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A Paz em Mateus

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Academic year: 2020

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A PAZ EM MATEUS*

ELENICE FÁTIMA DE OLIVEIRA**

Resumo: Resumo: o tema da “Paz” na perícope de Mateus 10,34-36 será analisado em sua

relação com a comunidade de Mateus e outros grupos judaicos emergentes, seus conflitos e divisões. A tensão entre a paz e a espada originada por divergências de interpretação da Lei Judaica e pela disputa de poder. O anúncio da chegada do Reino dos Céus e do Messias inte-gram a ação missionária da comunidade de Mateus. A paz, como plenitude, esperada pelos judeus é apresentada inversamente nesta perícope, contrariando todas as tradições judaicas.

Palavras-chave: Paz. Comunidade. Evangelho de Mateus. Reino dos Céus.

* Recebido em: 12.07.2014. Aprovado em: 27.07.2014. ** Mestranda em Ciências da Religião na PUC Goiás.

O

evangelho de Mateus, bem como os demais (Marcos, Lucas e João), testemunha acerca da vida, práxis, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré reconhecido como o Messias. Este evangelho é considerado o mais judaico de todos, por se referir, com mais frequência, aos costumes, crenças, pensamento cultural e religioso judaico do século I. O povo Judeu desenvolveu um conceito de paz muito abrangente, denotando “acabamento, plenitude, totalidade, perfeição”. A abrangência desse conceito equiparava os limites das conquistas individuais aos da comunidade. Ao trabalharmos Mateus, queremos apresentar a “paz” como uma de suas temáticas, dentro de uma perspectiva judaica, e da comunidade Mateana.

A comunidade Mateana era formada por judeus cristãos posterior ao ano 70 d.C., portanto, após a destruição de Israel, de Jerusalém e das instituições judaicas, pelo exército Romano. A derrota, proveniente desta destruição, foi interpretada como um castigo divino aos líderes religiosos, responsáveis por instigar o povo a rejeitar Jesus, o enviado de Deus (CARTER, 2002 p. 15). Os discípulos desta comunidade elaboraram um estilo de vida alter-nativo com base na chegada do Reino dos Céus por meio de um programa que foi sintetizado pelo evangelista Mateus.

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Como parte desse programa este evangelho apresenta o tema da paz inversamente a tudo que se esperava de um Messias conhecido e esperado como “o príncipe da paz”. Deve-se esperar a paz perfeita da salvação messiânica. O Messias é o príncipe da paz (Is 9,5-6) e, em seu Reino, haverá paz sem fim. (MACKENZIE, 2011 p. 644). O Império de Deus e a chegada de seu Reino é causa de tensão entre a paz e a espada, entre os que crêem em Jesus e os que não crêem. COMPREENDENDO MATEUS E A TENSÃO ENTRE A PAZ E A ESPADA

Não penseis que vim trazer paz à terra; Não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa. (Mt 10,34-36).

A leitura isolada desta perícope, de imediato, nos leva a pensar que se trata de um antagonismo em relação a Cristo, sua mensagem e outros textos bíblicos que o retratam como a personificação da paz. No capítulo 10 Mateus narra o envio dos discípulos de Cristo em missão e suas recomendações. O campo para essa missão, inicialmente, seria “as ovelhas perdi-das da casa de Israel” (Mt 10,6). A incumbência principal da missão era o anúncio da chegada do Reino dos Céus, a cura das enfermidades e a libertação de todo tipo de espírito imundo. Repentinamente, o foco da narrativa é desviado da missão dos discípulos para a do próprio Jesus (10, 34-36). Carter (2000, p. 316) considera surpreendente a colocação desta perícope logo após o envio de Jesus aos fazedores da paz (5,9) e instruídos a estendê-la (10,13). Mateus apropria-se desta fala de Cristo para legitimar a ação missionária da sua comunidade? O que afinal Mateus queria ao inserir este texto neste capítulo?

Quando o autor do evangelho defende sua posição ou tenta lidar com as sutilezas dos textos bíblicos, ele o faz com sofisticação e atenção minuciosa a posições judaicas alternativas. Ao mesmo tempo, o evangelho de Mateus ataca violentamente os líderes judeus e questiona muitos pontos de vista e muitas práticas da comunidade judaica (SALDARINI, 2000, p. 7).

