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SERÕES DE DONA BENTA: Monteiro Lobato e o ensino de Ciências

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Academic year: 2020

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184 REnCiMa, v. 10, n.1, p. 184-193, 2019

SERÕES DE DONA BENTA

MONTEIRO LOBATO E O ENSINO DE CIÊNCIAS

SERÕES DE DONA BENTA

MONTEIRO LOBATO AND THE TEACHING OF SCIENCES

Suelen Aparecida Mondek

Universidade Tecnológica Federal do Paraná- UTFPR/Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências Humanas, Sociais e da Natureza, suelen_mondek@hotmail.com

Zenaide de Fátima Dante Correia Rocha

Universidade Tecnológica Federal do Paraná- UTFPR/Departamento Acadêmico de Ciências Humanas e Sociais- DACHS, zenaiderocha@utfpr.edu.br

João Paulo Camargo de Lima

Universidade Tecnológica Federal do Paraná- UTFPR/Departamento Acadêmico de Física- DAFIS, joaopaulo@ufpr.edu.br

Resumo

Esta pesquisa tem por mote um estudo bibliográfico do livro Serões de Dona Benta do autor Monteiro Lobato, como proposta de aproximação entre a literatura infantil e a ciência para o uso de material didático entrelaçado a uma perspectiva metodológica em sala de aula, uma vez que o livro apresenta a ciência em situações condizentes ao cotidiano do leitor, tornando-se imprescindível para a Ciência. A principal questão que orientou esta pesquisa foi: Como a obra Serões de Dona Benta de Monteiro Lobato pode contribuir no ensino de ciências? Para constituição do trabalho, a pesquisa foi dividida em três partes: (i) realização de um levantamento bibliográfico com o intuito de identificar as conexões entre os dois campos; (ii) apresentação de conteúdos presentes na ciência diante trechos predominantes da obra literária; (iii) utilização da obra literária de Monteiro Lobato, em particular, a obra Serões de Dona Benta como recurso didático para se ensinar ciência. Palavras-chave: Ciência. Literatura Infantil. Recurso Didático. Perspectiva Metodológica. Serões de Dona Benta.

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185 REnCiMa, v. 10, n.1, p. 184-193, 2019 Abstract

This research has as motto a bibliographical study of the book Serões de Dona Benta by the author Monteiro Lobato, as a proposal of an approximation between children's literature and science for use of didactic material in the classroom, since the book presents science in situations consistent with the daily life of the reader, making it essential for science. The main question that guided this research was: How can the works Serões de Dona Benta de Monteiro Lobato contribute to the teaching of science? For the constitution of the work, the research was divided into three parts: (i) a bibliographical survey was carried out in order to identify the connections between the two fields; (ii) presentation of contents present in science in front of the predominant parts of the literary work; (iii) use of the literary work of Monteiro Lobato, in particular, the work Serões de Dona Benta as a didactic resource to teach science.

Keywords: Science. Children's literature. Didactic Resource. Methodological perspective. Serões de Dona Benta.

Introdução

Entende-se que nem todo o conhecimento produzido na área das ciências da natureza é plausível, ou seja, muitos conteúdos de ciências causam abstrações e generalizações cada vez mais complexas, uma vez que o ensino de ciências naturais é composto por três áreas (Química, Biologia e Física). Logo, se gera a dúvida de como e o que ensinar nas aulas de ciências (BIZZO, 2009).

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências Naturais (BRASIL, 1997), o ensino de ciência permite introduzir e explorar as informações relacionadas aos fenômenos naturais, à saúde, a tecnologia, a sociedade e ao meio ambiente, favorecendo a construção e ampliação de novos conhecimentos com o intuito de proporcionar conhecimentos de natureza científica e tecnológica e desenvolver nas discentes competências que o leve a atuar como um cidadão crítico, compreendendo o meio em que vive. Para isso os conteúdos devem ter relevância social e cultural, bem como ser apropriado ao desenvolvimento intelectual do aluno, para que o mesmo compreenda e atinja o aprendizado.

Diante dos pressupostos teóricos de Vigotsky (1988), o indivíduo aprende a partir de uma relação estabelecida com meio social que está inserido. Acrescentando, Friedmann (2006) ressalta que é necessário correlacionar os conteúdos que serão ensinados com o conhecimento geral do indivíduo, isto é, aos seus interesses e as suas necessidades. Nesta perspectiva, um conteúdo que pode interessar aos estudantes são aqueles carregados de significados, quando eles conseguem apoiar-se nos conhecimentos já existentes que servirão como respaldo dos conhecimentos que necessitam ser ampliados (POZO; CRESPO, 2009).

