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AS DIFICULDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO COM EFICÁCIA DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE LIBERDADE ASSISTIDA NO CREAS MSEMA NO MUNÍCIPIO DE PORTO VELHO/RO | Anais do Congresso Rondoniense de Carreiras Jurídicas - ISSN 2526-8678

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Academic year: 2021

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Anais do I Congresso Rondoniense de Carreiras Jurídicas Porto Velho/RO 29 e 30 de novembro de 2016 P. 402 a 425 AS DIFICULDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO COM EFICÁCIA DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE LIBERDADE ASSISTIDA NO CREAS MSEMA NO

MUNÍCIPIO DE PORTO VELHO/RO

Giovanne Aurélio Oliveira de Paula1 Andreia Alves de Almeida2

RESUMO

Este artigo tem como objetivo de estudo, identificar as dificuldades para implementação da medida socioeducativa de liberdade assistida no CREAS MSEMA, levando em conta que é a instituição responsável para a implementação desta medida no município de Porto Velho/RO. O estudo apontará a função do CREAS MSEMA, como funciona o sistema de acompanhamento ao menor infrator, demonstrará os dados coletados na instituição e as dificuldades encontradas para aplicação da medida socioeducativa de liberdade assistida. Deve-se entender que para uma aplicação com eficácia de tal medida é necessário o apoio da família, dos amigos, das escolas, e das instituições responsáveis, ou seja, a sociedade que envolve o menor infrator deve ajudar.

Palavras-Chaves: Medida Socioeducativa. Liberdade Assistida. Menor Infrator. Dificuldades.

ABSTRACT

This article aims to study, identify the difficulties in implementing the socio-educational measure of assisted freedom in CREAS MSEMA, taking into account that it is the institution responsible for the implementation of this measure in the municipality of Porto Velho/RO. The study will appoint to function CREAS MSEMA, how works monitoring system at the juvenile offender, demonstrate the data collected in the institution and the difficulties encountered in implementation of assisted socio-educational freedom measure. It should be understood that for an application effectiveness of such a measure is necessary to the support of family, friends,

1 Aluno na graduação da Faculdade Católica de Rondônia – FCR. E-mail: giovanneaurelio@gmail.com.

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Docente Mestra na Faculdade Católica de Rondônia. Orientador do trabalho. E-mail: andreiatemis@gmail.com.

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schools, and responsible institutions, in other words, society that surrounds the child offender should help.

Key Words: Measure Socioeducative. Assisted freedom. Minor Offender. Difficulties.

INTRODUÇÃO

O presente artigo pretende identificar as dificuldades encontradas para implementação da medida socioeducativa de liberdade assistida no CREAS-MSEMA, localizado no município de Porto Velho. Para tal investigação foram usados como metodologia a pesquisa bibliográfica e a pesquisa em campo. Realizar pesquisas voltadas ao campo de políticas públicas, sua implementação e eficácia, é desafiador, visto que abrange questões tanto socioeconômicas, culturais e sociais.

No Brasil, as crianças e os adolescentes próximas de situações de perigo são causas de várias análises em relação as políticas de atendimento designada a essa classe. São situações de cunho social, políticos, econômicos, que acabam por levar esses menores a cometer atos de infração. Outro fator é a ineficiência das políticas públicas de atendimento ao menor infrator, que podem acabar resultando na reincidência.

Como se sabe, a lei responsável pela criança e adolescente no Brasil é o Estatuto da Criança e Adolescente – ECA (Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990). Juntamente com ela, começou a ser adotada a doutrina de proteção integral dos direitos da criança, que independente das condições do menor de idade, ele é sujeito de direitos e deveres criados especificamente para sua etapa de vida. O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece normas de proteção e reeducação aos jovens até os 18 anos de idade, contendo normas especiais para os inimputáveis, como fica exposto no Código Penal de 1940, atualmente em vigor. As punições impostas para as crianças e os adolescentes infratores passam a ter o caráter educacional e de proteção dos mesmos, sendo dividas entre medidas protetivas e medidas socioeducativas.

Desse modo, de acordo com O Estatuto da Criança e do Adolescente, serão aplicadas medidas de proteção, que tem como finalidade dar ao jovem um

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meio de recuperação diante de sua condição e necessidade. As medidas socioeducativas estão elencadas no ECA, em seu artigo 112.

A liberdade assistida é uma delas, sendo classificada como uma medida em meio aberto, que tem como finalidade acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. E para que essa medida seja realizada de forma que venha a ter uma real eficácia e um baixo número de reincidência é necessário uma boa estrutura, um grande número de pessoas para o acompanhamento do menor, que haja uma boa organização para realização do atendimento na data inicial designada, entre outras necessidades.

Neste artigo, busca-se, através dos dados coletados e da pesquisa em campo identificar as dificuldades encontradas para aplicação da medida socioeducativa de liberdade assistida, já que podemos observar, diariamente, envolvimento de menores com a criminalidade.

No município de Porto Velho no Estado de Rondônia, é responsável pela aplicabilidade dessa medida o CREAS-MSEMA (Centro de Referência Especializado em Assistência Social de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto).