”Não penseis... não vim...”

O imperativo negativo na abertura da fala rebate uma perspectiva equivocada da missão de Jesus. Tradicionalmente os judeus aguardavam a chegada da paz, da plenitude do Reino dos céus, no Messias. Ele contraria a tradição ao negar que veio trazer a paz. Wengst (1991, p. 92 ) avalia a posição de Jesus como uma negativa ao papel de pacificador no sentido de manter a estrutura da sociedade patriarcal-hierárquica, estabelecida pelo império romano e pela elite sacerdotal. Os discípulos, a exemplo do mestre, são defensores não da paz destrutiva de Roma (Pax Romana), mas do império misericordioso de Deus, que traz plenitude e bem estar aos oprimidos (CARTER, 2000, p. 308).

O aspecto escatológico deve ser considerado na expressão: “Não vim trazer paz à terra, mas espada”. Importante consideração feita por Carter (2000, p. 316) quanto a este aspecto, sob o argumento de que a plenitude dos propósitos de Deus, o reinado de paz, ainda não alvorecera no ministério de Jesus. Ainda havia a necessidade da espada, evocando con-flito, guerra, violência antes do estabelecimento do império do Reino dos Céus, que se daria num tempo futuro. A terra como cenário da implantação deste Reino não estaria, portanto, madura para sua chegada.

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Com este dito Jesus recusa-se decididamente a legitimar e abençoar o status quo de um mundo injus-to e sumamente impacífico. Não foi para isso que ele veio. Pelo contrário, ele trouxe a ‘espada’ para dentro de tal ‘paz’, que é apenas pseudopaz. Como o contexto mostra, espada é imagem sugestiva para a divisão da casa, que procede de ‘baixo’; é metáfora para a dissolução, a partir de ‘baixo’, da or-dem estruturada hierarquicamente e do domínio baseado na propriedade, para o desmascaramento e a destruição da paz aparente (WENGST, 1991, p. 92).

A espada quanto à sua natureza denota divisão e julgamento de Deus à elite, repre-sentada por reis, governadores, altos oficiais, latifundiários, blasfemadores, opressores, peca-dores. Os que rejeitam o reinado de Deus são julgados pelas palavras e ações de Cristo. Este julgamento divide as famílias (CARTER 2000, p. 317), dasfaz as estruturas. Saldarini (2000, p.156) explica que era costume as famílias viverem por mais de uma geração na mesma casa, no mesmo pátio, na mesma vizinhança, formando uma unidade econômica e legal. Este grupo familiar era composto por parentes, servos e escravos, com normas comportamentais religiosas e cultuais determinadas pela família. Nesse caso se algum membro dessa grande família divergia um do outro acontecia o rompimento (Mt 10,35-37). Reconhecer Jesus como Messias, por exemplo, seria causa de rompimento numa unidade só de Judeus. Aceitar a renovação proposta por Mateus ao judaísmo seria outra.

“Não vim trazer paz, mas espada”.

A paz almejada pelo povo judeu à época de Cristo tinha como alvo, entre outros, a ex-pulsão dos invasores romanos, a liberdade religiosa, a liberação de suas fronteiras, a manutenção de suas tradições religiosas e culturais, a libertação do jugo imperial, o fim da exploração social e econômica. A destruição de Jerusalém e do templo não foi apenas um golpe político para o povo de Israel. Significou também a destruição do centro cultural e religioso do povo (OVERMAN, 1997 p. 45). A sociedade judaica daquela época viveu fortes turbulências em diversas áreas de suas vidas e o que mais esperavam era a ação de um Messias para trazer-lhes a paz. Os Judeus entendiam a paz de maneira muito ampla, envolvendo o indivíduo e a comunidade. No juda-ísmo inteiro, perguntava-se pelo tempo da vinda do Reino de Deus, procurando-se sinais que indicassem, se o tempo messiânico se estava anunciando (LOHSE, 2000, p. 179).