Uma das alternativas didáticas disponíveis nas escolas é a literatura infantil. Deste modo, buscamos reconhecer em Serões de Dona Benta, de Monteiro Lobato (1973), o

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186 REnCiMa, v. 10, n.1, p. 184-193, 2019 entrelaçamento entre literatura infantil e o ensino de ciências, a fim de identificar os conceitos científicos presentes na obra. Para isso apresenta-se aqui, uma proposta teórica para apoiar este estudo.

Literatura e Ensino de Ciências

A leitura faz parte da vida de muitas pessoas, muitas vezes mesmo sem perceber estamos lendo, o ato de ler propicia aos leitores diversos benefícios, como por exemplo, estimula a memória, a criatividade e expande a mente, assim como também concerne o apoderamento de informações (LAJOLO, 2004).

Entende-se que a literatura infantil é centralizada por um leitor especial, que são as crianças, seres em formação, que fazem parte do processo de aprendizagem inicial. Neste sentido, a prática de ler e contar histórias às crianças deve ser apresentado de maneira cuidadosa e fascinante, utilizando a imposição da voz, a postura, os gestos e a fantasia no intuito de gerar encantamento (KAERCHER, 2001). Ao entrelaçar a literatura infantil com o ensino de ciências, presume-se que essa união pode se tornar um artificio capaz de favorecer o processo de alfabetização científica.

Para Chassot (2003) ser alfabetizado cientificamente significa compreender e interpretar os fenômenos com base nas diversas divisões da ciência sejam elas linguagens, códigos, ciências da natureza, matemática, ciências humanas e suas tecnologias. A alfabetização científica tem como possibilidade fazer correções em ensinamentos distorcidos, em particular, no ensino de ciências, visto que a ciência é uma linguagem, logo ser alfabetizado cientificamente é saber ler a linguagem em que está escrita a natureza. Partindo desse pressuposto, a discussão sobre alfabetização científica ganha grande visibilidade no ensino de ciências e, apesar de serem apresentadas diferentes denominações a respeito do conteúdo conceitual, todos confluem numa única essência, uma vez que se direciona para a preocupação com um ensino voltado para a formação do cidadão diante da sociedade e o meio ambiente.

Perante o desenvolvimento da linguagem, as Diretrizes Curriculares Estaduais (2008) defendem que a linguagem é um elemento construído pela contextualização sócio histórica e cultural do indivíduo. Segundo Bakhtin (2010) o dialogismo favorece não só os acontecimentos relacionados à linguagem, mas também a construção do conhecimento. Nesse sentido, as ações dos sujeitos históricos produzem linguagens que podem levar à compreensão em confronto aos valores de uma sociedade.

Deste modo, indo além da formação de leitores, Salomão (2005) propõe que o trabalho com textos literários nas aulas de Ciências seja pautado no olhar para a aprendizagem, consistindo em um processo de significação no qual a linguagem tem um papel central, circundada pelas linguagens científica e literária, como maneira de aproximação e com respaldo nas experiências vividas pelo indivíduo. Além disso, na visão de Giraldelli e Almeida (2008), a literatura auxilia a compreensão do discurso científico e é um estímulo para gostar de ler.

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187 REnCiMa, v. 10, n.1, p. 184-193, 2019 São notórias as contribuições que a literatura infantil traz para o ensino de ciência, visto que a mesma pode contribuir para a formação de leitores críticos, construção da cidadania e o repensar de atitudes. Diante de tantos pontos positivos ressaltados anteriormente, qual literatura infantil, poderia ser usada para a construção do conhecimento científico? Neste artigo, a resposta desta pergunta corresponde ao pensamento de Zanetic (2006), com base em sua própria premissa de cientistas com veias literárias, estando inseridos neste grupo os escritores que se apropriam do conhecimento científico como fonte de inspiração ou como guia metodológico, entre eles Luiz de Camões e Monteiro Lobato.

Para tanto, restringiremos à literatura infantil de Monteiro Lobato do livro serões de Dona Benta apresentando a proposta com trechos da obra, relevantes para ensinar ciência.

