c˜oes e interac¸c˜oes do tipo hidrof´ılico, nomeadamente por liga¸c˜oes de hidrog´enio que se estabelecem entre o soluto e a ´agua.

• No Cap´ıtulo 2 d´a-se algum ˆenfase aos m´etodos computacionais utilizados nos trabalhos apresentados.

• Nos Cap´ıtulos 3 a 5 apresentam-se os principais detalhes, incluindo m´etodos utilizados e resultados mais relevantes, de cada um dos trabalhos. Tamb´em se incluem os artigos/cap´ıtulo que resultaram do trabalho em quest˜ao.

• No Cap´ıtulo 6 reunem-se as principais conclus˜oes dos trabalhos apresentados e apresentam-se perspectivas futuras de trabalho.

Contribui¸

oes da autora para as publica¸

oes

apresentadas nesta tese

• “Energetics of intramolecular hydrogen bonding in di-substituted benzenes by the ortho-para method”, S´ılvia G. Est´acio, P. Cabral do Couto, Benedito J. Costa Cabral, Manuel E. Minas da Piedade, and Jos´e A. Martinho Sim˜oes, J. Phys. Chem. A 108, 10834 (2004).

A autora efectuou todos os c´alculos mecˆanico-quˆanticos e interviu em todas as an´alises da´ı resultantes e na escrita do manuscrito.

• S´ılvia Gomes Est´acio, Hugo F. M. C. Martiniano, Paulo Cabral do Couto, and Benedito Jos´e Costa Cabral (2008) “Electronic properties of hydrogen bond networks: implications for solvent effects in polar liquids” in Canuto S. (ed.)

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and Physics, Vol. 6 Springer-Verlag (in press).

O trabalho efectuado pela autora reporta-se, em grande parte, `a sec¸c˜ao 5.3 do cap´ıtulo apresentado. A autora efectuou a simula¸c˜ao Monte Carlo e os c´ alcu-los mecˆanico-quˆanticos a´ı apresentados e participou activamente nas an´alises e discuss˜ao subsequentes. Na sec¸c˜ao 5.4 reportam-se simula¸c˜oes levadas a cabo com o programa de dinˆamica molecular de Born-Oppenheimer desenvolvido pela autora sendo que a mesma tamb´em participou na escrita do manuscrito.

• “Born-Oppenheimer molecular dynamics of phenol in a water cluster”, S´ılvia G. Est´acio and B. J. Costa Cabral, Chem. Phys. Lett. 456 , 170 (2008). A autora escreveu e desenvolveu o programa de dinˆamica molecular de Born-Oppenheimer que utilizou na simula¸c˜ao do sistema em estudo e escreveu e aplicou v´arios programas de an´alise com vista `a obten¸c˜ao de informa¸c˜oes de ordem estrutural, dinˆamica e vibracional. Tamb´em participou de forma activa na escrita do manuscrito.

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BOMD Dinˆamica Molecular de Born-Oppenheimer

CBS Conjunto de Bases Completo

CPMD Dinˆamica Molecular de Car-Parrinello

DFT Teoria do Funcional da Densidade

DOS Densidade Electr´onica de Estados

FPMD Dinˆamica Molecular por Primeiros Princ´ıpios GGA Aproxima¸c˜ao de Gradiente Generalizado

HF Hartree-Fock

HOMO Orbital Ocupada de Maior Energia

LDA Aproxima¸c˜ao de Densidade Local

LJ Lennard-Jones

LUMO Orbital n˜ao Ocupada de Menor Energia

MC Monte Carlo

MD Dinˆamica Molecular

EBE Energia de Liga¸c˜ao de um Electr˜ao (Electron Binding Energy) NPT Ensemble Isot´ermico-Isob´arico

NVE Ensemble Microcan´onico

NVT Ensemble Can´onico

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vdW van der Waals

XAS Espectroscopia de Absor¸c˜ao de Raios X XES Espectroscopia de Emiss˜ao de Raios X

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1 Introdu¸c˜ao 1

1.1 Aspectos da rede de liga¸c˜oes de hidrog´enio . . . 2

1.2 Liga¸c˜oes de hidrog´enio e efeito hidrof´obico . . . 4

2 M´etodos computacionais 9 2.1 M´etodo de simula¸c˜ao de Monte Carlo . . . 9

2.1.1 Introdu¸c˜ao . . . 9

2.1.2 Escolha do ensemble . . . 10

2.1.3 T´ecnica de amostragem de Metropolis . . . 11

2.1.4 Implementa¸c˜ao . . . 16

2.2 Teoria do funcional da densidade . . . 18

2.3 Dinˆamica molecular por primeiros princ´ıpios . . . 25

2.3.1 Aproxima¸c˜ao de Born-Oppenheimer . . . 25

2.3.2 Mecˆanica cl´assica e equa¸c˜oes de movimento . . . 27

2.3.3 Propriedades macrosc´opicas . . . 29

2.3.4 Dinˆamica cl´assica vs. dinˆamica por primeiros princ´ıpios . . . . 31

2.3.5 Dinˆamica molecular de Born-Oppenheimer . . . 32

2.3.6 Dinˆamica molecular de Car-Parrinello . . . 34

2.3.7 Teorema de Hellmann-Feynman e for¸cas de Pulay . . . 35

2.3.8 Conserva¸c˜ao de energia . . . 37

2.3.9 Considera¸c˜oes adicionais . . . 38

3 Liga¸c˜oes de hidrog´enio intramoleculares em benzenos di-substitu´ıdos 41 3.1 Introdu¸c˜ao . . . 41

3.2 M´etodo e detalhes computacionais . . . 42

3.3 Resultados e conclus˜oes . . . 43

3.3.1 Catecol . . . 43

3.3.2 Orto-benzenoditiol . . . 43

3.3.3 Orto-benzenodiamina . . . 44

3.3.4 Orto-metoxifenol . . . 44

4 Estrutura da rede de liga¸c˜oes H e propriedades electr´onicas da ´agua 55 4.1 Introdu¸c˜ao . . . 55

4.2 M´etodo e detalhes computacionais . . . 55

4.3 Resultados e conclus˜oes . . . 56

4.3.1 Momento de dipolo . . . 56

(18)

4.3.2 Energias de liga¸c˜ao dos electr˜oes e densidade electr´onica de estados . . . 56

5 BOMD de um agregado de fenol em ´agua 79

5.1 Introdu¸c˜ao . . . 79 5.2 M´etodo e detalhes computacionais . . . 79 5.3 Resultados e conclus˜oes . . . 81 5.3.1 Estrutura e relaxa¸c˜ao orientacional do agregado fenol - ´agua . 81 5.3.2 Liga¸c˜oes de hidrog´enio fenol-´agua e comprimento da liga¸c˜ao

O-H do fenol . . . 81 5.3.3 Dinˆamica a tempos curtos de liga¸c˜oes de hidrog´enio . . . 82 5.3.4 Espectro vibracional do fenol no agregado de ´agua . . . 86

6 Conclus˜oes e perspectivas futuras 95

Bibliografia 97

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2.1 Desvio da energia total N V E em fun¸c˜ao do tempo para a simula¸c˜ao BOMD do sistema radical fenoxilo com 8 mol´eculas de ´agua. . . 38 5.1 Desvio da energia total N V E em fun¸c˜ao do tempo para a simula¸c˜ao

BOMD do sistema fenol com 32 mol´eculas de ´agua. . . 80 5.2 Evolu¸c˜ao da distˆancia do centro do anel de fenol ao centro de massa

do agregado de ´agua e representa¸c˜ao das configura¸c˜oes em t = 0 e em t = 5.5 ps. . . 82 5.3 Representa¸c˜ao das correla¸c˜oes c(t) associadas `as liga¸c˜oes H ´agua-´agua

e fenol-´agua. Cada inset mostra uma representa¸c˜ao log-log das c(t) a tempos curtos. Dador de prot˜ao (linha a tracejado); aceitador de prot˜ao (linha a ponteado); dador ou aceitador de prot˜ao (linha a cheio). 84 5.4 Fun¸c˜ao de autocorrela¸c˜ao no tempo do comprimento de liga¸c˜ao r(O−H)

do fenol no agregado de ´agua. . . 87

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(21)

Introdu¸

ao

A origem f´ısica da liga¸c˜ao de hidrog´enio, geralmente representada na forma esquem´ a-tica X−H· · · A, tem gerado controv´ersia quase imediatamente a partir do momento da sua descoberta. No in´ıcio, Lewis [1] atribuiu a sua origem a interac¸c˜oes por res-sonˆancia do tipo covalente. Mais tarde, contudo, Pauling [2] argumentou no sentido da natureza i´onica da liga¸c˜ao H sugerindo que a mesma poderia ser descrita com base em interac¸c˜oes do tipo electrost´atico.

Existem v´arios crit´erios [3, 4] para definir uma liga¸c˜ao H. De um modo geral, essa defini¸c˜ao assenta em determinados parˆametros geom´etricos, energ´eticos, espectros-c´opicos ou funcionais e carece de abrangˆencia embora se possa apresentar bastante aceit´avel no contexto em que foi definida. O red shift da banda de stretching νXH no espectro vibracional do l´ıquido comparativamente ao g´as ´e a assinatura mais fa-cilmente reconhec´ıvel da liga¸c˜ao de hidrog´enio [5–7].