Devemos entender que as medidas socioeducativas têm natureza jurídica pedagógica, e quando aplicadas com eficiência e de acordo com os moldes legais são os meios mais eficazes de ressocialização do menor infrator, concedendo a ele uma vida de dignidade, de melhor relacionamento no seu convívio familiar, no desenvolvimento escolar e na sua profissionalização.

Pretende-se, analisar os dados obtidos através da coleta de dados, utilizando gráficos que irão demonstrar as diversas situações na qual se encontram esses menores infratores, como situação econômica, escolaridade, sexo, entre outros. Será analisado, também, os dados referentes ao demonstrativo de atendimento disponibilizado pelo CREAS-MSEMA.

2. HISTÓRIA DA LEGISLAÇÃO MENORISTA BRASILEIRA

2.1 ORDENAÇÕES FILIPINAS

As Ordenações Filipinas foi a primeira legislação a vigorar no Brasil, em seu ordenamento jurídico, entre os anos de 1603 a 1830. Tratava-se acerca da

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atualização nas Ordenações Manuelinas até então presente em Portugal. Suas normas eram compostas por leis severas e com penas desproporcionais ao crime de praticado, como destaca Ribeiro “As ordenações, assim como as demais legislações penais europeias, traziam em seu texto o peso dos suplícios e das penas desmesuradas contra o apenado, demonstrando praticamente a falta de equilíbrio entre o delito e a pena. “ (RIBEIRO, 2010, p.16).

Diante disso, observa-se que as normas primárias do Brasil apresentam uma forma de responsabilizar penalmente o indivíduo rigoroso, no qual não diferencia criança de adolescente, sendo fixado atenuante de forma geral para todos menores de 17 anos.

2.2 CÓDIGO CRIMINAL DO IMPÉRIO

No ano de 1830, surgiu o Código Criminal do Império, diante das mudanças do Brasil, oriundas de sua independência e sendo necessário o surgimento de novas normas, que atendessem as ideias liberais e as influências das várias revoluções na época. Esse Código foi o responsável por instituir uma inovação na legislação pátria, com a realização de avaliações sobre o discernimento dos menores infratores de 14 anos, os quais, em regra geral, não poderiam ser julgados criminosos.

No entanto, tal Código trouxe sanções mais flexíveis para esta faixa etária, com a implementação de atenuantes, em que o juiz poderia, a seu critério, aplicar a pena de cumplicidade, a qual, de acordo com Oliveira e Funes (2008), equivaleria ao total de 2/3 (dois terços) da pena que caberia a um adulto. Assim, estabelecia o artigo 18 deste Código Criminal (1830) “São circunstancias atenuantes dos crimes: Quando o réu for menor de dezessete anos, e maior de quatorze, poderá o Juiz, parecendo-lhe justo, impor-lhe as penas da cumplicidade. ”

Nota-se que o Código Criminal do Império foi o primeiro a aplicar na esfera jurídica brasileira uma análise sobre a capacidade de maturidade e entendimento dos menores infratores. Foi objeto de destaque as atenuantes das penas aplicadas, com a redução de até 2/3 (dois terços) da pena do menor, gerando consequências nas legislações posteriores, incentivando a criação de normas voltadas para a proteção infanto-juvenil.

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406 2.3 CÓDIGO PENAL REPUBLICANO

Após a Proclamação da República, a sociedade começou a observar mais com o problema da infância e da juventude no Brasil. Ficando evidenciado com a criação do Decreto n.º 847, que pôs em vigor o Código Penal Republicano, no ano de 1890. Sendo assim, tal Código foi o primeiro em classificar biologicamente as fases da infância e adolescência, com a divisão em quatro ciclos, como classifica Rebelo:

a) Infância: tinha seu término em 9 anos [...]; b) Impuberdade: durava dos 9 aos 14 anos [...]; c) Menoridade: dos 14 aos 21 anos incompletos [...], d) Maioridade: a partir dos 21 anos completos [...]. (REBELO, 2010, p.25-26).

Desse modo, a apreciação do discernimento dos jovens, imposto pelo Código Criminal do Império, ainda regido para os menores de 9 a 14 anos. Com relação aos menores de 9 anos infratores penais, a considerada fase da infância, estes seriam inimputáveis. Entretanto, para os jovens infratores na fase da puberdade, de 9 a 14 anos, que poderiam ter entendimento dos atos que cometiam e das consequências geradas, se cometessem delitos, sendo eles penalizados, com caráter disciplinar, através do recolhimento em estabelecimentos industriais, onde deveriam trabalhar, em tempo a ser fixado pelo juiz, mas com duração máxima até os 17 anos de idade. Importante frisar que se começava neste momento a preocupação com a reeducação dos menores delinquentes, como afirma Rebelo: “O fato de o legislador ter feito previsão da possibilidade de internação do menor em estabelecimento industrial revela nítida intenção de regeneração pelo trabalho. ” (RABELO, 2010, p.26)