Serões de Dona Benta: uma análise preliminar da obra

Anteriormente analisamos algumas pesquisas que apontam para a importância de trabalhar com a literatura infantil no ensino de Ciências. Na sequência, passaremos a discutir sobre uma literatura específica de Monteiro Lobato denominado Serões de Dona Benta.

Monteiro Lobato é considerado um marco na história da literatura infantil brasileira, sua obra Serões de Dona Benta foi publicada inicialmente pela Companhia Editora Nacional no ano de 1937. Serões de Dona Benta constitui-se de 23 capítulos e 101 páginas (LOBATO, 1973). Apesar de a obra ser classificada para a educação infantil, a mesma pode ser também considerada ao público alvo juvenil, uma vez que nela obra são relatadas significativas informações sobre o que é ciência e como ela funcionava na visão do autor.

Dona Benta percebia que seus netos eram muito curiosos e tinham sede em aprender ciência, vendo isso, ela decide, então, organizar saraus científicos, nos quais ensinaria, sobretudo, a ciências da natureza. Ao longo dos capítulos, o autor explica a partir de personagens criados por ele diversos conteúdos científicos como: o ar, a água, o solo, a matéria, o calor, o tempo, o clima, o sistema solar, dentre outros, e também utiliza o laboratório improvisado, que fez no quarto de hóspedes, para realizar várias experiências. Durante as explicações dos conteúdos científicos para os netos, ela faz uso da “história da ciência”, discorrendo sobre como alguns conceitos científicos foram desenvolvidos, assim como também apresenta muitos exemplos da vida cotidiana dos netos para contextualizar as suas explicações (GROTO, 2012).

Deste modo, acredita-se que o autor objetiva a partir da sua obra, transmitir conhecimento sobre sua visão de ciência, mostrando que a ciência não é algo pronto e acabado. Entretanto foram encontrados alguns erros conceituais sobre o entendimento de ciência, todavia os mesmos enfatizam que apesar dos erros adquiridos na história criada por Monteiro Lobato não inviabiliza sua obra, pois ela apresenta um direcionamento ao conhecimento científico, além disso, acredita-se que a partir dos erros conceituais encontrados na história, seria passaporte para os professores ensinar ciência, podendo então ser utilizados na problematização dos próprios conceitos. Um dos erros conceituais

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188 REnCiMa, v. 10, n.1, p. 184-193, 2019 encontrados e que poderiam ser trabalhados a partir do mesmo, encontra-se no trecho destacado abaixo:

Mas antes de chegarmos à alavanca, temos que ver o que é matéria. – Matéria é tudo que existe – adiantou Narizinho.

– Talvez você tenha razão, mas por enquanto a ciência o que diz é que matéria é o que ocupa lugar no espaço e tem pêso (LOBATO, 1973, p. 33). Nota-se o que o autor confunde a definição de peso e massa, pois no ponto de vista científico, “matéria é tudo o que tem massa e ocupa lugar no espaço” (CANTO, 2009, p.145). Nesta perspectiva, os professores poderiam indagar com os alunos o que é matéria solicitando que os mesmos procurem nos meios de informação a verdadeira definição.

Outro aspecto que poderia ser tratado em sala de aula a partir da obra Serões de Dona Benta, de Monteiro Lobato (1973) seria o perfil do cientista e a característica da ciência, seguido do trecho abaixo.

– Estamos num ponto muito sério do estudo da matéria

– Se pode ser criada ou destruída. Um grande sábio, do tempo da Revolução Francesa, disse uma coisa que parece bem certa: Nada se cria, nada se destrói na Natureza.

– Quem foi ele, vovó? – Lavoisier

– O que morreu na guilhotina? Bolas! Se morreu na guilhotina ele foi destruído.

– Não há destruição da matéria no que morre, meu filho. Há mudança de estado apenas. Depois que um corpo perde a vida, a sua matéria orgânica transforma-se em inorgânica. A matéria não desaparece. Naquele dia de Santo Antônio em que o compadre mandou um caixão de fogos e vocês passaram a noite a queimá-los... para onde foram os fogos?

– Viraram fumaça e cinzas – disse Pedrinho.