De um ponto de vista te´orico, a liga¸c˜ao de hidrog´enio ´e entendida como um con-glomerado de v´arias interac¸c˜oes componentes: electrost´atica, polariza¸c˜ao, repuls˜ao de troca, dispers˜ao e transferˆencia de carga [8–11]. A descri¸c˜ao actual reconhece um tipo de interac¸c˜ao complexa e composta, sem fronteiras definidas, e admite uma grande variabilidade na composi¸c˜ao relativa electrost´atica, de van der Waals e cova-lente cujas propor¸c˜oes dependem da natureza de X e A. A importˆancia relativa do termo de transferˆencia de carga ´e, ainda, motivo de alguma controv´ersia na litera-tura [12, 13]. Weinhold e colaboradores [13, 14] descrevem a liga¸c˜ao H de um ponto de vista dador-aceitador como uma interac¸c˜ao de deslocaliza¸c˜ao de electr˜oes, com transferˆencia de electr˜oes de uma orbital ocupada de uma mol´ecula para orbitais n˜ao ocupadas da outra.

As entalpias de liga¸c˜oes H intermoleculares podem ser acedidas experimentalmente [15] ou determinadas atrav´es da chamada aproxima¸c˜ao supermolecular [16] na qual a entalpia de interac¸c˜ao associada a uma liga¸c˜ao H ´e calculada como a diferen¸ca entre a energia do complexo supermolecular e as dos seus fragmentos.

A liga¸c˜ao de hidrog´enio intramolecular ´e menos comum e mais fraca do que a cor-respondente intermolecular mas pode desempenhar um papel muito importante em v´arias propriedades moleculares, nomeadamente a n´ıvel da estabilidade relativa de conf´ormeros, distribui¸c˜ao de cargas e reactividade [17]. Contrariamente ao caso in-termolecular, n˜ao existe um procedimento para obter a entalpia de uma liga¸c˜ao H intramolecular que acolha aceita¸c˜ao geral. Do ponto de vista experimental existe

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pouca informa¸c˜ao dispon´ıvel. Contudo, a observa¸c˜ao de duas frequˆencias IV de stretching O−H em fen´ois orto-substitu´ıdos, desde logo associadas `a presen¸ca de dois conf´ormeros distintos, levou `a sugest˜ao de uma correspondˆencia entre as inten-sidades dessas bandas e as quantidades dos conf´ormeros, com (cis) e sem liga¸c˜ao H (trans) [18]. Do ponto de vista te´orico foram propostos v´arios m´etodos espe-c´ıficos para an´alise da entalpia destas liga¸c˜oes H intramoleculares: a aproxima¸c˜ao de an´alise conformacional [18, 19], o m´etodo de reac¸c˜ao isod´esmica [20] e um novo procedimento apresentado nesta tese e designado m´etodo orto-para (vide Cap´ıtulo 3).

1.1 Aspectos da rede de liga¸

oes de hidrog´

enio

V´arios solventes polares s˜ao caracterizados por redes de liga¸c˜oes H cuja dinˆamica, padr˜oes espaciais e propriedades electr´onicas ditam grande parte dos efeitos do sol-vente na reactividade em solu¸c˜ao. A ´agua ´e, indiscutivelmente, o l´ıquido e solvente mais importante, especialmente em aplica¸c˜oes biol´ogicas e bioqu´ımicas e apresenta muitas propriedades an´omalas tais como temperaturas de fus˜ao e ebuli¸c˜ao eleva-das, grande capacidade calor´ıfica e densidade m´axima a 4oC. ´E indiscut´ıvel que as caracter´ısticas ´unicas da ´agua derivam da natureza da rede de liga¸c˜oes de hidrog´enio. A dinˆamica da rede de liga¸c˜oes H envolve rearranjos controlados por movimentos colectivos [21, 22] que se traduzem em fen´omenos de quebra e forma¸c˜ao de liga¸c˜oes, difus˜ao e dinˆamica vibracional. O processo dinˆamico fundamental do l´ıquido ´e a forma¸c˜ao e quebra de liga¸c˜oes H. A dinˆamica das liga¸c˜oes H pode ser acedida ex-perimentalmente [23–26], embora de um modo indirecto que possibilita apenas uma interpreta¸c˜ao qualitativa da mesma. Por dinˆamica molecular ´e poss´ıvel obter uma vis˜ao microsc´opica da dinˆamica de liga¸c˜oes H. Stillinger [27] foi o primeiro a propor formas de an´alise da dinˆamica de liga¸c˜oes H no contexto da dinˆamica molecular, no-meadamente correla¸c˜oes numa s´erie temporal de liga¸c˜oes. Este tipo de an´alise pode ser levado a cabo usando m´etodos de contagem directa ou, em alternativa, fun¸c˜oes de correla¸c˜ao. Rapaport [28] reconheceu a mais-valia das fun¸c˜oes de autocorrela¸c˜ao, dependentes do tempo, de popula¸c˜oes de liga¸c˜oes H que, para al´em de contornarem a necessidade de uma corrida longa e/ou de um sistema extenso, permitem extrair tempos de relaxa¸c˜ao com base no pressuposto de um comportamento exponencial das mesmas. Na sequˆencia dos trabalhos desenvolvidos por Stillinger e Rapaport, surgiram v´arias propostas para a defini¸c˜ao do tempo de vida da liga¸c˜ao H e diversos c´alculos dos tempos de relaxa¸c˜ao da rede [3, 29–36].

O uso de t´ecnicas de difrac¸c˜ao de neutr˜oes [37] e de raios x [38] acopladas a c´ al-culos te´oricos indicaram uma estrutura local da ´agua aproximadamente tetra´edrica com, aproximadamente, 3.5 liga¸c˜oes H por mol´ecula [3].

Recentemente o uso de espectroscopias de emiss˜ao (XES) [39, 40] e absor¸c˜ao (XAS) [41–44] de raios x combinadas com c´alculos te´oricos permitiu a identifica¸c˜ao das orbitais envolvidas e “modificadas” pela liga¸c˜ao de hidrog´enio bem como a obten¸c˜ao

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de informa¸c˜ao estrutural relativa `a rede local de liga¸c˜oes de hidrog´enio. An´alises por XAS de configura¸c˜oes locais de liga¸c˜oes H na primeira camada de solvata¸c˜ao do l´ıquido levaram Werner et al. [43] a propor a presen¸ca de uma grande frac¸c˜ao de liga¸c˜oes de hidrog´enio quebradas, com predominˆancia de mol´eculas em configura¸c˜oes com 2 liga¸c˜oes de hidrog´enio (em vez de 3.5) fortes, uma dadora e uma aceitadora. Esta interpreta¸c˜ao desencadeou, desde logo, uma grande pol´emica. A vis˜ao actual-mente aceite considera que, embora na ´agua l´ıquida ocorram flutua¸c˜oes que criam assimetrias de densidade electr´onica respons´aveis pela variedade de padr˜oes locais de liga¸c˜oes H [41–44], a estrutura tetra´edrica geral ´e mantida [3, 45].

A dependˆencia da estrutura electr´onica da ´agua l´ıquida dos aspectos topol´ogicos locais da rede de liga¸c˜oes H continua por compreender na sua totalidade. Nomea-damente, continua por esclarecer a rela¸c˜ao entre a estrutura local da rede e propri-edades electr´onicas tais como o momento de dipolo efectivo da ´agua l´ıquida ou as energias de liga¸c˜ao dos electr˜oes (EBE) tamb´em designadas por potencias de ioni-za¸c˜ao.

A mol´ecula de ´agua apresenta simetria C2v com a configura¸c˜ao electr´onica 1a21 2a21 1b2

2 3a21 1b21. As orbitais moleculares mais internas, 1a1 e 2a1, resultam fundamen-talmente da combina¸c˜ao linear das orbitais at´omicas O1s, O2s e H1s. As orbitais moleculares 1b2 e 3a1 na regi˜ao de valˆencia externa apresentam contribui¸c˜oes, res-pectivamente, das orbitais O2py e H1s e O2px e H1s e est˜ao orientadas no plano definido pelos n´ucleos misturando-se facilmente com as orbitais do hidrog´enio na liga¸c˜ao H. A orbital 1b1 correspondente `a orbital at´omica O2pz ´e a orbital molecu-lar ocupada de maior energia (HOMO) e o seu plano nodal coincide com o plano definido pelos n´ucleos. Quando em fase l´ıquida existe um alargamento destes n´ıveis de energia. Esse alargamento ´e causado tanto pelas interac¸c˜oes fortes por liga¸c˜oes H (alargamento electr´onico que provoca o splitting dos n´ıveis de energia electr´onica por redistribui¸c˜ao da densidade electr´onica) como pelos movimentos termodinˆ ami-cos das mol´eculas (alargamento t´ermico respons´avel pela distribui¸c˜ao estat´ıstica de arranjos locais de liga¸c˜oes H na ´agua l´ıquida).