Por fim, a partir dos 21 anos, sendo considerada a maioridade penal, o indivíduo poderia ser responsabilizado criminalmente, gozando apenas da atenuante pela idade. O Código Penal Republicano foi alvo de grandes mudanças no ano de 1921, com a Lei nº 4242, de 5 de janeiro, sofrendo alterações na responsabilização criminal, bem como melhoras no amparo à infância brasileira. A citada lei estendeu a inimputabilidade para os 14 anos. Já os jovens de 14 a 18 anos, que eram alvos de

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imputação de crimes, deveriam ser julgados através de um processo especial, como cita Tavares (2004): “O menor de 14 anos, indigitado autor ou cúmplice de crime ou contravenção, não será submetido a processo de espécie alguma e que o menor de 14 a 18 anos, indigitado autor ou cúmplice de crime ou contravenção será submetido a processo especial.” (TAVARES, 2004)

Diante disso, observa-se os avanços que o direito menorista teve nesta etapa, com o Código Penal Republicano, sendo a primeira legislação a classificar as fases da infância, juntamente com as modificações trazidas pela Lei n.º 4.242 de 5 de janeiro de 1921, com a criação de uma maior assistência aos menores.

2.4 CÓDIGO DE MELLO MATTOS

O Decreto n.º 17943-A, de 12 de outubro de 1927, primeiro Código destinado aos menores da América Latina, ficou conhecido popularmente por Código de Mello Mattos, como uma forma de homenagem ao seu autor, o jurista José Cândido de Albuquerque Mello Mattos, primeiro Juiz de Menores do Brasil. O Código de Matos (1927), em relação à responsabilidade penal, permanecia a imputabilidade dos menores de 14 anos, os quais não poderiam ser sujeitos de nenhum processo.

Por sua vez, os menores infratores que praticavam os atos delituosos entre os seus 14 a 18 anos de idade, poderiam ser alvos de processo especial, gozando também de certas assistências, de acordo com sua necessidade, se assim houvesse. Deve-se destacar que, nesta situação, se comprovado que o jovem autor do delito dispunha de certas assistências por sua família e não possuía algum tipo de deficiência, poderia ser penalizado com a internação em escolas de reforma, com lapso temporal de 1 a 5 anos.

Sem descer às minúcias de cada caso, pode-se falar que o Código Mello Mattos representou a abertura de uma visão legislativa sobre o problema da criança e do adolescente em todos os seus aspectos. Antecedente das grandes medidas tomadas pelos Organismos Internacionais, não obstante os defeitos naturais em um diploma pioneiro, é lícito apontá-lo como código precursor, o qual colocou o Brasil na vanguarda dos países latino-americanos e preparou-o para enfrentar a questão da infância desassistida, agravada pela problemática social, neste último meio século.

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408 2.5 CÓDIGO PENAL DE 1940

Este Código passou a aplicar o critério biológico para a maioridade penal, sendo estabelecido, no artigo 23, que os menores de 18 anos seriam inimputáveis penalmente, sendo sujeitos às legislações especiais. Ele entrou em vigor com o Decreto-Lei n.º 2848, de 7 de dezembro de 1940, trazendo mudanças no sentindo da inimputabilidade criminal no Brasil.

Outro ponto estabelecido é a redução do prazo prescricional pela metade, quando o réu for, na data do fato, menor de 21 anos. Em 1943, entrou em vigor o Decreto-Lei n.º 6.026, o qual discriminou as medidas a serem aplicadas aos menores que cometiam atos infracionais, promovendo mudanças na legislação infanto-juvenil brasileira. Para os menores que não apresentavam alta periculosidade, estes deveriam ficar sobre a vigilância dos pais ou responsáveis ou, se necessário, promover a sua internação em estabelecimento especializado. Por outro lado, se o infrator fosse considerado perigoso, este deveria ser, de imediato, internado, até que o Ministério Público se manifestasse a respeito.

Para os menores de 14 anos, caberia ao juiz adotar medidas de proteção e assistência de acordo com as necessidades do infrator. Diante disso, esse Código, ainda se encontra em vigor atualmente, estabeleceu o critério de definição biológica para a inimputabilidade criminal, que ocorreria até os 18 anos de idade, formando um marco divisório na história jurídica do menor no Brasil, juntamente com o Decreto-Lei nº 6026/43.

2.6 CÓDIGO DE MENORES 1979

Decretado pela Lei nº 6.697, em 10 de outubro de 1979, sob domínio do regime militar, entrou em vigor o segundo Código brasileiro destinado aos menores de idade. Não foram feitas muitas atualizações em relação ao Código de Mello Mattos, ficando evidenciada a continuação da Doutrina da Situação Irregular do Menor, como demonstra Queiroz (2008):

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O Código de Menores de 1979 firmou o menor como objeto de tutela do Estado, legitimando a intervenção estatal sobre os jovens que estivessem em uma circunstância que a lei estabelecia como situação irregular. Crianças consideradas expostas, abandonadas, mendigam ou vadias, saiam da tutela da família para a do juiz de menores, o qual tinha o poder de decidir como e onde ela ficaria, sem qualquer garantia contida na lei, à diferença do que temos hoje através do princípio do devido processo legal. (QUEIROZ, 2008)

