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A PERCEPÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM SOBRE A RELIGIOSIDADE PRATICADA PELAS MÃES DO MÉTODO CANGURU

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SUMÁRIA CARDOSO SILVA**, SANDRA CELIA COELHO GOMES DA SILVA***, EMANUELLA SOARES FRAGA FERNANDES****, IVANETE FERNANDES DO PRADO*****, PABLO LUIZ SANTOS COUTO******, ALBA BENEMÉRITA ALVES VILELA*******, DEJEANE DE OLIVEIRA SILVA********, SAMANTHA SOUZA PEREIRA DA COSTA*********

* Recebido em: 14.05.2019. Aprovado em: 01.10.2019.

** Mestre em Educação (UFG). Especialista em Educação Infantil, Pedagoga. Professora e pesquisadora na Escola de Formação de Professores da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Coordenadora pedagógica da RME. E-mail: laizferreirarego12@hotmail.com

*** Pedagoga pela PUC Goiás. E-mail: laizferreirarego12@hotmail.com

DOI 10.18224/frag.v29i4.7595

A PERCEPÇÃO DA EQUIPE

DE ENFERMAGEM SOBRE

A RELIGIOSIDADE PRATICADA

PELAS MÃES DO MÉTODO CANGURU*

DOSSIÊ

Resumo: objetivou-se compreender a religiosidade praticada pelas mães do método-canguru

no enfrentamento da hospitalização dos neonatos prematuros. Trata-se de um estudo de caso, de abordagem qualitativa realizado em um hospital público. Participaram da pesquisa, profissionais que compunham o quadro de enfermagem do setor. Foi utilizada como técnica de coleta de dados a entrevista semi-estruturada, cujos discursos foram analisados a partir da análise interpretativa. Os resultados apontam que equipe de enfermagem emitiu opiniões heterogênias ao (re)significarem o conceito de religiosidade, desde um acontecimento na vida pessoal à formas de expressar a fé nas representações místicas que acreditam. A equipe evi-denciou que as mães usam dos artifícios advindos da fé para enfrentar a prematuridade e a hospitalização de seus filhos. Constatou-se que a equipe de enfermagem percebe a influência religiosa das mães no método-canguru e entendem a importância da religiosidade no cuidar dessas mães.

Palavras-chave: Saúde materno-infantil. Método Canguru. Enfermagem. Assistência.

Espiritualidade.

O

nascimento do neonato prematuro geralmente é vivenciado como um período de

estresse, que leva os familiares a momentos de crise, tensão e incertezas, pois logo após o parto, o recém-nascido (RN) é levado para a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). A separação dos pais de seus filhos recém-nascidos é imposta e evidenciada

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em resposta a necessidade de hospitalização imediata do prematuro, diferente de uma criança nascida a termo, uma vez que esse momento torna-se doloroso para todos os envolvidos; o lactente permanecerá internado por um tempo prolongado para receber cuidados especiais (TOMA; VE-NÂNCIO; ANDRETO, 2007).

A hospitalização desses RN’s em muitos casos pode ser demorada, ou até mesmo prolongada por algum evento decorrente da própria hospitalização, dificultando assim a formação e manutenção do vínculo entre os pais e o bebê. Nestas situações os pais utilizam de estratégias frequentes de enfrentamento, como forma de adaptação, superação e reorganização em virtude da casualidade.

Visando reduzir os índices de morbimortalidade infantil, o Método Mãe Canguru, consiste em um modelo de assistência perinatal e multiprofissional voltado para o cuidado humanizado com estratégias de intervenção que valorizam o contato pele a pele entre mãe e seu filho e os familiares (BRASIL, 2011). A ideia do método é que ao colocar o neonato em contato com o peito da mãe há a promoção da estabilidade térmica visando a substituição da incubadora, a alta hospitalar mais rápida, diminuição da taxa de infecções hospitalares e a assistência com melhor qualidade e menor custo (NEVES; RAVELLI; LEMOS, 2010).

Este tipo de humanização oferece ao RN uma vivência da passagem da vida uterina para a extrauterina mais tranquila, uma vez que promove maior vínculo com a genitora (BRASIL, 2011). Tem como finalidade incentivar o aleitamento materno exclusivo, melhorar o vínculo entre pais e familiares com o neonato, além de proporcionar um melhor desenvolvimento dos mesmos e diminuir o índice de mortalidade materno-infantil. A amamentação é desempenhada pela mulher e, conforme as expectativas culturais constituem-se numa construção social de relações e geração da maternidade, defendida socialmente como a realização plena da feminilidade (MACHADO; BOSI, 2008).