Os romanos são os saqueadores do mundo... Se o inimigo é rico, eles usurpam; se é pobre, eles ambi-cionam dominá-lo. Não se sacia o Leste nem o Oeste... Eles roubam, massacram, pilham, e dão a isso o nome de ‘império; e onde implantam a desolação, dão-lhe o nome de ´paz’ (HORSLEY, 2004, p. 21).

Para Israel, no período do Antigo Testamento a paz, em hebraico Shalon, tinha um conteúdo bastante rico que foi traduzido em 25 modos diferentes. O sentido desta palavra originariamente e depois também no grego é “ser completo, inteiro, de forma dinâmica, o passar bem material e espiritualmente, ser próspero”. Segundo o Israel antigo sempre se está em paz, quando se tem êxito em seus empreendimentos (BAUER, 1973, p. 824). Um com-ponente essencial da paz é a justiça, e onde não há justiça, não há paz verdadeira. (MACKEN-ZIE, 2011 p. 644). Nesse contexto justiça e paz se unem para levar o homem ao Reino Eterno dos Céus, pois por justiça se entende a obediência aos mandamentos divinos enquanto a paz se resume no estar bem com o próprio Deus. A paz designa aquilo que o fiel pode sonhar de melhor, e o melhor que ele pode desejar para o próximo (Lv 26,3-6) (DU BUIT, 2003).

À noção hebraica de Shalon não se opõe a noção de guerra, mas tudo o que possa perturbar a prosperidade e as boas relações. Tal paz é um dom de Deus. (Sl. 29,11; Is 26,12; 45,7) (BORN, 1971, p. 1148).

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O povo de Israel havia experimentado essa paz em alguns momentos de sua história passada, mas restava-lhes somente a esperança e a expectativa messiânica de sua restauração. Eles tinham a concepção de que não estavam vivendo na plenitude de Deus por terem que-brado a aliança com YAHWEH, mas que o Messias restauraria essa paz num tempo escato-lógico (Is 9,6), não sem luta, mas de forma definitiva o próprio Deus poria fim á guerra. Era esperança comum e quase natural que o Filho de Davi libertaria seu povo, acusaria os pagãos por sua impiedade e os castigaria por sua injustiça, mostrando-lhes sua iniquidade (LOHSE, 2000, p. 178). O Novo testamento segue a mesma ideia concernente à Paz (BORN, 1971 p. 1148), embora Cristo seja esperado como o príncipe da paz, ele não a realiza sem luta.

Os mais notórios de todos os protestos populares promovidos pelos habitantes da Judéia e da Gali-léia aconteceram imediatamente antes e depois da missão de Jesus de Nazaré. Em ambos os casos, o povo subjugado da Palestina demonstrou sua disposição de sofrer e morrer para defender seu modo de vida tradicional, especialmente o princípio da aliança mosaica de fidelidade exclusiva ao seu Deus (HORSLEY, 2004, p. 53).

O Evangelho de Mateus, ao que tudo indica, estava pronto por volta dos anos 80 d.C. (FERREIRA, 2011, p. 179). O discurso sobre o “Reino dos Céus e a nova justiça” está bem presente em todo livro, contrastando com o reino do mundo representado pelo império romano, pelos líderes religiosos e no período de Mateus pelos judaísmos formativos e rabinos (fariseus). O contraste fica bem visível quando se traz à luz a questão da justiça. Reino de Deus e justiça são inseparáveis na concepção judaica e Mateana, reino do mundo e injustiça também o são. A autoridade e os ensinamentos de Jesus e do grupo Mateano substituem a orientação dos fariseus, escribas, chefes dos sacerdotes e anciãos (SALDARINI, 2000, p. 7). Mateus descreve o entendimento e a empatia de Jesus com o povo, algo que os outros líderes não têm (OVERMAN, 1999, p.155).

Na Palestina, o controle do poder era exercido, quase sempre em conivência com Roma, pelos Sa-duceus (força sacerdotal e latifundiária) e as articulações políticas com os escribas, herodianos e, por vezes, com os fariseus (FERREIRA, 2011, p.139).

“Pois vim causar divisão entre...”