Eram aplicadas medidas preventivas ao menor de dezoito anos, independentemente de sua situação. Vigorava, a figura dos juízes de menores, criados no Código de Mello Mattos, no entanto, agora eles poderiam até criar normas, quando ocorressem lacunas na lei. Também foram estabelecidas novas medidas de penalização e proteção aos menores que cometiam atos infracionais, sendo observado que, como forma de repreensão aos pais que não davam assistência aos seus filhos menores de idade, foram estabelecidos, também para estes, medidas que seriam aplicadas caso necessário. Tais ações estavam previstas no artigo 42, deste Código (1979):

Art. 42. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável: I - advertência;

II - obrigação de submeter o menor a tratamento em clínica, centro de orientação infanto-juvenil, ou outro estabelecimento especializado determinado pela autoridade judiciária, quando verificada a necessidade e houver recusa injustificável;

III - perda ou suspensão do pátrio poder; IV - destituição da tutela;

V - perda da guarda.

Diante do exposto, pode-se dizer que o Código de Menores de 1979 não trouxe grandes mudanças a legislação menorista, pois ainda tinha como alvo apenas os menores mais carentes e discriminados da sociedade.

2.7 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Estabelecido pela Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), como observa Saraiva (2010), representa um marco divisório extraordinário no trato da questão da infância e juventude no Brasil. Em paralelo ao ECA, passava-se a adotar no Brasil, a Doutrina da Proteção Integral dos Diretos da Criança, onde independentemente das condições pessoais do menor

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de idade, este era sujeito de diretos e deveres criados particularmente para sua etapa de vida. Como ressalta Saraiva:

Na Doutrina da Proteção Integral dos Direitos, as crianças passam a ser definidas de maneira afirmativa, como sujeitos plenos de diretos. Já não se trata de “menores”, incapazes, meias-pessoas ou incompletas, senão de pessoas cuja única particularidade é a de estar em desenvolvimento. Por isso lhes reconhecem todos os diretos que têm os adultos mais diretos específicos por reconhecer-se essa circunstância evolutiva. (SARAIVA, 2012, p.24).

Com a aceitação desta nova Doutrina, recebida pela Constituição Federal de 1988, observa-se a influência da proteção familiar, que proporcionará ao menor apoio psicológico, social, educacional e biológico, como é estabelecido no artigo 227 da referida Carta Magna:

Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Os menores de 18 anos de idade se tornam sujeitos de direitos em desenvolvimento, não sendo relevante sua condição social, familiar ou econômica, de acordo com essa nova visão protetora da infância. Obtendo dessa forma proteção e garantias jurídicas antes inexistentes a esta classe, como estabelece Saraiva: “ Tem-se uma só condição de criança e adolescente enquanto destinatário da norma, titular de diretos e de certas obrigações, estabelecendo uma nova referência paradigmática. ” (SARAIVA, 2010, p.26)

Com a imposição desta nova doutrina, o juiz, nesta fase, denominado como juiz da infância e da juventude, é limitado pela lei, devendo assegurar as garantias e direitos dos menores, com a intervenção e fiscalização do Ministério Público e do advogado do adolescente. O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece normas de proteção e reeducação aos jovens até os 18 anos de idade, impondo normas especiais para os inimputáveis, como fica exposto no Código Penal de 1940, atualmente em vigor. As punições impostas para as crianças e os adolescentes infratores passam a ter o caráter educacional e de proteção dos mesmos, sendo dividas entre medidas protetivas e medidas socioeducativas.

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As medidas protetivas se destinam às crianças de até 12 anos de idade e são expostas no artigo 101 da ECA, que compreendem o encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade, orientação, apoio e acompanhamento temporários, matrícula e frequência obrigatória em estabelecimento oficial de ensino fundamental, inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente, requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial, inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos, acolhimento institucional, inclusão em programa de acolhimento familiar e colocação em família substituta.

Verifica-se que para os adolescentes, assim considerados os maiores de 12 anos até os 18 anos incompletos, tem-se a aplicação das chamadas medidas socioeducativas, ditadas no artigo 112 do Estatuto supramencionado. Tais medidas compreendem a advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em regime de semiliberdade e, por fim, internação em estabelecimento educacional. Desse modo, observa-se que com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente conjuntamente com a adoção da Teoria da Proteção Integral dos Direitos da Criança, tem-se a proteção para todos os menores, com as garantias necessárias e diretas específicas para esta etapa da vida.

Desse modo, após tecermos considerações acerca da evolução histórica das leis de proteção aos menores infratores, iremos abordar considerações a respeito das medidas socioeducativas, com foco na medida socioeducativa de Liberdade Assistida.

3. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE LIBERDADE ASSISTIDA

No Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu capítulo IV, seção I, traz às medidas socioeducativas aplicada aos menores infratores, conforme podemos observar no artigo 112:

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:

I - advertência;

II - obrigação de reparar o dano;

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412 IV - liberdade assistida;

V - inserção em regime de semiliberdade;

VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

O autor Flávio Américo Frasseto, classificada as medidas socioeducativas quanto a severidade, sendo elas de meio fechado, meio semiaberto e meio aberto. A medida socioeducativa em meio fechado é aquela na qual o menor infrator permanece institucionalizado. Em meio semiaberto há um misto, o adolescente permanece um período institucionalizado e outro que fica com a família. E no meio aberto o adolescente permanece tendo relação junto a comunidades, continua com sua vida social, escolar e profissional, sendo a Liberdade Assistida uma medida socioeducativa em meio aberto.