E no que se refere ao papel da enfermagem no Método-Canguru, a mesma desempenha um papel fundamental, de forma ativa e direta, o que favorece sua percepção quanto ao uso das influencias religiosas pelas Mães-cangurus, como estratégias de enfrentamento ao processo tera-pêutico dos seus neonatos.

São os olhos da enfermagem que percebem as primeiras tentativas de proximidade, que escutam os comentários em voz baixa das puérperas sobre o recém-nascido na incubadora; é a equipe de enfermagem que pode dinamizar o movimento desses encontros. Dessa forma, assumir novos paradigmas é possibilitar aos bebês e aos pais um espaço facilitador para a formação de seus vínculos (ORCK; SANTOS, 2012).

Nesse sentido, a relação da religiosidade na vida das pessoas assume um caráter fundamental podendo ser raros os casos em que a mesma não se faz presente. E no âmbito do trabalho hospitalar isso não é diferente, pois para se compreender o ser humano como um ser integral e, portanto, extremamente complexo, supõe-se que a dimensão religiosa da equipe de saúde, seja indissociável da construção pessoal e profissional do cuidar.

A participação ativa da equipe da equipe de enfermagem contribui para o auxílio psicoespiritual, pois, futuros pais e as futuras mães esperam que a gestação seja tranquila e livre de intercorrências. Entretanto, quando isso não acontece, surgem o medo e a insegurança relativos às complicações bem como a culpa e as preocupações pelos possíveis agravos à saúde de seus filhos, que nasceram prematuros, com baixo peso, fragilizados, necessitando de cuidados especiais e intensivos (NEVES; RAVELLI; LEMOS, 2010).

Essa pesquisa justifica-se pelo fato que durante todas as etapas do cuidar, tanto do RN quan-to da mãe (que têm a assistência do méquan-todo canguru) devem ser acompanhados por uma equipe

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multidisciplinar, em especial a de enfermagem, que permanece em maior contato com a criança e a mãe. E ao cuidar do ser humano como um ser integral supõe-se que a dimensão religiosa seja indispensável para esse processo, pois ao considerar a religiosidade como componente da vida hu-mana, a mesma não deve ser ignorada, pois oferece um sentido à vida, proporcionando consolo, energias e orientações, frente às situações de angústia e incerteza familiar.

A análise das contribuições da equipe de enfermagem no método-canguru é relevante, visto que grande número de bebês nascem prematuro e muitos chegam a óbito. A vivência da separação entre mãe filho ao nascer causa danos, uma vez que a relação de apego é abalada e comprometida.

E partindo do pressuposto das condições que afetam o emocional, a mãe encontra-se insegura, fragilizada, ansiosa, receosa, tensa e estressada por não poder cuidar do seu filho e de encontrar-se longe de seus familiares. Além disso, sente-se deslocada pela falta de privacidade causada pelas condições de insalubridade do ambiente hospitalar e incapaz de dar continuidade ao afeto que foi transmitido durante a gestação.

Diante disso surgiu o seguinte questionamento: De que forma a equipe de enfermagem compreende a religiosidade das mães que se encontram assistidas pelo método-canguru no cuidado da prematuridade do nenonato? Além disso, a pesquisa possibilita o diálogo sobre religiosidade no ambiente hospitalar, pois é uma prática que ainda se encontra distanciada dos contextos das ações em saúde e as literaturas abordam o tema de modo incipiente.

Portanto, o objetivo desse estudo foi compreender através da visão da equipe de enfermagem a religiosidade praticada pelas mães do método-canguru no enfrentamento da hospitalização dos neonatos prematuros.

MÉTODO

Trata-se de um estudo de caso de abordagem qualitativa realizada em um hospital regional do interior da Bahia, pela sua representatividade no âmbito regional, por acolher uma população abrangente, além de ser o único estabelecimento hospitalar da rede pública, na região, que presta assistência ao neonato prematuro.

Participaram da pesquisa 11 profissionais dos 23 que compunham o quadro de enfermagem do setor, que prestam assistência a Mãe-Canguru na Ala B (Maternidade e Pediatria) do Hospital que se dispuseram voluntariamente e assinaram o termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A coleta de dados ocorreu no período de março a abril de 2014.

Utilizou-se como critérios de inclusão, profissionais de enfermagem (técnico (a)s e/ou enfermeiros(a)s) que prestam assistência direta e cooperam com o método Mãe Canguru há mais de um mês. Foram excluídas as profissionais de enfermagem, que desistiram da pesquisa durante a entrevista, não permitiram a gravação em áudio e com menos de um mês de experiência na as-sistência às mães do método-canguru.