– Isso mesmo. Mudaram de forma. Transformaram-se em gases e cinzas. Mas se você pudesse juntar tôda essa fumaça, todos esses gases e todas as cinzas, obteria um peso exatamente igual ao pêso dos fogos antes de serem queimados. Não houve, portanto, destruição da matéria, e sim transformação – mudanças químicas. A balança prova que Lavoisier tem razão no seu “nada se cria e nada se destrói” – porque na realidade tudo apenas se transforma (LOBATO, 1973, p. 37-38).

Diante disso, seria interessante entender a visão que os alunos têm de ciência, suas principais características e o perfil de um cientista, visto que Lavoisier foi um químico francês, considerado o pai da química moderna.

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189 REnCiMa, v. 10, n.1, p. 184-193, 2019 Deste modo, na obra de Monteiro Lobato, existe uma grande oportunidade de perceber a forma de raciocínio deste autor e suas reflexões frente à ciência. Por isso, uma forma interessante de se trabalhar em sala de aula o gênero literário é providenciar recortes da obra Serões de Dona Benta com a finalidade de utilizá-lo como recurso didático paralelo aos livros didáticos.

O trabalho em sala com recortes de Monteiro Lobato é uma possibilidade para que o leitor compreenda a essência do saber ciência. Há, também, a possibilidade em promover discussões em diversos aspectos, tanto no conhecimento da teoria em si quanto no significado da ciência, no papel do cientista, nos conhecimentos da época, etc.

Ensaios Metodológicos e Temas dos Serões para a Pesquisa

O livro Serões de Dona Benta, de Monteiro Lobato (1973), traz consigo inúmeros conteúdos para o ensino de ciências, entre eles temos a temática que retratou-se neste trabalho mediante aos trechos do livro, isto é, Matéria.

A principal questão que orientou esta pesquisa foi: Como a obra Serões de Dona Benta de Monteiro Lobato pode contribuir no ensino de ciências? Para responder está questão pensou-se no entrelaçamento entre ambas partes do conhecimento, a literatura e a ciência elencadas com uma abordagem metodológica. Por exemplo, para a temática Matéria apoiou-se em duas perspectivas, a perspectiva da História e Filosofia da Ciência (HFC) e a perspectiva da Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA). Segue abaixo a tabela 1 apresentando da proposta do trabalho.

Tabela 1: Proposta metodológica do trabalho

Temática presente na literatura

Perspectiva Atribuições para o leitor

Matéria I HFC Favorecer a compreensão

Acerca da natureza da ciência

Matéria II CTSA Formar cidadãos capazes de tomar decisões e desenvolver ações responsáveis

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190 REnCiMa, v. 10, n.1, p. 184-193, 2019 Entrelaçamento entre a temática Matéria e a perspectiva HFC

A temática Matéria se encontra dividida em duas partes no livro de Serões de Dona Benta, um dos assuntos retratados no primeiro capítulo é a vida de Lavoisier, o pai da Química. A proposta para trabalhar os aspectos pessoais e sociais da vida de Lavoisier, constada no livro é a partir da perspectiva da História e Filosofia da Ciência (HFC).

Os autores castro e Carvalho (apud BRICCIA e CARVALHO, 2011) apresentam uma reflexão importante sobre essa perspectiva:

Quando o aluno discute de onde veio tal idéia, como ela evoluiu até chegar onde está, ou mesmo questiona os caminhos que geraram esta evolução, de certa forma, ele nos dá indícios de que reconhece tais conceitos como objeto de construção e não como conhecimentos revelados ou meramente passíveis de transmissão. Buscar razões, pois, parece indicar um comprometimento maior com o que se estuda e se, além disso, o aluno argumenta, baseando-se em informações históricas (busca o respaldo para o que diz na fala das “autoridades”) além de estar usando a analogia, ferramenta extremamente útil no estudo das ciências, ele está se reconhecendo também como sujeito construtor de saber (BRICCIA e CARVALHO, 2011, p.17).

Nesse sentido, uma das maneiras de trabalhar com a perspectiva da HFC é utilizando o livro Serões de Dona Benta, de Monteiro Lobato (1973), uma vez que no primeiro capítulo consiste em trechos da biografia de Lavoisier, vale ressaltar que alguns desses trechos foram apresentados nessa pesquisa anteriormente.

Mediante a leitura do livro de Monteiro Lobato o docente poderia expor aos seus alunos em suas aulas de Ciência, as concepções de ciência e de cientista, os aspectos do trabalho científico como a construção humana da ciência e discussões sobre a teoria da combustão, entre outras discussões, bem como esclarecido dúvidas e curiosidades dos alunos enquanto lê e ensina.