A Liberdade Assistida começou a ser utilizada no Brasil por meio da Legislação da infância e da adolescência, art. 47, do Decreto 5083 de 01/12/1926, na época do Código de Menores de Juiz Mello Matos. Nesse período a intenção era apenas de vigiar adolescente no intuito de não haver mais prática de ato infracional, não havia preocupação de cunho pedagógico com vistas à ressocialização.

A medida socioeducativa de Liberdade Assistida está prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 118: “A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.”

Tal medida tem por objetivo realizar um acompanhamento na escola, trabalho e família, ou seja, de acompanhar a vida social do adolescente, de forma a subsidiar ações que lhes permitam a ressocialização como “sujeitos de direitos” conforme preconiza o Estatuto.

O Prof. José Barroso Filho afirma que:

Entre as diversas fórmulas e soluções apresentadas pelo ECA, para o enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil, a medida socioeducativa da Liberdade Assistida se apresenta como a mais gratificante e importante de todas, conforme unanimemente apontado pelos especialistas na matéria. Isto porque possibilita ao adolescente o seu cumprimento em liberdade junto à família, porém sob o controle sistemático do Juizado e da comunidade. A medida destina-se, em princípio, aos infratores passíveis de recuperação em meio livre, que estão se iniciando no processo de marginalização.

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A medida socioeducativa de Liberdade Assistida auxilia na reinserção na rede de ensino, reaproximação do vínculo familiar, a busca por uma oportunidade no mercado de trabalho, e ainda, trabalha aspectos relacionados à sua autoestima, pois permite um acompanhamento individualizado.

Assim, de acordo com o Prof. António Chaves “a liberdade assistida consiste em submeter o menor, após entregue aos responsáveis, ou após liberação do internato, à assistência, com o fim de impedir a reincidência e obter a certeza da reeducação”.

Em relação ao Art. 118 do ECA, será escolhida a liberdade assistida sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.

§ 1º. A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento.

§ 2º. A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor.

Desse modo, compreende-se que a medida socioeducativa de Liberdade Assistida é aplicada aos adolescentes autores de atos infracionais, no qual os delitos são considerados mais graves, no entanto não precisam ser corrigidos em uma unidade de internação com a privação de liberdade. De acordo com o Estatuto, através desta medida, estando em liberdade o adolescente tem a possibilidade de repensar sobre seus atos, reconhecendo sua responsabilidade e comprometendo-se a não os repetir.

Essa medida pode ser inúmeras vezes prorrogadas, ou seja, se o adolescente não demonstrar que está apta a liberação da mesma, ele permanece pelo tempo que se fizer necessário, devendo a equipe técnica que realiza o atendimento, informar ao juiz da infância todo o procedimento dispensando a ele. Pode também ser aplicada pelo Juiz da infância e da adolescência quantas vezes forem necessárias, devido à reincidência da pratica de atos infracionais ou a pratica de novos atos.

É designado pelo programa de atendimento uma pessoa maior de 21 anos e responsável para atuar como orientador, para auxiliar no acompanhamento

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ao adolescente infrator, cujas funções de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente são:

Art. 119 - Incumbe ao orientador, com apoio e a supervisão da autoridade competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros;

I – Promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxilio e assistência social;

II – Supervisionar a frequência e aproveitamento escolar do adolescente, provendo, inclusive sua matrícula;

III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho.

IV- Apresentar relatório do caso.

Após receber todos os relatórios de acompanhamento do adolescente, o técnico do programa de atendimento irá redigir um relatório avaliativo, informando sobre todo o procedimento aplicado ao adolescente, informando se houve ou não progressão, ou melhor, reinserção social. Neste relatório avaliativo é emitido parecer técnico solicitando sua liberação ou não.

E para o bom cumprimento de medida e garantia de sua eficácia é necessário realizar o acompanhamento não só individualmente como em seu âmbito familiar, já que, envolver a família nesse processo é imprescindível para sua mudança. Isso favorece uma ajuda em torno das necessidades dos adolescentes infratores, contribuindo de maneira sólida e consistente para seu reingresso social. Para Sudbrack, a família é: “[...] considerada o núcleo primário de proteção, afeto e socialização da criança e do adolescente, sendo parte de uma rede múltipla e convexa que envolve aspectos históricos, culturais, legais e emocionais. ” (SUDBRACK, 2003, p. 169)

Desse modo, em função de uma dinâmica familiar que envolve a necessidades de uma reorganização estrutural, em que os “pais” precisam trabalhar para poder oferecer algo melhor aos filhos, fica um espaço em branco, o que interfere nas relações e consequentemente levando a desarmonia familiar, a indisciplina e até mesmo a inversão de papeis, conforme explica Sudbrack: “Mas, diante de todas essas situações, o sistema familiar apoiando-se em sua capacidade auto gestora, ou seja, está sempre procurando encontrar uma forma de se organizar diante de sua desorganização” (SUDBRACK, 2003, p. 170).