Baseados em espectros de emiss˜ao de raios x e c´alculos Hartree-Fock em estrutu-ras do l´ıquido geradas por dinˆamica molecular, Guo et al. [39, 40] confirmaram a influˆencia das liga¸c˜oes H na estrutura electr´onica local da ´agua l´ıquida, nome-adamente o forte envolvimento da orbital de valˆencia 3a1 que, por mistura com orbitais das mol´eculas vizinhas, perde o seu car´acter original o que se traduz por um alargamento da banda respectiva no espectro. Couto et al. [46] desenvolveram um estudo sequencial do modo como as propriedades electr´onicas de agregados de ´

agua dependem das dimens˜oes dos mesmos tendo chegado `a conclus˜ao que as DOS de agregados pequenos (com um n´umero de mol´eculas superior a 10) apresentam as mesmas caracter´ısticas t´ıpicas das DOS de agregados de maiores dimens˜oes como mistura das orbitais de valˆencia 3a1 e 1b1. Winter et al. [47] obtiveram o espectro de emiss˜ao fotoelectr´onica da orbital O1s da ´agua l´ıquida demonstrando que as EBE dessa orbital variam do bulk para a superf´ıcie do l´ıquido.

(24)

liga¸c˜oes H na ´agua l´ıquida e algumas propriedades electr´onicas da mesma, nomea-damente o momento de dipolo efectivo e as energias de liga¸c˜ao dos electr˜oes.

1.2 Liga¸

oes de hidrog´

enio e efeito hidrof´

obico

As estruturas moleculares das duas mais importantes classes de biopol´ımeros, pro-te´ınas e ´acidos nucleicos, s˜ao grandemente determinadas por liga¸c˜oes de hidrog´enio cuja ac¸c˜ao se faz sentir de um modo directo, por estas fazerem parte integrante da estrutura destes biopol´ımeros, e indirecto, atrav´es de interac¸c˜oes hidrof´obicas. A hidrofobicidade ´e uma consequˆencia imediata da for¸ca das liga¸c˜oes de hidrog´enio em ´

agua l´ıquida [48]. A fobia de algumas mol´eculas apolares por ambientes aquosos n˜ao significa necessariamente ausˆencia de atrac¸c˜ao pela ´agua mas tem origem na grande diferen¸ca de intensidades da atrac¸c˜ao soluto-´agua e da interac¸c˜ao das mol´eculas de ´

agua entre si [48, 49]. As interac¸c˜oes hidrof´obicas s˜ao as principais for¸cas propulsoras de processos biol´ogicos fundamentais como o folding de prote´ınas, o reconhecimento molecular e a forma¸c˜ao de membranas e desempenham um papel determinante na hidrata¸c˜ao de mol´eculas em sistemas biol´ogicos.

Desde 1959, ano em que W. Kauzmann publicou o trabalho inovador [50] no qual identificou as interac¸c˜oes hidrof´obicas como a primeira fonte de estabilidade pro-teica, at´e `a actualidade, a compreens˜ao do mecanismo de hidrata¸c˜ao hidrof´obica continua incompleta. A quantifica¸c˜ao do efeito hidrof´obico ´e dif´ıcil uma vez que este manifesta caracter´ısticas distintas consoante estejam envolvidos solutos de dimen-s˜oes reduzidas ou superf´ıcies mais extensas, conforme ideia expressa por F. Stillinger [51]. Contudo, de um modo geral, reconhece-se que a interac¸c˜ao de mol´eculas hi-drof´obicas com a ´agua faz-se por exclus˜ao de volume e ´e controlada por interac¸c˜oes atractivas fracas de van der Waals. Chandler [52, 53] colectou as principais carac-ter´ısticas estruturais e energ´eticas associadas `a hidrata¸c˜ao hidrof´obica de solutos com dimens˜oes distintas. Quando na presen¸ca de solutos pequenos (por exemplo, metano ou silano [54]) o volume exclu´ıdo de ´agua ´e reduzido de tal modo que a rede de liga¸c˜oes de hidrog´enio entre as mol´eculas de ´agua permanece quase intacta embora sofra um rearranjo na vizinhan¸ca mais pr´oxima do soluto pela reorganiza¸c˜ao das mol´eculas de ´agua em redor do mesmo. A energia livre de solvata¸c˜ao de um soluto de dimens˜oes reduzidas ´e, assim, predominantemente entr´opica. No caso de solutos ou superf´ıcies hidrof´obicas extensas existe uma ruptura na rede de liga¸c˜oes de hidrog´enio; uma frac¸c˜ao das possibilidades de liga¸c˜ao de hidrog´enio que existem no l´ıquido puro deixa de existir pr´oximo de um soluto hidrof´obico de maiores di-mens˜oes. Este efeito, que passa pela quebra de liga¸c˜oes de hidrog´enio, ´e ent´alpico.

Nos ´ultimos anos os estudos por simula¸c˜ao computacional do fen´omeno de hi-drata¸c˜ao hidrof´obica tˆem incidido, essencialmente, na clarifica¸c˜ao da adequa¸c˜ao de potenciais emp´ıricos, usados em simula¸c˜oes cl´assicas da ´agua, `a descri¸c˜ao de propri-edades estruturais e energ´eticas implicadas no mecanismo de hidrata¸c˜ao.

(25)

hidro-f´obica de solutos de pequenas dimens˜oes, nomeadamente metano e silano, atrav´es de simula¸c˜oes de dinˆamica molecular cl´assica e de dinˆamica molecular por primei-ros princ´ıpios (FPMD). Estes autores verificaram que a distribui¸c˜ao espacial das mol´eculas de ´agua em torno dos solutos hidrof´obicos considerados ´e influenciada maioritariamente pela forma do soluto e pelos efeitos estereoqu´ımicos que da´ı ad-vˆem. Pelo contr´ario, a orienta¸c˜ao angular das mol´eculas de ´agua na interface com os solutos ´e quase insens´ıvel `a presen¸ca do mesmo e ´e dominada pelas interac¸c˜oes fortes das mol´eculas de ´agua entre si e a rede de liga¸c˜oes de hidrog´enio ´e preservada em torno do soluto. Esta observa¸c˜ao ´e concordante com a vis˜ao actual do fen´omeno de hidrata¸c˜ao hidrof´obica j´a referida e mencionada nos trabalhos de D. Chandler [52, 53].

Grossman et al. [54] procuraram, tamb´em, avaliar o desempenho e adequa¸c˜ao de alguns potenciais emp´ıricos, usados em simula¸c˜oes cl´assicas da ´agua, `a descri¸c˜ao da estrutura de hidrata¸c˜ao hidrof´obica por compara¸c˜ao com resultados FPMD. ´E importante estudar a precis˜ao destes modelos nesta situa¸c˜ao em particular dadas as interac¸c˜oes electrost´aticas fracas envolvidas. Verificou-se que, embora a distribui¸c˜ao espacial das mol´eculas de ´agua em torno dos solutos seja bastante bem representada por potenciais cl´assicos, ´e essencial a introdu¸c˜ao de uma descri¸c˜ao por primeiros princ´ıpios para se conseguir aceder a efeitos interfaciais subtis, designadamente `as preferˆencias angulares das mol´eculas de solvente em redor das mol´eculas hidrof´ obi-cas.

Allesch et al. [55, 56] usaram uma combina¸c˜ao de simula¸c˜oes cl´assicas e FPMD, a tempos longos, para estudar o sistema benzeno em ´agua. O benzeno ´e, por norma, considerado o prot´otipo ideal para este tipo de estudos na medida em que v´arias mol´eculas com interesse bioqu´ımico, nomeadamente amino´acidos, contˆem um anel arom´atico cuja hidrata¸c˜ao ´e controlada por efeitos hidrof´obicos. Constatou-se que a solvata¸c˜ao do benzeno envolve duas regi˜oes bastante diferentes quando envolvido por ´agua. A regi˜ao equatorial comporta-se como um soluto hidrof´obico t´ıpico en-quanto que a regi˜ao axial, pr´oxima do centro do anel arom´atico, pode interagir com as mol´eculas de ´agua pr´oximas da interface atrav´es de liga¸c˜oes de hidrog´enio π fra-cas levando-as a assumir orienta¸c˜oes preferenciais distintas das que se encontram em torno de pequenos solutos. Ao comparar os resultados das simula¸c˜oes cl´assicas e FPMD do benzeno, Allesch et al. [56] notaram semelhan¸cas no que diz respeito `

a descri¸c˜ao da regi˜ao equatorial e diferen¸cas significativas no tratamento da regi˜ao axial. Esta observa¸c˜ao foi racionalizada tendo em conta as caracter´ısticas distintas de solvata¸c˜ao de ambas as regi˜oes. Uma vez que a regi˜ao equatorial n˜ao provoca quase altera¸c˜oes a n´ıvel da rede de liga¸c˜oes de hidrog´enio das mol´eculas de ´agua vizinhas de tal modo que aquela persiste praticamente intacta, essas mol´eculas de ´

agua interfaciais “sentem” um ambiente circundante semelhante ao que existe no bulk. Como tal, os modelos emp´ıricos cl´assicos, ajustados para reproduzir propri-edades da ´agua pura, s˜ao adequados `a descri¸c˜ao da regi˜ao equatorial do benzeno. Por outro lado, na regi˜ao axial o ambiente local que rodeia as mol´eculas de ´agua interfaciais ´e distinto do l´ıquido dadas as significativas interac¸c˜oes soluto-´agua - os modelos cl´assicos n˜ao conseguem aceder a estas mudan¸cas subtis na rede de liga¸c˜oes

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de hidrog´enio. Allesch et al. [55, 56] fizeram ainda incidir o seu trabalho no estudo das propriedades electr´onicas na interface soluto-solvente tendo verificado que, na proximidade da regi˜ao axial do benzeno, as mol´eculas de ´agua apresentam momen-tos de dipolo inferiores em cerca de 0.15 D relativamente ao valor do bulk dadas as liga¸c˜oes que se estabelecem entre as mol´eculas de ´agua e o sistema π-electr´onico do anel arom´atico. Esta transferˆencia subtil de cargas ´e mais um argumento a apontar para a necessidade de um descri¸c˜ao por primeiros princ´ıpios do fen´omeno de hidra-ta¸c˜ao hidrof´obica.