Como instrumento de coleta de dados utilizou-se um roteiro de entrevista semi-estruturado contendo quatro questões fechadas para a caracterização dos sujeitos e seis questões abertas. A co-leta de dados aconteceu em dias e horários aleatórios, conforme disponibilidade dos participantes. As respostas foram gravadas em áudio para garantir a fidedignidade dos dados e posteriormente transcritas. Ressalta-se que para preservar o anonimato, os depoentes tiveram seus nomes omitidos e substituídos por pseudônimos.

A análise das entrevistas e a discussão dos resultados sucederam imediatamente após a coleta de dados, e, para isso, utilizou-se o processo de análise interpretativa, a partir da interpretação das

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falas que ao final emergiram categorias. Para tanto, foi realizada a leitura flutuante das respostas, interpretação, captação dos núcleos de sentido similares e opostos, ordenação, classificação e cate-gorização dos dados (MINAYO, 2010).

A pesquisa atendeu, em todas as suas fases, as normatizações da Resolução 466 do Conselho\ Nacional de Saúde (CNS) de 12 de dezembro de 2012, na qual foram levados em conta os aspectos éticos, os riscos e os benefícios que permeiam a pesquisa com seres humanos, preconizadas pela própria resolução (BRASIL, 2012). Visando atender o anonimato das participantes, todas tiveram seus nomes substituídos por codinomes que as próprias escolheram na fase de coleta de dados. A pesquisa foi iniciada após a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade do Estado da Bahia. Aprovado e liberada no dia 17 de março de 2014, com o nº do parecer 558.693 e CAAE: 28205814.7.0000.0057.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quanto à caracterização das participantes entrevistadas, sete possuem idade entre 26 a 35 anos, quatro entre 35 a 44 anos. Quanto ao tempo de exercício profissional uma possui menos de 1 ano de atuação, dez entre 1 a 5 anos. Todas as profissionais são do sexo feminino.

A religiosidade na perspectiva da equipe de enfermagem e sua concepção de fé:

A análise da primeira categoria mostrou que cinco das onze profissionais de enfermagem entrevistadas, definiram vários conceitos para a religiosidade, que vão desde um acontecimento na vida pessoal, a forma de expressar a fé nas representações místicas que se segue e acredita, bem como um caminho de chegar a Deus, o que é evidenciado nos depoimentos abaixo:

É a base de tudo, é a fé né! Particularmente eu acredito em Deus e sou religiosa protestante (Téc. TITÂNIA)

Crendice, fé e a acreditação em Deus, ou imagens consideradas sagradas ou até mesmo santas, isso que é para mim uma religião (Téc.BINHA)

Ter fé!... Não precisa ser católico, evangélico a religião não salva ninguém, só mesmo a fé (Téc. VIDA)

Religiosidade é uma forma com que as pessoas têm de buscar a Deus de forma diferente, doutrina diferente, igreja diferente ou ate mesmo dentro de casa (Téc. LUA)

O conceito de religiosidade ainda é considerado frágil e abrangente, sendo atribuída a filiação religiosa (católica, evangélica, budista), às atividades religiosas (preces, rezas, rituais) e as crenças (força superior, sistema de crenças). A religiosidade por meio das crenças religiosas e espirituais favorecerá a possibilidade de significados e respostas aos problemas pelos quais as pessoas se de-frontam, principalmente diante da perda e da morte (BOUSSO et al., 2011).

A fé tende a aumentar os níveis de felicidade, proporcionar satisfação com a vida e emoções positi-vas. Através da religião as pessoas passam a compreender, tolerar ou suportar o sofrimento; por meio das simbologias, a religiosidade é trabalhada e atua no estado de espírito e na saúde das pessoas. As terapias religiosas organizam o caos interior vivenciado por cada indivíduo (MELLO; OLIVEIRA, 2013).

A religiosidade repercute na vida individual e social das pessoas à medida que motiva e proporciona mudança de atitudes, de comportamentos referidos e não se dissocia das culturas, e

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quando uma pessoa traduz aquela experiência por meio da comunicação, dos símbolos, dos ritos e dos signos é que há a socialização e o fortalecimento da espiritualidade dos participantes no grupo religioso.