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4. CREAS-MSEMA (CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL - MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO)

O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) faz parte de um sistema público, participativo e descentralizado, com a função de gerir o conteúdo específico da proteção social, devendo garantir a efetivação dos direitos socioassistenciais e de outros conteúdos previsto na LOAS, art. 6º.

Desse modo, faz parte do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) o CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), que é especializado na oferta de serviços com focos definidos e continuados às famílias e indivíduos em situação de ameaça ou violação de direitos (violência física, psicológica, sexual, tráfico de pessoas, cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto, entre outros). Conforme é definido pelo art. 6º - C, § 2º, da LOAS:

O Creas é a unidade pública de abrangência e gestão municipal, estadual ou regional, destinada à prestação de serviços a indivíduos e famílias que se encontram em situação de risco pessoal ou social, por violação de direitos ou contingência, que demandam intervenções especializadas da proteção social especial.

Em relação ao cumprimento das medidas socioeducativas em meio aberto, é responsável o CREAS MSEMA (Centro de Referência Especializado de Assistência Social Medidas Socioeducativas em Meio Aberto), com o objetivo de realizar o resgate social através da criação de condições benéficas a ruptura da prática infracional e a reinserção de forma positiva a sociedade. Para isso, é preciso promover um espaço que possa ajudar o adolescente a refletir sobre o ato praticado e a desenvolver um projeto de vida futura, sendo necessário o crescimento e fortalecimento de vínculos afetivos.

No ano de 2014, com base nos dados colhidos no site da Prefeitura do município de Porto Velho, o CREAS MSEMA realizou o acompanhamento de 1.166 casos, encaminhados pelo 1º Juizado da Infância e Juventude, autores de ato infracional e suas famílias residentes em Porto Velho e seus distritos. Já no ano de 2015, conforme dados fornecidos pelo CREAS MSEMA, foram inseridos 506 adolescentes. Em 2016, até o mês de outubro, há um total de 500 casos. Importante ressaltar que os números dos anos de 2015 e 2016 não representam um total de

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adolescentes acompanhados no MSEMA, dados que não se encontra disponível no banco de dados da instituição. Os dados de 2016 não estão disponíveis para consulta, com isso, não será possível analisa-los.

Abaixo temos os dados desta demanda em tópicos:

4.1 TIPOLOGIA DA DEMANDA

Gráfico 1 – Tipologia da Demanda

Fonte: CREAS/MSEMA – 2014

Podemos notar no gráfico acima, que no ano de 2014, a maior parte da demanda atendida é de adolescente que cometeram infrações equiparadas aos crimes de roubo ou furto (artigo 155 e 157 do Código Penal Brasileiro). Os dados do ano de 2015 não foram coletados em razão da dificuldade em obtê-los. Já os dados de 2016 não estão disponíveis pela instituição.

4.2 GÊNERO

Verifica-se, no ano de 2014, que os adolescentes atendidos são do sexo masculino, em sua grande maioria (85%), enquanto 15% são do sexo feminino. Em

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2015 não houve grande diferença, sendo 87% dos adolescentes atendidos do sexo masculino (440) e 13% do sexo feminino (66).

4.3 SITUAÇÃO ESCOLAR

Gráfico 2 – Situação Escolar

Fonte: CREAS/MSEMA – 2014

Nota-se que, no ano de 2014, 34% dos adolescentes são desistentes, destacando uma dificuldade na execução das medidas, sendo o estudo um dos fatores essenciais para considerar que o adolescente está cumprindo a medida.

Já no ano de 2015, o número de desistentes aumentou consideravelmente (51%), sendo necessária uma estratégia de intervenção para que auxilie a permanência desses adolescentes nas escolas. Além disso, conforme 2014, a maioria dos adolescentes não iniciaram o ensino médio.

4.4 IDADE

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Fonte: CREAS/MSEMA – 2014

No ano de 2014, prevalecem os adolescentes de 17 anos com 27%, seguidos pelos adolescentes de 16 anos, que representam 23% do total. Já no ano de 2015, os adolescentes de 17 anos permanecem em primeiro lugar com 31%; com 25%, ficaram os adolescentes com 18 anos em segundo lugar.

4.5 TERRITORIALIDADE

Destaca-se, no ano de 2014, que a Zona Leste tem a maioria do número de adolescente atendido (58%), dividido entre os bairros da região, tendo uma maior ocorrência nos bairros Mariana, Lagoinha, Marcos Freire e Socialista. Em segundo lugar vem a Zona Sul (23%), com atenção para os bairros Cidade Nova, Castanheira e Caladinho.

Percebe-se que, no ano de 2015, não houve uma mudança de zona, em primeiro lugar continua a Zona Leste (48%) e em segunda a Zona Sul (25%). Já em relação aos bairros, o de maior incidência foi o bairro Jardim Santana com 21 adolescentes, em seguida o Castanheira e Socialista com 20 incidências, seguidos pelo bairro Cidade Nova com 19 e Aponiã com 15.