Recentemente, Li et al. [57] desenvolveram o primeiro trabalho de simula¸c˜ao por primeiros princ´ıpios sobre a associa¸c˜ao hidrof´obica para um sistema de duas mol´ e-culas de metano em ´agua. Tamb´em estes autores constataram a insuficiˆencia dos potenciais emp´ıricos ajustados `as propriedades da ´agua para descrever com exacti-d˜ao as propriedades estruturais e electr´onicas do sistema soluto-solvente.

Todos os trabalhos mencionados colocaram em evidˆencia a importˆancia da di-nˆamica molecular mecˆanico-quˆantica no estudo do efeito hidrof´obico, importˆancia essa que foi ainda recentemente frisada por Galli [49]. As vantagens de uma di-nˆamica por primeiros princ´ıpios s˜ao evidentes e tˆem por base a inclus˜ao de efeitos electr´onicos quˆanticos instantˆaneos tais como polariza¸c˜ao, correla¸c˜ao e distor¸c˜ao de carga ausentes dos potenciais emp´ıricos usados nas simula¸c˜oes cl´assicas. Contudo, a dinˆamica molecular por primeiros princ´ıpios baseada em DFT, e usada quase em exclusivo nas aplica¸c˜oes actuais, apresenta como principal falha a incapacidade dos funcionais usados em incorporar for¸cas de van der Waals fundamentais `a descri¸c˜ao das interac¸c˜oes entre mol´eculas apolares [49].

A importˆancia do fen´omeno de hidrata¸c˜ao hidrof´obica ´e indiscut´ıvel mas para que a compreens˜ao das interac¸c˜oes soluto-solvente em sistemas biol´ogicos seja completa conv´em considerar, ainda, mol´eculas contendo grupos hidrof´ılicos polares cuja hidra-ta¸c˜ao envolve competi¸c˜ao entre interac¸c˜oes hidrof´obicas e hidrof´ılicas. O fenol ´e o ´

alcool arom´atico mais simples e apresenta o cromof´oro t´ıpico de um amino´acido. O facto de se tratar de uma mol´ecula anfif´ılica simples caracterizada pela proximidade entre a componente hidrof´obica (anel arom´atico) e a componente hidrof´ılica (grupo hidroxilo) tornam o modelo ideal para este tipo de estudo.

Na ´ultima d´ecada surgiram v´arios trabalhos experimentais [58–60] e te´oricos [61–66] que revelaram as estruturas de agregados fenol-´agua em fase gasosa. Estes trabalhos colocaram em evidˆencia a anfotericidade do fenol cujo grupo hidroxilo actua tanto como dador (´acido de Lewis) como aceitador (base de Lewis) de liga¸c˜oes H formando estruturas c´ıclicas com a ´agua reminiscentes daquelas que existem em agregados de ´

agua pura [62, 65]. Para al´em destas interac¸c˜oes hidrof´ılicas, alguns trabalhos veri-ficaram a possibilidade de ocorrerem, ainda, liga¸c˜oes H de tipo π entre a ´agua e o anel arom´atico do fenol que, neste caso, funciona como um aceitador fraco de prot˜ao [62–64, 66].

O comportamento dual do fenol enquanto esp´ecie hidrof´obica e hidrof´ılica foi evi-denciado em v´arios trabalhos experimentais [67, 68] e te´oricos [69–71] em estado

(27)

l´ıquido. Recentemente teve-se acesso a informa¸c˜ao experimental relacionada com a competi¸c˜ao entre interac¸c˜oes por liga¸c˜oes de hidrog´enio e interac¸c˜oes π arom´aticas em agregados de fenol-(Ar)n [72, 73].

Nesta tese apresenta-se um trabalho que pretendeu ser uma mais-valia adicional ao estudo do fen´omeno de solvata¸c˜ao hidrof´obica. Optou-se por estudar o fenol que, para al´em da possibilidade de interac¸c˜oes do tipo hidrof´obico, pode ainda apresentar interac¸c˜oes do tipo hidrof´ılico atrav´es do grupo hidroxilo. Procedeu-se, assim, ao estudo por dinˆamica molecular de Born-Oppenheimer do fenol numa gota de ´agua o que, contrariamente aos trabalhos anteriores, reflecte uma tem´atica mais restrita de microsolvata¸c˜ao.

(28)
(29)

etodos computacionais

Em qu´ımica computacional usam-se modelos te´oricos para simular sistemas reais. A adequabilidade dos modelos usados na representa¸c˜ao do sistema obedece a crit´erios definidos pelo utilizador mas os resultados s˜ao sempre aproxima¸c˜oes, mais ou menos rigorosas, da realidade. Os modelos s˜ao constru´ıdos como abstrac¸c˜oes do que se passa no sistema real. Os m´etodos da qu´ımica computacional podem ser divididos em dois grupos principais: qu´ımica quˆantica ab initio e simula¸c˜ao molecular.

2.1 M´

etodo de simula¸

ao de Monte Carlo

2.1.1 Introdu¸

ao

No passado, as ciˆencias f´ısicas eram caracterizadas por uma separa¸c˜ao entre a experi-ˆencia e a teoria. A n´ıvel experimental, um sistema era sujeito a medi¸c˜oes e obtinham-se resultados expressos sob uma forma num´erica. A n´ıvel te´orico, constru´ıa-se um modelo do sistema que era depois validado de acordo com a sua capacidade em descrever o comportamento do sistema nalguns casos seleccionados. Portanto, os modelos te´oricos eram testados em apenas algumas “circunstˆancias especiais” sim-ples. Contudo, existem muitos problemas f´ısicos importantes que caem fora da zona de aplicabilidade destas “circunstˆancias”.

O advento de computadores “muito r´apidos”, que come¸caram a ser usados nos anos 50, permitiu a introdu¸c˜ao de um elemento intermedi´ario entre a experiˆencia e a teoria, a simula¸c˜ao computacional. Ao comparar as previs˜oes te´oricas com os resultados da simula¸c˜ao ´e poss´ıvel eliminar quaisquer incertezas relativas `a forma do potencial intermolecular. A simula¸c˜ao produz “dados experimentais”, associa-dos a um dado modelo, que permitem testar a teoria. Uma segunda aplica¸c˜ao dos resultados da simula¸c˜ao computacional assenta na sua compara¸c˜ao com dados ex-perimentais; neste caso, testa-se o modelo de potencial intermolecular, ou seja, a simula¸c˜ao fornece a “teoria” que ´e testada por compara¸c˜ao com os dados experimen-tais. Ao refinar continuamente o potencial, contrapondo os resultados da simula¸c˜ao aos obtidos experimentalmente, tenta-se obter um modelo o mais realista poss´ıvel. Pelo que j´a foi dito, conclui-se que a simula¸c˜ao computacional desempenha um papel dual: funciona como uma ponte entre modelos e previs˜oes te´oricas, por um lado, e entre modelos e resultados experimentais, por outro [74]. Para al´em disto, quando a

(30)

simula¸c˜ao se aproxima o bastante das condi¸c˜oes experimentais, de tal modo que os seus resultados podem ser comparados directamente com os experimentais, torna-se extremamente ´util no estudo de regi˜oes ou fen´omenos n˜ao acess´ıveis experimen-talmente. As simula¸c˜oes computacionais tamb´em possibilitam a concretiza¸c˜ao de “experiˆencias pensadas” - experiˆencias imposs´ıveis de concretizar na realidade mas cujos resultados contribuem sobremaneira para o aumento dos conhecimentos rela-tivos a um dado fen´omeno.

2.1.2 Escolha do ensemble

As simula¸c˜oes computacionais estabelecem uma correspondˆencia directa entre as propriedades microsc´opicas de um sistema (posi¸c˜oes e velocidades at´omicas, por exemplo) e as propriedades macrosc´opicas com interesse experimental (propriedades termodinˆamicas e estruturais, equa¸c˜oes de estado). A rela¸c˜ao entre as propriedades microsc´opicas, definidas no decurso de uma simula¸c˜ao, e as propriedades macrosc´ o-picas baseia-se na mecˆanica estat´ıstica.

A mecˆanica estat´ıstica de equil´ıbrio permite calcular propriedades observ´aveis do sistema como m´edias sobre uma traject´oria no espa¸co de fases (m´etodo de Boltz-mann) ou como m´edias num ensemble de sistemas em que cada um deles ´e uma r´eplica do sistema de interesse (m´etodo de Gibbs) [75].

De acordo com a estat´ıstica de Gibbs, um ensemble can´onico ´e um conjunto de sistemas (configura¸c˜oes) caracterizados pelos mesmos valores de N , V e T onde as grandezas associadas, µ (potencial qu´ımico), p (press˜ao) e E (energia), podem flutuar; como tal, por vezes ´e designado ensemble N V T . Para se poder atribuir um valor fixo `a temperatura imagina-se que os sistemas do ensemble entraram em equil´ıbrio t´ermico uns com os outros ao serem imersos num banho `a temperatura T . O ensemble N V T ´e muito usado no estudo de propriedades termodinˆamicas e estruturais de sistemas l´ıquidos. Para calcular as propriedades termodinˆamicas (observ´aveis) usam-se m´edias e flutua¸c˜oes de trˆes grandezas obtidas durante a si-mula¸c˜ao: a energia U , o primeiro virial W = (1/3)r(δU/δr) e o segundo virial Θ = (1/9)r(δ(rδU/δr)/δr) [76].