Outras profissionais de enfermagem, que participaram das entrevistas, acrescentaram ainda, que a religiosidade vem como forma de entender a origem da vida e as coisas que a compõe, ou ate mesmo como forma de conscientizar as pessoas de seus atos, de como se deve pensar e agir, como uma base de reflexão para sua vida, e expõem isso através das falas a seguir:

É uma forma mesmo de se entender como surgiu o ser humano, os problemas as dificulda-des, para conscientizar um pouco as pessoas os seus atos a sua forma de agir, pensar e refletir melhor (Téc.TIZIA)

Religiosidade é ter fé, é entender mesmo como surgiu à vida e ate aonde ela vai (Enf. FLO-RES)

É a forma que o individuo usa para encarar sua vida e sustentar atos a favor da religião (Enf. KEL)

A prática da religiosidade tem conferido um caráter de proteção aos transtornos mentais (de-pressão, uso de drogas, ansiedade) além de conservar o equilíbrio da saúde e melhorar a qualidade de vida, da mesma forma que a alimentação saudável e prática de exercícios regulares proporcionam aos indivíduos (TAUNAY et al., 2012).

Os grupos religiosos têm o potencial de promover a prática da religiosidade nos grupos de pessoas e, consequentemente o bem-estar a partir do cuidado e prevenção, do poder terapêutico e do empoderamento da comunidade. O suporte religioso avança na contribuição da prevenção de crises e conflitos pessoais, manutenção de valores e acesso aos serviços comunitários (MATSUE, 2012).

Outras técnicas em enfermagem definem ainda, que a religiosidade é uma forma de se fazer o bem, a si mesma e aos outros, e nunca usá-la como julgamentos dos atos e escolhas das pessoas, como se segue abaixo:

Religiosidade para mim é fazer o bem... Ajudar o próximo e não julgar nunca os atos (Téc. JURÂNIA)

Eu entendo de Deus e que religiosidade cada um tem as suas crenças e devemos respeitar as diferenças de cada um (Téc. DINDA)

Durante a análise dos depoimentos, é perceptível a grande complexidade para definição da religiosidade, pois cada uma delas tem um entendimento diferente do que é, e o que a mesma representa em sua vida.

Desse modo, foi perceptível uma correlação entre religiosidade e as reações positivas no en-frentamento aos agravos à saúde e as adversidades vivenciadas no cotidiano, ainda existem poucos questionamentos no que concerne a interferência e influência da religião na experiência com o adoecimento e a morte, na perspectiva dos familiares dos pacientes (BOUSSO et al., 2011).

Para os profissionais de enfermagem, que precisam prestar um cuidado de forma individual com cada paciente, fica evidente a necessidade de se ter um entendimento sobre religiosidade, pois nos momentos que acometem a saúde dos clientes esses ficam mais vulneráveis e buscam artifícios para ganhar forças, aceitar o tratamento e até mesmo alcançar a cura. Visto que não se tem muitos autores que abordam religiosidade e cuidado de enfermagem.

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Interferências religiosas das mães cangurus no processo de aceitação e entendimento da prematuridade: Quanto a essa categoria, que versa sobre os momentos de aceitação da dor provocada pelas incertezas da vida, as mães usam dos artifícios advindos da fé nas religiões e que são de grande importância para que elas enfrentem com força e equilíbrio o problema vivenciado, como é per-ceptível nos discursos que se seguem:

Eu considero importante, pois ajuda aceitar a situação que a mãe canguru se encontra [...] A questão da fé ajuda no entendimento, aceitação e enfrentamento (Enf. FLORES) A religião é muito importante para as mães, pois vejo que conforta e deixa mais confiante (Enf.KEL)

As práticas religiosas são importantes, pois em minha opinião eu acredito em Deus, e que Ele pode e tem um objetivo na vida de cada um; portanto utilizando da fé é uma forma delas conseguir passar por aquele período de dificuldade, de forma a não perder o equilíbrio e a razão (Tec. TIZIA)

Estudiosos e profissionais de saúde percebem que diante das urgências pessoais dos indivíduos, estão presentes as crenças e práticas religiosas (prece, peregrinação, jejum) que ajudam na resolução e seus problemas, além de prevenir ou aliviar consequências emocionais negativas (BARBOSA; FREITAS, 2009).

A prematuridade do neonato causa um impacto na vida cotidiana da mãe, alterando a dinâ-mica social e familiar, como o distanciamento dos familiares e amigos no período em que o RN se encontra internado, além de despertar sentimentos de incerteza, medo, dúvidas, sofrimento (DOS SANTOS et al., 2013).