4.6 SITUAÇÃO ECONÔMICA

Em relação aos dados de 2014 sobre a situação econômica dos adolescentes, não foi possível obtê-los, vista que a instituição não os tem. Já no ano

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de 2015, 197 adolescentes atendidos pelo CREAS MSEMA derivam de famílias que recebem até 01 salário mínimo, representando 42% do total, sendo a condição socioeconômica um fator essencial para o cometimento de um ato infracional, devendo ser analisada com cautela e sem intenção de criminalizar as famílias pobres.

5. DIFICULDADES PARA APLICAÇÃO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE LIBERDADE ASSISTIDA

5.1. ESTRUTURA DO CREAS MSEMA

O espaço físico ocupado pelo CREAS MSEMA está localizado na Rua Geraldo Ferreira, nº 2176, no bairro Jardim das Mangueiras I, que dispõe de recepção, sala de telefone, sala de Abordagem Inicial, duas salas de atendimento, um auditório, uma sala administrativa, três salas de técnicos e uma sala de coordenação. Ao visitar o local, pode-se verificar que o espaço contém as mínimas condições para que ocorra em seu interior o desenvolvimento de atendimentos individuais e coletivos, no entanto, tem muito a melhorar.

Com os dados coletados, observa-se que o número da demanda para atendimentos é grande, e para que ocorra o desenvolvimento com eficácia da medida socioeducativa de liberdade assistida, é necessário um espaço que seja capaz de suprir essa demanda. Há a necessidade de um maior investimento nas políticas públicas com fins de melhoramento na aplicação com eficácia da medida socioeducativa de liberdade assistida.

5.2 EQUIPE TÉCNICA DO CREAS MSEMA

Atualmente, a equipe técnica do CREAS MSEMA é formada por 12 assistentes sociais e 13 psicólogos, para uma demanda de 500 menores infratores

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até o mês de outubro de 2016. Em relação a capacidade profissional das pessoas que realizam esse trabalho, não há como discutir esse mérito. No entanto, a demanda é grande para a quantidade de profissionais na instituição, sendo que cada profissional tem uma quantidade de 20 adolescentes para acompanhar. Desse modo, ele não consegue desenvolver seu trabalho com tranquilidade e eficácia, pois é necessária uma quantidade considerada de tempo para analisar todos esses casos. Além disso, adolescente que eram para estar sendo orientados e acompanhados não estão tendo como resultado a volta do adolescente ao mundo do crime, já que invés de estar sendo assistido, ele está desassistido.

Para que a medida socioeducativa de liberdade assistida seja aplicada, é necessária a presença de um orientador para cada adolescente infrator, mas isso não ocorre. É preciso um maior investimento no sentido de promover a divulgação acerca da necessidade de orientadores para acompanhamento dos menores infratores, devendo ser divulgado pela cidade através de panfletos, placas, rádios, qualquer meio de comunicação possível, pois, atualmente, há apenas um “banner” disponível na sede do CREAS MSEMA. Para ser orientador existem alguns requisitos: deve ser maior de 21 anos; cidadão integrado na comunidade; ter endereço fixo; ser idônea; ter vontade; não possuir vícios que possam comprometer sua conduta perante o adolescente; gostar de trabalhar com adolescente; não residir na mesma casa/terreno que o adolescente;

5.3 ÂMBITO ESCOLAR

A escola é de grande importância para a ressocialização do adolescente durante a aplicação da medida socioeducativa de liberdade assistida. Nesse sentido, Grinspun (2006, p. 88), afirma que “[...] a escola é local de confronto com o mundo social. Nela o aluno observa os outros, adquire o conhecimento de outros comportamentos, das intenções, dos valores e das normas que o sustentam”. No entanto, a maioria dos adolescentes infratores não gostam de voltar a escola, e acabam sendo “forçados” para que seja cumprida a medida socioeducativa.

Alguns deles tem problemas com colegas de sala, e até mesmo com professores que ao invés de incentivar o menor infrator a estudar, o trata com diferença por estar na situação em que se encontra, tendo como consequência a

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desistência do menor infrator em continuar seus estudos, ou até mesmo, em começa-los. Sendo assim, Grinspun (2005, p. 33) afirmar:

Ao interagir com os demais atores sociais, que também fazem à história e se educam nessa construção, tem a possibilidade de contribuir, coletivamente para a produção de um conhecimento transformador que além da aquisição de conhecimentos historicamente construídos, propicie uma compreensão crítica das condições sociais, bem como dos aspectos ideológicos presentes no currículo escolar. Numa construção desse tipo o professor torna-se mediador do conhecimento permitindo ao aluno buscar o conhecimento sendo o sujeito do seu próprio desenvolvimento intelectual.

Em um país que tem uma sociedade desigual e excludente, como o Brasil, é de grande importância que o adolescente infrator tenha um tratamento humanizado, para que possa buscar meios para superar os percalços existentes. Com isso, o âmbito escolar auxilia na reprodução dessas desigualdades sociais como podem contribuir com uma transformação, ou seja, uma pratica pedagógica bem articulada pode contribuir na medida em que o indivíduo tem a possibilidade de expandir a sua capacidade intelectual, auxiliando o adolescente a se tornar questionador e reivindicador de seus direitos.