No ensemble isot´ermico-isob´arico (N P T ) a press˜ao, e n˜ao o volume, ´e um parˆ ame-tro fixo. No c´alculo das propriedades termodinˆamicas tamb´em se usam os valores m´edios e as flutua¸c˜oes de trˆes grandezas obtidas durante a simula¸c˜ao: a energia U , o volume V e a entalpia configuracional Hc = U + P V [76]. Este ensemble ´e ade-quado ao estudo de sistemas pr´oximos de transi¸c˜oes de fase. Uma vez que cada fase ´e caracterizada por uma densidade ou volume espec´ıficos, transi¸c˜oes de fase podem ser identificadas pela varia¸c˜ao de volume durante a simula¸c˜ao. H´a que ter cuidado quando se usa o ensemble can´onico perto de uma transi¸c˜ao de fase de 1a ordem pois neste ensemble ´e poss´ıvel a coexistˆencia de fases na mesma configura¸c˜ao [77].

(31)

2.1.3 T´

ecnica de amostragem de Metropolis

O m´etodo de simula¸c˜ao de Monte Carlo gera uma sequˆencia Γ aleat´oria correlacio-nada (cadeia de Markov). No limite de um grande n´umero de passos, a distribui¸c˜ao dos elementos desta cadeia corresponde a uma distribui¸c˜ao arbitr´aria ρ(Γ).

O valor m´edio de uma propriedade f num ensemble ´e dado por:

hf iens = 1 Z Z f (Γ)P (Γ)dΓ (2.1) onde Z = Z P (Γ)dΓ (2.2) ´

e a fun¸c˜ao de parti¸c˜ao. Γ representa o espa¸co configuracional (espa¸co de fases) e

ρ(Γ) = P (Γ)

R P (Γ)dΓ (2.3)

´

e a fun¸c˜ao densidade de probabilidade configuracional ou distribui¸c˜ao de proba-bilidades do ensemble.

Para se obter o valor da grandeza mensur´avel f h´a que resolver os integrais da equa¸c˜ao (2.1) cujas dimensionalidades demasiado elevadas os tornam analiticamente “intrat´aveis” para a maior parte dos modelos de interac¸c˜ao. Atrav´es da simula¸c˜ao computacional ´e poss´ıvel gerar um grande n´umero de configura¸c˜oes aleat´orias. Como tal, pode-se obter uma estimativa de hf iens considerando o espa¸co configuracional discreto e substituindo os integrais por somas sobre o n´umero finito N de configu-ra¸c˜oes da amostra,

hf iens ∼= P if (Γi)P (Γi) P mP (Γi) (2.4)

Neste tipo de amostragem directa obt´em-se uma amostra aleat´oria do espa¸co con-figuracional de acordo com uma distribui¸c˜ao uniforme. Na pr´atica, esta aproxima¸c˜ao ´e muito pouco eficiente pois ´e bastante prov´avel que uma configura¸c˜ao escolhida ale-atoriamente tenha uma contribui¸c˜ao muito reduzida para os valores dos integrais

(32)

da equa¸c˜ao (2.1), por ter uma energia (configuracional) elevada (dada a forte in-terac¸c˜ao entre as part´ıculas); apenas algumas configura¸c˜oes (estados) apresentam contribui¸c˜oes importantes. Por isso, quando se calculam os valores dos integrais seleccionando, de um modo aleat´orio, configura¸c˜oes Γi e somando as suas contri-bui¸c˜oes a estimativa ser´a tanto mais rigorosa quantas mais configura¸c˜oes se gerar. Tendo em considera¸c˜ao a elevada dimensionalidade do espa¸co configuracional este m´etodo de amostragem torna-se, assim, impratic´avel para a resolu¸c˜ao de problemas mecˆanico-estat´ısticos.

Para que um c´alculo de Monte Carlo seja eficiente ´e, quase invariavelmente, ne-cess´ario introduzir alguma forma de amostragem preferencial ou orientada. Isto significa que as configura¸c˜oes devem ser escolhidas por forma a que as regi˜oes do espa¸co configuracional que d˜ao as maiores contribui¸c˜oes para os integrais da equa¸c˜ao (2.1) sejam tamb´em as regi˜oes escolhidas com maior frequˆencia [75]. As configura-¸c˜oes n˜ao s˜ao escolhidas de um modo completamente aleat´orio mas s˜ao seleccionadas com uma probabilidade ρ(Γi) pelo que a express˜ao (2.4) toma a forma

hf iens ∼= PN i f (Γi)ρ −1(Γi)P (Γi) PN i ρ−1(Γi)P (Γi) (2.5)

Para tornar a variˆancia o mais reduzida poss´ıvel, acelerando a convergˆencia do m´etodo, escolhe-se ρ(Γi) = Z−1P (Γi) = P (Γi) PN i P (Γi) (2.6)

ou seja, iguala-se a probabilidade `a distribui¸c˜ao de equil´ıbrio o que permite obter uma amostra dos estados de equil´ıbrio termodinˆamico do sistema [77]. Neste mo-mento, a equa¸c˜ao (2.4) reduz-se a uma m´edia aritm´etica,

hf iens ∼= 1 N N X i f (Γi) (2.7)

A maior dificuldade consiste em definir um esquema que permita obter uma amos-tra no espa¸co configuracional concordante com uma distribui¸c˜ao de probabilidades espec´ıfica. ´E poss´ıvel fazˆe-lo sem que seja necess´ario conhecer o factor de normaliza-¸c˜ao de ρi = ρ(Γi), ou seja, a fun¸c˜ao de parti¸c˜ao. Metropolis apresentou uma solu¸c˜ao que consiste em construir uma cadeia de Markov tendo por limite a distribui¸c˜ao ρ(Γi).

(33)

Uma cadeia de Markov caracteriza-se pela falta de mem´oria, ou seja, as proprie-dades estat´ısticas do futuro imediato dependem unicamente do presente e n˜ao s˜ao influenciadas pelo passado (pela hist´oria do sistema) [77]. Como tal, numa cadeia de Markov uma dada configura¸c˜ao (estado) depende apenas da configura¸c˜ao (estado) estado precedente. Esta cadeia pode ser gerada por uma matriz de transi¸c˜ao Π que satisfaz determinadas condi¸c˜oes por forma a assegurar que as v´arias configura¸c˜oes est˜ao distribu´ıdas de acordo com ρ(Γi). Duas configura¸c˜oes Γi e Γj est˜ao “ligadas” por uma probabilidade de transi¸c˜ao Πij que ´e a probabilidade de ir da configura-¸c˜ao i para a j. Como tal, a matriz de transi¸c˜ao Π tem de ser uma matriz estoc´astica,

Πij ≥ 0, X

i

Πji = 1 (2.8)

que satisfaz a equa¸c˜ao de valores pr´oprios,

ρΠ = X

i

ρiΠij = ρj (2.9)

Esta condi¸c˜ao, que define a condi¸c˜ao de estado estacion´ario, mostra que a distri-bui¸c˜ao limite ρi ´e um vector pr´oprio de Π com valor pr´oprio igual a 1. Qualquer matriz estoc´astica possui, pelo menos, um valor pr´oprio igual `a unidade; todos os seus valores pr´oprios s˜ao iguais ou inferiores a 1. Quando a matriz Π tem um s´o valor pr´oprio igual a 1 a distribui¸c˜ao limite ´e ´unica o que significa que cada estado do sistema pode ser atingido a partir de qualquer outro num n´umero finito de passos [75]. Neste caso, diz-se que a cadeia de Markov ´e erg´odica ou irredut´ıvel e constata-se que a respectiva distribui¸c˜ao limite ´e bastante independente da condi¸c˜ao inicial.

Um truque muito usado para determinar a matriz de transi¸c˜ao Π consiste em substituir a condi¸c˜ao (2.9) pelo v´ınculo mais forte da reversibilidade macrosc´opica (ou balan¸co detalhado):

ρiΠij = ρjΠji (2.10)

Fazendo a soma sobre todas as configura¸c˜oes i e usando (2.8) volta-se a ter a equa¸c˜ao (2.9), X i ρiΠij = X i ρjΠji = ρj X i Πji = ρj (2.11)

(34)

Um esquema adequado `a gera¸c˜ao de uma amostragem, no espa¸co configuracional, concordante com a distribui¸c˜ao limite envolve a escolha de uma matriz de transi¸c˜ao que satisfa¸ca as condi¸c˜oes de estocasticidade (2.8), e de reversibilidade microsc´opica (2.10). O primeiro esquema foi sugerido por Metropolis e ´e conhecido como solu¸c˜ao assim´etrica: Πij =        αij se ρj ≥ ρi para i 6= j αij × ρj ρi se ρj < ρi para i 6= j 1 −P i6=jΠij para i = j (2.12)

α ´e uma matriz estoc´astica sim´etrica (αij = αji). Esta matriz “leva” o sistema do estado i para qualquer um dos seus estados vizinhos j com igual probabilidade; existe grande liberdade na sua escolha.