A comunidade Mateana se desenvolveu fora da região da Palestina em razão da dispersão dos Judeus, em Antioquia, na Síria (CARTER, 2002 p.16). Inicialmente formada somente por Judeus mas aos poucos sendo inseridos gentios em seu meio. Alguns elementos devem ser observados para uma melhor compreensão do contexto vital do livro de Mateus. Esta comunidade e o grupo fragmentado que restou do judaísmo lutavam para estabelecer, ordenar e definir suas crenças e sua vida. (OVERMAN, 1997 p.79). O grupo dos fariseus se impunha na disputa pelo poder e na reconstrução do judaísmo e o grupo de Mateus tentava sobreviver entre eles com suas diferenças.

Crucial para compreender a comunidade judaica de Mateus comprometida com Jesus, é o reco-nhecimento de estar envolvida numa luta local no interior de uma sinagoga por um lugar em uma tradição comum. Eles partilham as mesmas tradições bíblicas. Eles partilham o mesmo interesse sobre a presença divina, em conhecer a vontade divina, em encontrar favor e perdão divinos, no culto, em viver fielmente. Contudo, exite um motivo que causa divisão, a saber, a pretensão de que Jesus ocupa um papel central nessas tradições, que as interpreta definitivamente e que manifesta a presença salvadora do império de Deus (CARTER, 2002, p. 63).

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Essa relação do grupo mateano com os fariseus vai propiciar àquele grupo a opor-tunidade de criar estratégias para a formação de personalidades, de estruturação da fé baseada no Cristo e na forma de interpretação da lei judaica combinada com os ensinamentos de Cristo. Em dado momento não serão mais benvindos nas assembleias dos judeus. Os atritos se tornam constantes e inevitáveis e Mateus começa a considerar a possibilidade de uma separação, uma divisão, o que ocorreu de forma definitiva depois do concílio de Jâmnia do concílio de Jâmnia.

O grupo Mateano é frágil minoria e seus membros ainda se consideram judeus e são identificados pelos outros como parte da comunidade judaica. Apesar dos graves conflitos com os líderes da co-munidade judaica e da experiência de medidas disciplinares comuns, ou melhor, por causa dessas relações negativas, o grupo Mateano ainda é judeu. Foi classificado como dissidente pelas autorida-des e por muitos membros da comunidade judaica em sua cidade ou região. A resposta de Mateus a esse conflito pode ser vista na polêmica e na apologética do evangelho (SALDARINI, 2000, p. 8).

Jâmnia é considerado um divisor de águas na história do judaísmo pelo fato de ter estabelecido os rabinos como corpo autorizado e de ter marcado o surgimento do judaísmo rabínico como forma normativa do judaísmo. O suposto concílio tem sido frequentemente considerado a divisão oficial dos caminhos do cristianismo primitivo e do judaísmo (OVER-MAN, 1997, p. 48). Mateus, neste contexto, estava preocupado com a relação entre o cris-tianismo e o rabinismo já consolidado após Jâmnia. O pai e a mãe do criscris-tianismo era o juda-ísmo. A família aqui era uma representação da relação de intimidade entre as duas correntes, rompidas definitivamente após aquele concílio, ou seja, o cristianismo era filho do judaísmo.

O chamado concílio de Jâmnia tem sido considerado por muitos como o evento mais significativo no desenvolvimento institucional do judaísmo no período pós-70. Jâmnia, um centro romano a oes-te de Jerusalém, perto da costa do Medioes-terrâneo, é tido como a localização de um ‘concílio’ judaico ocorrido por volta de 90 d.C. (OVERMAN,1997 p. 49).

“...Os inimigos do homem serão os da sua própria casa.”