5.4. ÂMBITO FAMILIAR

A família é a estrutura vital, lugar essencial à humanização e à socialização da criança e do adolescente, espaço ideal e privilegiado para desenvolvimento dos indivíduos, com isso, o adolescente passa por uma adaptação no âmbito família, necessitando do auxílio familiar,

(...) as adaptações na estrutura e organização familiar necessária para manejar as tarefas da adolescência são tão básicas que a própria família se transforma de uma unidade que protege e nutre os filhos pequenos em uma unidade que é um centro de preparação para a entrada do adolescente no mundo das responsabilidades e dos compromissos adultos. (PRETO, 2001, p. 223).

No entanto, a maioria desses menores infratores se encontram em famílias desestruturadas em todos os sentidos, com apenas o pai ou a mãe, em

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situação econômica difícil, sendo a situação emocional e psicológica mais difícil ainda.

A situação econômica da família é um ponto essencial para o envolvimento dos menores no mundo do crime. Os país ou responsáveis pelo adolescente vão em busca de emprego ou passam o dia fora de casa para sustentar a sua família, com isso, esses adolescentes não recebem o auxílio ou conselhos necessários de seus pais, acabando com que se envolvem com drogas ou cometam crimes em parceria daqueles que eles chamam de “amigos”, que também são jovens sem auxílio.

Diversas vezes, o adolescente aceita seguir as medidas colocadas para sua ressocialização, no entanto, a família acaba por colocar dificuldade (a falta de credibilidade do Estado) para a sua realização, devendo a instituição realizar reuniões juntamente com os pais, desse modo, ocorrendo a ressocialização do menor infrator e também de sua família.

5.5. ÂMBITO PROFISSIONAL

A profissionalização é essencial instrumento de apoio à reinserção social do adolescente e de transformação social. Nesta área, o município de Porto Velho conta com várias parcerias ou convênios, como: a Inspetoria Salesiana Missionária da Amazônia (ISMA), o Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), Sistema S., entre outros. No entanto, para entrar nesses programas é necessário a matricula em escola e também o fator idade-série, os quais são fatores já citados anteriormente.

Outra dificuldade encontra foi a falta de oportunidades para esses menores infratores. Isso advém da crise econômica na qual estamos passando, mas também do preconceito social em relação aos adolescentes, já que, no Brasil, grande parte das pessoas não acreditam na recuperação de crianças que cometem delitos, ficando desconfiados em aceitar a auxiliar no desenvolvimento profissional dos adolescentes.

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Conforme o exposto, teoricamente, a medida socioeducativa de liberdade assistida é uma das mais eficazes, e sem dúvida, a principal medida de cunho pedagógico, pois, o adolescente infrator, sem perder a sua liberdade, é submetido a um verdadeiro desenvolvimento acerca de seu projeto de vida. No entanto, quando colocada em prática, não tem a mesma eficácia, já que, para isso, é necessário um esforço no campo das políticas públicas com a finalidade de investimento nas medidas socioeducativas.

Sem esse esforço dos poderes públicos, nota-se várias dificuldades para aplicação da medida socioeducativa de liberdade assistida. Há necessidade de investimento na estrutura da instituição responsável pela aplicação desta medida socioeducativa, tendo como consequência um desenvolvimento melhor e mais eficaz. Além disso, é necessário a atenção em relação a quantidade de profissionais para o atendimento dos adolescentes, sendo que um maior investimento nas políticas públicas poderia resolver este problema.

Para um desenvolvimento eficaz da medida citada, é de essencial importância a presença da família como formula de apoio ao menor infrator, devendo ser a base para que ele possa crescer. Mas, o que se encontra são famílias cada vez mais desestruturadas, por vários motivos, sendo o principal a situação econômica, já que se encontram com uma perspectiva empobrecida que se caracteriza por trabalhos desvalorizados, tendo como consequência uma vida sem conforto e sem expectativa de mudança. Com isso, os adolescentes acabam que acham mais eficaz o mundo do crime e acabam por cometer delitos.

Deve-se analisar a situação escolar como um passo crucial para a ressocialização do menor infrator, já que é através da escola que o adolescente desenvolve seu lado intelectual, tendo como consequência uma maior porcentagem de ressocialização. No entanto, alguns não compreendem o poder da educação e acabam por abandonar os estudos, mas em alguns casos, não por falta de vontade de estudar, e sim por ser julgado pelos professores e colegas de escola.

Já no tocante a profissionalização do adolescente infrator, observa-se que a escolaridade influência a sua busca por curso profissionalizantes e por oportunidade no mercado de trabalho. Não podemos deixar de citar a falta de vagas para aqueles que já passaram ou passam pelas medidas socioeducativas, sendo

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isso resultado da sociedade preconceituosa e que não tem esperança na recuperação do ser humano.

Sendo assim, pode-se concluir que há diversas dificuldades para implementação com eficácia da medida socioeducativa de liberdade assistida, devendo ocorrer um maior investimento no campo de políticas públicas ligadas as medidas socioeducativas, além do apoio dos amigos, da família, da escola, ou seja, da sociedade, para que ocorra a ressocialização do menor infrator.

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Gráfico 1 – Tipologia da Demanda
Gráfico 2 – Situação Escolar

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