´

E importante notar que a solu¸c˜ao (2.12) ´e independente da fun¸c˜ao de parti¸c˜ao Z uma vez que apenas est˜ao envolvidas raz˜oes do tipo ρj/ρi. Este ´e um dos aspectos positivos do algoritmo de Metropolis.

No in´ıcio de uma simula¸c˜ao de Monte Carlo no ensemble N V T (ensemble can´ o-nico) escolhe-se uma part´ıcula ao acaso conferindo-lhe um deslocamento aleat´orio uniforme ao longo de cada um dos eixos coordenados. Se o movimento ´e tal que existe uma redu¸c˜ao da energia do sistema (∆U < 0) ent˜ao a probabilidade do novo estado j ´e superior `a do estado inicial i pelo que a nova configura¸c˜ao ´e aceite. Se, por outro lado, o movimento provoca um aumento de energia (Uj > Ui) a nova configura¸c˜ao ´e aceite com uma probabilidade igual a:

ρj ρi =

ZN V T−1 exp [−βUj] ZN V T−1 exp [−βUi]

= exp [−β∆U ] (2.13)

Para que a nova configura¸c˜ao seja aceite com esta probabilidade gera-se um n´ u-mero aleat´orio, ξ, distribu´ıdo uniformemente no intervalo [0, 1]. Se este n´umero for inferior ou igual a ρj/ρi = exp[−β∆U] a nova configura¸c˜ao ´e aceite apesar de a ener-gia ter aumentado; caso contr´ario, (ξ > exp[−β∆U]) a nova configura¸c˜ao ´e rejeitada, a part´ıcula fica retida na sua antiga posi¸c˜ao e essa configura¸c˜ao ´e novamente “con-tada”. Este procedimento equivale a aceitar configura¸c˜oes com probabilidade igual a min(1, ρj/ρi).

Uma das vantagens do m´etodo de simula¸c˜ao de Monte Carlo reside no facto de este poder ser facilmente adaptado ao c´alculo de m´edias em qualquer ensemble. Ao

(35)

conceber uma simula¸c˜ao no ensemble N P T h´a que ter em conta que o n´umero de part´ıculas, a temperatura e a press˜ao s˜ao parˆametros fixos enquanto se permite que o volume da “caixa” de simula¸c˜ao flutue.

No ensemble N P T a m´edia configuracional de uma propriedade f ´e dada por [74]:

hf iN P T = R∞ 0 dV exp [−βP V ] V NR Ωdsf (s) exp [−βU (s)] ZN P T (2.14) onde ZN P T = Z ∞ 0 dV exp [−βP V ] Z Ω ds exp [−βU (s)] (2.15)

Na express˜ao acima ZN P T ´e a fun¸c˜ao de parti¸c˜ao (integral configuracional) do ensemble considerado e V ´e o volume do fluido. Pressupondo que a “caixa” de si-mula¸c˜ao ´e um cubo de lado V = L13, o termo adicional, VN, na equa¸c˜ao (2.14) resulta do escalonamento das coordenadas das part´ıculas que tem em considera¸c˜ao as mudan¸cas de volume,

s = L−1r (2.16)

O escalonamento ´e necess´ario para evitar que as part´ıculas fiquem no exterior da caixa de simula¸c˜ao quando o volume diminui e para que n˜ao existam espa¸cos vazios quando aquele aumenta [76], ou seja, constitui um mecanismo de “ajuste” do sistema. O esquema de Metropolis ´e implementado ao gerar uma cadeia Markoviana de configura¸c˜oes com distribui¸c˜ao limite proporcional a [74]

exp [−β(P V + U (s)) + N ln V ] (2.17)

Neste caso, a raz˜ao entre a probabilidade da nova configura¸c˜ao e a probabilidade da configura¸c˜ao na qual o sistema se encontra ´e dada por:

ρj ρi = exp  −β(P ∆V + ∆U ) + N lnVj Vi  (2.18)

(36)

Portanto, aceitam-se as configura¸c˜oes com probabilidade igual a

min (1, exp [−β (P ∆V + ∆U ) + N ln(Vj/Vi)]) (2.19)

2.1.4 Implementa¸

ao

As simula¸c˜oes MC apresentadas nesta tese (vide Cap´ıtulo 4) foram realizadas com o programa DICE [78].

No in´ıcio de uma simula¸c˜ao de Monte Carlo parte-se de uma configura¸c˜ao de um sistema com N mol´eculas confinadas numa caixa (normalmente c´ubica) de volume V (ensemble N V T ) ou a uma press˜ao P (ensemble N P T ) e a uma temperatura T . Tamb´em ´e necess´ario especificar a geometria das mol´eculas, por introdu¸c˜ao das coordenadas dos respectivos ´atomos, e a forma do potencial intermolecular.

Um dos m´etodo mais simples de “constru¸c˜ao” da configura¸c˜ao inicial de um l´ıquido (que ´e tamb´em o usado no DICE [78]) consiste em colocar, aleatoriamente, mol´ e-culas no interior da caixa de simula¸c˜ao. Tamb´em se pode usar como configura¸c˜ao de partida de muitas simula¸c˜oes uma rede peri´odica. No decurso da simula¸c˜ao a es-trutura de rede desaparece sendo substitu´ıda pela eses-trutura t´ıpica de um l´ıquido [74]. A simula¸c˜ao evolui atrav´es de uma s´erie de passos MC. No DICE [78] define-se um passo MC quando todas as mol´eculas do sistema s˜ao seleccionadas sequencialmente, na ordem dos ´ındices moleculares, para se moverem; tenta-se provocar a transla¸c˜ao de cada mol´ecula em todas as direc¸c˜oes cartesianas e a sua rota¸c˜ao em torno de um eixo escolhido aleatoriamente. Este procedimento reduz a quantidade de n´umeros aleat´orios gerados e ´e, igualmente, v´alido para gerar configura¸c˜oes com o peso es-tat´ıstico correcto [76]. Por seu turno, no esquema original de Metropolis cada nova configura¸c˜ao ´e gerada pelo movimento de uma mol´ecula escolhida aleatoriamente, como se referiu anteriormente. Os movimentos moleculares s˜ao aceites ou rejeitados de acordo com a t´ecnica de amostragem que gera configura¸c˜oes concordantes com a distribui¸c˜ao de equil´ıbrio de um ensemble.

A simula¸c˜ao no ensemble N P T envolve mudan¸cas de volume para al´em de mo-vimentos moleculares. O n´umero total de passos MC ´e dado pelo produto entre o n´umero de mudan¸cas de volume e o n´umero de movimentos moleculares entre mu-dan¸cas de volume consecutivas. Este ´ultimo deve ter um valor tal que, por exemplo numa situa¸c˜ao de expans˜ao da caixa de simula¸c˜ao, assegure o “relaxamento” do sis-tema.

(37)

a fase de termaliza¸c˜ao e a segunda a fase de produ¸c˜ao na qual se geram as confi-gura¸c˜oes usadas nos c´alculos de propriedades estruturais ou termodinˆamicas. Estas duas fases da simula¸c˜ao podem ser seguidas atrav´es do registo dos valores da ener-gia ou, por exemplo, da densidade de cada uma das configura¸c˜oes obtidas durante esses per´ıodos. A termaliza¸c˜ao ´e prolongada pelo menos at´e estes parˆametros terem cessado de mostrar um desvio sistem´atico come¸cando a oscilar em torno de valores m´edios estacion´arios [74]. Este procedimento pretende assegurar que as proprie-dades da amostra microsc´opica, considerada na simula¸c˜ao, sejam verdadeiramente representativas do sistema real.

Quando a configura¸c˜ao inicial ´e gerada aleatoriamente possui uma energia muito superior `a energia m´edia do sistema, U0 >> hU i. Portanto, para que o sistema atinja o equil´ıbrio num menor n´umero de passos, no DICE n˜ao se segue o esquema de Metropolis na parte inicial da termaliza¸c˜ao mas sim um processo no qual s´o s˜ao aceites as configura¸c˜oes que reduzem a energia do sistema. Deste modo, o sistema “sai” rapidamente da energia U0 para energias mais pr´oximas do valor m´edio, hU i

[76].