Portanto, a valorização de um sistema de crenças a que o indivíduo segue, favorece sua aderência ao tratamento, melhorando os resultados na intervenção. A crença religiosa é parte im-portante da cultura e dos valores dos clientes, que se utilizam desta, para dar forma a julgamentos e ao processamento de informações, bem como, compreender processos dolorosos, caóticos e ines-perados (PERES; SIMAO; NASELLO, 2007) que auxilia as mulheres a encarar as adversidades oriundas do nascimento prematuro do RN amenizando a dor e aliviando o sofrimento, diminuindo a ansiedade e a depressão e levando-as a estabilidade social (NEVES; RAVELLI; LEMOS, 2010).

As profissionais de enfermagem relataram que o processo de internação dos recém-nascidos é longo e demorado e elas percebem que acarreta desconforto e estresse para genitoras, e que religiosidade pode agir como um calmante e torná-las mais amáveis, pacientes e tolerantes ao tempo que é necessário para que a criança ganhe peso e possa voltar para casa, conforme demonstrado a partir de seus discursos.

É importante para o fortalecimento da vivencia do processo de intenção, que muitas vezes é longo e demorado (...). E muito demorado (Téc. JURÂNIA)

Sim... A pessoa é mais amável, tolerante, paciente e consegue esperar o tempo do senhor Deus (Téc. FLOR)

Vejo de forma boa, vejo que ajuda na aceitação da situação que elas se encontram (Téc. REI)

Aliado ao exposto nos depoimentos das enfermeiras, mostra-se que os atributos advindos da crença religiosa nos momentos que levam a incerteza da vida, funcionam como mecanismos de

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en-frentamento do organismo a esses estímulos estressantes (BOUSSO et al., 2011), aliviando o estresse e a ansiedade e promovendo no contato pele a pele com o nenonato calma, tranquilidade e amor.

Desse modo, o feedback positivo quanto ao desempenho da mãe na relação construída pelo método mãe-canguru oriundo das vivências com outras mães em situações semelhantes, pelo encorajamento dos profissionais de saúde, em especial da equipe de enfermagem e do desenvolvi-mento da religiosidade, configuram a auto-eficácia materna no desenvolvidesenvolvi-mento do recém-nascido prematuro (SPEHAR; SEIDL, 2013).

A enfermagem necessita mobilizar ou criar estratégias para que a mãe enfrente o sofrimento, seja ele psíquico, físico ou espiritual, oriundo do internamento do neonato prematuro, a fim de minimizar o estresse que a situação traz em para mesma e para seu filho.

Por isso, a vivência religiosa pode contribuir com as estratégias ao inspirar pensamentos de otimismo e esperança, bem como expectativas positivas, que para alguns pesquisadores funciona como placebo, cujo efeito não ocorre apenas por mecanismos psicológicos, mas também por meio de efeitos fisiológicos no organismo (VASCONCELOS, 2010).

Percebe-se ainda nas falas, a grande importância da prestação do cuidado levando em conta a valorização e o respeito às escolhas religiosas das clientes (mães cangurus), que envolve tanto questões culturais como social.

Eu acho importante a religião, pois é um grande suporte e ajuda à questão de você ter uma religião uma fé (...). É tanto que quando tem uma criança grave, a agente fala da questão da religião e de se apegar com Deus (Téc. LÔRA)

Uso [posiciono] tentando mostrar a importância do internamento. Nunca desconsideran-do a religião e correlacionandesconsideran-do-a no diagnóstico e tratamento desconsideran-do RN (Téc. BINHA) [Usa a Religiosidade] apoiando o uso da religião, pois a fé como já havia dito é bom para o enfrentamento de qualquer situação (Enf. KEL)

Me posiciono explicando que é bom essa fé, essa fé das pacientes... E que Deus é o médico dos médicos... É difícil vai passar, há tempo para tudo (Téc. TITÂNIA)

Assim, o profissional de saúde, ao identificar as necessidades espirituais - religiosas do clien-te, pode ajudar o mesmo a melhor lidar com sua enfermidade. Pode ainda propiciar uma melhor relação paciente-profissional, fortalecer a adesão e a crença no tratamento, e assim proporcionar um cuidado satisfatório (BOUSSO et al., 2011).

Desde 1970, Wanda de Aguiar Horta, enfermeira e filósofa, doutora em enfermagem pela Universidade de São Paulo, coloca a espiritualidade como uma necessidade humana básica, essencial para se alcançar qualidade de vida, devendo assim a espiritualidade ser cuidada pela enfermagem em seu planejamento assistencial (HORTA, 2001).