Entrelaçamento entre a temática Matéria e a perspectiva CTSA

A segunda parte da temática Matéria se encontra no oitavo capítulo do livro de Serões de Dona Benta, um dos assuntos retratados nesse capítulo é o conceito de massa e peso. Como vimos anteriormente, é possível notar que o próprio autor em seu livro faz confusão com os conceitos, confundindo a massa pelo peso. Deste modo, para tratar desses conceitos que parecem ser os mesmos, mas são distintos, nada melhor do que aprender com a perspectiva da Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente CTSA, uma vez que esta perspectiva amplia o conhecimento do aluno, contextualizando com a sua vida cotidiana.

A contextualização no entendimento de Pérez (1995) “ocorre a partir de práticas problematizadoras, que oferece ao aluno uma visão de que os conhecimentos científicos aprendidos fazem-se presentes no seu cotidiano”. Neste aspecto, o ensino CTSA na concepção de Bazzo (1998) o cidadão passa a entender a ciência e a tecnologia com suas implicações e consequências advindo a ser sujeito participante nas tomadas de

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191 REnCiMa, v. 10, n.1, p. 184-193, 2019 decisões políticas, sociais e ambientais, que certamente influenciarão o seu futuro e de seus descendentes.

Uma das maneiras de trabalhar com a perspectiva da CTSA é abordando a problemática ressaltada no livro Serões de Dona Benta, de Monteiro Lobato (1973), isto é, qual o conceito de massa e peso? Diante disso, o professor poderá explorar a resposta com o apoio da literatura que estamos discutindo e do livro didático.

Deste modo, a obra Serões de Dona Benta de Monteiro Lobato pode contribuir de inúmeras maneiras para a ampliação do conhecimento do leitor, nesta pesquisa foi proposto uma delas, ou seja, o entrelaçamento entre uma perspectiva metodológica mediante a uma temática ressaltada na literatura existente nos conteúdos de ciências.

Fim de Serões

Dos resultados apresentados na análise preliminar da obra com o intuito de buscar contribuições para o ensino de ciências foi possível pontuar aspectos relevantes quanto a ações metodológicas nas perspectivas CTS e na HFC. Nesse sentido faz-se o convite para retornarmos à questão pensada por Zanetic: Que literatura usar nas aulas de Ciências? Aqui apontamos a obra Serões de Dona Benta, de Monteiro Lobato (1973), porém são muitos os gêneros, as obras e os textos literários potenciais no sentido de permitirem que tal relação entre ciência e literatura seja concretizada como: Os Bichos de Miguel Torga, Lágrima de preta, lição sobre a água e Galileu de António Gedeão (1983).

Nesta perspectiva, faz-se necessário o uso das palavras de Groto (2012) quando afirma que a aproximação entre a literatura e a ciência por meio da utilização da literatura de Monteiro Lobato em aulas de ciências, possibilita ao estudante o diálogo entre as leituras de mundo, permitindo que o mesmo estimule sua curiosidade em saber ciência e qualifique as relações que estabelece no mundo e com o mundo, desencadeando, assim, uma postura reflexiva da realidade do estudante.

Cabe ressaltar que o texto literário não deve ser utilizado como o único recurso para ensinar ciências. Todavia, os textos literários podem ser utilizados como um recurso paralelo/auxiliar ao livro didático, isto é, como uma leitura completar elencada a uma perspectiva metodológica para ensinar ciências.

Deste modo, a pesquisa apresentou as contribuições da obra Serões de Dona Benta de Monteiro mediante a proposta de entrelaçamento entre uma perspectiva metodológica a uma temática ressaltada na literatura existente nos conteúdos de ciências, ou seja, conteúdo de Matéria elencado com a perspectiva CTSA e a perspectiva da HFC.

Faz-se importante destacar que esse artigo não traz uma indicação única e detentora da verdade, nele foram apresentados subsídios para um caminho a ser seguido. Essas são as expectativas para o aprimoramento do ensino ciências com o fulcro de vislumbrar em outros trabalhos adjacentes a esta pesquisa aplicações didáticas que requerem a interação entre a literatura e a ciência da natureza face as perspectivas CTS e HFC, por defender que no entrelaçar das duas áreas do conhecimento essas possam se transmutar na realidade aprender ciência.

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