O facto de na simula¸c˜ao se usar uma amostra microsc´opica contida numa caixa e representativa do sistema real, macrosc´opico, origina diversos problemas, entre eles o da existˆencia de uma grande frac¸c˜ao de mol´eculas na superf´ıcie da caixa. Uma vez que estas mol´eculas est˜ao sujeitas a for¸cas bastante diferentes daquelas que actuam sobre as mol´eculas no seio do l´ıquido, h´a que eliminar estes efeitos de superf´ıcie im-pondo, ao sistema, condi¸c˜oes de contorno peri´odicas. Como tal, a caixa (geralmente c´ubica) ´e “reproduzida” ao longo do espa¸co originando uma rede infinita de r´eplicas. Durante a simula¸c˜ao, quando uma mol´ecula da caixa original se move, a sua imagem peri´odica em cada uma das caixas vizinhas (r´eplicas) move-se exactamente do mesmo modo. Ao implementar condi¸c˜oes de contorno peri´odicas pretende-se assegurar que todas as mol´eculas do sistema (pertencentes `a caixa de simula¸c˜ao original) estejam inseridas num ambiente semelhante ao existente no seio do fluido. A utiliza¸c˜ao de condi¸c˜oes de contorno peri´odicas n˜ao est´a isenta de problemas. Quando o potencial intermolecular ´e de longo alcance1 (decai mais lentamente do que r−d sendo d a dimensionalidade do sistema) existem interac¸c˜oes fortes entre as mol´eculas da caixa central e as suas pr´oprias imagens em caixas vizinhas (r´eplicas); nessa situa¸c˜ao nota-se uma imposi¸c˜ao de simetria ao fluido embora este seja, na realidade, isotr´opico. Allen e Tildesley [74] referem que, mesmo no caso de potenciais de curto alcance, as condi¸c˜oes de contorno peri´odicas podem induzir anisotropia na estrutura do fluido. Quando se procede ao c´alculo de propriedades de um sistema sujeito a condi-¸c˜oes de contorno peri´odicas verifica-se que a soma das interac¸c˜oes de uma mol´ecula com todas as outras mol´eculas contidas na caixa de simula¸c˜ao, bem como com as respectivas imagens nas caixas vizinhas, tem um n´umero infinito de termos o que, na pr´atica, torna o seu c´alculo imposs´ıvel. Contudo, ´e poss´ıvel restringi-la fazendo

1As interac¸oes do tipo carga-carga entre i˜oes (uzz(r) ≈ r−1) e as interac¸oes de par entre os

(38)

uso de uma aproxima¸c˜ao conhecida como conven¸c˜ao da imagem m´ınima. Nesta t´ecnica, considera-se que uma mol´ecula est´a em repouso no centro de uma regi˜ao com o mesmo tamanho e a mesma forma da caixa de simula¸c˜ao original a partir da qual se obtiveram as r´eplicas. Essa mol´ecula interage com todas as mol´eculas cujos centros est˜ao contidos naquela regi˜ao, ou seja, interage com as imagens peri´odicas mais pr´oximas das restantes N − 1 mol´eculas da caixa original. Na conven¸c˜ao da imagem m´ınima o c´alculo da energia potencial, devida `as interac¸c˜oes do tipo par entre as mol´eculas, envolve a soma de 12N (N − 1) termos [74]. Este c´alculo pode ser ainda muito extenso nos casos em que se tem um grande n´umero de part´ıculas. ´

E por isso que, de um modo geral, se usa uma outra aproxima¸c˜ao tendo em conta que a maior contribui¸c˜ao para a energia potencial prov´em dos vizinhos pr´oximos da mol´ecula considerada. Introduz-se uma raio de corte2, rc, o que significa que apenas se consideram as interac¸c˜oes entre mol´eculas separadas por uma distˆancia inferior a esse raio (v(r) = 0 para r ≥ rc). O raio de corte n˜ao deve ser superior a 1

2L, sendo L a aresta de uma caixa c´ubica de simula¸c˜ao, para assegurar consistˆencia com a conven¸c˜ao da imagem m´ınima. A introdu¸c˜ao de um raio de corte permite, ainda, contornar o problema de periodicidade imposto pelas condi¸c˜oes de contorno. Contudo, mesmo neste caso, conv´em aplicar correc¸c˜oes de longo alcance por forma a recuperar a informa¸c˜ao perdida na aproxima¸c˜ao.

2.2 Teoria do funcional da densidade

Uma formula¸c˜ao mais rigorosa da teoria do funcional densidade (DFT) nasceu em 1964 com a publica¸c˜ao de um trabalho por Hohenberg e Kohn [79]. Estes autores provaram o seguinte:

1. Qualquer observ´avel de um sistema mecˆanico-quˆantico estacion´ario (incluindo a energia) pode ser calculado, em princ´ıpio de um modo exacto, a partir unica-mente da densidade electr´onica do estado fundamental, ou seja, todo o obser-v´avel pode ser escrito como um funcional da densidade do estado fundamental. 2. A densidade electr´onica do estado fundamental pode ser calculada, em prin-c´ıpio de um modo exacto, usando o m´etodo variacional envolvendo apenas a densidade.

Os teoremas originais dizem respeito ao estado fundamental independente do tempo (estacion´ario) mas est˜ao a ser extendidos a estados excitados e a potenci-ais dependentes do tempo [80–82].

Os teoremas de Hohenberg-Kohn tornaram poss´ıvel a constru¸c˜ao de uma teoria multielectr´onica que usa a densidade electr´onica como quantidade fundamental. A

2O uso de uma esfera de corte ´e inapropriado quando as for¸cas entre as part´ıculas s˜ao de muito

longo alcance. O problema ´e mais acentuado no caso de sistemas i´onicos uma vez que n˜ao existe

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densidade electr´onica depende apenas de x,y,z (´e uma fun¸c˜ao no espa¸co tridimensio-nal) ao contr´ario da fun¸c˜ao de onda multipart´ıcula que depende de todas as coorde-nadas de todas as part´ıculas, ou seja, para N electr˜oes depende de 3N vari´aveis (ou 4N se se contar o spin). Neste enquadramento, a energia do estado fundamental de um sistema multielectr´onico pode ser obtida por aplica¸c˜ao do m´etodo variacional, minimizando o funcional E [ρ] em rela¸c˜ao `a densidade ρ(r) com a restri¸c˜ao adicional

Z

drρ(r) = N (2.20)

onde N ´e o n´umero total de electr˜oes. Portanto, a energia do estado fundamental de um sistema at´omico ou molecular pode ser escrita como [83]

E0 = min ρ→N  F [ρ] + Z ρ(r)VN edr  (2.21) onde F [ρ] = T [ρ] + Eee[ρ] (2.22)

T [ρ] representa a energia cin´etica dos electr˜oes e Eee[ρ] a repuls˜ao electrost´atica entre os mesmos.3

Verifica-se que o funcional energia pode ser dividido num funcional F [ρ], indepen-dente do potencial externo (atrac¸c˜ao coulombica exercida pelos n´ucleos est´aticos), Vext= VN e, e no funcionalR ρ(r)VN edr. O funcional F [ρ] ´e universal na medida em que n˜ao depende do potencial externo.

No m´etodo de Hartree-Fock usa-se, como aproxima¸c˜ao `a verdadeira fun¸c˜ao de onda N -electr´onica, um determinante de Slater ´unico constru´ıdo a partir de N orbitais. Contudo, este determinante pode ser tomado como a fun¸c˜ao de onda exacta de um sistema fict´ıcio de N electr˜oes n˜ao interactuantes que se movem num potencial efec-tivo. Torna-se, assim, poss´ıvel estabelecer um sistema de referˆencia de electr˜oes n˜ao interactuantes, com um Hamiltoniano no qual se introduz um potencial efectivo, Vs(r) [83, 84]

3Neste caso, usa-se a aproxima¸ao de Born-Oppenheimer: considera-se que, numa mol´ecula, os

electr˜oes se movem no campo dos n´ucleos fixos. Dentro desta aproxima¸c˜ao, a energia cin´etica

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ˆ Hs = − 1 2 N X i ∇2 i + N X i Vs(ri) (2.23)

A energia do estado fundamental deste sistema obt´em-se por minimiza¸c˜ao de E [ρ] em rela¸c˜ao `a densidade, ρ(r), sujeita `a restri¸c˜ao (2.20). Tendo em conta, como j´a se referiu, que a fun¸c˜ao de onda deste estado fundamental ´e representada, de um modo exacto, por um determinante de Slater, obt´em-se um conjunto de equa¸c˜oes de valores pr´oprios monoelectr´onicas que definem as orbitais de spin e envolvem um operador monoelectr´onico efectivo (ˆhKS), semelhante ao operador de Fock da mecˆ a-nica quˆantica,

ˆ hKSφi =  −1 2∇ 2+ V s(r)  φi (2.24) ´

E poss´ıvel estabelecer uma liga¸c˜ao entre este sistema de referˆencia artificial e um sistema real atrav´es da escolha do potencial efectivo, Vs, tal que a densidade, resul-tante da soma dos quadrados das orbitais de spin φi, seja idˆentica `a densidade do estado fundamental do sistema de electr˜oes em interac¸c˜ao [83],

ρs(r) = N X i X w |φi(r, w)|2 = ρ0(r) (2.25)

O objectivo dos m´etodos DFT consiste em obter funcionais que relacionem a den-sidade electr´onica com a energia. Kohn e Sham [85] elaboraram uma teoria que teve por base a constata¸c˜ao de que a maior parte dos problemas relacionados com funci-onais directos da densidade assenta no modo como a energia cin´etica ´e determinada. Estes autores introduziram o conceito de um sistema de referˆencia, que corresponde a um g´as de electr˜oes sem interac¸c˜ao entre eles, constru´ıdo a partir de um conjunto de orbitais tais que a energia cin´etica exacta do sistema referˆencia (g´as de electr˜oes) ´e dada por [83]: Ts = N X i  φi −1 2∇ 2 φi  (2.26)

(41)

T = N X i ni  φi −1 2∇ 2 φi  (2.27)

Os n´umeros de ocupa¸c˜ao orbital, ni, variam entre 0 e 1. Na equa¸c˜ao (2.26) consideram-se apenas os valores de ni exactamente iguais a 0 ou 1. Portanto, a energia cin´etica do sistema de referˆencia n˜ao ´e igual `a energia cin´etica do sistema real apesar de os sistemas partilharem a mesma densidade. A parte da energia cin´ e-tica em falta na equa¸c˜ao (2.26) diz respeito aos n´umeros de ocupa¸c˜ao que n˜ao s˜ao exactamente iguais a 0 ou 1. Tendo em conta este facto, Kohn e Sham introduziram a seguinte separa¸c˜ao do funcional universal, F [ρ] [83, 84],