Na narrativa de Mateus os adversários de Jesus são os líderes da comunidade judai-ca, as instituições que eles controlam as interpretações da lei e dos costumes judaicos que pro-põem (SALDARINI, 2000, p. 317). Ao apropriar-se dessa narrativa o autor de Mateus dirige sua polêmica contra líderes rivais emergentes e seus programas concorrentes para entender e viver o judaísmo no fim do século I. Estes dois grupos que emergem, o judaímo formativo e o grupo de Mateus, têm em comum a disputa pelo coração do povo judeu. Justifica a colocação desta perícope no capítulo 10 (capítulo do envio), para dar legitimidade à ação missionária da comunidade Mateana entre os Judeus primeiramente. Juntamente ao envio às missões veio a advertência à comunidade de que o embate seria inevitável, pois estava instalada a tensão entre a paz e a espada, e certamente seria um caminho sem volta.

Em todo o Evangelho, Mateus e sua comunidade se vêem em conflito direto com os líderes judaicos pertencentes ao movimento histórico antecedente ao judaísmo rabínico. Este movimento era conhecido como judaísmo formativo. Para as pessoas desse ambiente, os dois movimentos devem ter representado basicamente “alternativas gêmeas”. Eram em vários aspectos, “comunidades irmãs” (OVERMAN, 1997, p.153). Mateus mostra-se preocupado com a popularidade que o judaísmo formativo vem ganhando e conquistando até membros

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de sua comunidade. Esses dois movimentos, gêmeos fraternos, desenvolveram-se e definiram--se um em relação ao outro. A luta e a posterior separação entre o judaísmo formativo e o judaísmo de Mateus têm toda a emoção e conflito de uma divisão familiar (OVERMAN, 1997, p. 158).

CONCLUSÃO

Precisamos ter em mente que o autor do evangelho de Mateus era um Judeu que escreveu para uma comunidade predominantemente de judeus e que queria continuar como judeu. Embora sua compreensão da Lei agora incluísse, o Cristo e seus ensinamentos. Isto provocou fortes divergências com outros grupos judaicos que não aceitavam sua interpretação da lei nem a pessoa de Jesus como sendo o enviado de Deus. Assim, o seu grupo foi considera-do por eles como dissidentes cheganconsidera-do até a serem expulsos das suas reuniões. Senconsidera-do Mateus um judeu usa todo o seu conhecimento e faz uma ponte entre o judaísmo e a mensagem de Cristo de forma tal a provar que Jesus é o Cristo, e seus ensinamentos são renovadores para o judaísmo.Sua intenção era a de que os líderes judaicos se abrissem para novas possibilidades de interpretação da Lei, baseada nos ensinos do Cristo.

A lei do puro e do impuro, a lei da circuncisão, do sábado, do dízimo são exemplos do rigorismo da tradição judaica amenizadas em Mateus. Ele lidava numa ponta com a com-preensão da lei e na outra ponta com a necessidade de renovação do Judaísmo. Sua postura e a da sua comunidade provoca a ira dos seus companheiros, dando início a um conflito inter-minável, que irá culminar na divisão dos dois grupos.

Para um judeu a paz era entendida como a plenitude de Deus, a completude do ser, o estar bem em todos os sentidos. Portanto, Considerando a conjuntura social e política da época de Cristo e também de Mateus essa paz, ao menos para os judeus era só um ideal, uma esperança. Ainda outro paradoxo em Mateus: ele anuncia que é chegado o Reino dos Céus, mas adverte que Jesus não veio trazer a paz. Resolvemos essa questão se atentarmos para a alternativa encontrada ou interpretada pelo grupo de Mateus para viverem a sua plenitude. A paz é característica essencial do Reino de Deus (Rm 14,17; I Cor 7,15; Ef 4,3). O Reino dos Céus pode ser vivenciado pela comunidade por meio da justiça, que é a obediência aos seus mandamentos e da paz que é a comunhão irrestrita com Deus, alcançadas por meio do Messias e somente por Ele.

PEACE IN MATTHEW

Abstract: the theme of the “Peace” in the pericope of Matthew 10, 34-36 will be analyzed in its

relation with the Matthew’s community and others emergents jewish’s groups, their conflicts and divisions. The tension between peace and the sword started by divergences of interpretation of Jewish’s laws and by disputes of power. The declaration of the arrived of Kingdom of Heaven and of the Messiah integrates the missionary action of the Matthew’s community . The peace, as fullness, expected by Jews is inversely presented in this pericope, contradicting all traditions jewishe’s.

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Referências

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