A classificação das necessidades humanas é dividida em Necessidades Psicobiológicas, Necessidades Psicossociais e Necessidades Psicoespirituais. Conforme a autora, as duas primeiras se referem aos seres vivos de uma forma geral, porém, a última se refere apenas à condição de ser humano. A autora também relaciona a necessidade psicoespiritual como uma necessidade religiosa ou teológica, ética ou de filosofia de vida (HORTA, 2001).

É indispensável ao profissional de saúde superar as dificuldades inerentes na relação com o paciente devido à “tentação tecnológica”, vendo o paciente por partes, tendo o dever de buscar

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reunir esses fragmentos e compor novamente o todo desse indivíduo (ESPÍNDULA; DO VALLE; BELLO, 2010).

E, no que se refere ainda aos cuidados prestados as mães do método-canguru, o Minis-tério da Saúde, enfatiza que os profissionais de enfermagem desempenham um papel funda-mental em todas as fases do método mãe-canguru, onde é preciso um acolhimento integral tanto para o bebê, bem como à família, de forma a respeitar e valorizar a singularidade das mães (BRASIL, 2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma das metas da profissão de enfermagem é proporcionar o bem estar ao paciente, desenvol-vendo um cuidar integral ao indivíduo que atenda suas necessidades biopsicossociais e espirituais. Partindo desse princípio é sabido que a religiosidade e espiritualidade fazem parte das necessidades íntimas de muitos pacientes, e como foi constatada, a enfermagem reconhece suas influências po-sitivas na aceitação e aderência do paciente ao tratamento.

É consenso que uma conduta de respeito deve ser adotada pelas profissionais, uma vez que a enfermeira é a mediadora do cuidado direto ao paciente, além de estar presente em todas as fases do tratamento desde sua admissão, conhecendo suas limitações, medos, angústias e necessidades, vencendo as barreiras que limitam a aderência do paciente ao tratamento bem como sua relação com o paciente.

Nesse sentido, foi possível constatar que a equipe de enfermagem entende a importância da influência religiosa no processo de cuidar e na aceitação da prematuridade pelas mães canguru e que a religiosidade proporciona suporte, como auxílio ao enfrentamento e aceitação dos RN’s prematuros. Pode-se notar durante a análise das entrevistas, que a equipe de enfermagem percebe o uso da religiosidade das genitoras como estratégia para o enfrentamento da prematuridade de seus filhos, como um meio de superar as angústias e receios do futuro e como um modo de se apegar a Deus para que esse auxilie na cura e tratamento dos RN’s, e, por isso, a equipe utiliza dos artifícios religiosos para sistematizar a assistência às mães cangurus.

Nesse contexto, a aplicação do método mãe-canguru, não é diferente, pois em todas as suas fases necessita-se de uma equipe multiprofissional, em que a enfermagem tem um destaque na prestação de cuidados de forma integral, que vão desde a atenção individualizada à mãe, ao pai, ao neonato e aos familiares, e atingindo a sua coletividade. E devido à prematuridade ocasionar incertezas da vida, o meio social, econômico, espiritual e cultural fica prejudicado.

Dessa forma, as mães e seus familiares devem ser ouvidos em suas dúvidas e dificuldades, anseios e preocupações pela equipe de enfermagem, para que desenvolva seu cuidado a partir do reconhecimento da realidade familiar, atingindo, assim, o entendimento do processo saúde-doença-saúde e atendendo as necessidades individuais das mães que tem seus filhos hospitalizados em decorrência da prematuridade.

THE PERCEPTION OF THE NURSING TEAM ON RELIGIOSITY PRACTICED BY THE MOTHERS OF THE CAGURU METHOD

Abstract: the objective was to understand the religiosity practiced by mothers of the kangaroo method in

coping with the hospitalization of premature newborns. This is a case study, with a qualitative approach carried out in a public hospital. Professionals who made up the sector's nursing staff participated in the

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research. The semi-structured interview was used as a data collection technique, whose speeches were analyzed from the interpretative analysis. The results show that the nursing team issued heterogeneous opinions when (re) signifying the concept of religiosity, from an event in personal life to ways of expressing faith in the mystical representations that they believe. The team showed that mothers use the artifacts from faith to face their children's prematurity and hospitalization. It was found that the nursing team perceives the mothers' religious influence in the kangaroo method and understand the importance of religiosity in caring for these mothers.

Keywords: Maternal and child health. Kangaroo Method. Nursing. Assistance. Spirituality. Referências

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