F [ρ(r)] = Ts[ρ(r)] + J [ρ(r)] + Exc[ρ(r)] (2.28)

onde Exc, a chamada energia de troca-correla¸c˜ao, ´e definida como

Exc[ρ] = (T [ρ] − Ts[ρ]) + (Eee[ρ] − J [ρ]) (2.29)

Exc ´e definido como a diferen¸ca entre as energias cin´eticas e interac¸c˜oes inter-electr´onicas do sistema real e do g´as de electr˜oes. A energia de troca representa a maior contribui¸c˜ao para Exc. Na teoria de Hartree-Fock, a energia de troca baseia-se no facto de que os electr˜oes com spins paralelos se evitam entre si em consequˆencia do princ´ıpio de exclus˜ao de Pauli (forma¸c˜ao de um buraco de troca). Em DFT, a energia de troca-correla¸c˜ao inclui tamb´em os efeitos de correla¸c˜ao devidos `a repuls˜ao coulombica entre os electr˜oes (efeitos de correla¸c˜ao dinˆamica). Portanto, o termo Exc cont´em n˜ao apenas os efeitos n˜ao cl´assicos de correc¸c˜ao da auto-interac¸c˜ao, de troca e de correla¸c˜ao, que constituem contribui¸c˜oes para a energia potencial, mas tamb´em uma parte residual da verdadeira energia cin´etica.

O funcional de energia de um sistema multielectr´onico, com inclus˜ao de interac-¸c˜oes do tipo electr˜ao-electr˜ao, pode ser escrito do seguinte modo [83]:

(42)

E [ρ(r)] = Ts[ρ] + J [ρ] + EN e[ρ] + Exc[ρ] = Ts[ρ] + 1 2 Z ρ(r1)ρ(r2) r12 dr1dr2+ Z VN eρ(r)dr + Exc[ρ] = N X i  φi −1 2∇ 2 φi  +1 2 N X i N X j Z |φi(r1)|2 1 r12 |φj(r2)|2dr1dr2 − N X i Z M X A ZA r1A |φi(r1)| 2 dr1+ Exc[ρ(r)] (2.30)

Nesta express˜ao, os trˆes primeiros termos representam, respectivamente, a energia cin´etica do sistema de electr˜oes, a interac¸c˜ao coulombica cl´assica entre os electr˜oes e a interac¸c˜ao electrost´atica entre os electr˜oes e os n´ucleos. O ´unico termo para o qual n˜ao se consegue encontrar uma forma expl´ıcita ´e o termo de troca-correla¸c˜ao, Exc.

Aplicando o princ´ıpio variacional a E [ρ], com a restri¸c˜ao de que as orbitais sejam ortogonais, hφi|φji = δij, tem-se

δTs[ρ] δρ(r1) + Z ρ(r2) r12 dr2− M X A ZA r1A +δExc[ρ] δρ(r1) = λρ(r1) (2.31)

onde λ ´e o parˆametro de Lagrange associado `a restri¸c˜ao mencionada. Obt´em-se o seguinte conjunto de equa¸c˜oes [83]:

ˆ hKSφi = − 1 2∇ 2+ Z ρ(r2) r12 dr2− M X A ZA r1A + Vxc[r1] ! φi = εiφi (2.32) onde Vxc[ρ(r1)] = δ δρ(r1) Exc[ρ(r1)] (2.33)

Na equa¸c˜ao acima, o segundo termo do operador monoelectr´onico hKS representa o potencial m´edio que actua sobre o electr˜ao situado na spin-orbital φi devido ao campo gerado pela densidade electr´onica total. Contudo, na realidade esse electr˜ao

(43)

n˜ao interactua com a densidade total uma vez que ´e parte integrante da mesma e, como tal, n˜ao pode interactuar consigo mesmo; assim se explica a necessidade de introdu¸c˜ao de um factor de correc¸c˜ao da auto-interac¸c˜ao.

A equa¸c˜ao (2.32) pode ser escrita do seguinte modo [83, 84, 86]:

 −1 2∇ 2 + Vef f(r1)  φi = εiφi (2.34)

Por compara¸c˜ao desta express˜ao com a equa¸c˜ao (2.24) verifica-se que o potencial efectivo, Vef f, ´e idˆentico a Vs [83],

Vs(r1) = Vef f(r1) = Z ρ(r2) r12 dr2− M X A ZA r1A + Vxc(r1) (2.35)

Uma vez que Vef f depende da densidade, as equa¸c˜oes monoelectr´onicas de Kohn-Sham tˆem de ser resolvidas iterativamente, pelo m´etodo do campo auto-consistente, tal como as equa¸c˜oes de Hartree-Fock.

Comparando as equa¸c˜oes (2.30) e (2.32) verifica-se que a soma dos valores pr´oprios, εi, dos estados ocupados n˜ao d´a a energia total pelo que se tem [84, 86]:

E = N X i=1 εi− 1 2 Z ρ(r1)ρ(r)2 r12 dr1dr2+ Exc[ρ] − Z dr1Vxc[ρ (r1)] ρ (r1) (2.36) onde N X i=1 εi = N X i  φi −1 2∇ 2+ V ef f(r1) φi  = Ts[ρ] + Z Vef f(r1)ρ(r1)dr1 (2.37) ´

E importante frisar que se a verdadeira forma de Exc fosse conhecida, a estrat´ e-gia de Kohn-Sham daria a enere-gia exacta. Este m´etodo ´e, em princ´ıpio, exacto, ao

(44)

contr´ario da teoria de Hartree-Fock na qual se introduz, logo `a partida, uma apro-xima¸c˜ao: pressup˜oe-se que a fun¸c˜ao de onda ´e um determinante de Slater ´unico. O maior problema do DFT consiste em definir express˜oes adequadas para o termo de troca-correla¸c˜ao.

Os m´etodos DFT s˜ao bastante “atractivos” porque incluem os efeitos de correla¸c˜ao electr´onica - o facto de que os electr˜oes, num sistema molecular, reagem aos mo-vimentos uns dos outros e tentam manter-se afastados. Isto constitui uma grande “melhoria” relativamente `a teoria de Hartree-Fock que trata a repuls˜ao entre elec-tr˜oes de um modo m´edio - cada electr˜ao reage a uma densidade electr´onica m´edia. Por seu turno, os m´etodos que incluem a correla¸c˜ao electr´onica d˜ao conta das inte-rac¸c˜oes instantˆaneas entre pares de electr˜oes com spins opostos.

O potencial efectivo Vs(r) ´e local uma vez que ´e fun¸c˜ao, apenas, da vari´avel espacial r e ´e independente dos valores de Vs noutros pontos do espa¸co, r0. Dada a igual-dade demonstrada entre Vs(r) e Vef f(r) conclui-se que Vxc(r) e a diferen¸ca entre T e Ts tamb´em tˆem de ser locais. Apesar de o potencial de Kohn-Sham, Vef f, ser um potencial local, no caso de um sistema n˜ao homog´eneo apresenta uma dependˆencia muito complexa e n˜ao local da densidade [83]. Portanto, nessa situa¸c˜ao tamb´em o valor do potencial de troca-correla¸c˜ao no ponto r depende, n˜ao apenas, do valor da densidade de carga em r mas ainda da sua varia¸c˜ao pr´oximo de r; como tal, Vxc pode ser escrito como uma expans˜ao sobre os gradientes de densidade. Para al´em do facto de que a forma exacta do funcional energia ´e desconhecida, a inclus˜ao dos gradientes de densidade dificulta ainda mais a resolu¸c˜ao das equa¸c˜oes DFT. Um modo de o evitar consiste em usar v´arias aproxima¸c˜oes, entre elas a da densidade local (LDA) [83, 84, 86].

Os funcionais DFT tentam, essencialmente, modelar o termo de troca-correla¸c˜ao e s˜ao caracterizados pelo modo como representam a densidade em torno de cada electr˜ao.

Os m´etodos LDA aproximam a energia de troca-correla¸c˜ao de um sistema pela ener-gia de troca-correla¸c˜ao de um g´as uniforme de electr˜oes com a mesma densidade. Parte-se da aproxima¸c˜ao que a densidade ´e uma fun¸c˜ao que varia muito lentamente. Embora bastante simples, estes m´etodos subestimam a energia de troca e sobresti-mam a correla¸c˜ao electr´onica.

Os m´etodos de gradiente generalizado (GGA) surgiram como alternativa aos m´ eto-dos LDA e usam uma aproxima¸c˜ao semi-local ao funcional de troca-correla¸c˜ao que ´e feito depender n˜ao apenas da densidade local de electr˜oes mas tamb´em do gradiente da densidade. Embora estes m´etodos sejam designados como m´etodos semi-locais essa defini¸c˜ao ´e algo incorrecta na medida em que, num sentido puramente mate-m´atico, os funcionais s˜ao locais e dependem apenas da densidade e do seu gradiente num determinado ponto e n˜ao em todo o espa¸co.

Os funcionais h´ıbridos combinam troca exacta de Hartree-Fock (usam-se orbitais de Kohn-Sham em detrimento das HF) com GGA’s numa propor¸c˜ao determinada por ajustes semi-emp´ıricos. Os m´etodos h´ıbridos colocaram em evidˆencia a necessidade de se incorporar infoma¸c˜ao estritamente n˜ao-local para se obter uma maior precis˜ao

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